O Atlântico Sul como espaço estratégico : análise histórica e desafios geopolíticos

Abstract

O Atlântico Sul, como espaço geopolítico, foi incorporado às dinâmicas do Sistema Internacional Moderno no século XV, tornando-se um espaço fundamental para o escoamento do comércio internacional e obtenção de recursos naturais estratégicos. Desde então, as grandes potências sempre buscaram se fazer presentes na região, fazendo com que o Atlântico Sul se revestisse de importância estratégica e se tornasse palco dessas disputas entre as grandes potências. Mais que isso, com a evolução política ao longo dos séculos, surgiram Estados independentes na região, criando um novo grau de disputas e complexificando as dinâmicas regionais. Dessa forma, considerando que o Atlântico Sul esteve inserido nas dinâmicas do Sistema Mundial Moderno desde o seu desenvolvimento, o presente trabalho busca entender como as transformações nesse sistema afetaram as dinâmicas geopolíticas da região e como essas dinâmicas vão complexificando-se com o gradual desenvolvimento de novos Estados neste espaço. A hipótese defendida é a de que as dinâmicas capitalistas do sistema relegaram o espaço sul-atlântico à condição de periferia, tendo variado o seu valor estratégico conforme acirraram-se ou refreavam-se as disputas das grandes potências. Dessa forma, o fim da Guerra Fria e da Ordem bipolar levaram a uma nova fase de transição sistêmica, gerando um novo nível de rivalidade entre as grandes potências devido à ausência de ordem. Neste cenário, Rússia e China desafiam a capacidade do Ocidente em uma tradicional zona de influência. Posto isto, o fortalecimento do multilateralismo regional constitui-se como o mecanismo mais eficaz de preservação dos interesses dos Estados regionais. Assim, o objetivo geral deste trabalho consiste na compreensão do significado geopolítico do Atlântico Sul a partir de uma análise histórica que considere a influência das dinâmicas sistêmicas na região. Considera-se como justificativa para este estudo o fato de que o Atlântico Sul e a costa ocidental africana fazem parte do entorno estratégico brasileiro, visando assim contribuir com o pensamento estratégico nacional.

The South Atlantic, as a geopolitical space, was incorporated into the dynamics of the Modern International System in the 15th century, becoming a crucial area for international trade and the acquisition of strategic natural resources. Since then, great powers have consistently sought to establish their presence in the region, elevating the South Atlantic to strategic importance and making it a stage for disputes among these great powers. Furthermore, as political evolution unfolded over the centuries, independent states emerged in the region, introducing a new level of competition and increasing regional dynamics. Considering that the South Atlantic has been part of the dynamics of the Modern World System since its establishment, this study aims to understand how transformations in this system will impact the geopolitical dynamics of the region and how these dynamics will become more complex with the gradual development of new states in this space. The hypothesis put forth is that the capitalist dynamics of the system relegated the South Atlantic space to the status of a periphery, with its strategic value varying as disputes among great powers intensified or diminished. Thus, the end of the Cold War and the bipolar order led to a new phase of systemic transition, generating a new level of rivalry among great powers due to the absence of an order. In this scenario, Russia and China are challenging the West's capacity in a traditional sphere of influence. Therefore, the strengthening of regional multilateralism is considered the most effective mechanism for preserving the interests of regional states. Consequently, the overall objective of this study is to comprehend the geopolitical significance of the South Atlantic through a historical analysis that takes into account the influence of systemic dynamics in the region. The reason for this study lies in the fact that the South Atlantic and the West African coast are part of Brazil's strategic environment, aiming to contribute to national strategic thinking.