Volume 1 Prólogo Introdução Volume 2 Capítulo I - F_A_M Fayet Volume 3 Capítulo I - Araújo Volume 4 Capítulo I - Moojen FM Volume 5 Capítulo II - FAMP_EA REFAP e TEDUT Volume 6 Capítulo III - Praia de Belas A cidade moderna e os três arquitetos Volume 7 Capítulo IV - FAM Epílogo e Referências Volume 8 Anexos Fayet, Araújo & Moojen ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL - 1950/1970 Jul. 2012 Faculdade de Arquitetura - UFRGS Rua Sarmento Leite, 320 /201 90050-170 Porto Alegre/RS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ARQUITETURA Fone/Fax: 55 51 3316-3485 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA - PROPAR ppgarq@vortex.ufrgs.br TESE DE DOUTORADO Orient. Carlos E. D. Comas/ Co-Orient. Hélio Piñon Sergio Moacir Marques FAYET, ARAÚJO & MOOJEN ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL - 1950/1970 Volume 1 Prólogo Introdução Faculdade de Arquitetura - UFRGS Rua Sarmento Leite, 320 /201 90050-170 Porto Alegre/RS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ARQUITETURA Fone/Fax: 55 51 3316-3485 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA - PROPAR ppgarq@vortex.ufrgs.br TESE DE DOUTORADO Orient. Carlos E. D. Comas/ Co-Orient. Hélio Piñon Sergio Moacir Marques UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ARQUITETURA - FA/UFRGS Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura - PROPAR Fayet, Araújo & Moojen_Arquitetura Moderna Brasileira no Sul: 1950/1970 TESE DE DOUTORADO Orient. Prof. Dr. Carlos E. D. Comas Co-Orient. Prof. Dr. Hélio Piñon Sergio M. Marques Fayet, A raújo & M oojen_Arquitetura Moderna Brasileira no Sul: 1950/1970 Tese apresentada ao Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura - PROPAR da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Arquitetura Área de Concentração: Teoria, História e Crítica da Arquitetura Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo Dias Comas Sergio Moacir Marques Para a Família M oojen Moacyr, Maria Ivone, Nadia Maria, Roberto, Rodrigo, Lidiane, Mariana, Marcelo, Eduardo, José Carlos, Patrícia e Valentina Para F ayet e Araújo Que são como da família Para meu filho Lucas Que é continuação Agradecimentos As Instituições FA/UFRGS, CAPES, ESTAB/UPC, FAU-UniRitter, FAU Mackenzie, FAU/USP, FA-UDELAR, FA-UP, CAPES, REFAP - Petrobras, SESC e PMPA, que com seus recursos humanos, acervos, infraestrutura, apoios diretos ou indiretos, contribuíram institucionalmente no desenvolvimento deste trabalho. Aos dirigentes, colegas, amigos, alunos e ex-alunos da FAU-UniRitter que, de uma maneira ou outra, colaboraram com a realização deste trabalho: Flávio D´Almeida Reis, Ivelone Nagel Reis, Lucimar Hermes, Regina Souza, Maturino Luz, Edson Zanckin Alice, Daniel Pitta, Rejane Pivetta, Taís Schein, Felipe Dutra, Caroline Pilatti, Rafael Gonçalves, Rafael Dametto, Luciane Stummer Kinsel, Valentina M. Marques, Carolina Bonfada, Caroline Valicente, Carolina Druck, Ricardo Schwingel, Mirela Fiori, Leonardo Neumann e em especial Cairo Albuquerque da Silva, Julio Ramos Collares e Marta Peixoto, que também são como família. Aos dirigentes, professores, colegas, ex-alunos e amigos da FA/UFRGS que igualmente deram sua contribuição: Claudia Cabral, César Dorfman, Rogério Oliveira, Luiz Carlos Macchi, Betina Martau, Fernando Fuão, Andréa Machado, Ana Carolina Pellegrini, Silvia L. C. Leão, Angélica Ponzio, Nicolas Sica Palermo, Manoela Schimidt , em especial, Carlos E. D. Comas, pela atenção redobrada e dedicação, e Edson da Cunha Mahfuz, que tenho como irmão. Aos professores, colegas e amigos da ETSAB/UPC que, da mesma forma, direta ou indiretamente contribuíram na realização da etapa de investigação no exterior: Cristina Gaston, Ernesto Redondo, Félix Solaguren-Beascoa, Fernando Álvarez, Carlos Ferrater, Eva Prats, Ricardo Flôres, Zaida Muxí, e em especial Josep Maria Montaner, Karin Hoffert e o casal Hélio Piñon e sua esposa Teresa, que me adotaram como filho. Para os colegas e amigos latino-americanos que, por contribuição direta, afinidades, sintonia ou paralelismo, colaboraram no desenvolvimento da pesquisa: Fernando Díez, Pablo Ferreiro, Gustavo Robinsohn e Mariano Clusellas em Buenos Aires, Gustvavo Scheps, Isidoro Singer, Thomas Sprechman, Nelson Inda e Julio Gaeta em Montevidéu, Horacio Torrent em Santiago do Chile, Alejandro Beltramone em Rosário, Monica Bertolino, Carlos Barrado, Omar Paris e Griselda Lorenzo em Córdoba, Daniel Bonilha em Bogotá, Abilio Guerra, Alvaro Puntoni, Mario Figueroa e Renato Anelli em São Paulo, Sergio Magalhães e Guilherme Lassance no Rio de Janeiro, Roberto Montezuma e Fernando Diniz Moreira em Recife, Sylvio Podestá e João Diniz em Berlo Horizonte, Roberto Moita em Manaus, e principalmente Ruth Verde Zein e Cecilia Rodrigues do Santos, em São Paulo, que cuidam de mim faz tempo. Aos colaboradores do MooMAA, que não hesitaram em ajudar em momentos críticos, de árduas tarefas, Valentina M. Marques, Monica Bohrer, Betina Cornetet, Karla Roman, Cristina Martins, Camila Dias, Luciane Stummer Kinsel, Débora Assis Brasil, Silvio L. Andrade, em especial Bárbara Mello, de incansável dedicação, e meu pai, evidentemente, que neste quesito atuou como tal. Aos amigos Ricardo Sassen Paz, Steffani Nohel Paz, Caé Braga, Luciana Rosa, Isinha, Pierre Fernandez (I), Dóris Binz, Débora Laub, Ana Paula Alcantara, Pierre Fernandez (II), Elaine Fernandez, Marcelo Sperb Marques, Vladinéia Danielski, Rogério Rodrigues, Mariana Ribeiro e Betina Martau que com suas amizades ajudaram muito. A Agostí Obiol, Mercedes Cordón, Daniel Obiol, Clara, Maria e Berta, Jorge Obiol, Angelo Obiol, que me aceitaram em sua família, e em especial Cecília Obiol Cordón, que foi importante em um momento importante. À Familia de Fayet, Suzy, Mirtha, Beatriz, Marciano, Angela, Nei e Theo, e de Araújo, Mary, Fernando e Lúcia, que ajudaram sempre, já faz muito. A Carlos E. D. Comas e Hélio Piñon pela sólida orientação A F ayet, Araújo & M oojen. Não por qualquer relação familiar ou pessoal evidente, mas pela arquitetura e urbanismo. Fonte: Desenho Sergio Marques, 2012 Edifício FAM – F ayet, Araújo & M oojen – Fachada oeste, 1964-1968 Edifício FAM – F ayet, Araújo & M oojen – Fachada oeste, projeto original aprovado na PMPA, 1964 Fonte: Acervo FAM RESUMO ABSTRACT A investigação aborda a manifestação da Arquitetura Moderna Brasileira no sul do país, através do exame aprofundado de projetos, obras exemplares e pensamento representativos de Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. Araújo e Moacyr Moojen Marques, três arquitetos expressivos da geração descendente da vanguarda moderna na região. Do final dos anos 1940 até o final da década de 1960, período que abrange a estruturação da profissão, surgimento do ensino, formação da Faculdade de Arquitetura, criação do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Rio Grande do Sul – episódios nos quais os três arquitetos tiveram certo protagonismo – introdução, disseminação e expansão da arquitetura moderna no Estado, a trajetória e principalmente a produção arquitetônica correspondente desnuda o panorama da arquitetura moderna no sul e sua inserção no cenário amplo do Movimento Moderno. Desde visão focada na análise penetrante do projeto, objeto arquitetônico e exercício do ofício, aspectos como relações de continuidade e descontinuidade da Arquitetura Moderna Brasileira, sua particular apropriação do Movimento Moderno, propagação regional, paralelismos e contribuições nativas se confrontam com agentes próprios do fazer matizados pela conjuntura internacional, nacional e local. A investigação de manifestações de distintas colorações e circunstâncias, busca de certa forma incrementar o conhecimento disciplinar disseminado, fundamentando com mais consistência a produção recorrente da arquitetura brasileira, além da referencial produzida nos tradicionais centros de irradiação, pelas lideranças ancestrais. The investigation deals with the manifestation of Brazilian Modern Architecture in the South, through the scrutiny of projects, works and throught representative examples of Carlos M. Fayet, Claudio L. G. Araujo and Moacyr Moojen Marques, three significant architects of the modern generation, descendants of the vanguard in the region. From late 1940 until the end of the 1960s, a period that covers the structuring of the profession, the emergence of education, the formation of the School of Architecture, the creation of the Institute of Architects of Brazil, Department of Rio Grande do Sul – episodes of which the three architects have had some role – the introduction, spread and expansion of modern architecture in the state, the trajectory and especially the correspondant architectural production denuded the landscape of modern architecture in the south and the integration into the broader landscape of the Modern Movement. Since a vision focused on a penetrating analysis of the project, the architectural object and trade, aspects such as relations of continuity and discontinuity of Brazilian Modern Architecture, its unique apropriation of the Modern Movement, regional spread, parallels and native contributions are faced with the agents themselves, blended by the international, national and local levels. The investigation of events and circumstances of different natures searches for a way to increase the disseminated disciplinary knowledge, more consistently fundamenting the recurring production of Brazilian architecture, in addition to the references made in the traditional centers of irradiation by the acestral leadership. SUMÁRIO PRÓLOGO PANORAMA e FOCO: Contorno, perspectivas e algumas explicações 11 INTRODUÇÃO ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA no SUL 31 SUL Centro e Margem 33 Mestres e Massmédium 35 A Crítica e a Contra Crítica dos Anos 1980 1980: A História de Trás diante 38 Fayet, A raújo & Moojen 42 O Sul na Arquitetura Moderna Brasileira 44 Precocidades, Vocações e Perseverança 69 Alvorecer: As Casas Flôr, Ernesto Cross Valdez, Candido e Manuel Madureira Coelho (1950-1952) 77 “Protótipo e monumento: um palácio, o palácio da justiça” (1952-1968) 83 Mais algumas parcerias e o 89 Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA (1959-1969) Quem casa quer casa: Residências Henrique Krolikowski, Petrônio Corrêa e outras (1959-1981) 100 PMPA e UFRGS: Arquitetura, urbanismo e Movimento Moderno UFRGS: em afirmAÇÃO (1955-1969) 108 AÇÃO Urbanismo, outras parcerias e o encontro do ofício com a UFRGS: 117 UFRGS : Projeto para a Cidade Universitária (1958) Atividades de Classe, outras lideranças e o encontro do ofício com o Instituto: O projeto para a sede do IAB -RS (1960-1963) 122 IABOmni + presença 128 ? F_A_M CAPITULO I 53 A CLÁUDIO LUIZ GOMES ARAÚJO (1931) 131 Pelotas, Upacaraí e Porto Alegre (1931-1951) Engenharia x Realismo Socialista = Arquitetura e o 136 Movimento Moderno no Sul (1950-1955) A Europa, as Indústrias e o Design (1954) 141 O principio do principio: 142 Edifícios Pioneiro e Feliciano Xavier (1955-1965) Casas Telmo Ferreira, Lauro Borges, Antônio Pegoraro e Paulo Torelly: 146 Torelly : Cada casa é um caso? (1955-1961) Arquitetura Moderna na Praia: Colônia de Férias em Tramandaí (1960) 150 Arquitetos e arquitetura moderna no mercado: 153 Variedades (1955-1959) O Verdadeiro eu interior: A revelação em quatro magazines (1958-1961) 155 Casa de ferreiro espeto de ferro: FM, AM, FA, AF, AM, MF, MA Rio Gande do Sul e Uruguai na Cena Meridional : Meridional: Paralelos Platinos (1678-1960) 61 F CARLOS MAXIMILIANO FAYET (1930-2007 ) Parajú, Gravataí e Porto Alegre (1930-1953) 68 Os apartamentos de Araújo e Dicran Gureghian (1958-1962) 166 Gott steckt im Detail: Do interior ao objeto: mais um alemão no caminho (1962-20??) 173 Paralelos transversais: Arquitetura de interiores no interior da academia (1958-1968) 179 Um passseio político com tonalidades estéticas: Breve passagem pelo IAB/RS (1966-1967) 183 Paralelos longitudinais - Peças de um mesmo jogo: 186 Apartamento Rafael Strougo e Residencia David Kopsteisn (1966) Sequências e Diagonais - O jogo com novas peças: Apartamento Maurício Branchtein e Residencia Simão Kuperstein (1969-70) 192 Suave porém rigorosa presença 197 A casa do patrão: Residencia Mello Pedreira (1958) 241 Residencia provisória no escritório transitório: 247 A Casa de Ipanema - um dos protótipos? (1958) Concurso para a Assembléia Legislativa Fratura ou sutura? (1958) 251 Serviço Social do Comércio - SESC: Escritório definitivo, clientes duradouros, arquitetura bruta, sólidos resultados (1955definitivo, (195520??) 259 M MOACYR MOOJEN MARQUES (1930) Lagoa Vermelha, Joaçaba, Passo Fundo e Porto Algre (1930 – 1949) 199 Arquitetura, União da Juventude Comunista, PUFA, Uruguaios e o Movimento Moderno (1949-1954) 203 A Europa, a Cortina de Ferro e Alguns Convites (1955) 211 Mais Convites, o Convite Derradeiro, Edvaldo Paiva, a Carreira Multifacética e a Cidade 216 Primeira Perimetral (1956-1958) 217 Reloteamento da Ilhota (1956-1959) 221 Urbanismo e Arquitetura, encargos públicos e privados em todas escalas: O edifício Sede da Carris Porto Alegrense (1957) 222 Borbotões de Projetos e a Prática Corrente da Arquitetura Moderna: Trabalhos para Mello Pedreira (1955 - 1960) 226 Edifício Phenix (1955) 226 Refeitório do SESC (1955) 196 Banco Nacional do Comércio (1956 - 1960) 231 Dois empreendimentos na mesma linha: Edifico José Pilla - Avenida Independência (1957) e Hotel Guaíbinha - Rua Duque de Caxias (1957) 233 O gosto neoplástico, arquitetura norte-americana e a Casa 266 Mauricio Sirotsky Sobrinho (1963) Brutalismo na Pradaria: 273 Clube do Professor Gaúcho - CPG (1966) Ainda Convites, a Universidade, Urbanismo Moderno e as Crises de 1964 e 1968 (1958 - 1968) 279 Escala Urbana, vocação ascendente: A Gerência do Planejamento de POA e outros Projetos (1962-1979) 282 Rigorosa porém suave presença 286 FM Ainda o Urbanismo: mais um concurso, uma vitória sem continuidade: Plano Piloto para o Delta do Jacuí (1957-1958) 287 ANFITEATRO, a FOICE e MARTELO, O.V.N.I e GUARDA-CHUVA GUARDAAuditório Araújo Vianna (1958-1964) 291 O ANFITEATRO_ ANFITEATRO_Auditórios e Bastidores da Ribalta 291 A FOICE E O MARTELO_ MARTELO_Comunistas, Militares e Astronautas 298 O O.V.N.I _ Geometria, Topografia e Território O.V.N.I_ 300 O GUARDA CHUVA_ a Praça e o Coreto 301 F, A & M 303 CAPITULO II FAMP_EA REFAP e TEDUT (1962-1968) Petróleo, Petrobrás e a Equipe de Arquitetos FA O principio do principio: Almoxarifados (26/07/1962) MA Flutuando sobre o lago: Refeitório (26/09/1962) P O Centro de Treinamentos e o “S anduíche anduíche”(28/02/1963) P Flutuando sobre a rua: Portaria (19/03/1963) A O Sistema em Marcha: Superintendência (27/02/1964) FAP A Praça das Três Funções FMMA 309 CAPITULO I V 320 326 335 339 344 349 FAM FILTRO SOLAR – FATOR PARALELO 30 O FAM e a Arquitetura Moderna Brasileira no Sul (1964-1968) 441 O manifesto gaúcho: Tecido ou arquétipo? 444 : O sistema em metástase: Serviços Médicos, Vestiário, 355 Edifícios Industriais e outros AM TEDUT O Climax (1966-1968) 361 O Concreto e os Três Arquitetos 372 Arquitetura Industrial e os três arquitetos 381 À guisa de uma pequena conclusão 386 CAPITULO III F, A e M Arquitetos (1968–1980) 477 FA _EA PRAIA DE BELAS M FVHN A CIDADE MODERNA E OS TRES ARQUITETOS (1914-1979) 389 O Plano Paiva: Antecedentes, continuidades e variantes (1914-1951) 390 O Plano Paiva e seus Projetos (1951-1961) 402 Praia de Belas: TOPOS [LOGIA], GEOS [GRAFIA] & ACQUA: Belas A gênese da Cidade Moderna 405 O aterro, mudanças de rumo e alguns projeto (1961-1989 414 projetos Parque Marinha do Brasil - Um dos Projetos (1976) 417 Modernistas na Repartição? S . M.O .V . (1966) 422 Modernistas sem Repartição! Câmara de Vereadores (1975-20??) 428 Cidade mutante: objetos diretos e indiretos 434 Les Grands Travaux 479 Arquitetos Associados Aleatóriamente 486 EPÍLOGO Transversais Ibero-Americanos: Por uma a rquitetura h ereditária 495 ereditária O Trabalho de Héros 500 Um l egado útil e uma tarefa complicada 504 Abstração Moderada 505 Tectonicidade indissociada 506 Oikos + Colere = Eco + Cul Cidade Inacabada REFERÊNCIAS 506 507 511 ANEXOS ANEXO I Cronologias ilustradas 01 ANEXO II Acervo Fayet, Araújo & Moojen 107 ANEXO III MEMÓRIAS, LEMBRANÇAS, DE JA VU E MAIS EXPLICAÇÕES 161 EXPLICAÇÕES PRÓLOGO FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Prólogo PRÓLOGO PANORAMA e FOCO: contorno, perspectivas e algumas explicações A ideia de arquitetura moderna gaúcha não encontrou eco em termos de sistemas compositivos e elementos formais próprios suficientes para sustentação de escola arquitetônica regional irradiadora, nem corpo disciplinar “hereditário” que fizesse jus à identidade formal distinta da Arquitetura Moderna Brasileira consagrada. O modo de fazer Arquitetura Moderna no Rio Grande do Sul revestiu-se de outros atributos e processos, menos condicionados pelas particularidades estéticas desenvolvidas no Rio de Janeiro e São Paulo – que constituíram apropriações peculiares do Movimento Moderno, o bastante para formação de escolas filiadoras. No entanto, os projetos de Fayet, Araújo e Moojen no Estado, como exemplos emblemáticos e talvez inaugurais de determinada visão construtiva, como os projetos para a Petrobras (Fig.1)1, a idealização do urbanismo moderno na Praia de Belas (Fig.2)2 e os critérios formais no sistema espacial do edifício FAM (Fig.3)3 – epítetos de rigor, racionalidade, economicidade, pragmatismo, sobriedade, abnegação, assim como de utopismo, universalidade e outros atributos – dão vazão à certa maneira de compreender e proceder a arquitetura e o urbanismo, reveladores dos pormenores da Arquitetura Moderna Brasileira no Sul e de um modo de devoção à “boa causa da arquitetura moderna”4, que talvez caracterizem bem mais que mera propagação do movimento artístico. Refinaria Alberto Pasqualini – REFAP (Canoas, 1962-1968) – Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. Araújo, Moacyr Moojen Marques e Miguel A. Pereira (1932) e Terminal Almirante Soares Dutra – TEDUT (Tramandaí, 1964-1968), Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. Araújo e Moacyr Moojen Marques. Ver: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p. 182-183. 