Práticas de cuidado em saúde para outros modos de vida : uma análise da atuação das enfermeiras na pandemia da COVID-19

Abstract

Introdução: A pandemia da covid-19 explicitou limites aos modos de produção capitalista neoliberal. Vivemos uma crise que é, ao mesmo tempo, econômica, ecológica, política, social, sanitária e, também, do “cuidado”. As práticas de cuidado em saúde são importantes para o governo das condutas dos sujeitos e a regulação das populações. A atuação das enfermeiras tem importância não apenas pela capacidade técnica para o cuidado em saúde, mas, também, pelo papel social da Enfermagem, o qual produz saberes e práticas importantes para os territórios formados na Atenção Primária à Saúde (APS). Situada no universo das enfermeiras, essa pesquisa trouxe algumas questões, tais como: quais foram as condições de possibilidade para que as enfermeiras realizassem práticas de cuidado em saúde, no âmbito da APS, durante a pandemia? Quais discursos de verdade constituíram essas práticas? Assim, através das perspectivas conceituais dos Estudos Foucaultianos, dos Estudos Feministas e de Gênero e dos Estudos Decoloniais, analisei as práticas de cuidado das enfermeiras em busca de conhecer suas histórias e saber como chegaram a ser o que são no presente. Para tal, o objetivo da tese foi analisar como as práticas de cuidado de enfermeiras se constituíram na APS, no contexto da pandemia da covid-19. Metodologia: Trata-se de estudo de abordagem qualitativa, inspirado nos procedimentos do método genealógico de Michel Foucault. O estudo utilizou como instrumento para produção de dados a entrevista semiestruturada, respondida por 59 enfermeiras atuantes na APS, no Rio Grande do Sul, entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021. Resultados: Dos relatos produzidos pelas enfermeiras em resposta a entrevista emergiram alguns discursos de verdade, que resultaram em três eixos de análise. No primeiro, A Enfermagem em tempos de pandemia: estéticas da amizade para modos de vida outros, mostrei como a atuação das enfermeiras respondeu ao contexto de acentuada acumulação de crises, com a capacidade de potencializar a assistência na APS por meio dos seus saberes e experiências relativas ao trabalho em equipe. No segundo eixo de análise, Práticas coletivas de cuidado na Atenção Primária à Saúde durante a pandemia da covid-19, me detive nas práticas coletivas de cuidado em saúde na APS. Analisei a descontinuidade dessas práticas durante a pandemia e os possíveis efeitos da ausência dessa modalidade de cuidado à saúde na APS. O terceiro eixo de análise, O acolhimento da demanda espontânea na Atenção Primária à Saúde: a atuação da enfermagem no contexto da pandemia da covid-19, problematizou o modo como a atenção à saúde vem sendo organizada na APS. Especialmente porque esse tema possibilita pensarmos sobre importantes questões do nosso presente, como a precarização da APS e a desmobilização dos territórios da saúde. Considerações finais: Por fim, considerei que as práticas de enfermagem são importantes ferramentas para a produção de comunidades e constituição de outras subjetividades por meio de processos de desindividualização, e, por isso, têm potencial para desmedicalização social. Como condição de possibilidade fundamental para a criação de outros modos de vida, pois a desmedicalização social pode operar insurgências aos biopoderes da contemporaneidade.

