Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Arquitetura Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR Entre Textos e Projetos O arquiteto João Antônio Monteiro Neto em Porto Alegre Cristiano Zluhan Pereira Orientador: Prof. Ph.D. Cláudio Calovi Pereira Porto Alegre, 2013. Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Arquitetura Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR Entre Textos e Projetos O arquiteto João Antônio Monteiro Neto em Porto Alegre Cristiano Zluhan Pereira Dissertação de mestrado apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Arquitetura Orientador: Prof. Ph.D. Cláudio Calovi Pereira Porto Alegre, 2013. Universidade Federal do Rio Grande do Sul Reitor: Prof. Carlos Alexandre Netto Vice-Reitor: Prof. Rui Vicente Oppermann Pró-Reitor de Pós-Graduação: Prof. Vladimir Pinheiro do Nascimento Diretora da Faculdade de Arquitetura: Prof.ª. Dr.ª Maria Cristina Dias Lay Coordenador do PROPAR: Prof. Dr. Silvio Belmonte de Abreu Filho Cristiano Zluhan Pereira Entre Textos e Projetos: o arquiteto João Antônio Monteiro Neto em Porto Alegre Dissertação de mestrado apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Arquitetura Professor Orientador: Prof. Ph.D. Cláudio Calovi Pereira _____________________________________________ Data da Aprovação: Banca Examinadora: Prof.ª. Dr.ª Tânia Calovi Pereira _____________________________________________ Prof.ª. Dr.ª Cláudia Piantá Costa Cabral _____________________________________________ Prof. Dr. Silvio Belmonte de Abreu Filho _____________________________________________ Agradecimentos A meus pais, Manoel Pereira (in memoriam) e Ruth Zluhan, pelo esforço em proporcionar uma educação digna e apoio em todas as minhas escolhas. A minha esposa, amiga e companheira Lisiane Porto Angeli. Ao professor Cláudio Calovi Pereira, pela sabedoria na orientação, paciência nos ensinamentos e dedicação e empenho nas revisões. Aos professores do PROPAR: Carlos Eduardo Dias Comas, Cláudia Piantá Costa Cabral, Douglas Vieira de Aguiar, Edson da Cunha Mahfuz, Fernando Freitas Fuão, Lineu Castello, Silvio Belmonte de Abreu Filho e Luís Henrique Haas Luccas. A professora Nara Helena Neumann Machado, pela gentileza em compartilhar informações importantes sobre o tema da dissertação. Aos colegas e amigos Ana Negreiros, Debora Carla Postingher, Manuela Catafesta, Marcos Teitelroit Bueno, Taisa Festugato e Renata Zampieri. Aos atuais proprietários das casas e prédios projetados por Monteiro Neto que permitiram as imagens de seus imóveis e por prestarem informações preciosas a esta dissertação. Aos funcionários e estagiários do Arquivo Público de Porto Alegre, em especial Gilmar Cardozo dos Santos, Márcia Geber Cezaro, Silvana Beatriz dos Santos Pinheiro e Wagner Alves, pela paciência e disposição no atendimento da longa pesquisa. Aos funcionários do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. Resumo Depois de alguns anos trabalhando no Paraná, em São Paulo e no Rio de Janeiro, o arquiteto João Antônio Monteiro Neto chega a Porto Alegre já no final do ano de 1929, cidade onde atuou até o ano de seu falecimento em 1956. No início de sua carreira na capital gaúcha atua como escritor de arquitetura no jornal Diário de Notícias, entre os anos 1930 e 1933. Sua coluna semanal, que tratava de construção, higiene, projetos econômicos, estilos arquitetônicos e urbanismo, entre outros assuntos, ganhou destaque quando se tornou um instrumento de interatividade com o leitor. Cartas solicitando orientação de projeto eram respondias nas edições seguintes do jornal. Estes artigos eram ilustrados com perspectivas e plantas baixas, além da descrição do projeto e justificativa da solução proposta. Contudo, a atuação de Monteiro Neto alcançou maior destaque através de projetos e obras, muitas das quais em estilo moderno, acompanhado de algumas incursões pelo ecletismo, pelo neocolonial e por um bom número de obras filiadas ao estilo californiano. Dono de numerosa produção durante os 26 anos que atuou em Porto Alegre, Monteiro Neto também fez parte de importantes empresas construtoras da época, como Barcellos & Cia., Azevedo Moura & Gertum e Spolidoro & Cia., entre outras, além de ter dirigido a sua própria empresa construtora. A maioria de seus projetos foram residências, mas outros gêneros como edifícios comerciais e residenciais, cinemas, escola e sinagoga foram alguns exemplos de sua versatilidade. Sua produtiva trajetória como arquiteto ilustra o quadro da arquitetura em Porto Alegre em seu tempo, assim como o debate arquitetônico em torno dela. Abstract After a few years working in the state of Paraná and in the cities of São Paulo and Rio de Janeiro, the architect João Antônio Monteiro Neto arrived in Porto Alegre at the end of 1929. He worked in that city until the year of his death in 1956. Soon after his arrival in Porto Alegre he started to write about architecture in the daily newspaper Diário de Notícias, between the years 1930 and 1933. He was responsible for a weekly column that dealt with construction, hygiene, economic projects, architectural styles and urban design, among other issues. The column gained prominence when it became an instrument of interactivity with the readers. Letters requesting guidance in projects were responded in the following editions of the newspaper. These articles were illustrated with prospects and floor plans, aside from the project description and justification of the proposed settlement. But the work of Monteiro Neto was not restricted to writing about architecture. His main contribution to the field was a great number of buildings and projects, most aligned with modern architecture but also a number of works linked with eclectic historicism, nationalist neocolonial and the Californian (Spanish Missions) style. During his 26 years of activity in Porto Alegre, Monteiro Neto worked in some of the most important companies of the local building industry, such as Barcellos & Co. Azevedo Moura & Gertum, Spolidoro & Co., among others, and later directed his own company. Most of his projects were houses, but other types such as commercial and residential buildings, movie theaters, a school and a synagogue building were some examples of its versatility. The course of his productive career offers a profitable illustration of the architecture of his time in Porto Alegre and the architectural debate around it. Sumário Agradecimentos ....................................................................................................................... 3 Resumo .................................................................................................................................... 4 Abstract ................................................................................................................................... 5 Introdução............................................................................................................................. 11 1. O contexto histórico portoalegrense e a participação de Monteiro Neto .................... 17 1.1. Carreira anterior à vinda para Porto Alegre ........................................................... 24 1.2. A evolução do trabalho de Monteiro Neto em Porto Alegre.................................. 28 1.3. A luta pela titulação de arquiteto ........................................................................... 38 2. A defesa de um ideário ..................................................................................................... 51 2.1. A crônica no jornal Diário de Notícias ................................................................. 55 2.2. A arquitetura moderna como solução estética e funcional .................................... 65 2.3. O neocolonial como bandeira de uma arquitetura nacional ................................. 75 2.4. A tentativa de conscientização contra a banalização das construções .................. 81 2.5. Projetos econômicos, legislação e urbanismo ....................................................... 87 2.6. “Como fazer uma casa” na Revista do Globo ....................................................... 91 2.7. Miranda Netto e o contraponto do jornal Correio do Povo ................................... 97 3. Os projetos e as obras em Porto Alegre ....................................................................... 103 3.1. Primeira fase (1930 à 1933) ................................................................................ 109 3.1.1. 1930 ......................................................................................................... 116 3.1.2. Trem Liliput ........................................................................................... 117 3.1.3. Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre .............................................. 120 3.1.4. 1931 ........................................................................................................ 124 3.1.5. Residência Manlio Agrifoglio................................................................. 126 3.1.6. Residência Oswaldo Coufal .................................................................... 129 3.1.7. Pórtico Monumental da Exposição Agro-Pecuária e Industrial ............. 132 3.1.8. 1932 ........................................................................................................ 135 3.1.9. Residência Herbert Von Brixen Montzel ................................................ 136 3.1.10. Residência Emílio Fernandes das Néves ............................................. 141 3.1.11. 1933 ..................................................................................................... 144 3.1.12. Grêmio Gaúcho .................................................................................... 151 3.1.13. Residência Leonildo Sartori ................................................................. 154 3.1.14. Residência Leopoldo Freyre Pinto........................................................ 157 3.1.15. Residência Djalma Jobim .................................................................... 159 3.1.16. Residência Octávio de Souza ............................................................... 162 3.2. Segunda fase (1934 à 1940) ................................................................................ 165 3.2.1. 1934 ........................................................................................................ 168 3.2.2. Edifício Palmeiro .................................................................................... 169 3.2.3. Residência Antonia Carvalho ................................................................. 173 3.2.4. Residência Dario Brossard ..................................................................... 176 3.2.5. 1936 ........................................................................................................ 178 3.2.6. 1937 ........................................................................................................ 181 3.2.7. Residência Aden Rosa ........................................................................... 182 3.2.8. 1938 ........................................................................................................ 185 3.2.9. 1939 ........................................................................................................ 187 3.2.10. Edifício Vera Cruz ................................................................................ 191 3.2.11. 1940 ...................................................................................................... 205 3.3. Terceira fase (1941 à 1944) ................................................................................ 209 3.3.1. 1941 ........................................................................................................ 213 3.3.2. Residência Alcidez Gonzaga .................................................................. 217 3.3.3. 1942 ........................................................................................................ 221 3.3.4. Edifício da Associação Riograndense de Imprensa ............................... 227 3.3.5. 1943 ........................................................................................................ 233 3.3.6. Residência Armando Giampaoli ............................................................ 236 3.3.7. Residência Harry Lubisco ...................................................................... 239 3.3.8. Residência Ricardo Eichler .................................................................... 242 3.3.9. 1944 ........................................................................................................ 245 3.3.10. Cine-Teatro Riviera (Cine Thalia)......................................................... 251 3.3.11. Cine Palace (Marabá) ............................................................................ 256 3.4. Quarta fase (1945 à 1956) .................................................................................. 261 3.4.1. 1945 ........................................................................................................ 263 3.4.2. 1946 ........................................................................................................ 264 3.4.3. 1947 ........................................................................................................ 266 3.4.4. Instituto Santa Luzia .............................................................................. 270 3.4.5. 1949 ........................................................................................................ 282 3.4.6. 1950 ........................................................................................................ 284 3.4.7. Centro Israelita Portoalegrense ............................................................... 288 3.4.8. 1951 ........................................................................................................ 295 3.4.9. Residência Telmo Rovira Martins ......................................................... 298 3.4.10. Residência Hélio Luiz Ribeiro ............................................................. 301 3.4.11. 1952 ..................................................................................................... 308 3.4.12. 1954 ..................................................................................................... 313 3.4.13. 1955 ..................................................................................................... 315 3.4.14. O último projeto de Monteiro Neto ...................................................... 316 Considerações finais .......................................................................................................... 321 Referências bibliográficas ................................................................................................ 329 Fontes ................................................................................................................................. 335 1. Instituições: ........................................................................................................... 335 2. Periódicos: .............................................................................................................. 335 3. Artigos: ................................................................................................................... 336 Lista de ilustrações ........................................................................................................... 341 Anexos ................................................................................................................................ 360 1. Quadro comparativo de estilos e períodos ............................................................ 361 2. Quadro dos projetos encontrados com autoria de Monteiro Neto.......................... 364 3. Artigos publicados no jornal Diário de Notícias ................................................... 377 4. Participações na Revista do Globo ......................................................................... 379 5. Documentos ........................................................................................................... 380 10 Introdução João Antônio Monteiro Neto é um nome que se destaca no cenário da arquitetura portoalegrense no início da década de 1930. Seu reconhecimento é até hoje ligado a um número pequeno de obras pioneiras em estilo moderno, porém sua atuação como um todo foi relevante e profícua ao ponto de justificar um trabalho de dissertação envolvendo a sua obra. Seu trabalho tem sido apresentado de forma isolada e descontextualizada, revelando a necessidade de catalogar cronologicamente sua produção para entendê-la de forma adequada. Seu maior legado na arquitetura da cidade foi o de ter introduzido novas formas de arquitetura, que já circulavam em outros locais do país, numa cidade ainda provinciana da década de 30. No período em que exerceu sua profissão em Porto Alegre, seu nome foi divulgado diversas vezes na imprensa da cidade, seja pela propaganda do seu escritório, pela participação como colunista do jornal Diário de Notícias, pelo reconhecimento de seus projetos ou por seu vínculo com algumas das construtoras mais atuantes deste período. Sua clientela é outro referencial que manifesta sua qualidade profissional, uma vez que a procura por seus serviços se dava em grande parte por empresários com o objetivo de construir tanto suas próprias residências como edificações relacionadas aos seus negócios como também Figura 01 Palácio da Polícia, projeto original para o Instituto Santa Luzia (1947). Foto de 2012. Fonte: Autor. 11 Figura 02 Ed. Armando Giampaoli (1941), avenida Alberto Bins esq. Rua da Conceição. Foto de 2012. Fonte: Autor. importantes instituições, não deixando de citar demais clientes não vinculados a estes grupos, porém não menos importantes socialmente1. A busca de informações sobre Monteiro Neto foi iniciada com muitas incertezas, uma vez que o material disponível do período em que trabalhou é muito escasso. O primeiro contato com um de seus projetos foi através do livro de Xavier e Mizoguchi2, apresentando o Edifício Reunidos (Vera Cruz), como uma obra pioneira da arquitetura moderna em Porto Alegre, dentre tantas outras. Sua descrição é breve e detém-se no seu uso e em algumas características arquitetônicas. A trajetória profissional deste arquiteto começou a ser estudada a partir de dois livros do professor Günter Weimer. Em Arquitetos e Construtores no Rio Grande do Sul, 1892/19453, Monteiro Neto tem sua biografia descrita a partir de dados obtidos junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (CREA-RS). No segundo livro, Arquitetura Modernista em Porto Alegre entre 1930 e 19454, Monteiro Neto é citado como autor de oito casas e de um edifício em estilo moderno, sendo este último o Vera Cruz. Figura 03 Ed. da Associação Riograndense de Imprensa (1942). Foto de 2012. Fonte: Autor. Através das informações obtidas nesta coletânea foi possível direcionar-se para outras fontes de pesquisa, como por exemplo, os projetos microfilmados no Arquivo Público de Porto Alegre5. 1 As referências aos seus clientes serão tratadas em análises individuais de alguns de seus projetos destacados por sua relevância. 2 XAVIER e MIZOGUCHI, 1987, pg. 50 e 51. 3 WEIMER, 2004, pg. 121, 122 e 123. 4 WEIMER, 1998, pg. 48, 49, 52, 53, 54, 55, 61, 62, 74, 75, 91, 101, 136, 137, 164 e 165. 5 O Arquivo Municipal de Porto Alegre está localizado na Rua Sete de Setembro, nº 1.123. No local, funciona também o Centro de Microfilmagem e o Protocolo Central. O acervo é composto por mais de 1,5 milhão de processos em papel e 2,8 milhões microfilmados. 12 Todavia, antes de chegar ao Arquivo Público, duas dissertações foram importantes para que o panorama sobre as obras de Monteiro agregasse mais exemplares. Adriana Callegaro , na dissertação Uma outra modernidade em Porto Alegre: um estudo sobre a evolução de padrões tipológicos a partir da arquitetura da Exposição Farroupilha6 descreve diversas obras deste arquiteto no contexto tipológico da sua pesquisa. A segunda dissertação intitulada O processo de verticalização em Porto Alegre: e a contribuição da Construtora Azevedo Moura & Gertum7 de Patrícia Pinto Vianna, tem por objetivo demonstrar a evolução das edificações em altura nesta cidade, principalmente em relação aos edifícios produzidos por esta construtora, o que faz através de um apanhado de importantes edifícios neste contexto. Um destes edifícios é, mais uma vez, o Vera Cruz, que é apresentado em seus pormenores e inserido na realidade de uma época em que a verticalização se mostrava como sinônimo de modernidade e domínio de novas tecnologias. Na sequência da pesquisa, Weimer aparece novamente com uma obra de referência em relação aos projetos aprovados e microfilmados no Arquivo Público de Porto Alegre. Levantamento de Projetos Arquitetônicos. Porto Alegre – 1892 a 19578 contribuiu na busca dos arquivos originais dos projetos de Monteiro Neto, já que estes estavam inseridos dentro do período abordado. Neste arquivo foram localizadas 98 obras de Monteiro Neto, as quais são apresentadas em quadro anexo desta dissertação (ver pg. 361 a 363). Outra referência para o levantamento de dados sobre a vida profissional de Monteiro Neto, foi a tese de doutorado de Nara Helena Naumann Machado, Modernidade, Arquitetura e 6 Figura 04 Palacete Armando Giampaoli (1943). Foto de 2012. Fonte: Autor. CALLEGARO, 2002, pg. 85, 86, 94, 99, 100, 101, 103, 108, 109, 110, 121, 122, 126, 127, 141, 163, 164 e 165. 7 VIANNA, 2004, pg. 85 a 96. 8 WEIMER, 1998a. Figura 05 Casa Hélio Luiz Ribeiro (1951). Foto de 2012. Fonte: Autor. 13 Urbanismo: O Centro de Porto Alegre (1928-1945)9. Esta tese, além de ser uma ampla coletânea sobre arquitetura moderna no centro de Porto Alegre, dentro do período proposto, que compreende pesquisas de campo, análises de projetos e noticiários da imprensa, contribuiu para que fosse também creditado a Monteiro Neto a participação na formação de uma cultura arquitetônica no início da década de 30. Esta participação se dá através de uma coluna semanal que era escrita no jornal Diário de Notícias que se destinava a falar sobre construção e arquitetura. Esta outra atividade, até então desconhecida, complementou o direcionamento da pesquisa que, a partir de então, além de tratar da sua obra projetada e construída, também apresentaria este personagem como um formador de ideias e divulgador Figura 06 Ed. Palmeiro (1934). Foto de 2011. Fonte: Autor. dos seus conhecimentos profissionais. A partir das indicações fornecidas pela tese, a busca pelos originais deste jornal foi feita no Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa10, que detém grande parte das edições em seu acervo. Em relação a atuação de Monteiro Neto como cronista, outra dissertação auxiliou na organização e estruturação relacionadas a este tema. Maria Antonia Stumf Carreira escreveu sobre Cidade, imprensa e arquitetura: as crônicas e os debates de modernização em Porto Alegre, 1928 - 193711 onde aborda o cenário da imprensa nos temas relevantes da arquitetura brasileira nas primeiras décadas do século XX através dos artigos e crônicas publicados nos dois principais jornais de Porto Alegre à época: Diário de Notícias e Correio do Povo. Miranda Netto, mencionado por Nara Machado e pesquisado mais profundamente 9 MACHADO, 1998, pg. 203 a 208. 10 Figura 07 Ed. São Pedro (1940). Foto de 2012. Fonte: Autor. Instituição da Secretaria de Estado da Cultura, o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa foi criado em 1974 com a finalidade de guardar, preservar e difundir a memória dos meios de comunicação no Rio Grande do Sul. Fonte: http://www.museudacomunicacao.rs.gov.br/site/museu/historia/ CARREIRA, 2005. 11 14 por Carreira, que também escrevia colunas sobre arquitetura no jornal Correio do Povo, seria outro personagem que surgiria neste cenário. Mesmo tendo certa semelhança no nome e paridade no assunto, Monteiro Neto e Miranda Netto faziam críticas muitas vezes antagônicas em jornais concorrentes. Já nas primeiras buscas por informações da vida e da obra de Monteiro Neto, procurou-se recorrer às fontes primárias a partir das indicações dos autores já citados. Esta busca teve como objetivo não cometer erros de atribuição e também propiciar uma profunda inserção no tema, no contexto e no período que seriam abordados na dissertação. De fato, esta procura por artigos, fotos, notícias e documentos originais abriu outros campos de pesquisa que por sua vez tornaram muito mais precisos os fatos relatados. Baseado, então, nas informações e documentos obtidos durante a pesquisa, a dissertação pode ser organizada em dois temas ao mesmo tempo diferentes e complementares: a prática como profissional atuante na elaboração de projetos e construções e a crítica como cronista num jornal de grande circulação. O primeiro capítulo tem por objetivo contextualizar o momento histórico em que Monteiro Neto exerceu suas atividades em Porto Alegre. Suas tentativas de conseguir a titulação de arquiteto após a institucionalização da profissão, devido a amplitude de documentos, também mereceu espaço neste capítulo introdutório. As informações obtidas foram conseguidas principalmente de documentos pesquisados junto ao CREA-RS, mas também em artigos e publicidade nos jornais e revistas da época, além da bibliografia já mencionada. O capítulo seguinte trata do seu trabalho como crítico de arquitetura através de uma coluna semanal no jornal Diário de Notícias e em alguns artigos na Revista do Globo. Para uma análise mais clara optou-se por separar os artigos em assuntos com abordagens semelhantes. 15 Figura 09 Casa Otto L. Ely (1956). Foto de 2012. Fonte: Autor. Figura 08 Centro Israelita Porto Alegrense (1950). Foto de 2012. Fonte: Autor. Este agrupamento possibilitou resumir suas colunas em quatro matérias de maior incidência, que são: a arquitetura moderna, o estilo neocolonial e a busca de uma arquitetura nacional, a banalização das construções e os projetos econômicos. Dentro de cada agrupamento a apresentação dos artigos segue a ordem cronológica das publicações. Ainda neste capítulo, o trabalho do engenheiro Antônio Garcia Miranda Netto é citado, uma vez que também foi crítico de arquitetura no mesmo período que Monteiro Neto. O terceiro capítulo tem como foco a obra projetada e/ou construída deste arquiteto e constitui a principal parte da dissertação. Nela, procura-se construir um catálogo cronológico da produção do arquiteto. Introduções demarcam o início de cada uma das quatro fases identificadas em sua obra. Dentro de cada fase todos os projetos e obras levantados são descritos e ilustrados. Além dessa abordagem catalográfica, foram selecionadas algumas obras mais relevantes a fim de se fazer uma análise mais aprofundada das suas diretrizes projetuais. As obras destacadas seguiram a apresentação cronológica. Nas considerações finais procura-se fazer uma síntese mais abrangente, baseada nas análises efetuadas ao longo da pesquisa, possibilitando constatações relacionadas ao todo da trajetória de João Antônio Monteiro Neto em Porto Alegre. Figura 10 Ed. Vera Cruz (1939). Fonte: Arquivos da Edifícios Reunidos S. A. 16 1. O contexto histórico portoalegrense e a participação de Monteiro Neto 17 João Antônio Monteiro Neto nasceu na cidade de Lapa, no Paraná, em 10 de maio de 1893. Depois de alguns anos trabalhando no seu estado de origem, também exerceu atividades no Rio de Janeiro e ainda, segundo ele próprio, trabalhou em São Paulo antes de vir para o Rio Grande do Sul, mais precisamente para a capital do Estado12. Monteiro Neto atuou de forma intensa como projetista, construtor e colunista especializado nesta capital, desde a sua chegada, no final do ano de 1929, até o seu falecimento, no ano de 1956, em pleno exercício de suas atividades profissionais. Sua atuação profissional iniciou em 1914 ainda no seu Estado de origem. Durante os anos Figura 11 Praça da Alfândega na década de 30. Fonte: HTTP:// notícias. terra.com.br / Brasil / noticias / revitalização de praça resgata Porto Alegre da década de 30. de 1916 e 1923, o arquiteto viveu e exerceu suas atividades na então capital do país, o Rio de Janeiro. Trabalhou por dois anos em São Paulo antes de voltar a sua terra natal, onde se estabeleceu por mais um ano até vir para Porto Alegre13. Estes anos que antecederam sua chegada na capital gaúcha provavelmente lhe proporcionaram experiência no campo da arquitetura, principalmente os sete anos em que permaneceu no Rio de Janeiro. Tal fato compactua com a boa aceitação do seu trabalho já nos primeiros meses no Rio Grande do Sul. Figura 12 Rua dos Andradas nos anos 30. Fonte: STUMVOLL, 2008, pg. 06. 12 As informações sobre a formação e o início da vida profissional de Monteiro Neto são escassas. As indicações apresentadas estão baseadas na “folha-corrida profissional” que o próprio arquiteto anexa ao seu processo para obtenção do título de arquiteto junto ao CREA-RS. Maiores detalhes serão abordados no próximo subcapítulo “Carreira Anterior à Vinda Para Porto Alegre”, pg. 22. 13 Ibidem. 18 Figura 14 Rua General Câmara esquina com a Rua dos Andradas no ano de 1922. Fonte: PESAVENTO, 1992, pg. 27. Figura 13 Vista de Porto Alegre na década de 30. Fonte: SOUZA, 2007, pg. 92. Para que possamos nos reportar ao período em que o arquiteto chegou em Porto Alegre e qual o contexto que o mesmo encontrou para exercer suas atividades profissionais é necessário que façamos um pequeno resumo do que estava acontecendo na cidade principalmente no final da década de 20. Naquele momento, Porto Alegre era uma cidade provinciana, mas que estava se transformando social, econômica, arquitetônica e urbanisticamente, numa velocidade bastante grande, em termos de sua população e de suas construções. 19 Figura 15 Praça da Alfândega nos anos 30. Fonte: STUMVOLL, 2008, pg. 27. As administrações imediatamente anteriores a chegada de Monteiro Neto em Porto Alegre foram a do Intendente José Montaury de Aguiar Leitão, seguido do também Intendente Otávio Francisco da Rocha e posteriormente pelo Prefeito Major Alberto Bins. Sobre a administração de José Montaury14 (1897-1924), Spalding cita que: Nos longos vinte e sete anos (devido às reeleições de quatro em quatro anos) à testa da administração da Capital do Estado, demonstrou, sempre, o modesto engenheiro, grande interesse pelo progresso da cidade. Entretanto, pouco fez, relativamente, pois que, obediente às ordens do Partido e do Chefe Supremo – Borges de Medeiros – jamais se aventurou a grandes empreendimentos, embora tenha mandado projetar alguns, como o plano remodelador da cidade, em 1914. Este plano de urbanização, elaborado pelo notável engenheiro J. M. Maciel, teria dado, se executado naquela época, proporções de grandiosidade à Capital.15 Figura 16 Bairro Floresta nos anos 30. Fonte: STUMVOLL, 2008, pg. 31. Para Souza a elaboração do primeiro plano urbanístico de caráter abrangente chefiado pelo engenheiro-arquiteto João Moreira Maciel16 foi realmente importante tanto que: Muitas de suas ideias foram incorporadas mais tarde no Plano de Urbanização da administração Loureiro da Silva (1940). O “Plano de Melhoramentos” de 1914, embora de caráter basicamente viário, lançou projetos de reforma do Centro da cidade, os quais foram sendo postos em prática na administração da época e nas posteriores.17 Figura 17 Parque Farroupilha e avenida João Pessoa nos anos 20. Fonte: STUMVOLL, 2008, pg. 23. Montaury nasceu no Rio de Janeiro, em 1858. Formou-se engenheiro pela Escola Politécnica, onde recebeu grande influência da filosofia positivista. ISS facilita-lhe ser bem aceito no Rio Grande do Sul, atuando (...), como funcionário federal da Comissão de Terras e Estabelecimentos de Imigrantes no Estado. O trabalho dá-lhe oportunidade de visitar e fazer-se conhecido em muitos municípios gaúchos como Passo Fundo, Santa Maria, Cruz Alta, Santo Ângelo, Cachoeira, Pelotas, Bento Gonçalves e Garibaldi. Ver BAKOS, 1996, pg. 48. 15 SPALDING, 1967, pg. 162. 16 Maciel Nasceu em Santana do Livramento, em 16.5.1877. Em 1894, foi admitido na Escola Politécnica de São Paulo e, três anos mais tarde, recebeu o título de engenheiro geógrafo. Entrou, então, no recém instituído curso [também na Escola Politécnica de São Paulo] para formar engenheiros-arquitetos, no qual lecionaram os arquitetos Francisco de Paula Ramos de Azevedo, Victor Dubugras, Maximilian Emil Hehl, Domiziano Rossi e o engenheiro Ataliba Batista de Oliveira Vallz. Ver WEIMER, 2004, pg. 113. 17 SOUZA, 2007, pg. 81. 14 20 Para suceder José Montaury como Intendente de Porto Alegre, foi indicado pelo Partido Republicano Riograndense (PRR) o gaúcho Otávio Rocha18, por influência de Borges de Medeiros, então presidente do estado do Rio Grande do Sul, tendo Alberto Bins como ViceIntendente. (...) com a administração Otávio Rocha (1924-1928), evidencia-se um processo de mudança política do governo municipal em relação à organização do espaço urbano. Transformações globais envolvendo o espaço urbano central e suas vias de acesso e ligação ao porto e aos arrebaldes da cidade são realizadas canalizando enormes recursos.19 No ano de 1927 o Plano de Melhoramentos é reeditado, com apenas uma diferença para com o original, onde são anexados “estudos orçamentários, colocados no final do volume, prevendo os custos da abertura das novas avenidas, dos alargamentos e prolongamentos das antigas ruas”. (...) Trata-se, sobretudo, de um plano viário que pretendia dar conta do desenvolvimento comercial, econômico e populacional que ocorrera, em Porto Alegre, a partir da década de 191020. Em síntese, na administração de Otávio Rocha, o Plano de Melhoramentos suscitou a abertura das avenidas Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros e São Raphael, o prolongamento/alargamento de várias ruas centrais (Vigário José Ignácio, Sete de Setembro, João Manuel, 24 de Maio, Paysandú, etc), o ajardinamento de uma parcela do Figura 19 Avenida João Pessoa na década de 20. Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. Otávio Rocha, gaúcho de Pelotas, engenheiro, foi colaborador do Diário Popular, em Pelotas, diretor de A Federação de Porto Alegre, Secretário da Fazenda do Estado, Deputado Federal, Membro da Comissão de Finanças e líder das bancadas republicanas gaúchas, baiana, do Rio de Janeiro e Pernanbuco. Conforme Bakos, era ainda o discípulo predileto de Borges de Medeiros. Ver BAKOS, 1996, pg. 58. 19 MONTEIRO, 1995, pg. 39. 20 MONTEIRO, 1995, pg. 69. 18 Figura 18 Rua Voluntários da Pátria na década de 20. Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. 21 Campo da Redenção e a criação de algumas praças junto ao novo cais (atuais Praça [Edgar] Schneider e Praça Revolução Farroupilha).21 Figura 20 Avenida Otávio Rocha na década de 20. Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. Figura 21 Avenida Independência esquina com a rua Garibaldi (1920). Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. Figura 22 Localização das atividades em Porto Alegre por volta de 1920. Fonte: PESAVENTO, 1992, pg. 79. Após a doença e morte de Otávio Rocha, assume como Intendente Municipal o industrial Alberto Bins22 o qual iria administrar a cidade de Porto Alegre de 1928 a 1937. 21 MONTEIRO, 1995, pg. 78. As ruas São Rafhael e Paysandú são atualmente denominadas av. Alberto Bins e rua Caldas Júnior respectivamente. 22 As razões da escolha de Bins para a Intendência de Porto Alegre em 1928 são as mesmas que quatro anos antes o guindam a Vice-Intendente de Otávio Rocha: sua dedicação do PRR e sua militância político-partidária como vereador, conselheiro e deputado estadual. O fato de ser um homem bem sucedido nos negócios é habilmente usado na sua campanha como argumento de garantia para o progresso de Porto Alegre.23 Na sua administração, quer como Intendente, de 27 de fevereiro de 1928 a 3 de novembro de 1930, quer como Prefeito nomeado, dessa última data a 1937, o major Alberto Bins fezse notar pela continuação da obra iniciada por Otávio Rocha, concluindo a abertura da Avenida Borges de Medeiros, completando a recém iniciada pavimentação com faixas de cimento a ligação dos bairros ao centro urbano, iniciou diversas obras de saneamento, ampliou as redes de água filtrada, a canalização das águas pluviais, dos esgotos, e estendeu as linhas de iluminação pública aos então longínquos bairros de Belém Velho, Belém Novo e Tristeza, que ainda continuavam – e eram os últimos – com a iluminação a querosene.24 Neste contexto, Monteiro Neto se insere no cotidiano portoalegrense, no final do ano de 1929, atendendo a um anúncio para trabalhar na Cia. Telefônica Rio-Grandense. Isso de fato não acontece, pois ele seria convidado para exercer o cargo de desenhista na própria Intendência Municipal, fatos estes que serão melhor abordados no próximo subcapítulo. Figura 23 Obras da avenida Borges de Medeiros (década 20/30). Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. Porto-alegrense, nascido em 1896, estudou na Inglaterra e Alemanha, de onde trouxe ideias novas, especialmente no ramo da indústria metalúrgica. Ver BAKOS, 1996, pg. 62. 23 BAKOS, 1996, pg. 62. 24 SPALDING, 1967, pg. 175. 22 Figura 24 Vista aérea de Porto Alegre (década 20/30). Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. 23 1.1. Carreira anterior à vinda para Porto Alegre Baseando-se em uma vasta documentação encontrada nos arquivos do CREA-RS, num processo encaminhado por Monteiro Neto para requerer o título de arquiteto no ano de 1934, foi possível organizar a evolução do trabalho do arquiteto anterior a sua chegada em Porto Alegre e também a cronologia de suas atividades profissionais já nesta capital. Um destes documentos que se mostrou de grande importância para o levantamento de dados profissionais de Monteiro Neto, foi chamado por ele de “Minha folha-corrida profissional” (figura 25). Tal documento refere-se a uma descrição, feita pelo próprio arquiteto, anexa a uma correspondência emitida para o então Presidente do CREA-RS Dr. Lélis Espartel no dia 26 de abril de 1942. Neste anexo são apresentadas, de forma cronológica, as atividades profissionais desenvolvidas por ele até aquela data, a fim de corroborar a solicitação de regularização da sua atividade como arquiteto. Segundo esta “folha-corrida”, Monteiro Neto iniciou suas atividades profissionais como desenhista da Diretoria de Obras da Secretaria de Obras Públicas do Estado do Paraná. Para tentar confirmar tal informação, foram pesquisados alguns dados históricos desta Figura 25 Primeira página da “folha-corrida” anexa ao processo junto ao CREA-RS (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de ART e Acervo Técnico do CREA-RS. Diretoria, que mencionam que a mesma foi regulamentada em outubro de 1890 e tinha como organização funcional as seguintes atribuições: 1. A Diretoria das Obras Públicas é a repartição incumbida de projetar, dirigir, executar e fiscalizar todas as obras públicas do Estado; 2. É composta por um Engenheiro Diretor Chefe, dois ajudantes, um amanuense e um porteiro e; 3. o cargo de Engenheiro das Obras 24 Públicas só poderá ser exercido por pessoa habilitada por qualquer das escolas do Brasil, devendo ter sempre pelo menos dois anos de prática em obras de engenharia civil. 25 Estes dados nos dão indícios de que Monteiro Neto pode ter atuado como ajudante/desenhista nesta Diretoria no período referido. Ainda de acordo com a “folha-corrida”, em 1916 ele se mudou para o Rio de Janeiro, tendo trabalhado na Companhia Construtora Ipanema e, em seguida, na Leopoldina Railway Company. A Companhia Construtora Ipanema foi responsável por obras de calçamento, urbanização e construção de casas nos bairros de Ipanema (figura 26) e Leblon no início do século XX, tendo grande importância para o desenvolvimento daquela região. A Leopoldina Raiway Company iniciou seus primeiros trilhos de trens ligando a cidade de Porto Novo a Leopoldina, em Minas Gerais, no ano de 1874. Estendeu suas linhas até o Porto do Rio de Janeiro em 1909, num momento em que o transporte ferroviário era extremamente importante e estratégico para o escoamento da produção de café26. Em 1918, Monteiro Neto trabalhou como desenhista de arquitetura nas obras da Catedral de Petrópolis (figura 27), sob a direção do engenheiro Silva Costa. Com o nome de Catedral de São Pedro de Alcântara, em homenagem ao padroeiro da cidade, este edifício começou a ser construído em 1884 por iniciativa pessoal do Imperador D. Pedro II e sua filha Princesa Isabel. “A construção não parou após a Proclamação da República e seguiu até 1901, quando as obras entraram em um período de paralisação. Sob o comando do engenheiro Heitor da Silva Costa, a obra entra[ria] em uma segunda fase de atividades intensa em 25 Figura 26 Mapa do loteamento de Ipanema no Rio de Janeiro executado pela Companhia Construtora Ipanema. Fonte: http://fotolog.terra.com.br. Figura 27 Torre da Catedral de São Pedro de Alcântara. Fonte: http://www.panoramio.com/photo/30983525. Secretaria de Estado dos Negócios de Obras Públicas e Colonização do Paraná – Comissão de Colonização: Boletim Colonial e Agrícola (1907/1908). Acervo da Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica. Fonte: http://sbph.cliomatica.com/2004/personagens-poder-e-cultura/odah-regina-guimaraes-costa. 26 FRACCARO, 2004. 25 1918”27. As datas levantadas indicam a possibilidade de Monteiro Neto ter trabalhado durante a nova fase de obras desta Catedral. Um ano depois, em 1919, ainda de acordo com sua “folha-corrida”, trabalhou como arquiteto chefe da firma Meanda Curty & Cia. que aquela época construía o edifício do Ministério da Guerra. Trabalhou nesta firma até fins de 1922. Provavelmente a referência da construção do edifício do Ministério da Guerra tenha sido apenas para a associação da empresa com obras por ela realizada, uma vez que se tem registros de que este edifício foi construído entre os anos de 1906 e 1910, portanto antes da entrada de Monteiro Neto no quadro funcional desta empresa. A partir de 1923 exerceu cargos semelhantes nas companhias A Comercial Bancária e A Construtora, sendo que esta última teria lhe enviado para São Paulo como gerente técnico até o ano de 1925. Entre os anos de 1926 e 1927 exerceu por conta própria a profissão de arquiteto-construtor, sem informar precisamente em quais cidades teria trabalhado. Em 1928 voltou para seu Estado onde exerceu as seguintes atividades, conforme seus próprios relatos: Figura 28 Licença profissional do Estado do Paraná (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de ART e Acervo Técnico do CREA-RS. (...) fui procurado pelo Dr. Oton Mader, oficial de gabinete do então Secretário de Obras Públicas, Dr. Alexandre Gutierrez Beltrão que punha a minha disposição o cargo Auxiliar Técnico de 1º Classe do Departamento de Obras Públicas do Estado. (No exercício desse cargo fui atingido pela lei de regulamentação profissional já em vigor naquele Estado, tive pois que regularizar a minha situação, o que foi fácil dada a função que vinha exercendo. Foi-me pois, conferido pelo governo do Estado o “Título de Licença Profissional, para exercer a profissão de arquiteto, com a faculdade de fiscalizar e dirigir a execução dos Projetos que elaborar”). No exercício daquele cargo tive oportunidade de exercer também 27 Histórico da Catedral de Petrópolis – Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Catedral_de_Petrópolis. 26 acumuladamente, e designado por portaria do Sr. Secretário, o cargo Eng.º Auxiliar do mesmo Departamento.28 A transferência de Monteiro Neto para o Rio Grande do Sul se dá no final do ano de 1929, por motivos que, segundo ele, estariam relacionados com o seu envolvimento no movimento revolucionário, sobre os quais não apresenta maiores explicações. Segundo ele, teria atendido a um anúncio da Cia. Telefônica, onde se colocou a disposição para trabalhar no mesmo dia de sua chegada a Porto Alegre, fato que acabou não acontecendo, já que algumas horas mais tarde lhe foi oferecido o cargo de Desenhista de 1º Classe na Intendência Municipal, sob a coordenação do Dr. Antônio Klinger Filho29. Para corroborar esta declaração, foi anexada ao processo encaminhado ao CREA-RS, já citado, uma declaração de que Monteiro Neto exercia de fato a função de arquiteto na Diretoria Geral de Saneamento há mais de um ano, datada de 5 de dezembro de 1930 e assinada por Klinger Filho30. A partir de então, Monteiro Neto firmou residência em Porto Alegre, onde exerceu diversas atividades até a data de seu falecimento. Figura 29 Declaração da Intendência Municipal de Porto Alegre (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de ART e Acervo Técnico do CREA-RS. Ver “folha-corrida” anexa a carta ao CREA-RS – 8º Região, de 26 de abril de 1942, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 29 Antônio Klinger Filho da nome ao Centro Histórico-Cultural do DMAE, também conhecido como Galeria de Arte do DMAE, inaugurado em 1986 nos jardins da Hidráulica Moinhos de Vento. Fonte: http://www.dmaegaleriadearte.blogspot.com. 30 Declaração anexa a carta enviada ao CREA-RS – 8º Região, de 15 de agosto de 1934, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 28 27 1.2. A evolução do trabalho de Monteiro Neto em Porto Alegre A trajetória do trabalho de Monteiro Neto em Porto Alegre é bastante intensa, comparado ao curto período que vai desde a sua chegada a capital (final de 1929) até o seu falecimento em 1956, ou seja, um intervalo de tempo de apenas 26 anos. Ainda como documento norteador das atividades deste arquiteto, sua “folha-corrida” ajudou a organizar de forma cronológica este período, a partir da qual agregam-se outras fontes que possibilitaram maior consistência nas informações. Segundo este documento, após o período em que trabalhou na Intendência Municipal logo que se estabeleceu em Porto Alegre, a primeira empresa de construção em que Monteiro Neto exerceu suas atividades profissionais foi a firma Barcellos & Cia.31 no ano de 1931, ocupando o cargo de arquiteto chefe. São inúmeras as comprovações de que Monteiro Neto tenha de fato trabalhado nesta empresa. No dia 1º de janeiro de 1931, uma propaganda que Figura 30 Publicidade no Jornal Diário de Notícias da construtora Barcellos & Cia. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 01/01/1931, pg. 06. ocupava boa parte da página 6 do jornal Diário de Notícias32 apresentava este arquiteto como chefe da seção de arquitetura da firma Barcellos & Cia. Engenheiros Construtores. Os desenhos que ilustravam esta publicidade (figura 30), devido ao detalhamento, provavelmente teriam sido feitos pelo próprio arquiteto. Neste ano Monteiro Neto já se tornava bastante conhecido principalmente pela sua atuação como colunista deste mesmo Importante firma construtora atuante em Porto Alegre, entre 1930 e 1945. Suas obras principais foram os edifícios Odone Marsiaj (arquiteto Arno Obst) e Difini (Rua General Câmara) e a igreja Sagrada Família (Rua José do Patrocínio). Ver WEIMER, 2004, pg. 28. 32 Publicidade: Barcellos e Cia. Diário de Notícias. Porto Alegre, 01/01/1931, pg.06. 31 . 28 jornal, apresentando semanalmente projetos que ilustravam assuntos ligados a construção e decoração. Muitos dos projetos aprovados na Prefeitura Municipal e microfilmados no Arquivo Público, sob responsabilidade da firma Barcellos & Cia. no período em que Monteiro Neto exerceu o cargo de arquiteto chefe, são de grande relevância, por serem algumas das primeiras construções em estilo moderno em Porto Alegre. Sua atuação nesta construtora foi um campo fértil para que aplicasse na prática suas ideias “renovadoras”. Para citar algumas destas construções, temos as casas Manlio Agrifoglio (1931), Oswaldo Coufal (1931), Emílio Fernandes das Néves (1932), Dario Brossart (1934) e Antonia Carvalho (1934). Baseando-se nestas datas, vemos que o período em que Monteiro Neto exerceu função nesta empresa foi entre os anos de 1931 e 1934. Fato curioso é que nos projetos desta construtora não é mencionado o nome do autor, mas somente o da empresa. Porém, é possível atribuir a autoria destas obras à Monteiro Neto, tendo em vista sua condição de arquiteto chefe da empresa. Os desenhos, mais simples que os elaborados pelo próprio arquiteto, parecem ser desenvolvidos sempre por um mesmo desenhista, visto a semelhança entre eles. É visível a diferença para com os projetos devidamente assinados pelo arquiteto quando no encaminhamento de construções próprias. Neste intervalo de tempo, outros indícios revelam o trabalho deste arquiteto na construtora citada. Na Revista do Globo, datada de 29 de agosto de 1931, uma perspectiva ilustra o anteprojeto do Edifício Frederico Mentz (figura 36) na esquina das ruas Marechal Floriano e av. Júlio de Castilhos, cuja legenda o identifica como sendo uma ilustração para participação em um concurso, apresentada pela firma Barcellos & Cia. e tendo como autor o chefe da Seção de Arquitetura, João Antônio Neto (o sobrenome "Monteiro" foi omitido). 29 Figura 32 Publicidade na Revista do Globo da construtora Barcellos & Cia. Fonte: Revista do Globo nº 17, 04/07/1931, s/p. Figura 31 Selo da construtora Barcellos & Cia. para a casa de Oswaldo Coufal. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.371 do microfilme nº 49. Figura 33 Selo da construtora Barcellos & Cia para a casa de Emílio Fernandes das Néves. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 53. Figura 34 Selo da construtora Barcellos & Cia para a casa de Dario Brossard. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 22.908 do microfilme nº 62. Figura 36 Perspectiva de um anteprojeto para o Edifício Frederico Mentz. Fonte: Revista do Globo nº 21, 29/08/1931, s/p. Também na Revista do Globo, em algumas edições do ano de 1931, é apresentada publicidade da construtora Barcellos & Cia. tendo a informação de que a seção de Figura 35 Selo da construtora Barcellos & Cia para o castelo de Armando Berlese. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 7.337 do microfilme nº 68. arquitetura estava a cargo do arquiteto Monteiro Neto (figura 32). Concomitantemente ao período em que trabalhou nesta construtora, também trabalhou por conta própria, já que entre os anos de 1931 e 1934 (anos que atuou na firma Barcellos & 30 Cia.), realizou diversos projetos que foram encarregados a outros construtores como Dlugosiewicz, Freire e Co., Irmãos Jung, Batista Campagnola, João Fr. Goldman, Alberto D. Aydos & Cia., Biondani, Alberto Fantinel, Francisco Pivetto, Antônio Mascarello, conforme é possível observar nos microfilmes arquivados na Prefeitura Municipal. Nos anos de 1936 e 1940 realizou novamente projetos para a construtora Barcellos & Cia., mas provavelmente sem vínculo direto com a mesma, já que neste período estava trabalhando em outras construtoras. Segundo sua “folha-corrida”, ele mesmo afirma que se estabeleceu com escritório próprio a partir do ano de 1931. O escritório próprio a que se refere foi denominado de Studio Monteiro Neto, que funcionou desde o ano de 1931 até janeiro de 1948, paralelamente as demais atividades exercidas pelo arquiteto. Neste último ano foi solicitada a baixa deste escritório, de acordo com o penúltimo documento no seu processo no CREA-RS , optando ele por seguir as atividades profissionais com o seu próprio nome, ou seja, João Antônio Monteiro Neto. A publicidade na Revista do Globo para o Studio Monteiro Neto (figura 37) apresenta um logotipo bastante sugestivo. A representação de uma edificação de linhas retas, balanços e grandes lajes, é uma clara representação das possibilidades da “nova arquitetura moderna”, vinculadas ao nome da empresa. As atividades deste escritório são descritas como sendo de “Arquitetura Regional, Clássica e Moderna; Decoração, Interior, Mobiliários de Estilo; Projetos Completos com Orçamentos e Memórias Descritivas; Preço, 1% Sobre Valor da Construção”34, demonstrando, desta forma, que eram bastante amplas as possibilidades de atuação do mesmo no ramo da construção e decoração. Apesar da data de Certidão ao CREA-RS – 8º Região, de 04 de junho de 1949, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 34 Publicidade: Studio Monteiro Neto. Revista do Globo, 05/11/32, ano IV nº 22, s.pg. 33 33 Figura 37 Publicidade na Revista do Globo do Studio Monteiro Neto. Fonte: Revista do Globo nº 22, 05/11/1932, s/p. Figura 38 Selo do Studio Monteiro Neto no projeto para Caixa Econômica Federal. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 2.706 do microfilme nº 107. 31 início das atividades do Studio Monteiro Neto ser o ano de 1931, os primeiros projetos com a assinatura deste escritório no Arquivo Público de Porto Alegre só aparecem a partir do ano de 1943 com a casa Ricardo Eichler. Entretanto, após este primeiro projeto, seguiram-se, de forma mais frequente, construções atribuídas ao Studio Monteiro Neto neste mesmo ano, para a Cia. Predial e Agrícola; no ano de 1944, para a Caixa Econômica Federal, CineTeatro Riviera, João Kalil Rechden, Áureo Abreu, Américo Silva, Ovídio Chaves, Annibal di Primio Beck, Paulo Durant, Cine Palace e no ano de 1946, para Otto L. Ely. A página 17 do jornal Diário de Notícias de 02 de setembro de 1934 apresenta a publicidade Figura 39 Publicidade no Jornal Diário de Notícias da Predial Sul América S. A. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 02/09/1934, pg. 17. da empresa Predial Sul América S.A., que incentivava os leitores da época a construírem suas casas em prestações. A associação que se faz do trabalho de Monteiro Neto a esta empresa tem origem nos desenhos que são utilizados para ilustrar este informe publicitário (figura 39), que mesmo não sendo assinados pelo arquiteto, já teriam sido apresentados anteriormente na sua coluna semanal, neste mesmo jornal, no dia 08 de fevereiro de 193135. Esta informação é confirmada em sua “folha-corrida” onde o próprio arquiteto descreve que, a partir de 1934, exerceu o cargo de diretor técnico desta empresa, sem informar o término do mesmo. Figura 40 Assinatura de Monteiro Neto nos projetos do Edifício Vera Cruz. Fonte: Acervo do Laboratório de História e Teoria de Arquitetura do Centro Universitário Ritter dos Reis. Seguindo a descrição cronológica apresentada pelo próprio arquiteto, a partir do ano de 1936 ele exerceu o cargo de arquiteto da firma Azevedo Moura & Gertum36 até o ano de 35 36 MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 08/02/1931, pg.12. Importante firma fundada por volta de 1925 por Fernando de Azevedo Moura e Oscar Gertum. (...) O auge de suas atividades localizou-se nos anos que precederam a grande crise internacional de 1930, quando chegou a aprovar uma média de dois projetos por mês em Porto Alegre. Para tanto, necessitava de uma grande equipe de arquitetos que foram sendo substituídos ao longo do tempo e, dentre os quais devem ser citados Egon Weidörfer, Fernando Corona, Angello de Luca, João Antônio Monteiro Neto, Arnaldo Gladosch e Guido Trein. Ver WEIMER, 2004, pg. 24. 32 1940. Segundo Canez, esta empresa é citada como tendo contribuído “significativamente para a consolidação [da] nova face moderna e cosmopolita de Porto Alegre com as obras que realizou (...)”37. A mesma autora lista algumas edificações, de relevante importância para Porto Alegre, de forma a exemplificar o legado deixado pela mesma: (...)o Edifício Imperial (1929), na Praça da Alfândega; as Lojas Renner (1932), no Bairro Navegantes; os edifícios Guaspari (1936) e Sulacap (1938-49), na Avenida Borges de Medeiros; o edifício Jaguaribe (1951), na Avenida Salgado Filho; o edifício Esplanada (1952), na Avenida Independência; o Hipódromo do Cristal (1951), no bairro de mesmo nome; o edifício do Sulbanco (1954), na Rua 7 de Setembro; o pavilhão do “Mataborrão” (1960), construído para abrigar as exposições do Governo do Estado na Avenida Borges de Medeiros; a Central de Abastecimentos – CEASA (1970) e a Refinaria Alberto Pasqualine (1961-68), na área metropolitana, demonstram o quanto os acervos Azevedo Moura & Gertum (...) são capazes de ilustrar, na passagem do tempo, as transformações pelas quais passou a arquitetura moderna, na cidade de Porto Alegre. 38 No acervo desta empresa podem ser encontrados projetos assinados por Monteiro Neto do período em que lá trabalhou. Dentre eles encontra-se aquele que lhe trouxe maior reconhecimento, o edifício Vera Cruz, o qual será analisado em detalhe visto a maior quantidade de desenhos neste acervo39. Atesta ainda a passagem de Monteiro Neto por esta construtora um documento juntado ao seu processo no CREA-RS que afirma “que o arquiteto João Monteiro Netto trabalhou [nesta] firma, tendo demonstrado capacidade profissional nos diversos projetos que executou”. Segue dizendo que “o Sr. João Monteiro Netto [sic] foi admitido em 15 de julho de 1936 até hoje [data do documento], data esta em que por livre e espontânea vontade, 37 38 Figura 41 Avenida Borges de Medeiros onde vários edifícios da empresa Azevedo Moura & Gertum foram construídos. Fonte: www.prati.com.br. Figura 42 Edifício Sulacap construído pela firma Azevedo Moura & Gertum logo após o Edifício Vera Cruz. Fonte: http://lauronews.blogspot.com/2010_08_01. CANEZ, 2004, pg. 20 e 21. CANEZ, 2004, pg. 21. 39 O Laboratório de História e Teoria de Arquitetura da Faculdade de Arquitetura do UniRitter guarda em suas dependências os projetos originais da empresa Azevedo Moura & Gertum. 33 pediu sua demissão”40. A este documento, datado de 22 de novembro de 1940, é juntada também uma perspectiva feita por Monteiro Neto para o edifício Vera Cruz ainda na sua concepção original (figura 43), que viria ser um pouco modificada durante sua execução. Além do edifício Vera Cruz, Monteiro Neto projetou para a empresa Azevedo Moura & Gertum a casa Nino Marsiaj (1939), a casa Oscar Gertum (1939), o edifício Terra Lopes (1940), o edifício Anexo Vera Cruz (1940), o edifício São Pedro (1940) e a casa Eduardo Secco (1940). O edifício para o Moinho Esperança, de propriedade de Dal Molin, Simon e Co., também faz parte da relação de seus projetos para esta empresa, pois a assinatura do arquiteto comprova sua autoria ainda no período em que lá trabalhava, mesmo que este projeto só tenha sido encaminhado para aprovação no ano de 1941, quando Monteiro Neto já estava trabalhando para a firma Spolidoro & Cia. Da mesma forma que no período em que trabalhou na construtora Barcellos & Cia. e na Predial Sul América S. A., entre os anos de 1936 e 1940, Monteiro Neto não realizou trabalhos exclusivos para a Azevedo Moura & Gertum, já que nos projetos microfilmados Figura 43 Perspectiva do edifício Vera Cruz juntada ao atestado de trabalho de Monteiro Neto na empresa Azevedo Moura & Gertum. Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. no Arquivo Público aparecem construções sob a responsabilidade de outras empresas como Nagel & Biondani, Jorge Carandanis, João Fr. Goldmann, Carlos Jung e até mesmo a Barcellos & Cia. Ainda no ano de 1940 ingressou como sócio da empresa Spolidoro & Cia.41. Para comprovar tal fato, Monteiro Neto anexa, na mesma carta citada anteriormente encaminhada Atestado da Azevedo Moura & Gertum anexo a carta ao CREA-RS – 8º Região, de 28 de julho de 1949, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 41 Importante empreiteira construtora atuante em Porto Alegre entre 1940 e 1946. O responsável pelo Departamento de Projeto era João Antônio Monteiro Neto. Neste período, o estilo californiano era hegemônico nas residências e foi exatamente dentro dessa abordagem que ele construiu um grande número de casas nas áreas de expansão da cidade. Mas as realizações da empresa não se limitaram apenas a residências. Entre as 40 34 ao CREA-RS, uma declaração, datada de 3 de maio de 1942, que atesta que ele exerceu nesta firma o cargo de arquiteto chefe da seção de arquitetura “tendo demonstrado capacidade de concepção e de técnica”42. Juntada a esta declaração, seguia uma perspectiva ilustrativa do projeto para a Associação Riograndense de Imprensa (figura 44). Nessa empresa, Monteiro Neto projetou em sua maioria casas californianas (entre os anos de 1941 e 1943), um edifício de 10 pavimentos (1941) e um palacete (1943) para Armando Giampaoli, além de um edifício de três pavimentos (1942) para Eugênia Porto Newlands d’Almeida43. Na carta ao CREA-RS de 28 de julho de 1949, foi anexada a nomeação de Monteiro Neto na Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio como “mensalista da Secção de Engenharia Rural, da Diretoria de Terras e Colonização”44, também com uma perspectiva ilustrativa de um “estudo de um edifício destinado a Secretaria da Agricultura Indústria e Comércio”45 (figura 45). Esta última vinculação do trabalho de Monteiro Neto junto a Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio não é mencionada na sua “folha-corrida”. O mais de trinta obras realizadas no período de sua existência, contam-se edifícios de importância como o Serrano (Andradas, 723), o Bagé (esquina da Barros Cassal com a Cristóvão Colombo), o Armando Gianpaoli (esquina da Alberto Bins com a Conceição) e o cinema Ritz. Ver WEIMER, 2004, pg. 169. 42 Declaração da Spolidoro & Cia. anexa a carta ao CREA-RS – 8º Região, de 28 de julho de 1949, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 43 Estes projetos puderam ser comprovadamente atribuídos à Monteiro Neto, pois os mesmos apresentam sua assinatura em todas as pranchas que os compõem. 44 Nomeação de Monteiro Neto para a Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio anexa a carta ao CREA-RS – 8º Região, de 28 de julho de 1949, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 45 Não foi possível confirmar a execução de tal estudo, pois a atual Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul não dispõe de documentos que comprovem tal projeto. 35 Figura 44 Perspectiva da Associação Riograndense de Imprensa juntada a uma declaração da empresa Spolidoro & Cia. Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. vínculo com este órgão do Estado viria a acontecer no ano de 1949 e sua “folha-corrida” descreve a cronologia dos seus trabalhos até o ano de 1942. Mais uma última vez, sua “folha-corrida” merece atenção, quando Monteiro Neto resume alguns trabalhos executados entre os anos 1921 e 1934. Após uma detalhada sequência cronológica das suas participações nas mais diversas empresas e órgãos públicos, o arquiteto relata a autoria dos seguintes projetos: 1921 --- Projetei um edifício para a sede do Fórum da Capital Federal. 1922 --- Projetei um edifício para o Matadouro Modelo de Niterói. 1928 --- Projetei um edifício para a Associação dos Empr. Comércio-Curitiba. 1930 --- Projetei um edifício para a Escola Médico Cirúrgica do Rio G. do Sul. 1934 --- Projetei e construí a praça de Sportes-e-estação de Rádio para a Prefeitura de Livramento. 1931 --- Projetei e construí o Pórtico monumental da Exposição Agrícola Pastoril e Industrial, sendo o meu trabalho distinguido com o 1º Prêmio e Med. De Ouro, como a 1º demonstração de arquitetura funcional então realizada.46 Figura 45 Perspectiva do edifício para a Secretaria da Agricultura Indústria e Comércio. Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. Dos projetos acima mencionados foi possível verificar a veracidade das afirmações somente no período em que Monteiro Neto já vinha exercendo sua profissão em Porto Alegre. Estes são a Escola Médico-Cirúrgica Portoalegrense (figura 46) e o Pórtico Monumental da Exposição Agrícola, Pastoril e Industrial. Ainda na tramitação do seu processo no CREA-RS, o último documento arquivado foi um Figura 46 Imagem da Escola Médio-cirúrgica ilustrada na Revista do Globo. Fonte: Revista do Globo nº 16, 30/08/1930, s/p. ofício encaminhado ao Sr. Eng. Leonel Brizola, Prefeito Municipal de Porto Alegre, pelo Eng. Felício Lemieszek, comunicando o falecimento de Monteiro Neto e solicitando “providências sobre o embargo de todas as construções que se achavam a cargo do mesmo, 46 Folha-corrida anexa a carta ao CREA-RS – 8º Região, de 26 de abril de 1942, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 36 até a regularização – com a responsabilidade de novo profissional habilitado”47. Tal documento foi emitido devido ao ocorrido na data de 15 de agosto de 1956. A nota de falecimento de Monteiro Neto é noticiada no jornal Diário de Notícias do dia 16 de agosto de 1956 (figura 47). A sociedade porto-alegrense foi surpreendida, ontem, com a notícia do falecimento do conhecido arquiteto J. Monteiro Neto, que tendo sido acometido de mal subito foi transportado para o Hospital São Francisco, onde veio a sucumbir 1 hora da madrugada. O arquiteto Monteiro Neto era vastamente conhecido e estimado nesta capital e em Curitiba, onde residiu por alguns anos. Monteiro Neto em sua mocidade fez parte do corpo de revisores do “DIÁRIO DE NOTÍCIAS” e continuava sempre a ser um grande amigo desta folha.48 Na certidão de óbito de Monteiro Neto, obtida no Registro Civil de Pessoas Naturais da cidade de Porto Alegre, é citada a causa de morte do arquiteto como Acidente Vascular Cerebral. Neste mesmo documento é possível observar que era casado com Carolina Koling e que deixou a filha Marlowa, na época com 28 anos de idade. Monteiro Neto acabou falecendo sem ter tido êxito na obtenção do título de arquiteto. Tendo sempre seu nome vinculado a esta profissão, ele por diversas vezes tentou o reconhecimento desta titulação, mas acabou conseguindo apenas uma licença de Projetista-Construtor com limite para projetar prédios até cinco pavimentos e construir prédios de alvenaria simples até dois pavimentos. Esta limitação não o impediu de deixar um acervo numeroso e significativo de obras de arquitetura, algumas delas em escala monumental. Figura 47 Nota de falecimento do Arquiteto J. Monteiro Neto. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 16/08/1956, pg. 07. 47 Ofício ao Prefeito Municipal de Porto Alegre, de 05 de setembro de 1956, arquivado no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 48 “Falecimentos”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 28/09/1930, pg. 07. 37 Figura 48 Carteira profissional de Monteiro Neto emitida em 20 de março de 1939. Fonte: Departamento de Registros do CREA/RS, processo 1.195. 1.3. A luta pela titulação de arquiteto A década de 1930 foi o período onde foram fundados os primeiros CREAs (Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), juntamente com a regulamentação destas profissões. Os Conselhos Regionais receberam a função de fiscalização do exercício destas profissões em acordo com o Decreto 23.569 de 11 de dezembro de 1933. Este decreto regulamentou o exercício das profissões de engenheiro, de arquiteto e de agrimensor, estabelecendo, entre outras coisas, formas para o seu registro. Em reportagem do jornal Diário de Notícias de 22 de agosto de 193449 (figura 49), o engenheiro Borges da Fonseca, membro do Conselho Diretor da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul na época, descreveu, de maneira clara o objetiva, a regulamentação do decreto e suas implicações no exercício das profissões envolvidas. Em data anterior (2 de junho de 1934) o mesmo jornal já tratava do assunto50, numa movimentação de profissionais não formados, solicitando alterações no texto deste documento. Ao longo da primeira reportagem citada, o engenheiro Borges da Fonseca relatou a situação dos profissionais diplomados e práticos das funções afetadas pelo decreto: Figura 49 Reportagem sobre o decreto 23.569 de 11 de dezembro de 1933 no jornal Diário de Notícias. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 22/08/1934, pg. 07. 49 Aos profissionais diplomados por escolas oficiais nacionais, foi assegurado o exercício da profissão mediante prévio registro do título no Ministério de Educação e Saúde Pública. O exercício da profissão de engenheiro, arquiteto e agrimensor. A propósito de sua regulamentação em face das disposições do decreto 23.569, de 11 de dezembro de 1933, o DIÁRIO DE NOTÍCIAS ouve o dr. Borges da Fonseca. Jornal Diário de Notícias, 22/08/1934, pg. 07. 50 A regulamentação da profissão de engenheiro e arquiteto. Pelos profissionais não formados vai ser dirigido um memorial ao governo provisório pleiteando modificações no decreto 23.569. Jornal Diário de Notícias, 02/06/1934, pg. 05. 38 Aos profissionais diplomados por escolas estrangeiras oficiais foi também garantido o exercício da profissão, independente de revalidação do diploma, uma vez que provassem acharem-se exercendo a profissão no Brasil a data da publicação do decreto, devendo eles registrarem seus diplomas, dentro do prazo de 6 meses. Quanto aos práticos, o critério foi semelhante ao estabelecido para os diplomados. Aos titulados se exigiu prévio registro dos diplomas e aos práticos o prévio registro das licenças, uma vez que provassem estar exercendo a profissão a data da publicação do decreto, sem notas que os desabonassem (grifo nosso). No nosso Estado, em virtude da ampla liberdade profissional existente, não havia nem mesmo a exigência da apresentação de uma licença expressa, para o exercício da profissão e como conseqüência a simples prova do pagamento do imposto de indústrias e profissões ao Estado substituía a licença. 51 Baseado nas orientações da regulamentação do decreto, Monteiro Neto encaminhou em 1934 seu pedido de registro como arquiteto para que continuasse exercendo sua profissão sem qualquer tipo de restrição. Porém, a tramitação de sua solicitação no CREA-RS52 foi marcada por diversos apelos e indeferimentos. A primeira carta encaminhada ao CREA-RS foi datada de 15 de agosto de 1934 (figura 50). Nesta carta Monteiro Neto afirmava que estava exercendo a profissão de arquiteto na data do decreto e que não constava nenhum desabono na sua conduta pública e privada, tão pouco em sua conduta profissional, assim como regia a regulamentação. Para comprovar tais afirmações foram anexados alguns documentos. Monteiro Neto apresentou um comprovante (datado de 12 de setembro de 1934) de que estava em dia com o pagamento do imposto de Indústrias e Profissões onde estava lotado como arquiteto. Além da quitação do imposto, apresentou certidões de que nada constava contra a sua conduta junto ao Foro 51 O exercício da profissão de engenheiro, arquiteto e agrimensor. A propósito de sua regulamentação em face das disposições do decreto 23.569, de 11 de dezembro de 1933, o DIÁRIO DE NOTÍCIAS ouve o dr. Borges da Fonseca. 22/08/1934, pg. 07. 52 Processo nº 1.195 arquivado no Departamento de Registros do CREA-RS. Figura 50 Pedido do registro de arquiteto junto ao CREA-RS em 15 de agosto de 1934 (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. 39 Estadual; uma declaração da empresa Predial Sul América Ltda. (figura 51) assinada por seus diretores Emilio Frederico Diehl e Waldemar C. R. Souza, que declaravam que “desde o dia 19 de Outubro de 1933, o DEPARTAMENTO TÉCNICO DE ENGENHARIA E ARQUITETURA desta Companhia” tinha como chefe o arquiteto Monteiro Neto; um Título do Estado do Paraná que nomeava o arquiteto para exercer o cargo de Auxiliar Técnico de 1º Classe do Departamento de obras Públicas da Secretaria do Estado dos Negócios de Agricultura, Viação e Obras Públicas, datado de 27 de março de 1928; e um Certificado da Intendência Municipal de Porto Alegre que assegurava que Monteiro Neto vinha a mais de um ano exercendo “com véra dedicação e absoluto conhecimento de causa” [sic], funções técnicas em Departamento da Diretoria Geral de Saneamento53. O engenheiro Antônio Chaves, então presidente do Conselho, em 27 de junho de 1935 deu Figura 51 Declaração da Predial Sul América Ltda. Anexo no pedido de registro de arquiteto junto ao CREA-RS (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. seu parecer de indeferimento por insuficiência de documentos. Apesar de Monteiro Neto ter apresentado os documentos de acordo com as solicitações do decreto, no indeferimento não foram citados quais destes estariam faltando. Segundo o artigo 3º do Decreto 23.569 de 1933 “[Seria] garantido o exercício de suas funções, dentro dos limites das respectivas licenças e circunscrições, aos arquitetos, arquitetos-construtores, construtores e agrimensores que, não diplomados, mas licenciados pelos Estados e Distrito Federal, provarem, com as competentes licenças, o exercício das mesmas funções à data da publicação deste decreto (grifo nosso), sem notas que os desabonem, a critério do Conselho de Engenharia e Arquitetura”. Desta forma acredita-se que a complementação de documentação deveria ter sido feita com uma Licença emitida pelo Estado do Rio Grande MONTEIRO NETO, carta ao CREA-RS – 8º Região, de 15 de agosto de 1934, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 53 40 do Sul, comprovando que Monteiro Neto, de fato, exercia tal atividade naquele momento neste Estado. Em consequência de a primeira solicitação ter sido indeferida, em 9 de novembro de 1937, Monteiro Neto entrou com mais um pedido, juntando agora uma certidão de pagamento do imposto Estadual e uma prova técnica, com o objetivo de completar a documentação do primeiro pedido. Nesta carta, o arquiteto apresentou uma Licença Profissional do Estado do Paraná, de 26 de março de 1928, mais precisamente da Secretaria de Estado dos Negócios de Agricultura, Viação e Obras Públicas, onde o secretário licenciava Monteiro Neto “para exercer a profissão de arquiteto com a faculdade de fiscalizar e dirigir a execução dos projetos que elaborar”54 (figura 28). Além desta licença, foram anexados um Atestado de Conduta emitido pela Diretoria do Gabinete de Identificação e Estatística do Estado do Rio Grande do Sul atestando a boa conduta do requerente e um certificado da Mesa de Rendas (figura 52) com o objetivo de comprovar a lotação para o pagamento do imposto de arquiteto. Porém, em resposta no verso deste último documento, o administrador da Mesa de Rendas afirmou que o requerente encontrava-se lotado nesta repartição para o pagamento do imposto de Indústria e Profissões como “Construtor”, o que dificultou a comprovação do exercício da profissão de arquiteto. Nesta solicitação, com base na documentação apresentada, o pedido foi deferido “com limite para construir prédios de alvenaria simples e 2 (dois) pavimentos”55. Figura 52 Resposta do Administrador da Mesa de Rendas certificando a lotação de Monteiro Neto como “Construtor” (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. 54 MONTEIRO NETO, carta ao CREA-RS – 8º Região, de 9 de novembro de 1937, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 55 Ibidem. 41 Baseando-se nos projetos de autoria de Monteiro Neto, aprovados na Prefeitura Municipal de Porto Alegre, foi possível verificar que, até a data do deferimento da sua licença para construir dois pavimentos, os projetos dele estavam em sua grande maioria dentro deste limite de altura. No entanto, o arquiteto já tinha se aventurado em projetar dois edifícios de maior altura, sendo um destes um prédio misto - comercial e residencial, para o Sr. José Honorato Santos56, com quatro pavimentos, construído por João Francisco Goldmann e o segundo, um prédio exclusivamente comercial para o General Manoel Palmeiro da Fontoura57, com cinco pavimentos, construído por Barcellos & Cia, Engenheiros Construtores. Em 4 de janeiro de 1938, Monteiro Neto fez um novo pedido encaminhado ao Presidente do Conselho Regional, para que fosse alterada a sua licença de “Construtor” para “projetista com a faculdade de fiscalizar a execução dos projetos que elaborar”58 (figura 53). Em Figura 53 Solicitação de Monteiro Neto para alterar sua licença de “Construtor” para “projetista com a faculdade de fiscalizar a execução dos projetos que elaborar” (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. resposta ao seu pedido, o presidente Adalberto Carvalho autorizou a alteração segundo a solicitação, mas com a manutenção da restrição de que o mesmo fosse feito até dois pavimentos. Monteiro Neto seguiu suas tentativas de aumentar suas atribuições profissionais de projeto e construção com um novo pedido feito em 5 de dezembro de 193859. Nesta carta foi juntado Edifício J. H. Santos, localizado na rua Dr. Flores nº 204, já demolido. Processo nº 585 do microfilme nº 53 no Arquivo Público de Porto Alegre. 57 Edifício Palmeiro, localizado na esquina da avenida Otávio Rocha com a rua Vigário José Inácio, sendo ainda utilizado para os mesmos fins. Processo nº 4.345 do microfilme nº 59 no Arquivo Público de Porto Alegre. 58 MONTEIRO NETO, carta ao CREA-RS – 8º Região, de 4 de janeiro de 1938, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 59 MONTEIRO NETO, carta ao CREA-RS – 8º Região, de 5 de dezembro de 1938, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 56 42 o original de um projeto aprovado pela Prefeitura Municipal. Projeto este, mencionado anteriormente, para o Sr. José Honorato Santos, com quatro pavimentos, aprovado em 1933. Em resposta a sua solicitação, o limite de altura foi ampliado até cinco pavimentos. No ano seguinte, Monteiro Neto fez outra tentativa requerendo que o Conselho fizesse um reexame da sua documentação60 para que na sua caderneta e no seu registro constasse a habilitação de arquiteto com as atribuições, definidas em lei, que cabiam a este título61. Nesta solicitação Monteiro Neto juntou novamente a Licença Profissional para ele concedida pelo Estado do Paraná, que lhe autorizava a “exercer a profissão de arquiteto com faculdade de fiscalizar e dirigir a execução dos projetos que elaborar”, e pediu que a mesma fosse devidamente examinada. Em resposta, o CREA-RS certificou que o seu pedido foi “INDEFERIDO” (figura 54), pois na data da publicação do decreto 23.569, o requerente não exercia a função de arquiteto e sim o cargo de fiscal da firma Predial Sul América. Na justificativa do indeferimento foi apresentada a explicação de que o artigo 3º deste mesmo decreto é claro ao informar que o título seria concedido apenas aos profissionais que desenvolvessem a função solicitada na data da publicação, ou seja, 11 de dezembro de 1933. MONTEIRO NETO, carta ao CREA-RS – 8º Região, de 1º de dezembro de 1939, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 61 60 Figura 54 Certificado de indeferimento emitido pelo CREA-RS em 30 de dezembro de 1939 (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. Art. 30. Consideram-se da atribuição do arquiteto ou engenheiro-arquiteto : a) o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção de edifícios, com tôdas as suas obras complementares; b) o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das obras que tenham caráter essencialmente artístico ou monumental; c) o projeto, direção e fiscalização dos serviços de urbanismo; d) o projeto, direção e fiscalização das obras de arquitetura paisagística; e) o projéto, direção e fiscalização das obras de grande decoração arquitetônica; f) a arquitetura legal, nos assuntos mencionados nas alíneas a e c dêste artigo; g) pericias e arbitramentos relativos à matéria de que tratam as alíneas anteriores. 