A influência da prática do esporte educacional nos níveis de desenvolvimento moral em estudantes do Assentamento Filhos de Sepé-Viamão

Abstract

A prática do esporte educacional envolve compromisso pedagógico no âmbito da formação de crianças e adolescentes, não somente no que se refere ao domínio conhecimento (técnica, tática e regras), mas também na formação de valores, hábitos e atitudes. Este trabalho configura-se como um relato de experiência produzido a partir da minha atuação como professora de educação física na escola Nossa Senhora de Fátima, localizada no Assentamento Filhos de Sepé, no município de Viamão (RS). Durante cinco meses desenvolvi aulas esporte educacional uma vez por semana junto às turmas do 8º. e 9º. anos. Pretendi, através das aulas desenvolvidas, verificar as possíveis alterações dos níveis de desenvolvimento moral dos estudantes. Participaram deste estudo semiexperimental 48 alunos que freqüentavam regularmente as aulas das turmas acima referidas, cujas idades compreendidas entre 12 a 18 anos. O instrumento utilizado para avaliação dos níveis de desenvolvimento moral foi o Defining Issues Tes( (DIT), elaborado por Rest (1974), traduzido e adaptado para uso no Brasil por Bulzneck (1977) e reformulado por Camino e Luna (1989). Antes do início das aulas de esporte educacional, apliquei o referido instrumento para conhecer o níveis de desenvolvimento moral de meus alunos. Ao término do período de realização das aulas (5 meses) repeti a aplicação do instrumento utilizado. Os resultados obtidos apontam para a dificuldade de compreensão do referido instrumento por parte dos alunos – foi possível identificar os níveis de desenvolvimento moral apenas de oito estudantes. Dentre estes, na realização da primeira avaliação encontrei dois alunos no nível Pré-Convencional, cinco no nível Convencional e um no nível Pós-Convencional. Na segunda avaliação, os resultados obtidos foram os seguintes: nenhum aluno no nível Pré-Convencional, quatro no nível convencional e quatro no nível Pós-Convencional. Quanto ao escore P, que indica a porcentagem de pensamento pós-convencional do sujeito (estágio 5 e 6), seis dos oito alunos apresentaram aumento do escore P na segunda avaliação. Estes resultados estão de acordo com aqueles encontrados por Bredemeier, Weiss, Shields e Shewchuk (1986), Romance, Weiss e Bockoven (1986), indicando que o oferecimento sistemático e organizado de situações que promovam a reflexão sobre dilemas éticos pode mudar o julgamento moral de jovens. Em relação à turma como um todo, observei mudanças de atitudes principalmente nos momentos de formação dos grupos para a prática esportiva: no início, era atividade era caracterizada pela exclusão dos menos habilidosos. Posteriormente, foi caracterizada como altamente participativa, com estratégias elaboradas pelos próprios alunos visando participação de todos. Através desta experiência docente, ministrando práticas de esporte educacional, ficou evidente para mim a importância da intervenção consciente do professor na perspectiva de favorecer o desenvolvimento da autonomia moral discente na escola.