Quando a dança encontra a internação psiquiátrica : um relato de experiência

Abstract

Neste trabalho, debruço-me a relatar minha experiência em um estágio nãoobrigatório do Curso de Licenciatura em Dança da UFRGS. O estágio foi realizado no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, e teve duração de dois anos, entre 2020 e 2022. Tinha como principal objetivo a oferta diária de oficinas de dança para pessoas internadas em duas unidades de Internação Psiquiátrica: adulta e adolescente. A pesquisa desenvolvida neste trabalho é mobilizada pela pergunta: como a dança pode se inserir com autonomia em um contexto de alta complexidade em saúde mental, oferecendo cuidado e promovendo o bem-estar de pessoas em grave sofrimento psíquico? O trabalho tem por objetivo geral discutir sobre a inserção da dança em um contexto de alta complexidade em saúde mental e como objetivos específicos relatar a experiência de estágio supracitado, descrever algumas propostas de dança realizadas com os usuários do serviço e refletir sobre como a dança pode ofertar cuidado a pessoas em grave sofrimento psíquico. Para tal, utiliza-se uma metodologia de caráter qualitativo, do tipo relato de experiência descritivo exploratório, com perspectiva temporal longitudinal. A partir do trabalho realizado, pode-se observar que a dança, ao potencializar a criação de outros modos de ser-no-mundo, é capaz oferecer cuidado em saúde de forma ampliada e consciente. Isso só se torna possível quando o conhecimento da dança é inserido na dinâmica multidisciplinar desses espaços com autonomia e reconhecimento. Através do estímulo à criatividade e à percepção ampliada, os usuários são convidados a reivindicar para si o direito de ser um corpo ativo, disponível, interessado, investigativo, pulsante, enfim: um corpo que dança.

In this work, I’m dedicated to reporting my experience during a non-mandatory internship in the Dance Teaching Program at UFRGS. The internship took place at Nossa Senhora da Conceição Hospital in Porto Alegre and lasted for two years, from 2020 to 2022. Its main objective was to offer daily dance workshops for patients in two Psychiatric Units: adult and adolescent. The research conducted in this work is motivated by the question: how can dance autonomously integrate into a highcomplexity mental health context, providing care and promoting the well-being of individuals in severe psychological distress? The general objective of the work is to discuss the integration of dance in a high-complexity mental health context, with specific objectives to report on the aforementioned internship experience, describe some dance activities carried out with the service users, and reflect on how dance can provide care to those in severe psychological distress. To achieve this, a qualitative methodology is employed, specifically a descriptive exploratory experiential report with a longitudinal temporal perspective. From the conducted work, it can be observed that dance, by enhancing the creation of alternative ways of being-in-the-world, is capable of providing health care in a broader and conscious way. This only becomes possible when dance knowledge is autonomously and acknowledgedly integrated into the multidisciplinary dynamics of these spaces. Through stimulating creativity and expanded perception, users are invited to reclaim for themselves the right of being someone who’s active, available, interested, investigative, pulsating —ultimately, someone who dances.