43 No dia 18 de março de 1940, Monteiro Neto insistiu com mais uma correspondência ao CREA-RS, onde demonstrava sua contrariedade ao indeferimento apresentado ao seu pedido anterior. Nesta correspondência Monteiro Neto afirmou “não se confor[mar] com o despacho que indeferiu o seu pedido de licença profissional para exercer a profissão de arquiteto, título esse expedido pela Secretaria das Obras Públicas do Estado do Paraná (...)”62. Na mesma data, Monteiro Neto encaminhou carta ao Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA), descrevendo sobre a recusa do Conselho Regional em atender sua solicitação ao título de arquiteto. Na carta Monteiro Neto afirma que: “A decisão recorrida é contraditória porque se baseia em documento que, justamente, ampara a pretensão do recorrente. Quando requereu o seu registro, o requerente chefiava o Departamento Técnico de Engenharia e Arquitetura da Predial Sul-América S. A. Não exercia o requerente simplesmente a função de fiscal da referida Companhia mas, sim de arquiteto” 63. De fato a declaração da empresa anexada na sua primeira solicitação descreve que o departamento citado tinha “a sua frente como chefe, (...) o arquiteto – J. MONTEIRO NETO”64. Em resposta a sua solicitação o então presidente do Conselho Federal, Adolfo Morales de los Rios, devolveu a documentação e comunicou que o fato deveria continuar tramitando em nível regional, de onde tiveram início os processos (figura 55). Figura 55 Resposta do CONFEA a solicitação de Monteiro Neto assinada pelo então presidente da instituição Adolfo Morales do los Rios (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. Em 26 de abril de 1942, numa carta endereçada ao Presidente do CREA-RS, Lelis Espartel, Monteiro Neto tentou novamente pleitear sua inscrição como “arquiteto-construtor” (figura 62 MONTEIRO NETO, carta ao CREA-RS – 8º Região, de 18 de março de 1940, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 63 MONTEIRO NETO, carta ao CONFEA, de 18 de março de 1940, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 64 Anexo a primeira solicitação de Monteiro Neto junto ao CREA-RS em 15 de agosto de 1934. 44 56). Seus argumentos foram de que em aproximadamente cinco anos, suas tentativas foram repelidas “por força de um parecer dado pelo então conselheiro Eng.º Batista Pereira que se manifestou de maneira tão injusta, que chegou ao ponto de deturpar o sentido de um dos documentos exibidos (...)”65. Ainda nesta correspondência ressaltou que: Sou um homem de temperamento moderado, não tenho inimigos, mas também não tenho amigos nas altas esferas sociais a quem recorrer, apelando para o velho uso dos “pistolões”, sou simples por natureza, mas tenho personalidade e tenho confiança na maneira como interpreto a minha profissão, a arte pela qual eu sinto o mais devotado entusiasmo e adoro sobremaneira.66 A esta correspondência anexou sua “folha-corrida”67 pedindo que a apreciação da mesma fosse feita com preciosa atenção. A esta tentativa Monteiro Neto pareceu concentrar todas as suas argumentações de forma a sensibilizar o então presidente do CREA-RS. Nos últimos parágrafos suas considerações foram as seguintes: Nestes quase dose anos de trabalho ininterruptos tenho esparsos por todo o Rio Grande do Sul, cerca de 1.000 projetos entre os quais posso destacar residências suntuosas, edifícios de apartamentos, teatros, cassinos, escolas, cinemas, balneários, praças de esportes, igrejas e hospitais. Tenho-me pois na conta de um arquiteto nato e si por circunstâncias da vida não me foi possível fazer um curso regular de arquitetura, nem por isso deixo de sentir pela minha profissão a mesma fé e o mesmo entusiasmo que por ela sentem os regularmente diplomados porque dada a maneira como a encaro reconheço grande complexidade e a necessidade de estudá-la sempre, e é o que faço cotidianamente. Há anos no Rio, quando eu trabalhava na firma Meanda Curty & C. recebi do meu particular amigo Morales do los Rios Filho, uma carta muito atenciosa na qual o novel 65 Figura 56 Correspondência endereçada diretamente ao Presidente do CREA-RS, Lélis Espartel, em 26 de abril de 1942 (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. MONTEIRO NETO, carta ao CREA-RS – 8º Região, de 26 de abril de 1942, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 66 MONTEIRO NETO, carta ao CREA-RS – 8º Região, de 26 de abril de 1942, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 67 Documento que descreve de maneira resumida sua trajetória profissional que foi abordado anteriormente. 45 arquiteto me convidava para uma reunião numa das salas da Escola de Belas Artes e a qual tinha por fim fundar a Sociedade Central de Arquitetos, quis recusar esse convite alegando a minha condição de não diplomado, mas ele com simplicidade que sempre o caracterizou respondeu-me que no momento o que importava era a presença do arquiteto, do profissional conscio do cumprimento de seu dever; desse modo, tomei parte no conclave, a Sociedade se fundou e mais tarde fez fusão com o Instituto Brasileiro do Arquiteto fundado por influência do Arquiteto Nereu Sampaio, recebendo a designação de Instituto de Arquitetos do Brasil. Aquele primeiro movimento encabeçado por Morales de los Rios Filho e apoiado por seu ilustre pai o professor Morales de los Rios, de saudosa memória, teve por fim definir a posição do arquiteto no Brasil. Agora, por ocasião da Semana do Engenheiro, desejei de coração ir abraçar o meu velho amigo Morales, mas me contive, preferi não vê-lo para não ser fascinado pela ânsia de ter que me abrir com ele dizendo da injustiça com que os senhores conselheiros da nossa Região premiaram os esforços de quem como eu, tem exercido sua profissão com o mais denodado devotamento há mais de um quarto de século.68 Em 9 de setembro de 1942, Lelis Espartel enviou para estudo e decisão do Conselho Federal a pretensão de Monteiro Neto junto com todo o processo nº 1.195 iniciado no Conselho Regional. Esta carta seguiu ao então Presidente do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, Dr. Adolfo Morales de los Rios. Em carta resposta de 13 de abril de 1943, Morales de los Rios, comunica que o Conselho Federal aprovou, em sessão de 8 do mesmo mês, o parecer do Relator Conselheiro Ulysses M. A. de Alcantara, o qual descreve em seus últimos parágrafos: Si o recorrente estivesse a data da promulgação do Dec. N. 23.569 exercendo no Paraná as funções de Arquiteto, teria realmente direito a carteira de arquiteto-construtor licenciado, mas estando empregado numa Companhia Predial no Rio Grande do Sul, fora da circunscrição da licença que ora invoca, só poderia obter autorização pelo art. 2º ou, Figura 57 Parecer do Conselheiro Ulysses M. A. de Alcantara sobre processo de Monteiro Neto (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. 68 MONTEIRO NETO, folha-corrida anexa a carta ao CREA-RS – 8º Região, de 26 de abril de 1942, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 46 quando muito, fazer jus a carteira que o CREA da 8º Região lhe concedeu, sem se cingir muito as exigências legais.69 Desta forma, em 2 de julho de 1943, Lelis Espartel encarregou-se de responder ao interessado Monteiro Neto com o indeferimento de seu pedido baseado no parecer do Conselho Federal que “encerra[va] de forma completa e definitiva o longo ciclo de petições e recursos do Sr. João Monteiro Neto, na sua aspiração de obter o licenciamento como arquiteto”70 (figura 57). Acatando a decisão em última análise, de sua solicitação de licenciamento para ArquitetoConstrutor, Monteiro Neto se manifestou novamente ao Conselho Regional para solicitar nova carteira de Projetista-Construtor com limite para projetar prédios até cinco pavimentos e construir prédios em alvenaria simples de até dois pavimentos. Este pedido foi feito em carta de 29 de julho de 1943, o qual é deferido juntamente com a emissão de tal carteira em 6 de setembro de 1943 (figura 60). O tramite do processo de Monteiro Neto no CREA-RS ainda não seria encerrado por definitivo. Em 28 de julho de 1949, o mesmo solicitou ao Presidente deste Conselho “que sendo de cinco pavimentos o limite de sua carteira profissional como projetista, e que tendo (...) exercido em empresas particulares e mesmo no Governo do Estado, cargos que lhe permitiram revelar seus conhecimentos técnicos e artísticos, projetando edifícios de maior número de pavimentos do que os que lhe são permitidos, (...) [que] seja aumentado a limite Figura 58 Solicitação de Monteiro Neto para aumentar seu limite de projetista em 28 de julho de 1949 (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. ULYSSES M. A. DE ALCÂNTARA, relatório anexo a carta resposta ao Conselho Regional, de 13 de abril de 1943, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 70 LELIS ESPARTEL, carta resposta ao Sr. João Monteiro Neto, de 2 de julho de 1943, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 69 47 de projetista em sua carteira profissional”71 (figura 58). Para comprovar tais feitos Monteiro Neto anexou a esta carta um atestado da Construtora Azevedo Moura & Gertum de que ele teria trabalhado nesta empresa de 15 de julho de 1936 até 22 de novembro de 1940, onde tinha “demonstrado capacidade profissional nos diversos projetos que executou”72. Juntamente com o atestado anexou uma perspectiva, assinada por ele, do edifício Vera Cruz (figura 43) que já tinha sido construído em 1940. Da mesma forma enviou também em anexo uma declaração da empresa Spolidoro & Cia. em que a mesma relata que Monteiro Neto exerceu o cargo de arquiteto chefe na seção de arquitetura “tendo demonstrado capacidade de concepção e de técnica”73 datada de 3 de maio de 1942. Para comprovar esta capacidade foi anexada uma perspectiva, assinada por ele, do edifício para a Associação Riograndense de Imprensa (figura 44). De maneira a reforçar ainda mais sua solicitação, juntou também um documento de nomeação, de 19 de maio de 1947, da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio do Rio Grande do Sul, como Figura 59 Ofício que encerra o processo de Monteiro Neto junto ao CREA-RS devido o seu falecimento (imagem ampliada no anexo “Documentos”). Fonte: Departamento de Registros do CREA-RS, processo 1.195. arquiteto da Seção de Engenharia Rural da Diretoria de Terras e Colonização. Novamente anexou outra perspectiva, agora de um estudo para o Edifício Central destinado a esta secretaria (figura 45), que não foi construído, também assinado por ele. Mais uma vez o requerimento de Monteiro Neto é indeferido e sua habilitação lhe restringe a projetar até cinco pavimentos e construir até dois pavimentos. 71 MONTEIRO NETO, carta ao CREA-RS – 8º Região, de 28 de julho de 1949, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 72 MONTEIRO NETO, atestado anexo a carta ao CREA-RS – 8º Região, de 28 de julho de 1949, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 73 MONTEIRO NETO, atestado anexo a carta ao CREA-RS – 8º Região, de 28 de julho de 1949, arquivada no Departamento de Registros do CREA-RS no processo nº 1.195. 48 Encerrando seu processo junto ao CREA-RS, em 4 de julho de 1949, foi pedida a baixa do Studio Monteiro Neto a partir de janeiro de 1948, onde o próprio atesta que teria reiniciado suas atividades profissionais em seu nome individual. Mesmo demonstrando capacidade e talento na realização de projetos e até mesmo construções sob sua responsabilidade, Monteiro Neto não teve sucesso nestes 13 anos de tentativas, primeiramente almejando o licenciamento como Arquiteto-Construtor e posteriormente como Projetista-Construtor. De fato, a grande maioria dos projetos pesquisados no Arquivo Público estavam dentro dos limites propostos nas suas atribuições legais. Porém, Monteiro Neto esteve alheio a estas deliberações. Além dos dois edifícios já citados, de quatro e cinco pavimentos projetados nos anos de 1933 e 1934 respectivamente, enquanto sua licença lhe permitia projetar e construir até o máximo de dois pavimentos, Monteiro Neto, já com a autorização ampliada para projetar até cinco pavimentos e construir até dois pavimentos a partir de 1938, projetou o Edifício Vera Cruz com 15 pavimentos (1939), o Edifício Reunidos com sete pavimentos (1940), o Edifício São Pedro com seis pavimentos (1940), o Edifício Armando Giampaoli com 10 pavimentos (1941) e o Edifício da Associação Riograndense de Imprensa com 10 pavimentos (1942). Figura 60 Carteira profissional de Monteiro Neto emitida em 6 de setembro de 1943. Fonte: Departamento de Registros do CREA/RS, processo 1.195. 49 50 2. A defesa de um ideário 51 O Diário de Porto Alegre foi o primeiro jornal do Rio Grande do Sul. Circulou pela primeira vez em 1º de junho de 182774 (figura 61). Tinha grande enfoque político, mas ao longo dos anos foi se direcionando para um jornalismo noticioso principalmente no início do século XX. Os acontecimentos da sociedade, notícias políticas, o desenvolvimento da cidade e assuntos diversos ocupavam as páginas do jornal que tinham o objetivo de informar e entreter a população do Estado e principalmente da capital gaúcha. Conforme Carreira: Diretamente relacionados à vida e ao cotidiano dos habitantes da cidade, farol de iniciativas oficiais, direcionando posturas governamentais e administrativas e demarcando empenhos de modernização, as obras e os debates em torno da remodelação da cidade cedo mobilizaram jornalistas, escritores e leitores em uma pauta ampliada de ideias. Neste processo, a metamorfose da cidade, a melhoria de sua equipagem, expansão física e modificação da paisagem e silhueta da metrópole em formação, os limites, descompassos e descontinuidades da modernização e expansão urbana, tomariam as páginas dos jornais de Porto Alegre. Espaço privilegiado de informação, expressão e difusão dos debates públicos, neles aflorariam não somente novos temas: das obras públicas, planos e proposições urbanísticas, da verticalização, da habitação, da periferia. Mas também um novo leque de atores: cronistas da cidade, dirigentes e técnicos municipais, construtores e empresas de construção, urbanistas, arquitetos e engenheiros, que, por meio de suas linguagens e testemunhos específicos, jornalísticos, políticos, empresariais e profissionais, definitivamente demarcariam uma esfera letrada de tematização dos assuntos da cidade, do urbanismo, da construção e da arquitetura.75 Com o título de “O Ideário de Monteiro Neto”76, Machado cita as crônicas de Monteiro Neto publicadas no jornal Diário de Notícias, entre os anos de 1930 e 1933, e na Revista do Figura 61 Página do primeiro jornal da capital gaúcha: O Diário de Porto Alegre. Fonte: http://wp.clicrbs.com.br/almanaquegaucho. Globo entre os anos de 1931 e 1932. O comparativo entre os artigos e os projetos amplia o entendimento da obra de Monteiro Neto, fornecendo valiosas informações sobre suas referências teóricas e a maneira como 74 75 76 FRANCO, 2006, pg. 212. CARREIRA, 2005, pg. 24. MACHADO, 1998, pg. 203 a 209. 52 abrigou as tendências de seu tempo em sua obra. Portanto, a grande quantidade de artigos do arquiteto é objeto de especial atenção na dissertação. Machado ainda apresenta outra figura importante para a crítica arquitetônica de Porto Alegre do início dos anos 30, o engenheiro Miranda Netto. Segundo a autora: A defesa de uma linguagem arquitetural pautada no que então estava sendo realizado no continente europeu aparece com bastante frequência nas colunas do arquiteto Monteiro Neto no Diário de Notícias e Revista do Globo no início dos anos 30. Vários dos projetos por ele publicados primavam, formalmente, pela abundância de linhas retas e pela destituição de ornamentação. Os novos preceitos também estão presentes na bastante irregular coluna publicada pelo arquiteto Miranda Netto [77] no Correio do Povo, sobretudo entre agosto de 1932 e março de 1933. Inegavelmente, são os exemplos mais próximos encontrados em Porto Alegre, no início dos anos 30, de arquitetos que – mesmo com contradições – promulgam e defendem ideias novas no campo da arquitetura, através de uma coluna na imprensa. Lamentavelmente, com as exceções que confirmam a regra, os demais arquitetos no geral não escrevem ou escrevem pouco.78 Em trabalho posterior, Carreira se manifesta a respeito do tema: Por mais diversificados, dispersos ou ocasionais que fossem, [os] artigos testemunham um interesse crescente na opinião pública gaúcha pelos assuntos de arquitetura, certamente relacionados ao enorme movimento de construção e urbanização de Porto Alegre nesta virada dos anos 1920 para 30. O fato é que, a partir de 1930, tanto o Diário de Notícias quanto o Correio do Povo contariam com colunas especializadas em arquitetura que, tal como a relação às coisas da cidade, receberiam um nome próprio, de batismo “Para quem quer construir” e “Arte de construir”. Nelas, o arquiteto João Antônio Monteiro Neto e o engenheiro Miranda Netto encontrariam espaço para discutir e difundir as questões relacionadas ao campo arquitetônico, seja no que dizia respeito às novas ideias em Figura 62 Sede do jornal Diário de Notícias na Rua dos Andradas. Momento em que um vândalo joga uma máquina de escrever pela janela antes do prédio ser incendiado em 24 de agosto de 1954. Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. 77 Segundo Carreira, Miranda Netto graduou-se primeiramente como Engenheiro Geógrafo em 1922 e como Engenheiro Civil em 1925 e não como arquiteto. Ver CARREIRA, 2005, pg. 106. 78 MACHADO, 1998, pg. 202 e 203. 53 relação à arquitetura e ao urbanismo, seja no que se relacionava com os problemas de construção e da prática profissional.79 Dispondo destas duas importantes fontes de consulta, os subcapítulos seguintes discorrem sobre a produção escrita de Monteiro Neto, principalmente com sua coluna semanal do jornal Diário de Notícias, mas também com suas publicações na Revista do Globo, outro importante instrumento de divulgação das tendências da sociedade gaúcha da época. Como fechamento desta análise, apresenta-se o contraponto do jornal Correio do Povo, que também apostou numa coluna que falasse sobre arquitetura, tendo como principal crítico e colunista o engenheiro Miranda Netto, que por sua vez também pode contribuir na formação de uma cultura arquitetônica na sociedade portoalegrense na década de 1930. Figura 63 Primeira sede do jornal Correio do Povo na Rua dos Andradas. Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. 79 CARREIRA, 2005, pg. 62. 54 2.1. A crônica no jornal Diário de Notícias Provavelmente para atender a demanda de informação sobre arquitetura e construção da sociedade da época, o jornal Diário de Notícias criou uma coluna semanal que tratava de diversos assuntos relacionados a estes temas. Numa cidade em grande desenvolvimento e crescimento imobiliário era necessário orientar seus leitores com dicas que lhes fossem atraentes e úteis, numa forma também de criar um diferencial para competir com seu grande concorrente, o Correio do Povo. O Diário de Notícias começou a ser publicado em março de 1925, já quando o Correio do Povo completava seus trinta anos. As edições de ambos, em 1º de março de 1925, um domingo, chegaram às bancas com dezesseis páginas, tamanho standart, oito colunas, o mesmo formato. Mas diferiam muito na apresentação gráfica e no conteúdo. Na manhã quente de uma cidade com escassos duzentos mil habitantes, o Diário surgiu com ares de modernidade e provocador.80 Para se ter uma ideia da abrangência do jornal sobre a sociedade portoalegrense, nos anos de 1930 o mesmo tinha uma tiragem diária de 25mil exemplares81 no momento em que Porto Alegre tinha uma população de aproximadamente 265mil habitantes, o que equivaleria a 1 jornal para cada grupo de 10 pessoas. Esta coluna, de frequência semanal, era publicada sempre aos domingos. Teve sequência praticamente ininterrupta até janeiro de 1932, ficando neste período interrompida por apenas 45 dias durante a Revolução de 1930. Com apenas uma publicação em janeiro de 1932, a Figura 64 Título e ilustração da primeira publicação sobre construção e arquitetura do jornal Diário de Notícias. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 24/08/30, pg. 08. 80 81 DE GRANDI, 2005, pg. 19. DORNELLES, 2004. 55 coluna deixaria de aparecer por um ano, retornando com suas últimas publicações entre janeiro e março de 1933. (...) a coluna foi inaugurada como uma seção de orientação aos leitores que pretendiam construir suas casas, discutindo com seu público preferências estilísticas, alternativas de mobiliário e questões técnicas, como iluminação, ventilação e ocupação no terreno, além da adequação dos edifícios ao meio local. Discutia também o problema da habitação popular, defendendo neste setor a importância da contratação de profissionais: o arquiteto para a realização da fiscalização do projeto e o engenheiro para a execução da obra. Devido ao sucesso alcançado por Monteiro Neto, a coluna logo se tornaria uma seção de consultas, para a qual os leitores escreviam cartas pedindo orientação para a construção de suas casas e recebiam como resposta projetos publicados na edição de domingo do jornal.82 Os espaços destinados a publicação das colunas sempre foram generosos, ocupando muitas vezes boa parte da página, e localizados geralmente próximos as seções sobre vida social, cinema, esportes e lazer. Todas as crônicas eram ilustradas com plantas e perspectivas, com uma excelente qualidade gráfica, uma característica marcante do trabalho de Monteiro Neto. Nas publicações do final do ano 1931 e nas que ocorreram no ano de 1933, as crônicas sobre arquitetura foram incorporadas a um caderno especial chamado de “suplemento”. O próprio Monteiro Neto descreve as condições do surgimento desta coluna na edição de 1º de janeiro de 1931: Figura 65 Título e ilustração da segunda publicação sobre construção e arquitetura do jornal Diário de Notícias. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 31/08/30, pg. 07. 82 83 “Para quem quer construir” surgiu de uma simples troca de ideias feita ligeiramente, em plena rua com Leonardo Truda [83] esse espírito de escól [sic] que ainda hoje encontra em cada canto desta casa, um amigo, um admirador do seu espírito cintilante.84 CARREIRA, 2005, pg. 74. Francisco Leonardo Truda ingressou no grande diário de Porto Alegre – o “Correio do Povo”, terminando como diretor, durante vários anos, até que surgindo uma dissidência na redação deixou o jornal e, com vários companheiros, fundou na capital gaúcha o “Diário de Notícias” que dirigiu até 1930. Fonte: http://www.cbg.org.br/baixar/acucar_no_brasil_1.pdf 56 A primeira crônica publicada em 24 de agosto de 1930 com o título de “As construções modernas” (figura 64), não possuía a assinatura de seu autor, porém deve ser atribuída a Monteiro Neto, que ilustra a mesma. Este primeiro artigo resumia os objetivos do autor e deixava clara a intenção de direcionar-se a “todos os que pretendiam construir uma casa dentro dos preceitos da economia e da higiene, mas sem deixar de lado a elegância das linhas externas e o conforto interior (...)”85. Ao final desta coluna a ilustração foi assinada pelo “arquiteto Monteiro Neto, da Sociedade Central de Arquitetos e funcionário da Intendência Municipal de Porto Alegre”86. Esta vinculação de Monteiro Neto a Sociedade Central de Arquitetos87 e a Intendência Municipal provavelmente tinha a intenção de passar credibilidade aos leitores já nas primeiras publicações. Na segunda publicação da coluna sobre temas de arquitetura e construção, ainda com o título de “As construções modernas” (figura 65), foi apresentado um projeto de uma casa simples assinada pela firma Barcellos & Cia. Esta coluna descrevia que o “Diário de Notícias, no intuito de prestar uma útil contribuição aqueles que aspiram a posse de uma casa de moradia, de construção barata, apresenta (...), um tipo de projeto de casas 84 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 01/01/1931, pg. 16. 85 CARREIRA, 2005, pg. 74. 86 “As construções Modernas”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 24/08/1930, pg. 08. 87 A Sociedade Central de Arquitetos foi fundada com 38 associados e, três meses depois, quando aparece nas páginas do primeiro número da Architectura no Brasil, já possuía 72 sócios, sendo 38 engenheiros arquitetos, 16 engenheiros civis e 8 aderentes. A SCA possuía um caráter mais aberto que o IBA, aceitando não diplomados, o que era justificado pelo fato da arquitetura ser uma “profissão absolutamente liberal”, sendo assim “ridículo e injusto fechar as portas aos que por motivos que não queremos saber, não obtiveram diploma oficial que lhes reconheça o valor profissional”. Com esta abertura, pretendia a SCA premiar “os esforçados pela arquitetura e que no desempenho de sua profissão conseguiram nivelar-se com os mais dignos no assunto”. LEVY, Ruth Nina Ferreira. Fonte: http://www.dezenovevinte.net Figura 66 Primeira publicação com o título “Para quem quer construir”. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 07/09/30, pg. 08. 57 econômicas”88, de forma a reafirmar a intenção e objetivos propostos por esta nova Figura 67 Destaque para o título dos artigos. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 14/09/30, pg. 07. possibilidade de leitura oferecida ao público deste jornal. A coluna ainda não foi assinada por Monteiro Neto, mas apresentava os mesmos princípios que seguiram por todas as demais. Uma terceira publicação em 7 de setembro de 1930 (figura 66), agora assinada por Monteiro Figura 68 Complementação do título do artigo. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 14/09/30, pg. 07. Neto, recebeu o nome de “Para quem quer construir” (figura 67). Talvez este novo título fosse mais atraente aos leitores e mais fiel aos objetivos das crônicas, uma vez que o leitor poderia entender o primeiro título como sendo apenas de um tipo de construção, o que poderia não agradar a todos. Com o novo título seguiu um complemento: “ideias sobre construções, arquitetura e arte decorativa interior” (figura 68). O autor foi apresentado da seguinte forma: “Pelo architecto MONTEIRO NETO da Escola Nacional de Bellas Artes” [sic] (figura 69)89. No parágrafo inicial o autor reafirmou que: O interesse de orientar os nossos leitores no que diz respeito a construção de uma casa residencial, leva-nos a apresentar semanalmente um tipo de habitação compatível com a bolsa menos provida, justamente a que mais anseia pela instalação definitiva em uma casa própria. (...) a nós compete dar uma outra modalidade a essas realizações, procurando pelos meios mais práticos e econômicos, encaminhar a todos os que desejarem fazer uma casinha, os preceitos mais em evidência na moderna arte de construir.90 Figura 69 Apresentação do autor do artigo. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 14/09/30, pg. 07. Figura 70 Assinatura do autor junto a ilustração do artigo. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 14/09/30, pg. 07. 88 89 90 “As construções Modernas”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 31/08/1930, pg. 07. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 07/09/1930, pg. 08. Ibidem. 58 O artigo seguiu defendendo a escolha de profissionais qualificados para realização das construções e defendia uma arquitetura nacional, temas estes que serão abordados com mais ênfase nos subcapítulos seguintes. O sucesso alcançado pela coluna semanal, dedicada aos assuntos sobre construção e arquitetura foi rápido, uma vez que na edição de 28 de setembro de 1930 (figura 71), ou seja, um mês após a sua primeira publicação, seguindo agora com o título “Para quem quer construir” até o final de suas edições, passa a ter uma nova atribuição, a de responder cartas dos leitores. A solidariedade, o apoio dos engenheiros e arquitetos, os aplausos de pessoas interessadas no assunto, fazem-nos crer agora no sucesso alcançado por esta nossa secção. De fato, temos em mãos cartas de pessoas que nos solicitam esclarecimentos sobre os projetos que temos publicado, bem como sobre os meios e modos de construir economicamente. Atendendo a esses pedidos, o DIÁRIO DE NOTÍCIAS resolveu dar a esta sua nova secção uma modalidade especial, a de órgão consultivo.91 Figura 71 Ilustração do artigo de 28/09/30. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 28/09/30, pg. 14. Este novo formato aumentou ainda mais o interesse de seus leitores, que após enviarem carta endereçada ao Diário de Notícias, aguardavam nas próximas edições a resposta de suas dúvidas sempre acompanhadas de ilustrações e projetos adaptados com as necessidades de cada um. Provavelmente o trabalho dedicado a estes artigos semanais tenha sido de grande envolvimento, uma vez que a cada semana eram apresentadas ilustrações inéditas com plantas baixas e perspectivas ricamente detalhadas. Mesmo com esta suposta dedicação necessária ao trabalho de cronista, Monteiro Neto ainda acumulava cargo na Intendência Figura 72 Ilustração do artigo de 08/02/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 08/02/31, pg. 12. 91 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 28/09/1930, pg. 14. 59 Municipal, de acordo com a autoria da ilustração da primeira coluna em 24 de agosto de 1930, já citada. A dedicação de Monteiro Neto em atender ao leitor com a informação mais precisa possível foi verificada quando o mesmo solicitou que, quando se tratando de terrenos localizados na capital, que enviassem endereços completos para que os locais dos projetos pudessem ser facilmente identificáveis. Esta solicitação foi feita porque antes de propor uma alternativa de projeto, ele gostava de visitar o local e o entorno próximo. Esta modalidade consultiva da coluna semanal ganhou à importância de um atendimento quase exclusivo de ateliê de projeto a distância, já que o arquiteto interpretava as Figura 73 Ilustração do artigo de 12/04/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 12/04/31, pg. 20. necessidades do leitor, avaliava o terreno onde a obra seria construída e respondia de forma clara associada a detalhadas ilustrações. Esta coletânea de ilustrações provavelmente incentivou Monteiro Neto a publicar, em formato de livro, o material apresentado no Diário de Notícias com o objetivo de propor soluções de projeto e decoração de interiores. Uma nota publicitária chamou a atenção, no final da sua coluna semanal do primeiro dia do mês de fevereiro de 193192, com a seguinte apresentação: “BREVE ‘CASAS DE NOSSA TERRA’ Livro de Sugestões sobre Arquitetura e Arte Decorativa por MONTEIRO NETO Edição da Livraria do Globo” Figura 74 Ilustração do artigo de 26/07/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 26/07/31, pg. 22. 92 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 01/02/1931, pg. 16. 60 Na busca de tal publicação não foi encontrado qualquer vestígio de que ela realmente tenha sido realizada. Esta nota publicitária foi repetida, com frequência aleatória, nas mesmas páginas em que sua coluna era publicada aos domingos, durante os meses de fevereiro e março de 1931. Após estes meses não se tem referências nem desta nota nem tão pouco da obra publicada. Mesmo sem concretizar suas intenções de publicação de um livro, Monteiro Neto continuava demonstrando seu conhecimento teórico sobre arquitetura ao longo dos artigos que foi assinando. Este conhecimento foi demonstrado, em algumas edições, oferecendo ao leitor informações precisas sobre estilos e modelos arquitetônicos. Como exemplo desta afirmação, na edição do Diário de Notícias de 15 de fevereiro de 1931 (figuras 75, 76 e 77), Monteiro Neto apresentou um projeto, por ele ilustrado, com explicações em leitura acessível sobre o estilo por ele empregado: Estamos já na 24º publicação de “Para quem quer construir”, por isto, achamos justo que, depois de termos patrioticamente apresentado vinte e quatro exemplos diferentes de casas brasileiras, apresentemos hoje um exemplo de residência nobre. Trata-se de uma residência subordinada ao sabor de hábitos e costumes nossos, delineada porém, nos moldes da arquitetura francesa. Um estilo Luiz XVI, modernizado, ou pra torná-lo mais moderno ainda: uma residência em estilo Adans. Adans, celebre arquiteto Frances, admirador fervoroso dos motivos arquitetônicos e da arte que marcou o reinado de Luiz XVI, trabalhou com tal abnegação e sentimento espiritual que, após longo tempo de estudos e observações, conseguiu dar ao estilo então predominantemente, uma outra modalidade, e que por sinal, mais simpática.93 Figura 75 Ilustração do artigo de 15/02/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 15/02/31, pg. 16. Em resposta a outro leitor em 10 de maio de 1931, Monteiro Neto, chega ao propósito de apresentar e exemplificar o estilo arquitetônico mais indicado para a personalidade do 93 Figuras 76 e 77 Planta baixa do térreo no artigo de 15/02/31 (esq.). Planta baixa do pav. superior no artigo de 15/02/31 (dir.). Fonte: Jornal Diário de Notícias, 15/02/31, pg. 16. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 15/02/1931, pg. 16. 61 mesmo, sem ao menos conhecê-lo pessoalmente, apenas baseado nas descrições que o próprio envia ao arquiteto por correspondência (figuras 78, 79 e 80). Aí vai o projeto que, segundo nossa opinião, representa o seu desejo, isto dizemos a vista de seu questionário que temos em mãos. Não imagina o nosso distinto leitor como nos é agradável resolver um caso como o seu, quando tudo vem esclarecido de um modo compreensível, o que bem demonstra, não só a maneira precisa com que v. s. aprecia as necessidades da sua família, como deixa claramente a mostra o que de resto é, numa casa, necessário ao conforto de seus hospedes, ou mesmo ao bem estar momentâneo de suas visitas. Desta casa, cujas linhas, de caráter acentuadamente moderno foram inspiradas no estilo gótico alemão, pensamos pouco ter a dizer, pois pelo pouco que sabemos a seu respeito, pensamos ter escolhido um estilo bem ao seu sabor. Se avançamos demais, se fomos indiscretos, perdoe-nos, mas não podemos admitir que um oficial do exército de preferência a um estilo que não revele qualquer coisa de guerreira, de marcial; e o gótico, alemão de preferência é o que mais nos parece compatível com o caráter de quem pelo número de galões que ostenta, deve ser tão austero como o estilo pelo qual optamos. Contudo, como a época, permite, procuramos dar ao estilo mencionado, um cunho bem novo.94 Figura 78 Ilustração do artigo de 10/05/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 10/05/31, pg. 10. Seguem, semanalmente, as crônicas de Monteiro Neto no Diário de Notícias. O sucesso é comprovado pelo grande número de correspondências que são enviadas com o objetivo de ter um projeto ilustrando as paginas das edições de domingo. O que tinha começado como uma forma de informar os leitores sobre como construir, se tornou uma ferramenta de interatividade entre o público leitor e a imprensa escrita num período de muitas transformações. Esta ferramenta não deixava de ser também, um grande instrumento de propaganda para o Figuras 79 e 80 Planta baixa do térreo no artigo de 10/05/31 (esq.). Planta baixa do pav. superior no artigo de 10/05/31 (dir.). Fonte: Jornal Diário de Notícias, 10/05/31, pg. 10. arquiteto, já que em algumas publicações uma nota publicitária informava o endereço profissional de Monteiro Neto. Caso a ilustração, obtida em resposta a solicitação do leitor, 94 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 10/05/1931, pg. 10. 62 não fosse suficiente para tornar o projeto executável, Monteiro Neto salientava que “detalhes necessários a construção do tipo aceito, pode[riam] ser adquiridos diretamente (...), em seu escritório à rua das Flores [95], 1189, nesta capital”.96 Para explicar alguns atrasos nas respostas das solicitações dos leitores, Monteiro Neto justifica-se pelo formato em que as informações deveriam ser apresentadas, como por exemplo, na coluna do dia 17 de maio de 1931. Sr. V. L. – (Bento Gonçalves) Chegou afinal a sua vez. Podemos assegurar que a demora em responder as consultas que nos são feitas é causada tão somente pelo acúmulo de pedidos os quais, muito contra a gosto nosso, somos forçados a responder um a um devido aos desenhos. Ao contrário do que acontece com os assuntos não técnicos, cujas consultas são simplesmente respondidas independente de ilustrações; o assunto de que tratamos absolutamente não dispensa uma demonstração gráfica o que torna a resposta mais dispendiosa. Por essa razão não nos é possível dar de uma só vez, mais que uma solução completa.97 Figura 81 Ilustração do artigo de 17/05/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 17/05/31, pg. 18. Assim seguiram as publicações das crônicas sobre construção e arquitetura de Monteiro Neto. Além da interatividade, respondendo diretamente ao leitor que solicitava a ajuda na hora de construir, este espaço foi utilizado para escrever sobre: a arquitetura que surgia para representar a sociedade “moderna”; sobre formas de construir uma casa econômica; urbanismo e legislação; arquitetura neocolonial e a defesa da contratação de profissional qualificado para execução de uma residência. Estes assuntos serão amplamente abordados nos subcapítulos seguintes. 95 Atual Rua Siqueira Campos. “Começa na Rua General Portinho e termina na Av. Borges de Medeiros”. FRANCO, 2006, pg. 389. 96 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 02/08/1931, pg. 20. 97 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 17/05/1931, pg. 18. Figura 82 Plantas baixas da crônica de 17/05/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 17/05/31, pg. 18. 63 Para resumir os objetivos destas crônicas e o sucesso alcançado por elas, cabe citar as próprias palavras do arquiteto publicadas na edição do Diário de Notícias de 21 de agosto de 1931. Quando iniciamos esta seção de sugestões sobre os meios e modos de construir uma casa, longe estávamos de supor que o assunto fosse de tão generalizado interesse. Isoladamente, esta seção, possui uma documentação autentica da popularidade alcançada ultimamente, documentação essa, representada por mais de setenta cartas recebidas durante um ano, o que equivale a dizer-se que recebemos semanalmente um pedido de indicação sobre a maneira de construir uma casa. Gente de todas as posições sociais recorre as nossas instruções. Mas, é que o nosso povo para gaudio da nossa civilização, já compreende que fazer uma casa por mais simples que ela pareça, não é coisa tão fácil, ou de tão pouca importância, que se possa confiar ao primeiro mestre de obras que aparece.98 Figura 83 Ilustração do artigo de 23/08/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 23/08/31, pg. 20. Uma grande bandeira levantada por Monteiro Neto foi a de projetar a partir de “linhas modernas” que, segundo ele, representariam as novas tendências da sociedade da época. As fachadas sem ornamentação, a projeção de sombras e construções que primavam por condições mínimas de higienização eram adjetivos que seriam compatíveis com edificações econômicas e funcionais. 98 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 17/05/1931, pg. 18. 64 2.2. A arquitetura moderna como solução estética e funcional Dos diversos estilos arquitetônicos apresentados por Monteiro Neto nas suas publicações no Diário de Notícias, a arquitetura moderna teve maioria de espaço nas ilustrações e textos99. Tendo trabalhado e vivido no Rio de Janeiro entre os anos de 1916 e 1925, Monteiro Neto certamente estaria ciente dos acontecimentos da época em relação aos debates arquitetônicos e sociais, visto o engajamento e conhecimento transmito por seus textos já em Porto Alegre. Este convívio com as transformações que a capital do país vinha sofrendo, provavelmente tenha influenciado o arquiteto na sua defesa da arquitetura moderna como uma nova forma de projetar que deveria ser divulgada e difundida. O modernismo, inicialmente com mais intensidade nas artes do que na arquitetura, já abria seus caminhos a partir da semana de arte moderna de 1922 em São Paulo. Este foi um movimento de artistas e intelectuais que, entre os dias 13 a 17 de fevereiro daquele ano, realizaram uma mostra de pintura, escultura, poesia, literatura e música. Em 1925 dois artigos na grande imprensa registravam os primeiros discursos de fundo moderno publicados no Brasil. O primeiro dele, publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 15 de outubro, era uma carta do jovem brasileiro Rino Levi (1901-1965) enviada de Roma (onde cursava a Real Escola Superior de Arquitetura), intitulada “A arquitetura e a Estética das Cidades”. Nela, Levi fazia uma apologia da realidade 99 Figura 84 Ilustração e plantas baixas do artigo de 05/04/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 05/04/31, pg. 08. Do total dos 71 artigos publicados pelo jornal Diário de Notícias foi possível identificar a frequente incidência sobre os seguintes assuntos: 15 artigos sobre a arquitetura moderna; 12 artigos sobre os objetivos do jornal e do autor com as colunas sobre arquitetura; 9 artigos sobre a correta contratação de profissionais habilitados para a construção; 9 artigos sobre urbanismo e legislação; 8 artigos sobre casas econômicas; 8 artigos sobre arquitetura colonial; 5 arigos sobre “bangalow” e 5 artigos sobre detalhes de construção. Tais assuntos não eram os únicos abordados por Monteiro Neto, porém norteavam seus textos. 65 moderna chamando a atenção para os novos materiais e “aos grandes progressos conseguidos nestes últimos anos na técnica da construção e sobretudo ao novo espírito que reina em contraposição ao neoclassicismo, frio e insípido”. Clamava ele pela “praticidade e economia, arquitetura de volumes, linhas simples, poucos elementos decorativos, mas sinceros e bem em destaque, nada de mascarar a estrutura do edifício para conseguir efeitos que no mais das vezes são desproporcionados ao fim, e que constituem sempre coisa falsa e artificial”. (...) No mês seguinte, em 1º de novembro, o Correio da Manhã do Rio de Janeiro publicava o artigo “Acerca da Arquitetura Moderna” do arquiteto russo emigrado para o Brasil, Gregori Warchavichik (1896-1972). Originalmente publicado em italiano num jornal da colônia italiana em junho de 1925, sob o título “Futurismo?”, o texto era um elogio da racionalidade da máquina, do “princípio da economia e comodidade” e da negação do uso dos estilos do passado, salvo no que eles contribuam pelo desenvolvimento de um “sentimento estético”.100 Analisando as crônicas de Monteiro Neto no Diário de Notícias, é possível observar um discurso em muito semelhante ao de seus antecessores paulistas. Desta forma, as ideias inicialmente disseminadas em São Paulo e Rio de Janeiro estavam agora sendo divulgadas Figura 85 Ilustração do artigo de 11/01/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 11/01/31, pg. 16. na capital gaúcha através do arquiteto paranaense. No artigo publicado em 11 de janeiro de 1931 (figura 85), Monteiro Neto cita o nome do arquiteto francês Le Corbusier para exemplificar o projeto apresentado para ilustrar seu discurso. Segundo Monteiro Neto: “Se Corbusier, notável arquiteto e urbanista francês, vem fazendo guerra tremenda aos escultores; é apologista das linhas simples, dos movimentos, redundando em sombras. Segundo sua abalizada opinião, há mais arte nas linhas movimentadas que no próprio movimento escultural, é questão de modo de ver; entretanto, como todos nós temos vinculado a ideia, o espírito de barateamento, da economia, devemos Figura 86 Ilustração do artigo de 19/07/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 19/07/31, pg. 20. 100 SEGAWA, 2010, pg. 43 e 44. 66 concordar com Le Corbusier”101. Monteiro Neto defende este “novo molde arquitetural”, idealizado por Corbusier, como sendo racional, prático e econômico. Porém, de acordo com estes princípios, segundo Monteiro Neto, muitas vezes acabavam sendo construídas casas sem nenhum tratamento estético e até mesmo de mau gosto. A busca pela economia levaria, muitas vezes, a “ideia de meias-águas, barracões e puxados de caráter provisórios, e por isso nem todos ao fazer uma casa quer[iam] incluí-la nesta categoria”102. Para desmistificar esta tendência, na sua crônica do dia 18 de janeiro de 1931 (figura 87), o arquiteto apresentou a ilustração de uma pequena casa que acomodaria em pequenos ambientes todas as necessidades de um casal num espaço bastante reduzido, porém com uma distribuição interna que privilegia os espaços de uso comum tornando-os funcionais e práticos, ou seja, situações que até então não caracterizam as prioridades de uma residência. Segundo o próprio arquiteto “trata-se de uma casa econômica moldada em limites ultramodernos”103. O tema da ornamentação e mobiliário interno também é abordado por Monteiro Neto. O arquiteto preocupa-se, além de apresentar soluções de fachada nos preceitos modernistas, em exemplificar como seria a casa de uma família moderna. Segundo ele “o homem moderno (...), já se vê inclinado a aceitar um ambiente mais leve, mais condizente com a Figura 88 Planta baixa que exemplifica a fachada do artigo de 18/01/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 18/01/31, pg. 16. Figura 87 Ilustração do artigo de 18/01/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 18/01/31, pg. 16. 101 102 103 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 11/01/1931, pg. 16. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 18/01/1931, pg. 16. Ibidem. 67 época, adotando os preceitos da arte nova; enfim, já se vê deixando seduzir pelos aspectos facilmente mudáveis”104. Em resposta a solicitação de um leitor em 29 de março de 1931 (figura 89), que em sua carta faz referência a arquitetura moderna, Monteiro Neto apresenta e justifica o projeto publicado dando ênfase à solução para a fachada. Si não mais lisa ficou a fachada, foi devido a pouca frente e altura, pois, a arquitetura lisa como se vem praticando na Europa exige muito movimento de linhas, e estes recursos só oferecem os grandes edifícios, ou melhor, as obras desenvolvidas sobre áreas grandes; está visto que um edifício de dez metros de frente e com vinte pavimentos também não ofereceria ao arquiteto, margem para o desenvolvimento de um estudo perfeito.105 Por vários artigos o arquiteto classificou esta nova arquitetura surgida na Europa como um “novo molde arquitetural”, ou seja, um novo modo de pensar e projetar, diferente de todos os estilos até então utilizados. Para justificar suas afirmações, Monteiro Neto usa como exemplo o Palácio dos Doges em Veneza, “onde a arte da época se espraiou em toda a plenitude, tornando-o pela sua beleza arquitetônica, um dos monumentos mais admirados do mundo [porém] se fizermos uma abstração completa de sua decoração, nada nos restará senão um caixão apoiado por uma colunata de arcos, tal a ausência de movimento de planos”106. Para o arquiteto era tarefa bastante difícil utilizar apenas planos retos que por si só deveriam Figura 89 Ilustração e plantas baixas do artigo de 29/03/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 29/03/31, pg. 16. compor, junto com a projeção de sombras, elementos suficientes para harmonizar a fachada sem a utilização dos ornamentos. Segundo Monteiro Neto: 104 105 106 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 01/02/1931, pg. 16. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 29/03/1931, pg. 16. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 05/04/1931, pg. 08. 68 Devemos notar que vamos substituir a escultura pelas linhas retas, e que estas linhas devem ser iluminadas, do mesmo modo como são os ornatos, segundo o valor de seus planos; não teremos mais a cornija a projetar uma sombra horizontal ao longo de uma fachada, mas teremos esta sombra projetada segundo o movimento dos planos da fachada, teremos as marquises de concreto, as portas de umbrais aprofundados, e enfim uma série interminável de meios de provocar a sombra harmoniosa das fachadas, sem contudo quebrar a harmonia e o bom senso do interior.107 Ainda neste artigo, Monteiro Neto cita a exposição de habitações econômicas realizada em outubro de 1927 em Stuttgart, Alemanha108 como um evento que “apresentou uma série de casas de habitações coletivas e isoladas moldadas na nova escola”109. O fato de o arquiteto apresentar como referência tal exposição demonstra que o mesmo estava sintonizado com os acontecimentos relevantes sobre esta nova arquitetura mesmo fora dos limites locais e até mesmo nacionais. Em 3 de maio de 1931, Monteiro Neto mais uma vez apresenta uma ilustração com perspectiva (figura 91) e plantas baixas (figura 93), como o fazia sempre, de uma residência de dois pavimentos que além de apresentar uma fachada neste novo “molde”, se destaca pela organização espacial interna110. Figura 90 Ilustração e plantas baixas do artigo de 05/07/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 05/07/31, pg. 20. 107 108 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 05/04/1931, pg. 08. Em 1927, a Werkbund alemã organiza sua segunda exposição em Stuttgart; Mies van der Rohe, vicepresidente, obtém o encargo de arranjar, além dos habituais pavilhões provisórios, um bairro de moradias permanentes na periferia da cidade, o Weissenhof Siedlung. O plano é traçado pelo próprio Mies, pondo em prática alguns princípios até então desenvolvidos teoricamente – independência da construção das margens das ruas, separação entre o trânsito de carros e pedestres – e interpretando, com comedida sensibilidade, as sugestões do terreno em declive; os melhores arquitetos de toda a Europa são chamados a construir as casas: os alemães P. Behrens, J. Frank, R. Döker, W. Grópius, L. Hilbertseimer, H. Poelzig, A. Rading, H. Scharoun, A. Schenck, B. e M. Taut, além do próprio Mies; os holandeses J. J. P. Oud e M. Stam,; o francês Le Corbusier e o belga V. Bourgeois. Ver BENEVOLO, 2004, pg. 456 a 458. 109 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 05/04/1931, pg. 08. 110 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 03/05/1931, pg. 11. 69 Figura 91 Ilustração do artigo de 03/05/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 03/05/31, pg. 11. Figura 93 Plantas baixas do artigo de 03/05/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 03/05/31, pg. 11. Neste projeto a distribuição interna é “pitoresca”, ou seja, busca maior liberdade de arranjo em planta. A soltura da edificação no terreno contribui para esta organização. As combinações geométricas são interessantes, utilizando formas circulares, semicirculares e retangulares para a formação dos ambientes. Esta geometrização interna se reflete diretamente na forma externa intensificada pela utilização de terraços. A diversidade Figura 92 Ilustração do artigo de 14/06/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 14/06/31, pg. 17. volumétrica é alcançada com o abandono de qualquer ornamentação e a exploração do telhado plano. No projeto ilustrado no artigo de 5 de julho do mesmo ano (figura 90), Monteiro Neto faz referência a alguns detalhes de acabamento que seriam importantes para caracterizar a arquitetura neste novo estilo, como por exemplo o uso de esquadrias de ferro, pois “o ferro 70 apresenta um aspecto mais leve, mais compatível com linha geral da casa, que mostra ser uma caixa de cimento armado”111, o que de fato pode ser visto repetidamente na representação das esquadrias das demais ilustrações que seguem estas características. No artigo publicado no dia 30 de agosto de 1931 (figura 94), Monteiro Neto faz uma ampla abordagem sobre o assunto da arquitetura moderna, inclusive lançando algumas criticas ao arquiteto Warchavichik que teve suas ideias publicadas no jornal Correio do Povo112 no mesmo período. O espírito do conforto e do bem estar modernos vem eliminando das casas residenciais principalmente, os elementos julgados supérfluos como sejam os ornamentos esculturais, internas e externas tão exageradamente usadas. Está visto que a arquitetura clássica nunca abrirá mão dos adornos que constituem o característico acentuado de seus estilos. A arquitetura moderna porém, se esquiva do tradicionalismo para apoiar-se tão somente em componentes positivos. Com ela desaparece de todo, a necessidade do ornato como fator estético. (...) Uma transformação radical nas fachadas ao ponto de se ter janela de dois metros de peitoril, ou escadas de cimento armando feitas pelo lado de fora para economizar o espaço interno, e outros detalhes construtivos introduzidos na arquitetura moderna, ao que nos parece forçar-nos-ia a modificar e de tal sorte o dispositivo interno de nossas casas, que, ao habitar uma casa nova, cinco ou dez pessoas ver-se-iam na contingência de adotar novos hábitos de vida. Esses novos hábitos não constituíram por certo, hábitos modernos, e sim uma imitação forçada de costumes de outras gentes noutras terras. A oito dias atrás o Sr. Warchavichki arquiteto eslavo residente em São Paulo, explanou pelas colunas do popular “Correio do Povo”, algumas ideias sobre a arquitetura moderna. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 05/07/1931, pg. 20. Monteiro Neto faz referência ao artigo publicado no Correio de Povo em 23 de agosto de 1931 com o título “A arquitetura moderna”. 112 111 Figura 94 Ilustração e plantas baixas do artigo de 30/08/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 30/08/31, pg. 13. 71 Concordamos “in totum” com as ideias do ilustre colega, lamentando, entretanto, que ele não seja brasileiro e portanto não compreenda o espírito das nossas necessidades; conhecemos algumas obras do talentoso arquiteto, e vemos em todas elas a falta do espírito da nossa nacionalidade, sem porque esta extensão imensa do território vasto, é por enquanto Brasil, e os seus hábitos, os seus costumes, poderão ser modificados naturalmente, com o evoluir dos tempos, nunca de pé pra mão, para satisfação do primeiro estrangeiro que chega. Como dissemos acima, concordamos com as ideias do ilustre arquiteto porque elas representam ideias novas, discordamos entretanto, da sua prática, porque ela representa uma falha na interpretação do meio ambiente.113 Seguindo a linha de defesa à arquitetura moderna, Monteiro Neto publica mais uma vez, em 20 de setembro de 1931, suas ideias sobre este novo “molde arquitetural”, mais Figura 95 Ilustração do artigo de 02/08/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 02/08/31, pg. 20. especificamente sobre as relações do interior com o exterior, e demonstra novamente estar sintonizado com as publicações e movimentos estrangeiros sobre este estilo. As casas modernas não se caracterizam tão somente pela linha exterior das fachadas e sim, também, pelo traçado de seus dispositivos internos. Dificilmente se poderá compor uma fachada em linhas modernas para adaptá-la a uma casa velha ou nova, dividida sob uma orientação antiquada. Ao estudar a divisão de uma casa, temos em vista, os partidos dos quais poderemos tirar proveito para a projeção da fachada, o que equivale a dizer-se que ao estudar uma planta devemos estar compenetrados do tipo ou do estilo escolhido para a obra. (...) O fato de estarmos num extremo do Brasil, a muitas milhas da capital do país, e a outras tantas das capitais europeias não quer dizer que não possamos estar ao corrente do que vai pelo velho mundo. Um intercâmbio intelectual nos proporciona os meios de acompanhar a obra dos arquitetos modernistas da Europa e da América Latina. Ainda agora, há um mês, a “Deutsche Bauzeitung”, de Berlim, cujo número de agosto, temos em mãos, publica uma série de projetos de habitações construídas em Milão pelo Grupo Miar. Figuras 96 e 97 Planta baixa do térreo da ilustração do artigo de 02/08/31 (esq.). Planta baixa do pav. superior da ilustração do artigo de 02/08/31 (dir.). Fonte: Jornal Diário de Notícias, 02/08/31, pg. 20. 113 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 30/08/1931, pg. 13. 72 Miar, é a abreviatura com que se apresenta a arena da arte de construir, um grupo de jovens arquitetos italianos que forma o “Movimento Italiano per l’Arquitetura Razionale”; esse grupo, atendendo as circunstâncias da crise econômica que atravessa o seu país, resolveu lançar um novo molde arquitetural baseado na fatura dos professores Otto e Le Corbusier. Dando este passo, os jovens italianos abandonam o seu passado, esquecem o classicismo, descreem da eficácia, no momento, dos ensinamentos de Miguel Ângelo, de Palladio e de tantos outros. Que esta transformação se acentue de dia a dia em outros países, que o espírito moderno se desenvolva nas Américas, onde o classicismo é praticado pela mania da conservação, não é de admirar, mas que a tradicionalíssima Itália, esteja formando com os liberais da arte, é de pasmar. E o mais admirável é ainda o saber-se que o Grupo Miar, ao iniciar a sua obra modernista, escolheu para patrono o Sr. Mussolini, que foi quem descerrou a cortina sob a qual se ocultavam as casas modernistas construídas pelos novos da Itálica. Diante disto, pensamos, não nos considerar deslocados, toda vez que procuramos incentivar a arte de construir, por sistemas e aspectos ultramodernos.114 Figura 98 Ilustração do artigo de 15/01/33. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 15/01/33, pg. 05. Fato que merece destaque ainda neste mesmo artigo (20 de setembro de 1931) é a ilustração apresentada por Monteiro Neto para respaldar suas ideias. A perspectiva elaborada para atender a solicitação de um leitor (figura 101), como era de costume e um dos propósitos dos artigos do arquiteto, é muito semelhante a um projeto aprovado na Prefeitura de Porto Alegre (figura 102), o que nos leva a crer que de fato alguns projetos elaborados para o jornal serviram como referência para obras aprovadas e construídas. Esta divulgação das ideias de construções modernas, preconizada por Monteiro Neto e que ainda seguiram por mais algumas colunas, abriram o campo das discussões e debates direcionados à arquitetura. Figura 99 Ilustração do artigo de 19/02/33. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 19/02/33, pg. 12. 114 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 20/09/1931, pg. 14. 73 Figuras 101 e 102 Ilustração do artigo de 20/09/31(esq.). Perspectiva que ilustra o processo 21.077, do microfilme nº 49, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre aprovado em dezembro de 1931 (dir.). Fonte: Jornal Diário de Notícias, 20/09/31, pg. 16 e Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.077 do microfilme nº 49. O ano de 1932 trouxe outro divulgador e cronista de arquitetura, que escreveria no jornal Figura 100 Imagem de parte do primeiro artigo de Miranda Netto no jornal Correio do Povo. Fonte: Jornal Correio do Povo, 25/08/32, pg. 12. concorrente, o Correio do Povo. O engenheiro Antônio Garcia Miranda Netto (1903-1988) inaugurou uma seção chamada de “Arte de Construir” (figura 100), porém com um conteúdo muito mais radical na defesa do que chamava de “arquitetura funcionalista”115. A ilustração do seu primeiro artigo – prefeitura de Hilversum (1928-31), na Holanda, obra de W. M. Dudok, importante arquiteto modernista holandês – reflete a familiaridade do autor com as obras modernas recentes na Europa e sua afinidade estilística com elas. 115 CARREIRA, 2005, pg. 106. 74 2.3. O neocolonial como bandeira de uma arquitetura nacional Da mesma forma que Monteiro Neto era um defensor de uma arquitetura mais simples em ornamentação e principalmente ligada a fatores de economia e higiene, características alinhadas com o discurso de uma arquitetura moderna, o estilo neocolonial era, para este arquiteto, a busca de uma arquitetura com a marca nacionalista em repúdio aos estrangeirismos. Segundo Carreira: A despeito da clara associação a princípios de vanguarda, Monteiro Neto publicou em sua coluna projetos inspirados nos mais variados estilos. Dentre eles, nota-se a preferência por dois em especial: o Neocolonial, que desde a primeira crônica seria defendido por ele como uma alternativa nacional ao classicismo e uma arquitetura moderna nacionalizada, que surgiria com o decorrer das publicações, principalmente a partir de 1931. É importante ressaltar que o arquiteto não deixaria o Neocolonial de lado para defender a arquitetura moderna, as crônicas abordando o assunto aparecem mescladas durante todo o período de publicações da coluna.116 Figura 103 Ilustração do artigo de 07/09/30. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 07/09/30, pg. 08. Segundo Yves Bruand: “Esse movimento [o Neocolonial] foi, na realidade, a primeira manifestação de uma tomada de consciência, por parte dos brasileiros, das possibilidades de seu país e da sua originalidade”117. Nesta mesma linha Monteiro Neto defendia este estilo como uma arquitetura que representasse as aspirações locais repudiando a cópia de modelos prontos vindos de outras culturas e realidades geográficas e climáticas diferentes das brasileiras. 116 117 CARREIRA, 2005, pg. 85. BRUAND, 2005, pg. 52. Figura 104 Planta baixa da ilustração do artigo de 07/09/30. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 07/09/30, pg. 08. 75 Já na primeira edição de sua coluna com o nome “Para quem quer construir” em 7 de setembro de 1930 (figuras 103 e 104), após as duas primeiras inserções intituladas “As construções modernas”, Monteiro Neto apresenta ao leitor, o que seria para ele o estilo neocolonial, a partir de uma casa “bem brasileira”118. Neo-colonial é um estilo que já está definitivamente implantado, é o estilo de arquitetura brasileira. Dizemos -neo- porque já é tempo de mostrarmos o que é nosso, estudando os motivos da nossa flora, da nossa fauna, dos nossos costumes e de nossa história, aplicando-os como elementos decorativos, e não nos limitar a aplicação de motivos de arquitetura trazidos por D. João VI, ou mais diretamente, a prosseguir no classicismo afrancesado de Montigny[119], lindos e imponentes, reveladores do apuro de uma arte impecável, porém, insuportáveis hoje quando todos ansiamos pelas ideias novas, pela definição de uma arte que, sendo nova, seja também nossa.120 Este estilo de fato já vinha sendo desenvolvido desde o ano de 1914, a partir de uma Figura 105 Ilustração do artigo de 15/03/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 15/03/31, pg. 14. campanha em favor do “estilo colonial brasileiro” liderada pelo arquiteto português Ricardo Severo, dando como exemplo a construção de sua própria casa e de alguns clientes atraídos por suas ideias121. Além dele, destaca-se também a figura de José Mariano Filho. Segundo Bruand: A volta às fontes da arquitetura “nacional” oferecia um meio de afirmar em público a personalidade brasileira e a maturidade do país. Assim, bastou que surgisse no Rio um defensor resoluto da arte neocolonial, dotado de vigorosa paixão aliada a um dinamismo sem precedentes e cuja fortuna pessoal lhe dava grandes meios de ação, para que o movimento neocolonial se espalhasse como rastilho de pólvora. Esse notável defensor chamava-se José Mariano Filho.122 118 119 Figura 106 Planta baixa da ilustração do artigo de 15/11/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 15/11/31, pg. 06. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 07/09/1930, pg. 08. Referente ao arquiteto francês Granjean de Montigny, chegado ao Brasil em 1816 com a Missão Artística Francesa. 120 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 07/09/1930, pg. 08. 121 BRUAND, 2005, pg. 53. 122 BRUAND, 2005, pg. 54 e 55. 76 Carreira aponta um provável contato próximo entre Monteiro Neto e Mariano Filho, já que o primeiro atuou no meio arquitetônico carioca nos anos 1920, tendo participado da criação em 1924 do Instituto Central de Arquitetos, de cuja diretoria tomou parte o professor da ENBA José Mariano Filho. Sendo assim, é provável que Monteiro Neto há tempos compartilhasse do ideário estético de inspiração nacionalista.123 Na tentativa de conscientização do seu público sobre a importância deste estilo como uma forma de recuperar as raízes arquitetônicas esquecidas ou pouco divulgadas, Monteiro Neto segue publicando em favor do “colonial da época, ou modernizado”, como é possível exemplificar na coluna do dia 16 de novembro de 1930 (figuras 107 e 108). As suas linhas geométricas, os seus adornos são a expressão do sentimento espiritual dos nossos colonizadores, sob a influência do meio ambiente; e, se, em suas linhas gerais, o colonial da época apresentava falhas de estética, era devido á pobreza de elementos materiais locais; mas, isso só acontecia quando as obras eram de custo relativamente reduzido e se destinavam a fins puramente residências, pois como se sabe, a arte colonial conquistou foros de extrema grandiosidade. Haja vista a obra formidável de Antônio Francisco Lisboa (o aleijadinho) que durante quase dois séculos ficou encerrada nos templos religiosos espalhados por todo o Brasil, e que só agora está sendo trazida a vulgaridade. Porque razão levamos tanto tempo nesta indolência abominável, e só agora nos lembramos de torná-la conhecida?124 Figura 107 Ilustração do artigo de 16/11/30. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 16/11/30, pg. 10. A menção ao Aleijadinho mostra que Monteiro Neto o insere numa ampla definição de arquitetura colonial, da qual pretende fazer uso historicista. No artigo publicado em 23 de novembro de 1930 (figuras 112, 113 e 114), Monteiro Neto faz uma severa crítica a falta de critérios, tanto por parte de alguns construtores e até mesmo de certos proprietários, chegando a defender a criação de uma censura a fim de se evitar os 123 124 Figura 108 Planta baixa da ilustração do artigo de 16/11/30. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 16/11/30, pg. 10. CARREIRA, 2005, pg. 87. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 16/11/1930, pg. 08. 77 absurdos construtivos que denegriam o contexto urbano com algumas aberrações, defendendo mais uma vez a adoção de um estilo nacionalista. (...) precisamos compreender que do mesmo modo, como existe uma linha típica de arquitetura, a qual pelos seus característicos, pela sua ambientação, e, mesmo, pelo sentimento espiritual predominante, reconhecemos como sendo alemã, russa ou austríaca, deve existir uma outra pelas mesmas razões, cuja brasileira. Devemos considerar que oitenta por cento dos prédios projetados e construídos nestes últimos anos, nesta capital obedecem a tipos ou estilos estrangeiros, porém deturpados; se fossem puros, definidos, o mal não seria tão grande. Não representa isto para o estrangeiro que nos visite, uma inferioridade de compreensão estética? De qualquer modo porém, seja o estilo apurado ou não, precisamos nos convencer de que a linha predominante no aspecto urbano das nossas cidades deve ser a brasileira, mormente quando se tratar de obras monumentais. Parece, a primeira vista, difícil resolver a questão; não o é, entretanto. Basta que cada municipalidade do Estado, a começar pela capital, institua um serviço de censura estética, o qual não se limitará, naturalmente, a apontar as falhas da concepção, mas a apresentar sugestões novas, cingindo-se ao padrão estabelecido para cada tipo de habitação. Segundo a zona da cidade e tendo em vista, sobre tudo, o predomino do espírito nacional no conjunto das fachadas. Esse trabalho de censura, é claro, deverá ser feito por brasileiros natos em terceira geração, a fim de evitar o efeito da influência da descendência estrangeira. Deste modo poderíamos iniciar uma campanha de nacionalismo, acolhendo entretanto, como temos acolhido, os estrangeiros capazes e cultos, mas repelindo energicamente os intrujões que desassombradamente procuram desvirtuar o nosso patrimônio artístico.125 Figura 109 Ilustração do artigo de 22/03/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 22/03/31, pg. 18. Provavelmente com o objetivo de não esgotar um determinado assunto ao longo de um período de publicações, Monteiro Neto em seus textos ora fala sobre projetos modernos, construtores, legislação e construções econômicas, mas retoma periodicamente a defesa do estilo nacional. 125 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 23/11/1930, pg. 09. 78 A publicação do dia 13 de dezembro de 1931 (figura 110) é outro exemplo desta defesa, apresentando, como material ilustrativo, detalhes de esquadrias, que até então não tinham aparecido com tal riqueza de informações, junto com uma foto de uma residência construída a partir de seu projeto publicado no dia 23 de novembro de 1930 (figura 111). Este fato demonstra que seus artigos, direcionados as necessidades dos leitores, repercutiram a ponto de se tornarem obras construídas. A arquitetura colonial das primitivas obras de vulto que se erguem no Brasil é para muitos, uma arte que teve os seus dias áureos numa época em que tudo era, naturalmente, colonial. E hoje que tudo é novíssimo, moderníssimo, nem todos creem no estado de metamorfose em que ela se encontra. De muitos países nos vem espécimes de arquitetura colonial, e, por isso, uns apreciam o colonial mexicano, outros preferem o americano ou o espanhol. Raramente, porém, lembram-se de que possuímos os mesmos motivos, as mesmas fontes de inspiração, que são os templos religiosos onde aquela época imperou a arte barroca. Esquece-se muita gente do quanto é capaz a nossa mentalidade artística, hoje tão desenvolvida. A arquitetura colonial que nos vem de outras terras, não é senão um molde regional. Por isso, devemos apurar o nosso dando-lhe um caráter mais brasileiro. Devemos fazer deste molde arquitetural, ainda em esboço, um estilo definido. A nossa sensibilidade, a nossa educação artística tão eficientemente desenvolvida, apresenta-nos oportunidades para dar esse passo. A predileção por outros estilos arquitetônicos é perfeitamente razoável. Há admiradores das ordens clássicas, como existem adeptos dos estilos típicos que marcam épocas ou representam regiões de outros países. Não é justo, pois, que nos entreguemos ao estudo da arquitetura colonial de outras terras, quando a nossa está por desenvolver.126 Figura 110 Ilustração do artigo de 13/12/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 13/12/31, pg. 04. 126 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 13/12/1931, pg. 04. 79 Estas manifestações em defesa do estilo neocolonial vão se refletir na obra de Monteiro Neto. Sua produção arquitetônica terá casas no estilo que faz referência ao Brasil colônia, mas também um número considerável de casas projetadas no estilo que ele mesmo define como colonial espanhol127, ou como será abordado mais adiante, no estilo californiano, provavelmente devido à demanda da clientela principalmente entre os anos de 1943 e 1951. Em nível nacional, Yves Bruand faz um balanço do que foi o movimento neocolonial, e que acaba refletindo também fora do eixo Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, e conclui que o mesmo “foi bastante positivo, apesar da contradição que o condenava desde a origem”.128 É verdade que, no conjunto, ele foi essencialmente um retorno um tanto nostálgico ao passado. O fato de ter empregado de modo diferente elementos antigos ou mesmo de ter imaginado algumas variantes originais não basta para dar a esse estilo um verdadeiro caráter criativo, uma real independência; as tendências arqueológicas predominam nitidamente. Havia além de tudo, por parte da maioria dos arquitetos, um desconhecimento dos princípios básicos e da diversidade da arquitetura luso-brasileira dos séculos XVII e XVIII; não se fez diferenciação entre a arquitetura laica e a religiosa, nem se levou em conta as várias diferenças regionais existentes. A preocupação predominante com a forma decorativa levou a tomar de empréstimo e a misturar sem discernimento o repertório utilizado nas construções mais ricamente ornamentadas, isto é, nas igrejas da Bahia e de Pernambuco, para aplicá-lo a edifícios de finalidade totalmente diversa. Dessa confusão entre os gêneros e desse arbítrio resultava uma inevitável artificialidade.129 Figura 111 Foto publicada no artigo de 13/12/31 a qual é o resultado da ilustração do artigo de 23/11/30 do mesmo jornal mostrada na página seguinte. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 13/12/31, pg. 04. 127 No Brasil, os estilos "missões espanholas" ou "californiano" são comumente identificados com a arquitetura neocolonial. Embora o discurso de identidade local e alguns elementos de linguagem sejam similares, é notório que o movimento neocolonial no Brasil precede os estilos acima referidos e deles se distingue pela referência exclusiva à arquitetura do Brasil colônia. 128 BRUAND, 2005, pg. 58. 129 BRUAND, 2005, pg. 58. 80 2.4. A tentativa de conscientização contra a banalização das construções De maneira a orientar seus leitores sobre a forma correta de construir, o que de fato era um dos objetivos de seus textos, Monteiro Neto apresentava severas críticas a contratação de construtores despreparados para a execução das construções. Para ele, o fato de uma construção ser econômica não estava relacionado com uma execução barata, sem critérios de qualidade. A procura por engenheiros, arquitetos e construtores idôneos deveria ser sempre a primeira opção, pois os conhecimentos estilísticos, técnicos e até mesmo de bom gosto de certos profissionais ficariam aquém na hora de executar uma boa construção. Em sua coluna publicada no dia 23 de novembro de 1930 (figuras 112, 113 e 114), Monteiro Neto destaca a falta de preparo e de conhecimento de certos “mestres de obras” que nem ao menos sabem identificar características arquitetônicas básicas, classificando-os como “de mentalidade visivelmente inferior, a ponto de não distinguir o capitel Coríntio do Compositivo”130. Outra questão relevante levantada por Monteiro Neto é que estes mesmos profissionais muitas vezes intitulam-se arquitetos ou engenheiros e elaboram “planos construtivos” que são até mesmo aprovados pela municipalidade, sem ao menos terem competência ou estudo para tanto. Monteiro Neto destaca a importância da contratação de um profissional qualificado, pois de outra forma, o proprietário, que a muito custo consegue construir sua casa, poderá não se Figuras 113 e 114 Planta baixa do térreo no artigo de 23/11/30 (esq.). Planta baixa do pav. superior no artigo de 23/11/30 (dir.). Fonte: Jornal Diário de Notícias, 23/11/30, pg. 09. Figura 112 Ilustração do artigo de 23/11/30. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 23/11/30, pg. 09. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 23/11/1930, pg. 09. O termo “Compositivo” deve se referir ao capitel compósito dentre os cinco gêneros de colunas clássicas. 130 81 sentir a vontade em seu próprio lar, visto que o projeto não levou em conta hábitos e costumes de seus moradores. Em 14 de dezembro de 1930 (figura 115) Monteiro Neto escreve: Fazer uma casa, é contrair um grande compromisso na vida, e assumir uma das maiores responsabilidades sociais; por isso, deve constituir um crime, levar a efeito tão alto empreendimento, independente da orientação de um profissional. A organização do projeto de uma casa, por pequena e modesta que seja, é de uma complexidade tal, que, para muitos deve parecer exagero. Figura 115 Ilustração do artigo de 14/12/30. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 14/12/30, pg. 16. Para que tal não pareça, anotemos, aqui, alguns pontos a serem observados: o espírito de observação psicológica deve ser tido como elemento essencial; daí a necessidade de o arquiteto conhecer seu cliente, na intimidade, onde observar seus hábitos e costumes; ver com seus próprios olhos como vive a família e qual a parte da casa mais habitada durante o dia; se os filhos são pequeninos, observar a sua predileção por este ou aquele brinquedo ou desporto; qual o sexo predominante na família e, se os filhos são grandes, de mais de quinze anos, quais as suas ocupações. Nestas observações, devem ser levados muito em conta, a educação doméstica e o grão de cultura intelectual dos componentes de cada família, a começar pelos pais.131 Desta maneira, Monteiro Neto tenta convencer o leitor de suas crônicas da importância que tem o profissional qualificado na elaboração de um projeto, pessoa esta que para muitos seria apenas o executor de uma representação gráfica, ou seja, apenas um desenhista. Esta associação remeteria apenas ao desempenho artístico do autor e não o seu conhecimento arquitetônico, construtivo, social e até mesmo psicológico. As tentativas de sensibilização dos leitores para a questão da contratação de um profissional com capacidade tanto para o projeto como para a construção de uma edificação seguem intercalados com outros assuntos por todo o período em que o Diário de Notícias publica as Figura 116 Ilustração do artigo de 25/01/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 25/01/31, pg. 14. crônicas de Monteiro Neto. 131 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 14/12/1930, pg. 16. 82 Outro exemplo é o da edição de 25 de janeiro de 1931 (figura 116), quando o autor relaciona o barateamento da construção à contratação do construtor com o menor preço “sem observar o aspecto espiritual desse empreendimento, [e que], depois da casa terminada, habitada, os defeitos de execução, os erros da distribuição interna, enfim, inúmeros senões que escapam a visão do construtor medíocre, ficaram, para serem observados por toda a vida pelos visitantes”132. A edição de 24 de maio de 1931 (figuras 117 e 118) apresenta a mais dura crítica a este tipo de contratação “equivocada”, ocupando a totalidade da coluna, para mais uma vez tentar elucidar as funções de cada profissional numa obra. Nesta mesma edição é interessante observar, segundo os próprios relatos de Monteiro Neto, que algumas obras por ele projetadas, em resposta aos seus leitores e apresentadas nas colunas semanais de “Para quem quer construir”, foram de fato construídas, porém sem o devido cuidado na execução. Há quase um ano que vimos procurando auxiliar os nossos leitores, oferecendo sugestões práticas e novas relacionadas não só ao projeto da casa como detalhadamente, sobre os meios e modos de construí-la tendo-se como ponto capital um conjunto agradável e harmonioso, aliado a um custo relativamente reduzido. Envolvidos portanto, nesta tarefa, observamos com certo conhecimento de causa, e grande desilusão que a arte de construir não conquistou ainda entre nós, um plano desejado. E isto porque grande parte de nosso público ainda não definiu bem a missão do arquiteto e do engenheiro. É que ele sabe somente a quem recorrer quando sente uma dor; ou a quem apelar quando está para nascer alguém; esquecendo entretanto que a casa onde se vive é um dos mais importantes complementos da vida, e por isso a sua construção, a começar pelo projeto, não é coisa de tão pouca importância que se possa confiar a qualquer. Devemos pensar antes de tudo, na grande responsabilidade que assumimos ao levar a efeito esse empreendimento. Pensemos no bem estar e na saúde dos que vão habitá-la. Pensemos no juízo que de futuro possam fazer da nossa mentalidade, as gerações e por 132 Figura 117 Ilustração do artigo de 24/05/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 24/05/31, pg. 20. Figura 118 Plantas baixas do artigo de 24/05/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 24/05/31, pg. 20. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 25/01/1931, pg. 14. 