Análise da homogeneização da paisagem em territórios de povos indígenas isolados na Amazônia : uma abordagem multicritério

Abstract

A Amazônia constitui o maior bioma do território brasileiro, destacando-se no cenário global tanto por sua extensão quanto pela expressiva diversidade biológica, assim como pelos serviços ecossistêmicos que abriga. No entanto, a intensificação das atividades agropecuárias e a exploração desregulada dos recursos naturais têm comprometido a integridade desse sistema socioecológico, ao introduzirem padrões culturais associados à urbanização ligada ao crescimento econômico, modelo estalecido pós revolução industrial e promoverem alterações profundas na estrutura e funcionalidade da paisagem. Esse processo resulta na homogeneização da paisagem, fenômeno evidenciado pelas transformações decorrentes da ação antrópica predatória. Nesse contexto, as Terras Indígenas desempenham um papel estratégico como zonas de resistência socioambiental, funcionando como barreiras contra o avanço das frentes de degradação, ao resguardar populações indígenas, a biodiversidade, os estoques de carbono e os serviços ecossistêmicos. As Terras Indígenas de Povos Isolados, especificamente, correspondem a territórios ocupados por grupos que mantêm ausência de contato permanente com a sociedade envolvente. Essas áreas, por sua baixa visibilidade e ausência de mecanismos consolidados de proteção física, estão sob constante pressão de invasões e exploração predatória dos recursos naturais. Neste estudo, propõe-se a construção de um Índice de Homogeneização da Paisagem (IHP), com foco em territórios ocupados por povos indígenas isolados. O objetivo é fornecer subsídios técnicos para a tomada de decisão e o planejamento territorial voltado à proteção desses espaços. De modo geral, os resultados da aplicação do índice indicaram maior grau de homogeneização da paisagem em áreas adjacentes a rodovias, núcleos urbanos e setores com maior densidade populacional. Em contrapartida, áreas classificadas como Unidades de Conservação e Terras Indígenas apresentaram menor IHP, evidenciando sua importância na preservação da heterogeneidade paisagística.

The Amazon constitutes the largest biome within Brazilian territory, standing out globally both for its vast expanse and for its remarkable biological diversity, as well as the ecosystem services it supports. However, the intensification of agricultural and livestock activities, combined with the unregulated exploitation of natural resources, has compromised the integrity of this socio-ecological system by introducing cultural patterns linked to urbanization and triggering profound changes in the structure and functionality of the landscape. This process results in landscape homogenization, a phenomenon evidenced by the transformations caused by predatory human activity. In this context, indigenous territories play a strategic role as zones of socio-environmental protection, acting as buffers against the advancement of degradation frontiers by safeguarding Indigenous populations, biodiversity, carbon stocks, and ecosystem services. Specifically, indigenous territories of Isolated indigenous People correspond to territories occupied by groups that maintain no permanent contact with mainstream society. These areas, due to their low visibility and the absence of established mechanisms for physical protection, are under constant pressure from invasions and the predatory exploitation of natural resources. This study proposes the development of a Landscape Homogenization Index (IHP), with a focus on territories occupied by isolated Indigenous peoples. The aim is to provide technical support for decision-making and territorial planning geared toward the protection of these spaces. Overall, the results of the index application indicated higher levels of landscape homogenization in areas near roads, urban centers, and sectors with higher population density. In contrast, areas classified as Conservation Units and Indigenous territories showed lower IHP values, underscoring their importance in preserving landscape heterogeneity.