Nos meandros do Dilúvio : proposta de trabalho de campo para o ensino de Geografia no Arroio Dilúvio, Porto Alegre - RS

Abstract

A presente pesquisa propõe a análise do potencial pedagógico de um roteiro de trabalho de campo voltado à Geomorfologia, aplicado na bacia hidrográfica do arroio Dilúvio, em Porto Alegre – RS. A motivação para o estudo parte de duas vivências complementares da autora: sua atuação no projeto de pesquisa “Morfologia Antropogênica de Porto Alegre” e sua experiência docente no Estágio Supervisionado em Geografia III. Ambas revelaram a invisibilização dos processos naturais nas cidades e a urgência de abordagens pedagógicas que promovam a leitura crítica do espaço. O problema central da pesquisa reside na necessidade de compreender como o trabalho de campo pode contribuir para o ensino de Geografia em contextos marcados por conflitos socioambientais e desigualdade urbana. O roteiro de campo foi elaborado com base em três eixos teóricos: ensino de Geomorfologia, trabalho de campo como estratégia pedagógica e o conceito de lugar diante das mudanças ambientais globais. A metodologia utilizada foi a pesquisa-ação, envolvendo a aplicação do roteiro em dois níveis de ensino (Graduação e Pós-Graduação) e a análise das percepções dos estudantes participantes, a partir de questionários abertos. A análise dos dados, inspirada na Análise de Conteúdo de Bardin, envolveu a codificação das respostas, a criação de categorias temáticas de forma indutiva e a interpretação dos resultados, permitindo identificar os padrões de significado nas percepções dos estudantes. Os resultados evidenciaram que o trabalho de campo estimulou a reflexão crítica sobre a relação entre natureza e sociedade, revelando a força do lugar como elemento mediador da aprendizagem. As sugestões dos participantes apontam para a viabilidade de transformar o roteiro em um projeto de extensão e para a importância de experiências semelhantes serem realizadas no Ensino Básico. O estudo conclui com o reconhecimento da potência do campo como prática educativa situada, sensível e transformadora.

This research proposes an analysis of the pedagogical potential of a fieldwork itinerary focused on Geomorphology, applied within the Dilúvio stream watershed in Porto Alegre, Brazil. The motivation for this study stems from the author's two complementary experiences: her work on the research project “Anthropogenic Morphology of Porto Alegre” and her teaching experience during a supervised internship in Geography. Both experiences revealed the invisibility of natural processes in urban environments and highlighted the urgent need for pedagogical approaches that foster a critical reading of space. The core research problem lies in understanding how fieldwork can contribute to Geography education in contexts marked by socio-environmental conflicts and urban inequality. The fieldwork itinerary was developed based on three theoretical pillars: the teaching of Geomorphology, fieldwork as a pedagogical strategy, and the concept of place in the face of global environmental changes. The study employed an action research methodology, involving the application of the itinerary at two educational levels (undergraduate and graduate) and the analysis of participating students' perceptions through open-ended questionnaires. Data analysis, guided by Bardin's Content Analysis, involved coding the responses, inductively creating thematic categories, and interpreting the results to identify patterns of meaning within the students' perceptions. The results demonstrate that the fieldwork stimulated critical reflection on the nature-society relationship, revealing the power of 'place' as a mediating element in the learning process. Participants' suggestions indicate the feasibility of transforming the itinerary into an outreach project and highlight the importance of conducting similar experiences in primary and secondary education. The study concludes by acknowledging the power of fieldwork as a situated, sensitive, and transformative educational practice.