83 fim, pensemos no ridículo a que podemos nos expor na época presente, si a nossa casa, fruto de nossos sacrifícios, por culpa nossa, constituir uma mostra concreta de teimosia, ou, por que não dizermos, de nossa pouca cultura. Assim falamos, porque já temos visto nesta capital, edifícios construídos segundo os nossos planos, mas infelizmente, nenhum apresenta uma execução razoável. É que o nosso público ainda não nos compreendeu bem: damos-lhes as sugestões, esforçamo-nos para que os nossos planos representem o que há de mais racional e moderno na arquitetura, e em troca desse nosso trabalho que reconhecemos ser de grande relevância social, este mesmo publico, ou por não querer, ou por são saber, não tem confiado a execução de nossos planos a profissionais de fato, e por isso, para tristeza nossa vimos os nossos projetos viciados, deturpados. - Qual a razão? Execução levada a efeito por construtores sem escrúpulos, sem cultura, sem idoneidade profissional. Porque não confiar pois a execução de nossa casa ao engenheiro, o construtor autentico, o homem de cultura superior que para ressalva de seu nome não mede sacrifícios. O engenheiro, pela posição definida que tem como profissional é o primeiro a não dispensar nunca a interferência do arquiteto porque este é na verdade o idealizador do plano, a única pessoa apta a, no decorrer de uma obra, aumentar ou suprimir, pois é o responsável pelo todo harmônico do conjunto. O engenheiro e o arquiteto se completam, um é indispensável ao outro, porque ambos se compreendem devido o paralelo de cultura existente entre ambos. O construtor – mestre de obra, já não é assim; é, como quem diz “superior”, e devido a essa “superioridade”, que, para vergonha da época que atravessamos, a muito é amparada pela inexistência de uma legislação profissional; ele se julga apto, com direitos, e preparado naturalmente, para desvirtuar todos os plano construtivos que lhe caem as mãos, e deixar em cada obra executada, o estigma da sua obscuridade.133 Figura 119 Ilustração do artigo de 27/09/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 27/09/31, pg. 13. Ironicamente, a legislação a que Monteiro Neto tanto ansiava para ordenar o exercício das profissões de arquitetos e engenheiros, viria a lhe negar a habilitação de arquiteto, 133 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 24/05/1931, pg. 20. 84 restringindo seu trabalho a projetos e construções de poucos pavimentos, como já foi visto anteriormente. Monteiro Neto foi um grande defensor das atribuições do arquiteto como único profissional habilitado a projetar uma edificação, por ser este a pessoa preparada e com conhecimento suficiente para atender as necessidades de quem quer construir. Faz severas críticas as pessoas que, ou por desconhecimento ou simplesmente para reduzir custos, contratam os “mestres de obra”, que por sua vez não estão preparados para desenvolver projetos com a mesma eficiência que um arquiteto. Uma das grandes “bandeiras” defendidas por ele, utilizando sua coluna semanal como meio de divulgação, são os esclarecimentos do público em geral quanto as questões de contratação de um profissional qualificado para desenvolver projetos, o que na época encontrava certa resistência. Tanto é que a regulamentação da profissão de arquiteto viria a ser regulamentada já no último ano em que Monteiro Neto escreveu para o jornal Diário de Notícias. Até então, o Rio Grande do Sul não dispunha de escolas específicas de arquitetura, sendo os profissionais atuantes no estado engenheirosarquitetos, profissionais estrangeiros com variados graus de formação na área ou técnicos práticos134. Figura 120 Ilustração do artigo de 25/10/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 25/10/31, pg. 09. 134 A implantação do ensino de arquitetura no Rio Grande do Sul deu-se somente em 1945, acompanhando a tendência histórica de ocupação e urbanização tardias em relação ao Nordeste e ao Sudeste brasileiros. Até então, a construção local era produzida por profissionais graduados fora do estado, de outras regiões e estrangeiros, principalmente alemães, que construíram uma importante obra local. No entanto, a regulamentação profissional de 1933 criou um vazio ao reservar a atividade a portadores de diplomas nacionais ou estrangeiros homologados. A iniciativa de organização do primeiro curso no RS foi conseqüência das recomendações do Primeiro Congresso Nacional de Arquitetos, de 1944, para que se instalassem cursos por todo o país. Repercutia nacionalmente a publicação do catálogo da exposição Brazil Builds, realizada em Nova York, em 1943, e os arquitetos brasileiros propugnavam por uma identidade profissional própria. Fonte: SALVATORI, 2008. Figuras 121 e 122 Planta baixa do térreo no artigo de 25/10/31 (esq.). Planta baixa do pav. superior no artigo de 25/10/31 (dir.). Fonte: Jornal Diário de Notícias, 25/10/31, pg. 09. 85 Mais uma vez, na sua coluna de 25 de outubro de 1931 (figuras 120, 121 e 122), Monteiro Neto tenta argumentar com seus leitores sobre a importância e a valorização do arquiteto na elaboração de um projeto135. O estudo do projeto de uma casa é de uma complexidade inaudita, por isso, o arquiteto não deve ser nunca o contratista, o comerciante de obras, ele deve ser uma figura de utilidade sob cuja influência a obra se realize, o guia sincero e honesto do proprietário, o observador meticuloso de todas as necessidades de uma família, segundo o grau de cultura e as possibilidades econômicas. Portanto, é justo que a autoria dos planos construtivos dos edifícios caiba sempre aos arquitetos, porque só eles, como profissionais especializados que são, tem as possibilidades de interpretar, por meio de observações baseadas num estudo de psicologia, toda a vontade e o desejo que uma determinada pessoa possa ter abrigar-se num interior sob um teto que, formando um ambiente agradável, lhe proporcione um completo prazer de viver.136 Num dos últimos artigos sobre o tema em 22 de janeiro de 1933 (figura 123), Monteiro Neto descreve resumidamente todo o processo de projeto e destaca novamente a importância da escolha de um bom construtor, na tentativa de sensibilizar seu leitor. Figura 123 Ilustrações do artigo de 22/01/33. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 22/01/33, pg. 07. Nesse trabalho o arquiteto depara sempre com inúmeras dificuldades como sejam: introduzir dentro de uma limitada área de terreno tudo quanto em seu programa o proprietário discrimina; convencê-lo de que elabora em erro e demove-lo desse ponto sempre que as suas pretensões estiverem fora da lógica, a ponto de exigir coisas absurdas e inexequíveis; e finalmente estudar o projeto de modo a identificá-lo com o dono da casa. Depois disso tudo discutido e resolvido e representado no papel é que deve ter a palavra o construtor que como artífice especializado no fabrico de uma casa deve procurar executar a obra sem se afastar do projeto, afim de não alterá-lo em seu conjunto e evitar imprevistos orçamentários que quase sempre constituem o ponto de discórdia entre proprietários e construtores.137 135 136 137 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 25/10/1931, pg. 09. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 24/05/1931, pg. 20. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 22/01/1933, pg. 07. 86 2.5. Projetos econômicos, legislação e urbanismo A orientação para o leitor sobre como fazer uma casa de forma econômica, mas com qualidades de iluminação, ventilação e distribuição espacial sempre foi um dos principais objetivos das crônicas de Monteiro Neto. De forma direta ou indireta, estas orientações perpassam regras de legislação e urbanização muitas vezes contestadas pelo próprio arquiteto. Neste sentido, em inúmeras publicações, Monteiro Neto tenta apresentar modelos de projetos de acordo com as possibilidades financeiras de grande parte da população da época, sem corromper aspectos que para ele são de fundamental importância, como higiene e qualidade de vida. Para Monteiro Neto, a possibilidade da construção de uma casa própria é um dos temas mais importantes para a realização social de uma pessoa. A preocupação do arquiteto é corrigir a vinculação de construções “populares” com a ausência de boa qualidade construtiva. Neste sentido, são apresentados diversos modelos ao longo de suas publicações, que salvo algumas exceções, orientam o leitor quanto as formas de baratear custos sem prejudicar o futuro ambiente de moradia. Para exemplificar suas palavras, na edição de 21 de setembro de 1930 (figura 124), Monteiro Neto apresenta uma crônica bastante ampla, diretamente ligada aos assuntos de economia e higiene com severas críticas aos novos modelos de terrenos urbanos. Subordinado a um traçado econômico, simples e prático, o nosso projeto se enquadra nas ideias externas sobre casas econômicas, por Erismann, Burgenstein, e outros grandes higienistas. A conformação da planta baixa não é entretanto, muito pratica, presentemente, quando temos em formação diversos novos bairros, cujos traçados são antiquadíssimos. Figura 125 Ilustração do artigo de 21/12/30. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 21/12/30, pg. 16. Figura 124 Ilustração do artigo de 21/09/30. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 21/09/30, pg. 11. 87 A metragem comum dos lotes de terreno entre nós é de 6,60 de frente, por 40, 50 e 60 de fundos. Como é possível poder-se projetar, uma casa econômica propriamente dita, de mais de dois quartos, por um terreno tão estreito? Possível é, mas fica-se sujeita a eliminação de aspecto econômico da questão, com a introdução das áreas internas, recurso impróprio em seu tratamento de casas residenciais fora do centro urbano. Tais áreas, como meio de facilitar a iluminação e ventilação diretas dos aposentos dos edifícios constituem um recurso máximo e do qual se deve tirar o maior partido toda vez que se apresentar essa necessidade, a qual surge com maior frequência nos edifícios dos centros urbanos, onde a sua aplicação é imprescindível, devido à careza do terreno e, sequentemente, a necessidade do seu aproveitamento máximo. O que não se justifica nas zonas suburbanas e muito menos nos bairros em formação, os quais deviam ser projetados de modo que cada lote pudesse receber uma casa isolada.138 Ainda neste artigo, Monteiro Neto critica a falta de sensibilidade da municipalidade em permitir novos loteamentos com terrenos que, para ele, seriam impróprios para uma residência econômica, sem as mínimas condições de higiene e de possibilidades estéticas bastante reduzidas. O lançamento de uma casa residencial feito na divisa do terreno é uma solução antiestética, anti-higiênica e, sobretudo, antissocial. É antiestética porque corta o desenvolvimento da linha arquitetônica ou desvirtua o tipo da obra. Anti-higiênica porque as áreas internas a que tais casas estão sujeitas, em correspondência com as dos prédios vizinhos produzem a falta de ar corrente, as janelas ficam vis-à-vis; a pessoa que pela manhã abre as janelas de seu quarto quer ar, luz, largueza, distância perspectiva, e não ver uma outra janela, de onde venha uma temperatura talvez viciada. É antissocial porque produz a promiscuidade, as relações se estabelecem facilmente, a intimidade se acentua, daí um cidadão nunca se sentir tranquilamente no seu “Home”. Somos pois pelos terrenos de configuração perimétrica regular onde a casa desde a mais simples à mais suntuosa, possa ter pelo mínimo quatro metros para cada lado, isto, afastaria do limite com o vizinho. Contudo, este caso, de terrenos estreitos seria facilmente resolvido se os senhores conselheiros municipais se dispusessem a perder um pouco de tempo em estudar um projeto que regulamentasse em princípios técnicos, estéticos, higiênicos e sociais 138 Figura 126 Ilustração do artigo de 28/12/30. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 28/12/30, pg. 16. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 21/09/1930, pg. 11. 88 modernos, o traçado, divisão em lotes e arruamento dos bairros que vem aparecendo, alguns dos quais até se intitulam “bairros jardins”.139 De forma a apresentar, além de soluções de projeto para casas econômicas, também soluções construtivas que barateassem o empreendimento, Monteiro Neto salienta que mesmo sendo o país um grande produtor e exportador de madeira, a construção de casas ainda não aproveitava esta condição, fazendo comparação com os Estados Unidos que já dispunha de um grande potencial construtivo com este material. Desta forma, ele ilustra o artigo de 21 de dezembro de 1930 (figura 125) com o projeto de uma casa em madeira, tendo como alternativa de matéria prima o pinho, até então de grande produção no país e com um custo muito barato. A nosso ver, a construção de casas de madeira devia ser industrializada, e nesse caso, amparada por meio de uma lei que tendo por objetivo proteger o desenvolvimento, criasse um imposto de exportação consideravelmente maior do que o estabelecido para madeira bruta, e diminuísse, quando preparada para dimensões adequadas à construção de uma casa.140 Outra sugestão do arquiteto para a diminuição dos custos na construção de residências para a grande parte da população da capital, que não dispunha de grandes valores para tal empreendimento, era a utilização de um projeto padrão. Tal projeto que atendesse as condições mínimas de higiene e organização poderia se tornar um exemplo de “casa popular”141. Segundo ele, este “modelo” já vinha sendo apresentado em outras cidades, e usado já de forma repetida, mas ainda com alguns detalhes que poderiam ser melhorados. Desta forma, Monteiro Neto ilustra o artigo de 4 de janeiro de 1931 (figura 128) com uma Figura 127 Ilustração do artigo de 19/04/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 19/04/31, pg. 18. 139 140 141 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 21/09/1930, pg. 11. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 21/12/1930, pg. 16. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 04/01/1931, pg. 18. 89 solução melhorada desta construção, que poderia ser amplamente utilizada, pois atenderia as necessidades de seus moradores. Preocupado com a reprodução demasiada da mesma fachada, ele afirma que esta “pode, e deve ser alterada, pois a repetição de fachadas é sempre monótona; contudo, é preferível repetir um modelo bom, a criar absurdos”142. Para não ficar apenas em conceitos teóricos, no artigo de 29 de janeiro de 1933, Monteiro Neto apresenta algumas empresas financiadoras para casa própria, com o objetivo de viabilizar a construção de casas econômicas para pessoas de pouca renda. Tais empresas são: “A Auxiliadora Predial” que com 1 ano e pouco de funcionamento distribuiu entre os seus clientes 1.000:000$000 [mil contos-de-réis], de empréstimos; “A Promotora da Casa Própria” que com pouco menos de um ano distribuiu 400:000$000 [quatrocentos contosde-réis], e finalmente a “Caixa Pró Lar Próprio”, da Sociedade Austríaca de Beneficência que em menos de 6 meses de existência conseguiu contemplar os seus subscritores com empréstimos no valor de 200:000$000 [duzentos contos-de-réis].143 Figura 128 Ilustração da casa “padrão” do artigo de 04/01/31. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 04/01/31, pg. 18. 142 143 “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 04/01/1931, pg. 18. “Para quem quer construir”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 29/01/1933, pg. 07. 90 2.6. “Como fazer uma casa” na Revista do Globo A Revista do Globo foi um periódico editado pela Livraria do Globo, com ilustrações, artigos e publicidade da vida cotidiana e social para o público Portoalegrense que foi publicada entre os anos de 1929 e 1967. Sua criação aconteceu após sugestão do Getúlio Vargas, então Presidente do Estado, servindo ao longo da primeira década de existência como um de seus porta-vozes e como divulgador de cultura no Rio Grande do Sul e também no Brasil. A revista trazia matérias sobre variedades locais, nacionais e internacionais, divididas nas seções O Globo em Revista, Vida Literária, Belas Artes, Vida Social, Cineglobo e um espaço para atualidades esportivas. Publicava colunas de escritoras como Theodomiro Tostes, Moysés Vellinho, Augusto Meyer, Mário Quintana, Raul Bopp, Viana Moog, Herbert Caro e Érico Veríssimo, e a fartura de ilustrações de alto nível contribuiu para o sucesso da publicação. Dentre os seus ilustradores estavam nomes importantes para as artes plásticas riograndenses, como Sotero Cosme, Ernest Zeuner, Edgar Koetz, João Fahrion e Grancis Pelichek, que através de suas imagens deram impulso significativo para a difusão do Modernismo do sul.144 Ainda no primeiro ano de publicação da revista, o tema das construções já é abordado, uma vez que a cidade estava num período de grande crescimento impulsionado pela grande quantidade de obras públicas. A construção residencial também estava em ascensão, tipos e modelos eram comentados e copiados, e a revista, como instrumento de informação, não poderia deixar de lado esta realidade. Na edição de nº 18, de 29 de setembro de 1929 (figura 129), surge o Suplemento Construções com a seguinte entrada: Anunciamos no número anterior que a REVISTA DO GLOBO, não poupando esforços para espelhar todas as múltiplas faces da vida moderna, criaria uma nova secção, que é esta. Figura 129 Texto de abertura do Suplemento Construções da Revista do Globo. Fonte: Revista do Globo nº 18, 29/09/1929, s/p. 144 http://revistadoglobo.wordpress.com/proposito. 91 As construções, como se sabe, tomam, nesta capital e em quase todas as cidades do Estado, notável incremento, o que constituem índice certo de nosso progresso. A nossa ideia encontrou imediato apoio entre quantos, pela própria feição de suas atividades, nos podem trazer, como realmente o farão, o seu valioso concurso. Atendendo a isso, no próximo número, daremos aos leitores e profissionais notas de grande interesse informativo; aspectos gráficos de instrutiva curiosidade; reprodução de trabalhos e projetos notáveis, etc. Completará a nossa secção um guia profissional, necessário não só para os nossos engenheiros, construtores e arquitetos em geral, como para o próprio público. Faremos oportunas reportagens, no ambiente próprio, e procuraremos publicar colaborações assinadas por técnicos competentes. Não queremos, porém, prometer muito. Trataremos de realizar.145 Neste contexto a Revista do Globo traria diversas reportagens, informações, anúncios publicitários, e até mesmo decoração de interiores nas edições que seguiram a esta. Algumas reportagens se destacam pelo seu apurado conteúdo, tratando de assuntos até então pouco abordados como o urbanismo (figura 130), por exemplo. Este conceito, que de fato Figura 130 Texto sobre urbanismo do Suplemento Construções da Revista do Globo. Fonte: Revista do Globo nº 18, 29/09/1929, s/p. era novo, já estava sendo apresentando aos leitores da revista, classificando-o como uma “arte que brevemente se[ria] uma ciência”146. No mesmo artigo a cidade é comparada a um organismo vivo e o urbanismo a um médico, onde as “cidades têm suas enfermidades e suas afecções: congestões, dificuldades de circulação, estruturas defeituosas, membros desproporcionados, etc”, sendo necessário “curar as suas doenças, senão prevê-las”147. Na edição de 14 de dezembro de 1929, também no Suplemento Construções, a arquitetura Moderna é o tema da Revista do Globo. Abordada como um estilo atual e bastante 145 146 “Suplemento Construções”. Revista do Globo. Ano I, nº 18, 29/09/1929, s/pg. LAMBERT, Jacques. “Que é Urbanismo: cidades velhas e cidades novas”. Revista do Globo. ano I, nº 18, 29/09/1929, Suplemento Construções, s/pg. 147 Ibidem. 92 difundido, a arquitetura moderna representaria os anseios da sociedade que busca economia, simplificação e praticidade, ao contrário dos onerosos custos de uma construção com vasta ornamentação e obediência de um “determinado estilo antigo”148. Sobre a participação do arquiteto neste contexto, o artigo fala que o profissional moderno busca alternativas novas para dignificar a arte de construir enquanto o classicista “nada mais é do que um homem que parou no meio do caminho”149. Nesta atmosfera de modernidade, Monteiro Neto inicia sua participação nesta revista de forma bastante semelhante a do jornal Diário de Notícias, publicando crônicas sobre arquitetura e apresentando modelos de construções para ilustrar suas ideias. Sua participação na Revista do Globo ocorre principalmente no ano de 1931, mas também com alguns artigos no ano de 1932. Durante o ano de 1931 os artigos receberam o título de “Como construir uma casa”. Já em 1932, alguns artigos são apresentadas com o nome de “Arquitetura” e também “Uma boa casa”. O formato era um pouco diferente do apresentado no jornal Diário de Notícias, apesar das crônicas e imagens ilustrativas serem praticamente as mesmas. Os artigos na revista tinham um caráter mais ilustrativo e de apresentação de estilos, modelos arquitetônicos e modos de construir. Já o enfoque principal do jornal era criar uma relação mais próxima com o leitor, respondendo solicitações feitas por carta e apresentando projetos individualizados para cada tipo de situação. No período em que Monteiro Neto atendia as demandas tanto do jornal quanto da revista, muito material já publicado no jornal foi reapresentado na revista e vice-versa. Alguns 148 149 Figura 131 Título das crônicas de Monteiro Neto na Revista do Globo. Fonte: Revista do Globo nº 12, 25/04/1931, s/p. Figura 132 Imagem que ilustra o artigo da edição ano III, nº 16 da Revista do Globo. Fonte: Revista do Globo nº 16, 20/06/1931, s/p. “A Arquitetura Moderna”. Revista do Globo. Ano I, nº 23, Suplemento Construções, s/pg. Ibidem. 93 artigos eram copiados na íntegra e outros recebiam uma nova “roupagem”, mudando apenas a ilustração, mas mantendo o conteúdo do texto. Como a qualidade gráfica da revista era muito superior na técnica e no papel utilizado, as imagens que eram mostradas no jornal não tinham a mesma nitidez das apresentadas na revista. A primeira publicação desta coluna acontece na edição nº 12, de 25 de abril de 1931 (figuras 131 e 133), com a seguinte apresentação: Como fazer uma casa? É o que muita gente deseja saber. É subordinado a esse título que a “Revista do Globo” inicia hoje, em seção especial, uma publicação permanente, sob a direção do arquiteto Monteiro Neto, nome já bem conhecido de nosso publico, através das páginas do “Diário de Notícias” de onde semanalmente vem apresentando as novas modalidades da arquitetura da época. Criando esta nova seção, a Revista visa seguir o exemplo de publicações congêneres, que atualmente vêm completando o seu sumario com indicações de real interesse sobre o modo de se fazer uma casa.150 Figura 133 Imagem que ilustra o artigo da edição ano III, nº 12 da Revista do Globo. Fonte: Revista do Globo nº 12, 25/04/1931, s/p. Já o segundo artigo publicado na revista é datado de 9 de maio de 1931 na edição de nº 13 (figura 134). Este artigo e ilustração foram publicados na íntegra no jornal Diário de Notícias do dia 1º de novembro de 1931. Nesta publicação, Monteiro Neto aborda um tema constante em seus textos, que é o de se fazer casas de qualidade com um baixo custo, atendendo uma demanda cada vez maior da época: Uma pessoa de poucos recursos, de início, encontra os maiores embaraços, e um deles, senão o maior, é o que diz respeito ao número de dormitórios, pois de fato, dez ou doze pessoas sob uma superfície coberta relativamente pequena. A independência dos dormitórios de modo a evitar o constrangimento, o conforto natural que uma casa deve oferecer a seus habitantes são fatores primordiais de bem estar.151 Figura 134 Imagem que ilustra o artigo da edição ano III, nº 13 da Revista do Globo. Fonte: Revista do Globo nº 13, 09/05/1931, s/p. 150 151 “Como Fazer uma Casa”. Revista do Globo. Ano III, nº 12, 25/04/1931, s/pg. “Como Fazer uma Casa”. Revista do Globo. Ano III, nº 13, 09/05/1931, s/p 94 Seguem-se outros artigos tratando de assuntos que sempre eram levados posteriormente para as crônicas do Diário de Notícias, como higiene, conforto, economia e legislação, porém sem o enfoque de atender as necessidades individuais dos leitores, como era feito no jornal. Podemos destacar ainda a publicação do dia 15 de agosto de 1931 (figura 135). Nesta edição, Monteiro Neto faz defesa para uma arquitetura de características nacionalistas contrariando as simples cópias de outras culturas. A arquitetura colonial das primitivas obras de vulto que se ergueram no Brasil é, para muitos, uma arte que teve os seus dias áureos numa época em que tudo era, naturalmente, colonial. E hoje que tudo é novíssimo, moderníssimo, nem todos creem no estado de metamorfose em que ela se encontra. De muitos países nos vem espécimes de arquitetura colonial, e, por isso, uns apreciam o colonial mexicano, outros preferem o americano ou o espanhol. Raramente, porém, lembram-se de que possuímos os mesmos motivos, as mesmas fontes de inspiração, que são os templos religiosos onde aquela época imperou a arte barroca. Esquece-se muita gente do quanto é capaz a nossa mentalidade artística, hoje tão desenvolvida. A arquitetura colonial que nos vem de outras terras não é senão um molde regional. Por isso, devemos apurar o nosso dando-lhe um caráter mais brasileiro. Devemos fazer deste molde arquitetura, ainda um esboço, um estilo definido. A nossa sensibilidade, a nossa educação artística tão eficientemente desenvolvida, apresenta-nos oportunidades para dar esse passo. A predileção por outros estilos arquitetônicos é perfeitamente razoável. Há admiradores das ordens clássicas, como existem adeptos dos estilos típicos que marcam épocas ou representam regiões de outros países. Não é justo, pois, que nos entreguemos ao estudo da arquitetura colonial de outras terras, quando a nossa está por desenvolver.152 Figura 135 Imagem que ilustra o artigo da edição ano III, nº 20 da Revista do Globo. Projeto executado no ano de 1932 para o Sr. Herbert Von Brixen-Montzel, conforme processo nº 8.793, do microfilme nº 51, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Fonte: Revista do Globo nº 20, 15/08/1931, s/p. No ano de 1932, a participação de Monteiro Neto na Revista do Globo ganha outros títulos. Com o nome de “Arquitetura” e posteriormente “Uma boa casa”, o arquiteto não mais 152 “Como Fazer uma Casa”. Revista do Globo. Ano III, nº 20, 15/08/1931, s/p 95 apresenta suas críticas e apenas suas ilustrações preenchem as páginas da revista. O formato informativo agora se resume apenas a ilustrar modelos de residências sem explicações textuais, apresentando-as em plantas baixas e fachadas. Outros profissionais atuantes na capital também começam a apresentar seus projetos nas páginas da revista. Figura 136 Imagem que ilustra o artigo da edição ano III, nº 16 da Revista do Globo. Fonte: Revista do Globo nº 16, 20/06/1931, s/p. Figuras 138 e 139 Imagem que ilustra o artigo da edição ano IV, nº 03 da Revista do Globo (esq.). Imagem que ilustra o artigo da edição ano IV, nº 19 da Revista do Globo (dir.). Fonte: Revista do Globo nº 03, 13/02/1932, s/p e Revista do Globo nº 19, 24/09/1932, s/p. Figura 137 Imagem que ilustra o artigo da edição ano III, nº 18 da Revista do Globo. Fonte: Revista do Globo nº 18, 08/07/1931, s/p. 96 2.7. Miranda Netto e o contraponto do jornal Correio do Povo Em agosto de 1932, ou seja, exatamente dois anos após o início das publicações de Monteiro Neto no Diário de Notícias, o jornal Correio do Povo, seu principal concorrente, abre a discussão sobre arquitetura com as crônicas de Miranda Netto intituladas “Arte de Construir”. Numa linha de temas semelhantes aos de Monteiro Neto, porém muito mais radical na defesa de uma “arquitetura funcionalista”, Miranda Netto defendia a arquitetura moderna e sua nacionalização e atacava ferozmente o ecletismo até então dominante na paisagem da maioria das cidades. Segundo Carreira: Bem diferente da de Monteiro Neto, a trajetória de Antonio Garcia de Miranda Netto não era de modo algum a de um auto-didata, o que certamente repercutiu na maneira como viria a intervir no debate arquitetônico contemporâneo. (...) Estudou no Ginásio Anchieta e cursou os dois primeiros anos de Engenharia Civil na Escola de Engenharia de Porto Alegre, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde concluiu o curso na Escola Politécnica em 1925. (...) Graduado como Engenheiro Geógrafo em 1922, e como Engenheiro Civil em 1925, colou grau em 25 de abril deste ano, na escola carioca.153 Figura 140 Ilustração do artigo de 13/10/32 (prefeitura de Hilversum (1928-31), na Holanda, de W. M. Dudok). Fonte: Jornal Correio do Povo, 13/10/32, pg. 05. Ainda segundo Carreira: “(...) Miranda Netto também se formou Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro em 1939, destacando-se a partir de então na carreira pública, seja como Adido Comercial do Brasil no Canadá, seja como Catedrático da Faculdade Nacional de Ciências Econômicas no Rio de Janeiro ou como Membro do Conselho Nacional do Trabalho”.154 Figura 141 Três arranjos de plantas para casas econômicas que ilustram o artigo de 15/09/32 de autoria do próprio Miranda Netto. Fonte: Jornal Correio do Povo, 15/09/32, pg. 07. 153 154 CARREIRA, 2005, pg. 106. CARREIRA, 2005, pg. 107. 97 As publicações de Miranda Netto no Correio do Povo iniciaram em 25 de agosto de 1932 e terminaram menos de um ano depois em 09 de março de 1933, sendo interrompidas por um período de dois meses entre novembro e dezembro de 1932. A frequência destas colunas era semanal, porém, diferente das de Monteiro Neto que eram publicadas aos domingos, a “Arte de Construir” era apresentada sempre às quintas-feiras. Alguns artigos dispersos foram publicados nos anos de 1934, 1935 e década de 1970, porém com outros títulos, mas ainda tratando da crítica arquitetônica. No seu primeiro artigo de 25 de agosto de 1932, Miranda Netto apresenta os objetivos de “Arte de Construir” onde segundo ele “serão tratados problemas de técnica e estética referentes a arquitetura no sentido mais amplo da palavra” 155. Ainda neste artigo, Miranda Netto chega até mesmo a ironizar a crônica concorrente, sem declarações diretas, porém com claras indicações de que se tratava do modelo apresentado Figura 142 Segunda ilustração do artigo de 13/10/32 (prefeitura de Hilversum (1928-31), na Holanda, de W. M. Dudok). Fonte: Jornal Correio do Povo, 13/10/32, pg. 05. por Monteiro Neto no Diário de Notícias. Segundo Miranda Neto: Assim é que sem manter uma seção de consultas, banal e sem projeção estética, responderá o Correio do Povo entretanto a qualquer pedido de sugestões que lhe for encaminhado referente à construção civil, higiene de prédios, arquitetura e decoração. 156 (grifo nosso) Este artigo ainda demonstra o conhecimento do engenheiro de formação sobre o panorama arquitetônico da época citando, sobre a sua ótica, diversos arquitetos de destaque de origens as mais variadas, como também as suas opiniões sobre esta “nova arquitetura” explicando-a Figura 143 Perspectiva de Miranda Netto demonstrando o arranjo de móveis para a sala principal de uma residência. Ilustração do artigo de 29/09/32. Fonte: Jornal Correio do Povo, 29/09/32, pg. 07. na sua essência, comparando-a muitas vezes a verdadeiras obras de arte: 155 156 “A arte de construir”. Correio do Povo. Porto Alegre, 25/08/1932, pg. 12. Ibidem. 98 A arte de construir assume, em nossos dias, uma feição bastante complexa. Sem cairmos no radicalismo exagerado de Adolpho Loos – o arquiteto austríaco – que em “Arquitetura e Estilo” separa a arte de Brunelleschi da categoria de belas artes, reduzindo-a a um quase artesanato, confessemos que a chamada Escola Funcionalista está dominando por completo a maioria dos países civilizados e fatalmente sufocará, em poucos anos o romantismo conservador que ainda floresce em gárgulas e cariátides, numa lamentável confusão de estilos, destruindo a coisa mias bela que existe em toda a concepção arquitetônica: o equilíbrio dos volumes e o jogo livre da luz em superfícies planas. “Arquitetura de engenheiro” dizem os rebelados contra esse surto estético que os saudosistas taxam de iconoclasta. Entretanto aí estão os Gropius, os Erich Mendelsohn, os Mies van der Rohe, os irmãos Taut e aquele magnífico mestre que é Peter Behrens, dominando a arte alemã que ninguém poderá taxar de inferior ou espúria. E são arquitetos. A terra de Goethe, de Johann Sebastian Bach, de Holbein e de Albert Durer assiste a um verdadeiro renascimento da arte de construir. Na França esse esquisito Le Corbusier que, debaixo de um racionalismo na aparência gelado esconde uma formidável organização de poeta, está na propaganda dos jornais colocado a vanguarda de um movimento em que figuram os nomes menos conhecidos mas bem maiores de Mallet Stevens, Roux Spitz, Frantz Jourdain, Jeanneret... e tantos outros que remodelam o sendo estético da França. E o maior de todos os surtos estilísticos europeus é o dessa pequena Holanda que se renova em um florescimento arquitetônico incomparável, evocador da potência da escola flamenga de pintura, apresentando astros de primeira grandeza como Dudok e Piet Kramer, Brinkmann e van der Vlugt que fazem com a pedra, o aço, o cimento e o zinco em poemas de volume e luz o que fizeram comas cores os seus antepassados Rembrant van Rijn e Pieter de Hooch. E seriam inúmeros os exemplos de nomes o obras a citar na Inglaterra, Tcheco Eslováquia, Hungria, Rússia, Polônia, Espanha, das realizações da arte moderna que provocam violentas polemicas mas acabam dominando a multidão com a segura e tranquila força da beleza verdadeira. 157 Miranda Netto, assim como Monteiro Neto, porém num discurso mais fervoroso e engajado, defendia a “moderna arte de construir” como uma arquitetura funcional, que atendia as necessidades de economia utilizando para isso a ausência de ornamentação e o uso de tecnologias modernas. A técnica e a arte se relacionavam para atender a funcionalidade da arquitetura. Segundo o próprio Miranda Netto: 157 Figura 144 Estádio Giovanni Berta (1932) de Píer Luigi Nervi e a Casa de Montanha em Taumes de Peter Behrens que ilustram o artigo de 19/01/33. Fonte: Jornal Correio do Povo, 19/01/33, pg. 05. “A arte de construir”. Correio do Povo. Porto Alegre, 25/08/1932, pg. 12. 99 Uma das grandes vantagens da arquitetura moderna, em seu espirito mais puro, é a renovação do senso estético transferindo para as grandes superfícies e para os jogos de luz nos volumes e prioridade que se acentuara nestes últimos dez anos para os detalhes ornamentais. A arquitetura deixou de ser uma escultura de fachadas para transformar-se em harmonia de superfícies e volumes, sob o jogo livre da luz. Dentro dessa noção mais ampla e mais humana é possível organizar obras verdadeiramente artísticas sem a despesa formidável que representa a porte de escultura e ornamentação pura, dispensáveis hoje perfeitamente, e podemos dizer até impossíveis nos exageros passados, em uma concepção moderna de arte. Usando materiais econômicos e uma grande sobriedade de ornamentação pode-se chegar a resultados extraordinariamente artísticos. Ao passo que com o maior luxo e prodígios de ornamento, a consequência pode ser uma incrível confusão de ideias, amontoado para museus e não expressão sincera e límpida de arte.158 Figura 145 Teatro João Caetano no Rio de Janeiro que ilustra o artigo de 21/01/33. Fonte: Jornal Correio do Povo, 21/01/33, pg. 14. No artigo de 19 de janeiro de 1933, Miranda Netto, sempre relacionando a arquitetura com a arte e os arquitetos com nomes expressivos da pintura, teatro e música, escreve sobre os esforços dos arquitetos brasileiros no engajamento desta nova forma de projetar e construir, porém com algumas ressalvas. Demonstra satisfação em ver obras nacionais em revistas importantes da arquitetura como “La Technique des Travaux”, “Gli elementi dell’Architettura Funzionale” e “Internationale Neuer Baukunst”. Faz ainda críticas ao trabalho de Le Corbusier, em relação ao qual já havia demonstrado certo desconforto. Segundo Miranda Netto: A arquitetura brasileira se vai formando e triunfando, mal ou bem, mas sempre adiante, a custa do esforço dos sinceros e dos competentes e da boa vontade dos que estão em condições de construir e enxergam alguma coisa mais que o lucro imediato ou a concepção estética arrancada de algum Almanach Hachette de 1913. Há Arquitetos brasileiros que compreendem o verdadeiro espírito do modernismo ou, para dizer melhor, o espírito da época. Usa-se e abusa-se da palavra modernismo. Eu a emprego aqui de modo exato. Chamo de moderno ao arquiteto que com o espírito artístico e a intuição estética tem também a preparação técnica indispensável e hoje tão esquecida, infelizmente. 158 Figura 146 Projeto de um asilo e casa de repouso do arquiteto Schneck, de Stuttgart, que ilustra o artigo de 06/10/32. Fonte: Jornal Correio do Povo, 06/10/32, pg. 12. “A arte de construir”. Correio do Povo. Porto Alegre, 06/10/1932, pg. 12. 100 É necessário ao artista verdadeiro o conhecimento amplo dos materiais que emprega, a noção da técnica funcional, da “máquina” que representa o edifício, seja ele qual for, até o mero monumento decorativo ou comemorativo, que tem como “função” despertar a estética sob a forma de entusiasmo, de dor, de saudade... (gostaria de lembrar aqui o monumento dos mortos da guerra em Munique, um dos mais impressionantes que conheço). É necessário ao arquiteto um conhecimento exato da evolução de sua arte, desde o racionalismo tão interessante dos primeiros egípcios e dos primeiros gregos até o desastroso resultado que o renascimento veio trazer ao inicio deste século com a inaudita “arte (?) nova”. (...) Os nossos modernistas, entretanto, não se querem converter integralmente a nova fé. Continuam a mesclar as linhas puras que vão surgindo e compondo as formas com verdade toda aquela bagagem de vícios que desde o Renascimento vem trazendo a arquitetura uma falsidade desafiadora dos maiores combates. Por estes nossos Brasis, quando se fala em arquitetura moderna, salta logo o nome (que aliás é um pseudônimo) de Le Corbusier, e só este. Talvez porque o arquiteto francês seja o mais combatido e o mais poeta, no senso literário, não plástico. Le Corbusier não é argumento nem modelo para ser jogado a mesa em uma discussão séria e técnica. Falemos em Frantz Jourdain, em Mallet Stevens, para ficar na França. A arte de Le Corbusier é puro combate, pura reação. Devemos procurar em outro lugar o verdadeiro espírito da moderna arquitetura.159 Figura 147 Planta modelo para casas econômicas, organizada por Miranda Netto, que ilustra o artigo de 22/09/32. Fonte: Jornal Correio do Povo, 22/09/32, pg. 12. A defesa entusiasmada de Miranda Netto à nova arquitetura lhe rendeu dois artigos chamados de “Uma Explicação I” e “Uma Explicação II” (figuras 149 e 150) publicados em 2 de março e 9 de março de 1933, respectivamente. Nestes artigos o engenheiro se manifesta de forma a esclarecer possíveis desvios no entendimento das suas críticas, a partir da conversa com um amigo, utilizando este espaço para demostrar suas reais intenções. Desta maneira defende-se Miranda Netto: Um acaso veio, outro dia, trazer-me à casa um velho amigo, técnico dos mais competentes e finíssimo esteta. Mais de um ano se pusera entre nós. Ao primeiro abraço já teve ele palavras para as ideias pregadas através destas colunas. Estranhou seriamente, romântico Figura 148 Arranjo de uma sala de jantar que ilustra o artigo sobre mobiliário e decoração de 02/02/33. Fonte: Jornal Correio do Povo, 02/02/33, pg. 14. 159 “A arte de construir”. Correio do Povo. Porto Alegre, 19/01/1933, pg. 05. 101 incorrigível que é, a defesa feita por mim, cada semana, da “casa-máquina” (assim disse) e levando adiante a crítica taxou-me de anti-artista, utilitarista, nem sei mais o que. Provei-lhe (ou pelo menos tentei provar) em muitas palavras que ele levará longe as conclusões da leitura, exagerando minhas afirmativas. Eu nunca defendera a “casamáquina” no sentido que lhe dão certos utilitaristas “outrés” (sic) entre os quais eu poderia incluir Le Corbusier, por quem não morro de amores e o alemão Mies van der Rohe. Nada disto o convenceu. Para ele os meus artigos tinham sido, até hoje, a defesa da “maquinalização da arte”, do utilitarismo integral. Eu fizera, disse ele, a propaganda da “função” contra a “expressão”. (...) A quem não souber ter entre as linhas ou mesmo sobre as linhas poderá a minha teoria estética parecer pouco artística, ou até anti-artística, si como arte entendem esses deliciosos bolos de noiva que andam por aí pela cidade com o rótulo de casas, bancos, cinemas, sei eu lá... Mas não tem razão. (...) Definido o termo “funcionalista” na subordinação a uma lei estética (arquitetura pura) e técnica (aplicação) esclareço minha ação nestas colunas. Ataquei, ataco e atacarei esta deformação do senso arquitetônico que anda por aí enchendo a cidade de aleijões e transformando uma arte das mais admiráveis (uma transposição da música por assim dizer, pois cria ritmos no espaço) transformando-a em posição banal de esculturas, feita em planos mal compostos, sem um efeito largo de luz, sem um jogo elástico de massas, característicos da verdadeira arquitetura. 160 Figura 149 Título do artigo de 02/03/33. Fonte: Jornal Correio do Povo, 02/03/33, pg. 05. Figura 150 Título do artigo de 09/03/33. Fonte: Jornal Correio do Povo, 09/03/33, pg. 05. Miranda Netto foi, na verdade, um defensor mais radical da arquitetura moderna, funcionalista e estética. Mesmo com um número menor de publicações do que Monteiro Neto161, o período em que escreveu demonstrou seu profundo conhecimento sobre as vanguardas arquitetônicas europeias e a sua difusão no Brasil. O caráter mais radical das crônicas de Miranda Netto talvez esteja ligado ao fato de não ter na arquitetura seu ofício principal. Monteiro Neto não sentia essa liberdade pelo fato de precisar atender sua clientela profissional. 160 161 “A arte de construir”. Correio do Povo. Porto Alegre, 02/03/1933, pg. 05. Monteiro Neto publicou 71 artigos em três anos e Miranda Netto 15 artigos em um ano. 102 3. Os projetos e as obras em Porto Alegre 103 Além de sua atuação no campo jornalístico, Monteiro Neto foi um profissional bastante atuante, realizando vários projetos e construções na capital do Rio Grande do Sul. A pesquisa do seu acervo concentrou-se principalmente no Arquivo Público de Porto Alegre, fonte de pesquisa de todos os projetos aprovados na Prefeitura Municipal sob a responsabilidade deste arquiteto. O total de obras encontradas foi de 98. Para se chegar a este número levaram-se em consideração as obras com a assinatura de Monteiro Neto e das construtoras em que ele foi comprovadamente responsável pelos projetos no período respectivo. Provavelmente o número de projetos e obras construídas por Monteiro Neto em Porto Alegre tenha sido maior que o encontrado. Esta suposição se dá uma vez que alguns projetos e obras poderiam ter sido elaborados sem serem devidamente aprovados. Contudo, não foram encontrados familiares ou amigos que pudessem orientar outra forma de pesquisa nem qualquer outra informação relatada, escrita ou publicada que direcionasse a busca pelo possível acervo do arquiteto fora dos arquivo de projetos aprovados. Detendo-se, desta forma, no arquivamento em microfilmes, o trabalho passou para a solicitação dos projetos e sua posterior catalogação. O sistema de arquivamento em microfilmes dos projetos originais proporcionou uma análise minuciosa e a obtenção de informações importantes, uma vez que nestes arquivos estavam dados de proprietário, Figura 151 Mapa da cidade com identificação dos locais dos projetos de Monteiro Neto (mapa geral). Fonte: Google Earth com marcadores inseridos pelo autor. projetista, construtor, localização e até mesmo algumas observações escritas sobre a própria planta. Os responsáveis pelas construções, segundo informações obtidas nas plantas, foram em muitos casos a própria empresa construtora do arquiteto – Studio Monteiro Neto e outras, já citadas, como Azevedo Moura & Gertum, Spolidoro & Cia, Barcellos & Cia, Baptista Campagnola, A. D. Aydos & Cia. entre outras. 104 Do total dos 98 projetos pesquisados, três constavam em microfilmes que não foram encontrados e dois não puderam ser identificados pela pouca qualidade. Dentre os 93 restantes, são contabilizados os seguintes números: 66 casas unifamiliares, 17 edifícios de apartamentos, comerciais e de uso misto, e 10 de uso diversificado. Das 66 casas unifamiliares, 15 delas apresentam um pavimento, 48 foram projetadas com dois pavimentos e três possuem três pavimentos. Os 17 edifícios projetados por Monteiro Neto tem usos diversos, sendo um deles exclusivamente comercial, seis de uso residencial, oito de uso misto e duas reformas de fachada em prédios comerciais. Em relação à quantidade de pavimentos destes prédios, a variação foi de dois até 15 pavimentos. Nas 10 edificações classificadas como de uso distinto estão uma estação de trens para crianças, duas escolas, um pórtico de exposições, um clube, um castelo, um moinho, uma sala exclusiva para cinema, uma transportadora e uma sinagoga. Com base neste levantamento foi possível observar que a grande maioria da produção de Monteiro Neto foi de casas unifamiliares com dois pavimentos. Num número menor, Monteiro Neto também projetou diversas edificações em altura, principalmente de uso misto, que refletiam os novos tempos de uma cidade em transformação. Esta variação de usos e programas demonstra a versatilidade e a abrangência do seu trabalho nesta capital. A diversidade do arquiteto não ficaria apenas nos usos, mas também nas diversas propostas estilísticas, com o objetivo de atender as tendências locais, gostos dos clientes e os novos direcionamentos da arquitetura. Figura 152 Mapa da cidade com identificação dos locais dos projetos de Monteiro Neto (região central). Fonte: Google Earth com marcadores inseridos pelo autor. 105 Apesar de sua obra apresentar exemplares em estilos distintos, foi possível discriminar seus projetos em três grupos principais: o eclético, o neocolonial e o moderno162. A produção em cada estilo não segue uma sequência cronológica de encerramento de um para início de outro, mas mostra predomínios estilísticos que se alternam, muitas vezes apresentando obras de diferentes linguagens simultaneamente. Na linha cronológica dos projetos foi possível identificar quatro fases bem marcadas, nas quais se sobressai um estilo em relação aos demais. Para cada uma destas fases foram selecionadas obras de referência dentre o catálogo geral, que tem o objetivo de exemplificar, com mais detalhes, o trabalho do arquiteto. Estas quatro fases serão devidamente esclarecidas nos subcapítulos seguintes. Entretanto é possível antecipar alguns números que corroboram esta classificação. A produção de Monteiro Neto vai desde o ano de 1930, data do seu primeiro projeto aprovado na Prefeitura, até o ano de 1956, data do seu falecimento. Da totalidade de projetos analisados, 17 apresentaram características ecléticas, sendo que 12 destes, ou seja, 70%, foram aprovados na Prefeitura entre os anos de 1930 e 1933 (1º fase), Figura 153 Mapa da cidade com identificação dos locais dos projetos de Monteiro Neto (região norte). Fonte: Google Earth com marcadores inseridos pelo autor. mesmo período em que o arquiteto escrevia suas crônicas no jornal Diário de Notícias defendendo a nacionalidade do estilo neocolonial e a racionalidade do estilo moderno. Mesmo que o ideário do arquiteto já estivesse sintonizado com as tendências arquitetônicas do centro-sul do país, provavelmente a demanda de encomendas feitas a ele ainda teriam direcionado parte de sua produção para projetos com elementos das linguagens clássica, renascentista, barroca e neoclássica. 162 Ver quadro comparativo de estilos e períodos no anexo, pg. 361 a 363. 106 O estilo neocolonial brasileiro, expresso por meio das ideias e obras de José Mariano Filho, Ricardo Severo e Victor Dubugras e amplamente defendido por Monteiro Neto como uma forma de criar uma arquitetura nacionalista, foi encontrado em seis obras, nos anos correspondentes a 1º e a 3º fases. 23 projetos seguiram uma vertente estrangeira chamada de “Missões Espanholas”, ou estilo californiano que, embora também originada da arquitetura colonial, apresenta características de um estilo encontrado principalmente no oeste norteamericano e norte do México. A grande demanda de projetos encomendados a Monteiro Neto em estilo californiano ocorreu entre os anos de 1941 e 1944 (3º fase). Porém, a grande maioria dos projetos de Monteiro Neto deve ser classificada como moderna. Os critérios para esta classificação incluem características básicas como a ausência da decoração historicista, a ornamentação abstrata e a racionalização formal, tendo como principal referência a arquitetura Art Déco. Estes últimos estiveram presentes principalmente entres os anos de 1930 e 1940 (1º e 2º fases) e a arquitetura moderna, num enfoque mais contemporâneo, entre os anos de 1941 e 1956 (3º e 4º fases). Das 93 obras analisadas, 47 foram classificadas como obras modernas, ou seja, pouco mais de 50% do total, demonstrando a inclinação do arquiteto, e talvez também de sua clientela, na adoção deste estilo. Os quatro subcapítulos a seguir abordarão as fases de produção de Monteiro Neto, de forma a fornecer um catálogo de todas as suas obras. Algumas delas serão analisadas com destaque por seu valor arquitetônico em relação à totalidade do acervo do arquiteto. Destas obras foram selecionados seis projetos em estilo neocolonial, seis projetos em estilo eclético e 16 projetos em estilo moderno. Tais números estão relacionados à proporcionalidade dos quantitativos gerais do acervo, mas também por serem de fato obras que merecem um olhar 107 Figura 154 Mapa da cidade com identificação dos locais dos projetos de Monteiro Neto (região leste). Fonte: Google Earth com marcadores inseridos pelo autor. mais detalhado. Um último projeto encerra a trajetória de Monteiro Neto no mesmo ano de seu falecimento. Figura 155 Mapa da cidade com identificação dos locais dos projetos de Monteiro Neto (região sul). Fonte: Google Earth com marcadores inseridos pelo autor. 108 3.1. Primeira fase (1930-1933) O primeiro período de atividade de Monteiro Neto em Porto Alegre (1930-33) é marcado por uma grande diversificação estilística. Esta diversidade inicial é diferente dos demais períodos de sua obra, onde há predominância de um determinado estilo. Nesta fase percebese uma maior concentração de projetos modernos no ano de 1931 (quatro obras do total de seis no ano) e de projetos ecléticos no ano de 1933 (nove obras do total de 13 no ano). Apesar destas tendências dominantes, três obras filiadas ao neocolonial também fazem parte desta fase. A disposição a um determinado estilo ou outro nestas primeiras manifestações, que nas demais fases estão melhor definidos, refletem o momento de transição pelo qual a capital gaúcha passava, adicionando-se a recém chegada e consequentemente adaptação do arquiteto em Porto Alegre. É preciso observar que o termo "estilo" aqui empregado se refere a características formais dadas pelo emprego de elementos plásticos no edifício, sejam eles decorativos ou funcionais. Quando se fala no Ecletismo historicista, trata-se do uso posterior de linguagens históricas da arquitetura. A arquitetura neocolonial é parte desse contexto, pois invoca a história como referência, ainda que reagindo contra a liberdade estilística em favor da cultura nacional. Por esta particularidade, é identificada em separado. Monteiro Neto, em toda a sua trajetória como projetista em Porto Alegre, nunca teve seu trabalho vinculado a um único estilo arquitetônico, mas as fases eclética e neocolonial predominam em períodos distintos, o que não acontece com os projetos modernos que se desenvolveram do início ao fim da sua carreira. 109 Figura 157 Casa Manlio Agrifoglio (1931). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 48. Figura 156 Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre (1930). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.689 do microfilme nº 43. Outra característica peculiar à primeira fase é a variedade de construtores que assinam como executores dos seus projetos, como por exemplo: Borsatto & Lain, Barcellos & Cia., Dlugosiewicz, Freire & Cia., Irmãos Jung, Baptista Campagnola, João Francisco Goldmann, A. D. Aydos & Cia. Ltda., Pietro Biondani, Alberto Fantinel, Francisco Pivetto, e Antônio Mascarello. Segundo Barbara Schäffer, nesta época Porto Alegre vivia simultaneamente a permanência da arquitetura eclética classicista e do Art Nouveau, assim como o surgimento das primeiras Figura 158 Pórtico Monumental para a Exposição Agro-Pecuária e Industrial (1931). Fonte: Revista do Globo nº 27, 21/11/1931, s/p. obras filiadas ao Art Déco, ao Expressionismo alemão e ao Racionalismo francês e italiano. Schäffer complementa que estes “diferentes estilos participaram do mesmo cenário por cerca de duas décadas”163. Sobre este período na capital gaúcha, Fiore observa que: A cidade do Ecletismo, que rapidamente foi substituindo a cidade colonial nas primeiras décadas do século XX, não chegou, no entanto, sequer a se completar. Uma nova fase de modernização e verticalização iniciou-se na cidade antes mesmo de esgotado o ciclo do Ecletismo. Na própria Praça da Alfândega, em 1931 foi terminado, ao lado do Cine Guarani, o Edifício Imperial, o mais alto de Porto Alegre à época de sua inauguração, já numa linguagem modernizante, sem referências aos estilos históricos. 164 Segundo Luccas: Do mesmo modo que ocorreu no restante do País, o período eclético da arquitetura local coincidiu aproximadamente com a República Velha. Diferente do acento Beaux-Arts da Capital Federal, a cidade apresentou um grande número de edifícios representativos da cultura germânica, projetados por arquitetos como Theodor Wiederspahn, Richard Wriedt e Josef Lutzenberger. (...) Uma arquitetura marcada pela profusão de elementos presentes numa composição mais livre, como os frontões com volutas e outras formas que remetiam ao barroco alemão, as cúpulas metálicas imitando “capacetóides” típicas daquela origem, 163 164 Figura 159 Casa Ernesto Essenfelder (1931). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.077 do microfilme nº 49. SCHÄFFER, 2011, pg. 32. FIORE, 2008, pg. 06. 110 colunas, cariátides, pináculos, tudo dentro de uma exuberância harmônica contrastante com o comedimento clássico dos ecletismos afrancesados e italianizantes. 165 Para exemplificar o que seria esta forma de ornamentação das edificações deste período, Reis Filho classifica que “as mudanças formais incorporando elementos construtivos e plásticos de origem diversa eram ordenadas de forma eclética”166, suscitando o nome Ecletismo. O ecletismo propunha a todos os sistemas um tratado de paz. Ele deveria conciliá-los, guardando deles aquilo que possuíssem de precioso, do mesmo modo que o governo representativo deveria ser um governo misto, que satisfizesse a todos os elementos da sociedade. (...) O Ecletismo na arquitetura seguiu caminho semelhante, propondo uma conciliação nas polêmicas sobre os estilos históricos. Essa, posição, de nítidas afinidades com o positivismo e com as correntes evolucionistas em geral, já é bastante clara entre os pensadores de quase todos os países europeus do início do século XIX. 167 Figura 160 Casa Herbert Von Brixen-Montzel (1932). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.793 do microfilme nº 51. A produção de Monteiro Neto neste período, em função de sua diversidade estilística, pode ser classificada como eclética. O uso do termo "ecletismo" aqui adquire duplo sentido: o arquiteto faz obras filiadas ao ecletismo historicista ainda prestigiado na cidade, mas também é eclético num sentido mais geral, pelo fato de projetar obras tanto ecléticas como modernas. Na verdade, o ecletismo que estava sendo produzido em Porto Alegre necessita ser devidamente qualificado. Na década de 1930 são construídas na cidade algumas obras filiadas ao classicismo, outras à corrente neocolonial brasileira, outras às vanguardas modernas e ainda outras que misturavam elementos dentre estas tendências. Mesmo as obras que buscam uma imagem abstrata apresentam elementos decorativos que remetem às Figura 161 Casa Emílio Fernandes das Néves (1932). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 53. 165 166 167 LUCCAS, 2004, pg. 31. REIS FILHO, 2000, pg. 180. REIS FILHO, 2000, pg. 182. 111 diversas correntes modernas do hemisfério norte, como a Secessão Vienense, o Jugendstil, o Art Déco, o Racionalismo, etc. É importante notar que essa modernidade pioneira em Porto Alegre se concentra no exterior do edifício e sua decoração. Plantas e volumes seguem privilegiando a simetria bilateral. Não há maiores preocupações com novos materiais e estruturas, nem com novos agenciamentos espaciais. Em função disso, essa fase poderia ser denominada como um “tardo-ecletismo”, onde o "moderno" é a mais nova linguagem à disposição. A obra de Monteiro Neto demonstra esse fato, assim como a de outros arquitetos Figura 162 Grêmio Gaúcho (1933). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.260 do microfilme nº 56. como Fernando Corona, Teófilo Borges de Barros, Egon Weindoerfer e Josef Lutzenberger. Como já foi visto nos artigos de Monteiro Neto no Diário de Notícias, a arquitetura moderna foi amplamente defendida e incentivada por ele. Esta defesa de uma arquitetura que, segundo ele, estava diretamente ligada a economia, a racionalização e a higiene, não ficou somente vinculada as suas análises escritor de arquitetura. Da totalidade dos projetos encontrados no Arquivo Público de Porto Alegre, metade (47 projetos do total de 93 processos analisados) se identificam como modernos. Diferentemente dos demais estilos utilizados pelo arquiteto, que tiveram ocorrência irregular no decorrer da sua atividade profissional, o estilo moderno esteve sempre presente sem interrupções significativas (ver Figura 163 Casa Octávio de Souza (1933). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.580 do microfilme nº 54. quadro comparativo, pg. 361 a 363). Apesar de Monteiro Neto citar em seus artigos (entre os anos de 1930 e 1933) nomes como Le Corbusier, Warchavchik, o Grupo MIAR e a exposição da Deutsche Werkbund, a arquitetura moderna defendida e aplicada por ele não estava claramente vinculada a estas referências168. No período em que Monteiro Neto iniciava seus trabalhos em Porto Alegre, 168 A arquitetura moderna consistiu gradualmente um repertório de soluções plásticas e construtivas: formas geométricas puras e despojadas, a assepsia do branco predominante, definição dos planos construtivos, exploração de balcões e marquises em balanço, janelas rasgadas, envidraçamentos generosos; enfim, um léxico 112 vindo recentemente da capital do País, o moderno esteve muito vinculado a um estilo que buscasse a simplificação, num contraponto aos exageros do ecletismo, e que se associasse a uma sociedade em fase de modernização. Este estilo moderno usava elementos decorativos abstratos que não tinham função definida, a não ser a de evitar a simplificar ao extremo das novas fachadas de planos puros. Por causa disso, esse tipo de arquitetura moderna não se enquadraria no que viria a ser chamado de Estilo Internacional. Hugo Segawa a classifica como "Moderno Pragmático"169, em oposição ao "Moderno Programático". Essa arquitetura é comumente associada com o estilo denominado Art Déco. Segundo Luccas: O termo surgiu (...) cunhado a partir da Exposição de Artes Decorativas de Paris (1925), onde apresentou-se uma tendência da arquitetura como parte de um contexto mais amplo do design daquele momento. Essa arquitetura traria como características principais a clareza dos volumes e limpeza das formas; evolução do sistema estrutural (especialmente de concreto armado) apresentando marquises, balanços, e janelas nos cunhais; decorações geometrizadas e contidas em baixo ou alto relevo; uso eventual de esculturas estilizadas, míticas ou atléticas; vitrais usualmente brancos e leitosos, explorando o desenho figurativo através de linhas e texturas; composições acadêmicas, mais do que clássicas, admitindo assimetrias provenientes do pitoresco; entre outras características típicas.170 Figura 164 Casa Djalma Jobim (1933). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 15.832 do microfilme nº 57. O uso do novo estilo deu a Monteiro Neto o reconhecimento de como um dos vanguardistas desta arquitetura, com as casas Manlio Agrifoglio (figura 157) e Oswaldo Coufal. Ambas as casas, juntamente com o Pórtico da Exposição Agro-Pecuária e Industrial de Porto Alegre de formas sintéticas, ao qual acrescentaram-se imagens e detalhamentos maquinistas de navios e usinas, como volumes cilíndricos, escadas e guarda-corpos navais, onde as linguagens corbusiana e sachlich tangenciavamse. Além da aplicação de estruturas e elementos de comunicação ao modo construtivista russo, adotados por arquitetos como Hannes Meyer e alguns dos “funcionalistas” tchecos. A aparente unidade inicial sugeriu a existência de um Estilo Internacional, o que era uma visão reducionista da realidade. LUCCAS, 2004, pg, 56. 169 Ver o capítulo “Modernidade Programática 1922-1943”. SEGAWA, 2010, pg. 53. 170 LUCCAS, 2004, pg. 97. Figura 165 Casa Leopoldo Freyre Pinto (1933). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.887 do microfilme nº 55. 113 (figura 158) foram projetados no ano de 1931, ou seja, apenas um ano após a chegada do arquiteto em Porto Alegre. Nesta fase, a produção neocolonial de Monteiro Neto estava vinculada as suas ideias de nacionalismo, amplamente defendida nos seus artigos no jornal Diário de Notícias. Segundo Amaral: Esse nacionalismo que buscava uma arquitetura própria, caracterizada por uma “identidade nacional”, teria que buscar soluções plásticas e estilísticas fora dos reportórios dos antigos colonizadores, pois para ser coerente no campo político era ilógico que o chamado patriótico desse espaço para recordar dos conquistadores.171 Kessel comenta que a ideia de uma arquitetura neocolonial, “propugnada em artigos e conferências pelo arquiteto português Ricardo Severo a partir de 1914, principalmente em Figura 166 Casa da Brigada Militar do Estado (1933). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.326 do microfilme nº 55. São Paulo, foi encampada por vários intelectuais e encontrou seu maior defensor na figura do intelectual José Mariano Filho, cuja atuação permaneceria fortemente identificada com o movimento durante as décadas de 1920 e 1930”172. Bruand afirma que: Embora o movimento neocolonial tenha começado em São Paulo em 1914, à atuação pessoal de Ricardo Severo, seguido logo depois por Victor Dubugras, não foi neste Estado que alcançou grande expansão e importância em termos históricos. (...) A situação no Rio de Janeiro era bem diversa. É certo que também ali existia a facilidade de demolir, mas essa atitude não assumia o mesmo caráter sistemático que tinha em São Paulo. E, principalmente, o clima cultural não era o mesmo; na Capital Federal existia uma elite intelectual que não ficava indiferente ao estudo das artes do passado.173 . Figura 167 Casa com proprietário não identificado (1933). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 2.202 do microfilme nº 53. 171 172 173 AMARAL, 1994, pg. 147. KESSEL, 1999. BRUAND, 2005, pg. 54. 114 Bebendo destas fontes, Monteiro Neto projeta entre os anos de 1931 e 1933, três obras neocoloniais, que foram a casa Serapião Mariante Guimarães, a casa Herbert Von BrixenMontzel e a sede do Grêmio Gaúcho. O arquiteto retornou às fontes do estilo neocolonial entre os anos de 1941 e 1944, mas de forma um pouco distinta: este período foi de intensa produção de casas em estilo californiano, onde a referência colonial se reporta à arquitetura espanhola do oeste dos Estados Unidos e do México. Figura 168 Casa Leopoldo R. Schreiner (1933). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.957 do microfilme nº 56. Figura 169 Casa Manoel Martins Costa Sobrinho (1933). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 12.780 do microfilme nº 56. 115 3.1.1. 1930 Neste ano, apenas dois projetos foram encontradas no Arquivo Público. O primeiro projeto de Monteiro Neto aprovado em Porto Alegre foi uma Estação de Trens Liliputis (figura 170), de características ecléticas, localizado no Parque da Redenção, atual Parque Farroupilha, o qual teve divulgação na imprensa local174. No mesmo ano é projetada a Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre (figura 171), também eclética, sendo que o desenho de sua fachada foi usado como ilustração de um Figura 170 Estação de trens Liliputis no Parque da Redenção. Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. informe sobre o lançamento da pedra fundamental desta instituição em edição da Revista do Globo175. Tais projetos, em função das sua divulgação, provavelmente ajudaram a inserir o nome de Monteiro Neto no quadro arquitetônico local, adicionando-se ainda a função exercida por ele na Intendência Municipal e principalmente a sua atividade de colunista de arquitetura no jornal Diário de Notícias a partir da segunda metade deste ano. Figura 171 Imagem da Escola Médio-cirúrgica ilustrada na Revista do Globo. Fonte: Revista do Globo nº 16, 30/08/1930, s/p. 174 175 Ver Trem Liliput, pg. 117. “Escola Medico-Cirurgica”. Revista do Globo. Ano II, nº 16, 30/08/1930, s/p. 116 3.1.2. Trem Liliput O primeiro projeto de Monteiro Neto aprovado na Prefeitura Municipal foi uma pequena Estação de Trens Infantis denominados Liliput176 no ano de 1930. Até então sua ocupação profissional estava relacionada ao Departamento da Diretoria Geral de Saneamento da Intendência Municipal. Tal projeto apresenta a data de 14 de junho de 1930, período ainda anterior às primeiras participações do arquiteto como colunista no jornal Diário de Notícias. Na busca de informações sobre a real existência e efetiva construção desta estação de trens infantis, encontrou-se uma reportagem, no mesmo jornal já mencionado177, que dava destaque para esta forma de recreação, citando que ela viria preencher uma lacuna da cidade em se tratando do divertimento das crianças (figura 172). O artigo tratava o assunto da seguinte forma: Porto Alegre é uma cidade que apesar de seus trezentos mil habitantes, do seu intenso movimento industrial e comercial, apesar de ser a cabeça de um dos mais ricos e prósperos Estados do Brasil, está ainda despida de umas tantas coisas que, em centros menores se reproduzem a cada passo. (...) Uma das diversões infantis que são mais procuradas, em todos os centros adiantados, pelas crianças, são as estradas de ferro liliputianas, ou sejam ferrovias para os pequenos. (...) Para realizarem o seu objetivo se dirigiram os srs. Oswaldo Las Casas e Siqueira Bertolotti, à Municipalidade, pedindo a licença necessária, que lhes foi dada há poucos dias.178 Figura 172 Artigo no jornal Diário de Notícias sobre a implantação de uma estrada de ferro liliputiana no parque da Redenção. Fonte: Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. Outra confirmação importante foi uma foto encontrada no Museu Joaquim José Felizardo179 que nos apresenta tal estrada de trens em pleno funcionamento (figura 170). Esta foto 176 177 178 179 Processo 11.167, do microfilme nº 42, no Arquivo Público de Porto Alegre. “Para o prazer da petizada”. Diário de Notícias. Porto Alegre, 22 de agosto de 1930, pg. 06. Ibidem. Museu Histórico da cidade de Porto Alegre (http://www2.portoalegre.rs.gov.br). 117 comprova que, mesmo sem ter encontrado um registro oficial de sua existência, a ferrovia tenha sido de fato, por algum tempo, uma forma de diversão das crianças na época. O projeto consistia em uma linha férrea com aproximadamente 850 metros de extensão junto da av. Redenção, atual João Pessoa, dentro dos limites do Parque da Redenção, atual Parque Farroupilha. Conforme o projeto, seu percurso partia do alinhamento da rua 1º de Maio, atual Sarmento Leite, num caminho que retornava e contornava a estação de partida e seguia até o alinhamento da rua Lopo Gonçalves (figura 174). Figura 174 Planta baixa do percurso dos trilhos e da Estação. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.167 do microfilme nº 42. Compreendia também este projeto um pequeno quiosque no final da linha e a estação já mencionada. Esta Estação, em pequena escala, se destinava a guarda da locomotiva e Figura 173 Fachada frontal da Estação de trens Liliputis no Parque da Redenção. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.167 do microfilme nº 42. vagões. A estação, toda em madeira, apresentava um estilo de arquitetura europeia de zona montanhosa, talvez de referência alpina, devido à inclinação aguda do telhado e à presença 118 de mansardas. Essa aparência insere o edifício no quadro da arquitetura eclética daquele momento (figuras 173 e 175). O objetivo da forma era apenas fazer referência a uma estação de trem real, uma vez que internamente o seu uso era apenas de garagem para os equipamentos. Na parte externa, um dos lados abrigava a plataforma coberta de embarque e desembarque. Figura 175 Fachada lateral da Estação de trens Liliputis no Parque da Redenção. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.167 do microfilme nº 42. 119 3.1.3. Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre A Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre surgiu como um desdobramento da Faculdade de Medicina Homeopática do Rio Grande do Sul, propondo uma formação alternativa ao curso superior da Faculdade de Medicina e Farmácia de Porto Alegre, já existente desde 1898180. Segundo Beatriz Weber: Surge, em 1914, uma nova faculdade: a Faculdade de Medicina Homeopática. O Pe. Landell de Moura e os Drs. Bueno Goulart, Vieira Pires, Sabino Menna Barreto e Ignácio Capistrano Cardoso faziam parte do corpo docente. Essa faculdade transferiu a matrícula dos seus alunos para a Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre em fevereiro de 1915, quando esta foi organizada. Inicialmente só tinha um laboratório de Química Biológica e de Microbiologia Clínica. Em 1916, instalou uma policlínica anexa, com a função de fornecer gratuitamente serviços médicos farmacêuticos e dentários as pessoas doentes, 'reconhecidamente pobres', e aos que a ela recorressem. A Policlínica foi instalada para ser local dos estudos práticos para os alunos, pois, significativamente, a Santa Casa não permitia que esses estudos fossem feitos nas suas enfermarias, mesmo após a intervenção de Protásio Alves, na época Secretário dos Negócios do Interior e Exterior do Estado.181 Figura 176 Local onde seria construída a nova sede para a Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre, na avenida João Pessoa próximo do Parque da Redenção e Colégio Militar. Fonte: Google Earth. Ainda segundo Beatriz Weber: A Escola Médico Cirúrgica parece ter sido malvista pelos demais médicos formados no Estado, provavelmente por tentar manter-se vinculada ao governo estadual e por utilizar práticas que eles procuravam desqualificar, como a homeopatia. A Escola foi fechada logo após a regulamentação do exercício profissional, em 1932, quando uma comissão avaliou que ela não atendia às “condições formais” para funcionar.182 180 181 182 http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/P/verbetes/escmecipa.htm WEBER, 1999, pg. 112. WEBER, 1999, pg. 112. 120 A Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre foi o segundo projeto de Monteiro Neto registrado no Arquivo Público de Porto Alegre183. A nova sede para esta escola foi aprovada no ano de 1930 e seria construída na avenida Redenção, atual avenida João Pessoa, em um terreno cedido pela Prefeitura Municipal. Tratava-se de uma edificação de dois pavimentos e um porão alto, com uma linguagem acadêmica, simétrica e com inúmeros elementos clássicos, como frontão, entablamento, colunas coríntias, pilastras, balaustradas e rusticação (figura 177). Figura 178 Planta Baixa do pavimento térreo da Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.689 do microfilme nº 43. Figura 177 Fachada da Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.689 do microfilme nº 43. 183 Processo 11.689, do microfilme nº 43, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 121 O terreno onde seria construída esta edificação atualmente abriga uma Clínica Médica, mas sem nenhum vestígio do projeto de Monteiro Neto. O fato de esta instituição ter sido fechada no ano de 1932 reforça a hipótese de que o projeto nunca tenha saído do papel. O edifício se localiza recuado da avenida, com um jardim do qual parte a escadaria de acesso ao primeiro pavimento. A planta deste andar é fortemente marcada por um eixo central, onde a simetria é quase total, não fosse por uma pequena adequação para sanitários (figura 178). Neste pavimento, o acesso leva a um saguão central que encaminha para uma escadaria de acesso ao segundo pavimento. Desse modo, a escada externa vista desde a rua tem sua correspondência na vista da escadaria interna ao acessar o saguão térreo. Este tipo de escada, com arranque inicial único desdobrado em dois de sentido oposto no patamar intermediário, é típica na arquitetura da cidade, como nos casos da Intendência Municipal, do Palácio Piratini e faculdades de Direito e Medicina. O saguão térreo dá acesso a Figura 179 Planta Baixa do segundo pavimento da Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.689 do microfilme nº 43. “secretaria”, quatro salas, “portaria”, “direção” e outros sanitários além dos já citados. No pavimento superior, o “vestíbulo” encaminhava para mais quatro salas e um grande “salão nobre” (figura 179), espaço de eventos especiais da instituição. A simetria bilateral neste último pavimento é absoluta, estando as salas nas extremidades e o salão nobre e a escadaria ao centro. Os cortes mostram o cuidado da representação, que foi sempre uma característica do arquiteto (figuras 180 e 181). É possível verificar também que os ambientes possuíam grandes pés-direitos, sendo um de 4,4m no primeiro pavimento e outro de 4,8m no segundo pavimento, adicionando-se ainda um porão com 2,5m que confere imponência a escada de acesso principal. 122 A qualidade de representação pode ser vista no desenho da fachada. A marcação do eixo principal é reforçada por uma linha vertical, que é também reproduzida diversas vezes para apresentar outros eixos menores, que dão ritmo aos elementos da fachada. O conjunto do grande frontão central com entablamento sustentado por quatro colunas com capitéis coríntios demonstra o conhecimento de Monteiro Neto das artes e da arquitetura clássica. Os fechamentos laterais também são delimitados por duas semicolunas coríntias – uma de cada lado da edificação. Figura 181 Corte transversal da Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.689 do microfilme nº 43. Figura 180 Corte longitudinal da Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.689 do microfilme nº 43. O caráter institucional do projeto provavelmente levou o arquiteto a escolher a linguagem clássica como estilo a adotar, a exemplo do projeto posterior de Fernando Corona para a Escola Normal, no ano de 1934184. 184 Sobre o projeto de Fernando Corona para a Escola Normal ver CANEZ, 2004, pg. 65 a 81. 123 3.1.4. 1931 No ano de 1931 Monteiro Neto projeta para o Sr. Serapião Mariante Guimarães185 uma casa modesta de dois pavimentos, localizada na rua Dona Tereza, atual Jacinto Gomes. Com distribuição espacial convencional (figura 183), tendo no térreo a sala de visitas, sala de jantar, despensa e cozinha e no pavimento superior, três quartos e um banheiro, esta casa remete-se ao estilo neocolonial devido aos ornatos de sua fachada principal. A pedra aparente é usada em parte do revestimento frontal, as janelas tem seus adornos característicos deste estilo e os detalhes provavelmente incluem azulejos. É possível dividir a fachada em quadrantes com tratamentos distintos (figura 182). De um lado, a janela do Figura 182 Fachada frontal da casa Serapião Mariante Guimarães. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 13.533 do microfilme nº 47. térreo tem o fechamento em arco pleno enquanto no segundo pavimento este detalhe é projetado em arco composto. Na outra extremidade, a projeção de uma pequena cobertura protege a porta de acesso, enquanto no pavimento acima, duas aberturas estreitas são emolduradas pela textura no revestimento da parede. Outra diferença entre as duas extremidades é a terminação alta de um lado enquanto de outro a cobertura finaliza com beiral em projeção. Apesar da diversificação de elementos, que poderia nos remeter ao ecletismo, os elementos neocoloniais são mais característicos. Ainda neste ano foi projetada a casa Ernesto Essenfelder186 (figura 187), um exemplar que em muito se assemelha a uma residência que serviu de ilustração para um dos artigos de Monteiro Neto no jornal Diário de Notícias (ver páginas 75 e 76). Esta residência, que se localizava na rua Coronel Bordini, já demonstrava os novos hábitos do portoalegrense, Figura 183 Plantas baixas da casa Serapião Mariante Guimarães. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 13.533 do microfilme nº 47. 185 186 Processo 13.533, do microfilme nº 47, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Processo 21.077, do microfilme nº 49, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 124 tendo, além dos ambientes comuns a uma casa, espaço destinado a guarda do automóvel dentro dos limites da edificação (figura 188) e não em garagens separadas, como de costume na época. A perspectiva do arquiteto mostra um alinhamento com o Art Déco, em contraste com a residência anterior. Figuras 184, 185 e 186 Planta do pavimento térreo da casa Paulo Alberto Seimmeher (esq.). Planta do segundo pavimento da casa Paulo Alberto Seimmeher (centro). Fachada da casa Paulo Alberto Seimmeher (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.281 do microfilme nº 49. Figura 187 Fachada da casa Ernesto Essenfelder. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.077 do microfilme nº 49. Outra casa também de dois pavimentos foi projetada para o Sr. Paulo Alberto Seimmeher187. Esta edificação ainda existe, localizada na rua Santana, nº 654. Trata-se de uma casa bastante compartimentada, que abrigava em parte do seu térreo um uso comercial e no restante ambientes destinados ao uso residencial (figura 184). O pavimento superior destinava-se exclusivamente ao uso residencial (figura 185), caracterizando este imóvel como sendo de uso misto. A fachada apresenta alguns elementos clássicos, porém bem simplificados como frisos e janelas geminadas separadas por pilastras que não representam nenhuma ordem clássica (figura 186). 187 Processo 21.281, do microfilme nº 49, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Figura 188 Plantas baixas da casa Ernesto Essenfelder. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.077 do microfilme nº 49. 125 3.1.5. Residência Manlio Agrifoglio A casa Manlio Agrifoglio, cujo projeto foi aprovado no ano de 1931188, pode ser considerada como uma obra moderna pioneira no contexto arquitetônico do período em Porto Alegre, onde ainda predominava o ecletismo classicista. Monteiro Neto, que até então tinha projetado uma edificação nesse estilo para a Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre, a estação de trem Liliput com motivos alpinos e a residência Serapião Mariante Guimarães em estilo eclético, surpreende com uma residência moderna. O estilo adotado nesta casa reflete a influência de Warchavchik189 e foi defendido pelo arquiteto em seus artigos no Figura 189 Perspectiva da casa Manlio Agrifoglio. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 48. Diário de Notícias como sendo típico de uma obra econômica e racional (figura 189). Tomando por referência as obras apresentadas por Weimer apenas duas edificações precederiam a casa Agrifoglio nesse tipo de alinhamento moderno, mais radical na abstração volumétrica. Tratam-se de duas casas já demolidas, projetadas por Robert Wihan no ano de 1930 (casa Robert Wihan e casa Johan Wihan)190. A localização desta casa ganharia ainda mais importância devido ao conjunto que se formou com a construção da casa Oswaldo 188 189 Figura 190 Fachada da casa Manlio Agrifoglio. