Musicalidade e territorialidade : a patrimonialização do Afro-Sul Odomodê como território afro-gaúcho

Abstract

Essa pesquisa oferece um relato etnomusicológico na elaboração de um projeto de patrimonialização do Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomodê. O Afro-Sul Odomodê é um centro cultural de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, que funciona como movimento de valorização da cultura negra por meio da arte, desenvolvendo projetos de inclusão sociocultural “em que há a oportunidade de criar e experimentar inúmeras práticas pedagógicas voltadas à transformação gradual da nossa realidade atual, marcada pela exclusão e a discriminação” (AFRO-SUL ODOMODÊ, s.d.). Ao sofrerem pressões externas para se retirarem do terreno que ocupam há mais de 45 anos, os coordenadores do Instituto—no contexto da interdisciplina Encontro de Saberes, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2018—cogitaram a patrimonialização do Afro-Sul Odomodê como uma maneira legítima de garantir a sua permanência em seu território; e que foi abraçada pela rede de sociabilidades que a disciplina Encontro de Saberes procura acionar. Esse trabalho, portanto, se debruça sobre a etnografia do projeto colaborativo de qualidade patrimonial envolvendo o Instituto Afro-Sul e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Desenvolvo esse relato etnográfico em três etapas: a discussão sobre o território do Afro-Sul; os processos dialógicos de construção dos Inventários Participativos; e, por fim, me proponho a discutir, de maneira cartográfica, o aspecto da musicalidade nos processos de produção de conhecimento e da cultura afro-gaúcha.

This research offers an ethnomusicological report on the formulation of a cultural heritage project on the Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomodê. Afro-Sul Odomodê is a cultural center located in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil—that functions as an appreciation movement of the black culture through the arts, developing sociocultural inclusion projects “in which there’s an opportunity to create and experiment various pedagogical practices aiming to gradually transform our social reality, marked by exclusion and discrimination.” (AFRO-SUL ODOMODÊ, s. d.) By suffering from external threats to leave the terrain they occupy for more than 45 years, both Afro-Sul coordinators—in the context of the Meeting of Knowledges, at the Federal University of Rio Grande do Sul, in 2018—proposed the cultural heritage of the Afro-Sul Odomodê as a lawful way to guarantee the permanency in it’s territory.