2 Bairro de Porto Alegre, próximo ao Centro Histórico e às áreas de início de ocupação da cidade, no Século XVII, desenvolvido sobre área conquistada ao estuário, através de sucessivos aterros, onde desde as primeiras décadas do Século XX, projetos urbanos prospectaram propostas emblemáticas de ordenação urbana, próprias das teses de cada época, prevalecendo princípios da cidade moderna, planejados desde o final da década de 1930. Ver: MARQUES, Sérgio Moacir, A Cidade Moderna: O Moderno [e a Arte] na Cidade: A Praia de Belas e o Largo dos Açorianos – 1752-1973. In: Seminário Docomomo Brasil. Cidade moderna e contemporânea: síntese e Docomomo paradoxo das artes. Trabalhos Completos. Rio de Janeiro: Klam, 2009. CD-ROM. 3 Edifício FAM – Fayet, Araújo & M oojen (Porto Alegre, 1965-1968), Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. Araújo, Moacyr Moojen Marques. Ver: XAVIER, Alberto. MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p. 218- 219. 4 A expressão enunciada por Lúcio Costa evoca a ideia de adesão à vertente artística menos por filiação estilística que por afinidade ética e crença em ideais comuns, marcantes na vocação Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 1 Fonte: Fotografia João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fig. 1 – REFAP, Canoas. F ayet, A raújo, Moojen e Pereira, 1962-1968. As maneiras de concepção da Arquitetura Moderna, em especial da disseminada de maneira recorrente nos anos 1950, baseadas, segundo Piñon em “firmes princípios estéticos” de concepção como construção, abstração como universalidade e forma consistente a partir de uma ideia de ordem, de certa maneira, manifestaram-se no sul latino-americano e brasileiro em quantidade e qualidade média expressiva5, em particular na região meridional, descortinada por Fayet, Araújo & Moojen, ao longo de suas carreiras – no exercício do ofício, na esfera pública e privada, no ensino, em órgãos de classe, órgãos públicos e em opções de vida pessoal. MARQUES e NASLAVASKY tratam desta dimensão e sua distensão entre determinadas homogeneidades estilísticas da arquitetura brasileira e particularidades regionais polvilhadas de ideologismos. Ver: MARQUES, Sônia; NASLAVASKY, Guilha. Estilo ou causa? Como, quando e onde? Os conceitos e limites da historiografia nacional sobre o Movimento Moderno. Vitruvius Vitruvius, Arquitextos 011.06, São Paulo, ano 01, abr. 2001. Disponível em: . Acesso em 20 set. 2010, às 19h43min. 5 PIÑON categoriza determinada Arquitetura Moderna, produzida no período de entreguerras pelas vanguardas construtivas, alinhadas com vertentes artísticas constituídas pelo neoplasticismo e construtivismo, como a base de certa cultura espacial e estética universal, representada pela obra referencial de arquitetos como Mies Van der Rhoe, Arne Jacobsen, Gordon Bunshft, Van den Broek & Bakema e outros, correspondente, na produção arquitetônica qualificada dos anos 1950 e 1960, até há pouco menos divulgada, de latino-americanos como Mario Roberto Alvarez na Argentina, Raul Sichero no Uruguai e Eduardo Almeida em São Paulo. Ver: PIÑON, Helio. Teoria do projeto. Livraria do Arquiteto: Porto Alegre, 2006. Sergio M. Marques 11 Fig. 2 – Aterro da Praia de Belas. Final da década de 1960. onde uma arquitetura cuja discrição e austeridade condicionou-a a segundo plano em termos de representatividade estilística, mas que recentemente desperta interesse, justamente por sua correção e perenidade. No sul do Brasil, o racionalismo tectônico decorrente da maneira de armar a concepção arquitetônica, em que o sistema estrutural e processo construtivo nascem indissociados enquanto lógica de projeto e organização espacial, conjugados a preceitos de economia, frugalidade e sentido comum no atendimento ao programa, arroga um dos meios idiossincráticos do pensamento arquitetônico regional, em que a materialidade se apresenta como coadjuvante à protagonista, a estrutura, como elemento expressivo à peça lógica de sistema, em um sentido de sofisticação formal transcendente a formalismos desinteressados, com sistemas construtivos proporcionados e criterioso atendimento dos requerimentos programáticos. Da mesma maneira, concorrente à razão construtiva como genius loci, o pensamento progressista, aliado ao ativismo ideológico, se, por um lado, estabeleceu patrulhamentos implícitos, contribuintes da sisudez, por outro, produziu militância, que trespassou o território da arquitetura e envolveu particularidades pessoais e culturais do contexto local. Carreiras públicas e privadas deram sequência à afirmação de uma arquitetura moderna, focada no ofício, mas solidamente ancorada em princípios éticos e ideológicos, determinantes na realização de obras representativas de arquitetura e urbanismo pressupostamente impregnadas de ânimo coletivo. A motivação ideológica transportava para a arquitetura e o urbanismo modernos neste contexto, certa visão de mundo, de âmbito pessoal, profissional e social, sem desmerecer, no entanto, o ímpeto técnico e o uso do ofício competente como ferramenta de ação social. Se a relação entre cultura e ideologia, dada a complexidade temática, sugere cautela, entre arquitetura e motivações ideológicas, em particular no campo formal e representativo, o tema merece reflexão6. No caso, entretanto, o juízo do conteúdo ideológico e seu teor programático importam menos que os sistemas arquitetônicos eventualmente correspondentes, já que, como veremos, o pensamento e produção dos arquitetos em questão sempre protagonizou o projeto como a ferramenta de ação principal, efetiva e consequentemente substanciada em parâmetros formais e conteúdos disciplinares específicos, normalmente transcendentes ao debate ideológico. O sentido universal desta arquitetura, portanto, deteve-se muito mais ao plano formal, no sentido de ordem e controle compositivo, bem como ao domínio de princípios tectônicos associados à concepção, com certo rigor, muitas vezes confundido com acanhamento em relação aos antecedentes cariocas e paralelos paulistas, mesmo com patrulhamento ideológico, deveras presente em algumas manifestações idiossincráticas da cultura local. Também se pode dizer que a atenção à racionalidade construtiva e sentido comum no atendimento dos requerimentos específicos do programa e problemas inerentes de cada projeto, fortemente condicionados por uma visão progressista, não significaram timidez conceitual, ou mesmo subversão nos valores visuais da obra produzida; pelo contrário, subsidiaram soluções de refinamento formal e finura estilística, que, no caso da região meridional da América Latina, se não lograram produzir uma arquitetura moderna genuína, no sentido de regional, nacional, ou mesmo personalizada, como no centro do Brasil, Venezuela ou México, revelam paradoxalmente valores apreciáveis justamente pela indistinção quase anônima, condicionada pela adesão ao universal transposto ao local. Os arquitetos Carlos Maximiliano Fayet (1930-2007), Cláudio Luiz Gomes Araújo (1931) e Moacyr Moojen Marques (1930), protagonistas de diversos episódios da Arquitetura Moderna Brasileira meridional, integram o que pode ser Autores como Manfredo Tafuri e Roberto Segre, segundo Josep Maria Montaner, entendem que “cada obra tem uma missão ideológica”. Segre afirma: “Se a ideologia é o sistema de critérios e ideias políticas, jurídicas, morais. estéticas, religiosas e filosóficas, que desenvolve determinada classe ou grupo social dominante, a arquitetura que eles sustentam o expressa sempre com clareza”. Ver: MONTANER, Josep Maria. Arquitectura y critica . Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2007. p.102. 6 Fonte: Acervo João Alberto/ FAU UniRitter 12 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Prólogo chamado de segunda geração do Movimento Moderno no Rio Grande do Sul7. Arquitetos que sucederam a primeira geração regional, composta por nomes como os de Demétrio Ribeiro (1916-2003)8, Edgar Albuquerque Graeff (19211990)9, Carlos Alberto de Holanda Mendonça (1920-1956)10, Jorge Machado Moreira (1904-1992) e outros, por sua vez, descendentes da geração vanguardista liderada por Lúcio Costa (1902-1998), Oscar Niemeyer (1907), irmãos Roberto, os cariocas, e a seguir Rino Levi (1901-1965), Vilanova Artigas (1915-1985), Oswald Bratke (1907-1997), os paulistas, e a raiz original da Arquitetura Moderna Brasileira consagrada nacionalmente a partir do Rio de Janeiro e São Paulo11. Os três arquitetos, cujas carreiras na arquitetura entremeiam-se, possuem biografias matizadas pelos fatores sociais, políticos e econômicos da historiografia internacional, nacional e local, costurados em uma linha de tempo comum, repleta de afinidades pessoais e particularidades. Portanto, evitando recair em panoramas gerais exaustivos, já suficientemente abordados para os objetivos desta investigação, a análise procurou abordar eventuais aspectos gerais pertinentes, através das particularidades dos protagonistas. MONTANER faz referência a “todos estes exemplos que são mostra de experiências que, dentro da tradição da vanguarda, deixam atrás a ortodoxia [...]”, em relação à “missão da segunda geração do Movimento Moderno”. Narra o desenvolvimento por vias próprias, alheios aos fundamentos programáticos do Movimento Moderno na “periferia” dos CIAMs, como nos países nórdicos, América Latina e União Soviética. MONTANER, Josep Maria. Después del movimiento moderno . Después Barcelona: Gustavo Gili, 1993. p. 14. 8 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 9 Idem. 10 Nasceu em 1920, em Alagoas. Chegou em Porto Alegre em 1947. Projetou a Casa do Pequenino (1947), Ed. Santa Teresinha (1950), Residência Marcelo Casado d’Azevedo (1950), FORMAC (1952), Ed. Consórcio (1962). Ver: LUCCAS, Luís Henrique Haas. A escola carioca e a arquitetura moderna em Porto Alegre. Vitruvius, Arquitextos 073.04, São Paulo, ano 07, jun. 2006. Disponível em: . Acesso em: 08 out. 2010, às 15h55min. 11 As relações de influências diretas, indiretas e paralelismos entre a Arquitetura Moderna no Sul do Brasil e a arquitetura referencial produzida no Rio de Janeiro, nos anos 1930-1960, e em São Paulo, a partir dos anos 1950, têm sido intrepretadas de maneira diversa, tanto desde o ponto de vista de seus agentes e protagonistas, como pela crítica posterior e olhar historiográfico de estudiosos de diversos campos. Esta tese, além de compartilhar perspectivas com algumas destas interpretações, intenta acrescentar outras, relacionadas com os próprios argumentos aqui defendidos; portanto, presentes no corpo do trabalho, acrescentando considerações inerentes à especificidade da obra dos três arquitetos gaúchos. Para interpretações arquitetônicas mais abrangeentes sobre o tema, ver: LUCCAS, Luís Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do “genio artístico nacional”. [Tese de Doutorado]. Porto Alegre: PROPAR / UFGRS 2004. E CALOVI PEREIRA. Primórdios da arquitetura moderna em Porto Alegre: a presença dos arquitetos do Rio de Janeiro. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis v. 2, 2000. p. 47-72. Reis, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 7 Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM FAM, Fig. 3 – Edifício FAM Porto Alegre. Fayet, Araújo & Moojen, 1964-1968. Sergio M. Marques 13 Nenhum dos três é natural de Porto Alegre. Nascidos no início da década de 1930, em famílias de origem modesta, cada um colecionou experiências familiares de privação e comedimento, estendidas na vinda solitária à Capital para os estudos culminados pelos de Arquitetura. Com sensibilidade característica, acercaram-se dos cursos de Artes Plásticas, Engenharia e Arquitetura, intuindo vocação ainda um tanto difusa, como a própria profissão que se definia. Fayet ingressou primeiramente nas Artes Plásticas (1946), concluindo o curso em 1950. Posteriormente, identificou no Curso de Arquitetura do Instituto de Belas Artes seu ofício, ingressando em 1948. Araújo, filho de construtor, ingressou na Faculdade de Engenharia (1951) e, imaginando que ali faria projetos, dirigiu-se para o Curso de Arquitetura. Mais tarde, integrou-se ao grupo que migrou para a nova Faculdade. Moojen, ainda secundarista, em dúvida entre os dois cursos, da Engenharia e do Instituto de Belas Artes, vendo exposição dos projetos feitos pelos estudantes de arquitetura do IBA (1949), entendeu qual era sua vocação e ali ingressou (1950). A Faculdade de Arquitetura, em formação, a partir da fusão de ambos os cursos, forjava também as lideranças fundamentais de Demétrio Ribeiro, Edgar Graeff e Edvaldo Pereira Paiva (1911-1981)12, conjugando a visão de Arquitetura Moderna Brasileira de vertente carioca com a formação técnica e tradição de planejamento urbano da escola uruguaia. A conexão com o contexto uruguaio advinha, por um lado, pelas afinidades históricas e geográficas entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai (descritas no capítulo "Rio Grande do Sul e Uruguai na cena meridional: Paralelos Platinos"); decorria, por outro, de paralelismo em termos de cultura arquitetônica moderna, margem dos principais centros latinoamericanos, por vezes sintonizados com outras vertentes, além dos CIAMs e Le Corbusier, como a Escola de Amsterdã, os escandinavos e o contexto ibérico, no caso do Uruguai, e o expressionismo, os alemães e a arquitetura da Costa Oeste norte-americana, no caso dos gaúchos. Através das relações entre o meio da arquitetura e, principalmente, do urbanismo do prestigioso Instituto de Urbanismo de la Universidad de La Republica Oriental del Uruguay – UDELAR, e seu fundador, Maurício Cravotto, e do meio acadêmico do Rio Grande do Sul, através de Edvaldo Pereira Paiva e Luiz Arthur Ubatuba de Farias, que aí tiveram sua formação antes de estruturarem o Curso de Urbanismo da UFRGS, o primeiro do Brasil, se fortaleceram vínculos pessoais e profisionais. Paiva e Ubatuba estabeleceram estreitas relações com Cravotto, compartilhando de suas ideias e afinidades ideológicas progressistas, o que ocasionou a realização conjunta de trabalhos de urbanismo para diversas cidades gaúchas. Também na UDELAR formou-se Demétrio Ribeiro (em 1943), cujas relações acadêmicas 12 estenderam-se para as gerações seguintes, na forma de diversos episódios de intercâmbio entre estudantes e professores da UFRGS e UDELAR, os quais envolveram Fayet, Araújo, Moojen, entre outros, que conviveram com arquitetos e docentes uruguaios durante sua formação e carreiras profissionais, em especial em encontros de estudantes nas vindas de Maurício Cravotto, Idelfonso Arosteguy e Gomes Gavazzo a Porto Alegre, na primeira metade dos anos 195013. Ainda outras lideranças ancestrais, entremeadas de estrangeiros, das primeiras gerações de arquitetos, professores e autodidatas, como Fernando Corona (1895-1979)14, Eugene Steinhof (1880-1952)15, Joseph Lutzemberg (1882-1951)16, tanto pelo lado da engenharia quanto das artes – que pavimentaram os caminhos da arquitetura regional – seguiam atuando no meio. Assim como das gerações subsequentes, as lideranças laterais de Emil Bered (1926)17, Roberto Félix Veronese (1926-1991)18, Luís Fernando Corona (19241977)19 e a seguir de Fayet, que com seus escritórios, primeiras realizações, atuação docente e dedicação à organização da profissão contribuíram para o contexto cultural em que se desenvolveu a arquitetura moderna no Rio Grande do Sul. Desse ambiente inaugural da arquitetura e do urbanismo modernos no Também sobre a conexão uruguaia cabe lembrar os projetos para as Tribunas Sociais do Jockey Clube do Rio Grande do Sul (1952) e o Edifício Esplanada (1952), em Porto Alegre, projetos do Uruguaio Román Fresnedo Siri, construídos pela tradicional construtora gaúcha, Azevedo, Moura & Gertum e, posteriormente, a Central de Abastecimento de Porto Alegre – CEASA (1970), projeto de Fayet, Araújo e Comas, com a participação dos engenheiros uruguaios Eládio Dieste e Eugênio Montañez. Menos conhecida é a produção do arquiteto uruguaio Isidoro Singer (“el Pocho” – autor do Complexo teatral SODRE, World Trade Center e das Torres Náuticas em Montevidéu), que, através de sua ligação com Edvaldo Pereira Paiva e posteriormente com Moojen, atuou de maneira intensa no Rio Grande do Sul, junto à construtora Ivo A. Rizzo, a partir do final dos anos 1960. Igualmente ressalta-se o trabalho de Nelson Inda (“el Negro Inda”, hoje responsável pelo patrimônio histórico de Colonia del Sacramento), em colaboração com o escritório de Araújo e Fayet, nos anos 1970. Sobre o Instituto de Urbanismo da UDELAR, ver: GAETA, Julio (Org.). Maurício Cravotto Maurí Cravotto. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 1995. Sobre Roman Fresnedo Siri, ver: BORONAT, J. Yolanda; RISSO, Marta R. Roman Fresnedo Siri: un arquitecto uruguayo. Montevidéu: Universidad de la Republica: Facultad de Arquitectura: Insituto de História de la Arquitectura. 1990. WEIZENMANN, Jamile Maria da Silva. A arquitetura de Román Fresnedo Siri (1938-1971) . [Dissertação de (1938-1971). mestrado]. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2008. Sobre Dieste e a CEASA, ver: BOHRER, Glênio Vianna. CEA SA RS: Espaço e lugar na arquitetura moderna. [Dissertação de mestrado]. Porto CEASA Alegre: PROPAR-UFRGS, 1997. Sobre ambos: COMAS, Carlos Eduardo Dias et al. Arquiteturas Cisplatinas: Roman Fresnedo Siri e Eládio Dieste em Porto Alegre. Porto Alegre: UniRitter, 2004. Cisplatinas 14 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 13 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. Idem. Idem. 17 Idem. 18 Idem. 19 Idem. 15 16 14 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Prólogo Estado, onde se deu o amadurecimento cultural e profissional de Fayet, Araújo e Moojen, ainda é importante citar, por sua ação no planejamento e ensino do urbanismo em Porto Alegre e conexões com Montevidéu, o Eng. Urb. Luiz Arthur Ubatuba de Faria (1908-1954)20; por sua contribuição ao ensino do urbanismo e pensamento histórico, o Eng. Urb. Francisco Riopardense de Macedo (1921)21; e, por certa contemporaneidade e presença no cenário cultural, Enilda Ribeiro (1923)22 e Nelson Souza (1925)23. Da mesma maneira, e com intensidade, a conexão com ideologias de esquerda, envencilhadas com os paradigmas do Movimento Moderno, permeava o ambiente da arquitetura, em particular a FAUFRGS, contribuindo com parte dos fundamentos éticos e culturais dessa geração. A tentativa de substanciar um referencial estético e uma imagem de Arquitetura Moderna regionalizada, a partir do movimento cultural ligado à esquerda, com a alcunha de Realismo Socialista24 (fazendo frente à “internacionalização capitalista” do Movimento Moderno), teorizado por Edgar Graeff e Demétrio Ribeiro, revela o espírito politicamente engajado reinante no meio, coincidente com a busca de identidade presente na Arquitetura Brasileira25, que, no entanto, como 20 21 22 23 24 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. Idem. Idem. Idem. De acordo com Miguel Pereira, movimento baseado na doutrina de Andrei Szdhanov (1896-1948), Ministro da Cultura de Stalin, atuante na criação da União dos Escritores Soviéticos, “que ao criticar a arquitetura moderna, propõe a adoção de uma linguagem mais acessível ao povo”. Ver: WOLF José. Documento: querencia arquitetônica. Arquitetura e Urbanismo São Paulo. Disponível em: Urbanismo. . Acesso em: 11 out. 2010, às 10h 15min. A definição oficial consagrada nos estatutos da Associação dos Escritores Soviéticos para Realismo Socialista é a que segue: “o realismo socialista que representa o método principal da literatura e da crítica soviética, exige do artista a representação fiel à verdade historicamente concreta, da realidade no seu desenvolvimento revolucionário. A fidelidade à verdade e o caráter historicamente concreto da representação artística devem ligar-se com as tarefas de transformação e formação ideológica dos trabalhadores no espírito do socialismo”. ZHDANOV, Andrei. O papel social da arte progressista, Principios, n. 8, mai. 1984. In: DUARTE, Eduardo de Assis. Jorge Amado: romance em tempo de utopia. Rio de Janeiro: Editora da UFRN: 1996. p. . 221. Ver também: BERTULUCCE, Vanessa Beatriz. A arte dos regimes totalitários do século XX: Rúsia e Alemanha. São Paulo: Annablume / FAPESP, 2008. p. 93. 25 Motivação que, de certa forma, estende os debates sobre o caráter da arquitetura nacional, travados no Rio de Janeiro desde a década de 1920, mas igualmente o debate contrário ao funcionalismo ortodoxo no contexto internacional, expresso, por exemplo, em manifestações de afinidades entre Mies e Le Corbusier. “Particularmente na Alemanha, país de organizadores, me parece necessário sublinhar com maior claridade que a arquitetura não se reduz ao funcionalismo bruto. Na Alemanha o combate contra os racionalistas será mais duro que o combate contra a Academia”. VAN DER ROE, Mies. Carta a Le Corbusier. Berlin, 1929. In: COHEN, Jean-Luis. Mies . Rohe. Van der Rohe Madrid: Akal, 1998. p. 52. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado movimento estético dominante, no contexto cultural local e nas gerações que passaram a produzir Arquitetura Moderna no Sul, se não progrediu, maculou alguns traços de frugalidade tratados neste trabalho. Se a tentativa de formular um movimento arquitetônico regional não evoluiu o suficiente para se impor como tendência formal, em que pesem traços visíveis de comedimento, a vocação de posturas, procedimentos e maneiras de exercer o ofício impregnouse. Dentre elas, salientam-se a visão de coletivo, o senso da arquitetura e, principalmente, do urbanismo como agentes de renovação social, assim como o fazer a serviço de uma contribuição pessoal concreta na construção coletiva de valores sociais. Exercer o ofício respondendo à altura aos desafios exigidos por uma profissão em criação e por um país em desenvolvimento, com metas respeitáveis e horizontes promissores, significava propagar a causa social através da ação arquitetônica. Tratava-se do ideal moderno da ciência e da técnica a serviço de todos, praticado à risca, sem demagogias através do projeto26. A conexão com correntes progressistas, o serviço público, bem como setores do governo crentes na formulação de uma imagem moderna e justa para a nação era uma tendência lógica, assim como o eram os temas relacionados à cidade e à organização da profissão. Fayet ingressou como docente na Universidade Federal (1958), seguido de Moojen (1959) e de Araújo (1959), nas carreiras de Urbanismo, Arquitetura Paisagística e Composição Decorativa27, respectivamente28. Fayet e Moojen, a convite do Urb. Eng. Edvaldo Pereira Paiva, provavelmente a principal liderança intelectual na formação de ambos, incorporaram-se ao planejamento urbano do Município (1955 e 1956, respectivamente), em que Moojen prosseguiu até a aposentadoria (1987)29. “A sociedade prenunciava, depois da II Guerra, transformações importantes, era, pois fundamental estar preparado para compor os espaços do futuro que se mostrava breve”. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista jun. 2008. Cópia manuscrita. Entrevista, 27 Disciplina dedicada à arquitetura de interiores e ao desenho industrial voltado à arquitetura. 28 Segundo relatos de Araújo e Moojen, ambos ingressaram como professores na Universidade e saíram juntos, aproximadamente dez anos depois (1968), no mesmo dia, descontentes com os rumos do ensino da arquitetura nos governos militares e do ambiente interno da escola. Fayet foi cassado, conjuntamente com diversos professores da UFRGS, logo a seguir (1969). 29 Fayet e Moojen participaram de importantes trabalhos no Planejamento Municipal, sendo que Moojen seguiu a carreira de funcionário público do Município, em paralelo com a atividade de escritório durante quase toda sua carreira. Fayet foi arquiteto e urbanista da Divisão de Urbanismo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre entre 1955 e1963, ocupando a chefia da seção de Planejamento Urbano, de 1956 a 1963, e integrando a equipe para os projetos de urbanização da Praia de Belas (1956) e da Avenida Primeira Perimetral (1958), entre outros, e do Plano Diretor de Porto Alegre, entre 1954 e 1961. Moojen foi arquiteto e urbanista da Divisão de Urbanismo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre entre 1958 e 1987, ocupando os cargos de Chefe do Setor de Planejamento Urbano – SMOV, Chefe da Seção de Planejamento Urbano – SMOV, Gerente de Projetos Urbanos – SPM, Supervisor de Planejamento Urbano – SPM, Secretário Substituto – SPM Sergio M. Marques 15 26 Fonte: Acervo FAM Araújo, mais conectado às questões de desenho do objeto e projetos de escala edilícia, se não abraçou de maneira evidente a militância política e a causa urbana, incumbiu-se da qualificação do ofício com rigor e dedicação, via que o levou à presidência do IAB-RS (1966 e 1967) e ao exemplar exercício profissional criterioso. Fayet (Fig.4) sempre esteve particularmente interessado nas possibilidades construtivas e na organização do canteiro de obras. Projetava pensando mais na maneira de construir o imaginado que nas virtudes formais da concepção, atribuindo ao processo de projeto um sistemático caminho de idas e vindas às análises de modos de execução. Da mesma maneira que Le Corbusier tentava buscar nos projetos uma visão global, capaz de oferecer, além de uma solução imediata para o problema em questão, um conjunto de conceitos que pudessem estabelecer uma nova ordem para a arquitetura em geral e local. Nesse processo, a técnica e a racionalidade eram elementos chave. Apesar da sólida formação no Belas Artes, onde posteriormente também foi professor (1961-1969 e 1980-1991), a coerência estética e o teor conceitual nas decisões formais não foram uma constante em sua trajetória, ficando no campo da aguda inteligência e da visão estratégica o sentido moderno de sua arquitetura. Araújo (Fig.5), ao longo de sua carreira, teve constante tendência de perseguir, a partir de formas simples e limpas, sistemas sofisticados de construção, recursos técnicos, materiais pesquisados exaustivamente e usados com desenho apurado. De certa maneira sintonizado aos modos conceptivos de Mies, encara simultaneamente o projeto das partes e do todo, com partidos de matriz elementar e qualidade conquistada por adensamento, normalmente através da sofisticação de detalhes e emprego de sistemas técnicos, materiais e tecnológicos atualizados. Com sensibilidade aguda para os detalhes do projeto, graficação, execução e seu interesse no design30 caracterizou obra, conduta profissional e pessoal, pautada por sofisticação, sobriedade e discrição, cujo refinamento estético é invariável. Essa distinção por vezes afastou-o dos e integrando a equipe para os projetos de urbanização da Praia de Belas (1956), da Avenida Primeira Perimetral (1958), Plano para Área Central de Porto Alegre, Plano Piloto para o Parque Saint’Hilaire, Plano de Reurbanização da Ilhota, entre outros, e do Plano Diretor de Porto Alegre de 1954. Coordenou os trabalhos em equipe das extensões A, B, C e D do Plano Diretor, instituído os pelos Decretos n 2.872/64 – 3.481/72 e 4.552/72 e 5.162/75 em 1964, 1967, 1972 e 1975. Foi o Gerente do PROPLAN, programa de reavaliação do Plano Diretor, do qual resultou o 1 Plano o o Diretor de Desenvolvimento Urbano (1 PDDU) – Lei Complementar n 43/19, em 1979. 30 Araújo distingue o design de seu interesse, que o levou a contatos com o meio da semiótica e da poesia concreta nos anos sessenta, como o das ações de qualificação de elementos relacionados à arquitetura e não o desenho industrial na acepção strictu sensu de desenho de produtos. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 27.abr. 2008. Fig.4 – Carlos Maximiliano Fayet, década de 1950. preceitos de economia e coletividade característicos e aproximou-o, além dos demais, das questões formais e estéticas da construção, principalmente sob o ponto de vista do refinamento e despojamento modernos, assim como do desenho de escalas minuciosas, arquitetura de interiores, mobiliário e programação visual, sempre com sofisticação31. 31 Autodefinição de Araújo: “Aprendi um pouco de construção antes de estudar arquitetura. Entre 12 a 14 anos, ajudava pedreiros, carpinteiros e pintores, em obras que meu pai executava como 16 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Prólogo Moojen (Fig.6), mais pragmático em determinado sentido, e virtuoso em outro, projeta com ideias iniciais de forte conceituação arquitetônica e elementos técnicos essenciais, pesquisados genericamente, ajustados posteriormente em interatividade com os projetos complementares, no decorrer do processo32. Com maior amplitude na produção projetual, no decorrer da profissão, desde a escala urbana até o desenho do objeto, Moojen, como Frank Lloyd Wright, arma o pensamento arquitetônico em uma espécie de desenho total em que o todo e as partes do projeto, sua concepção e detalhes, desenhos e apresentação obedecem a uma mesma lógica, como se tivessem sido concebidos simultaneamente. Esse sistema arquitetônico básico passa, então, a receber e absorver a contribuição das diversas especialidades profissionais, sendo que o saldo final é entendido como uma resultante desse processo, no qual os pressupostos iniciais são defendidos tenazmente. Neste caso, o sentido moderno da sua produção reside fundamentalmente na clareza e profundidade de visão de questões conceituais e/ou ideológicas adotadas como centrais, mantendo sempre o resultado formal como meta complementar. Nos três casos, com particularidades idiossincráticas e coincidências consensuais, o relacionamento com a engenharia, especialidades técnicas e o meio da construção civil deu-se e se mantém com intensidade, em franca reciprocidade e complementaridade profissional33. Com parceiros, sócios e colaboradores, o engenho da liderança despretensiosa, no caso de Araújo e empreiteiro. Minha formação, entre 1950 e 1955, sofreu a influência dos arquitetos: Gropius, Le Corbusier (do qual visitei obras em 1954, na França), Mies Van der Rohe, Neutra e outros. O ensino da época tinha como padrão a Bauhaus. Recém-formado, junto com um colega, montei meu escritório de projetos. No começo predominavam os projetos de mobiliários e de arquitetura de interiores. Exerci a docência até 1968, quando resolvi me dedicar somente ao trabalho em meu escritório e nas obras. Como linha de conduta, poderia dizer da preocupação de perseguir as soluções simples, claras e honestas, sem cair em tentações. Respeitar o vizinho, o entorno, a cidade, a memória e a honestidade dos jovens que já foram Modernos, hoje são Pós e amanhã, por certo, continuarão fazendo muitas coisas boas. Recomendo sempre o convívio com a obra e aqueles que diretamente a executam, pois isto sempre me foi estimulante e gratificante”. ARAÚJO, Cláudio L. G., Curriculum Vitae . Porto Alegre, mai. 2002. Cópia digitada. 32 Autodefinição de Moojen: “Não persigo estilo próprio e não tenho pejo em me autorreciclar com frequência”. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista, jun. 2008. Cópia manuscrita. 33 Ao longo de suas carreiras, muitos foram os parceiros diretos, de diversas gerações, que participaram, em seus respectivos escritórios e ou projetos, como autores e/ou colaboradores. Somando os três, provavelmente mais de uma centena. Em relação aos projetos para a Petrobras, Miguel Pereira afirma: “Com Fayet, Araújo, Moojen Marques, a elaboração do projeto e a vivência do canteiro de obras da refinaria Alberto Pasqualini foi uma experiência definitiva, enquanto acumulação de uma sólida experiência profissional”. Ver: Entrevista com Migel Pereira. In: KIEFER, Flávio; MAGLIA, Viviane Vilas Boas. Refinaria Alberto Pasqualini – Entrevista com os Autores. In: PEIXOTO, Marta; LIMA, Raquel. Arquitetura, história e crítica: textos selecionados. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis, n. 2. UniRitter: Porto Alegre, 2000. p. 95. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FFAM Fig. 5 – Cláudio Luiz Gomes Araújo, década de 1950. Sergio M. Marques 17 Moojen, e da liderança como meta, no caso de Fayet, criou escola, sendo extensa a lista dos que debitam à convivência profissional e pessoal de suas atividades, experiência transformadora; igualmente suas agendas de clientes, parceiros, fornecedores e prestadores de serviços, cuja qualidade técnica e respeito mútuo representam um meio profissional de confiança, trocas e cumplicidade profissional, além da excelência técnica, em extinção. A educação e a vocação pessoal dos três arquitetos, a vivência no momento inaugural do ensino e da profissão coincidente com a chegada e afirmação do Movimento Moderno no Sul, a convivência com os pioneiros da arquitetura moderna no Estado, os movimentos estudantis, as trocas com uruguaios e outras influências, a militância política e as ligações com a esquerda, as viagens, o início de uma profissão promissora, os primórdios da pós-graduação em urbanismo, o envolvimento com a docência, a reforma de ensino, as crises nacionais e institucionais, as atividades de classe, as carreiras como funcionários públicos, o planejamento urbano, os concursos, as obras de arquitetura e urbanismo, públicas e privadas, são meios em parte pouco conhecidos, em parte reveladores de parcela significativa da Arquitetura Moderna Brasileira, sua história e produção urbanística e arquitetônica e também de um modo pertinente de abordar o projeto, cuja referência formal e técnica é referencial ao exercício do ofício e ao ensino de arquitetura contemporâneos. Neste sentido, a arquitetura moderna praticada no Sul do País e a obra de Fayet, Araújo e Moojen, oferecem matéria prima inédita de estudo e compreensão das relações de cultura universal recheada de particularidades regionais. Porém, em um âmbito mais específico de investigação e foco, o estudo centra-se nos meios de concepção e nos objetos arquitetônicos, praticados e produzidos na arquitetura moderna dos anos 1950 e 1960, dentro de certa investigação em voga no meio acadêmico recente ou em fóruns, como o DOCOMOMO – em busca da revalidação de valores universais aplicáveis ao projeto arquitetônico e à formação profissional, que façam frente ao relativismo emergente na arquitetura contemporânea e a certa dissolução da importância do projeto arquitetônico no mercado profissional. Este enfoque ganha particular interesse, na Arquitetura Moderna praticada no Sul do continente sul-americano, incluso o sul-brasileiro, cuja produção, por razões expostas aqui, afastaram-se gradativamente de inquietações nacionalistas e de formalismos exacerbados, aproximando-se, em alguns casos, nos anos 1950 e 1960, do anônimo exercício do ofício de exemplar regularidade formal e constante qualidade projetual, respondendo às especificidades locais e às demandas recorrentes, predominantes na sociedade e no mercado, constantemente dirigindo-se ao universal de seu tempo. 