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 48. Processo 19.824, do microfilme nº 48, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. A agitação provocada pelas paredes lisas e sem ornamentos de Warchavchik, em 1928, estava tranquilamente assimilada menos de dez anos depois, às vezes pelos profissionais que se postaram contra a inovação. Da mesma forma, arquitetos que cerraram as primeiras filas pela arquitetura moderna deixaram o dogmatismo renovador de fato por um relacionamento melhor com uma clientela conservadora, ignorante ou indiferente, incapaz de criteriosamente fixar uma opção arquitetônica. Foram poucos, aliás, que seguiram fiéis a linhas arquitetônicas definidas e acompanharam o desenvolvimento das referências modernas dos anos de 1920. Sequer Warchavchik – radical ao abraçar e propagandear os conceitos da vanguarda européia – foi ortodoxo nesse sentido, derivando a sua obra a partir dos anos de 1940 para o lugar-comum do mercado imobiliário das elites sociais de São Paulo. SEGAWA, 2010, pg. 72 e 73. 190 Ver: WEIMER. 1998. 126 Coufal, também projetada por Monteiro Neto em 1931, ambas formando as esquinas da avenida Guaíba com a avenida Flamengo. Luccas comenta sobre as casas Manlio Agrifoglio e Oswaldo Coufal: Uma modernidade que consistia na restrição pragmática das formas dos elementos de arquitetura à solução construtiva, dentro dos limites que as alvenarias de tijolos e a curta experiência local com o concreto armado poderiam oferecer naquele momento, com pequenos balcões e marquises em balanço. O uso de janelas nos cunhais, ao modo de Warchavchik e de seus antecedentes racionalistas europeus, representavam incipientes tentativas de “desmaterialização” da arquitetura, de eliminação da massa construída através da explicitação de planos recortados. Janelas que passaram a ser executadas em ferro, com frequência, sob a solução de básculas. Sendo os telhados representativos da tradição por excelência, as coberturas foram resolvidas sob a forma de terraços (...). Esta forma de cobertura como contraponto horizontal ao volume da casa, aliada à composições assimétricas e uma disposição aparentemente “funcional” das aberturas, geravam um resultado formal muito próximo das imagens institucionais da modernidade racionalista. O ineditismo das formas foi buscado através do uso de matrizes geométricas mais ousadas, em especial das geratrizes de plantas com trechos semicirculares, presentes nos vértices de esquina das duas residências.191 A construção da casa Agrifoglio como também a casa Coufal foram possíveis devido a três fatores importantes: a iniciativa de Monteiro Neto na implantação de uma arquitetura que refletisse o momento de modernização da cidade, o vanguardismo da empresa Barcellos & Cia. que possibilitou a este arquiteto concretizar seu ideário enquanto assumia a chefia do departamento de arquitetura desta construtora e o espírito empreendedor dos proprietários, que aliados a um terceiro foram os compradores das terras e idealizadores do balneário Ipanema, local onde as casas foram construídas192. Portanto, além de um balneário com ares 191 192 LUCCAS, 2004, pg. 99. ZH Zona Sul. Ipanema: a origem do balneário. 05 de outubro de 2010. Reportagem de Janete Rocha Machado que apresenta Oswaldo Coufal, Manlio Agrifoglio e Failace como uma grupo de empreendedores que comprara da família Pellin a área de terras onde seria implantado o balneário apresentando um mapa já loteado e segundo eles também já aprovado pela Prefeitura. Segundo a reportagem, a área foi vendia a época Figura 191 Plantas baixas da casa Manlio Agrifoglio. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 48. 127 de prosperidade e de modernidade, os empreendedores transferiam também para suas casas tais características como uma espécie de propaganda desta realidade. Ao contrário do ineditismo estético, a funcionalidade desta residência estava associada as necessidades básicas de uma casa de fim de semana para uma pequena família (figura 191). Tratava-se uma residência simples, de forma prismática, onde uma das arestas foi substituída por uma parede curva junto à qual foi colocado um terraço estreito e em curva que também servia de abrigo para a entrada principal da casa. Uma laje de concreto servia de cobertura para o terraço. No piso térreo, um conjunto copa-cozinha ligava diretamente à sala de jantar que também fazia o papel de sala de estar, função esta que, em parte, era absorvida por um hall superdimensionado. No piso superior, um dormitório para o casal, dois quartos minúsculos e uma saleta estavam distribuídos ao longo de um corredor que levava a um banheiro de dimensões mínimas. Através da saleta, havia um acesso ao terraço coberto.193 Figura 192 Corte transversal da casa Manlio Agrifoglio. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 48. Sua qualidade e destaque arquitetônico não estão em suas dimensões, que geraram ambientes de fato pequenos, nem na sua solução espacial, que é bastante simples, nem tão pouco no seu sistema construtivo (basicamente paredes portantes e lajes planas), mas sim na sua forma geometricamente pura com superfícies planas e sem qualquer tipo de ornamentação. Este representante dos primórdios da arquitetura moderna de Porto Alegre foi demolido no ano de 2001 (figura 190). Figura 193 Corte longitudinal da casa Manlio Agrifoglio. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 48. pela quantia de 20 contos de réis. Fonte: http://wp.clicrbs.com.br/zhzonasul/2010/10/05/ipanema-a-origem-dobalneario. 193 WEIMER, 1998, pg. 49. 128 3.1.6. Residência Oswaldo Coufal A casa Oswaldo Coufal, da mesma forma que a casa Agrifoglio, teve seu projeto aprovado na Prefeitura de Porto Alegre no ano de 1931194. Estas duas casas formavam uma espécie de “portão de entrada” para a avenida Flamengo, uma vez que ambas se localizavam em terrenos de esquina, uma de cada lado da via, na intersecção com a avenida Guaíba. Segundo Janete da Rocha Machado, Oswaldo Coufal nasceu em Pelotas no dia 5 de novembro de 1899, formou-se em engenharia civil em 1922, e em 1931, já constituía sociedade com os irmãos Agrifoglio, cujo objetivo era transformar uma grande área rural à beira do Guaíba em um balneário para veranistas. Assim, toda a área foi lentamente urbanizada. A pavimentação das ruas foi feita com pedra irregular extraída da pedreira existente no local e o serviço de captação e distribuição de água para as casas de veraneio era feito, inicialmente, direto do rio, e posteriormente, por meio de poços artesianos e de um grande reservatório construído na praça central. A energia elétrica era distribuída a partir de um gerador próprio e por um tempo limitado de uso diário. Desta forma, os meses de veraneio, férias e calor eram ansiosamente aguardados por todos aqueles que gostavam de Ipanema e que tinham casas na região.195 Figura 194 Perspectiva da casa Oswaldo Coufal. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.371 do microfilme nº 49. Ainda segundo Machado: Na beira do rio, a Avenida Guaíba margeava a grande enseada, formando o balneário, onde os primeiros moradores construíram suas casas de veraneio, os chalés. Muitas eram casas de madeira, próprias para o verão. Porém, havia aqueles que preferiam construir belas moradias, mais confortáveis e luxuosas, como é o caso das famílias Coufal e Agrifoglio. É importante salientar que, a partir dessas construções no bairro Ipanema, pioneiras na época, [consolida-se] a modernidade na arquitetura em Porto Alegre.196 Figura 195 Fachada da casa Oswaldo Coufal. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.371 do microfilme nº 49. 194 195 196 Processo 21.371, do microfilme nº 49, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. MACHADO, 2011, pg. 42 e 43. MACHADO, 2011, pg. 52 e 53. 129 Tratava-se de uma casa térrea, utilizada para lazer nos fins de semana, mas com uma proposta inovadora (figura 194). Utilizando a mesma linguagem purista da casa Agrifoglio, a casa Coufal se configura como um belvedere elevado coberto por uma fina laje de concreto que tinha o nítido objetivo de proporcionar aos seus usuários a vista elevada do rio Guaíba. A área correspondente a ocupação do térreo é coberta por uma laje plana que é utilizada em sua totalidade como terraço. A cobertura proposta para o terraço proporciona, além de proteção, uma amplitude volumétrica. Uma vez coberto era possível a permanência neste espaço por um período maior do que os espaços totalmente desprotegidos ao sol. Com Figura 196 Planta baixa da casa Oswaldo Coufal. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.371 do microfilme nº 49. um fechamento de peitoris metálicos numa clara alusão com o deck de um navio, o terraço por si só cria o ambiente de lazer e tranquilidade que provavelmente era buscado por seus usuários no momento da sua concepção (figura 195). Da mesma forma que a casa Agrifoglio, o projeto microfilmado não apresenta a assinatura de Monteiro Neto como projetista, mas como as demais obras realizadas pela construtora Barcellos & Cia. no período de 1931 a 1934, esta também lhe é atribuída por ser neste período o chefe do departamento de arquitetura da empresa. A representação gráfica não tem a mesma qualidade dos demais projetos realizados para outras empresas ou até mesmo realizados por sua própria empresa, onde sua assinatura é facilmente identificável. Isso mostra que o projeto enviado para aprovação não foi desenhado pelo arquiteto. A configuração espacial desta residência não reflete sua ousadia externa. A planta é bastante simples, provavelmente pelo ao fato de ser uma casa de fim de semana, e apresenta ambientes de dimensões reduzidas com um zoneamento de usos conflitantes (figura 196). Uma sala de estar e jantar, no centro da construção, dá acesso de um lado a dois quartos e Figura 197 Fachada de fundos da casa Oswaldo Coufal. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.371 do microfilme nº 49. 130 um banheiro e de outro a um quarto, separado dos demais, e uma cozinha. Uma escada externa, disposta na fachada posterior da edificação, dá acesso ao terraço (figura 197). O aspecto de casa belvedere desta residência (figura 198) demonstra que Monteiro Neto estava atento à produção de arquitetos europeus tais como Mallet-Stevens197. Figura 198 Casa de Coufal em construção no ano de 1931. Fonte: Acervo da família Coufal. Robert Mallet-Stevens (24 de março de 1886, Paris - 08 de fevereiro de 1945) foi um arquiteto e designer francês. Junto com Le Corbusier, ele é amplamente considerado como a figura mais influente na arquitetura francesa no período entre as duas Guerras Mundiais. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Mallet-Stevens. 197 131 3.1.7. Pórtico Monumental da Exposição Agro-Pecuária e Industrial A Exposição Agrícola, Pastoril e Industrial, promovida pela Federação das Associações Rurais do Rio Grande do Sul em 1931 e patrocinada pelo Interventor Federal, teve como principal elemento de divulgação seu “Pórtico Monumental”. Em 24 de outubro de 1931, o jornal Diário de Notícias198 já estampava em página inteira a perspectiva do pórtico de entrada desta exposição que se iniciaria em 20 de novembro daquele ano (figura 199). Nesta mesma página publicitária o nome de Monteiro Neto é citado como sendo o autor do projeto e responsável pela fiscalização. Esta perspectiva, assinada pelo arquiteto, reforça as qualidades deste profissional na representação de seus projetos. A construção desta edificação coube aos engenheiros Dlugosiewicz, Freire & Cia. Em mais uma nota publicitária sobre a exposição no mesmo jornal em 30 de outubro, é apresentada uma foto do andamento das obras com apenas oito dias de trabalho, mas com Figura 199 Perspectiva ilustrando a Exposição Agrícola, Pastoril e Industrial de 1931. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 24/10/31, pg. 09. toda a estrutura praticamente montada, mostrando a velocidade de execução em função da proximidade do evento (figura 200). Esta mesma nota descreve o projeto da seguinte forma: Esta magnífica mostra de arte, representação autêntica, em suas proporções e apuro de linhas, das últimas novidades em obras de cimento armado, é, como se vê, um trabalho de duração transitória; compõe-se de um esqueleto de madeira revestido de estuque. O conjunto desta obra que vai servir de pórtico monumental ao maior certame industrial, agrícola e pastoril, até hoje realizado no Rio Grande do Sul, mede 100m de frente, tendo o corpo principal 16m de altura. 198 Publicidade em página inteira. Diário de Notícias. Porto Alegre, 24/10/1931, pg. 09. 132 Os muros laterais, num desenvolvimento de 30m para cada lado, se destinam à colocação de anúncios iluminados. Tais anúncios constituem o que se pode imaginar de mais moderno e eficaz no espírito da propaganda.199 Ainda nesta mesma nota o nome de Monteiro Neto é grifado e adjetivado como “o arquiteto mais conhecido em todo o sul do Brasil”200. A própria descrição do jornal Diário de Notícias mostra o caráter efêmero da obra e a busca por elementos que se assemelhem às novidades construtivas alcançadas pela utilização do concreto armado, como balanços e estruturas esbeltas. Além disso, a volumetria é assimétrica e despojada de ornamentos, tendo sua expressão plástica na coordenação abstrata de prismas, cilindros, placas e colunas. Baseando-se ainda nas informações do jornal, é notável a velocidade de execução, mesmo numa concepção transitória em madeira e estuque, que demonstra a capacidade e domínio desta técnica por seus executores. O jornal Correio do Povo datado do dia da inauguração da Exposição, com o título de “Brilhante demonstração do trabalho rio-grandense”201, apresenta, em página inteira, um grande relatório que descreve, em detalhe, quem foram seus organizadores, autoridades convidadas, os eventos que aconteceriam e as premiações, entre outros assuntos. Neste informe, também é mostrada a “Porta Monumental”, com destaque para a rapidez em sua execução e pelo estilo que representa uma “arquitetura moderna” (figura 201). Pelas imagens e descrições da imprensa da época é possível observar que o pórtico, que marcava a entrada da exposição, teve grande repercussão, talvez, por representar o novo estilo arquitetônico moderno. Deveriam estar concentradas neste pórtico as expectativas dos 199 200 201 Figura 200 Foto datada de 29 de outubro de 1931 do andamento das obras do Pórtico Monumental. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 30/10/31, pg. 09. Figura 201 Foto do Pórtico Monumental em noticiário do dia da sua inauguração. Fonte: Jornal Correio do Povo, 20/11/31, pg. 07. Publicidade. Diário de Notícias. Porto Alegre, 30/10/1931, pg. 09. Ibidem. Noticiário. Correio do Povo. Porto Alegre. 20/11/1931, pg. 07. 133 organizadores do evento em associar a exposição, de caráter mais tradicional (agricultura e pecuária) com a modernidade. A obra de fato apresenta uma série de elementos, que para a época poderiam representar uma arquitetura nova, “moderna”, mas que na sua composição, acabou um tanto sobrecarregada. O pórtico foi composto basicamente por uma base com poucas aberturas, provavelmente para suas bilheterias, onde o acesso aparentemente era estreito e sob um conjunto de marquises. Duas torres se elevavam sobre esta base, uma com menor altura e Figura 202 Foto do Pórtico Monumental em nota sobre a Exposição no jornal Diário de Notícias. Fonte: Jornal Diário de Notícias, 26/11/31, pg. 06. outra com praticamente duas vezes a altura da primeira. Mesmo que com proporções diferentes, ambas tem os mesmos elementos constitutivos, ou seja, um terraço com fechamento em guarda-corpo semelhante ao de um navio, e uma colunata disposta em formato cilíndrico coberta por uma laje redonda e plana, formando uma espécie de mirante. Outros elementos como sacadas, volumes e lajes, que se projetam das paredes, deram o formato final a este pórtico (figura 203). O pórtico foi o primeiro projeto de Monteiro Neto a alcançar grande repercussão. Ainda que tendo alcançado o objetivo de dar destaque à entrada da exposição, sua composição perde algo de sua expressão pela pouca coordenação de partes e por seu isolamento como marco de entrada pouco articulado com a avenida e o restante da exposição (figura 202). Isso não Figura 203 Foto do Pórtico Monumental em nota sobre a Exposição na Revista do Globo. Fonte: Revista do Globo nº 27, 21/11/1931, s/p. diminui a importância de obra para a própria exposição quanto para a divulgação das qualidades projetuais de Monteiro Neto. O pórtico é uma experiência pioneira de arquitetura moderna na cidade. Nesse sentido, cabe salientar seu caráter de antecedente da Exposição Farroupilha de 1935, onde a modernidade se fez presente em todo o conjunto. 134 3.1.8. 1932 No ano de 1932, duas casas chamaram a atenção pelas suas semelhanças na organização espacial e utilização de estilos completamente diferentes. Ambas foram construídas na mesma rua, uma em frente a outra. Tais edificações são a casa Herbert Von BrixenMontzel (figura 205) e a casa Emílio Fernandes das Néves (figura 206), que por esta peculiaridade serão abordadas com mais detalhes nos próximos subcapítulos. Além destas duas casas, Monteiro Neto projetou uma ampliação para o Sr. Armando Bello Barbedo (figura 204), nos fundos da edificação localizada na rua Marechal Floriano Peixoto nº 193. Porém, devido a simplicidade do projeto, não foi possível analisar e tão pouco classificar tal obra em um determinado estilo utilizado pelo arquiteto. Figura 205 Fachada principal da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.793 do microfilme nº 51. Figura 204 Parte do projeto de ampliação para o Dr. Armando Bello Barbedo. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.475 do microfilme nº 52. Figura 206 Fachada frontal da casa Emílio Fernandes das Néves. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 53. 135 3.1.9. Residência Herbert Von Brixen-Montzel O palacete da rua Santa Terezinha, nº 201, foi projetado por Monteiro Neto para o Sr. Herbert Von Brixen-Montzel no ano de 1932202. Uma comparação entre as casas Herbert Von Brixen-Montzel e Emílio Fernandes das Néves é pertinente a fim de demonstrar a semelhança entre os dois programas e a diferença no estilo arquitetônico adotado. A proximidade das duas construções (localizadas na mesma rua uma em frente à outra), data do projeto (ambas de 1932) e a mesma empresa construtora (Barcellos & Cia.) também são fatos que nos induzem a fazer este comparativo, uma vez que a casa Emílio Fernandes das Néves também é de autoria de Monteiro Neto. No projeto original, ambas as casas tem um programa bastante semelhante. O pavimento térreo foi projetado para abrigar as dependências sociais e de serviço como hall, sala de Figura 207 Casa Herbert Von Brixen-Montzel. Foto de 2012. Fonte: Autor. visitas, sala de jantar, copa, cozinha e despensa (figuras 209 e 210). A casa Emílio Fernandes possui apenas dois ambientes a mais, neste pavimento que a casa Herbert Montzel, que são uma sala de costura e as dependências da “creada” (sic). A distribuição interna é muito semelhante nos dois projetos. A partir de um pórtico de entrada adentra-se ao hall, que em ambas as casas abriga a escada de acesso ao segundo pavimento. A escada é disposta da mesma forma nos dois projetos, ou seja, em “L” junto às paredes, deixando o vão central livre. Também em ambas as casas a sala de visitas fica ao lado direito do hall, que em uma delas era chamada de “sala de visitas” propriamente e em outra de “gabinete”. A “sala de jantar” tem a mesma posição e o mesmo formato, com a parede externa projetando uma curva para fora dos limites da casa. Uma pequena “saleta” aparece em 202 Figura 208 Detalhe da passagem de automóvel da casa Herbert Von Brixen-Montze. Foto de 2012. Fonte: Autor. Processo 8.793, do microfilme nº 51, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 136 frente à sala de jantar novamente nos dois projetos. Os demais ambientes ao fundo são os que apresentam uma disposição um pouco diferente, em função dos dois ambientes que a casa Emílio Fernandes possui a mais, mas igualmente caracterizam o posicionamento das áreas de serviço na parte posterior. Figura 211 Corte transversal da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.793 do microfilme nº 51. Figura 212 Identificação no projeto da casa Herbert Von BrixenMontzel. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.793 do microfilme nº 51. Figuras 209 e 210 Planta baixa do térreo da casa Emílio Fernandes das Néves (esq.). Planta baixa do térreo da casa Herbert Von Brixen-Montzel (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.793 do microfilme nº 51 e processo nº 19.824 do microfilme nº 53. 137 No pavimento superior ficam os dormitórios, em ambas as casas em número de três (figuras 214 e 215). A disposição destes dormitórios também é muito semelhante, inclusive com presença de um ambiente denominado de “vestiário”, posicionado sobre a sala de visitas nos dois projetos. A posição do banheiro e do terraço difere um pouco de uma casa para outra em função da casa Emílio Fernandes ter maior comprimento que a casa Herbert Montzel e consequentemente um ambiente a mais chamado “trocador”. Figura 213 Detalhe construtivo da escada da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.793 do microfilme nº 51. Figuras 214 e 215 Planta baixa do pav. superior da casa Emílio Fernandes das Néves (esq.). Planta baixa do pav. superior da casa Herbert Von Brixen-Montzel (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.793 do microfilme nº 51 e processo nº 19.824 do microfilme nº 53. 138 Apresentadas as semelhanças de organização espacial, é possível verificar que as características externas são completamente distintas. Uma casa tem linhas retas, volumes puros, cobertura com terraço impermeabilizado e a outra apresenta uma exuberante ornamentação da fachada remetendo ao estilo neocolonial e cobertura convencional com telhas coloniais. Tal distinção mostra que Monteiro Neto considera o moderno como um estilo como os demais, sendo possível sua convivência na proximidade destas casas. Figura 217 Fachada lateral direita da casa Herbert Von BrixenMontzel. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.793 do microfilme nº 51. Figura 218 Detalhe do frontão, pináculo e balcão na fachada principal da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Fonte: Autor. Figura 216 Fachada principal da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.793 do microfilme nº 51. 139 A casa Herbet Montzel foi executada fielmente ao projeto de Monteiro Neto, não tendo sido simplificada pelo construtor quanto à ornamentação proposta pelo autor, o que acabou acontecendo em algumas outras obras. Além dos dois pavimentos assobradados a casa apresenta um pórtico de entrada com três arcos compostos (figura 216). Os arcos são subdivididos por quatro pilares de pedra rústica. Dentro de cada subdivisão, surgem duas colunas salomônicas que servem de apoio aos arcos. Figura 219 Fachada Lateral Esquerda da casa Herbert Von BrixenMontzel. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.793 do microfilme nº 51. Os pilares de pedra são articulados em dois pares por projeções com telhas na parte superior (figura 207). Isso confere ênfase ao centro, onde se localiza o acesso à casa. Essa ênfase é reforçada pela presença de balcão semicircular em projeção no terraço (figura 218). A simetria do pórtico térreo é desfeita no pavimento superior, ondo o módulo à direita se projeta como volume no alinhamento, com duas pilastras decoradas dando sequência aos pilares de pedra (figura 207). Ao centro, o volume recua para criar um terraço (figura 218). No módulo à esquerda, existe apenas a continuidade do pórtico como uma sequência planar. O frontão colonial do plano direito da fachada salienta este lado em contrapartida ao frontão de menor dimensão no lado esquerdo numa posição mais baixa (figura 208). Figura 220 Corte longitudinal da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.793 do microfilme nº 51. 140 3.1.10. Residência Emílio Fernandes das Néves A residência projetada por Monteiro Neto para o Sr. Emílio Fernandes das Néves203 é um sobrado de linhas modernas, localizada na rua Santa Terezinha nº 200, que se mantém praticamente intocado ao longo dos anos. A representação gráfica da casa Emílio das Néves é muito semelhante a outros projetos desenvolvidos pela construtora Barcellos & Cia., que são atribuídos a Monteiro Neto. Na comparação com outros projetos modernos do arquiteto, os desenhos desta casa são bem mais expressivos (figura 221). Como já foi citado, tais projetos lhe são atribuídos pelo fato de ser ele o responsável pelo departamento de arquitetura da firma. A casa Emílio das Néves é outra das pioneiras em estilo modernista construídas em Porto Alegre devido as suas características formais, arrojo na utilização do concreto armado e a vanguarda na utilização do telhado plano com laje impermeabilizada. Este título, porém, se restringe quase que unicamente as suas características externas uma vez que o arranjo espacial do programa adotado é bastante típico e frequentemente utilizado na época. O térreo é marcado por uma área de acesso protegida que conduz ao hall de entrada, este espaço contém a escada que leva ao pavimento superior. No nível inferior, ainda existem quatro salas conjugadas, sendo que duas delas destinam-se às refeições (formais e informais) e duas são de uso social. A sala da frente, geralmente, é dedicada ao marido, e a saleta posterior à esposa e filhos, esta fica mais próxima aos demais aposentos de serviço. No segundo pavimento, estão três dormitórios com respectivos vestiários, o único banheiro e um terraço. O esquema organizacional descrito fora utilizado em larga escala Figura 222 Fachada de fundos da casa Emílio Fernandes das Néves. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 53. Figura 221 Fachada frontal da casa Emílio Fernandes das Néves. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 53. 203 Processo 19.824, do microfilme nº 53, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 141 nas residências burguesas tipo palacete desde o final dos anos vinte, estabelecendo-se como um padrão até o início da década de cinquenta.204 Para Weimer “trata-se de uma das maiores construções residenciais da fase modernista com seu programa comparável ao dos palacetes que estavam sendo construídos na avenida Independência, indicando que o proprietário era um homem de sofisticados hábitos sociais”205 (figuras 223 e 224). Com uma planta retangular, a edificação se destaca pela curva frontal com grandes aberturas, pela cobertura em laje plana sobre a escadaria de acesso e por seu terraço na cobertura. A curva se projeta para frente e é valorizada por grandes aberturas com janelas basculantes, hoje fechadas por persianas. A laje que cobre o acesso principal parte da parede Figuras 223 e 224 Planta baixa do térreo da casa Emílio Fernandes das Néves (esq.). Planta baixa do pavimento superior da casa Emílio Fernandes das Néves (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 53. curva no nível da laje de entrepisos e se apoia diretamente sobre um único pilar, sem a necessidade de vigas (figura 227). A laje de terraço, que posteriormente recebeu um guardacorpo metálico, o qual não constava nos projetos originais, aparentemente não é utilizada, já que não há escada para seu acesso (figura 222). Porém esta cobertura tem grande significado simbólico, uma vez que associa a edificação com uma embarcação marítima, como se fosse um grande “convés” reforçado ainda por “escotilhas”, representadas por algumas esquadrias circulares em uma das fachadas laterais. Observando-se a fachada lateral em projeto, já que o pouco recuo lateral em ambos os lados não permite um posicionamento visual de maior perspectiva, é possível verificar as intenções do arquiteto em reforçar a horizontalidade das aberturas traçando pequenas saliências que formam linhas que contornam a edificação, com algumas eventuais Figura 225 Corte transversal da casa Emílio Fernandes das Néves. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 53. 204 205 VIANNA, 2004, pg. 110. WEIMER, 1998, pg. 52. 142 interrupções, e que também marcam a proporcionalidade entre os muros e os vazados (figura 226). O estado de conservação desta edificação a mantém próxima de sua condição original, tanto externamente quanto internamente e nos remeteria diretamente à década de 30, não fossem as grades colocadas sobre o muro no alinhamento do terreno. O próprio muro mantém-se original, fato comprovado pela sua representação no conjunto de projetos da edificação (figura 228). Figura 227 Casa Emílio Fernandes das Néves (1933). Foto de 2011. Fonte: Autor. Figura 226 Fachada lateral da casa Emílio Fernandes das Néves. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 53. Figura 228 Muro de fechamento frontal, parte do projeto aprovado na Prefeitura. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.824 do microfilme nº 53. 143 3.1.11. 1933 O ano de 1933 foi o ano em que Monteiro Neto produziu grande parte dos seus projetos ecléticos. Três dos nove projetos ecléticos aprovados neste ano serão apresentados em maior detalhe, sendo eles a casa Leonildo Sartori, a casa Leopoldo Freyre Pinto e a casa Djalma Jobim. Os outros sies projetos, que também eram edificações residenciais, foram projetadas para Oswaldo Bopp, um proprietário não identificado, Armando Ferreira, Julio Gravorski, para a Brigada Militar e para Manoel Martins. O Grêmio Gaúcho foi o único projeto em estilo neocolonial neste ano. O edifício José Honorato dos Santos e as casas Dr. Octávio de Souza e Leopoldo R. Schreiner demonstram o repertório moderno do arquiteto. Na sequência cronológica das aprovações encontradas no Arquivo Público de Porto Alegre o primeiro projeto de Monteiro Neto neste ano foi para o Sr. José Honorato dos Santos206, que se localizava na rua Dr. Flores, nº 204. Trata-se de um edifício de quatro pavimentos provavelmente para loja própria, que se chamava J.H. Santos, e também para atender ao uso residencial. A construção ficou sob a responsabilidade de João Francisco Goldmann. O pavimento térreo era totalmente ocupado pela loja, com pouca largura e grande comprimento devido às limitações do lote. Foi prevista uma “galeria” no segundo pavimento, distribuída apenas nas laterais de forma que a loja térrea ficasse visível deste andar. Este artifício, proposto pelo arquiteto, provavelmente tenha sido utilizado pra diminuir a sensação de enclausuramento que o pavimento estreito e comprido Figura 229 Plantas baixas dos pavimentos térreo e sobreloja do edifício José Honorato dos Santos. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 585 do microfilme nº 53. proporcionaria aos clientes do estabelecimento (figura 229). Para o terceiro e quarto pavimentos foram projetadas áreas residenciais com dependências de gabinete, cozinha, 206 Processo 585, do microfilme nº 53, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 144 banheiro e cinco quartos em cada andar (figura 232). Estes “dormitórios não mais se comunicam entre si e sim através de um corredor. Provavelmente estes apartamentos eram dedicados aos imigrantes de uma mesma família, dada a situação do acesso comum”207. A cobertura da edificação era formada por um grande terraço com algumas áreas de depósito. A fachada é desprovida de qualquer referência estilística ou figurativa. O arquiteto joga com planos, reentrâncias e saliências de natureza abstrata (figura 230). Figuras 230 e 231 Fachada do edifício José Honorato dos Santos (esq.). Corte longitudinal do edifício José Honorato dos Santos (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 585 do microfilme nº 53. 207 MACHADO, 1998, pg. 252. Figura 232 Plantas baixas dos pavimentos tipo e terraço do edifício José Honorato dos Santos. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 585 do microfilme nº 53. 145 Figura 233 Fachada de uma casa com proprietário não identificado. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 2.202 do microfilme nº 53. Figura 235 Plantas baixas, localização e fachadas da casa Oswaldo Bopp. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 758 do microfilme nº 53. Na casa Oswaldo Bopp208 o estilo utilizado pelo arquiteto não fica bem claro (figura 235). Esta era uma casa que tinha praticamente todos os ambientes sociais e íntimos em um único pavimento, porém com um amplo porão devido ao desnível natural do terreno. Ela apresentava suas fachadas revestidas em pedra aparente e quase total ausência de ornamentação. O que nos sugere os motivos clássicos desta edificação são apenas algumas colunas ao longo da varanda e do pórtico de entrada. Tal edificação se localizava na rua Santa Rita, próximo a esquina com a rua Almirante Barroso, porém já foi demolida. Após a casa Oswaldo Bopp, Monteiro Neto projetou uma casa cujo nome do proprietário não foi identificado209, localizada na rua Landel de Moura. Tal edificação não foi Figura 234 Plantas baixas de uma casa com proprietário não identificado. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 2.202 do microfilme nº 53. encontrada durante a pesquisa. As características marcantes desta casa são o revestimento 208 209 Processo 758, do microfilme nº 53, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Processo 2.202, do microfilme nº 53, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 146 em pedra em parte do pavimento térreo, o friso que contorna toda a casa na altura das janelas do segundo pavimento e a demarcação de pilastras no volume que se projeta mais a frente na fachada principal (figuras 233 e 234). A casa Armando Ferreira210 se localizava na avenida Dom Pedro II entre as ruas Barão de Cotegipe e Américo Vespúcio, porém já foi demolida. Apresentava a volumetria de paredes em curva como elemento saliente no plano da fachada frontal, artifício que foi bastante explorado por Monteiro Neto principalmente nos seus projetos modernos (figura 237). Tal elemento não tinha a mesma força que nas casas modernas por ter o seu fechamento com uma cobertura de telhado convencional (figura 236). Todos os ambientes desta casa eram distribuídos ao longo de um pavimento. Um pequeno hall central, ao qual se ascendia por uma ampla varanda, dava acesso aos dormitórios (em número de três), a “sala de visitas” e ainda permitia a ligação direta com a “copa” e ambientes de serviço. Da mesma forma que na casa Oswaldo Bopp a ornamentação da casa Armando Ferreira se resumia a poucos elementos. Dos ornatos, o que nos remete aos modelos clássicos são as duas pilastras rusticadas, que ladeiam a varanda, com capitel211 coríntio. A responsabilidade pela execução desta casa foi assinada por Alberto Fantinel212. Num lote bastante estreito e de grande comprimento, característico dos loteamentos coloniais, Monteiro Neto projeta a casa Julio Gravorski213, localizada na rua Demétrio Processo 9.041, do microfilme nº 55, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Extremidade superior de colunas, pilastras, que permite que o peso caia sobre os suportes. KOCH, 2009, pg.119. 212 Era proprietário de pequena construtora, a qual administrava, ficando a cargo de sou sócio e irmão a responsabilidade técnica. Sua licença lhe facultava construir prédios de até três pavimentos e lajes de até cinco metros de vão (CREA n. 1296). WEIMER, 2004, pg. 58. 213 Processo 10.416, do microfilme nº 55, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 211 210 Figura 236 Fachada da casa Armando Ferreira. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 9.041 do microfilme nº 55. Figura 237 Planta baixa da casa Armando Ferreira. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 9.041 do microfilme nº 55. 147 Ribeiro nº 541 (figura 238). Com os dois primeiros ambientes ocupando a totalidade da largura lote, a ventilação destes foi organizada a frente e a fundos. Os demais ambientes foram posicionados junto da divisa esquerda de forma a terem sua ventilação através de um corredor que se formou no lado oposto. Como a maioria dos projetos de casas assobradadas, as dependências sociais e de serviço abrigam-se no pavimento térreo enquanto os dormitórios se restringem ao segundo pavimento (figura 239). A ornamentação proposta por Monteiro Neto para esta edificação é muito semelhante ao que de fato foi executado, porém com certa simplificação, sendo esta constatação possível devido ao fato da casa ainda existir. Na rua Baronesa da Gravataí nº 510 foi construída uma casa de dois pavimentos para a Brigada Militar do Estado214. A edificação, que ainda existe e continua sob a propriedade desta corporação, foi construída por Baptista Campagnola215, porém mais uma vez a força dos elementos de ornamentação propostos por Monteiro Neto, que lembram algo da obra de Figura 238 Casa Júlio Gravorski (1933). Foto de 2011. Fonte: Autor. Otto Wagner, se perde com a simplificação na execução (figura 240). Os dois pavimentos são divididos em sala de visitas, sala de jantar, cozinha e dependência de empregada no pavimento térreo e três dormitórios e um amplo banheiro no pavimento superior. As janelas do térreo, com arco pleno, em número de três e separadas por colunas salomônicas, são os elementos que nos remetem a uma ornamentação clássica. Figura 239 Plantas baixas da casa Júlio Gravorski. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.416 do microfilme nº 55. Processo 11.326, do microfilme nº 55, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Sua licença de construtor (CREA n. 742) permitia-lhe responsabilizar-se por prédios de até quatro pisos e vãos de até 20 metros, devido a alguns armazéns que construiu para a Diretoria Fluvial. WEIMER, 2004, pg. 40. 215 214 148 Figura 240 Plantas baixas, localização, cortes e fachadas da casa da Brigada Militar do Estado. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.326 do microfilme nº 55. Figura 241 Fachada da casa Leopoldo R. Schreiner. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.957 do microfilme nº 56. A casa Leopoldo R. Schreiner216 se destaca por suas linhas geométricas e ausência de ornamentação, porém não ousa ao ponto de ter a cobertura em laje plana, utilizando apenas um telhado convencional de quatro águas (figura 241). De acordo com estas características esta casa foi classificada como uma obra moderna. Sua peculiaridade está nos acessos principal e de serviço, que são localizados nas laterais de forma que na fachada frontal apenas as janelas e balcões ficam evidentes (figura 242). A execução ficou sob a responsabilidade de Antônio Mascarello. Localizada na rua Barão do Guaíba, próximo da esquina com a rua Dr. Oscar Bittencourt, esta casa ainda existe e mantém suas características originais. Figura 242 Plantas baixas da casa Leopoldo R. Schreiner. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.957 do microfilme nº 56. 216 Processo 11.957, do microfilme nº 56, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 149 A residência projetada para o Sr. Manoel Martins Costa Sobrinho217, que se localizava também na rua Barão do Guaíba, próximo da esquina com a rua Dr. Oscar Bittencourt, ou seja, muito próximo da casa Leopoldo R. Schreiner, já foi demolida. Era uma casa térrea, cujos elementos de ornamentação na fachada frontal eram janelas geminadas separadas por uma coluna cilíndrica e outras duas colunas que ladeavam o pórtico de acesso (figura 243). Através deste pórtico o acesso podia ser feito independentemente para a “sala de jantar” como também para o “gabinete”, já que ambas as entradas possuíam portas individuais (figura 244). O mesmo pórtico era o elemento de passagem para o pátio interno. Esta casa foi construída por Baptista Campagnola. Figura 243 Fachada da casa Manoel Martins Costa Sobrinho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 12.780 do microfilme nº 56. Figura 244 Planta baixa da casa Manoel Martins Costa Sobrinho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 12.780 do microfilme nº 56. 217 Processo 12.780, do microfilme nº 56, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 150 3.1.12. Grêmio Gaúcho Em 1933 Monteiro Neto projetou a sede de um clube social, com atividades de recreação e salão de festas, tendo como principal entretenimento a cancha de bolão218. As plantas do projeto aprovado219 apresentam uma edificação de dois pavimentos junto dos alinhamentos das atuais ruas Prof. Clemente Pinto e Bispo Laranjeira, no bairro Santa Tereza. O prédio encontra-se hoje num estado de conservação muito ruim e bastante deteriorado (figura 245). O acesso ao clube ocorre de forma lateral, voltado para o interior do terreno. Um pequeno volume em projeção abriga uma escadaria de acesso ao salão superior e um pórtico com varanda para acesso ao salão térreo (figura 246). No pavimento térreo, que foi construído parcialmente enterrado devido ao desnível natural do terreno, ficava a cancha de bolão e os demais ambientes de apoio. Havia também um grande salão, que provavelmente era utilizado para os jogadores que aguardavam sua vez e para os espectadores, além de uma copa e cozinha, um local para guarda de casacos e chapéus, sanitário masculino e dependências de uma casa, que possivelmente seria a do caseiro (figura 247). O andar superior, com pé-direito de 4,70m, abrigava um grande salão de festas, vestíbulo, uma pequena sala para biblioteca e secretaria, um museu, um hall com a escada para o No Brasil, o esporte foi trazido pelos imigrantes alemães. Apresenta duas modalidades: Bolão 23, onde a bola tem 23cm de diâmetro, e o Bolão 16, onde a bola apresenta 16cm de diâmetro. A cancha apresenta 30m de comprimento (podendo variar) por 2m de largura. O jogo consiste em derrubar o maior número de pinos. Fonte: www.copagril.com.br. 219 Processo 14.260, do microfilme nº 56, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 218 Figura 245 Grêmio Gaúcho (1933) visto da esquina. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figura 246 Grêmio Gaúcho (1933) visto do seu acesso lateral. Foto de 2012. Fonte: Autor. 151 pavimento inferior e o sanitário das senhoras (figura 249). Sobre o hall, com uma pequena projeção para o salão de festas, foi projetado um mezanino, que segundo descrição no próprio projeto, abrigaria a orquestra. Figura 248 Fachada principal do Grêmio Gaúcho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.260 do microfilme nº 56. Figura 247 Planta do pavimento térreo do Grêmio Gaúcho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.260 do microfilme nº 56. Na esquina, o pavimento superior está aproximadamente um metro acima do nível da rua. As extremidades, que formam a fachada principal voltada para a avenida Therezópolis, atual rua Prof. Clemente Pinto, foram chanfradas marcando a importância deste plano. O espaço principal do clube tem planta quadrada (grande salão e hall), com serviços e residência do caseiro em volumes menores posteriores. A cancha de bolão foi abrigada em volume alongado, para que tivesse comprimento suficiente para esta atividade. O museu foi colocado sobre este prolongamento, com acesso pelo hall superior (figura 251). No térreo outro volume avança para abrigar as dependências do caseiro ocupando apenas um 152 pavimento. No salão térreo, a amplitude do espaço é prejudicada pela compartimentação criada pelos pilares e arcos (figura 250). No piso superior, o salão é livre e amplo (12,00x17,00m) possuindo acesso independente por escada externa. O hall superior é ponto de encontro do acesso tanto externo como do salão inferior. A fachada principal é simétrica, mas sem ênfase no centro (figura 248). Dois pavilhões, delimitados por pilastras e terminados por frontões curvos de inspiração no barroco colonial brasileiro, são separados pelo tramo central com janelas maiores. As janelas destes pavilhões são separadas por colunas salomônicas. Nas esquinas chanfradas há óculos de desenho barroco. A base apresenta rusticação regular, e a cobertura é de telhado aparente. Todo o arranjo remete ao estilo neocolonial. É possível observar no prédio construído, mesmo no estado ruim de conservação que se encontra, que muitos dos detalhes propostos no projeto original foram simplificados. Alguns adornos das janelas foram suprimidos, foram diminuídas as aberturas nos cantos chanfrados e houve também uma simplificação dos frontões, o que acabou reduzindo a qualidade do edifício já na execução. Figura 251 Planta do pavimento superior do Grêmio Gaúcho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.260 do microfilme nº 56. Figuras 249 e 250 Corte transversal do Grêmio Gaúcho (esq.). Corte longitudinal do Grêmio Gaúcho (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.260 do microfilme nº 56. 153 3.1.13. Residência Leonildo Sartori Uma casa de dois pavimentos, mas com apenas um dormitório, foi o projeto elaborado por Monteiro Neto para o Sr. Leonildo Sartori, localizada na avenida da Glória, atual rua Coronel Neves, ao lado do nº 624, bairro Medianeira. A casa hoje existente respeita externamente a originalidade de quando foi erguida. O processo arquivado em microfilme220 apresenta, em uma única prancha, todos os detalhes construtivos desta residência cuja responsabilidade pela execução foi assinada por Pietro Biondani221. O destaque desta modesta casa está na riqueza de detalhes da sua fachada que agrupa uma série de elementos estilísticos na sua composição e que a insere na classificação de casas ecléticas do arquiteto (figura 252). A fachada é composta por dois eixos principais que demarcam o alinhamento das janelas do Figura 252 Fachada da casa Leonildo Sartori. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 5.619 do microfilme nº 54. “gabinete” no térreo e do “vestiário” no segundo pavimento e outro que demarca o alinhamento da porta de acesso principal e a saída para o balcão acima desta. A esquina à direita da entrada é subtraída por um fechamento em vidro formando uma diagonal. Este recuo provavelmente tinha a finalidade de servir externamente de fundo para uma ornamentação estatuária e internamente de iluminação para a escada ao segundo pavimento (figura 254). Figura 253 Detalhe da fachada mostrado em planta da casa Leonildo Sartori. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 5.619 do microfilme nº 54. 220 221 Processo 5.619, do microfilme nº 54, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Era italiano de Verona, onde nasceu a 2.1.1897. Seu registro no CREA (n.359) diz que era construtor licenciado e associado ao engenheiro Deosderit Vianna Nagel. Do processo, no entanto, depreende-se que Biondani era arquiteto da firma Nagel, Biondani Ltda., já que é grande o número de residências por ele projetadas. 154 A casa construída perdeu um pouco no detalhamento de alguns elementos propostos em projeto, porém mantêm as características principais. As cantoneiras rusticadas que salientam a projeção do volume do gabinete e vestiário foram simplificadas (figura 256). A textura desta parede, que em projeto tem a função de contraste dos rendilhados222 sobre a janela do térreo, também não foi executada, ou removida com o tempo, reduzindo o efeito sugerido pelo arquiteto. A ornamentação em arco ogival sobre a porta para o balcão do segundo pavimento também foi simplificada em arco pleno, o que acabou minimizando a força da marcação do eixo vertical originalmente reforçado por este elemento (figura 255). No pórtico de entrada os apoios que originalmente previam dois agrupamentos de três esbeltas colunas acabaram sendo reduzidos a apenas dois apoios com uma coluna de maior diâmetro (figuras 253 e 256). A estátua proposta para o canto da escada não se encontra mais no local, ou talvez não tenha sido executada de fato (figura 252). Figura 255 Pórtico de entrada e vitral da escada. Foto de 2011. Fonte: Autor. Figura 254 Plantas baixas da casa Leonildo Sartori. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 5.619 do microfilme nº 54. Ornamento arquitetônico constituído por uma série de formas geométricas primitivas, sobretudo círculos, lóbulos, folhas, favos, e pelas saliências que as delimitam. KOCK, 2009, pg. 205. 222 155 Em planta a casa apresenta um número reduzido de ambientes, provavelmente servindo de moradia para um casal, já que o segundo pavimento é composto apenas de um dormitório, porém amplo, servido de “banho”, “vestiário”, um “balcão” frontal e um “terraço” para os fundos (figura 254). O pavimento térreo, a partir do “hall” de entrada, é formado por um “gabinete”, uma “sala de jantar”, a qual tem ligação com a “cozinha” e um pequeno banheiro e área de serviço sob o terraço do segundo pavimento (figura 255). O projeto ainda previa, segundo as observações do arquiteto em planta, uma escada, com acesso pela cozinha, que encaminharia para um subsolo sob o gabinete e parte da sala de jantar. Este subsolo teria a intenção de agregar área para a residência sendo utilizado talvez para depósito. A ventilação deste local é feita por pequenas janelas ao nível do piso externo no entorno da residência. Figura 256 Ornamentação executada na casa Leonildo Sartori. Foto de 2011. Fonte: Autor. Figura 257 Cortes da casa Leonildo Sartori. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 5.619 do microfilme nº 54. A possibilidade de comparação do projeto proposto pelo arquiteto e a obra ainda construída permite uma verificação da tridimensionalidade da ornamentação aplicada e o efeito desta sobre um volume simples valorizando arquitetonicamente a edificação. 156 3.1.14. Residência Leopoldo Freyre Pinto Em 1933 Monteiro Neto projetou a residência do Sr. Leopoldo Freyre Pinto na rua Tobias da Silva, bairro Moinhos de Vento, atualmente já demolida. Conforme projetos originais223 do Arquivo Público, Monteiro Neto seria o responsável também pela execução desta casa. A edificação de dois pavimentos foi implantada no sentido longitudinal devido ao seu programa bastante amplo e as dimensões do lote: com pouca largura (11,20m), mas com bastante comprimento (não consta esta informação no projeto, contudo a graficação permite esta conclusão). Na fachada principal desta casa podemos identificar a utilização de diversos elementos clássicos como pilastras de ordem coríntia, frisos e cornija como acabamento dos beirais do telhado. A rusticação executada em pedra percorre toda a base do pavimento térreo. Alguns adornos compõem dois pequenos terraços sobrepostos, um no térreo e outro no segundo pavimento (figura 258). Como o projeto não apresenta as fachadas laterais não é possível identificar se os mesmos elementos da fachada frontal seguem nas demais. A organização espacial desta residência é bastante singular, talvez nem tanto pela distribuição dos ambientes, que seguem uma lógica adotada em outras casas projetadas por Monteiro Neto, mas pelo destaque dado a alguns ambientes de caráter social. O pavimento térreo foi projetado sob um porão alto que adicionado a um pequeno declive natural do terreno permitiu (necessitando ainda de uma pequena escavação) a criação de um depósito sob a área da copa e cozinha (figura 262). O acesso a este pavimento se dá por uma entrada lateral guarnecida por um recuo nas paredes desta fachada (figura 259). A escadaria 223 Figura 258 Fachada da casa Leopoldo Freyre Pinto. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.887 do microfilme nº 55. Processo 8.887, do microfilme nº 55, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Figura 259 Corte transversal da casa Leopoldo Freyre Pinto. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.887 do microfilme nº 55. 157 da entrada direciona para um amplo hall que faz a ligação entre a “sala de visitas”, o “gabinete”, a escada para o segundo pavimento e uma grande “sala de jantar”. A sala de visitas tem o formato interno arredondado com diâmetro de quatro metros que remete a parede curva da fachada frontal. O gabinete, que seria um ambiente provavelmente destinado a reuniões mais restritas, pois possui a possibilidade de fechamento em relação ao Figura 260 Planta baixa do térreo da casa Leopoldo Freyre Pinto. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.887 do microfilme nº 55. hall de entrada, liga-se com um pequeno terraço ao qual não se tem acesso pela fachada frontal, devido ao desnível deste último em relação ao terreno. A sala de jantar é tratada como o foco central desta residência visto a sua clara posição no centro da planta. Seu formato em elipse compõe com a própria mesa de jantar. Esta organização permitiu a criação de armários embutidos que mereceram um detalhamento no projeto. Complementavam a segunda metade da residência a “sala de almoço”, a Sala de “costura”, a “copa”, a “cozinha” e o “quarto da creada”. A circulação neste pavimento é claramente Figura 261 Planta baixa do pav. superior da casa Leopoldo Freyre Pinto. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.887 do microfilme nº 55. colocada no eixo longitudinal a partir do hall de entrada até a cozinha, sendo apenas interrompido pelo contorno à mesa de jantar no centro da casa como uma forma de contemplação deste espaço (figura 260). O segundo pavimento foi destinado aos ambientes íntimos da casa: três dormitórios, sendo um destes anexado a um vestiário e outro destinado a hóspedes, uma rouparia, uma área de estudo e um amplo banheiro que atendia todo o pavimento. A circulação se dava longitudinalmente por um corredor que finalizava no dormitório de hóspedes. Por este dormitório se tinha acesso a um pequeno terraço (figura 261). Figura 262 Corte longitudinal da casa Leopoldo Freyre Pinto. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.887 do microfilme nº 55. 158 3.1.15. Residência Djalma Jobim A casa Djalma Jobim224 foi projetada no ano de 1933, ano este com um número bastante intenso de projetos em estilo eclético (oito dentre 13 projetos encontrados no Arquivo Público neste ano). Foi construída por Antônio Mascarello225 e está localizada na Praça Dr. Maurício Cardoso, nº 120, bairro Moinhos de Vento. O projeto de uma casa em três pavimentos, um abaixo do nível da rua e dois acima, foi a forma encontrada por Monteiro Neto de acomodar a edificação em um terreno bastante acidentado com grande declive em relação à rua (figura 266). Mais uma vez o destaque da edificação não é dado por sua implantação ou espacialidade, mas sim pelos elementos arquitetônicos que compõem as suas fachadas. A sobriedade das fachadas laterais suaviza a ornamentação bastante explorada na fachada frontal. Elementos frequentemente utilizados por Monteiro Neto foram novamente empregados nesta casa, como por exemplo: a entrada marcada por um pórtico ladeado por colunas salomônicas, as janelas em arco pleno divididas também por colunas salomônicas, pináculos226 e balcões (figura 265). Como a edificação ainda existe é possível verificar que o que a obra construída foi simplificada em seus adornos (figura 263). A hierarquia dos volumes da fachada dá indícios da distribuição espacial interna da edificação. Os pavimentos são divididos em ambientes de menor largura, no lado esquerdo, Figura 263 Casa Djalma Jobim. Foto de 2012. Fonte: Autor. 224 225 226 Processo 15.832, do microfilme nº 57, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Ver nota de rodapé na página 255 (ver no final se a página continua a mesma). Pequena torre ornamental gótica, fina e pontiaguda. KOCH, 2009, pg. 195. Figura 264 Fachada frontal da casa Djalma Jobim. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 15.832 do microfilme nº 57. 159 e de maior largura, no lado direito. Esta organização já começa no ambiente de subsolo e vai até o segundo pavimento. No subsolo o lado de menor largura é composto por um pequeno depósito, a escada, um banheiro e a lavanderia. O lado de maior largura é formado por outro depósito e uma sala de costura. É particular a esta edificação a ausência de dependência de empregada, que também não aparecerá nos demais pavimentos (figura 267). Figura 265 Imagem aérea da localização da casa Djalma Jobim. Fonte: Google Earth. Figura 267 Plantas baixas da casa Djalma Jobim. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 15.832 do microfilme nº 57. Figura 266 Corte longitudinal da casa Djalma Jobim. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 15.832 do microfilme nº 57. Seguindo a mesma lógica do subsolo, o térreo no seu lado mais estreito é formado pelo “pórtico de acesso”, uma “saleta”, a escada que liga os três pavimentos, a “copa” e a “cozinha”. O lado direito da planta baixa abriga os ambientes de maior importância no 160 conjunto, devido ao cuidado na organização dos mesmos. Com acesso pela “saleta” se chega ao “gabinete” e em seguida a “sala de jantar”. Esta última, como em outros projetos de Monteiro Neto, é tratada com destaque devido ao detalhamento do piso, a sua ligação a outros ambientes como a “copa” e o “vestíbulo” e principalmente por sua projeção na fachada lateral em relação aos demais ambientes (figura 265). Esta projeção, ou simplesmente um tratamento diferenciado na fachada, da sala de jantar foi utilizada diversas vezes por Monteiro Neto, não só nos projetos ecléticos, mas também em casas neocoloniais e modernas (figura 268). Complementa este pavimento um “jardim de inverno” anexo a sala de jantar. No terceiro pavimento estão as dependências íntimas da casa. Novamente a organização interna segue a proporção usada nos demais pavimentos, ou seja, o lado menor dispõe de um quarto de pequenas dimensões, a escada e o banheiro, que atende todo este pavimento. No lado mais largo estão outros dois quartos, com dimensões maiores, sendo a um deles agregado um vestiário (figura 265). Para animar a volumetria, Monteiro Neto utilizou algumas projeções nos planos das fachadas, sendo a principal na sala de jantar, já citada, mas também outras como balcões e avanços em um dos dormitórios e na escada (figura 269). O sítio e o contexto em que a casa se encontra a fazem parecer uma edificação modesta numa área de entorno de praça num bairro bastante denso em construções, no entanto, a obra nos revela uma edificação em ótimo estado de conservação e com mais de 300 m² de área construída. Figura 269 Fachada lateral da casa Djalma Jobim. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 15.832 do microfilme nº 57. Figura 268 Corte transversal da casa Djalma Jobim. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 15.832 do microfilme nº 57. 161 3.1.16. Residência Octávio de Souza Pouco depois das casas Manlio Agrifoglio e Oswald Coufal, a casa para o Dr. Octávio de Souza também foi projetada no mesmo balneário Ipanema, reforçando as características deste novo bairro como sendo um campo aberto para novas experiências no quadro da arquitetura moderna (figura 271). Tal casa, que se mantém até hoje, está localizada na avenida Guaíba quase esquina com a rua Gávea (figura 270). Seu projeto original227 apresenta o ano de 1933 como data de aprovação na Prefeitura de Porto Alegre. A execução da obra ficou sob a responsabilidade de empresa A. D. Aydos & Cia. Ltda.228. Para Luccas, a casa Octávio de Souza apresenta “soluções formais que lembram a arquitetura moderna racionalista; obra cujas reminiscências navais encontram-se no formato Figura 270 Casa Octávio de Souza. Foto de 2012. Fonte: Autor. cilíndrico da fachada, nos guarda-corpos e na escada de ferro que conduz ao terraço-deck da cobertura”229. Ainda segundo Luccas “a exploração formal semicircular da planta, neste caso foi mais efetiva do que na casa Agrifoglio, sendo a forma curva acentuada pelo balcão e marquise periféricos em balanço”230 (figuras 273 e 274). De fato, a volumetria cilíndrica, que começa a ficar mais frequente nas obras modernistas de Porto Alegre, é bem mais acentuada nesta casa, compreendendo praticamente toda a fachada frontal da edificação, sendo ainda mais reforçada pela laje plana de cobertura que amplia a Processo 3.580, do microfilme nº 54, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. AYDOS, Alberto D.: Formou-se em Engenharia em Porto Alegre, em 1924. Dois anos mais tarde, fundou uma importante firma construtora que deixaria sua marca na cidade. (...) A partir de 1928, passou a contar entre seus colaboradores com os arquitetos Franz Filsinger, Adolf Siegert e Fernando Corona. WEIMER, 2004, pg. 23. 229 LUCCAS, 2004, pg. 101. 230 LUCCAS, 2004, pg. 101. 228 227 Figura 271 Fachada da casa Octávio de Souza. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.580 do microfilme nº 54. 162 sensação de um convés (figura 275). Esta associação talvez tenha sido ainda mais explorada neste projeto devido a sua localização, dividindo-se com um riacho que desemboca no Guaíba e o próprio rio como elementos de entorno (figura 272). Figuras 273 e 274 Planta baixa do térreo da casa Octávio de Souza (esq.). Planta baixa do pav. superior da casa Octávio de Souza (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.580 do microfilme nº 54. Figura 272 Imagem aérea da localização da casa Octávio de Souza. Fonte: Google Earth. É possível observar uma pequena diferença na volumetria da sacada entre o que foi projetado e o que foi construído. O traçado da sacada do segundo pavimento que seria uma meia circunferência, que em parte projetar-se-ia sobre o riacho, acabou sendo executado semelhante à varanda do térreo, ou seja, um quarto de circunferência limitando-se a divisa do terreno com este riacho. Segundo Weimer, ainda na época da construção foi feita “a substituição das quatro janelas do living room por outras sete, as quatro janelas do quarto superior por outras cinco, umas Figura 275 Corte longitudinal da casa Octávio de Souza. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.580 do microfilme nº 54. 163 das janelas de canto da escadaria por outra menor para poder dar lugar a uma escada e ainda outra escada de forma helicoidal foi acrescentada ao prédio pelos fundos”231. É possível que naquela ocasião alguém deva ter julgado que o acabamento liso da alvenaria pudesse ser melhorado. A verdade é que atualmente o reboco foi recoberto de calotas esféricas que – se não comprometem a integridade da obra – pelo menos lhe tiram a pureza que caracteriza sua concepção. Atualmente o prédio é utilizado como casa de fim de semana e apresenta excelentes condições de conservação.232 Figura 276 Fachada lateral da casa Octávio de Souza. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.580 do microfilme nº 54. Com dimensões máximas de 9,95m de largura e 18,55m de comprimento, a residência apresenta um programa de necessidades que compreende amplas áreas de varanda e terraço e muitos quartos, para atender as necessidades de uma casa de veraneio com convidados. No piso térreo, a sala de estar recebeu um destaque volumétrico dentro da composição e ressalta o fato de que ela foi complementada por uma toilette que deveria ser uma grande novidade para a época. Além dela o piso térreo é composto por um conjunto copa-cozinha e um quarto para empregada. No piso superior, são encontrados quatro quartos e um banheiro. A varanda que envolve a sala de estar é coberta pela laje do terraço que envolve o quarto do casal no piso superior.233 Embora haja um delgado guarda-corpo metálico na laje plana de cobertura, não há indicação de acesso até ela. A presença destes guarda-corpos em três níveis superpostos acentua a analogia da casa com a imagem de um navio (figura 276). Figura 277 Corte transversal da casa Octávio de Souza. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.580 do microfilme nº 54. Esta obra soma-se as residências anteriores de Monteiro Neto como propostas pioneiras no contexto porto-alegrense. 231 232 233 WEIMER, 1998, pg. 55. WEIMER, 1998, pg. 55. WEIMER, 1998, pg. 54. 164 3.2. Segunda fase (1934-1940) A segunda fase no trabalho de Monteiro Neto ocorre entre os anos de 1934 e 1940. Este período foi assim classificado porque nestes sete anos, o arquiteto praticamente projeta apenas obras no estilo moderno. Do total de 18 projetos no período 15 foram classificados como obras modernas. Complementam esta fase apenas uma casa em estilo californiano e duas casas em estilo eclético. Como já foi citada na primeira fase, a arquitetura moderna de Monteiro Neto não se difere da que estava sendo adotada no restante do país, ou seja, uma arquitetura despojada de elementos decorativos, que buscava uma imagem de "racionalização", que ousava com os planos limpos e coberturas planas, mas que estava mais vinculada ao movimento Art Déco do que às propostas de Le Corbusier ou Mies Van der Rohe. Sobre o estilo Art Déco Segawa comenta: A França sublimou uma noção de modernidade de difícil caracterização. A grande celebração à modernidade, a Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes, em 1925, bem espelhou a busca de qualquer modernidade, a necessidade de exprimir ideias novas, de tentar ser moderno mesmo sem que se pudesse esclarecer o que isso significava ou como se chegava à condição de moderno. A busca de um comportamento novo refletia a instabilidade de uma sociedade mais preocupada com prazeres efêmeros que com realizações duráveis – o termo “les anées folles” aplicado à década de 1920 é sintomático –, incapaz de fixar uma escolha entre uma herança cultural de século 19 e as perspectivas industriais da era da máquina. Essa ambiguidade também alimentou os sonhos de uma afluente sociedade norte-americana, que tomou emprestado e multiplicou os artifícios decorativos do lado próspero da cultura europeia – artifícios que, décadas depois, convencionou-se chamar Art Déco.234 Figura 278 Ed. Palmeiro (1934). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 4.345 do microfilme nº 59. Figura 279 Castelo Armando Berlese (1936). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 7.337 do microfilme nº 68. 234 SEGAWA, 2010, pg. 54. 165 O “Guia da arquitetura Art Déco no Rio de Janeiro” apresenta seis características deste estilo que aparecem com frequência na arquitetura Art Déco carioca, mas que podem ser estendidas a outras cidades do país: Composição de matriz clássica: - simétrica/axial, com acesso centralizado ou valorizando a esquina (no plano horizontal); - tripartida em base, corpo e coroamento escalonado (no plano vertical); Tratamento volumétrico das partes constituintes e superfícies, à maneira moderna com: - predominância de cheios sobre vazios; - articulação de volumes geometrizados e simplificados (varandas semi-embutidas) ou sucessão de superfícies curvas (aerodinamismo); - linguagem formal tendente à abstração (contenção expressiva dos ornamentos decorativos, quase sempre em alto e baixo-relevo); - composição com linha e planos, verticais e horizontais, fortemente definidos e contrastados; Articulação/integração entre Arquitetura, Interiores e Design (mobiliário, luminárias e serralheria artística). Valorização dos acessos e portarias; Estruturas em concreto armado, embasamentos revestidos em granito, mármores e materiais nobres, revestimentos altos em pó-de-pedra (mica) e janelas tipo “Copacabana” (persianas de enrolar/basculantes) em madeira ou ferro: mescla de técnicas construtivas industriais/modernas e decorativas artesanais/tradicionais; Plantas flexíveis, com acesso por hall, circulação ou galeria (espaço interconector) e compartimentos de uso intercambiável (quartos/salas); Iluminação feérica e cenográfica, intenção esta manifesta desde as perspectivas que acompanham os projetos (talvez uma influência cinematográfica). 235 Figura 280 Casa Bruno Bopp (1937). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.794 do microfilme nº 75. É importante destacar que, durante esta fase da obra de Monteiro Neto, ocorreu a Exposição Farroupilha de 1935. Esta mostra foi um marco na arquitetura de Porto Alegre, onde os Figura 281 Reforma da fachada para Alfredo Mariath (1938). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.444 do microfilme nº 78. grandes pavilhões de Cristiano Gelbert expressam o vigor da modernidade gaúcha. Segundo Callegaro este evento foi “a celebração de uma epopeia de bravuras e dedicação ao Rio 235 Rio de Janeiro, Prefeitura Municipal, 2000, pg. 14. 166 Grande, ao mesmo tempo em que significou a tentativa de afirmar a supremacia política e econômica de um estado industrializado, com forte produção agrícola e pecuária, representado pelos governos Flores da Cunha, no âmbito estadual; e Getúlio Vargas, no federal” 236. Callegaro ainda comenta: A linguagem arquitetônica apresentada na Exposição Farroupilha recebe inúmeras influências que vão desde produções características como a obra de Loos, passando pelo classicismo das arquiteturas nacionalistas de países totalitários europeus, que se reflete tanto na sua implantação quanto na composição dos seus principais pavilhões, e mais uma série de movimentos que, de maneira direta ou indireta, exerceram influência sobre esta. De uma maneira geral, identificam-se traços das correntes ligadas ao futurismo italiano, ao expressionismo, ao racionalismo, ao déco (com suas desinências regionais e linguagem naval) e ao neoplasticismo. Todas estas tendências estilísticas e correntes se identificam como movimentos modernos dentro do cenário mundial e estão de acordo com a proposta da exposição gaúcha. 237 A grande exposição de 1935 consolidou a tendência moderna já assumida por Monteiro Neto e alguns outros em difundir na cidade um estilo sintonizado com o debate arquitetônico internacional. É curioso o fato de que no ano de 1935 não foram encontrados projetos aprovados por Monteiro Neto no Arquivo Público. Figura 282 Ed. José Pedro Godoy (1939). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 24.289 do microfilme nº 84. 236 237 CALLEGARO, 2002, pg. 28. CALLEGARO, 2002, pg. 31. 167 3.2.1. 1934 No ano de 1934 os únicos projetos de Monteiro Neto encontrados no Arquivo Público de Porto Alegre foram o Edifício Palmeiro (figura 285), a casa Antonia Carvalho (figura 283) e a casa Dário Brossard (figura 284). Todas estas obras serão abordadas individualmente devido as suas características que lhes conferem esta exclusividade. Seguindo a tendência desta 2º fase as três obras acima foram classificadas como projetos modernos. Figura 283 Casa Antonia Carvalho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.042 do microfilme nº 61. Figura 285 Ed. Palmeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 4.345 do microfilme nº 59. Figura 284 Casa Dario Brossard. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 22.908 do microfilme nº 62. 168 3.2.2. Edifício Palmeiro O Edifício Palmeiro, como é conhecido, foi projetado e construído para o General Manoel Palmeiro da Fontoura, filho de uma tradicional família de militares em Porto Alegre, proprietários do Solar Palmeiro, este último localizado na Praça da Matriz, no centro da cidade. Projetado para fins comerciais, o Edifício Palmeiro, localizado na esquina da avenida Otávio Rocha com a rua Vigário José Inácio, foi construído em um lote com dimensões peculiares. Apesar destas dimensões não estarem claras nos desenhos238, é possível concluir que o mesmo tenha em torno de 6,00m de largura por um comprimento de aproximadamente 40,00m. A longa extensão frontal com pouca profundidade influenciou o desenvolvimento do projeto (figura 287). A data de sua aprovação na Prefeitura Municipal de Porto Alegre é do ano de 1934 e a empresa responsável pela sua execução foi a construtora Barcellos & Cia, Engenheiros Construtores. A edificação ocupa a totalidade do lote e é composta por um pavimento térreo mais quatro andares tipo. O pavimento térreo abriga nove lojas de aproximadamente 20m² cada e a área da circulação vertical, com uma escada estreita e um elevador central. Todas as lojas possuem seu acesso e vitrines voltadas para a avenida Otávio Rocha, tendo apenas à loja da esquina a possibilidade de duas fachadas. O bloco de circulação vertical encontra-se quase no meio da fachada, pois tem quatro lojas à esquerda e cinco lojas à direita. Neste bloco se Figura 287 Imagem aérea da localização do Ed. Palmeiro na esquina da avenida Otávio Rocha e a rua Vigário José Inácio. Fonte: Google Earth. Figura 286 Edifício Palmeiro. Foto de 2012. Fonte: Autor. 238 Processo 4.345, do microfilme nº 59, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 169 localizam também os sanitários coletivos para os ocupantes das lojas térreas. Estes sanitários são pequenos ambientes com apenas um vaso e uma pia, separados em masculino e feminino com objetivo de atender as necessidades das lojas, já que as mesmas não possuem estas instalações individualizadas (figura 290). Nos quatro pavimentos superiores a organização espacial segue o mesmo padrão. A chegada a estes pavimentos, tanto pela escada como pelo elevador, levam a um corredor junto aos fundos da edificação, que por sua vez distribui para todas as oito salas de cada andar. No Figura 288 Fachada do Ed. Palmeiro para a avenida Otávio Rocha. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 4.345 do microfilme nº 59. projeto original, hoje um pouco modificado, este corredor servia de acesso as salas e permitia que fosse possível chegar a um pequeno balcão na fachada da rua Vigário José Inácio, com a nítida intenção de servir para ventilação e iluminação do alongado trecho de circulação. No ed. Palmeiro, a divisão em módulos é curiosa: no térreo temos uma divisão em dez módulos, sendo que o quinto, a partir da esquerda do observador, é ocupado pela entrada, resultando um ritmo de 4:1:5. Compensa-se com o elemento curvo na esquina o módulo faltante no cômputo geral. Já a divisão superior, no lado direito do observador, não respeita, a partir dos módulos finais, a divisão adotada no térreo, num resultado que passa desapercebido em termos de um conjunto manifestamente simétrico e que visa, naturalmente, a um aproveitamento interno mais eficiente.239 Da mesma forma que no térreo, os sanitários de uso comum aos usuários de cada pavimento, são divididos por sexo e estão localizados junto do bloco de circulação vertical. A fachada já indica alguns elementos modernos, ainda carregados de características Art Déco. As janelas que procuram dar uma continuidade em fita são o principal elemento que remete a uma arquitetura moderna, principalmente na vista desde a esquina, onde a fita de aberturas realça a curva do volume (figura 286). De igual modo, a cobertura, apesar de ser Figura 289 Eixo de acesso aos andares superiores. Foto de 2012. Fonte: Autor. 239 MACHADO, 1998, pg. 227. 170 formada por telhas convencionais, é escondida por uma platibanda. Linhas salientes na parte inferior e superior das janelas ajudam a reforçar a sua horizontalidade, disfarçando a descontinuidade devido à estrutura da edificação. Ao centro, uma sequência de linhas verticais emolduram janelas estreitas, contrastando com as alas laterais de ênfase horizontal (figura 289). Figura 291 Vista da fachada da avenida Otávio Rocha no lado oposto à esquina da rua Vigário José Inácio. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figura 290 Plantas baixas, corte longitudinal e fachada da rua Vigário José Inácio do Ed. Palmeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 4.345 do microfilme nº 59. A fachada principal tem o bloco de circulação vertical em leve projeção, junto com os dois módulos laterais. Os dois módulos seguintes possuem sacadas acompanhando essa projeção enquanto o plano mural recua. No restante do edifício, o plano se mantem recuado (figura 171 Figura 292 Corte transversal do Ed. Palmeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 4.345 do microfilme nº 59. 291). Uma pequena divergência entre o projeto da fachada e o que foi executado está, talvez, na escolha do material utilizado para a execução das esquadrias. O projeto nos apresenta um ritmo de aberturas menores, provavelmente composto por caixilhos de madeira, o que não aparece na edificação concluída, onde se optou por aberturas metálicas tipo basculante (figura 288). Esta mudança na etapa de execução acabou por reforçar a identidade moderna da edificação. A esquina recebe um tratamento em curva, situação que se repete em muitas edificações deste período. A marquise, no pavimento térreo, faz a transição da organização do Figura 293 Vista do edifício Guaspari de 1936. Fonte: http://acervojoaoalberto.blogspot.com.br/ pavimento ao nível da rua, diferente dos demais pavimentos, com os níveis mais altos e assemelhados. O edifício Palmeiro muito se assemelha com o edifício Guaspari, de 1936, projeto do arquiteto Fernando Corona (figura 293). Suas semelhanças estão no uso, tendo lojas no térreo e salas comerciais nos demais pavimentos; no volume central, que marca o acesso aos andares superiores; na disposição das janelas, de forma que representem uma organização em fita; no tratamento da esquina, com a utilização da curva e nas dimensões do terreno, onde guardadas as proporções, o comprimento é muito superior a largura. A obra de Corona é mais franca na adoção da linguagem moderna, pois as fitas de janelas são mais contínuas e a fachada como um todo é mais unitária, lembrando algo do expressionismo de Erich Mendelsohn em suas lojas de departamentos da Alemanha entre 1920-30. O edifício Guaspari foi construído pela firma Azevedo Moura & Gertum no mesmo ano em que Monteiro Neto iniciaria seu trabalho como arquiteto desta construtora. 172 3.2.3. Residência Antonia Carvalho Monteiro Neto foi arquiteto chefe da construtora Barcellos & Cia. Engenheiros Construtores entre 1931 e 1934. A casa Antonia Carvalho240 não apresenta a assinatura do arquiteto, porém o estilo de projeto e o cargo por ele ocupado permitem atribuir mais esta obra moderna a ele. O projeto microfilmado no Arquivo Público apresenta o ano de 1934 como sendo o ano de sua aprovação. Esta casa, já demolida, se localizava na rua José de Alencar entre as ruas Itororó e Múcio Teixeira. Segundo Weimer, “trata-se de uma casa relativamente modesta, com dois quartos na parte superior além do banho e de um terraço. No piso térreo, uma pequena sala de visitas é contigua a uma sala de jantar que está conectada à cozinha e ao quarto da serviçal. No terraço do piso superior, havia uma escada que dava acesso à laje de cobertura”241. Mesmo em dimensões mais modestas, o projeto demonstra o cuidado do arquiteto com as proporções e a clareza na modernidade da fachada. Poucas linhas determinam os elementos básicos da fachada, como a curva que se projeta e delimita o espaço do jantar no térreo e do dormitório no segundo pavimento, em contraponto ao plano de acesso com a projeção do balcão do dormitório. As sombras, representadas no desenho da fachada, nos permitem visualizar o jogo simples, porém harmônico, desta composição de elementos curvos e planos, de saliências e reentrâncias (figura 294). Figura 294 Fachada da casa Antonia Carvalho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.042 do microfilme nº 61. 240 241 Processo 18.042, do microfilme nº 61, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. WEIMER, 1998, pg. 101. 173 Figura 295 Corte transversal da casa Antonia Carvalho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.042 do microfilme nº 61. Figura 296 Plantas baixas da casa Antonia Carvalho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.042 do microfilme nº 61. Da mesma forma que a fachada, também poucas linhas organizavam o espaço interno (figura 296). As plantas baixas podem ser resumidas a duas faixas, uma das quais correspondente ao volume cilíndrico da fachada, contendo jantar, escada e quarto da empregada no térreo e dormitório e terraço no segundo andar. A outra faixa, de extensão menor, contendo sala de estar e cozinha no térreo e dormitório e banheiro no segundo andar. A possibilidade de utilização do terraço gerava um espaço útil equivalente a projeção da edificação, já que a cobertura foi projetada como uma grande laje plana com fechamento 174 lateral em guarda-corpo metálico (figura 295). Este tipo de fechamento/proteção é frequentemente usado por Monteiro Neto em casas com este mesmo recurso para a cobertura, numa alusão aos decks de um navio. Figura 297 Corte longitudinal da casa Antonia Carvalho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.042 do microfilme nº 61. 