Três projetos contra-hegemônicos

Abstract

Há uma prática hegemônica no Rio Grande do Sul, e com toda certeza em muitas outras partes do Brasil, que desconsidera a necessidade de criar espaços abertos e edificações que constituam o que alguns chamam de infraestruturas do cotidiano, isto é, de equipamentos públicos que podem tornar a vida diária mais digna, principalmente para a população de baixa renda. Essa prática resulta de um pensamento hegemônico não explícito, mas dominante na política e administração brasileiras e, curiosamente, independente de ideologias, pois nem os governos municipais e estaduais de esquerda se dedicaram à construção desses equipamentos. O texto descreve três projetos que procuram se contrapor ao pensamento hegemônico descrito acima. Os projetos ilustram respostas a três situações caracterizadas por descaso: a falta de qualificação dos espaços abertos das cidades, a ausência quase total de equipamentos que fomentem a vida cultural e as relações sociais e a indiferença com que são tratados o patrimônio histórico e o urbanismo consolidado. A metodologia envolve identificar uma situação urbana problemática, transformá-la em tema de ateliê de projeto na graduação e na pós-graduação, realizar o projeto paralelamente aos alunos, discutir o projeto em aula e buscar divulgá-lo com fim de estabelecer uma discussão sobre o problema que deu origem à essa sequência, mais do que sobre o próprio projeto.

There is a hegemonic practice in the Southern Brazilian province of Rio Grande do Sul, and certainly in many other parts of Brazil, which disregards the need to create open spaces and buildings which are what some call everyday infrastructure, that is, public facilities that can make daily life more dignified, especially for the low-income population. This practice results from a non-explicit but dominant hegemonic thought in Brazilian politics and administration. Curiously, it does not depend on ideologies, as not even left-wing municipal and state governments dedicated themselves to building such equipment. This text presents three projects that seek to oppose the hegemonic thinking described above. The projects illustrate architectural responses to three situations characterized by neglect: the lack of qualification of open spaces in cities, the almost total absence of equipment that can foster cultural life and social relations, and the indifference to how historical heritage and consolidated urbanism are treated. The methodology involves identifying a problematic urban situation, transforming it into a program for a design studio at the undergraduate and graduate levels, carrying out the architectural design simultaneously with the students, discussing the project in class, and seeking to disseminate it in order to establish a discussion about the problem that gave rise to this response, more than about design itself.