Da clínica da infância ao infantil na clínica : contribuições da abordagem ferencziana para a ética em psicanálise

Abstract

O presente trabalho tem como objetivo dar luz às principais contribuições da obra de Sándor Ferenczi, psicanalista húngaro da primeira geração, para a clínica contemporânea e para a ética em psicanálise. Para tal, aborda-se alguns elementos importantes da história de vida do autor, bem como a sua relação complexa com Freud e com os saberes ainda incipientes da teoria psicanalítica, até a maturidade de sua elaboração teórica. O ensaio discorre sobre alguns desdobramentos clínicos importantes das proposições ferenczianas, tendo em vista que, ao articular clínica, subjetivação e sofrimento psíquico à dimensão da cultura e da política, o enfant terrible da psicanálise aponta para a emergência da reformulação da técnica analítica a fim de que se possa acolher os sujeitos profundamente afetados pelos efeitos do traumatismo no setting clínico. Denunciando a violência real perpetuada contra crianças e adolescentes na cultura e a hipocrisia profissional presente nas práticas de cuidado e atenção em saúde mental, Ferenczi propõe novas abordagens clínicas para a construção de uma ética mais rigorosa em psicanálise. Por fim, aborda-se a relevância das experimentações estéticas do psicanalista húngaro na prática clínica contemporânea com os sujeitos em situações extremas de desamparo e de vulnerabilidade e a emergência da construção de uma ética atenta e sensível por parte do analista frente à realidade psicossocialdo sujeito em sofrimento psíquico na cena clínica.