175 3.2.4. Residência Dario Brossard Da mesma forma que outras casas já citadas, a casa Dario Brossard, mesmo sem a assinatura de Monteiro Neto, tem o projeto atribuído a ele por ser uma construção da empresa Barcellos & Cia., no período em que o mesmo esteve trabalhando nesta construtora. Os desenhos arquivados também não tem a qualidade dos produzidos pelo arquiteto, porém era comum que os projetos para aprovação desta construtora fossem preparados por desenhistas. Figura 298 Plantas baixas da casa Dario Brossard. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 22.908 do microfilme nº 62. Monteiro Neto deveria exercer a supervisão geral do projeto, uma vez que o cargo ocupado na construtora lhe exigia esta competência. A casa Dario Brossard242 ainda encontra-se de pé, em estado de conservação regular (figuras 299 e 301). Localiza-se na rua Santa Terezinha nº 263, nas proximidades de outras duas residências projetadas por Monteiro Neto, que são a casa Emílio Fernandes das Néves (1932) e a casa Herbert Von Brixen-Montzel (1932), já mencionadas neste trabalho. As características que lhe conferiram lugar na publicação de Weimer sobre a Arquitetura Modernista em Porto Alegre são a ausência de ornamento, lajes em balanço, esquadrias emolduradas em fita e sua configuração espacial243. O acesso ao prédio se dá através de uma área coberta que leva ao gabinete, que, neste caso, provavelmente correspondesse ao uso de uma sala de estar, e desta, à sala de jantar. Nos fundos, há um conjunto de copa-cozinha ao qual está acoplado um dormitório de serviçal. No piso superior, há quartos ligados entre si e ao banheiro através de um Figura 299 Casa Dario Brossard em vista frontal. Foto de 2011. Fonte: Autor. 242 Processo 22.908, do microfilme nº 62, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. WEIMER, 1998, pg. 61. 243 176 corredor. O quarto do casal é amplo, e a ele está conjugado um também amplo vestiário.244 Apesar de suas características modernas similares às demais residências neste estilo, a utilização de telhado convencional nesta casa enfraquece sua expressão (figura 300). As esquadrias, mesmo que segmentadas em formato vertical, devido a sua sequência ordenada e agrupada, permitem a leitura em fita. A projeção em balanço para um dos dormitórios do pavimento superior e o balcão em curva provavelmente foram utilizadas com a intenção de reforçar as novas possibilidades oferecidas pelo concreto armado, característica esta que valoriza o aspecto moderno da edificação (figura 298). Figura 300 Fachada da casa Dario Brossard. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 22.908 do microfilme nº 62. 244 WEIMER, 1998, pg. 62. Figura 301 Casa Dario Brossard em vista diagonal. Foto de 2011. Fonte: Autor. 177 3.2.5. 1936 No ano de 1935, nenhum projeto de autoria de Monteiro Neto foi encontrado. Em sua folhacorrida, anexada ao seu processo de regularização das atividades profissionais junto ao CREA-RS, o ano de 1934 é citado como o início de suas atividades na companhia Predial Sul América sem apresentar data de término. O próximo registro acontece somente em 1936 quando Monteiro Neto assume na empresa Azevedo Moura & Gertum. No ano de 1936, apenas dois projetos de Monteiro Neto foram aprovados em Porto Alegre, sendo um deles um castelo para Armando Berlese e o outro uma casa para João Knijnik. Figura 302 Fachada do castelo Armando Berlese. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 7.337 do microfilme nº 68. O primeiro se destaca por seu caráter absolutamente singular. Monteiro Neto desenvolveu o projeto de um castelo que se localizaria na avenida Jacuí nº 274, próximo a esquina com a avenida Pinheiro Borba (figura 303), no bairro Cristal e próximo ao rio Guaíba. O proprietário era o Sr. Armando Berlese245 e a responsabilidade da construção seria da empresa Barcellos & Cia. Atualmente o castelo não existe e não foi constatado que de fato tenha sido construído. Com uma tipologia pouco convencional, Monteiro Neto organizou o projeto a fim de atender aos ambientes tradicionais de uma edificação residencial (figura 302). Dividido em dois pavimentos e alguns terraços na cobertura, o projeto destinava todo o pavimento térreo para garagens, sendo este andar formado apenas pelas paredes externas e alguns pilares que serviam de sustentação para o pavimento superior (figura 304). No segundo pavimento ficavam as dependências residenciais como sala de estar, jantar, dormitório, cozinha e banheiro. Mesmo com um programa bastante simples, a volumetria se destaca devido ao pé-direito elevado do segundo pavimento, pelo telhado com inclinação 245 Figura 303 Situação e localização do castelo Armando Berlese. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 7.337 do microfilme nº 68. Processo 7.337, do microfilme nº 68, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 178 acentuada (criando acessos aos terraços sob esta cobertura) e pela presença de torres em diferentes níveis (figuras 305 e 306). Algumas destas torres tinham a função de mirantes e outras simplesmente eram tratadas como representações de torre de defesa. Figura 305 Corte longitudinal do castelo Armando Berlese. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 7.337 do microfilme nº 68. Figura 304 Plantas baixas do castelo Armando Berlese. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 7.337 do microfilme nº 68. É surpreendente que depois de ter projetado uma série de casas modernas, estando trabalhando na empresa Barcellos & Cia., Monteiro Neto tenha projetado um edifício que pode ser considerado como neomedieval, para esta mesma construtora. Trata-se provavelmente de uma demanda especial do cliente. Semelhante a casa Leopoldo R. Schreiner de 1933 é o resultado formal da casa João Knijnik246 projetada em 1936, apresentando geometrização da fachada, redução da ornamentação e cobertura convencional com telhado em quatro águas (figura 307). As dimensões e quantidade de ambientes da última casa chegam próximas do dobro da 246 Processo 18.707, do microfilme nº 71, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Figura 306 Corte transversal do castelo Armando Berlese. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 7.337 do microfilme nº 68. 179 primeira, porém com as mesmas condições de lote estreito e de grande profundidade. Os frisos salientes na altura de entrepiso remetem ao Art Déco. A responsabilidade pela execução foi assinada pelos irmãos Seguezio. Esta casa se localizava na avenida Venâncio Aires nº 571, porém já foi demolida. Figura 307 Fachada da casa João Kinijnik. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.707 do microfilme nº 71. 180 3.2.6. 1937 As casas Aden Rosa e Bruno Bopp foram as únicas obras de Monteiro Neto encontradas no Arquivo Público no ano de 1937. A casa Aden Rosa, por suas características peculiares, será apresentada a seguir. A casa Bruno Bopp247 foi construída por Jorge Carandanis248 na rua General Neto, próximo da esquina com a rua Hoffmann, no bairro Floresta. Esta casa já foi demolida. Tratava-se de uma casa de dois pavimentos com aproximadamente 150m², tendo no pavimento térreo os ambientes sociais e no segundo pavimento três dormitórios e um amplo banheiro (figura 309). Com uma volumetria bastante simples, Monteiro Neto utiliza o recurso da platibanda para encobrir o telhado convencional e projeta o balcão do dormitório principal em balanço tendo uma das laterais em curva (figura 308). Figura 308 Fachada da casa Bruno Bopp. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.794 do microfilme nº 75. Processo 18.794, do microfilme nº 75, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Sua licença de construtor (CREA n. 305) autorizava-o a construir prédios de até três pisos. Projetou e construiu alguns edifícios importantes como um hotel há pouco demolido na Rua Andrade Neves, ao lado do Hotel Metrópole; um palacete na Rua Riachuelo, também demolido com a abertura da Av. Borges de Medeiros. Deixou de trabalhar no início da década de 1960. WEIMER, 2004, pg. 40. 248 247 Figura 309 Plantas baixas da casa Bruno Bopp. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.794 do microfilme nº 75. 181 3.2.7. Residência Aden Rosa A residência para o Capitão Engenheiro Aden Rosa foi construída na avenida Goethe, nº 137 pela empresa Nagel & Biondani249 no ano de 1937. Ainda preservada, ela mantém muitas das características do projeto original, arquivado sob o nº 7.363 do microfilme nº 73250 (figura 314). A casa Aden Rosa, apesar de apresentar muitas características modernistas, foi concebida utilizando-se ainda um telhado convencional de telhas cerâmicas, parcialmente oculto por uma platibanda sem ornamentos (figura 310). O volume em semicilindro na fachada principal foi bastante explorado por Monteiro Neto e pode ser considerado como um elemento marcante de grande parte dos seus projetos que buscavam expressar a modernidade (figura 314). A simplificação das paredes planas só é quebrada por uma rusticação que delimita as linhas das janelas tanto no andar térreo quanto no andar superior. Outro elemento que também se destaca, só que pelo fato de ter sido construído Figura 310 Fachada da casa Aden Rosa. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 7.363 do microfilme nº 73. diferentemente do projeto original, é a pequena marquise do segundo pavimento (figura 311). Na fachada original as paredes retas, que se misturavam com a platibanda da cobertura, foram interrompidas por uma estreita marquise que, se por um lado ajudou a marcar a horizontalidade do volume e a definir melhor a proporcionalidade entre os dois pavimentos, além é claro de ter um papel importante na proteção das esquadrias, por outro Empresa construtora em atividade em Porto Alegre entre 1933 e 1938, fundada por Deosdedit Nagel e Pedro Biondani. Nesse período, aprovaram na Prefeitura de Porto Alegre uma vintena de prédios, dentre os quais deve ser destacada a casa modernista de Geny Rohden, de 1938. Após o encerramento das atividades da empresa; Nagel ainda realizou duas construções em 1938, e Biondani, oito entre 1938 e 1943, dentre as quais a mais importante foi o Cinema Rio Branco, de 1940. WEIMER, 2004, pg. 125. 250 Processo 7.363, do microfilme nº 73, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 249 182 lado prejudicou a expressão de verticalidade do volume como forma pura, unitário e sem interrupções. Esta mudança provavelmente tenha sido feita durante as obras, pois não é perceptível qualquer intervenção posterior. Embora os partidos destas casas apalacetadas sejam muito parecidos, a presente, apesar da modéstia de seu exterior, apresenta algumas peculiaridades que devem ser assinaladas. Uma delas é a presença de uma sala de fumar ao lado da sala de estar e do gabinete. Em geral, o último é visto como um local de reunião de homens – androceu –, em contrapartida com a sala de costura que era o local de reunião de mulheres – gineceu. Neste caso, aparece uma segunda sala de reunião para os homens, a sala de fumar – ao que tudo indica, uma aculturação do fumoir francês –, superposições de dois espaços com a mesma finalidade. Em compensação, regra geral, estas casas tinham junto à cozinha uma copa cuja finalidade era dupla: corriqueiramente era utilizada como um refeitório para a família e, em dias de recepções, servia como local de preparo final e apresentação das iguarias. Por esta razão é de se estranhar o fato de que esta casa não tenha esta copa, ao tempo em que a cozinha apresenta dimensões muito reduzidas.251 Apesar da casa ter sofrido algumas intervenções para atender ao uso comercial atual, estas não modificaram a composição original. As aberturas do gabinete tiveram seu peitoril rebaixado e também, como outras aberturas do térreo, tiveram suas esquadrias substituídas por vidro. Outros detalhes como as rusticações, as janelas superiores, a escadaria de acesso com seus gradis metálicos e floreiras, as pinturas preservadas nos forros internos, ainda nos remetem as características originais e nos permitem a visualização dos pormenores que no projeto não seriam possíveis de serem apreciados. Figura 311 Imagem atual da casa Aden Rosa. Fonte: Imagem do autor. 251 WEIMER, 1998, pg. 74. 183 Figura 312 Localização da casa Aden Rosa. Fonte: Google Earth. Figura 313 Corte transversal da casa Aden Rosa. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 7.363 do microfilme nº 73. Figura 314 Plantas baixas da casa Aden Rosa. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 7.363 do microfilme nº 73. 184 3.2.8. 1938 A casa para o Sr. Girolamo Moresco252 foi a primeira projetada no ano de 1938. Sua planta retangular apresenta um programa provavelmente misto já que grande parte do pavimento térreo recebeu a destinação de depósito, sendo complementado por um pequeno escritório, com possibilidade de acesso externo, e uma cozinha. No pavimento superior ficavam três dormitórios e uma sala de jantar (figura 315). Os únicos elementos decorativos da fachada eram as colunas clássicas que ladeavam o pórtico de acesso (sendo este o motivo para sua classificação como obra eclética) e o revestimento de pedra aparente sobre todo o pavimento térreo (figura 317). Esta casa não foi encontrada durante a pesquisa, mas se localizaria, segundo descrição no projeto, na atual avenida Nonoai, próximo ao final da linha dos bondes Teresópolis. Figura 317 Fachada da casa Girolamo Moresco. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.074 do microfilme nº 77. Figuras 315 e 316 Plantas baixas da casa Girolamo Moresco (esq.). Corte transversal da casa Girolamo Moresco (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.074 do microfilme nº 77. 252 Processo 10.074, do microfilme nº 77, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 185 Neste mesmo ano Monteiro Neto projetou apenas mais uma reforma da fachada para o Sr. Alfredo Mariath253 (figura 318). Esta reforma fez com que esta edificação recebesse uma simplificação no acabamento das portas e janelas, detalhes de iluminação e novos materiais de revestimento. O resultado foi de uma fachada moderna carregada de elementos Art Déco, como a base em faixa decorativa, o volume de traçado quadriculado com mural no topo e o pináculo que se projeta através da laje de cobertura do balcão. Esta edificação se localizava na avenida João Pessoa nº 891, mas já foi demolida. Figura 318 Reforma da fachada da edificação de Alfredo Mariath. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.444 do microfilme nº 78. 253 Processo 16.444, do microfilme nº 78, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 186 3.2.9. 1939 O ano de 1939 é quando Monteiro Neto projeta uma das suas mais importantes obras, o edifício Vera Cruz, o qual ilustra algumas publicações sobre arquitetura moderna em Porto Alegre e que foi executado pela construtora Azevedo Moura & Gertum, uma das mais importante empresas construtoras da época. Por suas características de destaque este edifício será melhor analisado no próximo subcapítulo. Também classificados como modernos, outros três projetos deste ano são o edifício residencial para José Pedro Godoy Gomes, uma reforma de fachada para a Livraria Selbach e a casa para um dos sócios da construtora Azevedo Moura & Gertum, Oscar Gertum. Apesar da clara tendência desta fase para obras modernas é neste ano que Monteiro Neto projeta sua primeira casa californiana para o Sr. Nino Marsiaj. Figuras 320 e 321 Corte transversal e fachada do edifício José Pedro Godoy. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 24.289 do microfilme nº 84. Figura 319 Plantas baixas do edifício José Pedro Godoy. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 24.289 do microfilme nº 84. 187 Figura 322 Corte longitudinal do edifício José Pedro Godoy. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 24.289 do microfilme nº 84. O edifício José Pedro Godoy254, ou poderíamos dizer a residência, já que a edificação de três pavimentos era unifamiliar, ainda existe. Esta edificação se localiza na rua Emancipação, bairro Floresta e atualmente está totalmente desfigurada de seu uso e de suas características originais. A construção da edificação ficou sob a responsabilidade de Carlos Jung255. Apesar da quantidade de pavimentos e fachada característica de uma edificação multifamiliar (figura 321), a mesma foi projetada como morada de apenas uma única família em um terreno de dimensões muito estreitas, optando-se por distribuir os ambientes em altura. O pavimento térreo destinava-se às áreas sociais, sendo o segundo e terceiro pavimentos (no projeto identificados como 1º e 2º andar) são destinados a dois dormitórios e um sanitário em cada piso. Um amplo terraço cobria a edificação na quase totalidade de sua área (figura 319). A fachada apresenta a projeção do volume de circulação que se estende para conformar as duas sacadas. A planta é rigorosa na disposição: a faixa de circulação (vertical e horizontal) está de um lado e interliga os compartimentos no outro lado. Para uma edificação já existente, com três pavimentos, num lote estreito, Monteiro Neto projeta a reformulação da fachada e a reorganização interna da Livraria Selbach256 (figura 323). A construção ficou sob a responsabilidade também de Carlos Jung, mesmo executor Figura 323 Imagem da fachada da Livraria Selbach. Fonte: Foto publicada junto com artigo sobre a Livraria Selbach no livro “Pôrto Alegre: biografia duma cidade: monumento do passado, documento do presente, guia do futuro” de 1940. do edifício José Pedro Godoy visto anteriormente. Tal edificação se localizava na rua Marechal Floriano nº 10, porém já foi demolida. Os detalhes do projeto nos mostram a preocupação do arquiteto com a iluminação natural, através de amplas janelas metálicas com aberturas tipo básculas, e na valorização da iluminação artificial, visto o detalhamento Processo 24.289, do microfilme nº 84, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Nasceu em São Leopoldo, em 25.8.1881, mas exercia suas atividades em Porto Alegre como construtor. Edificou a fábrica Kluwe, Mueller & Cia., na Rua São Carlos. Podia construir prédios de até três pisos e vãos de até 6,30 metros (CREA n. 1438). WEIMER, 2004, pg. 96. 256 Processo 24.628, do microfilme nº 84, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 255 254 188 de todo o sistema de iluminação na marquise que cobre o acesso principal (figuras 325 e 326). Chamam a atenção as duas grandes janelas, que definem uma fachada onde predominam as superfícies de vidro. O desenho da fachada mostra um jogo tridimensional com recuo de plano de vidro gerando sombreamentos, que não foi concretizado na execução. Figura 324 Planta baixa do térreo no projeto de reforma da Livraria Selbach. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 24.628 do microfilme nº 84. Figuras 325 e 326 Fachada da Livraria Selbach (esq.). Detalhes do projeto de reforma da Livraria Selbach (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 24.628 do microfilme nº 84. A planta do térreo faz eco à fachada de vidro no amplo espaço livre (figura 324). Os pavimentos superiores poderiam abrigar salões semelhantes ao do térreo, porém a informação não é fornecida na documentação existente. Nesse caso, os espaços estariam voltados para a grande esquadria de vidro. Esta é, provavelmente, a primeira fachada a usar o vidro de forma extensiva em Porto Alegre. A primeira casa no estilo californiano (também chamado de "missões espanholas") projetada por Monteiro Neto foi para o Sr. Nilo Marsiaj257. Esta casa, que já foi demolida, se localizava na avenida Cristóvão Colombo entre as ruas São Francisco da Califórnia e 257 Figura 327 Fachada da casa Nilo Marsiaj. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 24.374 do microfilme nº 84. Processo 24.374, do microfilme nº 84, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 189 Germano Peterson Júnior, no bairro Floresta. A edificação de dois pavimentos apresentava o telhado com pouca inclinação, beirais curtos e arcos do pórtico de acesso marcando sua fachada principal (figura 326). No pavimento térreo, a partir de um amplo hall, se tinha acesso ao “living room” e “sala de jantar”, mas também se podia adentrar diretamente à “copa” e “cozinha”, além do aceso ao segundo pavimento através de uma escada em curva. As dependência de serviço e quarto da “creada” estavam dispostos nos fundos com acesso pela cozinha. O segundo pavimento era composto por três dormitórios, um amplo “gabinete”, uma “saleta” e um banheiro com dimensões semelhantes a um dos dormitórios. Figura 328 Fachada da casa Oscar Gertum. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 25.144 do microfilme nº 84. Para o Sr. Oscar Gertum258, Monteiro Neto projeta uma edificação que provavelmente era usada como casa de fim de semana. Esta casa tem organização espacial bastante simples que, pela grande inclinação do telhado, abrigava um sótão habitável num segundo pavimento (figura 328). A mesma se localizava na atual avenida Coronel Marcos, no bairro Ipanema, porém não foi encontrada durante a pesquisa. 258 Processo 25.144, do microfilme nº 84, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 190 3.2.10. Edifício Vera Cruz Talvez a obra mais importante de Monteiro Neto, este edifício foi o que lhe rendeu o maior reconhecimento. Seu nome é muitas vezes lembrado na bibliografia de arquitetura da época, devido a este projeto. Trata-se de uma edificação de 15 pavimentos localizada na esquina da avenida Borges de Medeiros com a rua General Andrade Neves, que tinha como característica principal o uso misto, agrupando uma grande sala de cinema, lojas térreas, andares de salas comerciais e outros de apartamentos para moradia. Com a abertura da av. Borges de Medeiros, a cidade recebeu a sua primeira avenida monumental. Sua caixa de dezoito metros de largura era considerada como de excepcional beleza. No decorrer do tempo, foram sendo construídos prédios cada vez mais altos ao longo dela. Em fins da década de trinta, foi aberta a av. Salgado Filho que se constituiria na segunda grande avenida monumental com a qual o prefeito Loureiro da Silva deu andamento a seu projeto de reforma total da cidade.259 Grande foi o impacto da arquitetura deste edifício, de linhas retas e desprovido de ornamentação, num período em que a arquitetura eclética ainda era muito recorrente na capital do Rio Grande do Sul. Sua localização, de privilegiada posição, destaca a sua monumentalidade, que por um período lhe conferiu a situação de edifício mais alto da cidade260 (figura 329). Tamanha foi a repercussão da construção desta edificação que, segundo Weimer, “o edifício Vera Cruz, (...) transformou-se na época em uma atração turística a ponto de os moradores Figura 329 Ed. Vera Cruz antes do início das obras do Ed. Sulacap. Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. 259 260 WEIMER, 1998, pg. 137. VIANNA, 2004, pg. 90. 191 Figura 330 Rua 10 de Novembro, logo de seu alargamento, com o Edifício Vera Cruz como foco perspectivo. Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. dos bairros se deslocarem para o centro da cidade com o fim único de ver o andamento das obras” 261. O cruzamento da avenida Borges de Medeiros e a rua 10 de Novembro (atual avenida Senador Salgado Filho), oferecia grande visibilidade ao novo edifício. A avenida Borges de Medeiros se tornara um importante eixo de ligação do centro da cidade com os bairros, devido ao seu recente alargamento e a conclusão das obras do viaduto projetado por Manoel Itaqui, que viria receber o nome de Otávio Rocha, inaugurado em 1932 (figura 331). O alargamento da rua 10 de Novembro, que foi iniciado em 1939 e concluído em 1940, dava Figura 331 Avenida Borges de Medeiros e o Edifício Vera Cruz em construção. Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. ao local um caráter totalmente novo, privilegiando uma solução arquitetônica moderna e imponente (figura 330). As novas avenidas que convergem no terreno já traziam em si o incentivo a construção em altura, nos códigos que permitiam o dobro de sua largura. Porto Alegre possuía poucos edifícios altos, com destaque para o pioneiro edifício do Cine Imperial (1929), com 12 andares. No momento de sua construção, o edifício Vera Cruz se integrava a um novo contexto de verticalização do centro de Porto Alegre, iniciado na avenida Borges de Medeiros na metade da década de 30. A obra do edifício foi executada pela Construtora Azevedo Moura & Gertum, no período em que Monteiro Neto trabalhava na mesma. O projeto foi aprovado na Prefeitura de Porto Alegre262 em 1939, tendo nas plantas a data do desenho realizado no ano anterior. A construção foi concluída no ano de 1940, fato comprovado pela abertura da sala de Cinema Vera Cruz neste ano. Portanto, houve um rápido intervalo de tempo entre a concepção e a finalização da obra. 261 262 Figura 332 Vista do lote ainda sem o edifício Vera Cruz construído. Fonte: Arquivo da administração do Edifícios Reunidos S.A. WEIMER, 1998, pg. 137. Processo 13.494, do microfilme nº 82, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 192 O projeto prevê uma edificação composta por um volume-torre e outro menor, de apenas um pavimento, preenchendo a totalidade da área do lote. Este partido já havia sido explorado em outro edifício combinando torre com cinema, projetado e construído pela Azevedo Moura & Gertum. Trata-se, (...) do edifício Cine Imperial, que, sendo a primeira edificação de Porto Alegre a reunir usos distintos com cinema, escritórios e apartamentos em uma mesma estrutura, tornou-se referência para as investidas posteriores. Este fato comprova que a estratégia utilizada por Sullivan em seu Auditorium Building (1887), em Chicago, ainda se fazia válida e disseminava-se em edificações da cidade que previam o agrupamento de tais funções. 263 O projeto original, aprovado na Prefeitura, previa uma edificação mista com uma grande sala de cinema e lojas abertas para a rua no pavimento térreo, os cinco andares seguintes destinados ao uso comercial e os demais cinco andares e cobertura destinados ao uso residencial, totalizando 12 pavimentos. No pavimento térreo a grande sala de cinema tinha lotação para 1.100 espectadores, com o salão principal e mezanino, coberta por um grande terraço (figura 338). Além desta sala, seis lojas ocupavam a área voltada para a avenida Borges de Medeiros. A entrada do cinema foi posicionada na esquina do edifício, reforçando a importância do cruzamento. Contudo, o desnível do terreno ao longo da avenida Borges de Medeiros, faz da esquina o ponto mais baixo do térreo, dificultando dar à entrada do cinema uma condição de destaque. No interior, o pé-direito reduzido do hall também é pouco proporcional a uma sala de 1.100 espectadores (figura 337). Algumas lojas dispunham de sobreloja, onde também ficavam os sanitários, já que o desnível natural do terreno permitia esta solução. Neste pavimento aparecem algumas alterações no que de fato foi construído (figura 339). A posição de esquina continua sendo o ponto para a entrada da sala de espera do cinema, partindo desta última o encaminhamento para o salão maior e o mezanino. O terraço sobre o 263 Figura 333 Imagem aérea do edifício Vera Cruz com seu lote limitado pela avenida Borges de Medeiros, rua General Andrade Neves e travessa Engenheiro Acilino Carvalho. Fonte: Google Earth. VIANNA, 2004, pg. 86. Figura 334 Um dos lotes que formaria o terreno do edifício visto da travessa Engenheiro Acilino Carvalho. Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman. 193 mezanino não chegou a ser executado e foi substituído por uma cobertura em telhado convencional. As lojas foram construídas em número de cinco, ou seja, uma a menos do que estava previsto. O eixo de simetria da entrada para os pavimentos superiores foi mantido desde a proposta inicial. Figura 335 Planta de situação do lote com indicações de acessos da proposta para o Edifício Vera Cruz. Fonte: Acervo Azevedo Moura & Gertum / Uniritter. Figuras 337 e 338 Hall de entrada com grande valorização da iluminação no Cine Vera Cruz (esq.). Sala de exibições e mezanino com assentos estofados no Cine Vera Cruz (dir.). Fonte: Arquivo da administração do Edifícios Reunidos S.A. A peculiaridade na presença da travessa Itapurú, atualmente Engenheiro Acilino Carvalho264, como formadora dos limites do lote, permitiu que o arquiteto dispusesse desta passagem de pedestres como alternativa de uma terceira fachada. Para o Edifício Vera Cruz esta travessa foi de fundamental importância na elaboração do projeto. A possibilidade de acesso por esta travessa fez com que a sala de cinema tivesse as saídas das sessões e de Figura 336 Selo dos projetos das salas comerciais desenvolvidos durante a execução das obras do Edifício Vera Cruz. Fonte: Acervo Azevedo Moura & Gertum / Uniritter. emergência através de diversas portas ao longo dela. Diferentemente de outras salas que ocupavam a totalidade do lote em meio de quadra e que por este motivo tinham que dispor Pequena travessa do Centro fechada ao trânsito de veículos, que comunica a Rua dos Andradas com a Rua Gen. Andrade Neves. FRANCO, 2006, pg. 13. 264 194 várias portas de saída na sua fachada frontal, o Cine Vera Cruz mantinha apenas sua entrada principal na esquina. Sendo assim, seu acesso ficava valorizado pela posição na edificação enquanto suas saídas e até mesmo evacuação, numa possível emergência, eram favorecidas e discretamente colocadas para a travessa (figura 335). Figura 340 Fachada do Ed. Vera Cruz para a avenida Borges de Medeiros aprovada na Prefeitura. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 13.494 do microfilme nº 82. 01-sala do cinema 02- hall de entrada do cinema 03, 04, 06, 07, 08- lojas 05- eixo de acesso aos andares superiores e circulação vertical Figura 339 Planta baixa do pavimento térreo do Ed. Vera Cruz. Fonte: Arquivo trabalhado digitalmente pelo autor. O hall formado a partir da entrada localizada no eixo de simetria da fachada principal possibilitava o acesso aos andares superiores. Apesar de algumas mudanças quanto a posição dos elevadores, este hall continuou na posição originalmente prevista, próximo também da escada, concentrando assim toda a circulação vertical no centro da edificação. 195 Figura 341 Detalhe da fachada do Ed. Vera Cruz para a avenida Borges de Medeiros. Foto de 2011. Fonte: Autor. Em relação a modulação do pavimento térreo, a planta é algo confusa. A organização estrutural não é coordenada com a subdivisão das lojas, que tem plantas distintas umas das outras. Colunas surgem isoladas dentro dos compartimentos, que apresentam recortes aleatórios. Os espaços do cinema escapam dessa condição por estarem em sua maior parte fora da área de projeção da torre. Figura 342 Planta livre do 3º ao 5º pavimento do Ed. Vera Cruz aprovada na Prefeitura. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 13.494 do microfilme nº 82. 11 11 Figura 343 Adaptação de andar comercial do Ed. Vera Cruz para consultório médico. Fonte: Acervo Azevedo Moura & Gertum / Uniritter. 01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09-salas comerciais para venda ou aluguel 10- circulação vertical: escada e elevadores 11- sanitários comuns ao andar separados em masculino e feminino Figura 344 Planta baixa do 5º pavimento nas plantas executivas do Ed. Vera Cruz. Planta tipo do 2º ao 7º andar. Fonte: Arquivo trabalhado digitalmente pelo autor. Para os pavimentos logo acima das lojas e cinema, o microfilme do projeto aprovado na Prefeitura nos mostra áreas de planta livre para utilização comercial (figura 344). Talvez com o intuito de facilitar o processo de aprovação, foram destinados cinco pavimentos onde 196 o que estava definido eram apenas os limites externos da edificação e a circulação vertical, sendo toda a área interna livre para qualquer tipo de layout. Nas pranchas da execução265 já se observa que cada andar foi definido para atender as necessidades individuais dos futuros ocupantes. Os documentos existentes contêm detalhadas organizações espaciais distintas para atender usos específicos, como consultórios, escritórios e sedes de empresas266 (figuras 343 e 345). Os andares seguintes são ocupados por apartamentos, sendo quatro unidades por andar mais a cobertura com apenas duas unidades e um terraço jardim. O arranjo interno das unidades habitacionais sinaliza a evolução do modo de habitar em edifícios em altura. Desde o amplo apartamento duplex, elaborado para o Edifício Imperial (uma espécie de sobrado incorporado ao edifício), muitos foram os avanços em relação à otimização dos espaços nas edificações altas de Porto Alegre. No edifício Vera Cruz, há uma proposta de ocupação mista dos apartamentos, sendo oferecidas unidades de um, dois e três dormitórios, com áreas entre 50m² e 150m², o que reflete, em última análise, a paulatina transformação da vida cotidiana de uma metrópole. 267 A versatilidade dos andares residenciais é prevista já nos projetos executivos (figura 347). Para os extremos da edificação foram destinados os apartamentos de três dormitórios com dependências de emprega agregada. Do eixo principal da edificação em direção aos extremos a previsão é de apartamentos menores com a possibilidade de formarem unidades tanto com um, como com dois dormitórios. Esta flexibilidade é permitida devido aos dormitórios, entre os apartamentos maiores e menores, serem projetados com possibilidades de portas tanto para um lado como para o outro. Desta forma o arranjo poderia mudar em Acervo da Construtora Azevedo Moura & Gertum, Laboratório de História e Teoria da Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Ritter dos Reis. 266 Nos desenhos específicos de cada andar comercial não é possível afirmar a autoria de Monteiro Neto, pois os mesmos estão sem assinatura ou carimbo do mesmo. 267 VIANNA, 2004, pg. 88. 265 Figura 345 Adaptação de andar comercial do Ed. Vera Cruz para atender o escritório da Construtora Azevedo Moura & Gertum. Fonte: Acervo Azevedo Moura & Gertum / Uniritter. 197 cada pavimento, podendo ser disponibilizado ao ocupante, unidades de um, dois, três ou até mesmo quatro dormitórios, dependendo apenas do fechar ou abrir um vão de porta. Mesmo com esta versatilidade, a privacidade não ficaria prejudicada, pois já eram previstas paredes duplas entre as unidades e entre estes dormitórios “coringas”, que podiam servir tanto a um como a outro apartamento. Figura 346 Fachada do Ed. Vera Cruz para a rua General Andrade Neves aprovada na Prefeitura. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 13.494 do microfilme nº 82. 01-dormitório 02- sala de estar 03- cozinha 04- sanitário 05-dependência de empregada 06- corredor, escada e elevadores Figura 347 Planta baixa do 10º pavimento nas plantas executivas do Ed. Vera Cruz. Planta tipo do 8º ao 14º andar. Fonte: Arquivo trabalhado digitalmente pelo autor. Os ambientes para dependências de empregadas e área de serviço foram agrupados na fachada de menor importância, oposta a avenida Borges de Medeiros, voltada para a travessa Eng. Acilino Carvalho (figura 347). Tal setorização favoreceu a inserção de balcões abertos, formando sacadas para uma melhor ventilação destes locais, como também uma boa orientação solar para as áreas de serviço (oeste). Além destas vantagens, esta fachada 198 possui um ótimo distanciamento em relação às edificações do entorno, devido ao recuo em função da sala de cinema no térreo. A disposição usada pelo arquiteto gerou uma interrupção nos apartamentos mais centrais, próximos ao eixo de circulação vertical, ou seja, nos apartamentos das extremidades as áreas de serviço e dependências de empregadas estavam associadas à habitação e nos demais estas mesmas áreas ficaram do outro lado do corredor de circulação comum, consequentemente fora do apartamento. Este aspecto compromete a solução das plantas e revela as dificuldades na solução de edificação de grande porte num contexto onde havia pouca experiência com esse tipo de projeto. 01-dormitório 02- sala de estar 03- cozinha 04- sanitário 05-dependência de empregada 06- corredor, escada e elevadores Figura 348 Planta baixa do 15º pavimento nas plantas executivas do Ed. Vera Cruz. Fonte: Arquivo trabalhado digitalmente pelo autor. Figura 349 Fachada do Ed. Vera Cruz voltada para a travessa Engenheiro Acilino Carvalho. Foto de 2011. Fonte: Autor. Com uma planta um pouco diferente das demais, a cobertura complementa a edificação com duas unidades residenciais com três dormitórios e dependências de empregada incorporada a 199 cada habitação (figura 348). Estas duas unidades não ocupavam toda a área da edificação, restando espaço para um terraço jardim em cada apartamento. Estes eram os locais mais valorizados do edifício devido as suas possibilidades de insolação, ventilação e pátio externo como belvedere sobre a cidade e o rio Guaíba. A mudança mais significativa da proposta aprovada para a proposta executada foi a ampliação em altura da edificação. Aprovado para ser executado com 12 pavimentos (um térreo, cinco pavimentos de uso comercial, cinco de uso residencial e cobertura), a edificação construída foi adicionada de mais um pavimento comercial, totalizando seis, e mais dois pavimentos residenciais, totalizando sete. O edifício inaugurado em maio de 1940 teve no seu formato final, 15 pavimentos (figura 350). Outro dado relevante é a insistente presença de edifícios em altura vizinhos ao Vera Cruz nos desenhos para estudo das fachadas. Persistem as ofuscadas linhas dos edifícios Sul América e Alcaraz nas perspectivas do projeto, sinalizando a presença e, até mesmo, a influência destes no processo projetual. Na fachada lateral, esta afirmativa se evidencia através da extensão da ala mais baixa frente à rua Andrade Neves (destinada aos escritórios) até o término do terreno, aproximando-se do edifício Alcaraz. Esta extensão procurava gerar um senso de uniformidade não somente com o edifício vizinho mas, também, com o restante das edificações encontradas na rua Andrade Neves na ocasião do projeto estas não ultrapassando a média de 6 ou 7 pavimentos. A escala das fachadas das vias era, desta forma, um fator a ser valorizado e elemento determinante enquanto estratégia. Da mesma forma, Monteiro Neto também intencionava equiparar o Vera Cruz com o vizinho edifício Sul América, ambos voltados para a avenida Borges de Medeiros. Neste caso, as semelhanças ultrapassam o âmbito da dimensão vertical. O autor certamente tinha conhecimentos sobre o projeto, dada a clareza de detalhes reproduzidos em suas perspectivas. Cabe lembrar que o projeto do edifício Sul América data do mesmo ano que o do edifício Vera Cruz (...). Este dado, além de confirmar que o autor estava a par do projeto da edificação vizinha, aponta para a busca intencional pela harmonia entre os dois, utilizando elementos que visam proporcionar uma leitura unitária e homogênea do Figura 350 Ed. Vera Cruz em construção. Fonte: Ilustração do livro “Pôrto Alegre: biografia duma cidade: monumento do passado, documento do presente, guia do futuro” de 1940. 200 tecido da cidade e da própria avenida Borges de Medeiros como avenida principal da nova metrópole. 268 As observações acima referidas mostram a sensibilidade de Monteiro Neto em propor seu arranha-céu como uma peça de desenho urbano. A similaridade do novo edifício com o projeto vizinho de Gladosch, adotando duas escalas que equilibram as torres e a altura dos edifícios menores já existentes permite que os prédios em altura sejam implantados em harmonia com seu contexto (figura 351). A volumetria adotada por Monteiro Neto foi também eficaz de forma a atender as necessidades de iluminação e ventilação para os usos a que a edificação se propunha. O formato em “L” possibilitou que o edifício apresentasse suas fachadas para as ruas que o cercam, deixando o espaço restante para a ocupação da sala de cinema. A disposição de uma torre, voltada para a avenida Borges de Medeiros, com grande comprimento e largura mais estreita, possibilitou que os ambientes, como as salas dos escritórios, nos pavimentos destinados ao comércio, e as salas de estar e dormitórios, nos pavimentos residenciais, tivessem suas aberturas para esta avenida, deixando o lado oposto, para a travessa Engenheiro Acilino Carvalho, as dependências de serviço e sanitários, da mesma forma muito bem servidas de iluminação e ventilação. Da mesma forma, a fachada para a rua General Andrade Neves usufrui dos mesmos benefícios de se ter uma face para a rua e a outra para o vazio deixado pela baixa volumetria da sala de cinema. A modernidade do edifício Vera Cruz, além do seu uso diversificado e sua volumetria abstrata, está nas suas fachadas. A ausência de ornamentos aliada a serialidade das janelas e a imponência do volume perante o cruzamento de duas importantes avenidas da cidade, 268 Figura 351 Ed. Vera Cruz em construção. Fonte: Ilustração do livro “Pôrto Alegre: biografia duma cidade: monumento do passado, documento do presente, guia do futuro” de 1940. VIANNA, 2004, pg. 90 e 91. 201 conferem destaque a esta edificação na literatura da arquitetura moderna de Porto Alegre e até mesmo como imagem ilustrativa de outros tipos de publicações269. Monteiro Neto teve o cuidado de detalhar com exatidão as esquadrias para a edificação, mantendo assim o controle da modulação. São poucos os modelos e dimensões de forma a promover uma racionalização e simplificação das fachadas. A fachada da avenida Borges de Medeiros possui dois tipos de aberturas: uma janela tipo guilhotina de 0,90x1,60m, que se repete até mesmo em sanitários e uma janela mais extensa com 7,15x1,60m. A primeira foi desenhada tendo venezianas de fechamento externo que na construção acabaram sendo descartadas. A segunda teve uma significativa alteração que mudaria o resultado final da fachada. Do projeto aprovado em relação ao construído, além do aumento de três pavimentos, que passou de 12 para 15 andares, existia uma diferenciação das aberturas nos Figura 352 Detalhamento da janela padrão para o Ed. Vera Cruz. Fonte: Acervo Azevedo Moura & Gertum / Uniritter. andares comerciais em relação aos andares residenciais. No projeto aprovado, os cantos do plano saliente da fachada eram fechados com janelas basculantes nos andares comerciais, enquanto o mesmo canto serviria como balcão aberto nos andares residenciais. No projeto construído optou-se por uma maior simplificação, uma vez que todos os andares receberam o mesmo tratamento de fachada onde o canto já referido foi fechado também com janelas tipo guilhotina. A esquina do edifício recebe um tratamento especial. Desvinculando-se da solução convencional Art Déco de unir duas fachadas perpendiculares através de uma curva, Figura 353 Detalhamento da janela que seria executada nos andares comerciais no Ed. Vera Cruz. Fonte: Acervo Azevedo Moura & Gertum / Uniritter. Monteiro Neto atenuou o vértice agudo do volume na esquina ao chanfrá-lo nas faixas A imagem do edifício Vera Cruz, juntamente com o edifício Sul América, foi utilizada como fundo para apresentar um gráfico estatístico sobre o crescimento da construção em Porto Alegre entre os anos de 1900 e 1939, no livro “Pôrto Alegre: biografia duma cidade: monumento do passado, documento do presente, guia do futuro”, publicado provavelmente em 1940, para comemorar o bicentenário da fundação da cidade. 269 202 correspondentes às aberturas. Além de servir como sutil demarcador da condição de esquina, os trechos chanfrados ajudam a manifestar a condição atectônica das faixas de aberturas, em contraposição aos planos murais fechados, que não são chanfrados (figura 354). A solução da fachada para a avenida Borges de Medeiros é descrita por Vianna de forma precisa: O plano saliente na fachada principal, que se configura praticamente como fachada livre, mantém a proposta original dos primeiros estudos, que previam janelas contínuas horizontais nas extremidades, adicionando delgados apoios no trecho das aberturas. O resultado induz a uma leitura onde se percebem janelas de canto, que, por sua vez, deslocam o volume em projeção do corpo principal do edifício. Este efeito é possibilitado pela independência entre vedação e suporte nesta fachada saliente, permitindo o rasgo horizontal que remete à arquitetura de Corbusier, em exemplos como a Villa Stein, de 1927. A janela em fita longitudinal aumenta o contraste e salienta a diferença entre volume central em projeção e alas laterais, além de se contrapor às marcações de aresta, ao vazar as extremidades do volume. 270 Segue ainda Vianna: O volume em projeção está deslocado da marquise térrea, sendo tal separação demarcada por uma linha de janelas. O efeito disso é de uma virtual levitação do plano central do edifício. 271 Figura 354 Ed. Vera Cruz visto do cruzamento das avenidas Borges de Medeiros e Sen. Salgado Filho. Foto de 2012. Fonte: Acervo Cláudio Calovi Pereira. Na fachada da rua Gen. Andrade Neves, o volume em ressalto se repete em menor escala, com três módulos da janela maior alcançando até o 6º pavimento. Outro elemento sutil da composição das fachadas é a marcação da linha horizontal dos peitoris de janelas que percorre toda a extensão das fachadas principais. 270 271 VIANNA, 2004, pg. 93 e 94. VIANNA, 2004, pg. 94. 203 A solução do plano projetado para fora do alinhamento estrutural da edificação seria repetida em outros dois edifícios, sendo um deles o edifício Charrua, localizado na esquina da avenida Salgado Filho com a rua Vigário José Inácio, projetado por Fernando Corona e o edifício Cruzeiro do Sul, localizado na rua dos Andradas de autoria desconhecida. Ambos têm uso residencial e foram construídos pela Azevedo Moura & Gertum272 (figuras 356 e 357). Figura 355 Comunicação entre as volumetrias dos edifícios Vera Cruz e Alcaraz. Foto de 2011. Fonte: Autor. Figuras 356 e 357 Edifício Charrua de 1940 (esq.). Edifício Cruzeiro do Sul de 1943 (dir.). Fotos de 2012. Fonte: Autor. 272 VIANNA, 2004, pg. 96. 204 3.2.11. 1940 Em 1940, ainda trabalhando para a empresa Azevedo Moura & Gertum, Monteiro Neto projetou três edifícios executados por esta construtora além de uma casa geminada para a empresa Barcellos & Cia. As casas geminadas foram projetadas para o Sr. Fernando Poli273. Estas edificações ainda existem e estão localizadas na rua Visconde do Rio Branco entre a avenida Cristóvão Colombo e rua Marques do Pombal, no bairro Floresta. Porém suas características já estão bem modificadas. Cada unidade, de dois pavimentos, ocupava a metade do lote sendo uma rebatida em relação à outra (figura 359). O telhado que se projeta para frente é parcialmente interrompido por projeções que sugerem um ático. O plano de fachada é animado por projeções no térreo que emolduram os acessos principais e dão lugar a balcões no piso superior (figura 358). O edifício projetado para a Sra. Terra Lopes274, ainda existente, se localiza na avenida Independência nº 128, em frente à Santa Casa (figura 362). A edificação agrupa quatro apartamentos por andar, sendo dois com dois dormitórios e dois com três dormitórios (figura 360). Com um pavimento térreo, cinco pavimentos tipo e um pavimento abaixo do nível da rua (devido ao desnível natural do terreno), a edificação totaliza sete pavimentos. Sua fachada frontal ocupa a totalidade da largura do terreno (figura 361). A verticalização desta fachada é reforçada pelo enquadramento das janelas laterais contrapondo com a horizontalidade proporcionada por pequenos balcões agrupados no centro. Estas janelas 273 274 Figura 358 Fachada das casas geminadas para Fernando Poli. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 63 do microfilme nº 86. Processo 63, do microfilme nº 86, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Processo 18.281, do microfilme nº 88, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Figura 359 Plantas baixas das casas geminadas para Fernando Poli. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 63 do microfilme nº 86. 205 laterais são alinhadas por duas faixas verticais, sendo que uma destas também se oferece para o alinhamento dos balcões. Estes balcões, diferentes das janelas, avançam levemente sobre estas faixas verticais. A simetria da fachada corresponde a solução de planta proposta pelo arquiteto. A partir de um eixo longitudinal e outro transversal são distribuídos os apartamentos em cada andar. O arranjo dos apartamentos é bastante pitoresco e a ventilação dos ambientes é obtida muitas vezes por grandes poços de luz. Figuras 361 e 362 Fachada do edifício Terra Lopes (esq.). Edifício Terra Lopes. Foto de 2011 (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.281 do microfilme nº 88. Autor. Figura 360 Planta baixa tipo do edifício Terra Lopes. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.281 do microfilme nº 88. O edifício Reunidos S.A. foi projetado e construído ao lado do edifício Vera Cruz com acesso único pela travessa Eng. Acilino Carvalho. A edificação se destinava a mesma 206 administradora do edifício Vera Cruz, tanto que era chamado de Anexo Vera Cruz275. Esta edificação de sete pavimentos, que atende hoje somente ao uso comercial, tinha uma ocupação mista, tendo no térreo duas lojas, com acesso direto para a travessa, duas salas de escritório, no pavimento equivalente a sobre loja e dois apartamentos com um dormitório por andar, nos demais cinco pavimentos tipo (figura 363). A preocupação do arquiteto na harmonização desta edificação com os edifícios lindeiros Vera Cruz e Sul América é demonstrada em projeto através de algumas indicações no alinhamento de marquises (figura 364). Figura 364 Fachada do edifício Reunidos S.A. (anexo Vera Cruz). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 23.822 do microfilme nº 89. Figura 363 Plantas baixas do edifício Reunidos S.A. (anexo Vera Cruz). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 23.822 do microfilme nº 89. 275 Processo 23.822, do microfilme nº 89, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 207 A solução de fachada do edifício Terra Lopes é muito semelhante à adotada no edifício São Pedro276, construído na avenida 10 de Novembro, atual Salgado Filho, ainda existente e em bom estado de conservação (figura 365). O edifício São Pedro apresenta um eixo central agrupando os balcões em projeção, porém as janelas laterais são demarcadas por linhas horizontais, visto que, por se tratar de um terreno mais estreito que o anterior, a solução adotada no primeiro não teria a mesma intensidade no segundo. A edificação originalmente de uso misto, apresentava apenas duas lojas no térreo e mais cinco pavimentos tipo com dois apartamentos de dois dormitórios por andar (figura 366). Figura 365 Edifício São Pedro. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figura 366 Planta baixa tipo do edifício São Pedro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 28.392 do microfilme nº 90. 276 Processo 28.392, do microfilme nº 90, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 208 3.3. Terceira fase (1941-1944) O período de apenas quatro anos é marcado por uma série de construções em estilo californiano no trabalho de Monteiro Neto. Nesta fase o arquiteto projeta 17 casas californianas do total de 28 projetos. Os demais projetos são três casas ecléticas, três casas neocoloniais e seis edificações modernas. O moderno continua sendo um estilo bastante explorado, até mesmo porque neste período que são projetados o edifício da Associação Riograndense de Imprensa, o Cine-Teatro Riviera e o Cine Palace, por exemplo. Contudo o número expressivo de casas californianas é bastante significativo, caracterizando estes anos como de predominância do estrangeirismo norte-americano. O estilo californiano desta fase tem uma relação direta com a entrada de Monteiro Neta para a empresa Spolidoro & Cia. Nesta empresa ele ocupou o cargo de arquiteto chefe entre os anos de 1941 e 1943. Praticamente todos os projetos aprovados na prefeitura de Porto Alegre de sua autoria nos anos de 1941 e 1942 e metade dos aprovados no ano de 1943 foram executados por esta empresa. Com exceção de um único projeto que foi executado pela empresa A. D. Aydos & Cia., no ano de 1943, os demais projetos de 1943 e 1944 foram executados pela empresa própria do arquiteto, o Studio Monteiro Neto. A construtora do arquiteto teve um período curto de atuação e o ano de 1944 foi o de maior concentração de projetos, sobretudo casas californianas. De uma forma geral, as décadas de 40 e 50 coincidem com a grande propagação do estilo californiano na cidade de Porto Alegre e também no interior do estado. Provavelmente as tendências de construções na época inclinaram o arquiteto nesta expressiva produção. 209 Figura 368 Casa Ricardo Eichler (1943). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.085 do microfilme nº 105. Figura 367 Ilustração de Monteiro Neto para o artigo sobre casas neocoloniais no livro “Pôrto Alegre: biografia duma cidade: monumento do passado, documento do presente, guia do futuro”. Fonte: Pôrto Alegre: biografia duma cidade: monumento do passado, documento do presente, guia do futuro [1940], pg. 449. Mas porque o californiano, de certa forma um estilo “estrangeiro”, cairia no gosto de uma classe social em emergência? O Estado do Rio Grande do Sul é o mais meridional do Brasil, e se encontra deslocado do centro econômico e político brasileiro. No início do século XX, o transporte era precário, os meios de comunicação com o eixo econômico-administrativo brasileiro (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais) eram praticamente escassos. Contudo, o estado riograndense possuía ligações ferroviárias com a Argentina e o Uruguai. Assim sendo, era mais fácil ir para o “exterior” do que viajar para o “centro” do Brasil. E isto era uma realidade para aqueles que possuíam capital e desfrutavam suas férias nos balneários dos países vizinhos. Ainda hoje existe essa veneração por passar os poucos dias de férias em praias uruguaias como Punta del Este. Isto é um legado de uma tradição que vem desde o início do século. A classe alta de Porto Alegre se deslocava em confortáveis trens para o Uruguai e Argentina. Era uma questão de status social poder ter casas de veraneio nestes países. (...) Buscou imitar as residências das classes dominantes argentinas e uruguaias que, como já foi dito antes, se fixavam nos balneários de Mar del Plata, na Argentina, e de Pocitos e Carrasco no Uruguai. Onde o estilo predominante era o californiano. Essa influência estava ligada não a uma teoria concreta de nacionalismo, como em outros países e no resto do Brasil, mas sim a uma preocupação com o gosto da camada alta, um princípio típico de uma sociedade capitalista movida pela auto-promoção pessoal através da posse de objetos visíveis. 277 Figura 369 Casa Alcides Gonzaga (1941). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.286 do microfilme nº 93. O estilo californiano teve seu início nos Estados Unidos no começo do século XX. Suas referências provêm da arquitetura colonização espanhola desde o século XVI no oeste da América do Norte, região hoje correspondente ao território do México e ao oeste norteamericano. Por afinidades climáticas e geográficas, a arquitetura espanhola foi adaptada nestas novas terras, porém de uma forma mais simplificada. Os meios não eram tão abundantes como no seu local de origem e, sobretudo, artesãos e construtores especializados não existiam na América. Para o trabalho, os espanhóis dependiam muito dos índios, e isso pode ser considerado o fator mais simples da arquitetura, uma vez que a mão de obra era barata, porém carecia de conhecimentos técnico-construtivos. A construção tornou-se, então, mais pesada. A redução dos 277 Figura 370 Casa para Caixa Econômica Federal (1944). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 2.706 do microfilme nº 107. VEIGA, 1993. 210 ornamentos, a simplificação da forma e o efeito do adobe local foram as características marcantes da arquitetura. 278 Este novo estilo arquitetônico, que se desenvolveu principalmente na Califórnia, mas também nos estados do Novo México, Arizona, Texas e Flórida, recebeu a denominação de “Mission Style” ou “Californian Style”. Desse modo, o estilo californiano é um ecletismo historicista tardio. As características gerais de uma casa em estilo californiano, sem considerar possíveis variações, estão na presença de paredes espessas e com reboco salpicado; telhado geralmente em duas águas com baixa inclinação, algumas vezes com certa curvatura; beirais na sua maioria com pequena projeção, ficando mais próximos da parede; e a presença constante de varandas marcadas por grandes arcos. Outro elemento que caracteriza a maioria das casas neste estilo é a aplicação de pedras, na forma estrutural ou decorativa, na base dos arcos ou até mesmo de toda a construção. O arranjo volumétrico é "pitoresco", sem preocupação com a simetria e caracterizado por uma articulação livre de volumes. Nas casas maiores, é frequente a presença de uma torre cilíndrica abrigando uma escadaria e articulando volumes distintos. Na versão brasileira deste estilo, observa-se ocasionalmente algumas características trazidas da arquitetura colonial, como a presença de azulejos decorativos e o uso de esquadrias de madeira em cor escura contra o reboco branco. Os bairros com maior incidência de casas neste estilo em Porto Alegre são os que em 193050 eram considerados os “arrebaldes da cidade” como Assunção, Petrópolis e Teresópolis. Nestes bairros estavam sendo implantados loteamentos que os caracterizavam como "cidades-jardim" pela arborização existente, terrenos amplos e baixa densidade. 278 Figura 371 Casa José Eboli (1942). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 9.584 do microfilme nº 97. Figura 372 Casa Ezequiel Ubatuba (1942). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.035do microfilme nº 97. VEIGA, 1993. 211 Conhecedor destas características e, provavelmente, requisitado por uma clientela exigente de um novo estilo, agora “importado” de balneários uruguaios e argentinos ou diretamente da fonte norte-americana, Monteiro Neto desenvolve uma série de projetos nesta tendência, porém sem deixar de trabalhar concomitantemente com o moderno e o eclético. Figura 373 Casa Dante Laytano (1942). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 15.613 do microfilme nº 98. 212 3.3.1. 1941 O primeiro projeto de Monteiro Neto aprovado no ano de 1941 foi o Moinho Esperança279, para Dal Molin e Co., ainda trabalhando para a empresa Azevedo Moura & Gertum. Este moinho foi o último projeto do arquiteto para esta empresa, sendo que a partir de então ele assumiria o cargo de arquiteto chefe da seção de arquitetura na empresa Spolidoro & Cia. O projeto para o Moinho Esperança, apesar de ter uma planta retangular quase sem nenhuma compartimentação interna (figura 375), nos apresenta uma configuração de fachada significativa (figura 374). Trata-se de uma edificação de quatro pavimentos ritimada em três pares de janelas por andar, com exceção do térreo que possui a porta de acesso principal no centro do pavimento. A divisão da fachada em base, corpo e coroamento é bastante nítida. Pilastras, sem nenhuma ornamentação, demarcam as áreas de janelas, além de fazerem a ligação entre base e coroamento. O ritmo das janelas é demarcado por uma malha que ordena a disposição destas aberturas. A disciplina geométrica dessa fachada lembra a arquitetura de abstração classicizante que predominava nessa época na Europa e nos Estados Unidos. Conforme descrição no projeto, o moinho se localizava na avenida Farrapos, porém durante as pesquisas não foi encontrado. Na empresa Spolidoro & Cia., Monteiro Neto projeta a primeira casa já em estilo californiano. Esta casa foi projetada para Alcides Gonzaga e será melhor abordada no próximo subcapítulo. A partir deste projeto, todas as demais obras deste ano foram executadas para a mesma construtora. . Figura 375 Planta baixa do Moinho Esperança. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 2.079 do microfilme nº 91. Figura 374 Fachada do Moinho Esperança. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 2.079 do microfilme nº 91. 279 Processo 2.079, do microfilme nº 91, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 213 Para o Sr. Francisco da Silva Lanziotti280, Monteiro Neto projeta uma casa de um dormitório que se localizava na avenida Cascata, atual Professor Oscar Pereira, próximo da esquina com a avenida Coronel Aparício Borges. Esta casa, já demolida, apresenta um projeto bastante compacto, resultado de um lote com largura de 7,00m e profundidade de 44,00m (figuras 376 e 378). Figura 376 Fachada da casa Francisco da Silva Lanziotti. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 29.672 do microfilme nº 95. Figura 378 Planta baixa da casa Francisco da Silva Lanziotti. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 29.672 do microfilme nº 95. Outra casa também em estilo californiano é projetada para a Cia. Predial e Agrícola281. Esta edificação de dois pavimentos, tendo as áreas sociais no térreo e quatro dormitórios no segundo pavimento se localizava na avenida Paraná, bairro São Geraldo, porém não foi encontrada durante as pesquisas. A planta retangular resulta numa fachada mais animada, devido a composição do balcão sobre o pórtico de entrada que recua no segundo pavimento (figura 377). Figura 377 Fachada da casa para a Cia. Predial e Agrícola. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 6.161 do microfilme nº 96. 280 281 Processo 29.672, do microfilme nº 95, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Processo 6.161, do microfilme nº 96, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 214 O projeto de maior envergadura de Monteiro Neto na empresa Spolidoro & Cia. foi o do edifício de dez pavimentos projetado e construído para o Sr. Armando Giampaoli282. O edifício chamado de Marconi, se localiza na esquina da avenida Alberto Bins com a rua da Conceição e se encontra em estado regular de conservação (figura 381). Este edifício abriga um pavimento térreo destinado a lojas e nove pavimentos de uso residencial. Esta disposição de usos continua até hoje, mantendo a proposta original da edificação. Figura 380 Fachada do edifício Armando Giampaoli. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 13.460 do microfilme nº 198. Figura 379 Planta baixa do pavimento tipo do edifício Armando Giampaoli. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 13.460 do microfilme nº 198. Os pavimentos residenciais são divididos em duas unidades com dois dormitórios, no centro e no lado oposto ao da esquina, e uma unidade de três dormitórios, no lado correspondente a esquina (figura 379). O décimo pavimento, ou o nono residencial, abriga apenas uma unidade de dois dormitórios no centro do pavimento possibilitando que as duas alas fossem 282 Processo 13.460, do microfilme nº 198, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Figura 381 Imagem aérea com a localização do edifício Armando Giampaoli. Fonte: Google Earth. 215 destinadas a grandes terraços. A organização espacial desta edificação em alguns pontos assemelha-se com o edifício Vera Cruz, que tinha sido projetado dois anos antes para a Azevedo Moura & Gertum. Estas semelhanças se davam principalmente nas dimensões dos ambientes e nas disposições destes em relação ao eixo de circulação vertical e o eixo dos corredores (circulação horizontal). O formato em “L” também utilizado pelo edifício Vera Cruz, guardadas as proporções, possibilitava no edifício Armando Giampaoli a colocação das áreas de serviço voltadas para os fundos do lote num espaço destinado ao poço de iluminação. Seguindo o mesmo critério do edifício Vera Cruz, os apartamentos que se encontravam no centro da edificação possuíam sua área de serviço fora dos limites da unidade, tendo que se atravessar o corredor de circulação interno, para acessá-la. O jogo volumétrico da fachada é caracterizado pelas sacadas que formam, ao mesmo tempo, uma projeção vertical “dentada” e também uma reentrância em cada pavimento, não completada devido à falta de comunicação destas sacadas (figura 380). As sacadas que se comunicam visualmente pertencem a mesma unidade residencial, evitando a falta de privacidade entre unidades vizinhas. Nas extremidades, esta solução se mantém, porém com apenas uma linha Figura 382 Fachada do edifício Armando Giampaoli para a avenida Alberto Bins. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 13.460 do microfilme nº 198. de sacadas. A verticalidade da edificação é reforçada pela projeção dos volumes associados às sacadas. No lado de maior dimensão, estas projeções são em número de três e correspondem em cada andar a “living room/dormitório/living room”. Na outra fachada a projeção vertical é única e corresponde a um dos dormitórios em cada andar. A articulação entre as duas fachadas foi resolvida com um chanfro em diagonal na esquina (figura 382). 216 3.3.2. Residência Alcides Gonzaga Atualmente, a rua Luciana de Abreu, no bairro Moinhos de Vento, ainda abriga uma série de casarões neocoloniais, Art Déco e classicistas das décadas de 30 e 40, tornando-se um local de visitação obrigatório para quem quer apreciar a arquitetura difundida nesta época. Um destes exemplares, mais precisamente o de nº 461, que ainda apresenta características externas muito próximas do original, mas internamente abriga o uso comercial, é a casa projetada por Monteiro Neto para o Sr. Alcides Gonzaga (figura 383). Conforme arquivos microfilmados283 o projeto foi aprovado na Prefeitura de Porto Alegre no ano de 1941 e construído pela empresa Spolidoro & Cia. no período em que Monteiro Neto teria exercido o cargo de arquiteto chefe desta construtora (entre os anos de 1941 e 1943). O estilo californiano é bem característico nesta construção. Os beirais de pouca projeção, o uso da telha colonial e a base da edificação revestida em pedras rústicas são características deste estilo (figura 384). A presença de um torreão na fachada principal, que foi um elemento compositivo bastante utilizado por Monteiro Neto em outras casas californianas, reforça a clara intenção de caracterizar o projeto ao modismo da época (figura 392). O projeto original, de mais de 300m², estava dividido em dois níveis bem setorizados. No pavimento térreo, apesar dos dois grandes arcos que sustentam a cobertura da varanda caracterizarem o acesso principal (figura 386), este se dava lateralmente através de um corredor externo. Essa disposição provavelmente foi utilizada em função da distribuição Figura 384 Fachada principal da casa Alcides Gonzaga. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.286 do microfilme nº 93. Figura 383 Casa Alcides Gonzaga. Foto de 2012. Fonte: Imagem do autor. 283 Processo 16.286, do microfilme nº 93, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 217 para as dependências internas, já que o corredor leva a um pequeno hall, ainda externo, chamado pelo arquiteto de “pórtico”, que permitia a entrada individual tanto para pavimento térreo como para o pavimento superior. Uma porta abria diretamente para um “vestíbulo” no térreo e outra abria frontalmente à escada de acesso ao segundo pavimento, caracterizando a individualidade das dependências superiores, já que esta escada era a única forma de ascensão a este andar. Figura 385 Imagem aérea com a localização da casa Alcides Gonzaga. Fonte: Google Earth. Figura 387 Planta baixa do pavimento térreo da casa Alcides Gonzaga. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.286 do microfilme nº 93. Ainda no pavimento térreo (figura 387), é possível observar que a planta se organizava em faixas longitudinais com a sequência de peças maiores abrigando estar, jantar, quarto do casal e estar íntimo. Do outro lado, estavam circulações e peças menores, exceto pelo quarto Figura 386 Acesso atual através de um dos arcos da varanda. Foto de 2012. Fonte: Autor. da filha. Existia uma divisão bastante nítida entre as dependências sociais e os ambientes íntimos da casa. O acesso principal permitia a entrada a um pequeno “hall de recepção” o qual se abria para o “living room” e para a “sala de jantar”. Através do living se tinha acesso 218 ao “gabinete” o qual possuía um pé-direito elevado proporcionado pelo torreão (figura 393). Adentrando novamente pelo hall de recepção chegava-se ao “hall de serviço” que tinha a finalidade de distribuição às dependências íntimas dos proprietários. Neste setor da casa estavam o “dormitório do casal”, o “dormitório da filha”, um amplo banheiro, uma “sala de estar” mais íntima aos ocupantes da casa, um “refeitório diário”, além da “cozinha” e “despensa”. Com este arranjo, provavelmente todas as necessidades da família ficavam supridas neste único pavimento. Figura 389 Corte transversal da casa Alcides Gonzaga. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.286 do microfilme nº 93. Figura 388 Planta baixa do pavimento superior da casa Alcides Gonzaga. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.286 do microfilme nº 93. Figura 390 Fachada lateral sul da casa Alcides Gonzaga. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.286 do microfilme nº 93. Desta forma acredita-se que a finalidade de um segundo pavimento, com acesso externo individualizado, porém com uma porta de ligação interna ao “hall de recepção”, seria a de abrigar as dependências de um caseiro ou até mesmo para receber visitantes que teriam toda uma infraestrutura de moradia, sem interferência as dependências dos proprietários, e mesmo assim com comunicação interna a estas últimas (figura 388). 219 Figura 391 Fachada lateral norte da casa Alcides Gonzaga. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.286 do microfilme nº 93. Figura 392 Detalhe do torreão da casa Alcides Gonzaga. Fonte: Autor. Figura 393 Corte longitudinal da casa Alcides Gonzaga. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.286 do microfilme nº 93. A infraestrutura destinada ao segundo pavimento era composta por dois dormitórios, sala de jantar, cozinha e banheiro, numa área aproximada de 80m², além de um amplo terraço voltado para os fundos do terreno. 220 3.3.3. 1942 No ano de 1942 Monteiro Neto, que ainda chefiava o departamento de arquitetura da empresa Spolidoro & Cia., projeta dois edifícios, sendo um deles o da Associação Riograndense de Imprensa e mais cinco casas. Destas cinco casas apenas uma foi projetada em estilo neocolonial brasileiro e as demais em estilo californiano, mantendo a tendência desta empresa em construir casas neste estilo. Figura 395 Fachada frontal da casa José Eboli. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 9.584 do microfilme nº 97. Figura 394 Fachadas laterais da casa José Eboli. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 9.584 do microfilme nº 97. Logo após o projeto da Associação Riograndense de Imprensa, que será analisado no próximo subcapítulo, Monteiro Neto projeta uma casa de dois pavimentos para o Sr. José Eboli284, que se localizava na rua Adriana (da qual não se encontrou o nome atual), no bairro Petrópolis (conforme projeto). Esta ampla casa abrigava no térreo as dependências sociais de “gabinete”, “living room”, “sala de jantar”, “copa”, “cozinha” e “quarto da 284 Processo 9.584, do microfilme nº 97, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Figura 396 Planta baixa do pavimento térreo da casa José Eboli. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 9.584 do microfilme nº 97. 221 creada”, além da garagem incorporada a edificação (figura 396). O segundo pavimento abrigava três quartos, uma “rouparia” e um amplo banheiro. Com um arranjo bastante pitoresco, o resultado das fachadas proporcionava uma volumetria bem animada, principalmente na disposição dos telhados (figura 394). O grande arco abatido do “pórtico” de acesso é um dos principais elementos que caracteriza o estilo californiano adotado (figura 395). A segunda casa deste ano, projetada para o Dr. Ezequiel Ubatuba285, é uma edificação térrea e se localiza na rua Quintino Bocaiúva, entre a Travessa Augusta e a rua Mostardeiro. Figura 397 Fachada da casa Ezequiel Ubatuba. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.035do microfilme nº 97. Não foi possível verificar se esta casa, ainda existente, mantém a originalidade, pois está encoberta por muros altos no seu entorno. Com um programa bastante convencional esta casa se destaca por sua fachada que nos remete aos precedentes históricos do estilo californiano, ou seja, os pueblos do México e Estados Unidos286. Esta associação é possível devido a forma adotada pelo arquiteto para compor a fachada, que além do tradicional arco abatido, utilizou a reprodução de parte de uma habitação de pueblo, originalmente construídas com espessas paredes de barro, com tetos de terra pisada sobre ripas de madeira, que por sua vez eram sustentadas por vigas de troncos pelados287 (figura 397). A casa para o Dr. Dante de Laytano288 retoma o discurso neocolonial nacionalista, amplamente defendido por Monteio Neto em suas colunas ao longo dos anos 1931 a 1933. 285 286 Figura 398 Fachada oeste da casa Dante Laytano. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 15.613 do microfilme nº 98. Processo 11.035, do microfilme nº 97, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Ver VEIGA, 1993. 287 Ver VEIGA, 1993. 288 Dante de Laytano nasceu em Porto Alegre em 23 de março de 1908. Foi cronista, historiador, ensaísta e folclorista. Membro do Instituo Histórico Geográfico, foi diretor do Museu Júlio de Castilhos, presidente da Academia Rio-grandense de Letras, Academia Brasileira de História e da Comissão Nacional do Folclore, tendo presidido, também a Comissão das Organizações das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a 222 Figura 401 Fachada principal da casa Dante de Laytano. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figuras 399 e 400 Lateral da casa Dante de Laytano (esq.). Detalhe do balcão sobre o acesso comum (dir.). Fotos de 2012. Fonte: Autor. Esta casa de dois pavimentos, com apenas dois dormitórios, recebe um cuidado peculiar na ornamentação das fachadas. O acesso avarandado e as janelas em arco pleno, associado ao desenho de portas e esquadrias, telhados mais regulares e uso de balaustradas, nos remetem mais claramente ao estilo neocolonial, com suas referências à arquitetura colonial brasileira (figuras 400 e 401). Pilastras proporcionam os acabamentos nas esquinas como cantoneiras, Figura 402 Detalhe do friso em azulejos da casa Dante de Laytano. Fonte: Autor. Cultura (Unesco-ibec) que foi instituída no Rio Grande do Sul em 1958. Formado em direito, foi também professor de história, literatura e filosofia, tendo recebido em 1991 o título de Professor Emérito da UFRGS e mais tarde na PUC. Faleceu em 18 de fevereiro de 2000. Fonte: http://www.memorial.rs.gov.br. 223 tendo um largo friso superior em azulejos como elemento de fechamento (figura 399 e 402). O telhado em quatro águas, com um leve abatimento junto dos beirais, dá a ideia dos casarões coloniais característicos das estâncias e fazendas. A casa Dante de Laytano289, que se localiza na esquina da rua Quintino Bocaiúva e a travessa Augusta, é atualmente utilizada como estabelecimento comercial e encontra-se em ótimo estado de conservação. O edifício para a Sra. Eugênia Porto Newlands d’Almeida290, em parte ainda existente, Figura 403 Planta de situação do ed. Eugênia Newlands d’Almeida. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.836 do microfilme nº 98. consiste de duas edificações de três pavimentos rebatidas longitudinalmente, ambas de uso misto, com a totalidade do pavimento térreo destinado ao uso de lojas e outros dois pavimentos de dois apartamentos com dois dormitórios em cada andar (figura 403). Uma das edificações, que ainda existe e tem a frente para a rua Siqueira Campos, se localiza quase na esquina da rua Caldas Júnior e a outra, já demolida, tinha a fachada para a avenida Mauá, também próxima à rua Caldas Júnior. A proposta do arquiteto era realmente tratar a edificação como se fossem dois prédios independentes e rebatidos a partir do centro do terreno. O total da edificação ocupava um lote que tinha frente para duas ruas e teve a mesma fachada adotada para ambas as frentes (figura 404). Estas fachadas apresentavam um plano mural único com as aberturas dispostas a partir de eixos de alinhamentos, alguns frisos, uma pequena rusticação no térreo e o emolduramento das janelas no segundo e terceiro pavimentos. Para o Sr. Alberto Osvaldo Bopp291, foi projetada uma casa térrea com três dormitórios, que ocupava o terreno que forma a esquina das ruas Felipe de Oliveira e Barão do Figura 404 Fachada do ed. Eugênia Newlands d’Almeida. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.836 do microfilme nº 98. 289 290 291 Processo 15.613, do microfilme nº 98, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Processo 16.836, do microfilme nº 98, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Processo 18.540, do microfilme nº 99, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 224 Amazonas, porém já foi demolida. A implantação da casa se dava paralelamente a rua Barão do Amazonas, por onde se chegava ao “pórtico” de acesso e por onde se dava a entrada do automóvel (figura 406). Esta disposição proporcionou uma fachada principal mais ampla e o uso de um grande arco que demarcava o acesso (figura 405). Através do “living room” se tinha ligação com os demais ambientes. De um lado e atrás deste living estavam o “refeitório”, a “cozinha” e o “quarto da creada”, de outro estavam os dormitórios e um amplo banheiro. Figura 406 Planta de situação do ed. Eugênia Newlands d’Almeida. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.836 do microfilme nº 98. Figura 405 Fachada da casa Alberto Osvaldo Bopp para a rua Barão do Amazonas. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.540 do microfilme nº 99. O projeto para o Dr. Daly Lopes d’Almeida292, tem um programa muito semelhante ao casa José Eboli, com exceção que esta última não possui garagem no corpo da edificação (figuras 408 e 409). A fachada é, da mesma forma que a anterior, animada pelo resultado de uma planta pitoresca, na qual avanços do térreo proporcionam balcões no segundo pavimento (figura 410). O uso do revestimento de pedra na base, o telhado de baixa inclinação e pouco beiral são elementos bastante utilizados na caraterização do estilo californiano. Tal 292 Figura 407 Fachada da casa Alberto Osvaldo Bopp para a rua Felipe de Oliveira. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 18.540 do microfilme nº 99. Processo 31.317, do microfilme nº 101, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 225 edificação se localiza na esquina da rua Quintino Bocaiúva com travessa Augusta, em frente a casa Dante de Laytano, atende ao uso comercial e se encontra em ótimo estado de conservação. Figura 408 Planta baixa do pavimento térreo da casa Daly Lopes d’Almeida. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 31.317 do microfilme nº 101. Figura 410 Fachadas da casa Daly Lopes d’Almeida. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 31.317 do microfilme nº 101. Figura 409 Planta baixa do segundo pavimento da casa Daly Lopes d’Almeida. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 31.317 do microfilme nº 101. 