Comunidades surdas : memórias discentes a partir das classes especiais

Abstract

O estudo apresenta uma uma discussão que questionou como a oferta de atendimento educacional para surdos em classes especiais de três cidades da região do Vale de Paranhana, Rio Grande do Sul, Brasil, pode ter influenciado a formação de comunidades surdas. A fundamentação teórica busca referência no campo dos Estudos Surdos e Estudos Culturais numa perspectiva pósestruturalista com inspirações em Michel Foucault. A ênfase se deu nas práticas de regulação para compreender a classe especial, que pode ser analisada enquanto prática de condução dos corpos e de poder sobre a vida, sob as noções de governamentalidade/governamento e biopolítica (enquanto estratégias de condução das condutas) e a noção de normal/anormal. A metodologia de pesquisa é de cunho qualitativo e o instrumento adotado foi a entrevista semiestruturada, realizada em Língua de Sinais e língua oral, conforme a opção dos sujeitos surdos adultos que relataram suas experiências escolares em classes especiais. Foram realizadas treze entrevistas e o exercício analítico permitiu organizar três eixos: a identificação da surdez como marcador identitário; a escola e as aprendizagens; comunidade surda: tempos, espaços e relações estabelecidas. Evidenciou-se que enquanto a classe especial esteve ativa, ela se configurou em uma comunidade surda e, após o encerramento das atividades, esta comunidade não se manteve. Observa-se também que aqueles que se reconhecem com a identidade surda afirmam participar efetivamente de comunidades surdas.

The study presents a discussion that questioned how the provision of educational services for deaf people in special classes in three cities in the Vale de Paranhana, Rio Grande do Sul, Brasil region, may have influenced the formation of deaf communities. The theoretical foundation seeks reference in the field of Deaf Studies and Cultural Studies from a post-structuralist perspective with inspiration from Michel Foucault. The emphasis was on regulatory practices to understand the special class, which can be analyzed as a practice of managing bodies and power over life, under the notions of governmentality/government and biopolitics (as strategies for conducting conduct) and the notion of normal/abnormal. The research methodology is qualitative and the instrument adopted was a semistructured interview, carried out in Sign Language and oral language, according to the option of deaf adult subjects who reported their school experiences in special classes. Thirteen interviews were carried out and the analytical exercise allowed organizing three axes: the identification of deafness as an identity marker; school and learning; deaf community: times, spaces and established relationships. It was evident that while the special class was active, it was configured as a deaf community and, after the activities ended, this community did not remain. It is also observed that those who recognize their deaf identity claim to effectively participate in deaf communities.