18 Fonte: Acervo FAM Fig. 6 – Moacyr Moojen Marques, década de 1950. O contexto da arquitetura no Sul padeceu historicamente de distanciamento dos principais centros de irradiação cultural do país, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo, de maneira e razões estudadas por alguns autores de diversas disciplinas e ressentiu-se, até recentemente, da pouca incorporação de sua contribuição na historiografia da Arquitetura Moderna Brasileira, cujas motivações alguns autores contemporâneos têm abordado34. Nas duas últimas décadas, com a contribuição de periódicos, 34 A discussão sobre o valor de certa autonomia cultural e formal da arquitetura produzida no Sul coincide com a própria discussão da Arquitetura Moderna na região, principalmente em relação a São Paulo, de maior proximidade geográfica e paralelismo temporal, mas de divergências, principalmente no campo ideológico entre os grupos de esquerda, liderados por Vilanova Artigas, FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Prólogo algumas poucas publicações panorâmicas da arquitetura brasileira de espectro mais amplo35 e incremento na produção de publicações locais, oriundas principalmente do meio acadêmico, com relativa circulação em termos brasileiros e latino-americanos, essa condição sofreu certa alteração36. Esses estudos expõem visão mais ampla da evolução da arquitetura no Rio Grande do Sul e a pesquisa da conformação do Movimento Moderno nesse contexto já não é novidade nem raridade; pelo contrário, começa a se avolumar em qualquer biblioteca sensível ao tema. Como é natural, essa produção, preenchendo lacunas substanciais, tende a adotar necessária visão panorâmica, com amplo espectro de obras, episódios e arquitetos, constituindo a trama indispensável para qualquer análise contextualizada. O estudo da arquitetura produzida no Sul do país, de modo geral e respeitadas as exceções, tem abordado olhares macroscópicos da produção regional, normalmente antecedidos por indispensáveis recapitulações de ascendências históricas e arquitetônicas de âmbito internacional, nacional e regional37. Outros, de caráter, monográfico, oferecem visões cronológicas, com análises arquitetônicas, acompanhadas dos fatos marcantes do contexto histórico, por um lado, e Demétrio Ribeiro e Edgar Graeff, por outro. Posteriormente, a discussão dirigiu-se a questões estilísticas e, com o aumento de uma produção mais regular no Sul, principalmente através dos arquitetos de segunda geração, o debate centrou questões de forma, materialidade e suas implicações regionais. Já nos anos 1980, dentro das linhas editoriais abertas pela participação de Ruth Verde Zein, Cecília Rodrigues dos Santos e Hugo Segwa, na revista Projeto, a questão ocupa o meio editorial. Ver: ZEIN, Ruth Verde. Arquiteturas Brasileiras e outras oposições. Projeto Projeto, São Paulo, n. 50, abr. 1983. p. 33. 35 Ainda em uma visão marcada pela pluralidade dos anos 1980, e amparado por ampla ascultação da arquitetura produzida no país, a partir da Revista Projeto, o livro de Segawa oferece, de forma pioneira, panorama menos cêntrico da Arquitetura Moderna Brasileira com “[...] exames localizados, talvez profundos (contemplando minorias, ‘vencidos’, movimentos populares, etc.). Uma postura que se avizinha às tendências da fragmentação ‘regulamentada’ do conhecimento, como uma reação às grandes leituras totalizadoras”. SEGAWA, Hugo, Arquiteturas no Brasil: 1900 – 1990. São Paulo: Edusp, 1998. 36 Trabalhos produzidos fundamentalmente, em primeiro momento, por pesquisadores da UFRGS e do UniRitter, em pesquisas, cursos de pós-graduação, organização de acervos, trabalhos de iniciação científica, publicados em certa quantidade pela Editora UniRitter, pela revista ARQTEXTO – PROPAR – UFRGS e em anais de eventos realizados com frequência cada vez maior, principalmente no âmbito dos Encontros de Teoria e História da Arquitetura, DOCOMOMO e Projetar. 37 Referência direta dessa abordagem é a pesquisa de doutorado de Luccas, que expõe simultaneamente de forma ampla e profunda os processos de gestação e produção da Arquitetura Moderna em Porto Alegre, desde o ponto de vista de seu contraste com as arquiteturas legitimadas como representativas da cultura brasileira. LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do “gênio artístico nacional”. [Tese de doutorado]. Porto Alegre: UFRGS, 2004. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado econômico, social e cultural da produção de determinados arquitetos primordiais para a evolução da arquitetura na região38. Em certo sentido, indo além deste panorama, a investigação a respeito da carreira e da obra de Fayet, Araújo & Moojen propõe-se a estudar, com maior aprofundamento, o projeto de arquitetura e seu produto, em determinado contexto e determinadas obras ainda inexploradas suficientemente e por vezes negligenciadas, mesmo pelo meio acadêmico local, sem deixar de relacionar questões amplas do contexto arquitetônico em que o foco tratado está inserido e, por outro lado, sem abandonar um olhar exclusivamente “microscópico” de seus fazeres; dentro de determinadas indagações expostas na introdução a seguir, o exame dos processos de concepção, sistemas construtivos, procedimentos de trabalho, aportes técnicos e o exercício do ofício determinantes do projeto e da obra arquitetônica dão o contorno da abordagem. Olhar o panorama e o pormenor, através do projeto e da obra, dentro de condições específicas, é mote para a compreensão de razões arquitetônicas que não se submetem a relações de mera causa e consequência, de simples antagonismo ou adesão, continuidade ou paralelismo, relação mecânica entre centro e margem. Em uma visão, de certa maneira, “evolucionista”39, admite-se o entendimento de evolução que não se dá de forma linear, mas divergente, em que diferentes adaptações, submissão a condições diversas e transmutações fazem espécies (arquiteturas) evoluírem com genéticas distintas, ou desaparecerem. O estudo da obra de Fayet, Araújo & Moojen traz em seu bojo a oportunidade do exame de questões amplas da propagação do Movimento Moderno em solo brasileiro, em confronto particular com certas fragilidades da arquitetura e cultura contemporânea, através de esquadrinhamento particular. Neste olhar pormenorizado, as relações de centro e periferia, tradição e invenção, mestres e seguidores confundem-se em simultaneidades, paralelismos e idiossincrasias que dão pistas sobre valores Neste caso, é notório o trabalho de pesquisa de diversos mestrandos e doutorandos do PROPAR-RS, como Luccas, Eneida Ripoll, Maturino Luz, Paulo Cesa, José Carlos Marques, Dalton Bernardes, Anna Paula Canez, entre outros. 39 Paralelo motivado pela efervescente comemoração do centenário do pesquisador Charles Darwin, em 2009. Charles Robert Darwin (1809-1882), autor da teoria da evolução, publicada em A origem das Espécies e Gales Alfred Russel Walace (1823-1913) compartilhavam e publicaram simultaneamente suas observações pioneiras sobre as adaptações que as espécies sofrem frente a determinadas condições do meio ambiente, ocasionando o desenvolvimento de algumas e a extinção de outras no processo denominado seleção natural. Neste caso, a aplicação do conceito não adota o entendimento de que os mais fortes sobrevivem, sentido segundo o qual alguns críticos de arquitetura utilizam a analogia darwinista, associando-a a uma visão positivista, mas a interpretação da relação simbiótica entre o meio e os habitantes, em uma visão holística. Ver: DARWIN, Charles. The origin of species . London: John Murray / Albermale Street, 1850. Sergio M. Marques 19 38 locais genuínos, eventualmente desvalorizados, e artificialidades superlativas na Arquitetura Moderna Brasileira. A tese está estruturada da seguinte forma: na Introdução uma Introdução, brevíssima nota sobre a Arquitetura Moderna Brasileira situa o contexto arquitetônico nacional ao qual o foco deste trabalho, em termos regionais, se reporta. Dentro das diferentes matizes em que o Movimento Moderno se manifesta, cujo pressuposto é base da tese, a designação de Arquitetura Moderna Brasileira, distinta de Movimento Moderno no Brasil, mesmo evidente, faz-se necessária. Como Rowe, ao questionar à qual arquitetura moderna a critica se dirigia40, sem pretender redefinir escolas arquitetônicas de alguma maneira já caracterizadas e normalmente consagradas como as do Rio de Janeiro dos anos 1930-50 e de São Paulo dos 1950-60, para o contraste que se deseja evidenciar, determinados atributos desta arquitetura representativa são relacionados. Caracterizando uma primeira aproximação ao ambiente onde se fomentou a formação e produção profissional de Fayet, Araújo & Moojen, “Arquitetura Moderna no Sul” designa introdutoriamente o contexto geográfico e temporal abordado na investigação, dentro dos preceitos e indagações que vão sendo formulados nos tratados da introdução. Aqui, breve panorama do cenário local se descortina. No âmbito do panorama nacional, uma primeira conjectura de abordagem da Arquitetura Moderna Brasileira no Sul é apresentada a seguir, relacionando quocientes entre “Centro e Margem” ou seja, estabelecendo Margem”, Centro conceitos de análise, próprios à tese apresentada, do processo de irradiação do Movimento Moderno desde os centros europeus e norte-americanos, com interpretações de decurso consagradas na historiografia da Arquitetura Brasileira, identificadas como análogas, em distintos aspectos, da sua disseminação entre o centro e as diversas regiões do País. Em “Mestres e mass medium”, em continuidade, conceitos de análise dium Mestres das influências e referências da Arquitetura Moderna nativa são observados, visando valorizar o foco deste estudo na produção arquitetônica das gerações que sucederam a vanguarda da Arquitetura Moderna Brasileira e regional, com atenção aos processos e produtos do exercício do ofício, praticado de maneira regular, e por vezes, exemplar, no caso de Fayet, Araújo & Moojen. Este exame coloca em questão a crítica remanescente à Arquitetura Moderna Brasileira, oriunda dos debates emergentes da década de 1980 – mas insistente desde Max Bill41 – a excessiva originalidade, virtuosismo e arroubos estruturais ROWE, Collin. Después de qué arquitectura moderna? Arquitecturas Bis, mar. 1987. p. 7. Bis Max Bill (1908-1994), juntamente com Josef Müller-Brockman, Emil Ruder e Adrian Frutiger, foi protagonista da escola suíça de design gráfico “caracterizada pela neutralidade emocional do designer que deveria resistir a todo custo à tentação da autoexpressão, para preservar o propósito 41 40 supremáticos de arquiteturas canônicas, como as de Oscar Niemeyer e Vilanova Artigas, pouco instrutivos para a criação de cultura hereditária e catalisadora da qualidade média da arquitetura praticada na maioria das cidades brasileiras. O tema da produção arquitetônica recorrente e a perda de expressão do ofício tem sido abordado de forma crescente na arquitetura contemporânea. Autores como Sola Morales42, Piñon43 e Martí Arís44 dedicaramse a sobressair o papel das arquiteturas por vezes anônimas – eclipsadas pelo protagonismo de arquitetos referenciais (e pelo mercado editorial) – na cultura estética, constituição de tecidos urbanos plausíveis e produção arquitetônica média competente. A compreensão dessa importância, sem detratar o fundamental papel inovador das lideranças vanguardista, parece uma necessidade45. No caso dos três arquitetos em questão, os ingredientes dessa relação parecem se reunir de forma transcendente; em sua produção, há valores e prática profissional suficientes para gerar, a partir da análise, conhecimentos concorrentes à construção de cultura arquitetônica disseminável e apropriável pelas gerações sucessoras, compensatória do formidável contraste entre arquitetura erudita e ordinária na produção brasileira atual. funcional, evitando a subjetividade, os ruídos ornamentais e qualquer superficialidade estética”. Aluno de artes da Bauhaus, foi discípulo de Kandinsky. Professor da Escola de Ulm, suas ideias foram muito influentes sobre o concretismo paulista, em particular Alexandre Wollner, e sobre o contexto com que Araújo posteriormente manteve contato, através dos paulistas, nos anos 1960. Conjuntamente com o alemão Walter Gropius, o italiano Ernesto Nathan Rogers, o japonês Hiroshi Ohye e o inglês Peter Craymer, publicaram artigo crítico ao formalismo da arquitetura brasileira e à negligência em relação aos aspectos sociais do País, em artigo intitulado Report Brasil, no qual, segundo as palavras de Max Bill, a arquitetura brasileira preferia ser “fotogênica e espetacular que atender às necessidades funcionais” eram as mais contundentes, ao ponto de ser chamado de iconoclasta em matéria na revista brasileira Manchete. A discussão prolongou-se com Lúcio Costa e entre os próprios críticos, em artigos posteriores na revista italiana Casabella e na brasileira Habitat. Ver: AQUINO, Flávio de. Max Bill critica nossa arquitetura moderna. Manchete n. 60, Rio de Manchete, Janeiro, 13 jun.1953. p. 38-39. Ver: ARCHITECTURAL REVIEW, n. 694, out. 1954. p. 234-250. Ver também: LOPES, Antonio Renato Guarino. A visão estrangeira sobre a arquitetura brasileira nos anos 1950: as criticas de Walter Gropius, Ernesto Rogers, Hiroshi Ohye e Peter Craymer. Disponível em: Acesso em: 20 abr. 2010, às 22h 47min. 42 Ver: SOLÀ-MORALES, Ignasi de. Diferencias: topografia de la arquitectura contemporánea. Diferencias Barcelona: Gustavo Gili, 1995 43 Ver: PIÑON, Helio; ROCA, Catalá F. Arquitectura moderna en Barcelona (1951-1976), en (1951Barcelona: Ediciones UPC, 1996. 44 Ver: MARTÍ ARÌS, Carlos. La cimbra y el arco. Barcelona: Fundación Caja de Arquitectos, 2005. 45 Tratei da questão de valorização da qualidade média da arquitetura brasileira em: MARQUES, Sérgio Moacir.Arquitetura média na meia idade (ao redor dos 90). Revista Arquitetura e Urbanismo, Urbanismo n. 76, Editora Pini, São Paulo, 1998. p. 76-79. 20 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Prólogo Em “A crítica e a contracrítica dos anos 1980 – A história de trás A diante”, para diante interpretação do seguimento de ideias, desde a crise dos 1980, baliza atual interesse na Arquitetura Moderna e exames de suas particularidades. Contraste entre crítica pós-moderna, postulados do Movimento Moderno e análise contemporânea expõe linha de pensamento conduzida nesta investigação, cuja continuidade relativa, e não antagonismo irrestrito, revela senso de examinar amplamente a Arquitetura Moderna Brasileira através de seus pormenores, evitando conceitos totalizadores. Dentre outros enfoques, o enquadramento das motivações acadêmicas e pessoais deste trabalho com o pensamento emergente no meio acadêmico, desde as críticas à Arquitetura Moderna Brasileira a partir dos anos 1970 e os debates do anos 1980, é fundamental. Não reconhecer a evolução do debate e desconhecer as motivações de mudanças de conceitos próprios da cultura parece ser simplificação que a tese quer evidenciar e superar. Recentes desqualificações do pensamento resultante dos debates críticos à Arquitetura Moderna, principalmente na década de 1980, fazendo jus aos periódicos processos banalizadores dos movimentos arquitetônicos, tornam necessário para os que vivenciaram esse período, compartilhando suas reflexões, algumas considerações menos superficiais46. Moojen”, Em “Fayet, Araújo & Moojen os três arquitetos relacionados para Fayet, essa abordagem são apresentados sumariamente através de descrição curricular ordenada, expondo-se de maneira pragmática a ampla produção e o conjunto de suas vidas profissionais. Este quadro apresenta de maneira sintética a produção profissional de arquitetura e urbanismo em sua totalidade, dentre a qual as obras protagonistas e o encadeamento de suas precursoras, bem como a evolução consequente se coloca de maneira objetiva. Da mesma forma, este levantamento expõe, em parte, a base documental levantada, em sistematização na forma de acervo produzido em paralelo com a tese. 46 Abilio Guerra, em introdução de publicação recente, corrobora o entendimento de que a valorização do conhecimento disciplinar dos 1980 e o consequente fortalecimento da pesquisa em arquitetura no meio acadêmico, oriunda em parte das críticas aos intuísmos do período anterior, conjugadas às críticas ao Movimento Moderno, são uma das razões de reconhecimento e revalorização da própria Arquitetura Moderna. “A produção histórica escassa sobre a arquitetura moderna no Brasil, até o inicio dos anos 1980 é resultante, dentre outros fatores, da falta de consistência teórica e metodológica da pesquisa histórica [...].” Ver: GUERRA. Abílio. (Org.). Textos fundamentais sobre história da arquitetura moderna brasileira: parte 1. São Paulo: Romano Guerra, 2010. p.11. Em dissertação de mestrado, tratei longamente do asunto e da contribuição do Pós-modernismo ao novo olhar sobre a arquitetura moderna brasileira, sua revalorização desde um novo patamar de abordagem e produção, menos condicionado por narrativas totalizadoras e mais afeto a particularidades, como, de certa forma, esta tese é consequente. Ver: MARQUES, Sérgio Moacir. A Revisão do Movimento Moderno? Arquitetura no Rio Grande do Sul dos anos 80. Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2002. Doutorado Em seguida, de modo também sintético, apresenta-se um panorama da Arquitetura Moderna Brasileira no Sul, considerando-se a bibliografia existente. “O Sul na Arquitetura Moderna Brasileira faz a revisão que Brasileira” O evidencia panorama editorial já não tão inexpressivo, destacando a efervescência cultural da “década perdida”, na qual publicações sobre manifestações diversas da Arquitetura Moderna Brasileira prosperaram. A tradição acadêmica e outros traços culturais no Estado têm viabilizado atenção e produção intelectual crescente a respeito do Movimento Moderno, suas manifestações brasileiras e, de maneira mais localizada, regionais. Em que pesem ausências importantes ainda a serem estudadas, pressente-se em marcha outra sensibilidade à cultura arquitetônica local, pelo menos na academia. A investigação do projeto e da construção, no exercício do ofício, no entanto, carecem de maior dedicação, cujo objetivo, entre outros, em relação aos três arquitetos, a tese busca compensar, com a pretensão de contribuir para a recomposição de certos valores universais subsidiários ao projeto arquitetônico e ao exercício profissional, que façam jus à crescente superficialidade que grassa na mídia arquitetônica, na definitiva perda de juízo formal da arquitetura ordinária e no relativismo conceitual da arquitetura contemporânea, bem como a subvalorização do fazer nas carreiras acadêmicas. Concluindo a introdução e relacionando objetivos, sob o signo da interrogação, em “?” estão sistematizados os elementos conceituais ? conjugados às indagações específicas investigadas e examinadas durante a pesquisa, em busca de respostas que fundamentam a tese apresentada. O Capítulo I, F_A_M, abre com “Rio Grande do Sul e Uruguai na Rio Meridional: Platinos” Cena Meridional: Paralelos Platinos apresentando, de forma proporcionada e sintética, aspectos da história, cultura, tradição política, econômica e social do Estado e sua relação com a cena meridional latino-americana, pouco abordada na historiografia, transitando entre acontecimentos gerais, conexões com o urdimento arquitetônico e os aspectos investigados, em especial com o Uruguai. A narrativa busca ênfase nos episódios que, direta ou indiretamente, atuam sobre o universo dos três arquitetos e tenta estabelecer nexo com pressupostos da tese. No entanto, este trabalho, propositadamente “condena”, de um modo geral, as informações de âmbito descritivo, desde um ponto de vista histórico-social e panorâmico e, destina o ponto de vista histórico arquitetônico a notas de pé de página e informações laterais, já que o foco se centra no projeto de arquitetura e não na história47. Assim, as notas, em algum 47 Cabe nota expondo a tentativa de evitar longas narrativas históricas, comuns nas teses de doutorado, como meio de caracterização do cenário histórico e cultural em que se insere o conteúdo retratado, aqui contornado, tanto em sentido amplo, já que a arquitetura moderna Sergio M. Marques 21 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS caso extensas, são na verdade quase uma leitura em paralelo ao texto principal, cuja leitura pode ser feita parcialmente de maneira autônoma. Em continuação a essa abordagem, a biografia, a vocação que se anuncia e formação, as primeiras obras, convivências, coincidências e individualidades até a associação formal nos projetos para a Petrobras, F, A e M, aprofunda, em cada personagem, a graduação de suas personalidades, desfilando vivências, experiências, episódios e arquiteturas. Mais uma vez, a coloração distinta da conformação pessoal e produção arquitetônica de cada arquiteto evoca o discernimento do comum, geração, formação, filiação, individualidades e coincidências. Neste capítulo, parte das obras produzidas pelos três arquitetos individualmente são apresentadas, de forma panorâmica e cronológica, correlacionadas, no entanto, com os representativos episódios da Petrobras, Praia de Belas e Edifício FAM. Assim como os trabalhos em que anteriormente, durante e posteriormente à REFAP, a contemporaneidade dos três arquitetos, afinidades pessoais, arquitetônicas e coincidências históricas, em diversas oportunidades e circunstâncias associou-os entre si e em trabalhos de diversas escalas. Antes da REFAP, Fayet e Moojen fizeram o Auditório Araújo Vianna48 e os trabalhos urbanos para Porto Alegre. Araújo e Fayet, após a REFAP, reuniram-se para projetar a Central de Abastecimento de Porto Alegre – CEASA49, retomando a designação “Equipe de Arquitetos” da Petrobras, brasileira referencial encontra-se suficientemente abordada neste aspecto, quanto em sentido específico, já que se pretendem recortes de temas efetivamente associados a determinada cultura arquitetônica e projetual, cuja caracterização esta tese pretende demonstrar. Assim, se pretende abordar os rasgos essenciais desta arquitetura, praticada em determinado lugar e tempo, bem como seus critérios de projeto, cuja vigência, em termos contemporâneos, pode ser rererencial, evitando, por um lado, realismos excessivos que obscurecem a análise formal e o estatuto visual dos projetos e, por outro, evitando recair na recuperação pós-moderna superficial da modernidade, que PIÑON denomina pós-modernismo ortogonal: “A gestão e abuso de seus valores, prévia redução de sua essência a uns poucos clichês figurativos que se administram com o propósito explícito de seduzir. Em definitivo, se trataria da reconversão deste pós-modernismo de aspecto clacissista em uma arquitetura mais verossímil desde o ponto de vista histórico”. PIÑON. Hélio. La forma y la mirada. Buenos Aires: Nobuko, 2005. p. 23. 48 Outro projeto de significativa expressão, tanto em termos de representatividade formal quanto simbólica, mas em particular de importância histórica, pouco evidenciado nos compêndios da Arquitetura Moderna Brasileira. Tratei desses aspectos, além daqueles de sua natureza arquitetônica. em artigo recente. Ver: MARQUES, Sérgio Moacir. O anfiteatro, a foice e o martelo, o O.V.N.I. e o guarda-chuva: vida e sobrevida do Auditório Araújo Vianna. In: MARQUES, Sérgio Moacir; COMAS, Carlos Eduardo; PEIXOTO, Marta. (Orgs.). O moderno já passado. o passado no moderno: moderno reciclagem, requalificação, rearquitetura. Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2009. v. VI. p. 160-178. 49 Projeto cujas particularidades arquitetônicas e construtivas acabaram por designar implícita e explicitamente modos da Arquitetura Moderna no Sul brasileiro e meridional latino-americano. Ver: BOHRER, Glênio Vianna. CEASA RS: Espaço e lugar na arquitetura moderna. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: PROPAR / UFRGS: 1997. COMAS, Carlos Eduardo. O Mercado central de sociedade que, durante aproximadamente trinta anos, realizou outros tantos projetos de envergadura e expressão nacional. Moojen e Araújo realizaram juntos projetos para a Casa Fernando Campos, no final dos anos 1960 e o plano de desenvolvimento para o Litoral Norte – LINOR, no Rio Grande do Sul, nos anos 1980. F_A_M e FM, no Capítulo I, e FAM FA_EA e MFVHN no FAM, MFVHN, Capítulo IV, tratam dessas combinações associativas entre Fayet, Araújo e Moojen e destes com outros arquitetos, no período de 1950 a 1969 em especial (e na década de 1970, de forma panorâmica), durante o qual boa parte da formação, produção madura e espessa fortaleceu-se. FAMP_EA abre o Capítulo II, abordando o momento de formação, na década de 1960, da Equipe de Arquitetos, iniciada por Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. Araújo, Moacyr Moojen Marques e Miguel A. Pereira, para realizar os projetos para a Petrobras, da Refinaria Alberto Pasqualini – REFAP, em Canoas – RS e Terminal Almirante Soares Dutra – TEDUT, em Tramandaí – RS50. Essa associação e obra, ponto de convergência da carreira dos arquitetos, é também de pressupostos da tese, descortinados nas diversas variáveis que agem e resultam do projeto. Questões construtivas, que relacionam formas de concepção e execução, filiações estilísticas e teor ideológico, nas obras para a Petrobras, denominam valores gradativamente consolidados nas carreiras correlatas e significativos da cultura nativa51. Os projetos para a Petrobras Porto Alegre. In: PEIXOTO, Marta, LIMA, Raquel. Arquitetura, história e crítica: textos selecionados. Reis, Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis n. 2. Porto Alegre: UniRitter, 2000. p. 144-151. DIAS, Carlos Eduardo et al. Arquiteturas cisplatinas: Roman Fresnedo Siri e Eládio Dieste em Porto Alegre. Porto Alegre: UniRitter, 2004. Vale a pena olhar também a publicação da CEASA, no catálogo da exposição itinerante, sobre a obra de Eládio Dieste, realizada em Montevidéu em 1996 e Sevilha em 1997. Ver: TORRECILLAS, Antonio Jimenez. Eládio Dieste 1943 – 1996. Sevilha: Dirección General d‘Arquitectura y Vivienda de la Consejería de Obras públicas y Transportes de la Junta de Andalucía, 1996. 50 Conjunto dos Complexos Industriais da Petrobras, Medalha de Ouro, Melhor Projeto Construído, e Medalha de Bronze, Categoria Edificações Industriais, no 4º Salão de Arquitetura RS, 1967. 51 A Refinaria Alberto Pasqualini – REFAP é credora de maior representatividade, na historiografia da arquitetura brasileira, por deter aqueles valores, que PIÑON caracteriza como “critérios que haviam regido a melhor arquitetura do século: aquela que, superada a fase crítica do movimento, contava com um modo preciso de conceber o espaço habitável e havia demonstrado de sobra sua solvência ante circunstâncias muito diversas e com os programas mais variados”. Também por seu pioneirismo tecnológico, em termos brasileiros, umas das primeiras obras com construção prémoldada no Brasil e ainda inovação formal no campo da arquitetura industrial moderna. A TEDUT e REFAP são pouco conhecidas, apesar da sofisticação construtiva, principalmente pelo impedimento de acesso por ser área de segurança. (Miguel Pereira afirma que na época “o projeto não pôde ser publicado: o regime militar impediu sua publicação alegando motivos de segurança nacional”. Ver: WOLF José. Documento: Querência Arquitetônica. Arquitetura e Urbanismo São Paulo. Disponível Urbanismo, em: . Acesso em: 11 out. 2010, às 8h47min. Em relação aos valores formais citados no texto, ver: PIÑON, Hélio. La forma y la mirada. Buenos Aires: Nobuko, 2005. p. 22. Mais recentemente, no entanto, desde a nova 22 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Prólogo balizam um ponto de inflexão de suas produções e exercício, a partir do qual futuros desdobramentos arquitetônicos, profissionais e pessoais, maculados pela experiência, estarão conectados52. Ainda outro contexto conjugaria ações e decisões determinantes para o descortínio das arquiteturas e urbanismos produzidos pelos três, ao longo de suas carreiras, bem como suas escolhas pessoais comuns: o urbanismo e especialmente os trabalhos realizados no aterro da Praia de Belas – tabla rasa conquistada ao rio, ao sul do promontório central de Porto Alegre – onde está a conjunção representativa de planos, projetos, esforços e ações pessoais que explicitam o sentido da trajetória arquitetônica e urbana e o significado de suas ideias. O aterro da Praia de Belas, em que pese sua ocupação híbrida, contém a carga concentrada de projetos urbanísticos e arquitetônicos reveladores da vontade de modernização, crença no corolário do Movimento Moderno e consequente paisagem imaginada para o espaço urbano moderno da Capital. Fayet, na década de 1950, conjuntamente com Paiva, desenvolveu o plano para a Praia de Belas e o bairro para duzentos mil habitantes53. Na década de 1970, concorreu no concurso para o Parque Marinha do Brasil, com Jorge Decken Debiage e realizou, ainda, projetos de grande envergadura nas “superquadras” da Avenida Borges para a extinta Maguefa54. Araújo, nos anos 1960, projetou o Ed. Pioneiro, dentro dos padrões urbanísticos propugnados pelo plano da Praia de Belas, de 1959, participou do concurso do Marinha do Brasil55, fez projeto para a área do Estaleiro Só e também, nos anos 1970, iniciou o interminável projeto para a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, bem como do também inacabado aeromóvel56. Moojen, no Plano de 1959, detalhou o traçado da Primeira Perimetral, negociou com a Universidade a proposta de mudança desta para a área do atual Parque da Harmonia e, conjuntamente com Fayet, coordenou a revisão do projeto para o aterro da Praia de Belas, aprovado em 1961, que criou o Parque Marinha do Brasil57. Nos anos 1960, com João José Vallandro e Leo Ferreira da Silva, projetou a SMOV, sede do planejamento urbano municipal58 e, na década de 1970, coordenou o I PDDU, onde estabeleceu as diretrizes urbanísticas para a ocupação dos quarteirões compreendidos entre a Borges de Medeiros e a Praia de Belas59, que regularam o projeto de Fayet e Debiage. O mais emblemático, porém, deste conjunto de ações engajadas no “espírito moderno” consiste na escolha dos três arquitetos em viver, coletivamente, na Praia de Belas e ali construírem o FAM na década FAM, de 1960, no mesmo período em que, juntos, projetavam para a Petrobras60. O Capítulo III, “Praia de Belas, A cidade moderna e os três Arquitetos”, faz Praia Arquitetos sensibilidade dos 1980, a obra tem sido objeto de trabalhos acadêmicos regionais. Ver: KIEFER, Flávio; MAGLIA, Viviane Vilas Boas. Refinaria Alberto Pasqualini: entrevista com os autores. In: PEIXOTO, Marta: LIMA, Raquel. Arquitetura, história e crítica: textos selecionados. Cadernos de Reis, Arquitetura Ritter dos Reis n. 2. Porto Alegre: UniRitter, 2000. p. 95-141. Ver também: MAGLIA, Viviane Villas Boas. Refinaria Alberto Pasqualini: aplicação dos paradigmas modernistas à tipologia industrial no Rio Grande do Sul. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2001. Tratei da representatividade da Arquitetura Moderna da refinaria em termos nacionais e regionais em: MARQUES, Sérgio Moacir. Da refinaria à secretaria: racionalismo estrutural, socialismo nacional e modernismo regional em obras públicas de Fayet, Araújo & Moojen – 1962 a 1970. In: COMAS, Carlos Eduardo; MAHFUZ, Edson; CATTANI, Airton. Anais do III Seminário DOCOMOMO Sul Sul, Concreto – Plasticidade e Industrialização do Cone Sul Americano, 1930-1970. DOCOMOMO Sul, PROPAR-UFRGS, Porto Alegre, 2008. CD-ROM. 52 “A REFAP, na lembrança de todos, certamente marcou época entre nós, pela envergadura da obra, pelas experiências tecnológicas feitas, pela linguagem arquitetônica utilizada e, também, pela própria organização da equipe de projeto”. PEREIRA, Miguel Alves. Arquitetura Moderna em Porto Alegre – os anos 1960. In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p. 36. 53 Ver: PORTO ALEGRE. Lei n. 2.330 de 1961. Plano Diretor de Porto Alegre.. Porto Alegre: 1961 Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1961. 54 Na década de 1980, também desenvolveu o projeto básico para o Shoping Praia de Belas, a Praça Itália, a Praça próxima ao viaduto Imperatriz Leopoldina, e chegou a iniciar a construção das três torres próximas, posteriormente concluídas por outro arquiteto e nova empresa de construção. Tratei sobre parte desta história e destes projetos de Fayet, não construídos, em MARQUES, Sérgio Moacir. Carlos Maximiliano Fayet e a arquitetura moderna brasileira no sul. Vitruvius: Arquitexto Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 105.03, São Paulo, fev. 2009. Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2011, às 9h 36min. 55 Tratei da história do aterro e do surgimento do Parque Marinha do Brasil, bem como do projeto de Araújo com Carlos Eduardo Comas, José Artur Frota, Cláudia Frota e outros em: MARQUES, S. M. Topos[logia], Geos[grafia] & Aqua. O projeto de Cláudio Araújo e Equipe para o concurso do Parque Marinha do Brasil. In: Anais da III SEPESQ – Colóquio de Pesquisa Porto Alegre: UniRitter, 2007. Pesquisa, CD-ROM. 56 Projeto arquitetônico, com José Artur Frota, dos trilhos e estações do sistema de transporte desenvolvido pela empresa Coester, cuja construção do trecho experimental ocasionou grande polêmica no inicio dos anos 1980. 57 Ver: PORTO ALEGRE. Lei n. 2.33 0 de 1961 Plano Diretor de Porto Alegre.. Porto Alegre: 2.330 1961. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1961. 58 Abordei a relação desta obra, entre outras, com o racionalismo estrutural utilizado anteriormente nos projetos para a Petrobras. Ver: MARQUES, S. M. Da refinaria à secretaria. Racionalismo estrutural, socialismo nacional e modernismo regional em obras públicas de Fayet, Araújo & Moojen 1962 a 1970. In: II Seminário DOCOMOMO Sul: Concreto – plasticidade e industrialização na arquitetura do Cone Sul Americano. Porto Alegre: PROPAR / UFRGS, 2008. v. 1. CD-ROM. 59 Ver: PORTO ALEGRE. Lei Complementar n. 43, de 21 de julho de 1979. 1° PDDU Plano Diretor Complementar . de Desenvolvimento Urbano de Porto Alegre. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1987. 