Vozes subversivas e corpos transgressores : memórias da (re) existência de militantes dos movimentos LGBTQIA+ e de mulheridades contra as opressões interseccionais em Rondônia (1980 a 2022)

Abstract

Esta tese investiga, a partir de análises documentais, de histórias orais de vida e de observações de campo, a construção das identidades das/dos militantes dos movimentos de mulheridades e LGBTQIA+ em Porto Velho, objetivando a problematização das suas ações, representações e relações de poder envolvidas nas resistências contra o cistema de dominação cisheteropatriarcal e LGBTQI+fóbico no estado de Rondônia. Este trabalho foi construído e sustentado em histórias de vidas, de luta e de resistência de pessoas LGBTQIA+ e de mulheres, através das narrativas das/dos militantes. São conjuntos de narrativas pautadas no engajamento, nas ações socioculturais, na localização social, nas vivências e experiências delas/es visando a constituição de microbiografias e microautobiografias. A tese foi elaborada a partir das concepções dos estudos de gênero e sexualidade, do feminismo negro interseccional, do transfeminismo, bem como dos estudos culturais. Analisa como a dominação colonialista, capitalista, patriarcal e militarista se expressou em Rondônia em diversas situações de exploração: econômica, simbólica, político-ideológica, sociocultural, ecológica, sexual e epistêmica, como, também, mostra que as opressões interseccionais e as desigualdades sociais no estado se iniciaram no processo histórico de colonização e através das estruturas de poder marcadas pela violência contra pessoas e seus corpos que já existiam na região. Na seção "Aquelas/es que vieram antes de nós", trago quatro microbiografias construídas a partir de fragmentos de memória e narrativas de um militante gay cisgênero e de três pessoas trans* em Porto Velho a partir da década de 1980: Paulo Santiago, Sandra Egly, Núbia Lafayette e Mica, com a finalidade de manter viva a memória de pessoas que subverteram a cisheteronormatividade e resistiram às diversas formas de opressão interseccional em um estado conservador, permitindo encarar com outra perspectiva tal passado, marcado por muitas violências e estigmas, mas também por muita luta e formas de (re) existência. A seguir trago as microautobiografias de militantes dos movimentos LGBTQIA+ e de mulheridades em Rondônia, construídas em colaboração com Karen Oliveira, Alessia Moura, Kary Falcão, Raymisson Correa, Breno Vinícius, Anne Cleyane, Apollo Nunes, Renata Evans, Marconi Vasconcelos e a colaboradora, mulher cis, aliada de luta, Brenda Moraes. Por fim, abordo questões trazidas por essas histórias, em especial a trajetória dos referidos movimentos em Rondônia (periodização, organizações, pautas, vitórias e enfraquecimentos), a política de aliança entre ambos os movimentos contra as opressões interseccionais no período eleitoral de 2018 e pós-eleitoral, e os atravessamentos desses corpos pelo racismo, LGBTQIA+fobia, machismo e preconceito religioso.

This thesis investigates, based on documentary analyses, oral histories of life and field observations, the construction of the identities of the militants of the womanhood’s movements and LGBTQIA+ in Porto Velho, aiming to problematize their actions, representations and power relations involved in resistance against the cisheteropatriarchal and LGBTQI+phobic cistem of domination in the state of Rondonia. This work was built and sustained on lifes histories, struggle and resistance of LGBTQIA+ and women, through the narratives of the militants. They are sets of narratives based on engagement, socio-cultural actions, social location, experiences and their experiences, aiming at the constitution of microbiographies and microautobiographies. The thesis was elaborated from the conceptions of the studies of gender and sexuality, of the intersectional black feminism, of the transfeminism, as well as of the cultural studies. It analyzes how colonialist, capitalist, patriarchal and militarist domination was expressed in different situations of exploitation: economic, symbolic, political - ideological, sociocultural, ecological, sexual and epistemic, as well as showing that intersectional oppressions and social inequalities in the state began in the historical process of colonization and through the structures of power in Rondonia, marked by violence against all people and their bodies, which already existed in the region. In section "those who came before us", are 4 (four) microbiographies constructed from memory fragments and narratives of a cisgender gay activist and three trans* people in Porto Velho from the 1980s: Paulo Santiago, Sandra Egly, Núbia Lafayette and Mica, with the aim of keeping alive the memory of people who subverted cisheteronormativity, and resisted the various forms of intersectional oppression in a conservative state, allowing to face such a past with another perspective, marked by much violence and stigma, but also by a lot of struggle and forms of (re)existence. Below I bring the microautobiographies of militants of the LGBTQIA+ movements of women in Rondônia, built in collaboration with: Karen Oliveira, Alessia Moura, Kary Falcão, Raymisson Correa, Breno Vinícius, Anne Cleyane, Apollo Nunes, Renata Evans, Marconi Vasconcelos and the collaborator, cis woman, fight ally, Brenda Moraes. Finally, I address issues brought up by these histories, especially the trajectory of these movements in Rondônia (periodization, organizations, agendas, victories and weakenings), the policy of alliance between both movements against intersectional oppressions in the 2018 and post-electoral period, and the crossings of these bodies by racism, LGBTQIA+phobia, machismo and religious prejudice.