Saúde bucal de pacientes pediátricos diagnosticados com neoplasias hematológicas

Abstract

O câncer infantojuvenil acomete milhares de crianças no Brasil anualmente, e o seu tratamento está relacionado com manifestações bucais que podem comprometer a qualidade de vida dos pacientes. Este estudo tem como objetivo avaliar parâmetros de saúde bucal em pacientes pediátricos diagnosticados com neoplasias malignas hematológicas. Os pacientes foram identificados nos registros odontológicos do Instituto do Câncer Infantil (ICI) e contatados por telefone para participação no estudo. Foram incluídos aqueles diagnosticados com neoplasias hematológicas atendidos no ICI de 1992 a 2024. As variáveis relacionadas aos pacientes, ao diagnóstico, ao tratamento e à saúde bucal foram extraídas da ficha cadastral, do prontuário odontológico e dos exames radiográficos disponíveis no ICI, e inseridas em um banco de dados específico. As análises foram conduzidas utilizando testes t de Student e qui-quadrado para variáveis categóricas. Posteriormente, uma análise de regressão logística multivariável foi realizada para avaliar desfechos dicotômicos. A amostra final foi de 123 pacientes, separados nos grupos “Leucemia” (n=96), “Linfoma” (n=21) e “Outros” (n=6). Observou-se que a maioria dos participantes eram do sexo masculino (64,2%), leucodermas (87,1%) e receberam quimioterapia (97,5%). Além disso, a maior parte recebeu diagnóstico de gengivite (57,5%) e atividade de cárie (53,9%). Os hábitos de higiene contemplavam baixa frequência de escovação diária (1,99±0,96) e poucos utilizavam fio dental (10,8%). Foi identificada a presença de anomalias dentárias em parte da amostra (26,3%), sendo o taurodontismo a mais frequente (14,5%). Não houve diferença estatística que correlacionasse o impacto de variáveis sócio-econômicas e clínico-patológicas com esses desfechos, exceto pela frequência de escovação, que foi menor para o grupo “Outros”. Os resultados podem ter sido subestimados pelas limitações do estudo e pelo delineamento proposto. A identificação de efeitos tardios das terapias antineoplásicas como as alterações do desenvolvimento dentário requer tempo entre o fim do tratamento e o diagnóstico. Entretanto, a alta carga de doenças e alterações do desenvolvimento nessa população demonstra a necessidade do acompanhamento odontológico durante o tratamento oncológico de crianças.

Pediatric cancer affects thousands of children in Brazil annually, and its treatment is associated with oral manifestations that can compromise patients' quality of life. This study aimed to evaluate oral health parameters in pediatric patients diagnosed with hematologic malignancies. Patients were identified from dental records of the Instituto de Câncer Infantil (ICI) and contacted by telephone to participate. Those diagnosed with hematologic neoplasms treated at the ICI from 1992 to 2024 were included. Variables related to patients, diagnosis, treatment, and oral health were extracted from registration forms, dental records, and available radiographic exams at the ICI and entered into a specific database. Analyses were conducted using Student's t-tests and chi-square tests for categorical variables. Subsequently, a multivariable logistic regression analysis was performed to assess dichotomous outcomes. The final sample comprised 123 patients, divided into "Leukemia" (n=96), "Lymphoma" (n=21), and "Other" (n=6) groups. It was observed that the majority of participants were male (64.2%), leucoderma (87.1%), and received chemotherapy (97.5%). Additionally, most were diagnosed with gingivitis (57.5%) and caries activity (53.9%). Oral hygiene habits included low daily brushing frequency (1.99±0.96) and few using dental floss (10.8%). Dental anomalies were identified in part of the sample (26.3%), with taurodontism being the most frequent (14.5%). There was no statistically significant difference correlating the impact of socioeconomic and clinicopathological variables with these outcomes, except for brushing frequency, which was lower for the "Other" group. The results may have been underestimated due to study limitations and the proposed design. Identifying late effects of antineoplastic therapies such as dental development alterations requires time between treatment completion and diagnosis. However, the high burden of diseases and developmental alterations in this population emphasize the need for dental monitoring during childhood oncological treatment.