226 3.3.4. Edifício da Associação Riograndense de Imprensa A edição do jornal Correio do Povo de 29 de abril de 1941293 já anunciava a construção da “Casa do Jornalista” numa alusão ao novo prédio que seria erguido para abrigar as atividades da Associação Riograndense de Imprensa294. (...) foram apresentados pela diretoria os projetos para o edifício que deverá ser construído na avenida Borges de Medeiros, que terá onze andares, com todas as instalações necessárias para a Associação Riograndense de Imprensa que ocupará três andares nos quais haverá amplos salões de reunião, biblioteca, salas de leitura, auditório, secretarias, etc., além da parte destinada exclusivamente à assistência social. 295 Para ilustrar a reportagem do jornal foi apresentada uma perspectiva da edificação que seria construída (figura 411), porém com características bem diferentes da que foi projetada por Monteiro Neto e de fato executada. Não foi possível confirmar que este primeiro estudo tenha sido feito pelo próprio arquiteto e depois evoluído para a proposta final ou se esta ilustração tenha sido resultado do projeto de outro profissional. Dada a variedade estilística da produção de Monteiro Neto, é possível que o projeto publicado fosse dele. O projeto aprovado na Prefeitura Municipal data do ano de 1942296, tendo como responsável pela construção a firma Spolidoro & Cia. que na época tinha seu departamento de projetos chefiado por Monteiro Neto, cuja assinatura está registrada nas plantas. 293 294 “Associação Riograndense de Imprensa”. Correio do Povo. Porto Alegre, 29/04/1941, pg. 07. A Associação Riograndense de Imprensa (ARI) foi criada em 19 de dezembro de 1935, para defender os jornalistas, intelectuais e trabalhadores das empresas de comunicação. Fonte: www.ari.org.br. 295 “Associação Riograndense de Imprensa”. Correio do Povo. Porto Alegre, 29/04/1941, pg. 07. 296 Arquivo Público Municipal de Porto Alegre Figura 411 Ilustração no Correio do Povo de 29/04/1941 com perspectiva do projeto para a “Casa do Jornalista”. Fonte: Jornal Correio do Povo, 29/04/41, pg. 07. 227 Para Machado, este prédio deve ser lembrado como exemplo “da nova estética que, de maneira diferenciada, abre caminho na cidade, (...) em terreno doado pela Prefeitura Municipal e com auxílio financeiro do governo estadual; o primeiro projeto, de 1941, sofre visíveis modificações até a simplificação formal do resultado final, (...)”297. Mais uma vez, Monteiro Neto tem a oportunidade de construir na avenida Borges de Medeiros, a via mais importante da cidade naquele momento, apenas um ano após ter projetado o Edifício Vera Cruz. A edificação possui 10 pavimentos, ou seja, um a menos do que foi publicado no jornal Correio do Povo, sendo eles compostos pelo térreo, cinco pavimentos tipo, três pavimentos destinados as atividades da associação e um terraço. Ao longo dos anos a edificação foi sofrendo algumas modificações tanto de arranjo interno quanto de uso, mas ainda mantém muitas características originais e continua sediando a Associação Riograndense de Imprensa (ARI). Na fachada é possível identificar facilmente a organização em três divisões principais: base, corpo e coroamento (figura 412). Na base, cinco pilares circulares se projetam para frente, permitindo a sensação de pilotis. Contudo, apenas um dos pilares é independente das paredes, sendo os demais saliências que demarcam o ritmo dos apoios no alinhamento do lote. No corpo principal do edifício, surge uma grande moldura que emula as grelhas de Figura 412 Ed. da Associação Riograndense de Imprensa (1942). Foto de 2012. Fonte: Autor. muitas fachadas modernas da época, como a do MESP. Contudo, esta moldura não possui grelha ortogonal, mas uma sequência vertical de sete semicolunas. As semicolunas ímpares se coordenam às colunas do térreo, mas as pares se apoiam na moldura. Elas perdem ainda 297 MACHADO, 1998, pg. 242. 228 mais do seu sentido estrutural por estarem adiante da linha de apoio da colunata térrea. O coroamento, correspondente ao auditório, retoma o alinhamento da base da edificação, com o término da moldura que demarca o corpo do edifício. Nele há uma janela longitudinal subdividida pela projeção das três colunas centrais que sobem desde o térreo. Embora a solução seja híbrida, também demonstra certo pioneirismo na arquitetura da cidade quanto à elevação do edifício moderno com pilotis no térreo, grelha modular no corpo e faixa recuada no coroamento. Os precedentes eram poucos, como o Pavilhão de Nova Iorque (Costa e Niemeyer), a Obra do Berço (Niemeyer), o MESP (Costa e equipe; ainda sendo terminado na época) e o Aeroporto Santos Dumont (Irmãos Roberto). projeto de Moreira para o Hospital de Clínicas. O projeto de Jorge Moreira para o Hospital de Clínicas em Porto Alegre (1942) previa uma grelha monumental em sua fachada principal. Desse modo, pode-se dizer que a moldura com semicolunas da ARI caracteriza o primeiro intento de criar uma fachada moderna brasileira em Porto Alegre. Logo em seguida, a seguirão os edifícios Osvaldo Cruz (G. Trein, 1946) e Santa Terezinha (H. Mendonça, 1950). A organização da edificação no lote tem um formato de “T” invertido onde a fachada ocupa toda a extensão no passeio e a ventilação e iluminação dos ambientes mais ao fundo são feitas por recuos laterais em ambos os lados. Todos os pavimentos apresentam uma planta simétrica com um eixo que divide o terreno no sentido longitudinal. Nos andares de apartamentos, este eixo é marcado por uma parede contínua de fora a fora (exceto no saguão de elevadores), desaparecendo nos pisos da ARI. A circulação horizontal tem posição central, criando um saguão para acesso aos dois lados da planta. O pavimento térreo originalmente projetado abrigava além do pórtico de entrada centralizado, as atividades de secretariado da associação e o atendimento ao público (figura 229 Figura 413 Planta do pavimento térreo do Edifício da Associação Riograndense de Imprensa. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre. 413). Neste pavimento existiam também sanitários de uso público e salas destinadas a clínicas médicas. A presença destas últimas vincula-se ao uso assistencial pelos associados e seus familiares, de acordo com o relato no artigo do Correio do Povo de 1941, já mencionado. Os andares de pavimento tipo, do 2º ao 6º, destinavam-se a apartamentos, caracterizando e edifício como de ocupação mista, tendência das construções em altura em Porto Alegre na época (figura 414). Esta situação é muito semelhante à encontrada no Edifício Vera Cruz, já bastante explorada neste trabalho. Num total de quatro apartamentos por andar, a organização dos mesmos se dava através dos dois eixos principais da edificação, um longitudinal e outro transversal. Para a frente, na avenida Borges de Medeiros, foram dispostos dois apartamentos de dois dormitórios com ampla sala de estar. Um dos dormitórios e a sala voltam-se para a avenida, enquanto o segundo quarto e o setor de serviço voltam-se para o poço lateral. Nos fundos, estão localizados os apartamentos de um dormitório, com área bastante reduzida atendendo a sala de estar e a cozinha e um sanitário social, mas também com um balcão projetado em balanço servindo de área de serviço. Atualmente, estas dependências residenciais estão Figura 414 Planta do pavimento tipo do Edifício da Associação Riograndense de Imprensa. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre. ocupadas, na sua totalidade, por salas comerciais alugadas. Os três pavimentos de atividades diversas da ARI foram divididos no 7º, 8º e 9º andares, caracterizando a ocupação do coroamento do edifício pelos espaços institucionais. Essa é uma característica das sedes de instituições abrigadas em edifícios em altura que começavam a aparecer com frequência na época. O exemplo mais claro para o caso da ARI é a sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), instituição matriz da associação gaúcha, que construiu uma sede para si no Rio de Janeiro em 1936, segundo projeto dos 230 irmãos Marcelo e Milton Roberto. Esse edifício tornou-se famoso mundialmente como pioneiro da arquitetura moderna de vanguarda no Brasil, ao ser publicado no catálogo da exposição Brazil Builds, promovida pelo Museum of Modern Art de Nova Iorque (MoMA), em 1943. Em 1941, o edifício da ABI já havia sido inaugurado e publicado tanto no Brasil como no exterior. Portanto, é improvável que sua arquitetura não tenha tido alguma influência na sede da ARI. Nesse sentido, a sede gaúcha também apresenta seu coroamento ocupado pelos espaços institucionais. Figura 418 Acesso ao ed. da Associação Riograndense de Imprensa. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figuras 415, 416 e 417 Planta baixa do 7º do Edifício da A.R.I. (esq.). Planta baixa do 8º do Edifício da A.R.I. (centro). Planta baixa do 9º do Edifício da A.R.I. (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre. O 7º pavimento abriga o gabinete do presidente, a biblioteca, sala de leitura e o salão nobre, todos posicionados junto a fachada principal da edificação (figura 415). Os três salões são acessados através de um hall semicircular. Ao lado da circulação vertical ficam os sanitários e sala de café. Na parte posterior do andar há um salão de diversões. 231 O 8º andar foi destinado para eventos sociais, com um grande salão chamado de “Grillroom-baar”, assistido por uma cozinha, um espaço para o “Barman”, sanitários individualizados por sexo e um amplo salão de bilhar (figura 416). Atualmente estas dependências, como a maioria, estão subdivididas e utilizadas para fins comerciais. O 9º andar foi destinado a um grande auditório, provavelmente utilizado para as reuniões e conferências da ARI (figura 417). Este pavimento não possui a mesma área dos demais andares, sendo finalizado junto ao eixo de circulação vertical. O auditório ocupava a totalidade da fachada frontal da edificação, a qual recebeu um tratamento diferente das aberturas, por ser este o último andar da instituição. Além do auditório foram previstos sanitários individualizados por sexo, sala para a guarda de roupas e uma saleta para a espera Figura 419 Imagem aérea da localização Riograndense de Imprensa. Fonte: Google Earth. do conferencista. da Associação Um último pavimento abrigava um apartamento, que provavelmente destinava-se ao zelador da edificação. Diferentemente do que foi projetado, a área sobre o auditório do 9º andar foi construída como um terraço, sendo que o projeto mostra seu fechamento com um telhado convencional. Tal alteração agregou grande valor a este pavimento, pois ele permite uma visão panorâmica desta região da cidade. A sede da ARI se inclui entre as obras em estilo moderno de Monteiro Neto e, pelos aspectos referidos de sua imagem externa, se inclui como exemplar pioneiro no quadro da arquitetura da cidade. 232 3.3.5. 1943 No ano de 1943, Monteiro Neto realizou seus últimos projetos junto da empresa Spolidoro & Cia. antes de iniciar seus trabalhos por conta própria com a empresa Stúdio Monteiro Neto. Deste ano, até o seu falecimento, a grande maioria dos projetos foram realizadas para sua construtora ou utilizando seu próprio nome quando esta foi encerrada no ano de 1946. Para a empresa Spolidoro & Cia., Monteiro Neto projetou, neste ano, a casa Vicência Georgina Bruno, um palacete para Armando Giampaoli e a casa para Harry Lubisco, sendo os dois últimos projetos analisados nos próximos subcapítulos. A casa seguinte, projetada para Ricardo Eichler, já foi executada pela construtora do arquiteto e também será analisada em separado. Na sequência cronológica das aprovações na Prefeitura, a próxima casa, projetada para Arthur coelho Borges, foi executada pela construtora A. D. Aydos & Cia. Ltda. Finalizou este ano, mais um projeto para sua própria construtora, a casa para a Cia. Predial e Agrícola. A casa para a Sra. Vicencia Georgina Bruno298, com dois pavimentos, simplifica a utilização de elementos característicos do estilo californiano, que ainda sim podem ser percebidos, porém com menor intensidade (figura 420). Nesta casa se repetem muitas das características do projeto deste arquiteto, ou seja, o pórtico de acesso que da suporte para um balcão no segundo pavimento e a projeção de um ambiente de um dos pavimentos, no caso o sanitário do segundo andar, para fora dos limites do outro, que tem o objetivo de animar o plano de fachada (figura 421). Esta casa já foi demolida e se localizava na rua Caldas Júnior próximo da rua Riachuelo, no centro da cidade. 298 Figura 420 Fachada da casa Vicencia Giorgina Bruno. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.233 do microfilme nº 104. Processo 14.233, do microfilme nº 104, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Figura 421 Plantas baixas da casa Vicencia Giorgina Bruno. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.233 do microfilme nº 104. 233 A casa para o Sr. Arthur Coelho Borges299, possui características do neocolonial preconizado por Ricardo Severo e Victor Dubugras. Uma casa de aproximadamente quatrocentos metros quadrados se divide em dois pavimentos, deixando o nível mais baixo destinado a garagem (uma necessidade que até então era pouco explorada dentro do “corpo” da edificação) e demais dependências de serviço, e o pavimento mais alto para as dependências íntimas e sociais. O tratamento rusticado do pavimento inferior lhe confere uma característica de utilização secundária, permitindo que o pavimento imediatamente Figura 422 Fachada da casa Arthur Coelho Borges. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.587 do microfilme nº 105. acima seja observado como o nível principal (figura 422). O acesso principal, por meio de uma escadaria para vencer o desnível do pavimento, é marcado por uma pequena torre quadrada, que internamente recebe um tratamento de forro na forma de cúpula. A casa, ainda existente e em ótimo estado de conservação, atende a função comercial e se localiza na rua Marquês do Herval, próximo da esquina com a rua Barão de Santo Ângelo, no bairro Moinho de Ventos (figura 423). Logo após a casa Borges, Monteiro Neto recebeu a encomenda de outra casa para a Cia. Predial e Agrícola300, sendo que a primeira já tinha sido encomendada no ano de 1941 enquanto o arquiteto ainda estava na construtora Spolidoro & Cia. Esta casa foi executada pelo próprio arquiteto através do Studio Monteiro Neto. A casa contratada para a Sr. Nuncia Figura 423 Casa Arthur Coelho Borges. Foto de 2012. Fonte: Autor. Processo 19.587, do microfilme nº 105, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. A Companhia Predial e Agrícola [foi] fundada em 7 de janeiro de 1897 (...). Sua atuação não se restringia ao município de Porto Alegre, mas também ao interior do Estado, com interesse em comercializar terras para colonização e empreitar a construção de obras e estradas. Os incorporadores desta companhia eram Eduardo de Azevedo Souza Filho, José Luiz Moura de Azevedo, Manoel Py e seu genro Possidônio Mâncio da Cunha Júnior. Entre seus acionistas constavam tanto pessoas físicas como jurídicas, destacando-se E. de Azevedo & Cia. e o Banco da Província. Esta companhia foi a única (...) que conseguiu sobreviver à crise econômica do final do século XIX e início do XX, estando em pleno funcionamento até os dias atuais. STROHAECKER, 2005. 300 299 234 Gomes301 possuía um programa bastante simples com “gabinete”, “sala de jantar”, dois quartos, cozinha e sanitário (figura 425). Porém, sua fachada principal teve cuidadoso detalhamento na representação das características do estilo californiano (figura 424). O início das atividades do Studio Monteiro Neto neste ano de 1943 pode estar relacionado com o encerramento de suas atividades com as várias construtoras as quais prestou serviço, já que sua própria empresa tinha sido criada no ano de 1931. Através desta construtora o arquiteto projetou e assinou como responsável pela execução de seus projetos, que em sua maioria eram de casas californianas. Para este tipo de construção - alvenaria com até dois pavimentos - não lhe era atribuída nenhuma restrição perante o CREA-RS, uma vez que sua licença permitia este tipo de atividade. Figura 424 Fachada da casa para a Cia. Predial e Agrícola. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.176 do microfilme nº 105. Figura 425 Planta baixa da casa para a Cia. Predial e Agrícola. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.176 do microfilme nº 105. 301 Processo 21.176, do microfilme nº 105, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 235 3.3.6. Residência Armando Giampaoli Depois de ter projetado um edifício para o Sr. Armando Giampaoli em 1941, já apresentado, Monteiro Neto projetou uma residência para este mesmo cliente. As duas edificações foram executadas pela empresa Spolidoro & Cia. no período em que o arquiteto chefiava a seção de arquitetura. Projetado no ano de 1943 o palacete Armando Giampaoli302 se encontra em excelente estado de conservação (figura 427), estando localizado na rua André Puente nº 375 (antiga rua Coronel Carvalho). Figura 426 Fachada principal da casa Armando Giampaoli. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.913 do microfilme nº 104. Tal palacete possui uma organização de planta bastante simples. Partindo de uma forma retangular, com exceção de um avanço na sala de jantar que acontece somente no pavimento térreo, Monteiro Neto organizou e distribuiu todos os ambientes numa volumetria de dois pavimentos, ambos seguindo uma ordenação a partir de um eixo central no sentido longitudinal. No pavimento térreo o pórtico de entrada já define o início do eixo de circulação que vai se desenvolver ao longo deste andar (figura 428). Fazem a frente da edificação um “gabinete” e uma “capela”, distribuídos nas laterais do corredor de entrada. Seguindo-o, a partir da porta principal, chega-se ao hall que dá acesso aos ambientes sociais, a escada para o segundo pavimento e uma porta de acesso secundário na lateral da edificação. O ambiente central é divido em sala de estar, de menores dimensões e com lareira, e ampla sala de jantar. Após esta área social se desenvolvem as dependências de serviço como copa, cozinha, um banheiro, despensa e o quarto da “creada”. Figura 427 Casa Armando Giampaoli. Foto de 2012. Fonte: Autor. 302 Processo 14.913, do microfilme nº 104, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 236 O segundo pavimento segue a mesma lógica que o térreo (figura 429), ou seja, o eixo longitudinal que inicia já no balcão sobre o pórtico de entrada demarca a faixa de circulação que liga todas as áreas privadas, terminando num terraço sobre a cozinha e quarto da “creada” do pavimento inferior. Este pavimento é composto por cinco quartos, sendo um destes agregado de um amplo vestiário, além de um banheiro para atender todo o andar. Figura 430 Fachada lateral da casa Armando Giampaoli. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.913 do microfilme nº 104. Figura 431 Corte longitudinal da casa Armando Giampaoli. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.913 do microfilme nº 104. Figuras 428 e 429 Planta baixa do térreo da casa Armando Giampaoli (esq.). Planta baixa do pav. superior da casa Armando Giampaoli (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.913 do microfilme nº 104. 237 Figura 432 Corte transversal da casa Armando Giampaoli. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.913 do microfilme nº 104. O que confere o destaque para esta edificação é a ornamentação e a sua coordenação. Diversos elementos clássicos compõem a volumetria de prisma puro, que é animado pelas projeções do telhado, pelo avanço da sala de estar e do pórtico de acesso, que dão tridimensionalidade à fachada. O pórtico de entrada já mostra a escolha de Monteiro Neto por elementos de uma arquitetura clássica, como a guarnição da entrada sustentada por dois pares de colunas esbeltas em ordem coríntia (figura 434). O balcão sobre este pórtico recebe acabamento de guarda-corpo com pináculos nas suas extremidades. A porta de acesso ao balcão tem umbrais rusticados e fechamento com arco abatido. As janelas do pavimento Figura 433 Detalhe das janelas do pav. superior da casa Armando Giampaoli. Fonte: Autor. térreo apresentam o desenho de bíforas florentinas, usadas em palácios do século XV. As janelas do pavimento superior seguem o mesmo alinhamento das janelas do térreo, possuindo também os mesmos elementos de acabamento, como pequenas colunas clássicas e arco pleno, porém sem a sobreposição do arco maior (figura 433). O revestimento em tijolo a vista já constava no projeto, sendo este ainda emoldurado por cantoneiras rusticadas nas extremidades da edificação (figura 426). As fachadas laterais recebem o mesmo acabamento e elementos de composição, porém as janelas se apresentam isoladas e algumas com verga em arco abatido (figura 430). Uma larga faixa demarca o fechamento superior que ainda recebe uma espécie de cornija nos beirais do telhado. Os principais projetos ecléticos de Monteiro Neto foram desenvolvidos no ano de 1933, porém a casa Armando Giampaoli, projetada dez anos depois, foi a que mais fielmente reproduziu as intenções de ornamentação previstas nos projetos originais. Figura 434 Detalhe do pórtico da casa Armando Giampaoli. Fonte: Autor. 238 3.3.7. Residência Harry Lubisco Um dos últimos projetos de Monteiro Neto junto a construtora Spolidoro & Cia. foi a casa para o Sr. Harry Lubisco303. Seguindo a demanda muito clara de casas californianas projetadas e construídas por esta empresa, a casa Harry Lubisco se apresentava como um típico exemplar desta arquitetura, destacando-se pela sua volumetria e organização espacial. A casa foi construída na rua Dário Pederneiras quase esquina com a rua Dr. João Dutra, no bairro Petrópolis, mas já foi demolida. Figura 436 Fachada de fundos da casa Harry Lubisco. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.239 do microfilme nº 104. Figura 437 Fachada lateral junto à garagem da casa Harry Lubisco. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.239 do microfilme nº 104. Figura 435 Fachada frontal da casa Harry Lubisco. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.239 do microfilme nº 104. 303 Processo 16.286, do microfilme nº 93, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 239 O projeto parte de um volume compacto, ou seja, um prisma retangular com dois pavimentos disposto paralelamente ao alinhamento do terreno, onde são incorporados um elemento cilíndrico, no formato de um torreão que abriga a escada (Figura 441), e atrás deste, um anexo que abriga a garagem coberta e o banheiro do segundo pavimento. O acesso é marcado por um arco bastante largo com uma cobertura que abriga o “pórtico”. Este pórtico de acesso também serve como um elemento de ligação entre o prisma retangular e o torreão (Figura 435). O volume da garagem é justaposto na parte posterior do torreão de forma que não é percebido na fachada frontal. Apesar da sua pouca largura, porém com um significativo afastamento da divisa lateral, este anexo confere, junto com o torreão e o pórtico, uma Figura 438 Planta baixa do pavimento térreo da casa Harry Lubisco. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.239 do microfilme nº 104. configuração pitoresca ao volume mais regular do restante da casa (Figura 436). No pavimento térreo, a organização espacial é bem definida entre os ambientes sociais e de serviço delimitados por duas faixas separadas por uma parede longitudinal (Figura 438). A partir da porta de entrada principal, um “hall” cria o ambiente de chegada que permite a entrada para o “living room” e também para a escada de acesso ao segundo pavimento. O living interliga-se com uma “sala de estar” que dispõe de uma grande lareira criando quase que um único e amplo espaço não fosse pelo pórtico na transposição dos espaços. A ligação desta área social se dá apenas por uma porta de acesso à “sala de almoço” que por sua vez se comunica com a “cozinha”. As dependências da “creada” estão vinculadas a zona de serviços, porém sem acesso interno, tendo esta que entrar na casa por porta externa na garagem ou na cozinha. Ainda no pavimento térreo aparece um pequeno “toilete”, com acesso por baixo da escada, que provavelmente atenderia ao uso dos visitantes. Figura 439 Planta baixa do segundo pavimento da casa Harry Lubisco. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.239 do microfilme nº 104. 240 O segundo pavimento também é demarcado por este eixo longitudinal (Figura 439). A partir desta divisão são distribuídos três dormitórios, todos voltados para a frente do terreno, tendo um deste um grande “vestiário” a ele incorporado. Uma “sala de estar” e uma “ante camara” permitem os acessos aos dormitórios, a um pequeno “terraço coberto” e a um amplo banheiro. A esquerda de quem ascende pela escada está o banheiro, com dimensões semelhantes a um dos dormitórios. Este banheiro atende todo o segundo pavimento e apresenta uma característica bastante peculiar que é a presença, além da banheira e demais peças convencionais, de dois boxes para chuveiro, permitido assim que mais de uma pessoa pudesse utilizar o banho ao mesmo tempo. Nesta edificação é perceptível a mudança de hábito em relação à garagem, que agora aparece incorporada ao corpo da casa (Figura 436). Em geral as casas anteriores não possuíam garagem ou estas se encontrava separadas da residência. Figura 440 Fachada lateral oposta ao anexo da garagem da casa Harry Lubisco. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.239 do microfilme nº 104. Figura 441 Corte longitudinal da casa Harry Lubisco. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 16.239 do microfilme nº 104. 241 3.3.8. Residência Ricardo Eichler O projeto para o Sr. Ricardo Eichler foi a primeira obra que além de ter sido projetada por Monteiro Neto também foi construída por sua empresa chamada Stúdio Monteiro Neto. Figura 442 Fachada lateral (oeste) da casa Ricardo Eichler. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.085 do microfilme nº 105. Localizada na avenida Beira Rio, nº 36, bairro Belém Novo, a casa ainda construída, ocupa um amplo terreno quase as margens do Guaíba (figura 443). A partir desta obra seguiriam-se outras, principalmente casas californianas, executadas por sua construtora, tendo algumas vezes a participação do engenheiro civil Oscar de Oliveira Ramos, até o encerrar de suas atividades em 1946. A partir desta última data, Monteiro Neto continuou seus trabalhos de construtor como profissional autônomo. Figura 443 Casa Ricardo Eichler. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figura 444 Fachada frontal (sul) da casa Ricardo Eichler. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.085 do microfilme nº 105. 242 A intervenção de Monteiro Neto é uma ampliação de uma residência, visto que as plantas arquivadas contém uma legenda distinguindo paredes existentes de outras propostas304 (figura 445). Partindo de um volume original mais simples, um prisma retangular de dois pavimentos com algumas saliências e reentrâncias, o arquiteto cria uma série de anexos com altura de apenas um pavimento. Sendo assim, a casa Ricardo Eichler pode ser considerada como uma edificação formada por uma variada associação de partes que criam uma estrutura bastante dispersa no terreno. Esta composição permitiu que o arquiteto trabalhasse um jogo de telhados diversificado, ora em duas águas, ora em quatro águas, ora transversalmente, ora longitudinalmente. O volume central pré-existente, a partir do pórtico de entrada, se apresentava perpendicularmente ao alinhamento do terreno e era formado por dois pavimentos. Anexos a este volume mais alto estavam, de um lado, um volume térreo formando com o primeiro uma implantação em “L” e de outro lado, um grande corredor estreito, também térreo, que dava acesso a um pequeno ambiente de serviço da mesma forma pré-existente (figura 445). O arquiteto utilizou-se desta sequência de volumes mais baixos para criar grandes varandas com uma série de arcos, muito característicos da arquitetura californiana, juntamente com a composição de telhados de baixa inclinação e pequeno beiral. As plantas, a partir da reforma, nos sugerem uma organização familiar que provavelmente privilegia os fundos do terreno visto a grande área de varandas cobertas para lá voltadas (figura 449). A organização interna do bloco existente é muito semelhante as demais casas da época com sala de estar, jantar, copa/cozinha e uma pequena sala de costura no térreo; três quartos, 304 Figura 445 Planta baixa do pavimento térreo da casa Ricardo Eichler. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.085 do microfilme nº 105. Figura 446 Fachada lateral (leste) da casa Ricardo Eichler. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.085 do microfilme nº 105. Processo 19.085, do microfilme nº 105, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 243 sendo um deles com vestiário, e um banheiro comum a todos no segundo pavimento (figura 447). Mais uma vez todos os quartos estão voltados para o hall da escada com acessos independentes e sem ligações diretas entre eles. As ampliações no térreo possibilitaram a criação de um grande hall fechado que faz a ligação deste pavimento com a escada para o segundo andar e ainda permite a passagem para o avarandado nos fundos da edificação. Estas áreas de varandas criaram espaços provavelmente de permanência nas horas de lazer como também área de circulação coberta para as dependências de serviço (ambientes da “creada” e lavanderia). Nesta casa, o terreno de dimensões mais amplas permite uma implantação mais pitoresca, Figura 447 Planta baixa do segundo pavimento da casa Ricardo Eichler. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.085 do microfilme nº 105. caracterizada por extensões centrífugas ao volume principal como uma sequência de avarandados e um espaçoso hall. Figura 448 Selo de identificação no projeto da casa Ricardo Eichler. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.085 do microfilme nº 105. Figura 449 Fachada dos fundos (norte) da casa Ricardo Eichler. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.085 do microfilme nº 105. 244 3.3.9. 1944 O ano de 1944 se caracterizou por ser um ano de uma produção de projetos bastante intensa. Neste ano todos os projetos do arquiteto tiveram a sua empresa, o Studio Monteiro Neto, como responsável pelas execuções das obras. O número de 10 obras executadas neste ano nos permite afirmar que 1944 foi o ano de maior participação de Monteiro Neto como construtor em Porto Alegre, seguido do ano de 1951 onde sua empresa executou apenas três obras. A primeira casa projetada neste ano foi para a Caixa Econômica Federal305. Esta casa compreende o mesmo programa típico das casas de padrão médio da cidade, ou seja, sala de jantar e estar, cozinha, copa e dependência de empregada no pavimento térreo, três dormitórios e sanitário, no pavimento superior, numa planta retangular que recebe apenas o anexo da garagem num volume mais baixo (figura 451). O ambiente destinado a “bar” foi o uso que até então não havia sido utilizado por Monteiro Neto e que diferencia o programa desta residência. Este bar tem ampla ligação com o “living room”, além de uma passagem para a copa e outra para um pequeno sanitário. O espaço a frente da escada serve com “hall”, ligando a copa e a cozinha com a sala de jantar. Além das características do telhado com baixa inclinação, pequenos beirais e o arco tradicionalmente utilizado no acesso principal, esta edificação também apresenta uma torre hexagonal sobre a escada interna (figura 450). Esta casa se localiza na rua Vitor Hugo, nº 250, entre as ruas Felipe de Oliveira e Ferreira Viana, no bairro Petrópolis. Figura 451 Plantas baixas da primeira casa da Caixa Econômica Federal. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 2.706 do microfilme nº 107. Figura 450 Fachada da primeira casa da Caixa Econômica Federal. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 2.706 do microfilme nº 107. 305 Processo 2.706, do microfilme nº 107, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 245 Entre este primeiro projeto para a Caixa Econômica Federal e outra casa para a mesma contratante, foi aprovado na Prefeitura o projeto para a reforma do Cine-Teatro Riviera, que devido ao seu uso e tipologia, será abordado no próximo subcapítulo. A segunda casa para a Caixa Econômica Federal306 se localizava na avenida Protásio Alves, entre as ruas Lagoinha e Maranguape, no bairro Petrópolis, mas já foi demolida. Para esta casa foi projetado, além do pavimento térreo ao nível da rua, mais um pavimento de subsolo, chamado de “porão”, em função do desnível do terreno (figura 453). O pavimento térreo se destinava aos ambientes sociais como “gabinete”, “living room”, “sala de almoço” e “cozinha”, além dos três dormitórios e um sanitário. No pavimento de subsolo ficava um dormitório para a empregada, a lavanderia e a garagem (figura 452). A linguagem arquitetônica entre as duas casas para a Caixa Econômica Federal é semelhante, porém com pequenas variações na hierarquia de alguns elementos da fachada. Figura 452 Plantas baixas da segunda casa da Caixa Econômica Federal. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 9.105 do microfilme nº 109. Figura 453 Fachadas da segunda casa da Caixa Econômica Federal. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 9.105 do microfilme nº 109. 306 Processo 9.105, do microfilme nº 109, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 246 Seguindo a ordem cronológica dos projetos arquivados, a próxima casa projetada por Monteiro Neto foi para o Sr. João Kalil Rechden307. Este projeto se difere dos demais deste ano, e também da tendência de casas californianas desta fase, por ser uma casa com características ecléticas. O projeto de uma residência de apenas um pavimento contempla um programa de três quartos, “gabinete”, “sala de estar”, “cozinha” e banheiro. Com simplicidade na organização espacial, o destaque foi direcionado para as fachadas, que tem como elemento marcante um largo friso sob uma cornija que proporciona acabamento ao beiral do telhado (figura 454). Esta casa, que ainda existe, se localiza na rua Filadélfia, no bairro São João. A casa projetada para o Sr. Áureo Abreu308 retoma o estilo californiano. Esta casa, ainda existente, está localizada na rua Castro Alves, entre as ruas Dr. Florência Ygartua e Mariante. A planta quadrada, e com dimensões mais modestas, dá forma aos dois pavimentos que compõem a edificação. Por se tratar de um terreno com pouca largura (10,70m), parte da casa ficou encostada na divisa tendo na outra extremidade um espaço para entrada de carros. Provavelmente devido a esta implantação o arquiteto tenha optado pelo telhado em duas águas no sentido longitudinal, aplicando a mesma direção no telhado sobre o pórtico de acesso (figura 455). Esta escolha não segue a maioria das fachadas até então projetadas por Monteiro Neto, onde o telhado em duas águas geralmente cobria o arco do pórtico, paralelamente a este. A utilização de elementos decorativos, como a pedra na base da edificação, continuava sendo uma característica frequente nos projetos californianos de Monteiro Neto. Figura 455 Fachada da casa Áureo Abreu. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.958 do microfilme nº 109. Figura 454 Fachada da casa João Kalil Rechden. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 9.479 do microfilme nº 109. 307 308 Processo 9.479, do microfilme nº 109, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Processo 10.958, do microfilme nº 109, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 247 Num formato semelhante ao das casas para a Caixa Federal, foi desenvolvido o projeto para o Sr. Américo Silva309. Nesta edificação de apenas um pavimento, com um programa semelhante as demais, o arco frontal aparece novamente como elemento mais avançado, coberto por um telhado em duas águas de baixa inclinação (figura 456). A casa Américo Silva ainda existe e se localiza na rua Auxiliadora ao lado do nº 161, no bairro Auxiliadora. Figura 456 Fachada da casa Américo Silva. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 13.692 do microfilme nº 110. Figuras 458 e 459 Fachada frontal da casa Ovídio Chaves (esq.). Fachada lateral da casa Ovídio Chaves (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.129 do microfilme nº 110. A casa projetada para o Sr. Ovídio Chaves310, que ainda encontra-se construída e em bom estado de conservação, se localiza na rua Mariante na esquina com a rua Castro Alves Figura 457 Casa Ovídio Chaves. Foto de 2011. Fonte: Autor. (figura 457). Esta casa também apresenta um programa residencial convencional destacando-se por elementos decorativos de sua fachada. Apesar da simplificação destes elementos na obra construída é possível observar o cuidado de Monteiro Neto na representação de um largo friso e cornija que, em projeto, davam acabamento para uma 309 310 Processo 13.692, do microfilme nº 110, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Processo 14.129, do microfilme nº 110, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 248 pequena platibanda que cobria parcialmente o telhado convencional (figura 458). As janelas em arco abatido, o telhado de telhas capa e canal e principalmente o muxarabis311 na fachada para a rua Castro Alves (representado em projeto, mas que atualmente não existe), classificam esta casa como uma obra em estilo neocolonial brasileiro (figura 459). Este projeto foi o último registro do neocolonial encontrado no acervo do arquiteto. Uma nova encomenda de casa eclética foi feita para Monteiro Neto pelo Sr. Annibal di Primio Beck312 neste mesmo ano. Podemos supor que a definição do estilo adotado para este cliente esteja ligado a localização desta residência, visto que ela foi projetada para a mesma rua de outra casa eclética, também projetada pelo arquiteto, a pouco citada: a casa João Kalil Rechden. A casa Annibal di Primio Beck, localizada na rua Filadélfia e ainda existente, possui apenas dois dormitórios um “living room”, uma cozinha e um banheiro. Sua fachada, bastante simples, é realçada por uma ampla cornija no beiral do telhado em quatro águas (figura 460). A rua Ferreira Viana quase esquina com a rua Farias Santos foi o endereço do projeto para duas casas idênticas, porém rebatidas, ambas para o Sr. Paulo Durant313 (já demolidas). Novamente apareceram casas a partir de uma planta quadrada com dois pavimentos, tendo as dependências de sala, gabinete, cozinha e refeitório no pavimento térreo, além de três quartos e sanitário no pavimento superior (figura 462 e 463). Mesmo com a qualidade do microfilme bastante prejudicada é possível observar elementos que são empregados constantemente nos projetos em estilo californiano de Monteiro Neto. Novamente o arco Figura 461 Fachada de uma das casas Paulo Durant. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 26.004 do microfilme nº 112. Figura 460 Fachada da casa Annibal di Primio Beck. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.157 do microfilme nº 110. 311 312 313 Sobre muxarabis, ver RODRIGUES, 1978. Processo 14.157, do microfilme nº 110, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Processo 26.004, do microfilme nº 112, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 249 marcava o acesso principal, tendo sobre ele um pequeno balcão para um dos dormitórios (figura 461). O cuidado com o alinhamento das janelas, mesmo de ambientes distintos, foi uma característica de seus projetos, que buscavam sempre eixos de referência. O telhado em duas águas, perpendicular ao alinhamento da rua, fazia com que o oitão característico deste estilo aparecesse de forma bastante evidente. O elemento que animava a fachada frontal era o pórtico levemente avançado que proporcionava um balcão no segundo pavimento. Figura 462 Planta baixa do pavimento térreo das casas Paulo Durant. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 26.004 do microfilme nº 112. Encerrando os projetos deste ano, Monteiro Neto elabora um projeto para o Cine Palace. Seguindo a demanda de grandes salões de projeção, o arquiteto projetou uma edificação de uso misto que será melhor analisada junto ao Cine-Teatro Riviera. Figura 463 Planta baixa do segundo pavimento das casas Paulo Durant. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 26.004 do microfilme nº 112. 250 3.3.10. Cine-Teatro Riviera (Cine Thalia) O cinema, exibido em grandes salas de rua para grandes públicos, por muitos anos foi uma das mais importantes formas de entretenimento da sociedade porto-alegrense. No ano de 1896, Porto Alegre recebe a primeira exibição de filmes, que até 1908 teria um caráter itinerante. Neste ano foi inaugurada a primeira sala fixa da cidade, o Recreio Ideal, localizado na Rua da Praia, junto à praça da Alfândega, com capacidade para 135 pessoas. Ao longo das décadas de 1910 e 1920, salas novas são abertas e suas localizações não se restringem mais ao centro. Mesmo assim, as principais salas de cinema ainda encontravamse na Rua da Praia, fato este que identificou a região central de Porto Alegre como sendo a “Cinelândia” gaúcha. Ao final dos anos 20, Porto alegre contava com mais de 30 salas, e o cinema havia se tornado a principal diversão das famílias da época, superando o teatro.314 Figura 464 Interior do Cine Apollo (1914). Fonte: www.carlossadig.com.br. Em grande ascensão, as salas de cinema eram construídas para acomodarem um número de espectadores cada vez maior. Nestes grandes salões os espectadores, além de assistirem ao filme, também tinham a pretensão de serem vistos como integrantes de uma sociedade elegante e moderna. O cinema Central (1921), por exemplo, com capacidade para 1.351 pessoas e localizado na Rua da Praia, era frequentado principalmente pelas elites da cidade e o público masculino só podia entrar de gravata.315 Na década de 40 a cidade já contava com 50 salas de cinema, sendo esta década considerada o apogeu do cinema em Porto Alegre. Nos anos 50 muitos bairros já contavam com salas de 314 315 Figura 465 Entrada da seção de filme no Cinema Central (1939). Fonte: http://ronaldofotografia.blogspot.com. ZANELLA, 2006, pg. 28. GOELLNER, 1999. 251 cinema, que eram em maior quantidade na Azenha, Cidade Baixa, Floresta, Passo da Areia, Bom Fim, Navegantes e São João.316 No final da década de 1930, Monteiro Neto havia trabalhado com este tipo de equipamento no Cine Vera Cruz, que mais tarde se chamaria Cine Victória317, o qual ocupava parte do pavimento térreo do Edifício Vera Cruz (figura 466). Desta forma, o arquiteto já dispunha da experiência que lhe proporcionaria executar mais duas obras para este fim: o Cine-Teatro Riviera (antigo Thalia) e o Cine Palace. O Cine-Teatro Riviera já funcionava desde o ano de 1917, na avenida Eduardo nº 1378, Figura 466 Entrada para uma das seções do Cine Victória. Fonte: arquivo da administração do Edifício Reunidos S.A. atual Presidente Franklin Roosevelt318, antes de sofrer importantes reformas conduzidas por João Antônio Monteiro Neto319 (figura 467). O projeto aprovado na Prefeitura Municipal data do ano de 1944320, provável ano da reabertura da sala para o público. Neste documento é possível observar que além da responsabilidade pelo projeto, Monteiro Neto, é responsável também pela construção (através do “Studio Monteiro Neto”). Em coautoria aparece o nome do engenheiro civil Oscar de Oliveira Ramos, registrado no CREA-RS sob o nº 61-D, uma vez que o arquiteto não tinha licença para projetar edifícios desse porte. 316 Figura 467 Cine Thalia antes das intervenções de Monteiro Neto (1932). Fonte: www.prati.com.br. GOELLNER, 1999. A mudança de nome de Cine Vera Cruz para Cine Victória ocorre em 1950, quando a sociedade administradora do edifício retoma, após longa ação judicial, a administração do imóvel. Fato relatado no histórico do Cine Victória elaborado pela atual administração do Edifício Reunidos S.A. e gentilmente cedido ao autor. 318 Dos bairros Navegantes e São Geraldo. Começa na Av. Sertório e termina da Av. Farrapos. FRANCO, 2006, pg. 330. 319 SILVEIRA NETO, 2001, pg. 195. 320 Processo 3.620, do microfilme nº 107, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 317 252 Seguindo a tendência de outras salas de cinema em Porto Alegre, as edificações eram quase sempre amplos salões que abrigavam um grande número de espectadores. No Cine-Teatro Riviera não seria diferente. A platéia, de grande capacidade, comportava 1188 pessoas, distribuídas em seis setores, enquanto que no pavimento superior, a galeria comportava 366 pessoas, totalizando 1554 poltronas. 321 Observando as diferenças nos elementos de fachada e a disposição da sala em planta, podese entender o fluxo e os encaminhamentos que o arquiteto propõe para este grande salão (figura 468). O acesso principal se dá por um átrio junto a rua, de dimensões pequenas se comparado ao tamanho da platéia. Essa desproporção era comum em salas de cinema da época, pois em geral, não havia grande acumulação na espera pela sessão. Numa sala lateral se localiza o salão de saída, momento de maior concentração de pessoas, que liga diretamente à rua sem passar pelo átrio. O acesso a galeria (ou mezanino) sé dá por uma escada na lateral oposta a esta entrada. A saída das seções é feita diretamente para a calçada por duas escadas com maior largura que dispersam o público da platéia e por outra escada que faz a ligação da galeria também diretamente com a rua. No corte longitudinal é possível observar que a edificação era composta por três volumes distintos, sendo o primeiro com dois pavimentos que abrigava o hall de entrada no térreo e parte do mezanino com a sala de projeção no segundo pavimento (figura 473). Segue-se o grande volume da sala de cinema, com amplo pé direito correspondente à platéia e ao mezanino, além de abrigar a tela de projeção, grande o suficiente para possibilitar visualização aos lugares mais distantes. A altura deste espaço corresponde aos dois pisos do Figura 469 Corte transversal com vista de fundos para frente do Cine Riviera. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.620 do microfilme nº 107. Figura 468 Plantas baixas do térreo e segundo pavimentos do Cine Riviera. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.620 do microfilme nº 107. 321 SILVEIRA NETO, 2001, pg. 195. 253 volume do átrio, mas as enormes tesouras da estrutura de cobertura para vencer o vão de aproximadamente 25 metros em sua maior largura praticamente duplicam sua altura. Um terceiro volume abrigava o palco e a tela de projeção, “que, se por um lado apresenta razoáveis dimensões em planta, em corte demonstra não oferecer altura suficiente para apresentações de grandes espetáculos teatrais e suspensões de cenários”322. De fato, tais salas não se destinavam ao teatro, mas a apresentações ocasionais de menor porte. Figura 470 Corte transversal com vista do palco no Cine Riviera. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.620 do microfilme nº 107. Figura 472 Fachada para a avenida Eduardo (atual Presidente Franklin Roosevelt) do Cine Riviera. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.620 do microfilme nº 107. Não foi possível avaliar o grau de intervenções propostas por Monteiro Neto no interior da edificação pela falta do projeto da construção da sala no ano de 1917, mas na comparação Figura 471 Fachada do Cine Riviera após as intervenções de Monteiro Neto. Fonte: SILVEIRA NETO, 2001, pg. 195. das duas fachadas, anterior a intervenção e após as reformas, nota-se um intento de modernização na fachada do edifício, que adquire uma imagem Art Déco (figura 472). A foto do edifício mostra a fachada alterada em relação ao projeto (figura 471). Segundo o desenho, os dois volumes são claramente dissociados. O salão de cinema tem sua fachada 322 SILVEIRA NETO, 2001, pg. 196. 254 subdividida em duas partes por uma marquise. Na faixa inferior estão as entradas do cinema e saídas do mezanino. A faixa superior é composta por um plano extenso pontuado por janelas redondas do tipo escotilha, tendo as duas terminações marcadas por ressaltos verticais com mastros. A projeção do volume da sala de cinema aparece ao fundo. Já o volume lateral se identifica como um pequeno edifício anexo, em estilo similar mas dissociado formalmente do outro. Em relação ao tipo de intervenção executada, nota-se que o corte fala do terreno da construção como "o local onde existiu o antigo cine-theatro Thalia", o que corresponderia a uma reformulação bastante ampla. Figura 474 Detalhe do volume de acesso do Cine Riviera. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.620 do microfilme nº 107. Figura 473 Corte longitudinal do Cine Riviera. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.620 do microfilme nº 107. No final da década de setenta, início da década de oitenta, o Cinema Tália começa a enfrentar crise de público, escasso para uma sala de grande capacidade, e já com trinta anos de uso, o que fez com que começasse a apresentar somente seções noturnas, até ser finalmente demolido em 1985 e transformado em estacionamento. 323 323 SILVEIRA NETO, 2001, pg. 198. Figura 475 Selo nos projetos arquivados do Cine Riviera. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.620 do microfilme nº 107. 255 3.3.11. Cine Palace (Marabá) O projeto para a construção do Cine Palace324, também conhecido como Cinema Marabá, foi aprovado no ano de 1944, mesmo ano de aprovação do Cine-Theatro Riviera. Em um curto período de tempo, Monteiro Neto esteve envolvido em dois projetos de grandes salas de cinema, que se somavam ao já citado Cine Vera Cruz, inaugurado em 1940. Este tema portanto, foi explorado pelo arquiteto ainda que não tivesse habilitação para tais construções de porte. O primeiro foi construído com o suporte da Construtora Azevedo Moura & Gertum, e os outros dois em parceria com o engenheiro civil Oscar de Oliveira Ramos. O Cine Palace foi construído no mesmo terreno do antigo Cinema Palácio, na rua Coronel Genuíno, quase esquina com a rua José do Patrocínio (figura 476). Sua inauguração, ou reinauguração, é anunciada no jornal Correio do Povo de 19 de março de 1947, com destaque para suas “1800 ótimas poltronas, visibilidade 100% perfeita, som: (RCA) alta fidelidade, projeção: ultra luminosa (idêntica aos grandes cinemas de S. Paulo e Rio)”325. Figura 476 Cinema Palácio (1928), anterior ao projeto de Monteiro Neto para o Cine Palace no mesmo lote. Fonte: www.cinemasportoalegre.blogspot.com.br. Neste cinema as intervenções foram mais incisivas que no Cine-Theatro Riviera. Com base na comparação da foto do antigo cinema com o novo edifício, deve ter havido demolição completa para a construção do novo Cine Palace. A principal mudança no programa foi a adição de apartamentos e uma loja junto a rua Coronel Genuíno, ficando o grande salão, que ocupava praticamente três quartos da área, para os fundos do terreno. Na fachada do bloco residencial a altura é de três pavimentos, tendo ainda o pavimento térreo altura equivalente a um pé-direito duplo (figura 478). 324 325 Processo 25.137, do microfilme nº 199, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Informe publicitário. Diário de Notícias. Porto Alegre, 19/03/47, pg. 09. 256 O conjunto comportava uma loja, oito apartamentos e a sala de cinema com balcão. O setor térreo do projeto junto ao passeio público apresentava-se assim em pilotis, como uma galeria coberta, por onde era possível acessar independentemente estas três atividades. O acesso ao cinema, na porção direita da fachada conduzia a uma sala de espera e de lá à platéia e ao balcão. A grande platéia, com aproximadamente 18 metros de largura por 55 metros de profundidade tinha capacidade para aproximadamente 1400 pessoas. O Palco, medindo 15 metros de largura por 10 metros de profundidade, paradoxalmente não apresenta espaços de serviço anexos, como camarins e acessos secundários. No pavimento superior, no corpo residencial do conjunto, foram previstos quatro apartamentos simétricos com sala, cozinha, banheiro e três dormitórios cada, totalizando oito economias nos dois níveis residenciais. Em seguida, no corpo da sala de cinema, observamos uma sala de espera superior, a cabine de projeção e o balcão para aproximadamente 400 pessoas, totalizando 1800 lugares. 326 Figura 478 Fachada do Cine Palace. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 25.137 do microfilme nº 199. Figura 477 Corte longitudinal do Cine Palace. Fonte: Arquivo público municipal de Porto Alegre. 326 SILVEIRA NETO, 2001, pg. 201. Figura 479 Fachada do cinema após a reforma. Fonte: SILVEIRA NETO, 2001, pg. 200. 257 Figura 480 Detalhe do acesso ao nível térreo do Cine Palace. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 25.137 do microfilme nº 199. Figura 482 Planta baixa do andar térreo do Cine Palace. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 25.137 do microfilme nº 199. Figura 483 Planta baixa do 1º andar do Cine Palace. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 25.137 do microfilme nº 199. Figura 481 Detalhe da planta dos apartamentos no 1º andar do Cine Palace. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 25.137 do microfilme nº 199. Da mesma forma que no Cine Riviera, o corte longitudinal nos permite identificar uma composição formada por três partes, num arranjo de maior complexidade (figura 477). O volume junto a rua abrigava o acesso ao cinema, um vestíbulo, o acesso aos apartamentos, sanitários, uma pequena loja no térreo e mais dois andares com quatro apartamentos de dois dormitórios cada. O bloco destinado ao salão de cinema ficava afastado do primeiro bloco de modo a permitir a ventilação dos dormitórios dos apartamentos voltados para os fundos 258 do terreno. Igualmente ao Cine Riviera, o terceiro volume se destina ao palco e a tela de projeção com pé-direito de aproximadamente 12 metros. Num terreno de meio de quadra com 12,40 metros de testada, 19,40 metros de fundos e uma profundidade de 99 metros, Monteiro Neto tinha uma situação muito mais limitada que no projeto anterior, onde a largura era de 25 metros. Ainda assim, organizou os usos da edificação criando áreas de iluminação e ventilação ao longo da distribuição linear destas atividades. Para os apartamentos foram criados duas destas áreas de ventilação, concentrando áreas de serviço ao centro e recuando-as das divisas (figuras 481 e 484). Salas e dormitórios, que exigiam mais área, foram dispostos em blocos estendidos até as divisas, deixando-os para a frente do terreno, para os fundos ou para os pátios de ventilação. Essa disposição era típica das plantas de apartamentos da época. Devido a pouca largura do terreno, a planta da sala de cinema se alonga para acomodar a capacidade desejada, possivelmente gerando dificuldades de visualização nas localizações mais posteriores. Contudo, a disposição é mais organizada que a do projeto anterior, incluindo a solução dos acessos ao mezanino por escadas embutidas nas laterais da sala. A presença da loja e do acesso central aos apartamentos fragmenta a entrada no térreo, dificultando sua legibilidade (figura 480). O projeto contava com algumas adições volumétricas no plano da fachada que reforçam o espelhamento. Além disto, este apresenta uma série de elementos de arquitetura comuns ao seu referencial tipológico, tais como as grandes marquises que protegiam o acesso principal composto por várias portas protetoras para suportar o grande fluxo de passagem nos horários de entrada e de saída das sessões. No cinema (...) o uso de aberturas redondas, janelas verticais e grandes vitrines no térreo e no segundo pavimento são características que determinavam funcionalmente a edificação e se contrapunham à tradicional escala das aberturas dos edifícios convencionais. As linhas horizontais marcavam a platibanda que escondia o telhado assim como a marquise do acesso. A estas, Figura 485 Detalhe do bloco de acesso e apartamentos do Cine Palace. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 25.137 do microfilme nº 199. Figura 484 Detalhe da planta dos apartamentos no 2º andar do Cine Palace. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 25.137 do microfilme nº 199. 259 contrapunham-se linhas verticais decorativas em relevo que se associavam aos demais elementos geométricos aplicados sob a sua fachada. 327 A fachada é um exercício Art Déco tal como a anterior. Pilares redondos definem um pórtico de acesso com dupla altura, sobre o qual há um "entablamento" contendo janelas-escotilha e o nome do cinema em letreiro de estilo (figura 478). Logo acima, surge a projeção do balcão dos apartamentos do segundo andar, que se estende por toda a largura da fachada. Acima desse balcão, a fachada se divide em cinco faixas verticais: ao centro, uma faixa integral de aberturas marca a circulação vertical; em seguida, as duas janelas do quarto maior; e, por fim, a janela única do quarto menor. No coroamento (platibanda), as cinco faixas são demarcadas por projeções decoradas ou mastros. Segundo Silveira Neto, o Cine Palace foi um dos mais populares cinemas da capital, com uma programação que atendia o público cinéfilo mais exigente e também apresentava filmes de segunda linha. Foi demolido na década de 70, período em que salas de cinema muito grandes estavam perdendo lugar para outras atividades de entretenimento328. Figura 486 Detalhe do afastamento do primeiro e segundo blocos do Cine Palace. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 25.137 do microfilme nº 199. 327 328 CALLEGARO, 2002, pg. 164. SILVEIRA NETO, 2001, pg. 203. 260 3.4. Quarta fase (1945-1956) A última fase de Monteiro Neto e com período mais longo, iniciou no ano de 1945 e foi até o ano de seu falecimento em 1956. O que caracteriza este período final na carreira do arquiteto é a frequência de obras modernas, poucos exemplares de casas californianas e o abandono definitivo do ecletismo. Do total de 24 projetos encontrados neste período, 18 foram classificados como obras modernas e seis apresentam o estilo californiano como predominante. As casas californianas foram projetadas em anos distintos: uma em 1946, uma em 1949, uma em 1950 e três em 1951. Porém, as obras modernas tem maior regularidade, aparecendo em todo o período, com exceção dos anos de 1946, 1948 e 1953. Em relação aos projetos modernos de Monteiro Neto, nota-se que a partir dos anos 1950 o arquiteto mostra alguma influência da escola carioca de arquitetura moderna. Esse fato ocorre no momento em que se consolida o ensino superior de arquitetura em Porto Alegre, iniciado com a criação do curso no Instituto de Belas Artes em 1944. A partir de então, professores alinhados com a vanguarda carioca liderada por Costa, Niemeyer e outros irá disseminar esse tipo de arquitetura na cidade. Isso não chegou a caracterizar uma quinta fase na obra de Monteiro Neto, visto que as características da escola carioca aparecem em poucas obras e de forma aleatória. Esta fase está diretamente ligada a entrada tardia destas referências ao trabalho de Le Corbusier no contexto gaúcho, que já vinha sendo explorado no Rio de Janeiro desde a década de 1930. Segundo Bueno: 261 Figura 488 Casa Josef Neumann. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.907 do microfilme nº 231. Figura 487 Casa Telmo Rovira Martins. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 4.838 do microfilme nº 209. Figura 489 Casa Corina Franco Garcia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.843 do microfilme nº 284. A capital gaúcha esteve à margem do desenvolvimento arquitetônico que ocorria no Rio de Janeiro durante as décadas de 1930/40. O debate ocorrido na Escola Nacional de Belas Artes proporcionou o nascimento de uma arquitetura que incorporava os preceitos das vanguardas europeias do início do século passado, mais especificamente o vocabulário corbusiano, à pressão nacionalista emulada tanto pela semana de arte moderna de 1922 quanto pelo governo do presidente Getúlio Varas. Isto fez da arquitetura moderna da “escola carioca”, como ficou conhecida, um movimento de maturidade peculiar, que respondia às expectativas de uma sociedade a caminho da modernização e ansiosa em se colocar de maneira proeminente no cenário internacional”.329 A partir dos anos 1950 diversas obras ligadas a escola carioca começam a aparecer na cidade de Porto Alegre, que segundo Luccas, ocorre principalmente pelas iniciativas de dois arquitetos recém formados no Rio de Janeiro: o gaúcho Edgar Graeff (1921-1990) e alagoano Carlos Alberto de Holanda Mendonça (1920-1956), que projetaram respectivamente a casa Edvaldo Paiva (1948) e a casa Casado d’Azevedo (1950), como exemplo330. Este novo repertório foi percebido por Monteiro Neto. Porém esta influência ocorreu já no período final de sua carreira, visto o seu falecimento aos 63 anos de idade no ano de 1956. Estas novas características podem ser percebidas em algumas obras como a casa Telmo Rovira Martins de 1951 (figura 487), a casa Josef Neumann de 1952 (figura 488) e a casa Corina Franco Garcia de 1954 (figura 489). Tratam-se de situações pontuais, pois o Figura 490 Ed. Victor Manoel Massulo. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 24.495 do microfilme nº 285. arquiteto ainda mantém as características Art Déco no seu vocabulário da fachadas, como no edifício Victor Manoel Massulo de 1954 (figura 490). 329 330 BUENO, 2012, pg. 43. LUCCAS, 2004, pg. 123. 262 3.4.1. 1945 No ano de 1945, Monteiro Neto provavelmente tenha se dedicado a um único empreendimento, já que apenas este foi encontrado no Arquivo Público. Esta edificação foi a primeira de grandes dimensões executada pelo Studio Monteiro Neto: o edifício Annibal di Primio Beck331. Trata-se de um conjunto residencial composto por três blocos de três pavimentos cada, que se encontra em boas condições de conservação. Este conjunto, que incluindo o pátio de garagens ocupa quase a totalidade de um quarteirão, está localizado entre as ruas São Pedro, Guido Mondim, Santos Dumont e avenida São Paulo, no bairro São Geraldo (figura 491). Apesar das poucas plantas encontradas no Arquivo Público é possível identificar que a área total deste conjunto é de aproximadamente 4.500m², dividido, como já foi citado, em três blocos de três pavimentos, tendo cada pavimento seis unidades residenciais com dois dormitórios cada. O tratamento das fachadas é de total simplificação, destacando-se apenas as sacadas em projeção e o emolduramento das janelas em cada pavimento (figura 492). Figura 491 Imagem aérea do ed. Annibal di Primio Beck. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 14.157 do microfilme nº 110. Figura 492 Ed. Annibal di Primio Beck. Foto de 2012. Fonte: Autor. 331 Processo 14.157, do microfilme nº 110, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 263 3.4.2. 1946 No ano de 1946, Monteiro Neto projeta uma pequena casa para o Sr. Otto L. Ely332. A planta pitoresca agrupava em apenas um pavimento, três quartos, duas salas, copa, cozinha e sanitário ao nível do acesso, tendo ainda como anexo o espaço da garagem num nível um pouco mais baixo (figura 494). Nesta edificação, o elemento de destaque era a torre sobre o Figura 493 Fachada frontal da casa Otto L. Ely. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.075 do microfilme nº 127. corredor interno que se apresentava em formato circular (figura 493). Fazendo companhia a este elemento de maior altura, estava a chaminé da lareira revestida em pedra. Como as demais casas californianas de Monteiro Neto, a base da edificação apresentava a pedra como evidência de solidez. Esta característica, que ficava bastante clara nesta casa, associada ao prolongamento As extremidades dos planos murais externos tem terminações curvas, como contrafortes (figura 495). Figura 494 Planta baixa da casa Otto L. Ely. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.075 do microfilme nº 127. Figura 495 Fachada lateral da casa Otto L. Ely. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.075 do microfilme nº 127. No ano de 1953 a casa Otto L. Ely foi objeto de uma grande reforma projetada por Monteiro Neto, ganhando mais altura e nova “roupagem”. O estilo californiano foi substituído por 332 Processo 21.075, do microfilme nº 127, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 264 uma arquitetura mais clássica, com pórtico jônico e cornija com dentículos (figura 496). Provavelmente, o proprietário percebeu o declínio do modismo californiano e o trocou por um classicismo de linhas sóbrias, onde se destaca o trabalho de serralheria artística em grades e guarda-corpos. Esta casa, que ainda existe, se localiza na avenida Cristóvão Colombo, quase esquina com a rua Maryland e atualmente tem uso comercial. Figura 496 Nova fachada da casa Otto L. Ely com características clássicas. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 38.117 do microfilme nº 268. 265 3.4.3. 1947 Muito próximo do conjunto residencial Annibal di Primio Beck, Monteiro Neto projeta e executa, através de sua construtora, toda a infraestrutura de edificações para a Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda.333. Este conjunto de edificações se Figura 497 Corte longitudinal do bloco do armazém da Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.902 do microfilme nº 136. localizava na avenida São Paulo, quase esquina com a rua Moura Azevedo, no bairro São Geraldo, mas já foi demolido (figura 500). Figura 498 Corte transversal do bloco do armazém da Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.902 do microfilme nº 136. Figura 499 Fachada para a avenida São Paulo (esq.) e fachada para a rua Moura Azevedo (dir.) do conjunto para a Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.902 do microfilme nº 136. Num amplo terreno localizado na avenida São Paulo, com mais uma frente para a rua Moura Azevedo, o arquiteto organizou o pavimento térreo do conjunto para atender as necessidades do controle de entrada e saída de cargas (para a rua Moura Azevedo), garagens para 333 Processo 10.902, do microfilme nº 136, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 266 caminhões (na parte do lote voltada para o interior da quadra) e grandes áreas de armazenagem (aproximadamente 27,00x30,00m), com pé-direito duplo, para a avenida São Paulo (figura 500). Figura 501 Planta de localização da Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.902 do microfilme nº 136. Figura 500 Planta baixa do pavimento térreo do conjunto para a Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.902 do microfilme nº 136. Na edificação localizada para a rua Moura Azevedo, o segundo pavimento compreendia dois apartamentos com dois dormitórios cada. Acima do grande armazém ficavam 10 apartamentos também de dois dormitórios cada (figura 505). O acesso à área residencial era 267 Figura 502 Corte longitudinal das garagens da Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.902 do microfilme nº 136. possível diretamente pela rua, a partir de um corredor que ligava com a escada, em ambas as edificações. Esta organização permite supor que os apartamentos eram ocupados por trabalhadores da empresa ou eram para a renda do proprietário. Figura 503 Corte longitudinal do bloco de controle de entrada e saída da Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.902 do microfilme nº 136. Figura 505 Planta baixa do segundo pavimento do edifício para a Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.902 do microfilme nº 136. Figura 504 Corte transversal do bloco de controle de entrada e saída da Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 10.902 do microfilme nº 136. Mesmo trabalhando com usos diferentes, o arquiteto propôs fachadas que buscavam uma ordenação nas aberturas e uma animação proporcionada por sacadas e paredes em projeção (figura 499). 268 Ainda no ano de 1947, Monteiro Neto projeta para o Instituto Santa Luzia, uma edificação de ensino para cegos e surdo-mudos (figura 506). Esta edificação não chegou a ser executada na sua totalidade e nem tão pouco utilizada para este fim. Ainda em obras, o empreendimento foi permutado com a instituição, pelo terreno onde a mesma se encontra atualmente, e o edifício foi cedido para a Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul. A edificação ainda existe e será abordada com mais detalhes no próximo subcapítulo. Figura 506 Palácio da Polícia. Foto de 2012. Fonte: Autor. 269 3.4.4. Instituto Santa Luzia O Instituto Santa Luzia é uma instituição administrada pela Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, inaugurado no ano de 1941, com o objetivo de atender na formação intelectual e profissional de cegos e surdos-mudos. Sua primeira sede foi na Avenida Independência nº 876, no bairro Bom Fim. “Esta única casa era insuficiente e o limitado espaço restringia a admissão de novos alunos cegos. Fez-se necessário a compra de um terreno e prédio vizinho, cuja posse foi efetuada em fevereiro de 1943. Em 1955, num Figura 507 Instituto Santa Luzia já na finalização das obras. Fonte: GONZALES; SESTI, 2006, pg. 84. terreno doado pela Prefeitura à Avenida Cavalhada, 3999, foi lançada a pedra fundamental do novo e grandioso edifício, para onde se mudou definitivamente o Instituto Santa Luzia, em 1959. Até anos anteriores, o Instituto Santa Luzia atendia alunos de visão normal no regime de externato e alunos deficientes visuais, em regime de internato, semi-internato e externato, provenientes do estado do Rio Grande do Sul e de outros estados do Brasil.”334 Fato não mencionado no histórico da instituição foi o projeto elaborado por Monteiro Neto de uma obra com mais de 20.000m² para abrigar as instalações da então Escola Profissional para Cegos e Surdos-Mudos em Porto Alegre do Instituto Santa Luzia335, no ano de 1947. O terreno situa-se nas esquinas das avenidas Ipiranga e João Pessoa, em zona de recente urbanização pela canalização do Arroio Dilúvio. Monteiro Neto assinou a autoria de tal projeto, conforme microfilmes no acervo do Arquivo Público, cuja construção acredita-se ser de Antônio Mascarello, com base identificação deste sobrenome nas pranchas do 334 335 Figura 508 Imagem panorâmica do Palácio da Polícia. Fonte: http://www.skyscrapercity.com. Dados retirados do histórico da instituição. Fonte: http://www.isl-rs.com.br Processo 21.293, do microfilme nº 139, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 270 projeto. Antônio Mascarello teve grande atuação na construção de diversas edificações de caráter religioso336 o que poderia reforçar tal hipótese. O Instituto não chegou a funcionar nesta edificação, mesmo sendo todo o projeto direcionado para servir a uma grande escola no sistema de internato. A Prefeitura Municipal, anos depois do projeto aprovado e já com as obras em andamento, faria a permuta por outro terreno para a instituição no bairro Cavalhada, já mencionado. Segundo Sônia Gonzaga e Beatriz Sesti, as obras desta edificação foram ultimadas no ano de 1961337 e já no ano de 1962 “ali funcionava a Escola de Polícia e o Departamento de Trânsito, tendo a Polícia Civil, paulatinamente, transferindo-se para o novo prédio, onde todos os seus Departamentos tiveram instalações adequadas e que serviu, também, de sede para a então Secretaria de Segurança Pública”338. Em função da mudança de uso, várias alterações no projeto aprovado acabaram modificando parcialmente a concepção de Monteiro Neto. A história da edificação por si só mereceria um trabalho específico, mas esta dissertação se limitará a estudar o projeto no contexto da obra de Monteiro Neto. A obra concluída segue rigorosamente a implantação proposta por Monteiro Neto, porém a primeira alteração perceptível é que nem toda a área projetada foi construída (figura 512). Filho de Domingos Mascarello, tornou-se um importante construtor de Porto Alegre a partir da década de 1930 e o auge de sua carreira está situado no fim da Segunda Guerra Mundial. Realizou importantes construções na cidade, muitas ligadas a entidades de caráter religioso (Igreja Nossa Senhora de Czestochowa, Ginásio Sevigné, Círculos Operários, Igreja Nossa Senhora de Lourdes, Hospital Santo Antônio, parte do Hospital São Francisco, Capela do Colégio Americano, Igreja do Sagrado Coração de Jesus). WEIMER, 2004, pg. 116. 337 Quatorze anos após a aprovação do projeto e cinco anos após o falecimento de Monteiro Neto. 338 GONZALES; SESTI, 2006, pg. 27 e 28. 336 Figura 509 Palácio da Polícia visto da esquina da av. João Pessoa com a rua Prof. Freitas e Castro. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figura 510 Palácio da Polícia visto da esquina da av. João Pessoa com a av. Ipiranga. Foto de 2012. Fonte: Autor. 271 Aproximadamente a metade do projeto original foi executado. A área destinada para o Instituto Santa Luzia ocupava a totalidade do quarteirão formado pelas ruas do Riacho (atual avenida Ipiranga), Oriente (atual Delegado Grant), Cabo Rocha (atual Professor Freitas e Castro) e avenida João Pessoa (figura 511). Figura 511 Dimensões do terreno no projeto para o Instituto Santa Luzia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.293 do microfilme nº 139. Figura 512 Imagem aérea do quarteirão do Palácio da Polícia. Fonte: Google Earth. O projeto aprovado (figuras 519, 522, 523 e 526) se configura pela ocupação dos alinhamentos de três faces do quarteirão por três longas barras. A face menor (Av. João 272 Pessoa), onde se localiza a entrada do conjunto, tem três pavimentos e um perfil mais movimentado, pois os planos se projetam enfatizando a entrada principal ao centro. Essa ala contém dependências de recepção, inclusive um salão de exposições que se projeta para dentro do pátio. Seguem-se dois blocos longitudinais de quatro pavimentos no alinhamento das ruas Cabo Rocha (Prof. Freitas e Castro) e do Riacho (Ipiranga) a partir do primeiro bloco mais baixo. No interior, são dispostas três barras transversais ligando as duas alas laterais. As ligações são feitas por galerias cobertas junto às fachadas dos edifícios. No térreo, esta organização é mais confusa em função de anexos que fazem dos pátios áreas residuais. A obra concluída apresenta apenas a ala frontal, metade do comprimento previsto para os dois blocos alinhados com as ruas Cabo Rocha e do Riacho e um único bloco perpendicular que faz a ligação entre estes blocos. As dimensões do que foi executado estão de acordo com o projeto de Monteiro Neto, salvo algumas modificações de planta e fachada que serão abordadas na sequência. Atualmente todas as dependências desta edificação estão destinadas ao uso da Polícia Civil, distribuídas em vários departamentos e delegacias, não havendo mais a relação direta de ambientes internos projetados com estes ambientes internos de ocupação atual visto a diversas alterações de planta. No bloco de acesso principal, inicialmente previsto com apenas três pavimentos, ficava o pórtico de entrada, com altura equivalente a dois pavimentos (figura 513). A partir deste pórtico se tinha acesso ao “saguão” que distribuía para um lado aos ambientes de “farmácia” e “expediente”, para outro ao “salão de honra” e posteriormente à escadaria deste grande saguão, a um “salão para exposições de trabalhos”. O segundo pavimento deste bloco era destinado a biblioteca, salas de reuniões e salas de leitura, além da nave principal de uma 273 Figura 513 Pavimento térreo do bloco de acesso principal do Instituto Santa Luzia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.293 do microfilme nº 139. capela com capacidade para 500 lugares. Esta capela tinha pé-direito duplo e se projetava sobre o salão de exposições do térreo e seus acessos eram feitos lateralmente à nave. Para o terceiro pavimento deste bloco estavam destinadas diversas enfermarias, uma segunda biblioteca, um gabinete e o acesso ao “coro” da capela. Como cobertura foram projetado um telhado convencional para a capela sendo as duas alas laterais cobertas por terraços que faziam a ligação com os demais blocos da edificação (figura 515). A edificação construída apresenta um pavimento a mais nas alas laterais e dois pavimentos a mais no eixo da capela. Todo este bloco foi coberto com telhado convencional perdendo os grandes terraços de circulação. Figura 514 Acesso principal do Palácio da Polícia. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figura 515 Fachada da avenida João Pessoa do Instituto Santa Luzia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.293 do microfilme nº 139. 274 O acréscimo de pavimentos não foi a mudança mais significativa e sim a simplificação da fachada proposta por Monteiro Neto (figura 514). O prédio que nos é apresentado atualmente sofreu uma alteração radical de sua fachada principal em relação ao previsto no projeto original. Sem a prévia análise dos desenhos originais, poderia se dizer que a edificação teria sido projetada por Monteiro Neto dentro do seu discurso por uma arquitetura moderna de simplificação dos planos de fachada e da eliminação da ornamentação. Contudo, os originais nos mostram uma fachada Art Déco ornamentada por pilastras, marcações de frisos e cornijamentos, mastros, torres, arcadas e áticos com inscrições de motivos estilísticos como colunas gregas, arcadas, rusticação, frisos e cornijas (figura 515). A composição geral é simétrica, com o volume de entrada destacado, alas laterais em duas partes iguais defasadas e terminação por dois pavilhões levemente mais baixos que o volume de acesso. A composição externa perdeu muito com a simplificação efetuada no edifício construído, não só pela falta de identidade, mas também pela redundância na organização volumétrica. O pavimento térreo possuía uma organização espacial bastante clara (figura 519). No bloco alinhado com a Rua do Riacho, correspondendo hoje ao que está construído, ficavam as áreas de ambulatório, diversos consultórios e a enfermaria. Na área que não foi executada, ou seja, a segunda metade desta ala, ficavam os sanitários masculinos que comportavam um número bastante grande de boxes. Ao final, como se fosse uma extensão desta ala, porém com altura de dois pavimentos, configurando a esquina da rua Do Riacho com a rua Oriente, ficava a lavanderia. Esta fazia fundos para uma área aberta destinada as atividades esportivas. O bloco alinhado com a rua Cabo Rocha destinava-se à diversas oficinas profissionalizantes, como fábrica de vassouras, fábrica de móveis de vime, sapataria, carpintaria, empalhação, alfaiataria e oficina mecânica. A segunda metade desta ala, 275 Figura 517 Corte transversal do bloco de acesso principal do Instituto Santa Luzia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.293 do microfilme nº 139. Figura 516 Corte longitudinal do bloco de acesso principal do Instituto Santa Luzia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.293 do microfilme nº 139. correspondente também ao que não foi executado, era destinada aos sanitários femininos, equivalentes em tamanho aos masculinos. Dois dos blocos transversais a estas duas alas já mencionadas destinavam-se aos refeitórios. O primeiro refeitório atendia aos funcionários e o segundo atendia aos alunos da instituição. Figura 518 Detalhe do corte longitudinal na capela. