Joga pedra na Geni : mediação sociopolítica e transformação da identidade como produção de cidadania a partir do núcleo de estudos da prostituição

Abstract

Esse trabalho apresenta o Núcleo de Estudos da Prostituição (NEP) como mecanismo de mediação sociopolítica e de transformação de identidade para com as mulheres prostitutas do município de Porto Alegre/RS. Através de revisão bibliográfica e pesquisa de campo realizada a partir de episódios que vivenciei e de relatos narrados pelas próprias integrantes do NEP, analiso o modo como a organização não governamental (ONG) utiliza das possibilidades de sua realidade para produzir cidadania. Para tal, construo meu argumento a partir de um Estado que tem desinteresse em certos grupos e identidades sociais, (re)produzindo um cenário de desigualdades que conduz à criação de margens, que deslegitimam e excluem os alvos dessa marginalização. Paralelamente, o estigma social integra esse contexto desafiador, condicionando certas identidades a privação de direitos e de cidadania. O NEP surge a partir da contestação dessas estruturas: identificando as demandas das mulheres prostitutas, denunciando processos discriminatórios que as atravessam cotidianamente e reivindicando pautas que geralmente centralizam a cidadania. São desenvolvidos então discursos e modos de agência próprios, que são estabelecidos coletivamente mas envolvem a constante negociação com agentes (governamentais e não governamentais) para manter a sua legitimidade e a sua existência. Ao olharmos para o NEP, aprendemos sobre os processos de construção de ONGs e de busca pela cidadania como sendo contínuos, dinâmicos e múltiplos.

This work presents Núcleo de Estudos da Prostituição (NEP) as a mechanism of sociopolitical mediation and identity transformation towards women prostitutes in the city of Porto Alegre/RS. Through bibliographic review and field research, based on episodes I experienced and on reports narrated by the NEP members themselves, I analyze the way in which the non-governmental organization (NGO) uses the possibilities of its reality to produce citizenship. To this end, I build my argument from a state that has no interest in certain social groups and identities, (re)producing a scenario of inequalities that leads to the creation of margins, which delegitimize and exclude the targets of this marginalization. At the same time, social stigma is part of this challenging context, conditioning certain identities to the deprivation of rights and citizenship. NEP arises from the contestation of these structures: identifying the demands of women prostitutes, denouncing discriminatory processes that cross them daily and claiming guidelines that generally centralize citizenship. Discourses and modes of agency are then developed, which are collectively established but involve constant negotiation with agents (both governmental and non-governmental) to maintain their legitimation and their existence. By looking at NEP, we learn about the processes of building NGOs and the search for citizenship as being continuous, dynamic and multiple.