Cálculo de urato por shunt porto-ázigos em cão : relato de caso

Abstract

Este trabalho apresenta o relato clínico de uma cadela da raça Shih-Tzu, de seis anos, com histórico de hematúria, dor recorrente e nefrolitíase bilateral, posteriormente diagnosticada com shunt porto-ázigos congênito. A paciente foi atendida no Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS com sinais de dor, hiporexia, alterações hematológicas e bioquímicas, além de evidências de obstrução ureteral. Após exames de imagem e laboratoriais, foi diagnosticada com pionefrose secundária à obstrução por urólitos, sendo submetida à cirurgia de emergência para remoção dos cálculos. A análise quantitativa dos urólitos revelou composição majoritária de urato de amônio. Exames complementares apontaram aumento significativo de amônia e ácidos biliares, confirmando o diagnóstico de shunt portossistêmico do tipo porto-ázigos. Esta anomalia vascular se caracteriza pela presença de um vaso anômalo que desvia o sangue da veia porta diretamente para a veia ázigos, contornando o fígado. Esse desvio compromete o metabolismo hepático de diversas substâncias, incluindo o ácido úrico. Em condições fisiológicas, o ácido úrico, produto intermediário da degradação das purinas, é convertido em alantoína por meio da ação da uricase hepática, uma enzima presente nos hepatócitos. No entanto, na presença de shunt porto-ázigos, o fígado não consegue realizar essa conversão de forma adequada, resultando no acúmulo de ácido úrico na circulação sanguínea e sua consequente eliminação em maior quantidade na urina (hiperuricosúria). Essa condição favorece a precipitação do ácido úrico, especialmente na forma de urato de amônio, levando à formação de cristais e urólitos, como ocorrido com a cadela deste relato. A presença desses cálculos no trato urinário, particularmente nos rins e ureteres, pode resultar em complicações graves, como obstruções ureterais, pionefrose e insuficiência renal. O diagnóstico do shunt porto-ázigos é complexo e requer exames laboratoriais específicos aliados a técnicas de imagem avançadas, como a tomografia contrastada. O tratamento mais eficaz envolve a oclusão cirúrgica gradual do vaso anômalo, visando restaurar a função hepática e prevenir a recorrência de urólitos. Portanto, a identificação precoce da anomalia é essencial para um bom prognóstico e melhor qualidade de vida do paciente.

This study presents the clinical case of a six-year-old female Shih-Tzu dog with a history of hematuria, recurrent pain, and bilateral nephrolithiasis, later diagnosed with a congenital porto-azygos shunt. The patient was admitted to the Veterinary Teaching Hospital of UFRGS showing signs of pain, hyporexia, hematological and biochemical abnormalities, along with evidence of ureteral obstruction. Imaging and laboratory tests led to the diagnosis of pyonephrosis secondary to urolith-induced obstruction, and the patient underwent emergency surgery for stone removal. Quantitative analysis of the uroliths revealed a predominant composition of ammonium urate. Further diagnostic tests showed significantly elevated ammonia and bile acid levels, confirming the diagnosis of a porto-azygos portosystemic shunt. This vascular anomaly is characterized by the presence of an abnormal vessel that diverts blood from the portal vein directly to the azygos vein, bypassing the liver. This diversion impairs the hepatic metabolism of several substances, including uric acid. Under physiological conditions, uric acid, an intermediate product of purine degradation, is converted into allantoin through the action of hepatic uricase, an enzyme present in hepatocytes. However, in the presence of a porto-azygos shunt, the liver is unable to perform this conversion properly, leading to the accumulation of uric acid in the bloodstream and its increased elimination in the urine (hyperuricosuria). This condition favors the precipitation of uric acid, especially in the form of ammonium urate, leading to the formation of crystals and uroliths, as observed in the female dog in this case. The presence of these stones in the urinary tract, particularly in the kidneys and ureters, can result in severe complications such as ureteral obstructions, pyonephrosis, and renal failure. The diagnosis of a porto-azygos shunt is complex and requires specific laboratory tests in combination with advanced imaging techniques, such as contrast-enhanced computed tomography. The most effective treatment involves the gradual surgical occlusion of the abnormal vessel, aiming to restore hepatic function and prevent recurrence of uroliths. Therefore, early identification of the anomaly is essential for a good prognosis and improved quality of life for the patient.