Introduction: The covid-19 pandemic has revealed limits for the neoliberal capitalist modes of production. We are experiencing a crisis that is, at the same time, economic, ecological, political, social, health and, also, of “care”. Health care practices are important to govern the conduct of subjects and to regulate populations. The work of nurses is important not only because of their technical capacity for health care, but also because of the social role of Nursing, which produces important knowledge and practices for territories formed in Primary Health Care (PHC). Situated in the universe of nurses, this research raised some questions, such as: what were the conditions of possibility for nurses to carry out health care practices, within the scope of PHC, during the pandemic? What regimes of truth constituted these practices? Accordingly, through the conceptual perspectives of Foucauldian Studies, Feminist and Gender Studies and Decolonial Studies, I analyzed nurses' care practices assessing their stories and researching how they came to be what they are in the present. In doing so, the objective of the thesis was to analyze how nurses' care practices were constituted in PHC, in the context of the covid-19 pandemic. Methodology: This is a qualitative study, inspired by the procedures of Michel Foucault's genealogical method. The study used a semi-structured interview as an instrument for data production, given by 59 nurses working in PHC, in Rio Grande do Sul, between November 2020 and February 2021. Results: From the nurses' responses in the interviews, some speeches of truth emerged, which resulted in three axes of analysis. In the first, Nursing during the pandemic: aesthetics of friendship for other ways of life, I showed how nurses' actions responded to the context of a severe accumulation of crises, with the ability to enhance assistance in PHC through their knowledge and experiences related to teamwork. In the second axis of analysis, Collective care practices in Primary Health Care during the Covid-19 pandemic, I focused on collective health care practices in PHC. I analyzed the discontinuity of these practices during the pandemic and the possible effects of the absence of this type of health care in PHC. In the third axis of analysis, The acceptance of spontaneous demands in Primary Health Care: the role of nursing in the context of the covid-19 pandemic, which problematized the way in which health care has been organized in PHC. Especially because this theme allows us to think about important issues of our present, such as the precariousness of PHC and the demobilization of health territories. Final considerations: Lastly, I considered that nursing practices are important tools for the production of communities and the constitution of other subjectivities through processes of deindividuation, and, therefore, have the potential to social demedicalize. As a condition of fundamental possibility for the creation of other ways of life, as the social demedicalization of can trigger insurgencies against the biopowers of contemporary times.

Introducción: La pandemia de covid-19 ha expuesto los límites de los modos de producción capitalistas neoliberales. Estamos viviendo una crisis que es, al mismo tiempo, económica, ecológica, política, social, sanitaria y, también, de “cuidados”. Las prácticas de cuidado de la salud son importantes para gobernar la conducta de los sujetos y regular las poblaciones. El papel de las enfermeras es importante no sólo por su capacidad técnica para la atención en salud, sino también por el rol social de la Enfermería, que produce conocimientos y prácticas importantes para los territorios formados en la Atención Primaria a la Salud (APS). Situada en el universo de las enfermeras, esta investigación planteó algunas interrogantes, tales como: ¿Cuáles fueron las condiciones para que las enfermeras realizaran prácticas de atención a la salud, en el ámbito de la APS, durante la pandemia? ¿Qué regímenes de verdad constituyeron estas prácticas? Así, a través de las perspectivas conceptuales de los Estudios Foucaultianos, los Estudios Feministas y de Género y los Estudios Decoloniales, analicé las prácticas de cuidado de las enfermeras en busca de conocer sus historias y saber cómo llegaron a ser lo que son en el presente. Para ello, el objetivo de la tesis fue analizar cómo se constituyeron las prácticas de cuidado de las enfermeras en la APS, en el contexto de la pandemia de covid-19. Metodología: Se trata de un estudio cualitativo, inspirado en los procedimientos del método genealógico de Michel Foucault. El estudio utilizó como instrumento de producción de datos una entrevista semiestructurada, respondida por 59 enfermeros que actúan en la APS, en Rio Grande do Sul, entre noviembre de 2020 y febrero de 2021. Resultados: De los relatos de las enfermeras en respuesta a la entrevista, surgieron algunos discursos de verdade que resultaron en tres ejes de análisis. En el primero, Enfermería en tiempos de pandemia: estéticas de la amistad para otros modos de vida, mostré cómo las acciones de las enfermeras respondieron al contexto de una fuerte acumulación de crisis, con la capacidad de potenciar la asistencia en la APS a través de sus conocimientos y experiencias relacionadas al trabajo en equipo. En el segundo eje de análisis, Prácticas de atención colectiva en la Atención Primaria de Salud durante la pandemia de Covid-19, me centré en las prácticas de atención colectiva en salud en la APS. Analicé la discontinuidad de estas prácticas durante la pandemia y los posibles efectos de la ausencia de este tipo de atención a la salud. En el tercer eje de análisis, El acogimiento de la demanda espontánea en la Atención Primaria de Salud: el papel de la enfermería en el contexto de la pandemia de covid-19, que problematizó la forma en que se ha organizado la atención a la salud en la APS. Sobre todo porque este tema nos permite pensar en cuestiones importantes de nuestro presente, como la precariedad de la APS y la desmovilización de los territorios de salud. Consideraciones finales: Finalmente, consideré que las prácticas de enfermería son herramientas importantes para la producción de comunidades y la constitución de otras subjetividades a través de procesos de desindividuación y, por lo tanto, tienen el potencial de desmedicalización social. Como condición de posibilidad fundamental para la creación de otras formas de vida, ya que la desmedicalización social puede desencadenar insurgencias contra los biopoderes de los tiempos contemporáneos.