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.293 do microfilme nº 139. Figura 519 Planta baixa do pavimento térreo do Instituto Santa Luzia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.293 do microfilme nº 139. Para suprir a necessidade de espaço, a fim de acomodar um grande número de alunos, o segundo bloco, que era ocupado na totalidade do térreo para este fim, recebeu um anexo de apenas um pavimento formando com este um “T”. Este refeitório de alunos estava dividido por um corredor de circulação interno que separava uma área de mesas para alunos cegos e outra área para alunos surdos-mudos. A cozinha estava disposta no meio destes dois blocos 276 transversais podendo assim atender ambos os refeitórios. Completava o pavimento térreo o último bloco transversal que era destinado a garagens, tipografia e a materiais de expediente. Outra mudança significativa em relação ao projeto original foi o sistema de circulação entre os blocos. O projeto de Monteiro Neto previa uma circulação por meio de passarelas cobertas que se estendiam por todos os blocos e estavam voltadas para o pátio interno. Este sistema de circulação interligava, de forma pouco ordenada, todos os ambientes do conjunto além de proporcionar ventilação para as salas que viessem a ficar voltadas para o pátio. Na edificação construída esta articulação de passarelas foi volumetrizada e separou ainda mais os pátios (figuras 520 e 521). O segundo pavimento destinava-se, quase na totalidade, à salas de aula com capacidade para 18 alunos cada (figura 522). Estas salas estavam distribuídas tanto nos blocos longitudinais quanto nos transversais. Também estavam neste pavimento um anfiteatro e laboratório de química, no bloco alinhado com a rua Cabo Rocha; uma sala para aulas de Braille, sobre a cozinha; uma ala destinada a crianças com refeitório próprio, sanitários e dormitórios, sobre o bloco transversal das garagens; e os dormitórios das empregadas sobre a lavanderia. Novamente a circulação era feita por corredores abertos na periferia dos blocos e voltados para o pátio, porém esta articulação não foi executada como no projeto, fato já citado. Um grande terraço que cobria o anexo do refeitório dos alunos complementava este pavimento. Figura 520 Pátio interno tendo os corredores abertos de articulação entre os blocos incorporados a volumetria da edificação no atual Palácio da Polícia. Foto de 2012. Fonte: Autor. 277 Figura 522 Planta baixa do segundo pavimento do Instituto Santa Luzia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.293 do microfilme nº 139. Figura 521 Passarelas de circulação abertas no projeto original que foram fechadas na obra de fato construída no atual Palácio da Polícia. Foto de 2012. Fonte: Autor. O terceiro e quarto pavimentos eram destinados aos dormitórios dos alunos e das irmãs. O terceiro pavimento abrigava os dormitórios coletivos das meninas, separados apenas em meninas cegas e meninas surdas-mudas, três conjuntos de sanitários e ainda alguns dormitórios duplos, para as irmãs, próximos as escadas (figura 523). O quarto pavimento tinha a mesma organização espacial, diferente apenas por ter um número de dormitórios um pouco menor que o das meninas criando nestes vazios alguns locais chamados de “solários”, ou seja, lajes de cobertura com acesso pela articulação de corredores que provavelmente eram destinados ao lazer (figura 526). 278 Figura 523 Planta baixa do terceiro pavimento do Instituto Santa Luzia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.293 do microfilme nº 139. A circulação vertical se dava por meio de um elevador junto do pórtico de entrada no bloco de acesso principal. Apesar da planta prever espaço para dois, apenas um estava representado no projeto original. Havia também a ampla escada no saguão e outras escadas dispostas ao longo dos dois blocos longitudinais alinhados com as ruas do Riacho e Cabo Rocha. Estas escadas, em número de três em cada bloco, ficavam estrategicamente localizadas em frente aos corredores que ligavam com os blocos perpendiculares, o que Figura 524 Passagem entre o bloco em “T” (fundos da capela) e o primeiro bloco transversal no atual Palácio da Polícia. Foto de 2012. Fonte: Autor. 279 facilitava o percurso. As mesmas eram facilmente identificadas nas fachadas externas, pois possuíam um fechamento com esquadrias estreitas organizadas verticalmente (figura 513). Figura 525 Fachada externa para a rua Prof. Freitas e Castro (Cabo Rocha). Foto de 2012. Fonte: Autor. Figura 526 Planta baixa do quarto pavimento do Instituto Santa Luzia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.293 do microfilme nº 139. Da mesma forma que todo o restante da edificação, as fachadas externas também foram simplificadas, porém estas alterações não foram tão significativas, pois as mesmas já apresentavam certa modulação e redução nos adornos (figuras 527 e 528). 280 Figura 527 Fachada da rua Do Riacho (atual avenida Ipiranga) do Instituto Santa Luzia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.293 do microfilme nº 139. Figura 528 Fachada da rua Cabo Rocha (atual Professor Freitas e Castro) do Instituto Santa Luzia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.293 do microfilme nº 139. Figura 529 Vista atual da esquina da av. Ipiranga (Do Riacho) com a av. João Pessoa. Foto de 2012. Fonte: Autor. Tendo em vista que a pedra fundamental da obra foi lançada em 1955 e Monteiro Neto veio a falecer no ano seguinte, as alterações realizadas no projeto podem ser creditadas a sua ausência durante a execução. De todo modo, a fachada da ala principal e seus espaços internos são consistentes com a obra do arquiteto até então, incluindo sua capacidade de abordar diferentes linguagens arquitetônicas. 281 3.4.5. 1949 No ano de 1948 não foi encontrado nenhum projeto de Monteiro Neto aprovado na Prefeitura de Porto Alegre. Para o Sr. Darcy Farias Lima339, Monteiro Neto projetou uma pequena casa de um pavimento, de aproximadamente 130,00m², com dois dormitórios, gabinete, sala, copa e cozinha, despensa e sanitário (figura 531). A planta retangular não se destaca dentre os demais projetos elaborados por este arquiteto e a fachada segue as características já Figura 530 Fachada da casa Darcy Farias Lima. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 22.155 do microfilme nº 166. utilizadas por ele, ou seja, telhado frontal em duas águas, com uma das extremidades mais baixa (geralmente sobre o arco de acesso principal) e pouca inclinação, além da utilização de pedras decorativas na base da casa (figura 530). Esta casa se localizava na travessa Marechal Bormann, no bairro Teresópolis, porém já foi demolida. A execução desta obra já foi assinada por Monteiro Neto utilizando seu próprio nome, uma vez que ele pediu a baixa de sua empresa no ano anterior340. Neste ano, Monteiro Neto projetou mais um conjunto residencial, agora na esquina da rua Padre Caldas com a rua Fátima, no bairro Partenon, para S. Princy e Cia.341. Este conjunto, ainda existente, é dividido em duas edificações isoladas no mesmo lote (figura 532). A edificação mais próxima da esquina é formada por dois pavimentos e abriga duas unidades com dois dormitórios em cada andar. A planta do segundo pavimento tem a mesma organização do térreo, exceto pelo avanço de um dos dormitórios e do sanitário, de cada um 339 340 341 Figura 531 Planta baixa da casa Darcy Farias Lima. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 22.155 do microfilme nº 166. Processo 22.155, do microfilme nº 166, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Ver pg. 51. Processo 38.864, do microfilme nº 173, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 282 dos apartamentos, que anima a fachada juntamente com o balcão do “living room”. A circulação vertical acontece no centro da edificação proporcionando plantas rebatidas. Figura 533 Fachada do bloco de quatro unid. para S. Princy e Cia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 38.864 do microfilme nº 173. Figura 532 Plantas baixas do conjunto residencial para S. Princy e Cia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 38.864 do microfilme nº 173. A edificação na sequência do lote foi organizada para atender apenas duas unidades residenciais, também rebatidas a partir do centro, com dois pavimentos cada. Neste bloco as áreas sociais estão no pavimento térreo e os dois dormitórios de cada unidade, juntamente com o sanitário e um vestíbulo estão no segundo pavimento. A peculiaridade deste projeto é o tratamento diferenciado das fachadas em cada bloco. A edificação com quatro apartamentos recebeu um tratamento moderno, ainda carregada de elementos Art Déco, como frisos e rusticação (figuras 533 e 535), e a segunda foi tratada com características californianas (figuras 534 e 535). Figura 534 Fachada do bloco de duas unid. para S. Princy e Cia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 38.864 do microfilme nº 173. 283 Figura 535 Fachada lateral do bloco de quatro unidades (esq.) e do bloco de duas unid. (dir.) para S. Princy e Cia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 38.864 do microfilme nº 173. 3.4.6. 1950 No ano de 1950, outros projetos de edificações residenciais foram elaborados por Monteiro Neto, sendo eles o edifício Irmãos Knijinik e o edifício Prync, Salgado e Cia. Outras duas casas, uma para Adoaldo Green e outra para Benjamim Simões, também foram projetadas neste ano, com também uma reforma e ampliação de uma sinagoga para o Centro Israelita Portoalegrense. Este último será analisado separadamente devido as suas especificidades. Figura 536 Fachada frontal da casa Benjamim Simões. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.495 do microfilme nº 179. Para o Sr. Benjamim Simões342, Monteiro Neto projetou uma casa de dois pavimentos sem a utilização de um estilo definido (figuras 536 e 537). Esta casa foi classificada como uma obra moderna em função da sua simplificação nas fachadas e pelo uso de colunas no térreo que remetem a uma base sobre pilotis (figuras 538 e 539). O projeto localiza esta edificação na rua Júlio de Castilhos, porém ela não foi encontrada durante as pesquisas. Figura 537 Fachada lateral da casa Benjamim Simões. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.495 do microfilme nº 179. Figuras 538 e 539 Planta baixa do pavimento térreo da casa Benjamim Simões (esq.). Planta baixa do segundo pavimento da casa Benjamim Simões (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 11.495 do microfilme nº 179 342 Processo 11.495, do microfilme nº 179, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 284 Figura 540 Fachada da casa Adoaldo Green. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 25.935 do microfilme nº 186. Com a possibilidade de projetar num terreno de maior largura, Monteiro Neto valorizou, na fachada principal, uma sequência de arcos que criaram uma grande varanda frontal para a casa Adoaldo Green343 (figura 540). Em planta, a distribuição interna segue três faixas longitudinais que praticamente acompanham a subdivisão da fachada (figura 541). O setor com os três dormitórios corresponde ao lado esquerdo da fachada, único com telhado em duas águas alinhadas com a rua. Os dois primeiros arcos da esquerda para a direita correspondem aproximadamente a largura da sala de estar, uma circulação, sanitário e cozinha. O terceiro arco corresponde ao setor longitudinal que abriga o gabinete, refeitório e solário, ficando o último arco para uma passagem de automóvel. Esta casa apresenta uma fachada algo pitoresca, com associação de elementos distintos: a varanda em arcada, a projeção com telhado de duas águas, o pequeno portão lateral recuado e o volume propriamente dito, marcado pela cumeeira. A fachada é tipicamente californiana com sua 343 Figura 541 Planta baixa da casa Adoaldo Green. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 25.935 do microfilme nº 186. Figura 542 Corte longitudinal da casa Adoaldo Green. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 25.935 do microfilme nº 186. Processo 25.935, do microfilme nº 186, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 285 base de pedra, paredes em reboco rústico e telhas coloniais. Esta edificação foi construída por Miguel Zambrano e ainda encontra-se de pé. Está localizada na rua Engenheiro Ludolfo Bohel, nº 482, bairro Teresópolis. O edifício Irmãos Knijinik344, executado pelo mesmo construtor do Centro Israelita Portoalegrense, num lote vizinho a este, na esquina da rua Henrique Dias com a General João Telles, é composto por dois blocos que se unem pelo acesso em comum voltado para a rua General João Telles. Estes mesmos blocos se afastam para os fundos acompanhando os alinhamentos laterais do lote (figura 543). A edificação, que ainda existe, abriga em cada bloco apenas uma ampla unidade residencial de três dormitórios por andar, num total de três andares (figura 544). Figura 543 Planta baixa do térreo do ed. Irmãos Knijinik. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 39.971 do microfilme nº 193. O edifício Prync, Salgado e Cia.345 se localiza na avenida Azenha próximo da esquina com a avenida Ipiranga. A fachada encontra-se já bem desfigurada da proposta original do arquiteto (figura 546). Devido ao lote bastante estreito e com grande profundidade, Monteiro Neto propôs uma circulação central com apartamentos de um e dois dormitórios distribuídos nas laterais (figura 545). Estes apartamentos foram organizados no sentido longitudinal do terreno visto que a largura máxima que coube a cada um destes não foi superior a 4,50 metros. Uma grande escada localizada após as duas primeiras unidades de dois dormitórios atende a circulação vertical dos três pavimentos. Figura 544 Fachada para a rua General João Telles do ed. Irmãos Knijinik. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 39.971 do microfilme nº 193. 344 345 Processo 39.971, do microfilme nº 193, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Processo 6.005, do microfilme nº 205, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 286 Figura 545 Planta baixa do térreo do ed. Prync, Salgado e Cia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 6.005 do microfilme nº 205. Figura 546 Fachada do ed. Prync, Salgado e Cia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 6.005 do microfilme nº 205. 287 3.4.7. Centro Israelita Portoalegrense No ano de 1950 Monteiro Neto aprova na Prefeitura de Porto Alegre uma reforma e ampliação, na rua Henrique Dias nº 73, para o Centro Israelita Porto-alegrense346. A partir de uma edificação pré-existente com três pavimentos e aproximadamente 600m², a obra consistiria na adaptação para atender uma maior capacidade no uso de sinagoga347. A área de construção obtida com estas intervenções chegou a aproximadamente 1.800m². Segundo Bliacheris, a edificação já existente no local abrigava uma sinagoga e salas de aula Figura 547 Centro Israelita Portoalegrense. Foto de 2012. Fonte: Autor. para a comunidade Israelita numa localização privilegiada no centro do bairro Bonfim, onde morava a maioria dos judeus naquela época (figura 547). Devido as instalações tornarem-se pequenas em função do crescimento da coletividade “a Diretoria lança-se ao empreendimento de construir a nova sede, no mesmo local”348. No dia 4 de junho de 1950 realiza-se a cerimônia de lançamento da pedra fundamental. Em tempo recorde, menos de um ano, no dia 23 de setembro de 1951, foi inaugurada a nova e imponente sede, que é a atual, e já em condições de receber o quadro social para grandes dias festivos daquele ano. (...) A Sinagoga tem capacidade de abrigar 750 pessoas sentadas, sendo que nos dias de Rosh Hashaná e Yom Kipur (Ano Novo e Dia do Perdão) chega a receber aproximadamente 1500 pessoas. Devido a falta de capacidade de absorção, as mesmas ficam no pátio frontal da instituição e na calçada. Figura 548 Esquema da implantação nos projetos do Centro Israelita Portoalegrense. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.418 do microfilme nº 183. 346 347 Processo 19.418, do microfilme nº 183, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Sinagoga (...) é o local de culto da religião judaica, possui como o seu objeto central a Arca da Torá. O serviço religioso da sinagoga, quando se forma um quórum, é feito todos os dias, sendo que alguns envolvem leituras da Torá, cujos rolos são retirados da Arca (heikhal) e transportados até o púlpito (Tebá). Fonte: www.wikipedia.org. 348 BLIACHERIS, 1999. 288 Desde os atentados da Embaixada de Israel e da Amia, na Argentina, a comunidade tomou precauções quanto a segurança. Vê-se na calçada grandes floreiras que tem a função de absorver impacto no caso de um carro bomba. 349 A intervenção de Monteiro Neto destaca-se visivelmente tanto pelo volume recuado com esquadrias quadradas, que é anexado lateralmente ao volume da edificação anterior. O recuo do anexo se deve aos condicionantes urbanísticos de recuo obrigatório do alinhamento do terreno (figura 548). No intuito de atender as novas necessidades do local, a edificação existente que atendia a uma pequena sinagoga e salas de aula teve suas compartimentações internas totalmente removidas, ficando apenas suas paredes externas. Monteiro Neto desmancha uma das paredes laterais do antigo edifício e cria um grande salão de planta retangular (c. 20 x 17 m), abrigando espaços serventes nas projeções das duas extremidades, numa solução funcionalmente eficiente. Se desconhece a compartimentação anterior da antiga edificação. A ampliação mais que duplicou a área de cada pavimento. O espaço central compreende salão de festas no térreo e a sinagoga com mezanino acima. Os volumes que se destacam desse espaço quadrado, sejam partes do edifício pré-existente ou construção nova, recebem funções auxiliares, como vestíbulos, circulações verticais, salas de serviço, administrativas ou mesmo funções religiosas ligadas ao culto israelita. O pavimento térreo foi destinado a um grande salão de festas, com seus ambientes de apoio e algumas salas administrativas (figura 549). Para estruturar este espaço e os superiores, são dispostas duas linhas de três colunas, distanciadas cerca de três metros das paredes. Desse modo, é gerado um vão central livre de 11 metros. Na fachada frontal, a volumetria da 349 Figura 549 Planta baixa do pavimento térreo do Centro Israelita Portoalegrense. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.418 do microfilme nº 183. BLIACHERIS, 1999. 289 edificação pré-existente deu lugar a uma “sala de orações” e a nova volumetria proposta por Monteiro Neto abriga um amplo “vestíbulo” com a escada que faz a ligação vertical entre os três pavimentos. Para atender ao uso do salão de festas, foram colocados nos fundos da edificação dois sanitários, um pequeno “bar” com apoio de “copa” e “cozinha”, além de duas salas para escritórios. O segundo e terceiro pavimentos foram destinados as instalações do salão de culto da sinagoga. Para atender este programa, Monteiro Neto teve que se aprofundar no tema devido aos condicionantes religiosos que deveriam ser respeitados neste tipo de edificação350. O segundo pavimento, destinado aos homens, foi projetado para abrigar a “nave do templo”, correspondente ao salão de festas do pavimento térreo (figura 550). O acesso pela escadaria também liga a “biblioteca” (sobre a sala de oração). Nesta nave do templo ficam o “relicário”, onde se armazena a “torá”; uma tribuna, mais alta que o nível do pavimento; e cadeiras distribuídas em grande número de frente para esta tribuna, mas também nas laterais. Conforme o projeto, este local teria acomodações para 450 pessoas sentadas. Complementa este andar um amplo “terraço dos homens” sobre as dependências de Figura 550 Planta baixa do segundo pavimento do Centro Israelita Portoalegrense. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.418 do microfilme nº 183. escritório e bar do pavimento térreo, assim como um sanitário masculino. Uma escada 350 Todas as sinagogas possuem um tebá, uma mesa central de onde a Torá é lida e orações são proferidas. Oposto a ela encontra-se a arca dos rolos da Torá, chamado em hebraico de heikhal, posicionada para o Monte do Templo em Jerusalém. Muitas sinagogas mantém uma lâmpada (ner tamid) acesa continuamente, além de menorás. Embora as sinagogas possam ser decoradas, retratos tridimensionais são vistos como violação da Torá. Os assentos são geralmente arranjados ao redor da tebá e da arca. Em sinagogas ortodoxas se observam o mechitzah, ou separação de gêneros. As mulheres ou ficam em balcões, alas separadas com barreiras, fundos ou assentos designados, distintos dos homens. Alguns elementos são opcionais. Há em várias sinagogas um dossel, sob o qual são realizadas cerimônias matrimoniais. Algumas sinagogas preservam um assento reservado ao profeta Elias. Os arquivos-mortos das sinagogas, genizas, são importantes fontes para a preservação da história judia. Fonte: www.wikipedia.org. 290 externa leva do terraço ao pavimento térreo como segunda alternativa na necessidade de evacuação do prédio. Para o terceiro pavimento, destinado às mulheres, foi projetado como um grande mezanino com arquibancadas de inclinação bastante acentuada, de forma que todos os assentos tivessem a visão da Tribuna e do Relicário (figura 552). A capacidade de lugares para esta galeria, segundo o projeto, seria para 390 lugares. Neste andar fica a sala da “diretoria” sobre a biblioteca do segundo pavimento. O acesso principal novamente se dava pela escadaria frontal. O “terraço das senhoras”, de dimensões bem inferiores ao dos homens, e um “toilete” exclusivo para estas, completavam este andar. Deste terraço também se tinha a possibilidade de saída do prédio por uma escada externa que ligava com o terraço do segundo pavimento e por este até o térreo. Figura 552 Planta baixa do terceiro pavimento do Centro Israelita Portoalegrense. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.418 do microfilme nº 183. Figura 551 Corte longitudinal do Centro Israelita Portoalegrense. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.418 do microfilme nº 183. 291 A fachada frontal proposta por Monteiro Neto foi parcialmente executada. Conforme o projeto, o volume correspondente a edificação pré-existente deveria ter platibanda em altura uniforme, com pilastras que demarcariam as linhas verticais entre as janelas, as quais teriam fechamento em verga reta. Figura 553 Parte da fachada correspondente a edificação préexistente do Centro Israelita Portoalegrense. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figura 554 Corte transversal do Centro Israelita Portoalegrense. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.418 do microfilme nº 183. 292 Ao que parece, esta fachada manteve o seu formato original, com uma faixa central projeção encimada pelo nome da instituição e com a última linha de janelas terminadas em arco pleno. Essa solução é coerente com a fachada isolada do antigo edifício (figura 553). A área de escadaria, que liga os três pavimentos e atende como acesso nobre ao salão de festas, a nave do templo e a galeria, foi executada conforme proposto por Monteiro Neto: janelas quadradas em grande número permitindo uma grande iluminação natural. A solução volumétrica proposta por Monteiro Neto também não foi executada como projetada. A organização em planta, propondo um grande salão retangular no centro, teria expressão na volumetria. Desse modo, o volume maior do salão de festas e do templo emolduraria os dois volumes menores posicionados a sua frente, que abrigam espaços menores (sala de oração, biblioteca, diretoria, escadarias e vestíbulos). A composição teria o volume maior recuado e dois volumes menores à frente, com recuos, alturas e materialidade distintas evidenciando hierarquias e funções distintas (figuras 555 e 556). De acordo com isso, o nome da instituição estaria colocado na parte mais saliente do volume principal. O volume de acesso e escadarias se distingue dos demais pela grelha ortogonal de suas duas faces externas, onde predominam os vazios das janelas quadradas. Essa solução cria uma distinção de materialidade externa do volume, assim como uma condição espacial peculiar para o percurso da escadaria. A cobertura deste volume seria executada com laje plana impermeabilizada, terminando em plano mais baixo que os demais. A fachada executada foi concluída com os dois volumes frontais terminados na mesma altura, com uma platibanda comum. Figura 556 Detalhe do fechamento da cobertura executada no Centro Israelita Portoalegrense. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figura 555 Fachada frontal do Centro Israelita Portoalegrense proposta no projeto original. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.418 do microfilme nº 183. 293 Figura 557 Imagem aérea com a localização do Centro Israelita Portoalegrense. Fonte: Google Earth. Figura 558 Corte passando pelo volume da escada do Centro Israelita Portoalegrense. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 19.418 do microfilme nº 183. Este projeto está estilisticamente alinhado à modernidade pragmática ou ao modernismo externamente aparentado com correntes como o Art Déco. Contudo, sua disposição assimétrica, arranjo dinâmico de volumes e clareza na organização espacial interna definem um momento de maior consistência na carreira de Monteiro Neto. 294 3.4.8. 1951 Os dois primeiros projetos aprovados no ano de 1951 são a casa Telmo Rovira Martins e Hélio Luiz Ribeiro. Ambas as casas são típicas da arquitetura de Monteiro Neto. A primeira por seu estilo moderno nas linhas retas e volumes prismáticos e a segunda por sua volumetria e ornamentação característica do estilo californiano. Estas casas serão analisadas respectivamente nos próximos subcapítulos. Figura 560 Fachadas da casa Alípio Ebling. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 48.362 do microfilme nº 230. Figura 559 Planta baixa da casa Alípio Ebling. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 48.362 do microfilme nº 230. Neste mesmo ano, Monteiro Neto aprova o primeiro projeto, do total de três que elaborou, dentro de um condômino fechado localizado na rua Hilário Ribeiro nº 170 (figura 561). Esta edificação foi projetada para o Sr. Alípio Ebling351 e ainda está de pé. A casa se resume a um pavimento térreo, que abriga dois dormitórios, um “living room”, a “sala de jantar”, a “copa cozinha”, um sanitário e a lavanderia, além da garagem incorporada a edificação 351 Figura 561 Planta de situação da casa Alípio Ebling. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 48.362 do microfilme nº 230. Processo 48.362, do microfilme nº 230, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 295 (figura 559). Devido a sua posição no lote foram projetados dois acessos, sendo um a partir da rua Hilário Ribeiro, por onde se adentra ao living room e outro pela rua particular, por onde se acessa direto à sala de jantar (figura 560). Um projeto muito simples, parecendo até mesmo não ser desenhado por Monteiro Neto, porém assinado por ele como projetista e construtor, é a casa para o Sr. Nilo Martins352. Durante sua carreira o arquiteto projeta algumas casas de pequeno porte, provavelmente para atender clientes de menor poder aquisitivo. O projeto da casa Nilo Martins apresenta dois dormitórios (na frente da edificação), “estar”, “cozinha”, sala de “almoço” e um Figura 562 Fachada da casa Nilo Martins. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 6.544 do microfilme nº 209. sanitário (figura 563). Sua classificação no estilo californiano se evidencia no uso de pequenos beirais, na utilização de pedras decorativas na base da edificação e no tipo de esquadrias adotadas, porém com muita simplicidade nos elementos da fachada (figura 562). Esta casa, já demolida, se localizava na rua Cel. Jaime da Costa Pereira, no bairro Partenon. A casa para o Sr. Bernardo de Souza Velho353, na mesma rua particular da casa Alípio Ebling, apresenta um projeto mais amplo e detalhado que a residência anterior (figura 567). Esta casa, ainda existente, se desenvolve a partir do acesso principal, no centro da edificação, por um hall que a divide em área íntima à esquerda e área social à direita (figura 565). Nesta edificação térrea, o detalhamento é tão apurado que até mesmo os gradis metálicos para as janelas são projetados por Monteiro Neto. A fachada lateral tem organização simétrica, com porta principal no centro, coroada por “frontão” colonial, projeções nas duas extremidades e dois elementos singulares equilibrados (chaminé e janela maior). A diferença dos elementos e partes dissimula a percepção da simetria (figura 564). 352 353 Figura 563 Planta baixa da casa Nilo Martins. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 6.544 do microfilme nº 209. Processo 6.544, do microfilme nº 209, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Processo 3.718, do microfilme nº 231, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 296 Figura 564 Fachada frontal da casa Bernardo de Souza Velho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.718 do microfilme nº 231. Figura 566 Fachada lateral da casa Bernardo de Souza Velho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.718 do microfilme nº 231. Figura 565 Planta baixa da casa Bernardo de Souza Velho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.718 do microfilme nº 231. Figura 567 Planta de situação da casa Bernardo de Souza Velho. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.718 do microfilme nº 231. 297 3.4.9. Residência Telmo Rovira Martins Uma detalhada perspectiva complementa o conjunto de projetos aprovados na Prefeitura de Porto Alegre da casa do Dr. Telmo Rovira Martins354 no ano de 1951 (figura 568). O estilo moderno, já bem mais amadurecido e desvinculado de influências Art Déco, caracteriza a fachada principal deste projeto. Além do projeto, a execução também teria sido feita por Monteiro Neto, já que o mesmo assina também como construtor. Localizada na rua Eça de Queirós, nº 809, a casa Telmo Rovira Martins está em ótimo estado de conservação. Apesar de algumas modificações externas, como a adição de alguns ambientes ao segundo pavimento e uma reformulação interna para atender as novas necessidades de uso, a vista externa ainda apresenta as mesmas características originais da edificação. O elemento de maior destaque da fachada é a grande sacada, que compreende toda a largura do terreno (figuras 572 e 573). Dotada de guarda-corpo metálico, ela se projeta como uma aba que sombreia o piso térreo recuado. A planta do térreo sugere um fechamento mais envidraçado do que o que foi executado, com a presença de um único trecho mural de apoio intermediário, além de duas delgadas colunas no trecho em curva do gabinete. No piso Figura 568 Perspectiva da casa Telmo Rovira Martins. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 4.838 do microfilme nº 209. superior, a sacada é coberta por uma laje plana apoiada em pilares recuados, dispostos em dois pares mais ao centro e isolados nas divisas laterais. A cobertura da sacada se alinha com o bordo da laje do piso abaixo, configurando uma moldura em avanço do segundo andar em relação ao térreo recuado. Todavia, a laje de cobertura da sacada é independente do corpo da casa, sendo apoiada em vigas que sugerem leveza. A composição dessa fachada mostra uma 354 Processo 4.838, do microfilme nº 209, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 298 progressiva familiaridade de Monteiro Neto com temas espaciais da arquitetura moderna. Além disso, a execução da extensa laje em balanço e da cobertura solta em relação á fachada mostram sua consciência das possibilidades plásticas do concreto armado. Figura 572 Casa Telmo Rovira Martins. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figuras 569, 570 e 571 Planta do primeiro projeto aprovado da casa Telmo Martins (esq.). Planta do pavimento térreo com alterações da casa Telmo Martins (centro). Planta do subsolo com a acomodação da garagem e dependências de empregada da casa Telmo Martins (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 4.838 do microfilme nº 209. No pavimento térreo localiza-se uma passagem coberta para veículos que também abriga o acesso principal da casa. Neste pavimento, que hoje abriga as atividades de um escritório de advocacia, ficavam as sala de estar e jantar, um gabinete e as dependências de serviço, como copa, cozinha, dormitório de empregada, um pequeno banheiro sob a escada e outro para a 299 Figura 573 Detalhe da sacada da casa Telmo Rovira Martins. Foto de 2012. Fonte: Autor. empregada, além da garagem (figura 569). O projeto encaminhado no início do ano de 1951 sofreu uma alteração ao longo deste ano que modificou o posicionamento da garagem e das dependências de empregada (figura 570). O desnível natural do terreno possibilitou que estes ambientes fossem posicionados no subsolo, com acesso pela parte posterior do terreno (figura 571). Essa mudança melhorou muito a implantação da edificação, possibilitando maior área de pátio e acesso aos fundos do lote, que originalmente ficava obstruído pela garagem. O segundo pavimento foi destinado aos dormitórios, em número de três, e ao banheiro da família, além da grande sacada (figura 574). A cobertura da edificação foi executada telhas leves de baixa inclinação, “encobertas” por Figura 574 Planta baixa do 2º pav. da casa Telmo Rovira Martins. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 4.838 do microfilme nº 209. uma platibanda de alvenaria que remetem a edificação uma composição volumétrica prismática (figura 575). Nesta obra Monteiro Neto demonstrou um certo amadurecimento dos seus traços modernos, num maior distanciamento da influência Art Déco. A preocupação do arquiteto com o efeito proporcionado pela projeção das sombras sobre os planos e volumes que compõe as fachadas, mencionada por ele nas suas crônicas no Diário de Notícias, comparece com ênfase neste projeto. Figura 575 Corte longitudinal da casa Telmo Rovira Martins. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 4.838 do microfilme nº 209. 300 3.4.10. Residência Hélio Luiz Ribeiro A esquina da avenida Dom Pedro II com a rua Marques do Pombal é o local de construção da casa Hélio Luiz Ribeiro355 no ano de 1951. Segundo informações descritas no próprio projeto, o terreno destinado para a construção tem as dimensões de 33,30 metros de largura (na avenida Dom Pedro II) por 53,70 metros de comprimento (na rua Marques do Pombal) e área total da edificação construída de 927,00m². Ainda conforme a documentação arquivada do projeto, o nome de Monteiro Neto aparece como sendo, além de projetista, o executor da edificação. Neste período ele já tinha dado baixa de sua empresa e usava o próprio nome como registro de construtor. A casa Hélio Luiz Ribeiro, que ainda encontra-se em excelente estado de conservação, se destaca entre as demais casas projetadas por Monteiro Neto não só por suas dimensões, mas também pela sua organização espacial e principalmente pelo seu resultado formal e ornamentação. A ocupação do amplo lote, proposta pelo arquiteto, apresenta a casa de dois pavimentos ocupando o centro do terreno, com uma segunda casa, afastada da principal e colada a uma divisa lateral, também com dois pavimentos (figura 576). A irregularidade topográfica levou o arquiteto a posicionar a casa em uma plataforma cerca de quatro metros acima do nível da rua. Isso faz com que a casa esteja no topo de um pódio de blocos regulares de granito que lhe conferem uma base rústica (figuras 578 e 579). Nessa base se localizam três acessos ao patamar superior. O principal deles está na esquina, dando acesso a duas escadarias que conduzem ao pátio elevado. Nas duas extremidades do terreno 355 Figura 576 Imagem aérea da casa Hélio Luiz Ribeiro. Fonte: Google Earth. Processo 44.899, do microfilme nº 228, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 301 estão outros dois acessos secundários, um dos quais conduzindo à segunda casa junto da divisa lateral e outro às áreas de serviço (figura 577). Figura 578 Fachada para a avenida Dom Pedro II da casa Hélio Luiz Ribeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 44.899 do microfilme nº 228. Figura 577 Implantação da casa Hélio Luiz Ribeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 44.899 do microfilme nº 228. Figura 579 Fachada para a rua Marques do Pombal da casa Hélio Luiz Ribeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 44.899 do microfilme nº 228. 302 Figura 580 Planta geral da casa Hélio Luiz Ribeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 44.899 do microfilme nº 228. A segunda casa provavelmente teria a função de abrigar os caseiros, já que dispunha de toda a infraestrutura para tal, com acesso exclusivo e uma separação por meio de muro com portão para o pátio da casa principal (figura 581). Aproveitando a construção da casa num nível mais alto, parte do subsolo foi destinado para as garagens (figura 583). Com acessos por meio de portões individuais, foi prevista uma área para guarda de três carros sob o pátio junto do alinhamento com a rua Marques do Pombal. O acesso interno das garagens para a edificação principal acontece por uma escada 303 Figura 581 Dependências dos caseiros na casa Hélio Luiz Ribeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 44.899 do microfilme nº 228. localizada na torre cilíndrica que abriga também outra escada de acesso ao segundo pavimento. Figura 583 Setor da planta do pavimento principal, mostrando em pontilhado as garagens na casa Hélio Luiz Ribeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 44.899 do microfilme nº 228. Figura 582 Setor social da casa Hélio Luiz Ribeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 44.899 do microfilme nº 228. A área social da casa se localiza na parte mais próxima da esquina (figura 582). Uma grande varanda em “L” define o acesso principal, valorizado pela posição de esquina. A partir desta varanda se tem acesso ao “hall” que distribui tanto para a “sala de visitas”, quanto para a “sala de jantar” e também para o “living room”, tendo ainda ligação com um lavabo destinado aos visitantes. Pela sala de visitas sem tem acesso ao “gabinete” e pelo living se tem acesso a “sala de jantar”. Todos estes ambientes possuem passagens com grande largura favorecendo a integração entre eles, entretanto todos possuem a possibilidade de fechamento através de portas de correr embutidas nas paredes. O local destinado a área íntima da residência, ou seja os dormitórios, está disposto em forma de “L” e voltado para a rua Marques do Pombal e para o pátio interno, sendo separada da 304 parte social por um “hall íntimo” (figura 584). Os quartos conectam-se entre si, com a escadaria e com o pátio por meio de um corredor denominado de “ante camara”. Esta área íntima do térreo dispõe de dois dormitórios, com um banheiro em comum, e mais um terceiro, com banheiro exclusivo. O segundo pavimento, que tem seu acesso pela escadaria localizada na torre cilíndrica, junto ao hall íntimo, provavelmente se destina também a ambientes íntimos da residência ou para hóspedes. Porém, não foi possível esta confirmação já que os documentos encontrados não apresentam tal pavimento. A área de serviço localiza-se entre estas outras duas áreas já citadas e junto à uma das divisas laterais do terreno (figura 585). No entorno da cozinha se distribuem, por um lado a “sala de almoço”, que tem ligação com a sala de jantar da área social, uma “copa” e uma “despensa”; e por outro uma ampla lavanderia, dois quartos destinados as empregadas e um banheiro. Por uma escadaria junto da cozinha se tem acesso ao subsolo que abriga ambiente de “depósito” e “adega”. A composição por si só já ganha destaque pela sua implantação acima do nível da rua, conferindo-lhe a imponência de um alto pódio. A grande base da edificação se desenvolve na totalidade do lote, com um muro de pedras que eleva em um pavimento das demais construções. A fachada para a rua Marques do Pombal é composta por um pavimento térreo mais amplo tendo como elemento mediador a torre da escada, que além de se projetar em relação ao plano desta fachada, divide as áreas sociais e íntimas da edificação. No segundo pavimento a torre da escada também serve como elemento divisor dos telhados com inclinação invertida, ou seja, para o centro e não para as bordas como de costume. O destaque desta Figura 585 Setor de serviço da casa Hélio Luiz Ribeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 44.899 do microfilme nº 228. Figura 584 Setor íntimo da casa Hélio Luiz Ribeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 44.899 do microfilme nº 228. 305 torre, compondo com este tipo de telhado, não seria o mesmo se fosse utilizado uma cobertura convencional em duas águas. Figura 587 Fachada da casa Hélio Luiz Ribeiro para a avenida Dom Pedro II. Foto de 2012. Fonte: Autor. Na fachada da avenida Dom Pedro II o volume de dois pavimentos, juntamente com a torre Figura 586 Detalhe da torre do reservatório da casa Hélio Luiz Ribeiro. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 44.899 do microfilme nº 228. da escada, se destaca em relação à extensão da parte térrea. Um muro com arcos é posicionado diante do pátio da área de serviço. Uma torre cilíndrica isolada, porém de grande altura, com ornamentação semelhante à torre da escada, foi construída entre a casa principal e a casa dos caseiros, tendo a função de abrigar um grande reservatório de água e de ser um elemento de destaque visual. 306 Figura 589 Fachada lateral e acesso das garagens ao nível térreo da casa Hélio Luiz Ribeiro. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figura 588 Fachada da casa Hélio Luiz Ribeiro para a rua Marques do Pombal. Foto de 2012. Fonte: Autor. A casa representa a continuidade do interesse de Monteiro Neto com o tema do neocolonial, aqui misturado com o californiano. O uso de painéis de azulejos decorados, de balaustradas e colunas salomônicas reflete um retorno ao primeiro estilo, enquanto os torreões e a rusticação das bases remetem ao segundo. Além disso, algo da arquitetura moderna da escola carioca aparece no telhado-borboleta do bloco mais elevado, lembrando a cobertura do Iate Clube da Pampulha (1942). Os jardins, com contornos sinuosos, também lembram o paisagismo desta escola. O orçamento generoso da mansão suburbana permitiu que o arquiteto empregasse todos os recurso estilísticos que desejou neste projeto. Figura 590 Vista da esquina da casa Hélio Luiz Ribeiro. Foto de 2012. Fonte: Autor. 307 3.4.11. 1952 Quatro casas foram encontradas no Arquivo Público de Porto Alegre com autoria de Monteiro Neto no ano de 1952. Figura 591 Fachada da casa Josef Neumann. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.907 do microfilme nº 231. Figura 593 Planta baixa do pavimento térreo da casa Josef Neumann. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.907 do microfilme nº 231. A primeira destas casas foi projetada para o Sr. Josef Neumann356 e construída por Chwartzmann & Gerchmann Ltda. A fachada retoma os traços de linhas retas reforçados pelo uso de platibandas que encobrem o telhado convencional (figura 591). Apesar de uma organização espacial não muito diferente do que o arquiteto vinha propondo em grande parte dos seus projetos, o que chama a atenção é o uso de paredes com alinhamentos não Figura 592 Planta baixa do subsolo da casa Josef Neumann. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 3.907 do microfilme nº 231. ortogonais (figura 593). Nesta edificação Monteiro Neto utiliza ângulos inclinados, para 356 Processo 3.907, do microfilme nº 231, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 308 demarcar um “hall íntimo” e cantos arredondados em diversas paredes. Trata-se do único caso deste tipo de solução na carreira do arquiteto. Conforme o projeto esta casa se localiza na rua Santa Cecília, no bairro Santana, porém não foi encontrada durante as pesquisas. Figura 595 Fachada frontal da casa Natalio Broide. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 6.307 do microfilme nº 232. Figura 594 Planta baixa do pavimento principal da casa Natalio Broide. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 6.307 do microfilme nº 232. A casa Natalio Broide357, ainda construída e localizada na rua Dom Pedro II a poucos metros da casa Hélio Luiz Ribeiro (Dom Pedro II esquina Marques do Pombal), foi projetada em dois pavimentos aproveitando o aclive natural do terreno (figura 596). A empresa construtora que assina o projeto desta edificação também é a mesma da casa anterior, ou seja, Chwartzmann & Gerchmann Ltda. O pavimento semienterrado foi destinado as áreas de garagem e dependências de empregada enquanto o pavimento 357 Figura 596 Fachada lateral da casa Natalio Broide. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 6.307 do microfilme nº 232. Processo 6.307, do microfilme nº 232, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 309 imediatamente acima foi destinado ao usos principais da casa (figura 594). A setorização dos ambientes é bastante simples, tendo os dormitórios e sanitários de um lado e sala de jantar, copa e cozinha de outro, separados em parte com um amplo corredor. O acesso a este pavimento se dá por uma ampla escada em curva que ascende a uma larga varanda que funciona também como sacada (figura 595). Figura 597 Fachada frontal da casa Clovis Bastos. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.261 do microfilme nº 233. Figura 598 Fachada lateral da casa Clovis Bastos. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.261 do microfilme nº 233. Figura 599 Planta baixa do pavimento térreo da casa Clovis Bastos. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 8.261 do microfilme nº 233. Muito semelhante ao programa utilizado na casa Natalio Broide, o projeto de Monteiro Neto para Clóvis Bastos358 também utilizou-se do desnível do terreno, agora em declive, para organizar a edificação em dois pavimentos (figura 598). Novamente ambientes de serviço, 358 Processo 8.261, do microfilme nº 233, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 310 garagem para dois carros e alguns depósitos foram destinados ao pavimento subsolo, ficando as atividades principais da residência ao nível da rua (figura 599). Solução semelhante à casa anterior é a proposta para a fachada da casa Clóvis Bastos, entretanto neste projeto a volumetria é invertida em relação à primeira (figura 597). Esta edificação teve sua construção assinada por Mello Pedreira & Cia. Da mesma forma que a casa anterior, esta edificação ainda está de pé, possui uma fachada publicitária que encobre a original e se localiza na rua Dom Pedro II também a poucos metros da casa Hélio Luiz Ribeiro. Figura 600 Planta baixa da casa Gastão Altmayer. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 23.263 do microfilme nº 241. Figura 601 Planta de localização da casa Gastão Altmayer. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 23.263 do microfilme nº 241. 311 A casa Gastão Altmayer359, ainda construída, foi a terceira casa projetada por Monteiro Neto no condomínio fechado com acesso pela rua Hilário Ribeiro, nº 170, já citado (figura 601). Dotada de apenas um pavimento, foi organizada de modo que ocupasse boa parte do lote com dimensões e alinhamentos diversos devido a sua posição no final da rua, em frente ao “cul de sac” (figura 600). O centro da planta, onde se localiza o “living room” e a “sala de jantar”, é o divisor entre a área privada, com três dormitórios e um sanitário, e a área de serviços, com “copa”, “cozinha”, “quarto creada” e “garage” [sic]. Apesar do eixo visual, a partir da rua, ser o living, o acesso se dá lateralmente, passando por um “vestíbulo” que por sua vez permite a entrada direta para o living, ou para a copa e ou também para um “toilete” (figura 602). Figura 602 Imagem aérea da rua particular. Fonte: Google Earth. Figura 603 Fachadas da casa Gastão Altmayer. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 23.263 do microfilme nº 241. 359 Processo 23.263, do microfilme nº 241, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 312 3.4.12. 1954 No ano de 1953 Monteiro Neto projetou a reforma e ampliação de uma residência que tinha sido inicialmente projetada por ele em 1946, ainda para o mesmo proprietário, o Sr. Otto L. Ely360. Em 1954 apenas duas casas são encontradas no Arquivo Público de Porto Alegre, que são a casa Corina Franco Garcia e a casa Victor Manoel Massulo. Figura 606 Fachada frontal da casa Corina Franco Garcia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.843 do microfilme nº 284. Figuras 603 e 604 Planta baixa do térreo da casa Corina Franco Garcia (esq.). Planta baixa do segundo pavimento da casa Corina Franco Garcia (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.843 do microfilme nº 284. Figura 607 Fachada de fundos da casa Corina Franco Garcia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.843 do microfilme nº 284. Localizada na rua Marques do Pombal, a casa Corina Franco Garcia361 retoma o terraço plano de laje impermeabilizada, utilizado por Monteiro Neto na década de 30. A casa de três pavimentos abrigava garagens, adega e bar no pavimento subsolo (figura 607), áreas sociais, cozinha e dependências de empregada no pavimento térreo (figura 603), ficando os três Figura 608 Corte longitudinal da casa Corina Franco Garcia. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.843 do microfilme nº 284. 360 361 Ver pg. 264. Processo 21.843, do microfilme nº 284, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 313 dormitórios e dois amplos banheiros no terceiro pavimento (figura 604). A cobertura de parte dos ambientes do térreo possibilitou que os dormitórios das laterais dispusessem de amplos terraços. Este projeto, de disposição mais racional, tinha uma planta mais alinhada com a arquitetura moderna que então se consolidava em Porto Alegre (figuras 605 e 606). Esta casa, já demolida, se localizava na rua Marques do Pombal ao lado da casa Hélio Luiz Ribeiro. Para Victor Manoel Massulo362, Monteiro Neto projetou uma edificação residencial com dois pavimentos, tendo um apartamento com dois dormitórios por andar (figura 608). A volumetria da edificação se baseia em volumes prismáticos com alguns frisos que retomam a arquitetura Art Déco (figura610). Esta edificação se localizaria na rua Olinda, próximo da esquina com a avenida Benjamim Constante, entretanto não há indícios de que tenha sido Figura 609 Plantas baixas do ed. Victor Manoel Massulo. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 24.495 do microfilme nº 285. executada. Figuras 609 e 610 Corte transversal do ed. Victor Manoel Massulo (esq.). Fachada frontal do ed. Victor Manoel Massulo (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 24.495 do microfilme nº 285. 362 Processo 24.495, do microfilme nº 285, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 314 3.4.13. 1955 No ano de 1955, um ano antes do seu falecimento, Monteiro Neto projetou apenas uma casa. Já demolida, ela se localizava na atual alameda Victor Adalberto Kessler, no bairro Auxiliadora e foi encomendada por Gregório Zotz363 (figura 615). Amplos ambientes formam os dois pavimentos, tendo garagens, play ground coberto e dependências de empregada no pavimento de subsolo (figura 611) e os demais ambientes, como salão, living, cozinha, três dormitórios e sanitários no segundo pavimento (figura 612). Figura 614 Fachada frontal da casa Gregório Zotz. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 26.014 do microfilme nº 287. Figura 615 Fachada de fundos da casa Gregório Zotz. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 26.014 do microfilme nº 287. Figuras 611 e 612 Planta baixa do subsolo da casa Gregório Zotz (esq.). Planta baixa do pavimento ao nível da rua da casa Gregório Zotz (dir.). Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 26.014 do microfilme nº 287. Figura 616 Planta de situação da casa Gregório Zotz. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 26.014 do microfilme nº 287. 363 Processo 26.014, do microfilme nº 287, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 315 3.4.14. O último projeto de Monteiro Neto No mesmo ano de seu falecimento (1956), Monteiro Neto realizou o seu último projeto encontrado nos arquivos da Prefeitura de Porto Alegre. A casa, de propriedade do Sr. Otto L. Ely364 está localizada na rua Engenheiro Álvaro Nunes Pereira. Além de projetada, foi também construída por Monteiro Neto e ainda encontra-se em excelente estado de conservação. Figura 617 Fachada do primeiro projeto de Monteiro Neto para o Sr. Otto L. Ely localizado na av. Cristóvão Colombo. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 21.075 do microfilme nº 127. Figura 618 Fachada principal da casa Otto L. Ely. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 5.285 do microfilme nº 316. Figura 618 Fachada do segundo projeto de Monteiro Neto para o Sr. Otto L. Ely que consistia na reforma e ampliação do primeiro projeto. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 38.117 do microfilme nº 268. Este projeto não foi o primeiro trabalho realizado pelo arquiteto para este cliente. No ano de 1946, Monteiro Neto realizou o primeiro projeto para o Sr. Otto L. Ely: uma casa em estilo californiano com apenas um pavimento projetada e construída pelo Studio Monteiro Neto na rua Cristóvão Colombo (figura 617). Em 1953 a mesma casa, ainda de propriedade do 364 Processo 5.285, do microfilme nº 316, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. 316 mesmo cliente, recebeu uma reforma que lhe adicionou mais um pavimento e remodelou completamente as características estilísticas da edificação (figura 618). O estilo californiano, claramente definido no primeiro projeto, foi substituído por um estilo mais moderno com a utilização de elementos clássicos (colunas de ordem coríntia no pórtico de acesso). Figura 621 Detalhe do lado esquerdo da fachada da casa Otto L. Ely. Foto de 2012. Fonte: Autor. Figura 619 Fachada lateral da casa Otto L. Ely. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 5.285 do microfilme nº 316. Devido ao desnível natural do terreno (aclive acentuado a partir da rua) a casa foi projetada em dois pavimentos: o subsolo, que ocupa um terço da edificação, e mais um pavimento, que abriga as principais atividades (figura 619). O pavimento de subsolo recebe um revestimento de pedras que o caracteriza como base rusticada do pavimento principal. O trecho utilizado desta base compreende uma faixa junto a rua de acesso, sendo destinado o uso de garagem, com dimensões suficientes para dois carros, além de uma escada interna de acesso ao pavimento superior e um amplo depósito (figura 624). Figura 622 Detalhe da sacada sobre o acesso da garagem da casa Otto L. Ely. Foto de 2012. Fonte: Autor. 317 No pavimento acima ficaram concentradas todas as atividades sociais, de serviço e áreas íntimas da residência. O acesso ao pavimento de uso principal é feito por uma grande escada em curva que leva do portão, junto do passeio público, até uma sacada que ocupa aproximadamente dois terços do plano da fachada frontal. Esta sacada é coberta por uma laje plana esbelta com apoio de oito delgadas colunas cilíndricas, sem ornamentação, que tem a função não só de sustentação desta laje, mas principalmente de marcação do acesso social da edificação com uma retícula protetora. O andar principal da casa é articulado em "U", com o os setores social e íntimo compondo Figura 623 Planta baixa do pavimento principal da casa Otto L. Ely. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 5.285 do microfilme nº 316. uma ala mais larga e os serviços ocupando as outras duas (figura 623). A organização espacial é bastante peculiar, provavelmente para atender aos costumes dos seus ocupantes. O acesso principal, a partir da escada externa e de um pequeno pórtico marcado pela colunata já mencionada, direciona diretamente para o “living room”. Esta ampla sala de estar está conectada a uma sala de jantar, passando antes por um corredor de circulação interno. Este corredor dá acesso de um lado para um dormitório, com um pequeno vestíbulo e um amplo banheiro, e de outro ao segundo dormitório, com sanitário próprio, além das outras dependências da casa. A situação peculiar desta residência é a total separação dos dormitórios, sendo um posicionado ao lado esquerdo da sala de estar e o outro na extremidade oposta e atrás deste mesmo ambiente. O “comedor” e a cozinha ficam localizados mais ao fundo da edificação com acesso pelo mesmo corredor do segundo dormitório. A partir da cozinha, passando antes por uma pequena área externa, porém coberta, se tem acesso às dependências da empregada, que dispõe de um dormitório, área de serviço, um sanitário e uma grande área coberta. Não aparecem outros sanitários que não sejam os dos dormitórios e o da empregada, acreditando-se que o sanitário do dormitório principal fosse utilizado como sanitário social, devido a sua proximidade com a sala de estar 318 Figura 624 Planta baixa do subsolo da casa Otto L. Ely. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 5.285 do microfilme nº 316. e jantar, por suas dimensões e por sua independência deste dormitório devido ao vestíbulo que o antecede. Os eixos de circulação são bem definidos e claramente perceptíveis, porém a organização espacial proposta parece não ter a coerência característica do arquiteto. Este fato provavelmente tenha acontecido em função da solicitação de uso dos próprios moradores. Os dormitórios, como já citado, se localizam nos extremos laterais; a sala de estar e jantar estão próximas, porém separadas por uma área de circulação, e afastadas da cozinha, tornando o caminho longo para se servir na área destinada a jantares sociais. O “Comedor” e a cozinha acabaram se tornando também áreas de circulação, pois a única alternativa de deslocamento entre as dependências frontais da casa e as dependências dos fundos e até o próprio pátio interno é através destes ambientes. Externamente, a volumetria adotada pelo arquiteto se mostra cúbica, com a animação de reentrâncias (entrada principal) e saliências (fachada lateral). Esse jogo é amarrado por um largo friso decorado que contorna toda a edificação sob o acabamento que forma uma espécie de entablamento. Acima do friso há uma cornija que oculta o beiral do telhado. A casa parece típica do momento vivido pelo arquiteto. Filiado a uma geração habituada ao ecletismo, para a qual o estilo era uma questão de escolha entre referências diversas, Monteiro Neto manifesta nessa casa sua aceitação a um modo moderno que prevalecia, em termos de uma progressiva abstração da forma pelo abandono da figuratividade historicista. Todavia, a vontade pela identidade estilística permanece, manifestada no expressivo friso com flores, guirlandas e motivos geométricos. A laje esbelta em balanço, as colunas delgadas e as janelas circulares em grupo sinalizam temas modernos. A casa executada apresenta modificações na fachada, pois as colunas foram substituídas por dois pilares que 319 Figura 627 Imagem aérea da casa Otto L. Ely. Fonte: Google Earth. Figura 626 Corte transversal da casa Otto L. Ely. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 5.285 do microfilme nº 316. Figura 625 Corte Longitudinal da casa Otto L. Ely. Fonte: Arquivo Público de Porto Alegre, processo nº 5.285 do microfilme nº 316. repetem indevidamente os motivos do ático e tiram a leveza e a horizontalidade do pórtico de entrada. Além disso, uma grande janela circular surge na parede do subsolo. Como o autor faleceu no ano da aprovação do projeto, talvez não tenha sido responsável pelas mudanças. Figura 628 Detalhe das aberturas circulares na garagem e dormitório da casa Otto L. Ely. Foto de 2012. Fonte: Autor. 320 Considerações Finais Este trabalho teve como intento principal a catalogação analítica da produção do arquiteto João Antônio Monteiro Neto. As referências existentes ao seu trabalho já apontavam sua importância no cenário profissional da cidade, mas eram superficiais e bastante pontuais. A pesquisa arquival sobre suas atividades em Porto Alegre estabeleceu a importância do seu legado. O grande número de obras documentadas fazem que seu acervo constitua um retrato preciso do contexto arquitetônico porto-alegrense em sua época. Além disso, a análise de seu acervo como cronista de arquitetura forneceu uma perspectiva adicional de seu perfil profissional. A sua qualificação profissional estampada nos artigos do jornal Diário de Notícias é algo controversa. Na primeira coluna publicada com o título de “Para quem quer construir”, o arquiteto se autodefine como “da Escola Nacional de Bellas Artes” (ver pg. 58) e continua utilizando esta referência ao longo de todo o período como colunista. Porém, no processo dirigido ao CREA-RS para o reconhecimento de sua titulação profissional como arquiteto, ele próprio relata: “Tenho-me pois na conta de um arquiteto nato e si (sic) por circunstâncias da vida não me foi possível fazer um curso regular de arquitetura, nem por isso deixo de sentir a mesma fé e o mesmo entusiasmo que por ela sentem os regularmente diplomados (...)” (ver pg. 45). Monteiro Neto talvez tenha realmente frequentado a Escola Nacional de Belas Artes durante o período em que viveu no Rio de Janeiro, de 1916 a 1923. É possível que ele não tenha conseguido conjugar sua atividade profissional com a dedicação aos estudos, e isso tenha frustrado seu intento de obter o diploma. 321 No início das suas atividades em Porto Alegre, a oportunidade de divulgar suas ideias e mostrar seu trabalho num importante meio de comunicação da época, que foi o jornal Diário de Notícias, lhe rendeu engajamento no meio social e promoção profissional. A divulgação de seus artigos sobre arquitetura, decoração e construção durante os três anos em que estes foram apresentados semanalmente à sociedade portoalegrense contribuíram também para abrir o debate arquitetônico de forma mais cotidiana, numa época de desenvolvimento urbano e modernização da capital gaúcha. A proposta de interagir com o leitor, numa coluna que tratava de assuntos ligados às novas tendências arquitetônicas nacionais e internacionais, foi rapidamente assimilada e teve retorno imediato, dada a quantidade de correspondências endereçadas a coluna. Sua atuação no jornal teve o papel de um escritório de projeto a distância que permaneceu ativo por três anos e rendeu para o arquiteto a formação de sua clientela. A concorrência oferecida pelo jornal Correio do Povo, com artigos publicados também sobre arquitetura e construção pelo engenheiro Antônio Garcia Miranda Netto, não alterou a rotina de sua coluna. As publicações no principal concorrente do Diário de Notícias tinham um caráter muito mais crítico do que informativo, numa defesa ferrenha de um novo modelo arquitetônico que não encontrou a mesma receptividade popular que Monteiro Neto. Para ele, a arquitetura moderna era nova forma de projetar e construir de modo racional, prático e econômico. Ainda que com reservas, o exemplo de Le Corbusier foi usado por Monteiro Neto para justificar suas ideias sobre o “novo molde arquitetural”. Entretanto, seus projetos não abordavam as preocupações de natureza espacial, construtiva e compositiva do discurso do arquiteto francês (ver pg. 67). Monteiro Neto propunha uma simplificação de formas externas pelo abandono da ornamentação, pela utilização de linhas simples e pelo resultado obtido com o jogo de planos, volumes e sombras para qualificar um projeto. Diferentemente da arquitetura corbusiana, o arquiteto 322 paranaense estava ligado a uma versão mais pragmática do moderno, que ganhava corpo na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul na década de 1920. Essa arquitetura, muitas vezes agrupada sob a denominação de Art Déco, tem como referência a arquitetura da Exposição de Artes Decorativas de Paris, em 1925. A arquitetura moderna proposta por arquitetos como o francês Robert Mallet-Stevens na década de 1920 também era uma referência importante. Monteiro Neto é reticente em relação às propostas mais radicais das vanguardas arquitetônicas. Sobre um artigo publicado por Warchavchik, ele faz algumas críticas que tem como foco principal a falta de nacionalidade deste arquiteto que, não sendo brasileiro, não compreenderia o espírito e as necessidades locais (ver pg. 73 e 74). Seus artigos e sua obra o mostram transitando entre estes dois polos: a adesão ao moderno como estilo, conjugada à preocupação com o caráter nacional da arquitetura. Em paralelo as suas atividades como cronista de arquitetura, o desenvolvimento do seu trabalho como arquiteto passou por importantes construtoras da capital como Azevedo Moura & Gertum, Barcellos & Cia., Spolidoro & Cia. e Predial Sul América. Sua participação nestas construtoras lhe permitiu realizar projetos importantes, dentre eles uma série de edifícios modernos, casas e alguns palacetes. O período em que esteve vinculado a construtoras foi o que lhe proporcionou projetar edifícios de maior altura como o edifício Vera Cruz, com 15 pavimentos. Suas atribuições como responsável técnico foram restringidas com a regulamentação da profissão de arquiteto, no ano de 1933. No entanto, Monteiro Neto driblou estas limitações ao longo de sua carreira ao associar-se a construtoras ou profissionais habilitados. Seu trabalho como projetista e construtor pode ser organizado em quatro fases de acordo com os estilos adotados e os programas abordados. 323 Num primeiro momento, logo após sua chegada em Porto Alegre e concomitantemente com seu trabalho como colunista no jornal Diário de Notícias entre os anos de 1930 e 1933, Monteiro Neto projetou diversas edificações ecléticas, algumas casas em estilo neocolonial brasileiro e outras modernas (ver primeira fase, pg. 109 a 115). Este período foi de intensa produção de estilo eclético, justificado provavelmente para atender a demanda que a capital ainda tinha por casas inspiradas neste estilo, no momento de sua afirmação profissional. Porém, os elementos decorativos propostos por Monteiro Neto remetem a um “tardoecletismo”, em alguns aspectos misturando referências historicistas com influências do Art Nouveau, da Secessão Vienense e outros movimentos de renovação. A arquitetura de Porto Alegre demonstra essas características nas décadas de 1920 e 1930 através da obra de Josef Lutzenberger. Ainda neste período, Monteiro Neto projeta três casas neocoloniais ligadas ao revival colonial de Ricardo Severo e Victor Dubugras no centro do país. A primeira casa moderna projetada pelo arquiteto foi a casa Manlio Agrifoglio no ano de 1931, uma das pioneiras neste estilo em Porto Alegre. Nesta fase, Monteiro Neto projetou outras casas que também mereceram destaque por suas linhas modernizantes, além de um pórtico de exposições que precederia a adoção em larga escala do "estilo moderno" na Exposição Farroupilha de 1935. Na segunda fase do arquiteto, entre os anos de 1934 e 1940, é perceptível uma maior tendência para projetos modernos (ver segunda fase, pg. 165 a 167). Tanto nesta fase como na anterior, os projetos modernos de Monteiro Neto estão vinculados ao que se construía principalmente no Rio de Janeiro e outras metrópoles sul-americanas desde o final da década de 1920, ou seja, o Art Déco. Destaca-se nesse período a realização da Exposição do Centenário Farroupilha (1935), que impulsionou este tipo de arquitetura em Porto Alegre. Apesar de mencionar a arquitetura moderna citando nomes como o de Le Corbusier e 324 Warchavchik, Monteiro Neto defendia também a criação de um modelo nacional. Essa duplicidade jamais encontrou síntese em sua obra, resultando na adoção de um estilo ou outro. Neste período, destaca-se a sua participação na construtora Azevedo Moura & Gertum, onde desenvolve o projeto do edifício Vera Cruz no ano de 1939. Entre os anos de 1941 e 1944, período que caracterizou sua terceira fase, Monteiro Neto desenvolveu na sua maioria projetos de residências em estilo californiano (ver terceira fase, pg. 209 a 212). A utilização deste estilo está diretamente ligada a sua associação com a empresa Spolidoro & Cia., uma vez que praticamente todos os projetos desenvolvidos junto a esta construtora foram de casas californianas. A expansão imobiliária suburbana na cidade está ligada a isso. Destaca-se também, durante a sua atividade como arquiteto-chefe desta firma, o projeto do edifício Armando Giampaoli e o edifício da Associação Riograndese de Imprensa, ambos com 10 pavimentos. Na quarta fase, entre os anos de 1945 e 1956 (ano do seu falecimento), os projetos ecléticos já não faziam mais parte do seu repertório, os projetos californianos foram poucos e os projetos modernos novamente configuravam a maioria (ver quarta fase, pg. 261 a 262). Os projetos de maior envergadura deste período foram o Instituto Santa Luzia, que acabou sendo alterado para uso como Palácio da Polícia, o Centro Israelita Porto-alegrense e os edifícios Irmãos Knijnik e Prync, Salgado e Cia. Nota-se, já no final desta fase, uma tendência dos projetos modernos de Monteiro Neto apresentarem menos características Art Déco e inspirarem-se um pouco mais nos modelos da escola carioca. Em termos tipológicos, Monteiro Neto trabalhou em sua maioria com casas de dois pavimentos (ver capítulo 3, pg. 103 a 108). Entretanto fizeram parte do seu acervo os edifícios, as salas de cinema, escolas, pórtico e até mesmo uma casa em forma de castelo. 325 Uma característica pouco observada na bibliografia que até hoje citou Monteiro Neto e que é bastante significativa na sua carreira em Porto Alegre, foi a de construtor. De 1943 até o ano do seu falecimento (1956), Monteiro Neto executou quase todos os seus próprios projetos. Dos 36 projetos arquivados neste intervalo de tempo 22 foram executados pela empresa do arquiteto, o Studio Monteiro Neto e, a partir de 1947, foram executados por ele pessoalmente. Sua associação à construção revela o caráter prático de seu envolvimento com a arquitetura. Ainda que tenha escrito sobre arquitetura, Monteiro Neto jamais revelou gosto pela discussão teórica. Suas afirmações nesse campo são muito mais posicionamentos sucintos do que argumentações. O valor da obra de Monteiro Neto não está em seu virtual engajamento num programa de renovação da arquitetura de sua época. Sua obra é importante como testemunho da atividade profissional na cidade em seu tempo. Tratando com uma clientela de classe média e alta, ele realizou dezenas de projetos ao longo de quase três décadas de atuação, que ilustram os tipos de encomenda solicitados e as respostas dadas em termos de programa, estilo, construção, espacialidade e relação com a cidade. A questão estilística é importante, pois o período na cidade é caracterizado por superposições. Por um lado, há um lento esgotamento do ecletismo desde a década de 1930, com o refluxo através do californiano da década seguinte e uma certa permanência do classicismo até a década de 1950. Por outro lado, há o advento das formas modernas na década de 1930, inicialmente pela simples adoção externa do racionalismo Art Déco, seguido no final da década de 1940 pelo engajamento mais franco de arquitetos locais com a escola carioca. Nesse contexto, Monteiro Neto é um protagonista importante, refletindo em sua ampla produção as características da arquitetura da cidade nos anos 1930-1950. Tendo em vista que a maioria de suas obras é residencial e 326 está em processo de desaparecimento, este catálogo analítico adquire especial importância como testemunho arquitetônico de uma época. 327 328 Referências bibliográficas ABREU FILHO, Silvio Belmonte de. 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Periódicos: - Jornal Diário de Notícias (janeiro de 1930 a dezembro de 1956). - Jornal Correio do Povo (janeiro de 1931 a dezembro de 1947). - Revista do Globo (janeiro de 1929 a dezembro de 1933). 335 3. Artigos: Diário de Notícias 1930 As Construções Modernas. 24/08/1930, p.08. As Construções Modernas. 31/08/1930, p.07. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 07/09/1930, p.08. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 14/09/1930, p.07. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 21/09/1930, p.11. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 28/09/1930, p.14. As edificações em Porto Alegre. 24/10/1930, p.3. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 16/11/1930, p.10. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 23/11/1930, p.09. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 30/11/1930, p.12. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 07/12/1930, p.16. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 14/12/1930, p.16. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 21/12/1930, p.16. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 28/12/1930, p.16. 1931 Publicidade: Barcellos & Cia. 01/01/1931, p.06. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 04/01/1931, p.18. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 11/01/1931, p.16. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 18/01/1931, p.16. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 25/01/1931, p.14. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 01/02/1931, p.16. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 08/02/1931, p.12. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 15/02/1931, p.16. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 22/02/1931, p.16. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 01/03/1931, p.22. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 08/03/1931, p.12. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 15/03/1931, p.14. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 22/03/1931, p.18. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 29/03/1931, p.16. 336 MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 05/04/1931, p.08. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 12/04/1931, p.20. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 19/04/1931, p.18. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 03/05/1931, p.11. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 10/05/1931, p.10. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 17/05/1931, p.18. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 24/05/1931, p.20. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 31/05/1931, p.09. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 14/06/1931, p.17. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 21/06/1931, p.20. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 28/06/1931, p.20. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 05/07/1931, p.20. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 12/07/1931, p.20. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 19/07/1931, p.20. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 26/07/1931, p.22. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 02/08/1931, p.20. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 09/08/1931, p.22. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 16/08/1931, p.20. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 23/08/1931, p.20. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 30/08/1931, p.13. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 06/09/1931, p.20. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 20/09/1931, p.14. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 27/09/1931, p.13. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 04/10/1931, p.13. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 11/10/1931, p.11. Publicidade: Exposição Agrícola, Pastoril e Industrial. 24/10/1931, p.09. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 25/10/1931, p.09. Exposição Industrial, Agrícola e Pastoril do Estado do Rio Grande do Sul. 30/10/1931, p.09. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 01/11/1931, p.09. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 08/11/1931, p.06 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 15/11/1931, p.06 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 22/11/1931, p.06 do suplemento. Continua despertando entusiasmo o grande certame do Menino Deus. 26/11/1931, p.06. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 29/11/1931, p.06 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 06/12/1931, p.04 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 13/12/1931, p.04 do suplemento. 337 MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 27/12/1931, p.05 do suplemento. 1932 MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 10/01/1932, p.06. 1933 MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 15/01/1933, p.05 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 22/01/1933, p.07 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 29/01/1933, p.07 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 05/02/1933, p.07 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 12/02/1933, p.07 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 19/02/1933, p.12 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 26/02/1933, p.04 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 05/03/1933, p.07 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 12/03/1933, p.07 do suplemento. MONTEIRO NETO, J.A. Para quem quer construir. 19/03/1933, p.07 do suplemento. 1934 A regulamentação da profissão de engenheiro e arquiteto. 03/06/1934, p.05. O exercício da profissão de engenheiro, arquiteto e agrimensor. 22/08/1934, p.07. 1956 Nota de falecimento de Monteiro Neto ocorrido no dia anterior. 16/08/1956, p.07. Nota para a missa de sétimo dia do falecimento de Monteiro Neto. 21/08/1956, p.11. Correio do Povo 1931 Exposição Agrícola, Pastoril e Industrial. 25/10/1931, p.13. Brilhante demonstração do trabalho rio-grandense. 20/11/1931, p.07. 1940 Assignado hontem, o contrato para a construção das primeiras quarenta e nove casas da Villa Bancária. Notícia sobre a construção de casas e de dois edifícios, um na esquina da 338 Gen. Vasco Alves (de 30 apartamentos), com projeto de João Monteiro Neto, e outro (em estudos) na Av. Borges de Medeiros. 20/02/40, p.09. A Empreza Irmãos Pianca brinda a cidade com seu mais belo e luxuoso cinema. Notícia sobre o contrato de arrendamento do cinema Vera Cruz (atual Victória) acompanhado de perspectiva do edifício. 08/05/40, p.02. Escola de medicina do Rio Grande do Sul. Nota sobre o projeto de um edifício a ser construído para a Faculdade, de autoria da Barcellos & Cia. 27/09/40, p.04. 1941 Associação Riograndense de Imprensa. Reportagem sobre as eleições da ARI e a aprovação do projeto de construção da nova sede de um edifício com 10 pisos na Av. Borges de Medeiros. 29/04/41, p.07. 1947 Publicidade de inauguração do Cine Marabá. 19/03/47, p.09. A Arquitetura em Porto Alegre. 08/05/47, p.07. RYFF, Raul Francisco. Precisa-se de uma Plano Diretor. 21/09/47, p.14. Revista do Globo 1929 Suplemento Construções. 29/09/29, ano I nº 18, s.p. Será possível substituir o ferro do concreto armado? 29/09/29, ano I nº 18, Suplemento Construções, s.p. LAMPERT, Jacques. Que é o urbanismo: cidades velhas e cidades novas. 29/09/29, ano I nº 18, Suplemento Construções, s.p. Construções em cimento armado. 29/09/29, ano I nº 18, Suplemento Construções, s.p. A arquitetura moderna. 14/12/29, ano I nº 23, Suplemento Construções, s.p. 1930 Escola Médico-Cirurgica. 30/08/30, ano II nº 16, s.p. Um novo arranha-céo em Nova York. 11/01/30, ano II nº 01, Suplemento Construções, s.p. As paredes, o soalho e tecto. 25/01/30, ano II nº 02, Suplemento Construções, s.p. Casas Geminadas. 08/02/30, ano II nº 03, Suplemento Construções, s.p. Casas Geminadas. 29/02/30, ano II nº 04, Suplemento Construções, s.p. 339 Porto Alegre Moderno. 12/04/30, ano II nº 07, s.p. 1931 Arquitetura. 31/01/31, ano III nº 04, s.p. Publicidade: Barcellos & Cia. 28/03/31, ano III nº 10, s.p. Publicidade: Barcellos & Cia. 11/04/31, ano III nº 11, s.p. MONTEIRO NETO, J.A. Como fazer uma casa. 25/04/31, ano III nº 12, s.p. MONTEIRO NETO, J.A. Como fazer uma casa. 09/05/31, ano III nº 13, s.p. MONTEIRO NETO, J.A. Como fazer uma casa. 08/06/31, ano III nº 15, s.p. MONTEIRO NETO, J.A. Como fazer uma casa. 20/06/31, ano III nº 16, s.p. MONTEIRO NETO, J.A. Como fazer uma casa. 04/07/31, ano III nº 17, s.p. MONTEIRO NETO, J.A. Como fazer uma casa. 18/07/31, ano III nº 18, s.p. MONTEIRO NETO, J.A. Como fazer uma casa. 15/08/31, ano III nº 20, s.p. MONTEIRO NETO, J.A. Como fazer uma casa. 29/08/31, ano III nº 21, s.p. Perspectiva do anteprojeto do Edifício Frederico Mentz. 