Psicoterapia e aplicativos móveis : uma revisão crítica
Fecha
2022Autor
Co-director
Nivel académico
Grado
Tipo
Resumo
As inovações tecnológicas e a crescente demanda por atenção à saúde mental têm ensejado o desenvolvimento de novas formas de intervenção à disposição dos psicólogos. Atrelada a uma sociedade cada vez mais dinâmica e conectada à internet e aos smartphones, surge uma grande oferta de aplicativos móveis, que têm sido utilizados na clínica com o intuito de promover ou facilitar diversas funções terapêuticas. Isso abre espaço para uma gama de dinâmicas e interações no contexto de uma psicoterapia, q ...
As inovações tecnológicas e a crescente demanda por atenção à saúde mental têm ensejado o desenvolvimento de novas formas de intervenção à disposição dos psicólogos. Atrelada a uma sociedade cada vez mais dinâmica e conectada à internet e aos smartphones, surge uma grande oferta de aplicativos móveis, que têm sido utilizados na clínica com o intuito de promover ou facilitar diversas funções terapêuticas. Isso abre espaço para uma gama de dinâmicas e interações no contexto de uma psicoterapia, que devem ser estudadas para que se possa avaliar os reais efeitos do uso dessas aplicações, tanto sobre o paciente quanto sobre o processo terapêutico em si. Porque praticamente não há em português estudos que especifiquem como esses aplicativos têm sido utilizados efetivamente na prática clínica, foi realizada uma revisão crítica de literatura, que visou levantar e debater conteúdo relevante e potencialmente capaz de orientar psicólogos clínicos e pesquisadores quanto ao uso de tais tecnologias ou produção de futuros trabalhos que relacionem diretamente a psicoterapia aos aplicativos móveis. Essa produção compreendeu dois momentos distintos, que são justificados pelo emprego de metodologias diferentes. No primeiro momento, foi utilizada a Análise de Conteúdo de Bardin como base metodológica para o desenvolvimento de um protocolo adaptado aos objetivos deste trabalho. Tal protocolo prevê um modelo sistematizado de busca dos estudos, extração de dados, classificação e síntese do conteúdo relevante. A conclusão desse primeiro momento correspondeu aos resultados iniciais da revisão e, genericamente, apontou uma grande quantidade de aplicativos com potencial terapêutico à disposição ou em desenvolvimento, compostos de uma gama variada de estratégias de intervenção, além de um predomínio dos argumentos favoráveis à utilização dessas tecnologias por diferentes motivos. No segundo momento, procedemos a crítica dos resultados da revisão a partir de literatura contemporânea escolhida por conveniência, notadamente o filósofo Byung-Chul Han, o neurocientista Michel Desmurget e o psicoterapeuta Farhad Dalal. A análise dos dados revisados permitiu considerarmos neste trabalho que, apesar do notório otimismo predominante nos artigos que defendem o desenvolvimento dessas tecnologias, tais aplicações são dotadas de atributos que sugerem ressalvas importantes ao seu uso no contexto psicoterápico. De um ponto de vista social, elas encarnam as principais características de uma sociedade neoliberal e se utilizadas de modo inadequado podem reforçar formas de sofrimento culturalmente estabelecidas. Por outro lado, suas principais estratégias terapêuticas reforçam uma lógica individualizante do sofrimento e da cura. Também muitas estratégias pautadas em alguma forma de melhoramento cognitivo (como geralmente é o caso da gamificação) podem acarretar excesso de estimulação sensorial, o que está relacionado a diversos malefícios para a saúde. Além disso, o consumo de dispositivos digitais atualmente é excessivo, sugerindo que devemos levar em consideração o tempo de exposição às telas para que isso não gere prejuízos ao paciente. Pressupondo que a imersão das tecnologias digitais no contexto clínico da contemporaneidade parece inevitável, torna-se imperativo o desenvolvimento de protocolos específicos de desenvolvimento e validação de tais tecnologias, bem como o estudo e divulgação apropriada dos efeitos produzidos por estratégias digitais especificamente no ambiente clínico. ...
Institución
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Psicologia. Curso de Psicologia.
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