Efeitos da suplementação oral de vitaminas e minerais sobre sintomas depressivos : uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados

Abstract

Introdução: A depressão é um problema de saúde pública, atingindo 1 a cada 10 brasileiros após a pandemia. Apesar da existência de tratamentos convencionais eficazes, cerca de 30% dos pacientes não respondem à terapia com medicação antidepressiva. Em função disso, cresce a busca por terapias alternativas e a suplementação com micronutrientes é uma delas. Entretanto, a maioria dos estudos apresenta caráter observacional, surgindo a necessidade de avaliar ensaios clínicos randomizados (ECR) que utilizem a suplementação de vitaminas e minerais como tratamento para o Transtorno Depressivo Maior (TDM). Objetivo: Realizar uma revisão sistemática sobre o efeito terapêutico da suplementação de micronutrientes nos sintomas de depressão em adultos. Métodos: Foi realizada busca no MEDLINE associando descritores sinônimos de depressão e suplementação de micronutrientes. A busca resultou em 1.380 estudos, dos quais 64 atenderam os critérios de inclusão: ECR, duplo cegos, controlados por placebo que avaliaram o efeito da suplementação oral de vitaminas e minerais nos sintomas depressivos em adultos (≥ 18 anos). Não foi realizada metanálise, a descrição dos resultados se deu de forma qualitativa, descrita por vitaminas e minerais específicos, além do diagnóstico ou não de TDM. O risco de viés foi descrito através da lista de verificação CONSORT. Resultados: Foram incluídos 64 artigos, com população total de 78.702 participantes e os micronutrientes estudados foram vitaminas A, D, K, Complexo B, magnésio, zinco, multivitamínicos e ômega-3. Destes estudos, 23 apresentaram resultados positivos e significativos de diminuição nas pontuações de escalas de sintomas depressivos com a suplementação de micronutrientes, porém com tamanhos de efeito ainda pequenos. Discussão: A metodologia dos estudos é questionável e os resultados positivos foram concentrados em um único país: 18 dos artigos com resultados favoráveis foram realizados no Irã ou por pesquisadores iranianos, levantando dúvidas sobre a generalização dos achados. Em suma, a suplementação de vitaminas e minerais para diminuição dos sintomas depressivos carece de mais estudos, metodologicamente bem conduzidos, com populações mais variadas e tamanhos amostrais maiores, para que possa ser amplamente recomendada. Entretanto, para a população geral, permanece a recomendação de suplementação de vitaminas e minerais quando da detecção de deficiência, para benefício geral da saúde.

Introduction: Depression is a public health issue, affecting 1 in 10 Brazilians after the pandemic. Despite the existence of effective conventional treatments, approximately 30% of patients do not respond to antidepressant medication therapy. As a result, there is a growing search for alternative therapies, and micronutrient supplementation is one of them. However, most studies are observational, highlighting the need to evaluate randomized controlled trials (RCTs) that use vitamin and mineral supplementation as a treatment for Major Depressive Disorder (MDD). Objective: To conduct a systematic review on the therapeutic effect of micronutrient supplementation on depressive symptoms in adults. Methods: A search was conducted in MEDLINE associating Medical Subject Headings of depression and micronutrient supplementation. The search resulted in 1,380 studies, of which 64 met the inclusion criteria: double-blind, placebo-controlled RCTs that evaluated the effect of oral vitamin and mineral supplementation on depressive symptoms in adults (≥ 18 years). The analysis was qualitative, including the risk of bias, through the CONSORT checklist, described by specific vitamins and minerals, in addition to the diagnosis or non-diagnosis of MDD. Results: Sixty-four articles were included, with a total population of 78,702 participants, and the studied micronutrients were vitamins A, D, K, B-complex, magnesium, zinc, multivitamins, and omega-3. Of these studies, 23 showed positive results of decreased scores on depressive symptom scales with micronutrient supplementation, but with still small effect sizes. Discussion: The methodology of the studies is questionable and the positive results were local: 18 of the articles with favorable results were conducted in Iran or by Iranian researchers, raising doubts about the generalization of the findings. In summary, the supplementation of vitamins and minerals to reduce depressive symptoms requires more methodologically well-conducted studies, with more varied populations and larger sample sizes, to be widely recommended. However, for the general population, the recommendation remains to supplement vitamins and minerals when deficiencies are detected, for overall health benefit.