29/08/31, ano III nº 21, s.p. MONTEIRO NETO, J.A. Como fazer uma casa. 26/09/31, ano III nº 23, s.p. MONTEIRO NETO, J.A. Como fazer uma casa. 10/10/31, ano III nº 24, s.p. Arquitetura Contemporânea. 24/10/31, ano III nº 25, s.p. Publicidade: Barcellos & Cia. 07/11/31, ano III nº 26, s.p. Projeto de Residência. 07/11/31, ano III nº 26, s.p. A Nossa Exposição. 21/11/31, ano III nº 27, s.p. 1932 Arquitetura. 13/02/32, ano IV nº 03, s.p. Vivendas Pitorescas. 17/02/32, ano IV nº 04, s.p. A Cidade das Vertigens. 12/03/1932, ano IV nº 05, s.p. Arquitetura. 24/09/32, ano IV nº 19, s.p. Arquitetura. 08/10/32, ano IV nº 20, s.p. Publicidade: Studio Monteiro Neto. 05/11/32, ano IV nº 22, s.p. Uma boa casa. 05/11/32, ano IV nº 22, s.p. Arquitetura. 19/11/1932, ano IV nº 23, s.p. 1933 A linha moderna. 19/04/33, ano V nº 07, s.p. 340 Lista de ilustrações Figura 01: Palácio da Polícia, projeto original para o Instituto Santa Luzia (1947). Foto de 2012. Pg. 11. Figura 02: Ed. Armando Giampaoli (1941), avenida Alberto Bins esq. Rua da Conceição. Foto de 2012. Pg. 11. Figura 03: Ed. da Associação Riograndense de Imprensa (1942). Foto de 2012. Pg. 12. Figura 04: Palacete Armando Giampaoli (1943). Foto de 2012. Pg. 13. Figura 05: Casa Hélio Luiz Ribeiro (1951). Foto de 2012. Pg. 13. Figura 06: Ed. Palmeiro (1934). Foto de 2011. Pg. 14. Figura 07: Ed. São Pedro (1940). Foto de 2012. Pg. 14. Figura 08: Centro Israelita Porto Alegrense (1950). Foto de 2012. Pg. 15. Figura 09: Casa Otto L. Ely (1956). Foto de 2012. Pg. 15. Figura 10: Ed. Vera Cruz (1939). Pg. 16. Figura 11: Praça da Alfândega na década de 30. Pg. 18. Figura 12: Rua dos Andradas nos anos 30. Pg. 18. Figura 13: Vista de Porto Alegre na década de 30. Pg. 19. Figura 14: Rua General Câmara esquina com a Rua dos Andradas no ano de 1922. Pg. 19. Figura 15: Praça da Alfândega nos anos 30. Pg. 19. Figura 16: Bairro Floresta nos anos 30. Pg. 20. Figura 17: Parque Farroupilha e avenida João Pessoa nos anos 20. Pg. 20. Figura 18: Rua Voluntários da Pátria na década de 20. Pg. 21. Figura 19: Avenida João Pessoa na década de 20. Pg. 21. Figura 20: Avenida Otávio Rocha na década de 20. Pg. 22. Figura 21: Avenida Independência esquina com a rua Garibaldi (1920). Pg. 22. Figura 22: Localização das atividades em Porto Alegre por volta de 1920. Pg. 22. Figura 23: Obras da avenida Borges de Medeiros (década 20/30). Pg. 23. Figura 24: Vista aérea de Porto Alegre (década 20/30). Pg. 23. Figura 25: Primeira página da “folha-corrida” anexa ao processo junto ao CREA-RS. Pg. 24. Figura 26: Mapa do loteamento de Ipanema no Rio de Janeiro executado pela Companhia Construtora Ipanema. Pg. 25. Figura 27: Torre da Catedral de São Pedro de Alcântara. Pg. 25. Figura 28: Licença profissional do Estado do Paraná. Pg. 26. Figura 29: Declaração da Intendência Municipal de Porto Alegre. Pg. 27. Figura 30: Publicidade no Jornal Diário de Notícias da construtora Barcellos & Cia. Pg. 28. Figura 31: Selo da construtora Barcellos & Cia. para a casa de Oswaldo Coufal. Pg. 29. Figura 32: Publicidade na Revista do Globo da construtora Barcellos & Cia. Pg. 29. 341 Figura 33: Figura 34: Figura 35: Figura 36: Figura 37: Figura 38: Figura 39: Figura 40: Figura 41: Figura 42: Figura 43: Figura 44: Figura 45: Figura 46: Figura 47: Figura 48: Figura 49: Figura 50: Figura 51: Figura 52: Figura 53: Figura 54: Figura 55: Figura 56: Figura 57: Figura 58: Selo da construtora Barcellos & Cia para a casa de Emílio Fernandes das Néves. Pg. 30. Selo da construtora Barcellos & Cia para a casa de Dario Brossard. Pg. 30. Selo da construtora Barcellos & Cia para o castelo de Armando Berlese. Pg. 30. Perspectiva de um anteprojeto para o Edifício Frederico Mentz. Pg. 30. Publicidade na Revista do Globo do Studio Monteiro Neto. Pg. 31. Selo do Studio Monteiro Neto no projeto para Caixa Econômica Federal. Pg. 31. Publicidade no Jornal Diário de Notícias da Predial Sul América S. A. Pg. 32. Assinatura de Monteiro Neto nos projetos do Edifício Vera Cruz. Pg. 32. Avenida Borges de Medeiros onde vários edifícios da empresa Azevedo Moura & Gertum foram construídos. Pg. 33. Edifício Sulacap construído pela firma Azevedo Moura & Gertum logo após o Edifício Vera Cruz. Pg. 33. Perspectiva do edifício Vera Cruz juntada ao atestado de trabalho de Monteiro Neto na empresa Azevedo Moura & Gertum. Pg. 34. Perspectiva da Associação Riograndense de Imprensa juntada a uma declaração da empresa Spolidoro & Cia. Pg. 35. Perspectiva do edifício para a Secretaria da Agricultura Indústria e Comércio. Pg. 36. Imagem da Escola Médio-cirúrgica ilustrada na Revista do Globo. Pg. 36. Nota de falecimento do Arquiteto J. Monteiro Neto. Pg. 37. Carteira profissional de Monteiro Neto emitida em 20 de março de 1939. Pg. 37. Reportagem sobre o decreto 23.569 de 11 de dezembro de 1933 no jornal Diário de Notícias. Pg. 38. Pedido do registro de arquiteto junto ao CREA-RS em 15 de agosto de 1934. Pg. 39. Declaração da Predial Sul América Ltda. Anexo no pedido de registro de arquiteto junto ao CREA-RS. Pg. 40. Resposta do Administrador da Mesa de Rendas certificando a lotação de Monteiro Neto como “Construtor”. Pg. 41. Solicitação de Monteiro Neto para alterar sua licença de “Construtor” para “projetista com a faculdade de fiscalizar a execução dos projetos que elaborar”. Pg. 42. Certificado de indeferimento emitido pelo CREA-RS em 30 de dezembro de 1939. Pg. 43. Resposta do CONFEA a solicitação de Monteiro Neto assinada pelo então presidente da instituição Adolfo Morales do los Rios. Pg. 44. Correspondência endereçada diretamente ao Presidente do CREA-RS, Lélis Espartel, em 26 de abril de 1942. Pg. 45. Parecer do Conselheiro Ulysses M. A. de Alcantara sobre processo de Monteiro Neto. Pg. 46. Solicitação de Monteiro Neto para aumentar seu limite de projetista em 28 de julho de 1949. Pg. 47. 342 Figura 59: Ofício que encerra o processo de Monteiro Neto junto ao CREA-RS devido o seu falecimento. Pg. 48. Figura 60: Carteira profissional de Monteiro Neto emitida em 6 de setembro de 1943. Pg. 49. Figura 61: Página do primeiro jornal da capital gaúcha: O Diário de Porto Alegre. Pg. 52. Figura 62: Sede do jornal Diário de Notícias na Rua dos Andradas. Momento em que um vândalo joga uma máquina de escrever pela janela antes do prédio ser incendiado em 24 de agosto de 1954. Pg. 53. Figura 63: Primeira sede do jornal Correio do Povo na Rua dos Andradas. Pg. 54. Figura 64: Título e ilustração da primeira publicação sobre construção e arquitetura do jornal Diário de Notícias. Pg. 55. Figura 65: Título e ilustração da segunda publicação sobre construção e arquitetura do jornal Diário de Notícias. Pg. 56. Figura 66: Primeira publicação com o título “Para quem quer construir”. Pg. 57. Figura 67: Destaque para o título dos artigos. Pg. 58. Figura 68: Complementação do título do artigo. Pg. 58. Figura 69: Apresentação do autor do artigo. Pg. 58. Figura 70: Assinatura do autor junto a ilustração do artigo. Pg. 58. Figura 71: Ilustração do artigo de 28/09/30. Pg. 59. Figura 72: Ilustração do artigo de 08/02/31. Pg. 59. Figura 73: Ilustração do artigo de 12/04/31. Pg. 60. Figura 74: Ilustração do artigo de 26/07/31. Pg. 60. Figura 75: Ilustração do artigo de 15/02/31. Pg. 61. Figura 76: Planta baixa do térreo no artigo de 15/02/31. Pg. 61. Figura 77: Planta baixa do pav. superior no artigo de 15/02/31. Pg. 61. Figura 78: Ilustração do artigo de 10/05/31. Pg. 62. Figura 79: Planta baixa do térreo no artigo de 10/05/31. Pg. 62. Figura 80: Planta baixa do pav. superior no artigo de 10/05/31. Pg. 62. Figura 81: Ilustração do artigo de 17/05/31. Pg. 63. Figura 82: Plantas baixas da crônica de 17/05/31. Pg. 63. Figura 83: Ilustração do artigo de 23/08/31. Pg. 64. Figura 84: Ilustração e plantas baixas do artigo de 05/04/31. Pg. 65. Figura 85: Ilustração do artigo de 11/01/31. Pg. 66. Figura 86: Ilustração do artigo de 19/07/31. Pg. 66. Figura 87: Ilustração do artigo de 18/01/31. Pg. 67. Figura 88: Planta baixa que exemplifica a fachada do artigo de 18/01/31. Pg. 67. Figura 89: Ilustração e plantas baixas do artigo de 29/03/31. Pg. 68. Figura 90: Ilustração e plantas baixas do artigo de 05/07/31. Pg. 69. Figura 91: Ilustração do artigo de 03/05/31. Pg. 70. Figura 92: Ilustração do artigo de 14/06/31. Pg. 70. 343 Figura 93: Plantas baixas do artigo de 03/05/31. Pg. 70. Figura 94: Ilustração e plantas baixas do artigo de 30/08/31. Pg. 71. Figura 95: Ilustração do artigo de 02/08/31. Pg. 72. Figura 96: Planta baixa do térreo da ilustração do artigo de 02/08/31. Pg. 72. Figura 97: Planta baixa do pav. superior da ilustração do artigo de 02/08/31. Pg. 72. Figura 98: Ilustração do artigo de 15/01/33. Pg. 73. Figura 99: Ilustração do artigo de 19/02/33. Pg. 73. Figura 100: Imagem de parte do primeiro artigo de Miranda Netto no jornal Correio do Povo. Pg. 74. Figura 101: Ilustração do artigo de 20/09/31. Pg. 74. Figura 102: Perspectiva que ilustra o processo 21.077, do microfilme nº 49, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre aprovado em dezembro de 1931. Pg. 74. Figura 103: Ilustração do artigo de 07/09/30. Pg. 75. Figura 104: Planta baixa da ilustração do artigo de 07/09/30. Pg. 75. Figura 105: Ilustração do artigo de 15/03/31. Pg. 76. Figura 106: Planta baixa da ilustração do artigo de 15/11/31. Pg. 76. Figura 107: Ilustração do artigo de 16/11/30. Pg. 77. Figura 108: Planta baixa da ilustração do artigo de 16/11/30. Pg. 77. Figura 109: Ilustração do artigo de 22/03/31. Pg. 78. Figura 110: Ilustração do artigo de 13/12/31. Pg. 79. Figura 111: Foto publicada no artigo de 13/12/31 a qual é o resultado da ilustração do artigo de 23/11/30 do mesmo jornal mostrada na página seguinte. Pg. 80. Figura 112: Ilustração do artigo de 23/11/30. Pg. 81. Figura 113: Planta baixa do térreo no artigo de 23/11/30. Pg. 81. Figura 114: Planta baixa do pav. superior no artigo de 23/11/30. Pg. 81. Figura 115: Ilustração do artigo de 14/12/30. Pg. 82. Figura 116: Ilustração do artigo de 25/01/31. Pg. 82. Figura 117: Ilustração do artigo de 24/05/31. Pg. 83. Figura 118: Plantas baixas do artigo de 24/05/31. Pg. 83. Figura 119: Ilustração do artigo de 27/09/31. Pg. 84. Figura 120: Ilustração do artigo de 25/10/31. Pg. 85. Figura 121: Planta baixa do térreo no artigo de 25/10/31. Pg. 85. Figura 122: Planta baixa do pav. superior no artigo de 25/10/31. Pg. 85. Figura 123: Ilustrações do artigo de 22/01/33. Pg. 86. Figura 124: Ilustração do artigo de 21/09/30. Pg. 87. Figura 125: Ilustração do artigo de 21/12/30. Pg. 87. Figura 126: Ilustração do artigo de 28/12/30. Pg. 88. Figura 127: Ilustração do artigo de 19/04/31. Pg. 89. Figura 128: Ilustração da casa “padrão” do artigo de 04/01/31. Pg. 90. 344 Figura 129: Texto de abertura do Suplemento Construções da Revista do Globo. Pg. 91. Figura 130: Texto sobre urbanismo do Suplemento Construções da Revista do Globo. Pg. 92. Figura 131: Título das crônicas de Monteiro Neto na Revista do Globo. Pg. 93. Figura 132: Imagem que ilustra o artigo da edição ano III, nº 16 da Revista do Globo. Pg. 93. Figura 133: Imagem que ilustra o artigo da edição ano III, nº 12 da Revista do Globo. Pg. 94. Figura 134: Imagem que ilustra o artigo da edição ano III, nº 13 da Revista do Globo. Pg. 94. Figura 135: Imagem que ilustra o artigo da edição ano III, nº 20 da Revista do Globo. Projeto executado no ano de 1932 para o Sr. Herbert Von Brixen-Montzel, conforme processo nº 8.793, do microfilme nº 51, no Arquivo Público Municipal de Porto Alegre. Pg. 95. Figura 136: Imagem que ilustra o artigo da edição ano III, nº 16 da Revista do Globo. Pg. 96. Figura 137: Imagem que ilustra o artigo da edição ano III, nº 18 da Revista do Globo. Pg. 96. Figura 138: Imagem que ilustra o artigo da edição ano IV, nº 03 da Revista do Globo. Pg. 96. Figura 139: Imagem que ilustra o artigo da edição ano IV, nº 19 da Revista do Globo. Pg. 96. Figura 140: Ilustração do artigo de 13/10/32 (prefeitura de Hilversum (1928-31), na Holanda, de W. M. Dudok). Pg. 97. Figura 141: Três arranjos de plantas para casas econômicas que ilustram o artigo de 15/09/32 de autoria do próprio Miranda Netto. Pg. 97. Figura 142: Segunda ilustração do artigo de 13/10/32 (prefeitura de Hilversum (1928-31), na Holanda, de W. M. Dudok). Pg. 98. Figura 143: Perspectiva de Miranda Netto demonstrando o arranjo de móveis para a sala principal de uma residência. Ilustração do artigo de 29/09/32. Pg. 98. Figura 144: Estádio Giovanni Berta (1932) de Píer Luigi Nervi e a Casa de Montanha em Taumes de Peter Behrens que ilustram o artigo de 19/01/33. Pg. 99. Figura 145: Teatro João Caetano no Rio de Janeiro que ilustra o artigo de 21/01/33. Pg. 100. Figura 146: Projeto de um asilo e casa de repouso do arquiteto Schneck, de Stuttgart, que ilustra o artigo de 06/10/32. Pg. 100. Figura 147: Planta modelo para casas econômicas, organizada por Miranda Netto, que ilustra o artigo de 22/09/32. Pg. 101. Figura 148: Arranjo de uma sala de jantar que ilustra o artigo sobre mobiliário e decoração de 02/02/33. Pg. 101. Figura 149: Título do artigo de 02/03/33. Pg. 102. Figura 150: Título do artigo de 09/03/33. Pg. 102. Figura 151: Mapa da cidade com identificação dos locais dos projetos de Monteiro Neto (mapa geral). Pg. 104. Figura 152: Mapa da cidade com identificação dos locais dos projetos de Monteiro Neto (região central). Pg. 105. Figura 153: Mapa da cidade com identificação dos locais dos projetos de Monteiro Neto (região norte). Pg. 106. 345 Figura 154: Mapa da cidade com identificação dos locais dos projetos de Monteiro Neto (região leste). Pg. 107. Figura 155: Mapa da cidade com identificação dos locais dos projetos de Monteiro Neto (região sul). Pg. 108. Figura 156: Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre (1930). Pg. 109. Figura 157: Casa Manlio Agrifoglio (1931). Pg. 109. Figura 158: Pórtico Monumental para a Exposição Agro-Pecuária e Industrial (1931). Pg. 110. Figura 159: Casa Ernesto Essenfelder (1931). Pg. 110. Figura 160: Casa Herbert Von Brixen-Montzel (1932). Pg. 111. Figura 161: Casa Emílio Fernandes das Néves (1932). Pg. 111. Figura 162: Grêmio Gaúcho (1933). Pg. 112. Figura 163: Casa Octávio de Souza (1933). Pg. 112. Figura 164: Casa Djalma Jobim (1933). Pg. 113. Figura 165: Casa Leopoldo Freyre Pinto (1933). Pg. 113. Figura 166: Casa da Brigada Militar do Estado (1933). Pg. 114. Figura 167: Casa com proprietário não identificado (1933). Pg. 114. Figura 168: Casa Leopoldo R. Schreiner (1933). Pg. 115. Figura 169: Casa Manoel Martins Costa Sobrinho (1933). Pg. 115. Figura 170: Estação de trens Liliputis no Parque da Redenção. Pg. 116. Figura 171: Imagem da Escola Médio-cirúrgica ilustrada na Revista do Globo. Pg. 116. Figura 172: Artigo no jornal Diário de Notícias sobre a implantação de uma estrada de ferro liliputiana no parque da Redenção. Pg. 117. Figura 173: Fachada frontal da Estação de trens Liliputis no Parque da Redenção. Pg. 118. Figura 174: Planta baixa do percurso dos trilhos e da Estação. Pg. 118. Figura 175: Fachada lateral da Estação de trens Liliputis no Parque da Redenção. Pg. 119. Figura 176: Local onde seria construída a nova sede para a Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre, na avenida João Pessoa próximo do Parque da Redenção e Colégio Militar. Pg. 120. Figura 177: Fachada da Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre. Pg. 121. Figura 178: Planta Baixa do pavimento térreo da Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre. Pg. 121. Figura 179: Planta Baixa do segundo pavimento da Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre. Pg. 122. Figura 180: Corte longitudinal da Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre. Pg. 123. Figura 181: Corte transversal da Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre. Pg. 123. Figura 182: Fachada frontal da casa Serapião Mariante Guimarães. Pg. 124. Figura 183: Plantas baixas da casa Serapião Mariante Guimarães. Pg. 124. Figura 184: Planta do pavimento térreo da casa Paulo Alberto Seimmeher. Pg. 125. Figura 185: Planta do segundo pavimento da casa Paulo Alberto Seimmeher. Pg. 125. Figura 186: Fachada da casa Paulo Alberto Seimmeher. Pg. 125. 346 Figura 187: Fachada da casa Ernesto Essenfelder. Pg. 125. Figura 188: Plantas baixas da casa Ernesto Essenfelder. Pg. 125. Figura 189: Perspectiva da casa Manlio Agrifoglio. Pg. 126. Figura 190: Fachada da casa Manlio Agrifoglio. Pg. 126. Figura 191: Plantas baixas da casa Manlio Agrifoglio. Pg. 127. Figura 192: Corte transversal da casa Manlio Agrifoglio. Pg. 128. Figura 193: Corte longitudinal da casa Manlio Agrifoglio. Pg. 128. Figura 194: Perspectiva da casa Oswaldo Coufal. Pg. 129. Figura 195: Fachada da casa Oswaldo Coufal. Pg. 129. Figura 196: Planta baixa da casa Oswaldo Coufal. Pg. 130. Figura 197: Fachada de fundos da casa Oswaldo Coufal. Pg. 130. Figura 198: Casa de Coufal em construção no ano de 1931. Pg. 131. Figura 199: Perspectiva ilustrando a Exposição Agrícola, Pastoril e Industrial de 1931. Pg. 132. Figura 200: Foto datada de 29 de outubro de 1931 do andamento das obras do Pórtico Monumental. Pg. 133. Figura 201: Foto do Pórtico Monumental em noticiário do dia da sua inauguração. Pg. 133. Figura 202: Foto do Pórtico Monumental em nota sobre a Exposição no jornal Diário de Notícias. Pg. 134. Figura 203: Foto do Pórtico Monumental em nota sobre a Exposição na Revista do Globo. Pg. 134. Figura 204: Parte do projeto de ampliação para o Dr. Armando Bello Barbedo. Pg. 135. Figura 205: Fachada principal da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Pg. 135. Figura 206: Fachada frontal da casa Emílio Fernandes das Néves. Pg. 135. Figura 207: Casa Herbert Von Brixen-Montzel. Foto de 2012. Pg. 136. Figura 208: Detalhe da passagem de automóvel da casa Herbert Von Brixen-Montze. Foto de 2012. Pg. 136. Figura 209: Planta baixa do térreo da casa Emílio Fernandes das Néves. Pg. 137. Figura 210: Planta baixa do térreo da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Pg. 137. Figura 211: Corte transversal da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Pg. 137. Figura 212: Identificação no projeto da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Pg. 137. Figura 213: Detalhe construtivo da escada da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Pg. 138. Figura 214: Planta baixa do pav. superior da casa Emílio Fernandes das Néves. Pg. 138. Figura 215: Planta baixa do pav. superior da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Pg. 138. Figura 216: Fachada principal da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Pg. 139. Figura 217: Fachada lateral direita da casa Herbert Von Brixen-Montze. Pg. 139. Figura 218: Detalhe do frontão, pináculo e balcão na fachada principal da casa Herbert Von BrixenMontzel. Pg. 139. Figura 219: Fachada Lateral Esquerda da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Pg. 140. Figura 220: Corte longitudinal da casa Herbert Von Brixen-Montzel. Pg. 140. Figura 221: Fachada frontal da casa Emílio Fernandes das Néves. Pg. 141. 347 Figura 222: Fachada de fundos da casa Emílio Fernandes das Néves. Pg. 141. Figura 223: Planta baixa do térreo da casa Emílio Fernandes das Néves (esq.). Pg. 142. Figura 224: Planta baixa do pavimento superior da casa Emílio Fernandes das Néves (dir.). Pg. 142. Figura 225: Corte transversal da casa Emílio Fernandes das Néves. Pg. 142. Figura 226: Fachada lateral da casa Emílio Fernandes das Néves. Pg. 143. Figura 227: Casa Emílio Fernandes das Néves (1933). Foto de 2011. Pg. 143. Figura 228: Muro de fechamento frontal, parte do projeto aprovado na Prefeitura. Pg. 143. Figura 229: Plantas baixas dos pavimentos térreo e sobreloja do edifício José Honorato dos Santos. Pg. 144. Figura 230: Fachada do edifício José Honorato dos Santos. Pg. 145. Figura 231: Corte longitudinal do edifício José Honorato dos Santos. Pg. 145. Figura 232: Plantas baixas dos pavimentos tipo e terraço do edifício José Honorato dos Santos. Pg. 145. Figura 233: Fachada de uma casa com proprietário não identificado. Pg. 146. Figura 234: Plantas baixas de uma casa com proprietário não identificado. Pg. 146. Figura 235: Plantas baixas, localização e fachadas da casa Oswaldo Bopp. Pg. 146. Figura 236: Fachada da casa Armando Ferreira. Pg. 147. Figura 237: Planta baixa da casa Armando Ferreira. Pg. 147. Figura 238: Casa Júlio Gravorski (1933). Foto de 2011. Pg. 148. Figura 239: Plantas baixas da casa Júlio Gravorski. Pg. 148. Figura 240: Plantas baixas, localização, cortes e fachadas da casa da Brigada Militar do Estado. Pg. 149. Figura 241: Fachada da casa Leopoldo R. Schreiner. Pg. 149. Figura 242: Plantas baixas da casa Leopoldo R. Schreiner. Pg. 149. Figura 243: Fachada da casa Manoel Martins Costa Sobrinho. Pg. 150. Figura 244: Planta baixa da casa Manoel Martins Costa Sobrinho. Pg. 150. Figura 245: Grêmio Gaúcho (1933) visto da esquina. Foto de 2012. Pg. 151. Figura 246: Grêmio Gaúcho (1933) visto do seu acesso lateral. Foto de 2012. Pg. 151. Figura 247: Planta do pavimento térreo do Grêmio Gaúcho. Pg. 152. Figura 248: Fachada principal do Grêmio Gaúcho. Pg. 152. Figura 249: Corte transversal do Grêmio Gaúcho (esq.). Pg. 153. Figura 250: Corte longitudinal do Grêmio Gaúcho (dir.). Pg. 153. Figura 251: Planta do pavimento superior do Grêmio Gaúcho. Pg. 153. Figura 252: Fachada da casa Leonildo Sartori. Pg. 154. Figura 253: Detalhe da fachada mostrado em planta da casa Leonildo Sartori. Pg. 154. Figura 254: Plantas baixas da casa Leonildo Sartori. Pg. 155. Figura 255: Pórtico de entrada e vitral da escada. Foto de 2011. Pg. 155. Figura 256: Ornamentação executada na casa Leonildo Sartori. Foto de 2011. Pg. 156. Figura 257: Cortes da casa Leonildo Sartori. Pg. 156. 348 Figura 258: Fachada da casa Leopoldo Freyre Pinto. Pg. 157. Figura 259: Corte transversal da casa Leopoldo Freyre Pinto. Pg. 157. Figura 260: Planta baixa do térreo da casa Leopoldo Freyre Pinto. Pg. 158. Figura 261: Planta baixa do pav. superior da casa Leopoldo Freyre Pinto. Pg. 158. Figura 262: Corte longitudinal da casa Leopoldo Freyre Pinto. Pg. 158. Figura 263: Casa Djalma Jobim. Foto de 2012. Pg. 159. Figura 264: Fachada frontal da casa Djalma Jobim. Pg. 159. Figura 265: Imagem aérea da localização da casa Djalma Jobim. Pg. 160. Figura 266: Corte longitudinal da casa Djalma Jobim. Pg. 160. Figura 267: Plantas baixas da casa Djalma Jobim. Pg. 160. Figura 268: Corte transversal da casa Djalma Jobim. Pg. 161. Figura 269: Fachada lateral da casa Djalma Jobim. Pg. 161. Figura 270: Casa Octávio de Souza. Foto de 2012. Pg. 162. Figura 271: Fachada da casa Octávio de Souza. Pg. 162. Figura 272: Imagem aérea da localização da casa Octávio de Souza. Pg. 163. Figura 273: Planta baixa do térreo da casa Octávio de Souza (esq.). Pg. 163. Figura 274: Planta baixa do pav. superior da casa Octávio de Souza (dir.). Pg. 163. Figura 275: Corte longitudinal da casa Octávio de Souza. Pg. 163. Figura 276: Fachada lateral da casa Octávio de Souza. Pg. 164. Figura 277: Corte transversal da casa Octávio de Souza. Pg. 164. Figura 278: Ed. Palmeiro (1934). Pg. 165. Figura 279: Castelo Armando Berlese (1936). Pg. 165. Figura 280: Casa Bruno Bopp (1937). Pg. 166. Figura 281: Reforma da fachada para Alfredo Mariath (1938). Pg. 166. Figura 282: Ed. José Pedro Godoy (1939). Pg. 167. Figura 283: Casa Antonia Carvalho. Pg. 168. Figura 284: Casa Dario Brossard. Pg. 168. Figura 285: Ed. Palmeiro. Pg. 168. Figura 286: Edifício Palmeiro. Foto de 2012. Pg. 169. Figura 287: Imagem aérea da localização do Ed. Palmeiro na esquina da avenida Otávio Rocha e a rua Vigário José Inácio. Pg. 169. Figura 288: Fachada do Ed. Palmeiro para a avenida Otávio Rocha. Pg. 170. Figura 289: Eixo de acesso aos andares superiores. Foto de 2012. Pg. 170. Figura 290: Plantas baixas, corte longitudinal e fachada da rua Vigário José Inácio do Ed. Palmeiro. Pg. 171. Figura 291: Vista da fachada da avenida Otávio Rocha no lado oposto à esquina da rua Vigário José Inácio. Foto de 2012. Pg. 171. Figura 292: Corte transversal do Ed. Palmeiro. Pg. 171. Figura 293: Vista do edifício Guaspari de 1936. Pg. 172. 349 Figura 294: Fachada da casa Antonia Carvalho. Pg. 173. Figura 295: Corte transversal da casa Antonia Carvalho. Pg. 174. Figura 296: Plantas baixas da casa Antonia Carvalho. Pg. 174. Figura 297: Corte longitudinal da casa Antonia Carvalho. Pg. 175. Figura 298: Plantas baixas da casa Dario Brossard. Pg. 176. Figura 299: Casa Dario Brossard em vista frontal. Foto de 2011. Pg. 176. Figura 300: Fachada da casa Dario Brossard. Pg. 177. Figura 301: Casa Dario Brossard em vista diagonal. Foto de 2011. Pg. 177. Figura 302: Fachada do castelo Armando Berlese. Pg. 178. Figura 303: Situação e localização do castelo Armando Berlese. Pg. 178. Figura 304: Plantas baixas do castelo Armando Berlese. Pg. 179. Figura 305: Corte longitudinal do castelo Armando Berlese. Pg. 179. Figura 306: Corte transversal do castelo Armando Berlese. Pg. 179. Figura 307: Fachada da casa João Kinijnik. Pg. 180. Figura 308: Fachada da casa Bruno Bopp. Pg. 181. Figura 309: Plantas baixas da casa Bruno Bopp. Pg. 181. Figura 310: Fachada da casa Aden Rosa. Pg. 182. Figura 311: Imagem atual da casa Aden Rosa. Pg. 183. Figura 312: Localização da casa Aden Rosa. Pg. 184. Figura 313: Corte transversal da casa Aden Rosa. Pg. 184. Figura 314: Plantas baixas da casa Aden Rosa. Pg. 184. Figura 315: Plantas baixas da casa Girolamo Moresco. Pg. 185. Figura 316: Fachada da casa Girolamo Moresco. Pg.185. Figura 317: Corte transversal da casa Girolamo Moresco. Pg. 185. Figura 318: Reforma da fachada da edificação de Alfredo Mariath. Pg. 186. Figura 319: Plantas baixas do edifício José Pedro Godoy. Pg. 187. Figura 320: Corte transversal do edifício José Pedro Godoy. Pg. 187. Figura 321: Fachada do edifício José Pedro Godoy. Pg. 187. Figura 322: Corte longitudinal do edifício José Pedro Godoy. Pg. 187. Figura 323: Imagem da fachada da Livraria Selbach. Pg. 188. Figura 324: Planta baixa do térreo no projeto de reforma da Livraria Selbach. Pg. 189. Figura 325: Fachada da Livraria Selbach. Pg. 189. Figura 326: Detalhes do projeto de reforma da Livraria Selbach. Pg. 189. Figura 327: Fachada da casa Nilo Marsiaj. Pg. 189. Figura 328: Fachada da casa Oscar Gertum. Pg. 190. Figura 329: Ed. Vera Cruz antes do início das obras do Ed. Sulacap. Pg. 191. Figura 330: Rua 10 de Novembro, logo de seu alargamento, com o Edifício Vera Cruz como foco perspectivo. Pg. 191. Figura 331: Avenida Borges de Medeiros e o Edifício Vera Cruz em construção. Pg. 192. 350 Figura 332: Vista do lote ainda sem o edifício Vera Cruz construído. Pg. 192. Figura 333: Imagem aérea do edifício Vera Cruz com seu lote limitado pela avenida Borges de Medeiros, rua General Andrade Neves e travessa Engenheiro Acilino Carvalho. Pg. 193. Figura 334: Um dos lotes que formaria o terreno do edifício visto da travessa Engenheiro Acilino Carvalho. Pg. 193. Figura 335: Planta de situação do lote com indicações de acessos da proposta para o Edifício Vera Cruz. Pg. 194. Figura 336: Selo dos projetos das salas comerciais desenvolvidos durante a execução das obras do Edifício Vera Cruz. Pg. 194. Figura 337: Hall de entrada com grande valorização da iluminação no Cine Vera Cruz. Pg. 194. Figura 338: Sala de exibições e mezanino com assentos estofados no Cine Vera Cruz. Pg. 194. Figura 339: Planta baixa do pavimento térreo do Ed. Vera Cruz. Pg. 195. Figura 340: Fachada do Ed. Vera Cruz para a avenida Borges de Medeiros aprovada na Prefeitura. Pg. 195. Figura 341: Detalhe da fachada do Ed. Vera Cruz para a avenida Borges de Medeiros. Foto de 2011. Pg. 195. Figura 342: Planta livre do 3º ao 5º pavimento do Ed. Vera Cruz aprovada na Prefeitura. Pg. 196. Figura 343: Adaptação de andar comercial do Ed. Vera Cruz para consultório médico. Pg. 196. Figura 344: Planta baixa do 5º pavimento nas plantas executivas do Ed. Vera Cruz. Planta tipo do 2º ao 7º andar. Pg. 196. Figura 345: Adaptação de andar comercial do Ed. Vera Cruz para atender o escritório da Construtora Azevedo Moura & Gertum. Pg. 197. Figura 346: Fachada do Ed. Vera Cruz para a rua General Andrade Neves aprovada na Prefeitura. Pg. 198. Figura 347: Planta baixa do 10º pavimento nas plantas executivas do Ed. Vera Cruz. Planta tipo do 8º ao 14º andar. Pg. 198. Figura 348: Planta baixa do 15º pavimento nas plantas executivas do Ed. Vera Cruz. Pg. 199. Figura 349: Fachada do Ed. Vera Cruz voltada para a travessa Engenheiro Acilino Carvalho. Foto de 2011. Pg. 199. Figura 350: Ed. Vera Cruz em construção. Pg. 200. Figura 351: Ed. Vera Cruz em construção. Pg. 201. Figura 352: Detalhamento da janela padrão para o Ed. Vera Cruz. Pg. 202. Figura 353: Detalhamento da janela que seria executada nos andares comerciais no Ed. Vera Cruz. Pg. 202. Figura 354: Ed. Vera Cruz visto do cruzamento das avenidas Borges de Medeiros e Sen. Salgado Filho. Foto de 2012. Pg. 203. Figura 355: Comunicação entre as volumetrias dos edifícios Vera Cruz e Alcaraz. Foto de 2011. Pg. 204. Figura 356: Edifício Charrua de 1940. Foto de 2012. Pg. 204. 351 Figura 357: Edifício Cruzeiro do Sul de 1943. Foto de 2012. Pg. 204. Figura 358: Fachada das casas geminadas para Fernando Poli. Pg. 205. Figura 359: Plantas baixas das casas geminadas para Fernando Poli. Pg. 205. Figura 360: Planta baixa tipo do edifício Terra Lopes. Pg. 206. Figura 361: Fachada do edifício Terra Lopes. Pg. 206. Figura 362: Edifício Terra Lopes. Foto de 2011. Pg. 206. Figura 364: Plantas baixas do edifício Reunidos S.A.. Pg. 207. Figura 363: Fachada do edifício Reunidos S.A.. Pg. 207. Figura 365: Edifício São Pedro. Foto de 2012. Pg. 208. Figura 366: Planta baixa tipo do edifício São Pedro. Pg. 208. Figura 367: Ilustração de Monteiro Neto para o artigo sobre casas neocoloniais no livro “Pôrto Alegre: biografia duma cidade: monumento do passado, documento do presente, guia do futuro”. Pg. 209. Figura 368: Casa Ricardo Eichler (1943). Pg. 209. Figura 369: Casa Alcides Gonzaga (1941). Pg. 210. Figura 370: Casa para Caixa Econômica Federal (1944). Pg. 210. Figura 371: Casa José Eboli (1942). Pg. 211. Figura 372: Casa Ezequiel Ubatuba (1942). Pg. 211. Figura 373: Casa Dante Laytano (1942). Pg. 212. Figura 374: Fachada do Moinho Esperança. Pg. 213. Figura 375: Planta baixa do Moinho Esperança. Pg. 213. Figura 376: Fachada da casa Francisco da Silva Lanziotti. Pg. 214. Figura 377: Fachada da casa para a Cia. Predial e Agrícola. Pg. 214. Figura 378: Planta baixa da casa Francisco da Silva Lanziotti. Pg. 214. Figura 379: Planta baixa do pavimento tipo do edifício Armando Giampaoli. Pg. 215. Figura 380: Fachada do edifício Armando Giampaoli. Pg. 215. Figura 381: Imagem aérea com a localização do edifício Armando Giampaoli. Pg. 215. Figura 382: Fachada do edifício Armando Giampaoli para a avenida Alberto Bins. Pg. 216. Figura 383: Casa Alcides Gonzaga. Foto de 2012. Pg. 217. Figura 384: Fachada principal da casa Alcides Gonzaga. Pg. 217. Figura 385: Imagem aérea com a localização da casa Alcides Gonzaga. Pg. 218. Figura 386: Acesso atual através de um dos arcos da varanda. Foto de 2012. Pg. 218. Figura 387: Planta baixa do pavimento térreo da casa Alcides Gonzaga. Pg. 218. Figura 388: Planta baixa do pavimento superior da casa Alcides Gonzaga. Pg. 219. Figura 389: Corte transversal da casa Alcides Gonzaga. Pg. 219. Figura 390: Fachada lateral sul da casa Alcides Gonzaga. Pg. 219. Figura 391: Fachada lateral norte da casa Alcides Gonzaga. Pg. 219. Figura 392: Detalhe do torreão da casa Alcides Gonzaga. Pg. 220. Figura 393: Corte longitudinal da casa Alcides Gonzaga. Pg. 220. 352 Figura 394: Fachadas laterais da casa José Eboli. Pg. 221. Figura 395: Fachada frontal da casa José Eboli. Pg. 221. Figura 396: Planta baixa do pavimento térreo da casa José Eboli. Pg. 221. Figura 397: Fachada da casa Ezequiel Ubatuba. Pg. 222. Figura 398: Fachada oeste da casa Dante Laytano. Pg. 222. Figura 399: Lateral da casa Dante de Laytano. Foto 2012. Pg. 223. Figura 400: Detalhe do balcão sobre o acesso comum. Foto 2012. Pg. 223. Figura 401: Fachada principal da casa Dante de Laytano. Foto de 2012. Pg. 223. Figura 402: Detalhe do friso em azulejos da casa Dante de Laytano. Pg. 223. Figura 403: Planta de situação do ed. Eugênia Newlands d’Almeida. Pg. 224. Figura 404: Fachada do ed. Eugênia Newlands d’Almeida. Pg. 224. Figura 405: Fachada da casa Alberto Osvaldo Bopp para a rua Barão do Amazonas. Pg. 225. Figura 406: Planta de situação do ed. Eugênia Newlands d’Almeida. Pg. 225. Figura 407: Fachada da casa Alberto Osvaldo Bopp para a rua Felipe de Oliveira. Pg. 225. Figura 408: Planta baixa do pavimento térreo da casa Daly Lopes d’Almeida. Pg. 226. Figura 409: Planta baixa do segundo pavimento da casa Daly Lopes d’Almeida. Pg. 226. Figura 410: Fachadas da casa Daly Lopes d’Almeida. Pg. 226. Figura 411: Ilustração no Correio do Povo de 29/04/1941 com perspectiva do projeto para a “Casa do Jornalista”. Pg. 227. Figura 412: Ed. da Associação Riograndense de Imprensa (1942). Foto de 2012. Pg. 228. Figura 413: Planta do pavimento térreo do Edifício da Associação Riograndense de Imprensa. Pg. 229. Figura 414: Planta do pavimento tipo do Edifício da Associação Riograndense de Imprensa. Pg. 230. Figura 415: Planta baixa do 7º do Edifício da A.R.I. Pg. 231. Figura 416: Planta baixa do 8º do Edifício da A.R.I. Pg. 231. Figura 417: Planta baixa do 9º do Edifício da A.R.I. Pg. 231. Figura 418: Acesso ao ed. da Associação Riograndense de Imprensa. Foto de 2012. Pg. 231. Figura 419: Imagem aérea da localização da Associação Riograndense de Imprensa. Pg. 232. Figura 420: Fachada da casa Vicencia Giorgina Bruno. Pg. 233. Figura 421: Plantas baixas da casa Vicencia Giorgina Bruno. Pg. 233. Figura 422: Fachada da casa Arthur Coelho Borges. Pg. 234. Figura 423: Casa Arthur Coelho Borges. Foto de 2012. Pg. 234. Figura 424: Fachada da casa para a Cia. Predial e Agrícola. Pg. 235. Figura 425: Planta baixa da casa para a Cia. Predial e Agrícola. Pg. 235. Figura 426: Fachada principal da casa Armando Giampaoli. Pg. 236. Figura 427: Casa Armando Giampaoli. Foto de 2012. Pg. 236. Figura 428: Planta baixa do térreo da casa Armando Giampaoli. Pg. 237. Figura 429: Planta baixa do pav. superior da casa Armando Giampaoli. Pg. 237. Figura 430: Fachada lateral da casa Armando Giampaoli. Pg. 237. 353 Figura 431: Corte longitudinal da casa Armando Giampaoli. Pg. 237. Figura 432: Corte transversal da casa Armando Giampaoli. Pg. 237. Figura 433: Detalhe das janelas do pav. superior da casa Armando Giampaoli. Pg. 238. Figura 434: Detalhe do pórtico da casa Armando Giampaoli. Pg. 238. Figura 435: Fachada frontal da casa Harry Lubisco. Pg. 239. Figura 436: Fachada de fundos da casa Harry Lubisco. Pg. 239. Figura 437: Fachada lateral junto à garagem da casa Harry Lubisco. Pg. 239. Figura 438: Planta baixa do pavimento térreo da casa Harry Lubisco. Pg. 240. Figura 439: Planta baixa do segundo pavimento da casa Harry Lubisco. Pg. 240. Figura 440: Fachada lateral oposta ao anexo da garagem da casa Harry Lubisco. Pg. 241. Figura 441: Corte longitudinal da casa Harry Lubisco. Pg. 241. Figura 442: Fachada lateral (oeste) da casa Ricardo Eichler. Pg. 242. Figura 443: Casa Ricardo Eichler. Foto de 2012. Pg. 242. Figura 444: Fachada frontal (sul) da casa Ricardo Eichler. Pg. 242. Figura 445: Planta baixa do pavimento térreo da casa Ricardo Eichler. Pg. 243. Figura 446: Fachada lateral (leste) da casa Ricardo Eichler. Pg. 243. Figura 447: Planta baixa do segundo pavimento da casa Ricardo Eichler. Pg. 244. Figura 448: Selo de identificação no projeto da casa Ricardo Eichler. Pg. 244. Figura 449: Fachada dos fundos (norte) da casa Ricardo Eichler. Pg. 244. Figura 450: Fachada da primeira casa da Caixa Econômica Federal. Pg. 245. Figura 451: Plantas baixas da primeira casa da Caixa Econômica Federal. Pg. 245. Figura 452: Plantas baixas da segunda casa da Caixa Econômica Federal. Pg. 246. Figura 453: Fachadas da segunda casa da Caixa Econômica Federal. Pg. 246. Figura 454: Fachada da casa João Kalil Rechden. Pg. 247. Figura 455: Fachada da casa Áureo Abreu. Pg. 247. Figura 456: Fachada da casa Américo Silva. Pg. 248. Figura 457: Casa Ovídio Chaves. Foto de 2011. Pg. 248. Figura 458: Fachada frontal da casa Ovídio Chaves. Pg. 248. Figura 459: Fachada lateral da casa Ovídio Chaves. Pg. 248. Figura 460: Fachada da casa Annibal di Primio Beck. Pg. 249. Figura 461: Fachada de uma das casas Paulo Durant. Pg. 249. Figura 462: Planta baixa do pavimento térreo das casas Paulo Durant. Pg. 250. Figura 463: Planta baixa do segundo pavimento das casas Paulo Durant. Pg. 250. Figura 464: Interior do Cine Apollo (1914). Pg. 251. Figura 465: Entrada da seção de filme no Cinema Central (1939). Pg. 251. Figura 466: Entrada para uma das seções do Cine Victória. Pg. 252. Figura 467: Cine Thalia antes das intervenções de Monteiro Neto (1932). Pg. 252. Figura 468: Plantas baixas do térreo e segundo pavimentos do Cine Riviera. Pg. 253. Figura 469: Corte transversal com vista de fundos para frente do Cine Riviera. Pg. 253. 354 Figura 470: Corte transversal com vista do palco no Cine Riviera. Pg. 254. Figura 471: Fachada do Cine Riviera após as intervenções de Monteiro Neto. Pg. 254. Figura 472: Fachada para a avenida Eduardo (atual Presidente Franklin Roosevelt) do Cine Riviera. Pg. 254. Figura 473: Corte longitudinal do Cine Riviera. Pg. 255. Figura 474: Detalhe do volume de acesso do Cine Riviera. Pg. 255. Figura 475: Selo nos projetos arquivados do Cine Riviera. Pg. 255. Figura 476: Cinema Palácio (1928), anterior ao projeto de Monteiro Neto para o Cine Palace no mesmo lote. Pg. 256. Figura 477: Corte longitudinal do Cine Palace. Pg. 257. Figura 478: Fachada do Cine Palace. Pg. 257. Figura 479: Fachada do cinema após a reforma. Pg. 257. Figura 480: Detalhe do acesso ao nível térreo do Cine Palace. Pg. 258. Figura 481: Detalhe da planta dos apartamentos no 1º andar do Cine Palace. Pg. 258. Figura 482: Planta baixa do andar térreo do Cine Palace. Pg. 258. Figura 483: Planta baixa do 1º andar do Cine Palace. Pg. 258. Figura 484: Detalhe da planta dos apartamentos no 2º andar do Cine Palace. Pg. 259. Figura 485: Detalhe do bloco de acesso e apartamentos do Cine Palace. Pg. 259. Figura 486: Detalhe do afastamento do primeiro e segundo blocos do Cine Palace. Pg. 260. Figura 487: Casa Telmo Rovira Martins. Pg. 261. Figura 488: Casa Josef Neumann. Pg. 261. Figura 489: Casa Corina Franco Garcia. Pg. 262. Figura 490: Ed. Victor Manoel Massulo. Pg. 262. Figura 491: Imagem aérea do ed. Annibal di Primio Beck. Pg. 263. Figura 492: Ed. Annibal di Primio Beck. Foto de 2012. Pg. 263. Figura 493: Fachada frontal da casa Otto L. Ely. Pg. 264. Figura 494: Planta baixa da casa Otto L. Ely. Pg. 264. Figura 495: Fachada lateral da casa Otto L. Ely. Pg. 264. Figura 496: Nova fachada da casa Otto L. Ely com características clássicas. Pg. 265. Figura 497: Corte longitudinal do bloco do armazém da Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Pg. 266. Figura 498: Corte transversal do bloco do armazém da Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Pg. 266. Figura 499: Fachada para a avenida São Paulo e fachada para a rua Moura Azevedo do conjunto para a Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Pg. 266. Figura 500: Planta baixa do pavimento térreo do conjunto para a Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Pg. 267. Figura 501: Planta de localização da Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Pg. 267. 355 Figura 502: Corte longitudinal das garagens da Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Pg. 267. Figura 503: Corte longitudinal do bloco de controle de entrada e saída da Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Pg. 268. Figura 504: Corte transversal do bloco de controle de entrada e saída da Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Pg. 268. Figura 505: Planta baixa do segundo pavimento do edifício para a Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Pg. 268. Figura 506: Palácio da Polícia. Foto de 2012. Pg. 269. Figura 507: Instituto Santa Luzia já na finalização das obras. Pg. 270. Figura 508: Imagem panorâmica do Palácio da Polícia. Pg. 270. Figura 509: Palácio da Polícia visto da esquina da av. João Pessoa com a rua Prof. Freitas e Castro. Foto de 2012. Pg. 271. Figura 510: Palácio da Polícia visto da esquina da av. João Pessoa com a av. Ipiranga. Foto de 2012. Pg. 271. Figura 511: Dimensões do terreno no projeto para o Instituto Santa Luzia. Pg. 272. Figura 512: Imagem aérea do quarteirão do Palácio da Polícia. Pg. 272. Figura 513: Pavimento térreo do bloco de acesso principal do Instituto Santa Luzia. Pg. 273. Figura 514: Acesso principal do Palácio da Polícia. Foto de 2012. Pg. 274. Figura 515: Fachada da avenida João Pessoa do Instituto Santa Luzia. Pg. 274. Figura 516: Corte longitudinal do bloco de acesso principal do Instituto Santa Luzia. Pg. 275. Figura 517: Corte transversal do bloco de acesso principal do Instituto Santa Luzia. Pg. 275. Figura 518: Detalhe do corte longitudinal na capela. Pg. 276. Figura 519: Planta baixa do pavimento térreo do Instituto Santa Luzia. Pg. 276. Figura 520: Pátio interno tendo os corredores abertos de articulação entre os blocos incorporados a volumetria da edificação no atual Palácio da Polícia. Foto de 2012. Pg. 277. Figura 521: Passarelas de circulação abertas no projeto original que foram fechadas na obra de fato construída no atual Palácio da Polícia. Foto de 2012. Pg. 278. Figura 522: Planta baixa do segundo pavimento do Instituto Santa Luzia. Pg. 278. Figura 523: Planta baixa do terceiro pavimento do Instituto Santa Luzia. Pg. 279. Figura 524: Passagem entre o bloco em “T” (fundos da capela) e o primeiro bloco transversal no atual Palácio da Polícia. Foto de 2012. Pg. 279. Figura 525: Fachada externa para a rua Prof. Freitas e Castro (Cabo Rocha). Foto de 2012. Pg. 280. Figura 526: Planta baixa do quarto pavimento do Instituto Santa Luzia. Pg. 280. Figura 527: Fachada da rua Do Riacho (atual avenida Ipiranga) do Instituto Santa Luzia. Pg. 281. Figura 528: Fachada da rua Cabo Rocha (atual Professor Freitas e Castro) do Instituto Santa Luzia. Pg. 281. Figura 529: Vista atual da esquina da av. Ipiranga (Do Riacho) com a av. João Pessoa. Foto de 2012. Pg. 281. 356 Figura 530: Fachada da casa Darcy Farias Lima. Pg. 282. Figura 531: Planta baixa da casa Darcy Farias Lima. Pg. 282. Figura 532: Plantas baixas do conjunto residencial para S. Princy e Cia. Pg. 283. Figura 533: Fachada do bloco de quatro unid. para S. Princy e Cia. Pg. 283. Figura 534: Fachada do bloco de duas unid. para S. Princy e Cia. Pg. 283. Figura 535: Fachada lateral do bloco de quatro unidades e do bloco de duas unid. para S. Princy e Cia. Pg. 283. Figura 536: Fachada frontal da casa Benjamim Simões. Pg. 284. Figura 537: Fachada lateral da casa Benjamim Simões. Pg. 284. Figura 538: Planta baixa do pavimento térreo da casa Benjamim Simões. Pg. 284. Figura 539: Planta baixa do segundo pavimento da casa Benjamim Simões. Pg. 284. Figura 540: Fachada da casa Adoaldo Green. Pg. 285. Figura 541: Planta baixa da casa Adoaldo Green. Pg. 285. Figura 542: Corte longitudinal da casa Adoaldo Green. Pg. 285. Figura 543: Planta baixa do térreo do ed. Irmãos Knijinik. Pg. 286. Figura 544: Fachada para a rua General João Telles do ed. Irmãos Knijinik. Pg. 286. Figura 545: Planta baixa do térreo do ed. Prync, Salgado e Cia. Pg. 287. Figura 546: Fachada do ed. Prync, Salgado e Cia. Pg. 287. Figura 547: Centro Israelita Portoalegrense. Foto de 2012. Pg. 288. Figura 548: Esquema da implantação nos projetos do Centro Israelita Portoalegrense. Pg. 288. Figura 549: Planta baixa do pavimento térreo do Centro Israelita Portoalegrense. Pg. 289. Figura 550: Planta baixa do segundo pavimento do Centro Israelita Portoalegrense. Pg. 290. Figura 551: Corte longitudinal do Centro Israelita Portoalegrense. Pg. 291. Figura 552: Planta baixa do terceiro pavimento do Centro Israelita Portoalegrense. Pg. 291. Figura 553: Parte da fachada correspondente a edificação pré-existente do Centro Israelita Portoalegrense. Foto de 2012. Pg. 292. Figura 554: Corte transversal do Centro Israelita Portoalegrense. Pg. 292. Figura 555: Fachada frontal do Centro Israelita Portoalegrense proposta no projeto original. Pg. 293. Figura 556: Detalhe do fechamento da cobertura executada no Centro Israelita Portoalegrense. Foto de 2012. Pg. 293. Figura 557: Imagem aérea com a localização do Centro Israelita Portoalegrense. Pg. 294. Figura 558: Corte passando pelo volume da escada do Centro Israelita Portoalegrense. Pg. 294. Figura 559: Planta baixa da casa Alípio Ebling. Pg. 295. Figura 560: Fachadas da casa Alípio Ebling. Pg. 295. Figura 561: Planta de situação da casa Alípio Ebling. Pg. 295. Figura 562: Fachada da casa Nilo Martins. Pg. 296. Figura 563: Planta baixa da casa Nilo Martins. Pg. 296. Figura 564: Fachada frontal da casa Bernardo de Souza Velho. Pg. 297. Figura 565: Planta baixa da casa Bernardo de Souza Velho. Pg. 297. 357 Figura 566: Fachada lateral da casa Bernardo de Souza Velho. Pg. 297. Figura 567: Planta de situação da casa Bernardo de Souza Velho. Pg. 297. Figura 568: Perspectiva da casa Telmo Rovira Martins. Pg. 298. Figura 569: Planta do primeiro projeto aprovado da casa Telmo Martins. Pg. 299. Figura 570: Planta do pavimento térreo com alterações da casa Telmo Martins. Pg. 299. Figura 571: Planta do subsolo com a acomodação da garagem e dependências de empregada da casa Telmo Martins. Pg. 299. Figura 572: Casa Telmo Rovira Martins. Foto de 2012. Pg. 299. Figura 573: Detalhe da sacada da casa Telmo Rovira Martins. Foto 2012. Pg. 299. Figura 574: Planta baixa do 2º pav. da casa Telmo Rovira Martins. Pg. 300. Figura 575: Corte longitudinal da casa Telmo Rovira Martins. Pg. 300. Figura 576: Imagem aérea da casa Hélio Luiz Ribeiro. Pg. 301. Figura 577: Implantação da casa Hélio Luiz Ribeiro. Pg. 302. Figura 578: Fachada para a avenida Dom Pedro II da casa Hélio Luiz Ribeiro. Pg. 302. Figura 579: Fachada para a rua Marques do Pombal da casa Hélio Luiz Ribeiro. Pg. 302. Figura 580: Planta geral da casa Hélio Luiz Ribeiro. Pg. 303. Figura 581: Dependências dos caseiros na casa Hélio Luiz Ribeiro. Pg. 303. Figura 582: Setor social da casa Hélio Luiz Ribeiro. Pg. 304. Figura 583: Setor da planta do pavimento principal, mostrando em pontilhado as garagens na casa Hélio Luiz Ribeiro. Pg. 304. Figura 584: Setor íntimo da casa Hélio Luiz Ribeiro. Pg. 305. Figura 585: Setor de serviço da casa Hélio Luiz Ribeiro. Pg. 305. Figura 586: Detalhe da torre do reservatório da casa Hélio Luiz Ribeiro. Pg. 306. Figura 587: Fachada da casa Hélio Luiz Ribeiro para a avenida Dom Pedro II. Foto de 2012. Pg. 306. Figura 588: Fachada da casa Hélio Luiz Ribeiro para a rua Marques do Pombal. Foto de 2012. Pg. 307. Figura 589: Fachada lateral e acesso das garagens ao nível térreo da casa Hélio Luiz Ribeiro. Foto de 2012. Pg. 307. Figura 590: Vista da esquina da casa Hélio Luiz Ribeiro. Foto de 2012. Pg. 307. Figura 591: Fachada da casa Josef Neumann. Pg. 308. Figura 592: Planta baixa do subsolo da casa Josef Neumann. Pg. 308. Figura 593: Planta baixa do pavimento térreo da casa Josef Neumann. Pg. 308. Figura 594: Planta baixa do pavimento principal da casa Natalio Broide. Pg. 309. Figura 595: Fachada frontal da casa Natalio Broide. Pg. 309. Figura 596: Fachada lateral da casa Natalio Broide. Pg. 309. Figura 597: Fachada frontal da casa Clovis Bastos. Pg. 310. Figura 598: Fachada lateral da casa Clovis Bastos. Pg. 310. Figura 599: Planta baixa do pavimento térreo da casa Clovis Bastos. Pg. 310. 358 Figura 600: Planta baixa da casa Gastão Altmayer. Pg. 311. Figura 601: Planta de localização da casa Gastão Altmayer. Pg. 311. Figura 602: Imagem aérea da rua particular. Pg. 312. Figura 603: Fachadas da casa Gastão Altmayer. Pg. 312. Figura 604: Planta baixa do térreo da casa Corina Franco Garcia. Pg. 313. Figura 605: Planta baixa do segundo pavimento da casa Corina Franco Garcia. Pg. 313. Figura 606: Fachada frontal da casa Corina Franco Garcia. Pg. 313. Figura 607: Fachada de fundos da casa Corina Franco Garcia. Pg. 313. Figura 608: Corte longitudinal da casa Corina Franco Garcia. Pg. 313. Figura 609: Plantas baixas do ed. Victor Manoel Massulo. Pg. 314. Figura 610: Corte transversal do ed. Victor Manoel Massulo. Pg. 314. Figura 611: Fachada frontal do ed. Victor Manoel Massulo. Pg. 314. Figura 612: Planta baixa do subsolo da casa Gregório Zotz. Pg. 315. Figura 613: Planta baixa do pavimento ao nível da rua da casa Gregório Zotz. Pg. 315. Figura 614: Fachada frontal da casa Gregório Zotz. Pg. 315. Figura 615: Fachada de fundos da casa Gregório Zotz. Pg. 315. Figura 616: Planta de situação da casa Gregório Zotz. Pg. 315. Figura 617: Fachada do primeiro projeto de Monteiro Neto para o Sr. Otto L. Ely localizado na av. Cristóvão Colombo. Pg. 316. Figura 618: Fachada do segundo projeto de Monteiro Neto para o Sr. Otto L. Ely que consistia na reforma e ampliação do primeiro projeto. Pg. 316. Figura 619: Fachada principal da casa Otto L. Ely. Pg. 316. Figura 620: Fachada lateral da casa Otto L. Ely. Pg. 317. Figura 621: Detalhe do lado esquerdo da fachada da casa Otto L. Ely. Foto de 2012. Pg. 317. Figura 622: Detalhe da sacada sobre o acesso da garagem da casa Otto L. Ely. Foto de 2012. Pg. 317. Figura 623: Planta baixa do pavimento principal da casa Otto L. Ely. Pg. 318. Figura 624: Planta baixa do subsolo da casa Otto L. Ely. Pg. 318. Figura 625: Corte Longitudinal da casa Otto L. Ely. Pg. 319. Figura 626: Corte transversal da casa Otto L. Ely. Pg. 319. Figura 627: Imagem aérea da casa Otto L. Ely. Pg. 319. Figura 628: Detalhe das aberturas circulares na garagem e dormitório da casa Otto L. Ely. Foto de 2012. Pg. 320. 359 Anexos Com o objetivo de disponibilizar cópias dos originais das publicações de Monteiro Neto, tanto no jornal Diário de Notícias como na Revista do Globo, é apresentada uma relação cronológica dos mesmos, além dos arquivos digitalizados e gravados em CD. A identificação do arquivo eletrônico destes artigos foi organizada a partir da seguinte sequência de informações: a primeira sigla refere-se ao meio de publicação utilizado, sendo DN para Diário de Notícias e RG para Revista do Globo. A sequência numérica identifica primeiramente o ano, seguido do mês e posteriormente do dia da publicação. A última informação é a página onde se encontra a publicação pesquisada. Como exemplo temos a identificação DN 1931-09-20 PG14 que nos remete a coluna publicada no jornal Diário de Notícias no dia 20 de setembro de 1931 na página 14. Da mesma forma os projetos pesquisados principalmente no Arquivo Público de Porto Alegre, foram organizados e disponibilizados em formato digital. A identificação destes arquivos inicia com uma numeração sequencial desde o primeiro até o último projeto pesquisado. Os demais indicadores referem-se ao ano em que o projeto foi aprovado, o microfilme e o número do processo de arquivamento. A última informação identifica o número da prancha, uma vez que alguns projetos são compostos por várias folhas. Como exemplo temos o arquivo 07_1931_F049_P21281_PR01 que identifica o sétimo projeto encontrado, aprovado no ano de 1931, arquivado no microfilme número 49, sob o número de processo 21.281, referindo-se a primeira prancha. Para os arquivos encontrados em outras fontes que não o Arquivo Público a identificação é semelhante as demais, porém sem número de filme e processo, campos estes substituídos pela descrição da fonte de pesquisa. 360 1. Quadro comparativo de estilos e períodos ano 1930 nº de proj. 02 01 ñ encont. eclético - Trem Liliput (estação de trem – 1pav) - Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre (escola – 2pav) - Paulo Alberto Seimmeher (casa – 2pav) neocolonial (californiano) moderno (déco) PRIMEIRA FASE 1931 06 02 01 ñ ident. - Serapião Mariante Guimarães (casa – 2pav) - Herbert Von Brixen-Montzel (casa – 2pav) 1932 - Manlio Agrifoglio (casa – 2pav) - Ernesto Essenfelder (casa – 2pav) - Oswaldo Coufal (casa – 2pav) - Pórtico Monumental p/ Exp. AgroPec.de Porto Alegre (pórtico – 3pav) - Emílio Fernandes das Néves (casa – 2pav) 1933 13 01 ñ encont. - Oswaldo Bopp (casa – 2pav) - Não identificado (casa – 2pav) - Leonildo Sartori (casa – 2pav) - Leopoldo Freyre Pinto (casa – 2pav) - Armando Ferreira (casa – 1pav) - Julio Gravorski (casa – 2pav) - Brigada Militar do Estado (casa – 2pav) - Manoel Martins C. Sobrinho (casa – 1pav) - Djalma Jobim (casa – 3pav) - Grêmio Gaúcho (clube – 2pav) - José Honorato dos Santos (ed. misto – 4pav) - Dr. Octávio de Souza (casa – 2pav) - Leopoldo R. Schreiner (casa – 2pav) 1934 03 00 02 02 02 - Girolamo Moresco (casa – 2pav) - Armando Berlese (castelo – 2pav) - Ed. Palmeiro (ed. comercial – 5pav) - Antonia Carvalho (casa – 2pav) - Dario Brossard (casa – 2pav) - João Knijnik (casa – 2pav) - Aden Rosa (casa – 2pav) - Bruno Bopp (casa – 2pav) - Alfredo Mariath (reforma de fachada de edifício comercial – 2pav) - Edifício Vera Cruz (ed. misto – 15pav) - José Pedro Godoy Gomes (ed. residencial – 3pav) - Livraria Selbach (reforma de fachada de ed. comercial – 3pav) - Oscar Gertum (casa – 2pav) SEGUNDA FASE 1935 1936 1937 1938 1939 05 - Nino Marsiaj (casa – 2pav) 361 1940 04 01 ñ ident. 05 01 ñ encont. - Alcides Gonzaga (casa – 2pav) - Francisco da Silva Lanziotti (casa – 1pav) - Cia. Predial e Agrícola (casa – 2pav) - José Eboli (casa – 2pav) - Dr. Ezequiel Ubatuba (casa – 1pav) - Dr. Dante de Laytano (casa – 2pav) - Alberto Osvaldo Bopp (casa – 1pav) - Dr. Daly Lopes d’Almeida (casa – 2pav) - Vicencia Georgina Bruno (casa – 2pav) - Dr. Harry Lubisco (casa – 2pav) - Ricardo Eichler (casa – 2pav) - Arthur Coelho Borges (casa – 2pav) - Cia. Predial e Agrícola (casa – 2pav) - Caixa Econômica Federal (casa – 2pav) - Caixa Econômica Federal (casa – 2pav) - Áureo Abreu (casa – 2pav) - Américo Silva (casa – 1pav) - Ovídio Chaves (casa – 2pav) - Paulo Durant (casa – 2pav) - Otto L. Ely (casa – 1pav) - Fernando Poli (casa – 2pav) - Terra Lopes (ed. residencial – 6pav) - Ed. Reunidos S.A. (ed. misto – 7pav) - Ed. São Pedro (ed. misto – 6pav) - Moinho Esperança (moinho – 4pav) - Armando Giampaoli (ed. misto – 10pav) - Associação Riograndense de Imprensa (ed. misto – 10pav) - Eugênia Porto Newlands d’Almeida (ed. misto – 3pav) 1941 TERCEIRA FASE 1942 07 1943 06 - Armando Giampaoli (casa – 2 pav) 1944 10 - João Kalil Rechden (casa – 1pav) - Annibal di Primio Beck (casa – 1pav) - Cine-Teatro Riviera (ed. para cinema – 2pav) - Cine Palace (ed. misto – 3pav) - Annibal di Primio Beck (ed. residencial – 3pav) - Armazenadora e Transportadora de Madeiras (ed. para transportadora – 2pav) - Instituto Santa Luzia (escola – 4pav) 1945 1946 01 01 02 00 02 - Darcy Farias Lima (casa – 1pav) QUARTA FASE 1947 1948 1949 1950 05 - Adoaldo Green (casa – 1pav) - S. Princy e Cia. (ed. residencial – 2pav) - Benjamim Simões (casa – 2pav) - Centro Israelita Portoalegrense (sinagoga – 3pav) - Ed. Irmãos Knijinik (ed. residencial – 3pav) - Prync, Salgado e Cia. (ed. residencial – 3pav) 362 1951 05 - Hélio Luiz Ribeiro (casa – 3pav) - Nilo Martins (casa – 1pav) - Bernardo de Souza Velho (casa – 1pav) - Telmo Rovira Martins (casa – 2pav) - Alipio Ebling (casa – 2pav) - Josef Neumann (casa – 2pav) - Natalio Broide (casa – 2pav) - Clovis Bastos (casa – 2pav) - Gastão Altmayer (casa – 1pav) - Corina Franco Garcia (casa – 3pav) - Victor Manoel Massulo (casa – 2pav) - Gregório Zotz (casa – 2pav) - Otto L. Ely (casa – 2pav) 1952 1953 1954 1955 1956 04 00 02 01 01 Total 98 17 29 47 363 2. Quadro dos projetos encontrados com autoria de Monteiro Neto nº 01 ano 1930 filme 042/1930 proc. nº 11.167 construtor proprietário Trem Liliput endereço conf. proj. Av. Redenpção, Parque da Redenpção arquivos no cd 01_1930_F042_P11167_PR01 02_1930_F043_P11689_PR01 02_1930_F043_P11689_PR02 02_1930_F043_P11689_PR03 02_1930_F043_P11689_PR04 02_1930_F043_P11689_PR05 02_1930_F043_P11689_PR06 Microfilme não encontrado 04_1931_F047_P13533_PR01 05_1931_F048_P19824_PR01 06_1931_F049_P21077_PR01 07_1931_F049_P21281_PR01 07_1931_F049_P21281_PR02 08_1931_F049_P21371_PR01 02 1930 043/1930 11.689 Borsatto & Lain Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre João Firmo da S. Alonso Serapião Mariante Guimarães Manlio Agrifoglio Ernesto Essenfelder Paulo Alberto Seimmeher Oswaldo Coufal Pórtico Monumental Exp. Agro-Pecuária e Industrial de Porto Alegre Herbert Von BrixenMontzel Dr. Armando Bello Barbedo Emílio Fernandes das Néves José Honorato dos Santos (J.H.Santos) Oswlado Bopp Não identificado Av. Redenpção 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 1930 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1932 1932 1932 1933 1933 1933 044/1930 047/1931 048/1930-32 049/1931-32 049/1931-32 049/1931-32 12.209 13.533 19.824 21.077 21.281 21.371 Não identificado Leopoldo ... Barcellos & Cia. Dlugosiewicz, Freire & Cia. Irmãos Jung Barcellos & Cia. Dlugosiewicz, Freire & Cia. Rua Evolução, nº 144 Rua Dona Thereza Av. Guahyba esq. Av. Flamengo Rua Cel. Bordini Rua De Sant Anna, nº 654/658 Av. Guahyba esq. Av. Flamengo Av. Getúlio Vargas Rua Santa Therezinha Rua Marechal Floriano, nº 193 (fundos) Rua Santa Therezinha Rua Dr. Flores, nº 204 Rua Santa Rita (Fonte do Freitas) Rua Landel de Moura esq. Rodovia ‘Porto Alegre – Pedra Redonda’ 051/1932 052/1932 053/1932 053/1933 053/1933 055/1933 053/1933 8.793 18.475 19.824 585 758 7.332 2.202 Barcellos & Cia. Baptista Campagnola Barcellos & Cia. João Francisco Goldmann João Antônio Monteiro Neto Não identificado 10_1932_F051_P08793_PR01 10_1932_F051_P08793_PR02 10_1932_F051_P08793_PR03 11_1932_F052_P18475_PR01 12_1932_F053_P19824_PR01 12_1932_F053_P19824_PR02 12_1932_F053_P19824_PR03 13_1933_F053_P00585_PR01 13_1933_F053_P00585_PR02 14_1933_F053_P00758_PR01 14_1933_F055_P07332_PR01 15_1933_F053_P02202_PR01 364 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 1933 1933 1933 1933 1933 1933 1933 1933 1933 1933 054/1933 054/1933 055/1933 055/1933 055/1933 055/1933 056/1933 056/1933 056/1933 056/1933 3.580 5.619 8.887 9.041 10.416 11.326 11.957 12.780 13.594 14.260 A. D. Aydos & Cia. Ltda. Pietro Biondani João Antônio Monteiro Neto Alberto Fantinel Francisco Pivetto Baptista Campagnola Antônio Mascarello Baptista Campagnola Não identificado Não identificado Dr. Octávio de Souza Leonildo Sartori Leopoldo Freyre Pinto Armando Ferreira Julio Gravorski Brigada Militar do Estado Leopoldo R. Schreiner Manoel Martins Costa Sobrinho Bráuli Bopp Grêmio Gaúcho Av. Guayba Av. da Glória, junto ao nº 624 Rua Tobias da Silva Rua Pedro II, junto ao nº 320 Rua Demétrio Ribeiro, junto ao nº 535 Rua Baroneza de Gravatahy, nº 506 Rua Barão do Guahyba Rua Barão do Guahyba Rua Câncio Gomes Av. Therezopolis 16_1933_F054_P03580_PR01 17_1933_F054_P05619_PR01 18_1933_F055_P08887_PR01 19_1933_F055_P09041_PR01 20_1933_F055_P10416_PR01 21_1933_F055_P11326_PR01 22_1933_F056_P11957_PR01 23_1933_F056_P12780_PR01 Microfilme não encontrado 25_1933_F056_P14260_PR01 25_1933_F056_P14260_PR02 25_1933_F056_P14260_PR03 25_1933_F056_P14260_PR04 25_1933_F056_P14260_PR05 26_1933_F057_P15832_PR01 26_1933_F057_P15832_PR02 26_1933_F057_P15832_PR03 27_1934_F059_P04345_PR01 27_1934_F059_P04345_PR02 27_1934_F059_P04345_PR03 27_1934_F059_P04345_PR04 28_1934_F061_P18042_PR01 29_1934_F062_P22908_PR01 30_1936_F068_P07337_PR01 31_1936_F071_P18707_PR01 32_1937_F073_P07363_PR01 33_1937_F075_P18794_PR01 26 1933 057/1933 15.832 Antônio Mascarello Djalma Jobim Manoel Palmeiro da Fontoura Antonia Carvalho Dario Brossard Armando Berlese João Knijnik Aden Rosa Bruno Bopp Praça São Manoel próximo ao nº 82 Av. Otávio Rocha e Rua José Ignácio Rua José de Alencar, junto ao nº 500 Rua Santa Therezinha Av. Jacuhy, nº 274 Rua Venâncio Ayres, junto ao nº 571 Av. Goethe Rua General Neto, junto ao nº 397 27 28 29 30 31 32 33 1934 1934 1934 1936 1936 1937 1937 059/1934 061/1934 062/1934-35 068/1936 071/1936-37 073/1937 075/1937-38 4.345 18.042 22.908 7.337 18.707 7.363 18.794 Barcellos & Cia. Barcellos & Cia. Barcellos & Cia. Barcellos & Cia. Irmãos Seguezio Nagel & Biondani Jorge Carandanis 365 34 35 1938 1938 077/1938 078/1938 10.074 16.444 Não identificado Jorge Carandanis Girolamo Moresco Alfredo Mariath Quinta Bom Retiro 6º Distrito Av. João Pessoa, nº 891 36 1939 082/1931 13.494 Azevedo Moura &Gertum Edifício Vera Cruz Av. Borges de Medeiros esq. Andrade Neves 34_1938_F077_P10074_PR01 34_1938_F077_P10074_PR02 35_1938_F078_P16444_PR01 36_1939_F082_P13494_PR01 36_1939_F082_P13494_PR02 36_1939_F082_P13494_PR03 36_1939_F082_P13494_PR04 36_1939_F082_P13494_PR05 36_1939_F082_P13494_PR06 36_1939_F082_P13494_PR07 36_1939_F082_P13494_PR08 36_1939_F082_P13494_PR09 36_1939_F082_P13494_PR10 36_1939_F082_P13494_PR11 36_1939_F082_P13494_PR12 36_1939_F082_P13494_PR13 36_1939_F082_P13494_PR14 36_1939_F082_P13494_PR15 36_1939_F082_P13494_PR16 36_1939_F082_P13494_PR17 36_1939_F082_P13494_PR18 36_1939_F082_P13494_PR19 36_1939_F082_P13494_PR20 36_1939_F082_P13494_PR21 36_1939_F082_P13494_PR22 36_1939_F082_P13494_PR23 36_1939_F082_P13494_PR24 37_1939_F084_P24289_PR01 38_1939_F084_P24374_PR01 38_1939_F084_P24374_PR02 39_1939_F084_P24628_PR01 40_1939_F084_P25144_PR01 41_1940_F086_P00063_PR01 37 38 39 40 41 1939 1939 1939 1939 1940 084/1939 084/1939 084/1939 084/1939 086/1939-40 24.289 24.374 24.628 25.144 63 Santiago Borba Azevedo Moura &Gertum Carlos Jung Azevedo Moura &Gertum Barcellos & Cia. José Pedro Godoy Gomes Nino Marsiaj Livraria Selbach Oscar Gertum Fernando Poli Rua Emancipação entre os nº 72 e 84. Rua Cristovam Colombo a 40,00mts da Rua da Saúde Rua Marechal Floriano, nº 10 Rua Cel. Marcos a 99,00m da Rua Ipanema Rua Visconde do Rio Branco, junto ao nº 784 366 42 1940 088/1940 18.281 Azevedo Moura &Gertum Vva. Terra Lopes Rua Independência, nº 128 43 1940 089/1940 23.822 Azevedo Moura &Gertum Edifícios Reunidos S.A. (Ed. Vera Cruz Anexo) Travessa Itapiru entre o Edifício Sul América e o Cinema Vera Cruz 44 45 46 47 1940 1940 1941 1941 090/1940-41 090/1940-41 091/1941 093/1941 28.392 29.069 2.079 Azevedo Moura &Gertum Azevedo Moura &Gertum Azevedo Moura &Gertum Não identificado Ruy, Jorge e Antônio Carneiro e Pedro Pereira (Ed. São Pedro) Eduardo Secco Dal Molin, Simon e Co. (Moinho Esperança) Não identificado Av. 10 de Novembro Rua Mostardeiro Av. Farrapos Av. Cristovam Colombo 48 1941 093/41 16.286 Spolidoro & Cia. Alcides Gonzaga Luciana de Abreu 42_1940_F088_P18281_PR01 42_1940_F088_P18281_PR02 42_1940_F088_P18281_PR03 42_1940_F088_P18281_PR04 42_1940_F088_P18281_PR05 42_1940_F088_P18281_PR06 42_1940_F088_P18281_PR07 43_1940_F089_P23822_PR01 43_1940_F089_P23822_PR02 43_1940_F089_P23822_PR03 43_1940_F089_P23822_PR04 43_1940_F089_P23822_PR05 43_1940_F089_P23822_PR06 43_1940_F089_P23822_PR07 43_1940_F089_P23822_PR08 43_1940_F089_P23822_PR09 43_1940_F089_P23822_PR10 44_1940_F090_P28392_PR01 44_1940_F090_P28392_PR02 44_1940_F090_P28392_PR03 45_1940_F090_P29069_PR01 46_1941_F091_P02079_PR01 46_1941_F091_P02079_PR02 Microfilme não encontrado 48_1941_F093_P16286_PR01 48_1941_F093_P16286_PR02 48_1941_F093_P16286_PR03 48_1941_F093_P16286_PR04 48_1941_F093_P16286_PR05 48_1941_F093_P16286_PR06 49_1941_F095_P29672_PR01 50_1941_F096_P06161_PR01 49 50 1941 1941 095/41 096/41 29.672 6.161 Spolidoro & Cia. Spolidoro & Cia. Francisco da Silva Lanziotti Cia. Predial e Agricola Av. Cascata, junto ao nº 2.616 Av. Paraná 367 51 1941 198/41 13.460 Spolidoro & Cia. Armando Giampaoli Av. Alberto Bins esq. Rua da Conceição 51_1941_F198_P13460_PR01 51_1941_F198_P13460_PR02 51_1941_F198_P13460_PR03 51_1941_F198_P13460_PR04 51_1941_F198_P13460_PR05 51_1941_F198_P13460_PR06 51_1941_F198_P13460_PR07 Projeto arquivado em papel 53_1942_F097_P09584_PR01 53_1942_F097_P09584_PR02 54_1942_F097_P11035_PR01 54_1942_F097_P11035_PR02 55_1942_F098_P15613_PR01 55_1942_F098_P15613_PR02 56_1942_F098_P16836_PR01 56_1942_F098_P16836_PR02 56_1942_F098_P16836_PR03 56_1942_F098_P16836_PR04 56_1942_F098_P16836_PR05 56_1942_F098_P16836_PR06 56_1942_F098_P16836_PR07 56_1942_F098_P16836_PR08 56_1942_F098_P16836_PR09 57_1942_F099_P18540_PR01 58_1942_F101_P31317_PR01 58_1942_F101_P31317_PR02 58_1942_F101_P31317_PR03 59_1943_F104_P14233_PR01 60_1943_F104_P14913_PR01 60_1943_F104_P14913_PR02 61_1943_F104_P16239_PR01 61_1943_F104_P16239_PR02 61_1943_F104_P16239_PR03 62_1943_F105_P19085_PR01 62_1943_F105_P19085_PR02 62_1945_F116_P13100_PR01 52 53 54 55 1942 1942 1942 1942 097/42 097/42 098/42 9.584 11.035 15.613 Spolidoro & Cia. Spolidoro & Cia. Spolidoro & Cia. Spolidoro & Cia. Associação Riograndense de Imprensa José Eboli Dr. Ezequiel Ubatuba Dr. Dante de Laytano Av. Borges de Medeiros, nº 935 Rua Adriana - Petrópolis Rua Quintino Bocaiúva, junto ao nº 1.104 Rua Quintino Bocaiúva esq. Travessa Augusta 56 1942 098/42 16.836 Spolidoro & Cia. Eugênia Porto Newlands d’Almeida Rua Siqueira Campos esq. Av. Mauá 57 58 59 60 61 62 1942 1942 1943 1943 1943 1943 099/42 101/42 104/43 104/43 104/43 105/1943 18.540 31.317 14.233 14.913 16.239 19.085 Spolidoro & Cia. Spolidoro & Cia. Spolidoro & Cia. Spolidoro & Cia. Spolidoro & Cia. Studio Monteiro Neto Alberto Osvaldo Bopp Dr. Daly Lopes d’Almeida Vicencia Giorgina Bruno Armando Giampaoli Dr. Harry Lubisco Ricardo Eichler Rua Felipe de Oliveira esq. Barão do Amazonas Rua Quintino Bocaiúva esq. Travessa Augusta Rua Caldas Júnior, junto ao nº 450 Rua Coronel Carvalho, junto ao nº 367 Rua Dário Pederneiras Av. Beira Rio, nº 14 Belém Novo 368 63 64 65 1943 1943 1944 105/1943 105/1943 107/1943-44 19.587 21.176 2.706 A. D. Aydos & Cia. Ltda. Studio Monteiro Neto Studio Monteiro Neto Arthur Coelho Borges Cia. Predial e Agricola Caixa Econômica Federal Rua Marquez do Herval Rua Barão do Amazonas junto ao nº 396 Rua Vitor Hugo, junto ao nº 266 66 1944 107/1943-44 3.620 Studio Monteiro Neto Cine-Teatro Riviera (antigo Thalia) Av. Eduardo nº 1378 67 68 69 70 71 72 73 1944 1944 1944 1944 1944 1944 1944 109/1944 109/1944 109/1944 110/1944 110/1944 110/1944 112/1944 9.105 9.479 10.958 13.692 14.129 14.157 26.004 Studio Monteiro Neto Studio Monteiro Neto Studio Monteiro Neto Studio Monteiro Neto Studio Monteiro Neto Studio Monteiro Neto Studio Monteiro Neto Caixa Econômica Federal João Kalil Rechden Áureo Abreu Américo Silva Ovídio Chaves Annibal di Primio Beck Paulo Durant Av. Protásio Alves em frente ao nº 2837 Rua Filadélfia Rua Castro Alves, junto ao nº 700 Rua Auxiliadora, junto ao nº 161 Rua Mariante esquina Castro Alves Av. Filadélfia, junto ao nº 20 Rua Ferreira Viana 63_1943_F105_P19587_PR01 63_1943_F105_P19587_PR02 64_1943_F105_P21176_PR01 64_1943_F105_P21176_PR02 65_1944_F107_P02706_PR01 65_1944_F107_P02706_PR02 66_1944_F107_P03620_PR01 66_1944_F107_P03620_PR02 66_1944_F107_P03620_PR03 66_1944_F107_P03620_PR04 66_1944_F107_P03620_PR05 66_1944_F107_P03620_PR06 66_1944_F107_P03620_PR07 66_1944_F107_P03620_PR08 66_1944_F107_P03620_PR09 67_1944_F109_P09105_PR01 67_1944_F109_P09105_PR02 68_1944_F109_P09479_PR01 69_1944_F109_P10958_PR01 69_1944_F109_P10958_PR02 70_1944_F110_P13692_PR01 70_1944_F110_P13692_PR02 71_1944_F110_P14129_PR01 71_1944_F110_P14129_PR02 72_1944_F110_P14157_PR01 73_1944_F112_P26004_PR01 73_1944_F112_P26004_PR02 73_1944_F112_P26004_PR03 369 74 1944 199/1944 25.137 Studio Monteiro Neto Cine Palace (Marabá) Rua Gen. Genuíno 75 1945 113/1945 4.071 Studio Monteiro Neto Annibal di Primio Beck Rua São Pedro 76 1946 127/1946 e 268/1953 21.075 e 38.117 Studio Monteiro Neto Otto L. Ely Rua Cristovão Colombo, junto ao nº 2533 77 1947 136/1947 10.902 João Antônio Monteiro Neto Armazenadora e Transportadora de Madeiras Ltda. Rua São Paulo esquina Moura Azevedo 74_1944_F199_P25137_PR01 74_1944_F199_P25137_PR02 74_1944_F199_P25137_PR03 74_1944_F199_P25137_PR04 74_1944_F199_P25137_PR05 74_1944_F199_P25137_PR06 74_1944_F199_P25137_PR07 74_1944_F199_P25137_PR08 74_1944_F199_P25137_PR09 74_1944_F199_P25137_PR10 74_1944_F199_P25137_PR11 74_1944_F199_P25137_PR12 74_1944_F199_P25137_PR13 74_1944_F199_P25137_PR14 75_1945_F113_P04071_PR01 75_1945_F113_P04071_PR02 75_1945_F113_P04071_PR03 76_1946_F127_P21075_PR01 76_1946_F127_P21075_PR02 76_1946_F127_P21075_PR03 76_1946_F127_P21075_PR04 76_1946_F127_P21075_PR05 76_1953_F268_P38117_PR01 76_1953_F268_P38117_PR02 76_1953_F268_P38117_PR03 77_1947_F136_P10902_PR01 77_1947_F136_P10902_PR02 77_1947_F136_P10902_PR03 77_1947_F136_P10902_PR04 77_1947_F136_P10902_PR05 77_1947_F136_P10902_PR06 77_1947_F136_P10902_PR07 77_1947_F136_P10902_PR08 77_1947_F136_P10902_PR09 77_1947_F136_P10902_PR10 370 78 1947 139/1947 21.293 Atribuído a Antônio Mascarello Instituto Santa Luzia Av. João Pessoa esquina Rua Cabo Rocha 79 1949 166/1949 22.155 João Antônio Monteiro Neto Darcy Farias Lima Travessa Mal. Bormann, º 2140 80 1949 173/1949 38.864 Não identificado Eng. Civil CREA: 1.628 S. Prync e Cia. Próximo Av. Bento Gonçalves esquina Portuguesa 78_1947_F139_P21293_PR01 78_1947_F139_P21293_PR02 78_1947_F139_P21293_PR03 78_1947_F139_P21293_PR04 78_1947_F139_P21293_PR05 78_1947_F139_P21293_PR06 78_1947_F139_P21293_PR07 78_1947_F139_P21293_PR08 78_1947_F139_P21293_PR09 78_1947_F139_P21293_PR10 78_1947_F139_P21293_PR11 78_1947_F139_P21293_PR12 78_1947_F139_P21293_PR13 78_1947_F139_P21293_PR14 78_1947_F139_P21293_PR15 78_1947_F139_P21293_PR16 78_1947_F139_P21293_PR17 78_1947_F139_P21293_PR18 78_1947_F139_P21293_PR19 78_1947_F139_P21293_PR20 78_1947_F139_P21293_PR21 78_1947_F139_P21293_PR22 78_1947_F139_P21293_PR23 79_1949_F166_P22155_PR01 79_1949_F166_P22155_PR02 79_1949_F166_P22155_PR03 79_1949_F166_P22155_PR04 80_1949_F173_P38864_PR01 80_1949_F173_P38864_PR02 80_1949_F173_P38864_PR03 80_1949_F173_P38864_PR04 80_1949_F173_P38864_PR05 80_1949_F173_P38864_PR06 371 81 1950 179/1950 11.495 João Antônio Monteiro Neto Benjamim Simões Rua Júlio de Castilhos 82 1950 183/1950 19.418 Não identificado Eng. Civil CREA: 5.683 Centro Israelita Portoalegrense Rua Henrique Dias 83 1950 186/1950 25.935 Miguel Zambrano Adoaldo Green Av. Belém, nº 482 81_1950_F179_P11495_PR01 81_1950_F179_P11495_PR02 81_1950_F179_P11495_PR03 81_1950_F179_P11495_PR04 81_1950_F179_P11495_PR05 81_1950_F179_P11495_PR06 81_1950_F179_P11495_PR07 81_1950_F179_P11495_PR08 81_1950_F179_P11495_PR09 81_1950_F179_P11495_PR10 82_1950_F183_P19418_PR01 82_1950_F183_P19418_PR02 82_1950_F183_P19418_PR03 82_1950_F183_P19418_PR04 82_1950_F183_P19418_PR05 82_1950_F183_P19418_PR06 82_1950_F183_P19418_PR07 82_1950_F183_P19418_PR08 82_1950_F183_P19418_PR09 82_1950_F183_P19418_PR10 82_1950_F183_P19418_PR11 82_1950_F183_P19418_PR12 82_1950_F183_P19418_PR13 82_1950_F183_P19418_PR14 82_1950_F183_P19418_PR15 82_1950_F183_P19418_PR16 83_1950_F186_P25935_PR01 83_1950_F186_P25935_PR02 83_1950_F186_P25935_PR03 372 84 1950 193/1950 39.971 Não identificado Eng. Civil CREA: 5.683 Ed. Irmãos Knijinik Rua João Telles esquina Henrique Dias 85 1950 205/1950 6.005 Prync, Salgado & Cia. Ltda. Prync, Salgado & Cia. Ltda. Av. Azenha 84_1950_F193_P39971_PR01 84_1950_F193_P39971_PR02 84_1950_F193_P39971_PR03 84_1950_F193_P39971_PR04 84_1950_F193_P39971_PR05 84_1950_F193_P39971_PR06 84_1950_F193_P39971_PR07 84_1950_F193_P39971_PR08 84_1950_F193_P39971_PR09 84_1950_F193_P39971_PR10 84_1950_F193_P39971_PR11 84_1950_F193_P39971_PR12 84_1950_F193_P39971_PR13 84_1950_F193_P39971_PR14 84_1950_F193_P39971_PR15 84_1950_F193_P39971_PR16 84_1950_F193_P39971_PR17 84_1950_F193_P39971_PR18 84_1950_F193_P39971_PR19 85_1950_F205_P06005_PR01 85_1950_F205_P06005_PR02 85_1950_F205_P06005_PR03 85_1950_F205_P06005_PR04 85_1950_F205_P06005_PR05 85_1950_F205_P06005_PR06 85_1950_F205_P06005_PR07 85_1950_F205_P06005_PR08 85_1950_F205_P06005_PR09 85_1950_F205_P06005_PR10 85_1950_F205_P06005_PR11 85_1950_F205_P06005_PR12 85_1950_F205_P06005_PR13 85_1950_F205_P06005_PR14 85_1950_F205_P06005_PR15 373 86 1951 209/1951 4.838 João Antônio Monteiro Neto Telmo Rovira Martins Rua Eça de Queiróz 87 1951 228/1951 44.899 João Antônio Monteiro Neto Hélio Luiz Ribeiro Rua Dom Pedro esquina Marquês do Pombal 86_1951_F209_P04838_PR01 86_1951_F209_P04838_PR02 86_1951_F209_P04838_PR03 86_1951_F209_P04838_PR04 86_1951_F209_P04838_PR05 86_1951_F209_P41944_PR06 86_1951_F209_P41944_PR07 86_1951_F209_P41944_PR08 87_1951_F228_P44899_PR01 87_1951_F228_P44899_PR02 87_1951_F228_P44899_PR03 87_1951_F228_P44899_PR04 87_1951_F228_P44899_PR05 87_1951_F228_P44899_PR06 87_1951_F228_P44899_PR07 87_1951_F228_P44899_PR08 87_1951_F228_P44899_PR09 87_1951_F228_P44899_PR10 87_1951_F228_P44899_PR11 87_1951_F228_P44899_PR12 87_1951_F228_P44899_PR13 87_1951_F228_P44899_PR14 87_1951_F228_P44899_PR15 87_1951_F228_P44899_PR16 87_1951_F228_P44899_PR17 88_1951_F230_P48362_PR01 88_1951_F230_P48362_PR02 88_1951_F230_P48362_PR03 88_1951_F230_P48362_PR04 88_1951_F230_P48362_PR05 89_1951_F209_P06544_PR01 89_1951_F209_P06544_PR02 90_1951_F231_P03718_PR01 90_1951_F231_P03718_PR02 90_1951_F231_P03718_PR03 90_1951_F231_P03718_PR04 88 1951 230/1951 48.362 Não identificado Eng. Civil CREA: 5.946 João Antônio Monteiro Neto Fleck & Coutinho Ltda. Alípio Ebling Rua Hilário Ribeiro Rua Cel. Jaime da Costa Pereira, junto ao nº 252 Rua Hilário Ribeiro, nº 170 89 90 1951 1951 209/1951 231/1951-52 6.544 3.718 Nilo Martins Bernardo de Souza Velho 374 91 1952 231/1951-52 3.907 Chwartzmann & Gerchmann Ltda. Josef Neumann Rua Santa Cecília entre os nº 2.117 e 2.135 92 1952 232/1952 6.307 Chwartzmann & Gerchmann Ltda. Natalio Broide Rua Dom Pedro II, junto ao nº 1.376 93 1952 233/1952 8.261 Mello Pedreira & Cia. Ltda. Clovis Bastos Rua Dom Pedro II, entre os nº 1.231 e 1.253 94 1952 241/1952 23.623 Não identificado Eng. Civil CREA: 5.946 Gastão Altmayer Rua Hilário Ribeiro, nº 170 95 1954 284/1954 21.843 João Antônio Monteiro Neto Corina Franco Garcia Rua Marquês do Pombal 96 1954 285/1954 24.495 João Antônio Monteiro Neto Não identificado Eng. Civil CREA: 7.270 Victor Manoel Massulo Rua Olinda, junto ao nº 526 Rua Particular, junto a Plínio Brasil Milano 97 1955 287/1955 26.014 Gregório Zotz 91_1952_F231_P03907_PR01 91_1952_F231_P03907_PR02 91_1952_F231_P03907_PR03 91_1952_F231_P03907_PR04 91_1952_F231_P03907_PR05 91_1952_F231_P03907_PR06 91_1952_F231_P03907_PR07 92_1952_F232_P06307_PR01 92_1952_F232_P06307_PR02 92_1952_F232_P06307_PR03 92_1952_F232_P06307_PR04 92_1952_F232_P06307_PR05 92_1952_F232_P06307_PR06 92_1952_F232_P06307_PR07 93_1952_F233_P08261_PR01 93_1952_F233_P08261_PR02 93_1952_F233_P08261_PR03 93_1952_F233_P08261_PR04 93_1952_F233_P08261_PR05 94_1952_F241_P24623_PR01 94_1952_F241_P24623_PR02 94_1952_F241_P24623_PR03 94_1952_F241_P24623_PR04 95_1954_F284_P21843_PR01 95_1954_F284_P21843_PR02 95_1954_F284_P21843_PR03 95_1954_F284_P21843_PR04 95_1954_F284_P21843_PR05 95_1954_F284_P21843_PR06 96_1954_F285_P24495_PR01 96_1954_F285_P24495_PR02 96_1954_F285_P24495_PR03 96_1954_F285_P24495_PR04 97_1955_F287_P26014_PR01 97_1955_F287_P26014_PR02 97_1955_F287_P26014_PR03 97_1955_F287_P26014_PR04 375 98 1956 316/1956 5.285 João Antônio Monteiro Neto Otto L. Ely Rua Álvaro Nunes Pereira, junto ao nº 25 98_1956_F316_P05285_PR01 98_1956_F316_P05285_PR02 98_1956_F316_P05285_PR03 98_1956_F316_P05285_PR04 376 3. Artigos publicados no jornal Diário de Notícias ano 1930 1930 1930 1930 1930 1930 1930 1930 1930 1930 1930 1930 1930 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 data 24/08 31/08 07/09 14/09 21/09 28/09 16/11 23/11 30/11 07/12 14/12 21/12 28/12 04/01 11/01 18/01 25/01 01/02 08/02 15/02 22/02 01/03 08/03 15/03 22/03 29/03 05/04 12/04 19/04 03/05 10/05 17/05 24/05 31/05 14/06 21/06 página 08 07 08 07 11 14 10 09 12 16 16 16 16 18 16 16 14 16 12 16 16 22 12 14 18 16 08 20 18 11 10 18 20 09 17 20 título As construções modernas As construções modernas Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir arquivo no cd DN 1930-08-24 PG08 DN 1930-08-31 PG07 DN 1930-09-07 PG08 DN 1930-09-14 PG07 DN 1930-09-21 PG11 DN 1930-09-28 PG14 DN 1930-11-16 PG10 DN 1930-11-23 PG09 DN 1930-11-30 PG12 DN 1930-12-07 PG16 DN 1930-12-14 PG16 DN 1930-12-21 PG16 DN 1930-12-28 PG16 DN 1931-01-04 PG18 DN 1931-01-11 PG16 DN 1931-01-18 PG16 DN 1931-01-25 PG14 DN 1931-02-01 PG16 DN 1931-02-08 PG12 DN 1931-02-15 PG16 DN 1931-02-22 PG16 DN 1931-03-01 PG22 DN 1931-03-08 PG12 DN 1931-03-15 PG14 DN 1931-03-22 PG18 DN 1931-03-29 PG16 DN 1931-04-05 PG08 DN 1931-04-12 PG20 DN 1931-04-19 PG18 DN 1931-05-03 PG11 DN 1931-05-10 PG10 DN 1931-05-17 PG18 DN 1931-05-24 PG20 DN 1931-05-31 PG09 DN 1931-06-14 PG17 DN 1931-06-21 PG20 377 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1932 1933 1933 1933 1933 1933 1933 1933 1933 1933 1933 28/06 05/07 12/07 19/07 26/07 02/08 09/08 16/08 23/08 30/08 06/09 20/09 27/09 04/10 11/10 25/10 01/11 08/11 15/11 22/11 29/11 06/12 13/12 27/12 01/10 15/01 22/01 29/01 05/02 12/02 19/02 26/02 05/03 12/03 19/03 20 20 20 20 22 20 22 20 20 13 20 14 13 13 11 09 09 06 suplemento 06 suplemento 06 suplemento 06 suplemento 04 suplemento 04 suplemento 05 06 05 suplemento 07 suplemento 07 suplemento 07 suplemento 07 suplemento 12 suplemento 04 suplemento 07 suplemento 07 suplemento 07 suplemento Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir Para quem quer construir DN 1931-06-28 PG20 DN 1931-07-05 PG20 DN 1931-07-12 PG20 DN 1931-07-19 PG20 DN 1931-07-26 PG22 DN 1931-08-02 PG20 DN 1931-08-09 PG22 DN 1931-08-16 PG20 DN 1931-08-23 PG20 DN 1931-08-30 PG13 DN 1931-09-06 PG20 DN 1931-09-20 PG14 DN 1931-09-27 PG13 DN 1931-10-04 PG13 DN 1931-10-11 PG11 DN 1931-10-25 PG09 DN 1931-11-01 PG09 DN 1931-11-08 PG06 DN 1931-11-15 PG06 DN 1931-11-22 PG06 DN 1931-11-29 PG06 DN 1931-12-06 PG04 DN 1931-12-13 PG04 DN 1931-12-27 PG05 DN 1932-01-10 PG06 DN 1933-01-15 PG05 DN 1933-01-22 PG07 DN 1933-01-29 PG07 DN 1933-02-05 PG07 DN 1933-02-12 PG07 DN 1933-02-19 PG12 DN 1933-02-26 PG04 DN 1933-03-05 PG07 DN 1933-03-12 PG07 DN 1933-03-19 PG07 378 4. Participações na Revista do Globo ano 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1931 1932 1932 1932 1932 data 24/04 09/05 08/06 20/06 04/07 18/07 15/08 29/08 26/09 10/10 13/02 24/09 08/10 05/11 página s/p s/p s/p s/p s/p s/p s/p s/p s/p s/p s/p s/p s/p s/p título Como fazer uma casa Como fazer uma casa Como fazer uma casa Como fazer uma casa Como fazer uma casa Como fazer uma casa Como fazer uma casa Como fazer uma casa Como fazer uma casa Como fazer uma casa Arquitetura Arquitetura Arquitetura Uma boa casa arquivo no cd RG AIII-N12-1931-04-25 RG AIII-N13-1931-05-09 RG AIII-N15-1931-06-08 RG AIII-N16-1931-06-20 (1) RG AIII-N16-1931-06-20 (2) RG AIII-N17-1931-07-04 RG AIII-N18-1931-07-18 RG AIII-N20-1931-08-15 RG AIII-N21-1931-08-29 (1) RG AIII-N21-1931-08-29 (2) RG AIII-N23-1931-09-26 RG AIII-N24-1931-10-10 RG AIV-N03-1932-02-13 RG AIV-N19-1932-09-24 RG AIV-N20-1932-10-08 RG AIV-N22-1932-11-05 379 5. Documentos Primeira página da “folha-corrida” anexa ao processo junto ao CREA-RS. Licença profissional do Estado do Paraná. 380 Declaração da Intendência Municipal de Porto Alegre. Pedido do registro de arquiteto junto ao CREA-RS em 15 de agosto de 1934. 381 Declaração da Predial Sul América Ltda. Resposta do Administrador da Mesa de Rendas certificando a lotação de Monteiro Neto como “Construtor”. 382 Solicitação de Monteiro Neto para alterar sua licença de “construtor” para “projetista”. Indeferimento emitido pelo CREA-RS em 30 de dezembro de 1939. 383 Resposta do CONFEA a solicitação de Monteiro Neto. Correspondência endereçada diretamente ao Presidente do CREA-RS, Lélis Espartel. 384 Parecer do Conselheiro Ulysses M. A. de Alcantara. Solicitação de Monteiro Neto para aumentar seu limite de projetista. 385 Ofício que encerra o processo de Monteiro Neto junto ao CREA-RS devido o seu falecimento. 386