60 Tenho especialmente tratado sobre a coincidência temporal, pessoal e arquitetônica desta obra e de seus representativos valores. Ver: MARQUES, Sérgio Moacir. Filtro solar fator paralelo 30: O FAM e a arquitetura moderna no sul. In: COMAS, Carlos Eduardo; MARQUES, Sérgio Moacir (Orgs.). A segunda idade do vidro: transparência e sombra na arquitetura moderna do Cone Sul Americano: 1930 a 1970. Porto Alegre: Editora UniRitter, 2007. v. 1. p. 153-168. Sergio M. Marques 23 essa fusão entre personagens e contexto, que se fundiram também em seus anseios e realidade. Finalizando, “FAM 61, edifício construído no aterro para habitação FAM” FAM coletiva das famílias dos três arquitetos, abordado no capítulo quarto, que antecede a conclusão, apresenta a tentativa de relacionar e identificar, em obra emblemática e representativa da Arquitetura Moderna Brasileira no Sul, os traços conceituais, estilísticos, construtivos e projetuais, de um modo de fazer arquitetura que, entre a excepcionalidade dos projetos para a REFAP e o idealismo dos projetos para a Praia de Belas, expõe, com sofisticação, invariáveis formais, inovação construtiva e qualificação espacial de programa recorrente, sobre arquitetura do tecido, normatizada pelo planejamento urbano moderno emergente no sul do país, de maneira exemplar. Trata também da arquitetura de seus autores, suas motivações, visão de mundo e da vida moderna desejada para eles próprios. Ademais de ponto de convergência e de representatividade das trajetórias pessoais e arquitetônicas dos seus autores, o FAM insere-se no jugo emanado por reflexão teórica sobre obras recorrentes versus obras singulares, ou obra representativa da arquitetura moderna brasileira filiada às escolas emblemáticas versus emblema da particularização destas em contexto regionalizado e recorrente da cidade moderna. No projeto do FAM teses implícitas e práticas explícitas colocaram-se em marcha, em prol FAM, da materialização do modo de vida urbana coletiva – almejado no bojo de ideários e experiências concatenadas na formação moderna de seus precursores – experimentadas conjuntamente na Petrobras e praticadas no aterro da Praia de Belas. Não menos importante, os valores formais associados a esquemas construtivos e estruturais do edifício fazem jus a diversas especulações que, se por um lado conectam-se a Le Corbusier e Lúcio Costa através de declinações à tradição e ao vernáculo, por outro vão além dos sistemas compositivos modernos canônicos, como laje plana e pilotis, adequados a exigências coloquiais ou esquemas plástico-estruturais específicos, em parte, conectados a relações de organização funcional e formal, ordenadas dentro de determinado rigor geométrico e modular, a partir do qual o espaço flui, filiadas a certa arquitetura habitacional também produzida no Rio de Janeiro desde a década de 1940 e, em São Paulo, a partir do final da década de 1950. Essa arquitetura está disseminada em diversas regiões brasileiras e latino-americanas, onde os referencias podem estar a poucos quilômetros, em propagação linear, ou a distâncias continentais, em paralelismo absoluto. Cenários análogos, como o bairro Higienópolis, em São Paulo, Copacabana e 61 1ª premiação IAB-RS: Primeiro prêmio, Edifício de Apartamentos dos Arquitetos. Porto Alegre, 1971. Ipanema, no Rio de Janeiro, Pocitos, no Uruguai, Belgrano, em Buenos Aires e Sarriá, em Barcelona, onde a habitação coletiva moderna se impõe como contexto com o qual o FAM oferece conexões e distinções, similaridade e singularidade, são citados como os paralelos de interesse desta arquitetura média, cuja representatividade pode significar o manifesto da Arquitetura Moderna Brasileira no Sul. No Epílogo, intenta-se a demonstração dessas coincidências e diferenças da Arquitetura Moderna Brasileira praticada no Sul e seus paralelos, dadas suas condições específicas, focando aquelas que, pela evolução da Arquitetura Moderna, seus ciclos de propagação e desenvolvimento, em particular no Brasil, podem oferecer substrato para fortalecimento da cultura arquitetônica contemporânea, para a revalidação da Arquitetura Moderna como prática corrente e revalorização do ofício como meio qualificado de ação social. Um breve paralelo com algumas obras de Barcelona, onde parte deste trabalho foi desenvolvida, e suas conexões com o contexto americano, principalmente através de Bonet, evidencia a manifestação desta arquitetura de "tecido" recorrente nos anos 1950 e 1960, em diversos meios marginais, como o catalão, aos principais centros de propagação do Movimento Moderno, onde esta arquitetura de ofício foi praticada com profusão e qualidade. O entendimento desta produção, como um importante referencial para os estudantes e as novas gerações, além das obras extraordinárias e dos mestres consagrados, começa a ganhar corpo em alguns meios, onde a consciência de que arquitetos preparados exclusivamente para o excepcional e para a mídia, não produzem material palatável suficiente para o espaço coletivo das cidades nem geram cultura compartilhável consistente. Em Barcelona, este olhar se traduz em recentes ações de documentação e análise da produção de arquitetos como Mitjans, Barba Corsini, Moragas e outros, que até recentemente, assim como Fayet, Araújo, Moojen e os demais de sua geração e região, pouco vinham sendo adotados como material referencial de projeto. O trabalho, em síntese, busca evidenciar procedimentos de projeto e seus meios de concepção praticados em período de grande disseminação e produção de valores formais comuns, de certa qualidade e expressiva aceitação cultural dentre construtores, contratantes e consumidores da Arquitetura Moderna, caracterizando uma produção de significativa importância na gestão das cidades e construção de seus espaços, em particular, em termos de regularidade. A arquitetura moderna produzida no sul do Brasil e na região meridional da América Latina, nos anos 1950-1960, ao contrário do que eventuais críticos tentaram caracterizar, ou que os historiadores esqueceram de registrar, produziu, como este trabalho objetiva demonstrar, determinada cultura arquitetônica recorrente, com consistência formal e sistemas espaciais 24 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Prólogo eficientes, dignos de, além de produzir uma arquitetura de qualidade predominante em sua manifestação ordinária e espaços urbanos com estruturas formais coerentes, categorizar a arquitetura, o urbanismo e o projeto como meios técnicos respeitáveis e legítimos de construção da cidade. Tanto desde o ponto de vista científico quanto do ideológico, a arquitetura em questão não se afastou dos predicados formais e da qualidade espacial desejável, essenciais dentro do entendimento de Arquitetura Moderna rezado nesta tese, ou seja, manteve o projeto e o planejamento como as ferramentas qualificadas de ação. O exame da obra de arquitetos exemplares, pertencentes a certo ostracismo em termos historiográficos, revela esta produção recorrente e categorizada que, por afastada da singularidade das obras de primeira grandeza da arquitetura brasileira, aproximam-se do ofício, oferecendo certas lições para as atuais gerações sobre uma forma de fazer menos imagética ou discursiva, menos formalista e mais tectônica, mais apropriada e apropriável para a maioria em seus meios específicos, relacionados ao projeto de arquitetura e urbanismo. É uma cultura que, infelizmente, e talvez por responsabilidade parcial desses próprios arquitetos, cuja evolução deste trabalho deverá analisar, não se impôs suficientemente como escola, em termos de exercício da profissão e produção arquitetônica praticada no mercado62, mas se faz presente com qualidade, em seu conjunto na paisagem urbana de Porto Alegre. Fonte: Acervo FAM De certa maneira, a partir dos anos 1970, sucumbiu às arquiteturas excessivamente autorais e aos formalismos hipervalorizados pelas publicações, mesmo as que, recentemente, aos encargos da moda, revalorizam apenas os aspectos formais da arquitetura moderna, mas não seu conteúdo. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 62 Fig. 7 – Em primeiro Plano, da esquerda para a direita: Araújo, Moojen, F ayet, Carlos Gómez Gavazzo, Dona Argentina Paiva, viúva de Edvaldo Pereira Paiva, e Enilda Ribeiro. Em segundo plano, da esquerda para a diretira: Não identificada, João José Vallandro, Ivo Jardim e Nestor Nadruz. Instituto de Arquitetos do Brasil-RS, Bar do IAB, por ocasião do lançamento do livro “Edvaldo Paiva – Um Urbanista” e inauguração da Avenida Edvaldo Paiva na gestão de Maria Isabel Milanez, 1985. Sergio M. Marques 25 26 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Prólogo Resenhas Biográficas DEMÉTRIO RIBEIRO nasceu em Porto Alegre, neto de Demétrio Nunes Ribeiro, Ministro da Agricultura do Brasil, em 1889. Cursou o primário e o secundário em Paris e Montevidéu. Formou-se em Arquitetura e Urbanismo (1943), na Universidade da República Oriental do Uruguai, organizada, naquele momento, sob forte influência da Ecole de Beaux Arts de Paris e da corrente estética da Exposition des Arts Decoratifs et Industriels Moderne. A liderança de Julio Villamajó defendia certa unidade compositiva amparada em princípios universais, em um sistema formal, chamado pelos uruguaios de “arquitetura renovadora”, que polemizava com as teorias de outra liderança – o professor Gomes Gavazzo, amigo e seguidor de Le Corbusier, dos quais Demétrio foi aluno. De volta ao Brasil (1943), Demétrio integrou a primeira turma de professores do curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes do Rio Grande do Sul, formado em 1945, e a comissão que fundou a Faculdade de Arquitetura unificada com o curso da Engenharia (1951). Em 1952, organizou uma viagem de estudantes à Europa, quando visitaram obras de Le Corbusier e foram recebidos pelo mestre, em seu escritório de Paris, assim como visitaram Maubeuge, acompanhados de André Luçart. Foi expurgado da UFRGS em 1964, retornando em 1980 e permanecendo até 1988. Nestes períodos foi professor de Composições de Arquitetura (1946-1964), Grandes Composições de Arquitetura (19521964), Teoria e Prática dos Planos para a Cidade (1957) e Evolução Urbana (19551956 e 1959-1963). Dentre suas atividades profissionais estão: trabalhou como arquiteto empregado da empresa Gusmão Dourado e Baldacini, no Rio de Janeiro (1943 a 1944), realizando vários projetos de edifícios residenciais; como arquiteto da Secretaria de Obras Públicas do Estado (1944-1947), realizou o Grupo Escolar Venezuela (1946), o Fórum de Cachoeira do Sul (1945), o Centro de Triagem do Serviço de Assistência ao Menor (1945), que não chegou a ser executado, a Penitenciária Central de Porto Alegre (anteprojeto – 1945). Como arquiteto autônomo: Instituto de Pesquisas Biológicas – anteprojeto premiado em primeiro lugar no concurso público promovido pelo Estado (1950); Colégio Estadual Júlio de Castilhos – anteprojeto premiado em primeiro lugar no concurso público promovido pelo Estado (1952); Clube Campestre de Livramento (1956); Plano Piloto para o Centro Esportivo na Avenida Beira-Rio em Porto Alegre (premiado em terceiro lugar no concurso público promovido pelo Estado – 1966); Hotel em Alegrete (anteprojeto – 1974), Plano de Urbanização do Parque Turístico da Laje de Pedra em Canela, onde Graeff foi responsável pelo projeto do Hotel (1975); Conjunto Residencial para Calçados Azaleia (anteprojeto – 1980). Com o Urbanista Edvaldo Pereira Paiva, que conheceu no Uruguai e com quem começou a trabalhar em planos diretores para cidades do interior do Estado em 1946 (Plano Diretor de Uruguaiana), colaborou no Plano Diretor de Porto Alegre, de 1951 a 1959. Em equipe com Paiva, Francisco Riopardense de Macedo, Edgar Graeff, Enilda Ribeiro e outros, elaborou os planos diretores de Lajeado (1948), Caxias do Sul (1951 e 1970-1972), Florianópolis (1952), Passo Fundo (1953), Gramado (1956), Tapera (1957), Espumoso (1957), Panambi (1958 e 1976), Rondinha (1968), Boa Vista do Buricá (1970), Esteio (1970), Criciúma (1972), Chapecó (1973), Erechim (1974), Canela (1976-77), Medianeira, Paraná (1987). Foi presidente do Departamento do Rio Grande do Sul do Instituto de Arquitetos do Brasil (1967 a 1969); exerceu a Presidência Nacional do IAB (1977 a 1979); foi membro honorário da Associação Paraguaia de Arquitetos (1977); membro atuante do Partido Comunista Brasileiro, ao qual se filiou em 1944, após ter frequentado a juventude comunista no Uruguai, ocupando diversos postos de direção. Em 1968, foi relator do Congresso Brasileiro de Arquitetos e, em 1969, presidente do mesmo, em Porto Alegre. No início dos anos 1950, Demétrio, em artigos publicados pela revista de filiação comunista, Horizonte, iniciou uma importante crítica à orientação estética da Arquitetura Moderna Brasileira, por seu formalismo, o qual ele vincula a questões ideológicas do gosto burguês. As discussões nesse âmbito, conjuntamente com as teorias do realismo socialista, promulgadas por Graeff, irão concorrer na configuração da cultura arquitetônica local, marcada por discussões doutrinárias, principalmente nas primeiras gerações. Os reflexos desta discussão na produção arquitetônica são também tema da investigação desta tese, abordado ao longo de sua estrutura. Ver: LICH, Flávia Boni; CAFRUNI, Salma. Demétrio Ribeiro. Livraria do Arquiteto: Porto Alegre, 2005. Ver também: MOHR, Udo. Demétrio Ribeiro: 1916–2003. Vitruvius itruvius, São Paulo, 041.00, ano 04, out. 2003. Disponível em: Arquitextos: Vitruvius . Acesso em: 08 de out. 2010. EDGAR ALBUQUERQUE GRAEFF nasceu em Carazinho, formou-se pela Faculdade Nacional de Arquitetura do Rio de Janeiro (1943-1947), onde foi aluno de Eduardo Affonso Redy, e como urbanista pelo IBA (1949), onde foi colega de Riopardense de Macedo e Nely Peixoto Martins. Conjuntamente com Carlos Alberto de Holanda Mendonça, foi um dos precursores da arquitetura moderna local, sob influência da vertente carioca. Foi arquiteto na Secretaria de Trabalhos Públicos do Estado, professor do IBA (1948-1951), em Pequenas Composições, FAUFRGS (1952-1962), em Teoria da Arquitetura, FAU-UnB (19621964 e 1980-1982), na implantação do Curso de Arquitetura; foi cassado em 1964 e retornou após a anistia, em 1979; atuou igualmente na FAU-PUC Goiânia, onde trabalhou na estruturação do Curso de Arquitetura (1973-1986). Entre 1969 e 1970, com o recrudescimento da ditadura militar e perseguições políticas, refugiou-se em Alger, onde igualmente foi convidado para organizar o Curso de Arquitetura local. De volta ao Brasil, foi secretário do IAB-DN (1972-1976). Em Porto Alegre, realizou a casa Edvaldo Pereira Paiva (1948), Edifício Humaitá (1950), Casa Victor Graeff (1951), Edifício Presidente Antônio Carlos (1952); Casa Israel Ioshpe (1953), em Passo Fundo – RS e a Casa Rômulo Teixeira (década de 1960). Participou das equipes dos planos diretores de Caxias do Sul, Passo Fundo e Florianópolis, entre 1952 e 1953. Faleceu em Brasília, em 1990. Ver: LUCCAS, Luís Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do “gênio” artístico nacional. [Tese de Doutorado]. Porto Alegre: PROPAR: UFGRS, 2004. WAIHRICH, Lorena Postal; WICKERT, Ana Paula; SILVA, Nery Luiz Auler. A Casa da Independência: um exemplar de Edgar Graeff. Disponível em:. Acesso em: 14 fev. 2011, às 22h 07min. GOLDMAN, Carlos Henrique. A casa moderna em Porto Alegre: projetos residenciais de . Edgar Albuquerque Graeff 1949-1961. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: PROPAR:UFRGS, 2003. Graeff é autor de diversos livros e textos que tiveram presença no contexto da Arquitetura Moderna no Sul, nos anos de 1950 a 1970, entre eles: GRAEFF, Edgar. Arquitetura e o homem. homem. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1959. E GRAEFF, Edgar (Org.). Arquitetura brasileira pós pósBrasília: depoimentos. Rio de Janeiro: Instituto de Arquitetos do Brasil, 1978. Graeff foi, sem dúvida, uma das mais destacadas lideranças teóricas da Arquitetura Moderna no Sul do país, citado como tal por Mindlin em sua publicação sobre a Arquitetura Moderna Brasileira (1956). Posteriormente, entre as discussões de revisão do Movimento Moderno e embates pós-modernos no âmbito regional e nacional, nos anos 1980 e 1990, foi igualmente um dos pensadores mais polêmicos e atacados, em especial por seu engajamento ideológico. Desta época destaca-se outra publicação sua. Ver GRAEFF, Edgar Albuquerque. O Edifício. Cadernos Brasileiros de Arquitetura Arquitetura etura. . Década de 1950 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Década de 1950 Sergio M. Marques 27 São Paulo: Projeto Editores Associados, 1986. GRAEFF, Edgar. A arte e técnica na formação do arquiteto. arquiteto São Paulo: Studio Nobel / Fundação Vilanova Artigas, 1995. PAIVA, EDVALDO RUY PEREIRA PAIVA Engenheiro Civil, formado pela UFRGS (1935), Urbanista e Arquiteto Paisagista – UDELAR – Montevidéu (1940-1943). Urbanista da Prefeitura Municipal de Porto Alegre (1935-1960), realizou o Plano de Avenidas (1936), o Expediente Urbano de Porto Alegre (1943) e, em 1959, chefiou a equipe que elaborou o Plano Diretor de Porto Alegre, o chamado “Plano Paiva”. Professor catedrático de Urbanismo na UFRGS (1946-1964), criou o curso de especialização em urbanismo da UFRGS (1947). Foi professor da disciplina de Urbanismo e Arquitetura Paisagista e da disciplina Planejamento Urbano. Lecionou no Curso de Urbanismo da Faculdade de Brasília, em 1963, e atuou como presidente da Comissão de Reforma Agrária do Palácio do Planalto naquele ano. Cassado na universidade em 1964, refugiou-se no Uruguai, onde foi Diretor do Departamento de Investigações do Instituto de Urbanismo da UDELAR, de 1965 a 1971. Realizou, em equipe, os planos diretores de Uruguaiana (1944), Lajeado (1947), Rio Grande (1947), Caxias do Sul (1951), Florianópolis (1952), Passo Fundo (1952), Delta do Jacuí (1958), Plano Diretor de Porto Alegre (1954-1959). Ver: ROVATTI, João Farias. La Modernité est ailleurs: “ordre et progrès” dans l’urbanisme d’Edvaldo Pereira Paiva (1911-1981). [Tese de Doutorado]. Paris: Université de Paris VIII – Vincennes-Saint-Dennis, 2001. Ver também: BALESTRA, Maria Isabel Milanez (Apresent.). urbanista. Edvaldo Pereira Paiva, um urbanista Porto Alegre: UFRGS / IAB-RS, 1985. FERNANDO CORONA é natural de Santander, autodidata em Arquitetura, que se formou em Belas Artes em Vitória, na Espanha. Filho do arquiteto e escultor Jesus Maria Corona, vencedor do concurso para a Catedral Metropolitana de Porto Alegre, não realizada, veio ao Brasil com o pai e aqui permaneceu após sua volta. Em Porto Alegre, ingressou como aprendiz na oficina de decoração predial de João Vicente Friedrichs. Realizou arquitetura, escultura, ornamentação e textos críticos sobre arquitetura e arte, além de expressiva carreira acadêmica. Adaptou o projeto de Theo Wiederspnah para o Banco Nacional do Comércio, onde hoje é o Santander Cultural; projetou o Instituto de Educação, a Galeria Chaves, o Edifício Guaspari, o Instituto de Artes da UFRGS, a Casa Guilhermino César, e, posteriormente, com seu filho, Luiz Fernando Corona, o edifício Jaguaribe. Foi um dos fundadores do Instituto de Artes da UFRGS; em 1938, com a tese Fídias – Migelangelo-Rodin, venceu o concurso para a cátedra de escultura e modelagem. Posteriormente, escreveu o livro Caminhada das Artes, com crônicas sobre a arte gaúcha e brasileira. Ver: CANEZ, Anna Paula. Fernando Corona e os caminhos da arquitetura moderna em Fernando Porto Alegre. Porto Alegre: UniRitter, 1998. EUGEN GUSTAV STEINHOF (1880, Viena – 1952, Los Angeles) ou Eugene Pierre Lacour. Arquiteto, pintor, escultor e cenógrafo, vienense conectado aos arquitetos da secessão, formou-se engenheiro estrutural e arquiteto (1905). Foi aluno de Joseph Maria Olbrich, Otto Wagner, José Hoffman, Adolf von Hildebrand e Henri Matisse e colega de Arnold Schoenberg. De 1923 a 1930, foi professor na Kungstgewerbeschule (Escola de Artes e Ofícios), em Viena. Conjuntamente com Hoffman, representou a Áustria no Concurso da Liga das Nações (1926) em Genebra. Fez diversos projetos de cenografia, entre eles para a encenação "O Menino de Sortilégios", de Maurice Ravel, em Paris, a qual teria recebido prêmio na Exposição Internacional de Barcelona (1929). Refugiado judeu nas Estados Unidos, trocou de nome; entre 1931 e 1946, foi professor em diversas universidades americanas (entre elas a Columbia University) e auxiliou na migração de arquitetos alemães para os EUA, em particular dos oriundos da Bauhaus, como Walter Gropius e Mies Van der Hohe. Realizou conferências em São Paulo, Buenos Aires, Córdoba e Montevidéu (1929) no mesmo ano da vinda de Le Corbusier à América Latina, tendo sido professor Ad honorem na UDELAR de Montevidéu. Em São Paulo, recebeu o titulo de sócio honorário do Instituto Central de Arquitetos, de Adolfo Morales de los Rios, que o indicou para organizar o Curso de arquitetura da Escola da Engenharia da UFRGS. Veio a Porto Alegre, onde lecionou Arquitetura entre 1946 e 1951, na Escola de Engenharia da UFRGS, especialmente contratado para estruturar o curso de Arquitetura. Voltou aos Estados Unidos diante do recrudescimento da Guerra Fria. AZEVEDO E MOURA, Roberto. (autor de investigação sobre Steinhof patrocinada pelo CREA-RS). Entrevista com o autor Gravação digital, autor. nov. 2010. Sobre sua importância no ensino da Arquitetura, ver: FIORI, Renato. Arquitetura moderna e ensino de arquitetura: os cursos em Porto Alegre de 1945 a 1951. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: PUC-RS, 1992. Fernando Corona confirma que, em Paris, Steinhof teria sido cenografista, figurinista e amigo de Ravel. Ver: ROSA, Renato; PRESSER, Décio. Dicionário de artes plásticas no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. Universidade / UFRGS, 1997. Steinhof é autor de algumas publicações, como The history of art and decoration in the light of psychology (New York Regional Art Council, 1932) e do capítulo "Arquitetura", no manual do engenheiro. Ver: VARGAS, Milton; BRITO, Eugênio; SOUZA, José Leite de; STEINHOF, Eugênio; BERNARDI, Duílio. Manual do engenheiro. Porto Alegre: Globo, 1955. v. 4. engenheiro. LUTZENBERGER, JOSEPH FRANZ SERAPH LUTZENBERGER natural de Altöting, Alemanha, veio ao Brasil em 1920. Engenheiro-arquiteto pela Escola Técnica Real da Baviera, em Munique, estudou artes com o mestre Polivka, em Praga, 1910, e com os professores Reinhardt e Sessenguth, em Berlim, 1911. Realizou trabalhos de arquitetura, antes da Primeira Guerra Mundial, em Rixford, Dresden e Wiesbaden. Posteriormente, serviu nas forças alemãs, antes de vir ao Brasil, produzindo formidável coleção de desenhos e aquarelas de combatentes e temas de guerra nas frentes da França e Bélgica onde lutou. Em Porto Alegre, inicialmente trabalhou para a construtora Weis & Cia., onde projetou a igreja São José (1920-1924), Pão dos Pobres (1925-1930), Colégio Nossa Senhora das Dores (1926-1936), Sanatório Leprosário Rio-Grandenses (1929) e o Palácio do Comércio (1937-1940), entre outros projetos na Capital, Caxias do Sul, Lajeado, Santa Cruz do Sul, Cachoeira do Sul, Novo Hamburgo e Caçapava do Sul. No Instituto de Artes, foi professor de Arte Decorativa e Mural, Geometria Descritiva, Perspectiva e Sombras. Ver: LUZ, Maturino. Ide todos a José: a Arquitetura de Josef Franz Seraph Lutzenberger. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: PROPAR / UFRGS, 2003. EMIL ACHUTI BERED nasceu em Santa Maria, cursou o ensino médio em Porto Alegre e ingressou na primeira turma de arquitetura do Instituto de Belas Artes (1945). Ingressou como professor da Arquitetura da UFRGS em 1950, na disciplina Década de 1950 Década de 1950 28 Década de 1940 Década de 1940 Década de 1940 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Prólogo VERONES ROBERTO FÉLIX VERONESE é natural de Caxias do Sul, formado entre os doze primeiros arquitetos do Curso de Arquitetura do Instituto de Belas Artes, em 1949, e em Urbanismo em 1955. Foi presidente do IAB-RS na gestão 1953-1954 e professor da FA-UFRGS de 1954 a 1984, nas disciplinas de Paisagismo e Urbanismo, e Organização Social das Cidades, do Curso de Urbanismo. Compartilhou escritório de Arquitetura e Urbanismo com Bered e Salomão Sibemberg Kruchin. É um dos autores do Edifício Link (1952), Edifício Sede da Cia. Riograndense de Telecomunicações (1964), do Laguna Tourist Hotel e do Plano Diretor para Caxias do Sul (1953). Integrou a equipe do Plano Diretor de Porto Alegre, “Plano Paiva” (1955 a 1958), da Cidade Universitária de Porto Alegre (1958) e é o autor do projeto vencedor para o concurso do Delta do Jacuí (1958). Em 1958, foi convidado por Paiva para acompanhá-lo no órgão de planejamento urbano do Estado, o Gabinete de Administração do Planejamento – GAPLAN, onde permaneceu de 1959 a 1962. Nos anos 1980, foi morar em Salvador, próximo aos filhos, onde faleceu. Sua biblioteca, em parte constituída pela herança de livros de Paiva, foi adquirida por uma livraria local. Ainda não foi foco de nenhuma investigação acadêmica em particular, apesar de gozar de grande prestígio entre seus contemporâneos, pela sua arquitetura, pensamento e atuação no ensino de arquitetura e ofício, o que provavelmente oferecerá substancioso material de estudo. Para mais sobre sua atuação no Urbanismo, ver: ROVATTI, João Farias. La modernité est ailleurs: “ordre et progrès” dans l’urbanisme d’Edvaldo Pereira Paiva (1911-1981) – Annexes. [Tese de Doutorado]. Paris: Université de Paris VIII – Vincennes-Saint-Dennis, 2001. LUIZ FERNANDO CORONA nasceu em Porto Alegre, formou-se em Arquitetura pelo Instituto de Belas Artes em 1950, e em Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da UFRGS em 1955. Em 1958, tornou-se professor de Perspectiva e Sombras do Instituto de Belas Artes e, em 1964, professor assistente de Composição de Arquitetura. Reconhecido pelos colegas do Curso de Arquitetura do Belas Artes como o mais talentoso do grupo, Luis Fernando Corona era também exímio desenhista e, segundo amigos, assobiava como um “canarinho” enquanto trabalhava. Projetou, com seu pai, o Edifício Jaguaribe (1951), com Fayet, a Residência Cândido Norberto (1952), a Residência Samuel Madureira Coelho (1952) e o Palácio da Justiça (1953), e com Veroneze e Bered, o Década de 1950 Década de 1950 Década de 1940 de Arquitetura Analítica e, posteriormente, Composição na Arquitetura e Ateliês de Projeto até sua aposentadoria (1983), passando a ser professor catedrático em 1969. Foi presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento RS, nos biênios 1955-1956 e 1957-1958, e membro da Direção Nacional do IAB em 1968-1969. Referência unânime na Arquitetura Moderna em Porto Alegre, pela constante qualidade arquitetônica de seus projetos, em especial na arquitetura habitacional recorrente e no exercício exemplar do ofício, Bered, em equipe, projetou o Edifício Link (1952), Ed. Tannhauser (1953), Ed. Redenção (1955), Faculdade de Odontologia da UFRGS (1960), Ed. Cristofell (1962), Ed. Faial (1962), Garagem Ladeira (1962), Gráfica e Almoxarifado da UFRGS (1962), Ed. sede da Cia. Riograndense de Telecomunicações (1964), entre outros. Moojen, como estudante de Arquitetura, trabalhou no escritório de Bered, de 1952 a 1955, colaborando, entre outros, no projeto do Ed. Tannhauser. Para um panorama da obra de Bered, ver: STRÖHER, Eneida Ripoll. A habitação coletiva na obra do arquiteto Emil Bered, na década de 50, em Porto Alegre. Alegre [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. Porto Alegre: Faculdade de Arquitetura, PROPAR / UFRGS, 1997. STRÖHER, Eneida Ripoll. Pioneirismo Modernista nos Pampas. Arquitetura e AU, Urbanismo – AU São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 07 jun. 2011, às 9h17min. Edifício Sede da Cia. Riograndense de Telecomunicações (1964). Ver: SZEKUT, Alessandra Rambo. Sul: Vertentes da modernidade no Rio Grande do Sul a obra do arquiteto Luís Fernando Corona. [Dissertação de Mestrado]. PEREIRA, Cláudio Calovi (Orient.). Porto Alegre: PROPAR/UFRGS, 2009. LUIS ARTHUR UBATUBA DE FARIAS nasceu em Rio Grande, e diplomou-se em Engenharia em 1932. Foi técnico e engenheiro da Prefeitura Municipal de Porto Alegre (1926-1937), onde se dirigiu ao planejamento urbano, motivado pelo trabalho do Prefeito Otávio Rocha, e colaborou em diversos planos e projetos urbanos conjuntamente com Paiva e equipe. Logo a seguir, foi convidado a trabalhar no Estado como engenheiro e urbanista na Comissão de Saneamento e Departamento das Cidades Litorâneas (1938-1954), onde realizou inúmeros projetos, estudos e planos para a implantação e organização de balneários como Atlântida, Capão da Canoa, Cassino, Cidreira, Curumim, Imbé, Oásis, Pinhal, Praia do Barco, Remanso, Torres e Tramandaí. Trabalhou igualmente no Instituto Nacional de Estatística onde coordenou uma proposta de levantamento fotográfico do conjunto do território do Rio Grande do Sul. Em 1942, após uma temporada de pesquisas e visitas a cidades litorâneas na Argentina e Uruguai, realizou uma exposição e atividades acadêmicas no Instituto de Urbanismo de Montevidéu, onde recebeu certificado de urbanista. Alguns desenhos originais dos projetos para o litoral gaúcho, como uma perspectiva a vôo de pássaro do balneário de Atlântida, feita a lápis sobre vegetal, de Ubatuba, integram o acervo de Maurício Cravotto (documento consultado em visita a Antônio Cravotto, filho de Maurício Cravotto, em sua casa, 1999). Ubatuba foi professor no IBA (1946-1951) e da FA-UFRGS (1952-1954), atuando, conjuntamente com Paiva, no Ateliê de Urbanismo do Curso de Urbanismo. Escreveu Contribuição ao Estudo da Urbanização de Porto Alegre, conjuntamente com Paiva, além de numerosos artigos sobre urbanismo. Ver: PAIVA, Edvaldo Pereira; UBATUBA DE FARIA, Luis Arthur. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre: Ronéo, 1938. Informações sobre Ubatuba pesquisadas basicamente em: ROVATTI, João Farias. La modernité est ailleurs: “ordre et progrès” dans l’urbanisme d’Edvaldo Pereira Paiva (1911-1981). [Tese de Doutorado]. Paris: Université de Paris VIII – Vincennes-Saint-Dennis, 2001. FRANCISCO RIOPARDENSE DE MACEDO nasceu em Porto Alegre e formou-se em Engenharia na UFRGS (1943), e Urbanismo no IBA (1949), na primeira turma, cujo paraninfo foi Oscar Niemeyer. Foi engenheiro na Comissão de Saneamento da Secretaria de Trabalhos Públicos do Estado (1943-1950), urbanista da Divisão de Urbanismo da Prefeitura de Porto Alegre (1956-1981) e professor da FA-UFRGS (1954-1984), na área de Paisagismo e Urbanismo. Participou, conjuntamente com Paiva, dos planos diretores de Lajeado, Caxias do Sul e Passo Fundo. Na prefeitura, ocupou o cargo de urbanista chefe da Seção de Pesquisa, onde desenvolveu, a partir daí, uma densa atividade na investigação histórica. Posteriormente, durante os anos 1960 e 1970, Macedo ocupou o posto de diretor dos arquivos históricos de Porto Alegre e do Estado. Consagrado como historiador, escreveu dezenas de livros e artigos no Correio do Povo sobre Porto Alegre. Ver: RIOPARDENSE DE MACEDO, Francisco. Porto Alegre, origem e crescimento Porto Alegre: Sulina, 1968. Ver crescimento. Dédada de 1950 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 29 também: RIOPARDENSE DE MACEDO, Francisco. Porto Alegre, história e vida da cidade. Porto Alegre: UFRGS, 1973. ENILDA RIBEIRO nasceu em Rio Grande, diplomou-se em Arquitetura no IBA (1950) e em Urbanismo na FA-UFRGS (1955). Foi professora na FA-UFRGS, de Pequenas Composições, de 1953 a 1964, quando foi cassada; trabalhou como urbanista na Divisão de Urbanismo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, de 1960 a 1964, de onde foi igualmente afastada. Em 1979, anistiada, renunciou voltar à universidade. Durante os anos 1960 e 1970, realizou, em equipe com Demétrio Ribeiro, o Plano Diretor e projetos urbanos em Bento Gonçalves, Espumoso, Gramado, Marau, Novo Hamburgo, Panambi e Tapera. Em 1952, com Demétrio, venceu o concurso para o Colégio Júlio de Castilhos. Foi presidente do IAB-RS (19801981), em um momento agudo das discussões a respeito do PósModernismo, que se prolongaram durante toda a década, nas quais o IAB foi território frequente, envolvendo os já veteranos Demétrio e Enilda Ribeiro. Tratei do tema em dissertação de mestrado. Ver: MARQUES, Sérgio Moacir. A revisão do movimento moderno ? Arquitetura no Rio Grande moderno? do Sul dos anos 80. Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2002. p. 130-138. NELSON SOUZA nasceu em Gravataí, formou-se em arquitetura no IBA (1951), foi professor da FA-UFRGS de 1953 a 1964, como assistente de Edgar Graeff em Teoria da Arquitetura. Foi também arquiteto do escritório da Universidade de 1959 a 1964, quando foi cassado das duas atividades. Ainda estudante, trabalhando na Secretaria de Obras Públicas da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, em 1950, fez o projeto para o aeroporto de Porto Alegre, talvez a primeira obra construída de expressão, de arquitetura moderna, filiada à escola carioca, em Porto Alegre, em particular ao aeroporto Santos Dumont, de Maurício e Mílton Roberto (1937-1944), no Rio de Janeiro. Nelson Souza, já formado, acompanhou a viagem coordenada por Demétrio Ribeiro e Fernando Corona à Europa, na qual visitaram o escritório de Le Corbusier e obras com André Luçart. “Ele conversou conosco, nos mostrou alguns trabalhos. Depois fomos a Marselha, principalmente para apreciar uma de suas obras, a unidade de habitação pré-fabricada, de concepção avançada, que seria inaugurada pouco depois e que mais tarde seria reproduzida em outras cidades europeias.” Ver: SOUZA, Nelson. Das glórias juvenis à arte da maturidade. Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2011, às 18h 14min. Souza, igualmente, integrou a equipe do Plano Diretor de Caxias do Sul (1953), o plano piloto para a Cidade Universitária de Porto Alegre e de Florianópolis, entre 1958 e 1964. Em seu escritório particular realizou, ao longo dos anos 1960 e 1970, inúmeras obras, entre elas o Hospital Mãe de Deus (1965). É autor do livro publicado pelo IAB-RS, sobre arquitetura moderna. Ver: SOUZA, Nelson. A questão da democracia e a arquitetura no Brasil. Porto Alegre: IAB-RS, 1979. Brasil. Para mais dados sobre a biografia de Nelson Souza, ver: ROVATTI, João Farias. La modernité est ailleurs: “ordre et progrès” dans l’urbanisme d’Edvaldo Pereira Paiva (1911-1981) – Annexes. [Tese de doutorado]. Paris: Université de Paris VIII – Vincennes-Saint-Dennis, 2001. Lista de figuras das resenhas biográficas DEMETRIO RIBEIRO - Fonte: Acervo FAM EDGAR ALBUQUERQUE GRAEFF - Fonte: Arquivo Nelson Souza LEÓN JAUSSELY - Fonte: EDVALDO RUY PEREIRA PAIVA - Fonte: Fonte: Acervo FAM FERNANDO CORONA - Fonte: Acervo FAM EUGEN GUSTAV STEINHOF - Fonte: Acervo Roberto Azevedo de Souza JOSEPH FRANZ SERAPH LUTZEMBERGER - Fonte: EMIL ACHUTI BERED - Fonte: ROBERTO FÉLIX VERONEZE - Fonte: Acervo Moojen LUIZ FERNANDO CORONA - Fonte: Acervo FAM LUIS ARTHUR UBATUBA DE FARIAS - Fonte Acervo FAM FRANCISCO RIOPARDENSE DE MACEDO - Fonte ENILDA RIBEIRO - Fonte: Acervo FAM NELSON SOUZA - Fonte: Acervo Nelson Souza Década de 1950 Década de 1940 30 INTRODUÇÃO FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Introdução INTRODUÇÃO ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL A Arquitetura Brasileira das décadas de 1930 a 1960 vivenciou período de densidade e expressão sem precedentes nos movimentos artísticos nacionais. A partir das mudanças territoriais, tecnológicas, sociais e estéticas que formaram a matriz do Movimento Moderno na Europa, desde o Século XIX, a Arquitetura Brasileira, a principiar do centro do país, em conjunção com o processo histórico europeu, e sob influência, em particular da obra e pensamento corbusieriano, estabeleceu identidade particular, consubstanciando ciclo de unidade, clareza de princípios e paradigmas 1 predominantes, aclamados como a vanguarda moderna brasileira . Os anos 1930-1960 foram marcados por espírito progressista que, almejando novas condições de produção e industrialização, constituiu cultura arquitetônica nacional, alimentada pelo idealismo de arquitetos e políticos que alicerçaram obras de caráter emblemático do desenvolvimento técnico, econômico e cultural do país, bem como da construção de um universo formal representativo. Ícones da Arquitetura Moderna Brasileira, como o Ministério de Educação e Saúde – MES (1936-1946); Associação Brasileira de Imprensa – Aqui se usa a expressão “vanguarda moderna” com o sentido de designar aquela que protagonizou a arquitetura produzida inicialmente no Rio de Janeiro, a partir dos anos 1930, consubstanciada pela liderança de Lúcio Costa, oficializada com a realização do MES e a produção arquitetônica consequente, denominada consagradamente de escola carioca. Designa-se como escola paulista a produzida em São Paulo, inaugurada por Gregori I. Warchavchik (1896-1972) e deflagrada, a partir dos anos 1950, com a liderança de Vilanova Artigas, com o projeto da FAUSP. A sistematização desta produção consagrou-se através da bibliografia inaugural e basilar da Arquitetura Moderna Brasileira, tanto no que tange às suas seleções de obras como aos textos que caracterizam os atributos destas arquiteturas aceitas como genuinamente nacionais. Entre outras publicações em periódicos, além do consagrado livro Brazil Builds, de Philip L. Goodwin, com introdução do próprio, os livros sobre Oscar Niemeyer de Stamo Papadaki, com introdução de Lúcio Costa, a publicação de Henrique Mindlin, em que Gideon escreve o prefácio e mais recentemente, a tese doutoral de Bruand. É importante agregar também o livro texto “Sobre Arquitetura”, de Lúcio Costa, com escritos seus compilados pelos estudantes do centro acadêmico da UFRGS, introdução de Edgar Graeff, publicados, originalmente, sem sua autorização. Ver: GOODWIN, Philip L. Brazil Builds: Architecture new and old 1652-1942. Nova Iorque: MoMA, 1943. PAPADAKI, Stamo. The work of Oscar Niemeyer. Nova York: Reinhold Publishing Corporation, Oscar 1950. MINDLIN, Henrique E. Modern Architecture in Brazil. Rio de Janeiro: Collibris: 1956. PAPADAKI, Stamo. Oscar Niemeyer: works in progress. Nova York: Reinhold Publishing Corporation, 1956. COSTA, Lúcio. Lúcio Costa: sobre arquitetura. Porto Alegre: Centro dos Estudantes Universitários de Arquitetura, 1962. BRUAND, Ives. L’Architecture contemporaine au Brésil. [Tese de Doutorado]. Lille: Université Lille III, 1973 e Arquitetura contemporânea no Bra sil. Brasil. Tradução de Ana M. Golberger. São Paulo: Perspectiva, 1981. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 1 Fonte: Fotos Sérgio Marques, 2009 Fig. 1 – Da esquerda para a direita – MESP, Lúcio Costa, Carlos Leão, Oscar Niemeyer, Affonso E. Reidy, Ernani Vasconcellos e Jorge Machado Moreira, 1936-1946. Vista a partir do Edifício do Jockey Club. Parque Guinle, Lúcio Costa, 1948-1950. Conjunto Residencial do Pedregulho, Affonso Eduardo Reidy, 1950. Rio de Janeiro-RJ. ABI (1936-1938); Pavilhão Brasileiro na Exposição de Nova Iorque (1939); Aeroporto Santos Dumont (1937-1944); Parque Guinle (1948-1950) (Fig.1); Conjunto Residencial do Pedregulho (1950) (Fig.1); Museu de Arte Moderna – MAM, no Rio de Janeiro (1954-1967); Casa na Rua Itápolis (1929); Edifício Esther (1938); Edifício Louveira (1946-1950) (Fig.2); Sede do Instituto dos Arquitetos do Brasil-SP (1948) (Fig.2); Residência Maria Luísa e Oscar Americano (1952); Ed. COPAN (1953-1955); conjunto do Parque Ibirapuera (1953-1955); MASP (1958-1968); FAUUSP (1962-1969), em São Paulo; o conjunto da Pampulha (1942-1943), em Minas Gerais, e diversos outros edifícios públicos e privados constituem o material arquitetônico de construção dessa imagem de nação moderna, cuja expressão sintética e simbólica máxima está na concepção de Brasília, no segundo quartel dos anos cinquenta. Nesse período e contexto, fomentaram-se valores e ideias arquitetônicas comuns, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, nas denominadas escolas carioca e paulista, cujos preceitos se disseminaram, com outras 2 particularidades e novos aportes, pelo país . A Arquitetura Brasileira, sob a 2 Andrey Schlee e Sylvia Fischer, ao fazerem a defesa da arquitetura denominada genericamente de art decó, de filiação mendelsoniana, produzida na Bahia na década de 1930 e 1940, adotam a recorrente critica à hegemonia da arquitetura carioca na cultura brasileira, assim como frequentemente ocorre em outras regiões brasileiras, como o Rio Grande do Sul. No entanto, o próprio texto expõe razões convincentes dos fatores históricos que produziram as condições políticas, econômicas e culturais para a liderança fluminense: capital da colônia em 1763; Sergio MMarques 31 égide do ideário moderno, despertou interesse dos epicentros irradiadores 3 europeus e norte-americanos , produziu um patrimônio considerável de obras notáveis filiadas ao Movimento Moderno, apropriadas de forma particular o suficiente para torná-las vanguarda referencial em âmbito internacional, e ocasionou debates que, no campo da reflexão sobre a racionalidade e a forma, 4 anteciparam, em algumas décadas, análises que estavam por vir . Também ao longo desse período começaram a funcionar, por todo o país, faculdades de Arquitetura, desmembrando-se dos cursos de Engenharia e Belas Artes, a profissão foi regulamentada, consolidaram-se entidades de classe, formaram-se grandes escritórios, a arquitetura floresceu no panorama social e cultural, conquistou reconhecimento e importância como instrumento de desenvolvimento e consolidou patrimônio técnico-artístico de valor, mesmo 5 perante a opinião pública leiga . A Arquitetura Moderna Brasileira, portanto, por um lado, no que se refere à sua conformação, foi além da simples reprodução e disseminação filial da vanguarda europeia, como nas clássicas relações entre centro e periferia. Estabeleceu paridade de trocas, aportando ao movimento cultural novos valores e horizontes até então restritos ao campo europeu, especialmente na experimentação e desenvolvimento das novas tecnologias de construção e tipologias edilícias, na investigação de relações entre forma e função, transferência da Corte portuguesa em 1808; missão francesa em 1816; fundação da Academia Imperial de Belas Artes em 1826; regulamentação do exercício da arquitetura em 1933; ação do ministro Gustavo Capanema e seu grupo de intelectuais; as obras públicas e a divulgação estrangeira. Ver: SCHLEE, Andrey; FICHER, Sylvia. Bahia – um outro modernismo: paralelo e escamoteado. II Seminário DOCOMOMO N – NE, Salvador, jun. 2008. Disponível em . Acesso em 21 ago. 2009, às 12h 45min. 3 Como demonstra a repercussão, entre a crítica, provocada pelo Pavilhão Brasileiro para a Feira de Nova Iorque, a exposição e publicação do livro catálogo Brazil Builds Architecture New and Old, realizada no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (1943) e dezenas de episódios que, em relação ao período 1930-1960, culminam, posteriormente, com o emblemático tombamento de Brasília pela UNESCO, em 1987. Para uma leitura sintética desse cenário, principalmente dos anos 40-50, ver o texto de apresentação para a reedição do livro de Mindlin: CALVALCANTI, Lauro. Henrique Mindlin e a Arquitetura Moderna Brasileira. In MINDLIN, Henrique E. Arquit etura moderna Arquitetura no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999. p. 11-16. 4 Em especial, o debate crítico de Max Bill e outros autores, como Walter Gropius e Ernesto Nathan Rogers, que se dedicaram à crítica ao livre-formismo da arquitetura brasileira. 5 GIDION, ainda que com uma visão nitidamente centrista, chama a atenção para o Brasil, onde, nesse período, diferentemente dos países da Europa e E.U.A, a arquitetura moderna transformou-se em valor tanto para os anseios desenvolvimentistas do poder e os encargos públicos, quanto na média arquitetônica produzida para uma clientela capaz de reconhecê-la. Ver: GIDION, Sigfried. O Brasil e arquitetura contemporânea. In: MINDLIN, Henrique. Arquitetura moderna no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Aeroplano, Iphan, Ministério da Cultura, 2000. p. 15-16. Fonte: Fotos Sérgio Marques, 2011 Fig. 2 – Da esquerda para a direita – Edifício Louveira, João B. Vilanova Artigas, Carlos Cascaldi,1946-1950. Instituto de Arquitetos do Brasil – SP, Rino Levi, Jacob Ruchti, Galiano Ciampaglia, Hélio Duarte, Zenon Lotufo, Abelardo de Souza, Roberto Cerqueira César e Miguel Forte Neto, 1948. FAU-USP, João B. Vilanova Artigas, Carlos Cascaldi, 1962-1969. São Paulo –SP. racionalismo e formalismo, tradição e modernidade, adaptação ao clima e tradição estética local e, principalmente, na materialização das teses ideais da 6 cidade moderna . Por outro lado, no que se refere à propagação no âmbito da sociedade brasileira, em suas diversas regiões, climas e culturas, entre encargos públicos e privados, foi além de um mero movimento estilístico, entre outros que emergiam em continuidade aos estilos historicistas. Consolidou-se como tradição estética conectada a valores conceituais correspondentes, implícitos à cultura brasileira; incorporou carga representativa, integrando os valores almejados para a emblematização da imagem nacional, externa e internamente, tanto por lideranças políticas e culturais coincidentes, quanto, fundamentalmente, pela adoção, como sistema arquitetônico, por expressivo espectro de arquitetos e contratantes de sucessivas gerações em diversos 7 lugares e segmentos da nação . Como afirma Curtis, “quando se propõe a questão do intercâmbio internacional, também é necessário deixar de lado tanto as noções simplistas da hegemonia global, como as ideias monolíticas da identidade nacional; pois se encontram conexões inesperadas que se estabelecem entre um lugar e outro”. Ver: CURTIS, Wilian J. R. La arquitectura moderna desde 1900. Nova York: Phaidon , 2006. p. 493. 7 MAHFUZ, em lúcido e preciso texto sobre os fundamentos desta arquitetura, chama atenção para que, além do Classicismo, somente a Arquitetura Moderna produziu um sistema formal completo, em que, ao contrário do que dizem seus detratores, há uma caracterização do projeto “como uma atividade totalizadora que sintetiza na forma os requisitos do programa, as sugestões do lugar e a 6 32 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Introdução A prolífera produção de obras representativas dessa Arquitetura Moderna Brasileira, de identidade genuína, principalmente pelo poder público, os sucessivos e consistentes estudos realizados sobre a cultura arquitetônica, processos, principais lideranças e agentes desse período de apogeu e o reconhecimento da crítica internacional, autoriza classificar esse momento como 8 Arquitetura Moderna Brasileira oficial e referencial . Nesse cenário, com distinções de tempo e modo, a massa crítica de arquitetos do Rio Grande do Sul, a partir dos anos 1940, compartilhou do Movimento Moderno, sob significativa influência do nativismo carioca e, posteriormente, do brutalismo paulista, mas também de alguma contribuição e certo paralelismo com a arquitetura e cultura platina, principalmente do Uruguai, contexto com que o Rio Grande do Sul detém proximidade histórica, geográfica, climática e cultural. Como no centro do país, o meio arquitetônico, até meados da década de 1960, além de ter produzido uma arquitetura legível, quanto a seus valores e referências, produziu também uma classe de arquitetos com postura profissional criteriosa, face a uma atividade profissional e artística que se afirmava e a um cenário político nacional e internacional que alimentava idealismos e extremismos político-sociais. A ideologização da prática arquitetônica adquiriu no Sul acentuados contornos entre lideranças que abraçaram a bandeira de uma arquitetura socialmente renovadora, com uma produção impregnada de valores éticos e sociais. disciplina da construção [...]. Em primeiro lugar, iremos constatar que os projetos davam forma aos programas sem serem determinados por eles, de modo bastante diferente da relação de causa e efeito por tantas vezes atribuída a um certo funcionalismo moderno. Em segundo lugar, longe de qualquer insensibilidade em relação ao entorno, o sítio era entendido como formalidade latente, e o projeto estabelecia estruturas relacionais em que o edifício era sempre concebido como parte de um todo maior”. A produção dos anos 1930-1960, no Brasil, logrou essa formalidade universal dentro de certo contexto cultural particular: “A esses critérios de construção formal, a arquitetura moderna brasileira acrescentou valores da arquitetura tradicional abstraídos, o que lhe permitiu ser parte da produção cultural contemporânea, sem ter que abrir mão de suas raízes históricas. A presença de valores históricos na arquitetura moderna brasileira se baseava na utilização da substância dos precedentes históricos, ao invés da sua aparência, em um aproveitamento muito mais tipológico do que mimético da sua tradição”. Essa produção corresponde igualmente a um período de lideranças políticas de nível intelectual elevado, instituições públicas e privadas cientes do papel da arquitetura e do urbanismo na construção e representação social. Ver: MAHFUZ, Edson da Cunha. O Sentido da Arquitetura Moderna Brasileira. Arquitextos 020.01, Vitruvius, São Paulo, Arquitextos, jan. 2002. Disponível em: . Acesso em: 23 jun. 2011, às 23h 42min. 8 Dentre os trabalhos de caracterização de fundamentos da arquitetura moderna brasileira, em especial a produzida no Rio de Janeiro nos anos 1930-1940 destaca-se a análise de Carlos E. D. Comas. Ver: COMAS, Carlos Eduardo Dias. Precisões Brasileiras: sobre um passado da arquitetura e urbanismos modernos a partir dos projetos e obras de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, MMM Roberto, Affonso Reidy, Jorge Moreira & Cia., 1936-1945. [Tese de doutorado]. Universidade de Paris VIII, Vincennes: Saint Denis, 2002. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Em que pesem idiossincrasias culturais e cronológicas, a produção arquitetônica no Rio Grande do Sul, principalmente no período 1950-1960, é significativa, com muitas obras que compõem o cenário do patrimônio brasileiro moderno, em edificações e, notadamente, em urbanismo. Da mesma maneira que nos polos irradiadores brasileiros, formaram-se escritórios de arquitetura que marcaram época por suas produções e atuações profissionais, além de exercerem importante influência sobre as gerações seguintes, entre estudantes e colaboradores. Ocorreu no Rio Grande do Sul o que, de certa forma, se processou no centro do país: a conflagração de posturas, ideias, conceitos e, com menos intensidade visível que nas escolas consagradas, sistemas formais e estilos arquitetônicos comuns em arquitetos que se reuniam ao redor de lideranças arquitetônicas e ideológicas. Produção consistente, em especial no exercício do ofício, rigor construtivo e coerência de pensamento ao longo de suas trajetórias, ainda pouco evidenciadas pelos estudos recentes, marcaram uma época de espírito “heroico”, porém relativamente anônimo. Por outro lado, a Arquitetura Moderna Brasileira no Sul constituiu-se em processos e atributos menos exuberantes formalmente, menos pretensiosos simbolicamente, de menor grandiloquência estrutural e mais modestos economicamente que seus parentes cariocas e paulistas, cuja comparação convém que se faça 9 designando diferenças culturais, econômicas, tecnológicas e mesológicas . Centro e Margem Convém observar que o Brasil da década de 1930, e o Estado Novo de Getúlio Vargas, com o início da industrialização e os esforços de modernização, não se distanciava em demasia, em termos de desenvolvimento, dos grandes centros econômicos, agastados pelo período entre guerras. A ideia de primeiro e terceiro mundo ainda não existia com o acento recente e a inteligenza Guerra aborda a construção da identidade da arquitetura moderna brasileira liderada por Lúcio Costa e fortalecida pela ideia da contextualização das vanguardas construtivas em ambiente tropical, na qual o Rio de Janeiro goza de especial representatividade. Assinala, no entanto, a discussão a respeito do pioneirismo de Warchavchik e as buscas teóricas sobre a brasilidade do paulista Mário de Andrade em termos de iniciais relações da nova arquitetura com a paisagem, âmbito no qual posteriormente Burle Marx, em sua investigação sobre espécimes vegetais locais, alinhou-se à ideia de uma paisagem definida por elementos autóctones e sensível a condicionantes mesológicas. Em paralelo com a ideia de conformação de uma cultura moderna brasileira iniciada pelos paulistas e aprofundada pelos cariocas, prolifera a ideia de regionalismo e de sincretismo da cultura universal com particularidades locais, principalmente nos discursos teóricos de Lúcio Costa e nas experiências de Burle Marx. Ver: GUERRA, Abilio. Lúcio Costa, Gregori Warchavchik e Roberto Burle Marx: síntese entre arquitetura e natureza tropical. Arquitextos Vitruvius, São Paulo, Arquitextos: 029.05 ano 03, out. 2002. Disponível em: . Acesso em: 20 set 2006, às 14h 36min. Sergio MMarques 33 9 brasileira, estofada por artistas como Anita Mafalti, Di Cavalcanti e Portinari; intelectuais como Gilberto Freyre, Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade e os arquitetos do Rio de Janeiro, estabeleciam relações niveladas por certa horizontalidade e trânsito bilateral de ideias, o que permite identificar, nessas relações, certa proliferação de trocas em via de duas mãos, entre centro 10 e margem, cuja dialética vai além do conceito linear de matriz e filial . Traduz certa simultaneidade temporal de interpretações e fundamentações dos conceitos e experiências que estruturaram o Movimento Moderno como nova representação cultural de uma época, manifesto em distintos lugares, com 11 algum paralelismo . Também a consideração de que, em centros históricos culturalmente consolidados, a natural tendência ao conservadorismo e refração a valores exóticos acentuada expõe a maior flexibilidade da margem em experimentar e colocar em prática ideias metabolizadas de outras influências cujos valores são 12 potencializados conjuntamente com os locais . Ainda a hegemonia da tradição acadêmica nas escolas europeias e o holocausto provocado pelas duas guerras mundiais incrementaram o interesse e a atuação de estrangeiros eruditos e/ou 13 vanguardistas na América. Alemães da escola de Berlim em Chicago , desde o Neste sentido é fundamental a visão de Comas em termos de categorização precisa das relações de influência entre a arquitetura moderna brasileira e europeia. Ver: COMAS, Carlos Eduardo Dias. Precisões Brasileiras: Sobre um passado da Arquitetura e Urbanismos Modernos a partir dos projetos e obras de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, MMM Roberto, Affonso Reidy, Jorge Moreira & Cia., 1936-1945. Universidade de Paris VIII: Vincennes: Saint Denis, 2002. 11 Curtis afirma que “Brasil, África, México e Japão, por exemplo, receberam a arquitetura moderna, quando esta, todavia, era jovem, nas décadas de 1920, e criaram suas próprias variantes no período de entre guerras”. Ver: CURTIS, Wilian J. R. La Arquitectura Moderna desde 1900. Nova York: Phaidon, 1986, p. 491-492. 12 A este aspecto deve ser acrescida a forte capacidade cultural da margem em deglutir os valores importados, como o chamado “antropofagismo” no Brasil. Mahfuz expõe que o movimento moderno aqui, “durante o seu período áureo, atinge seu auge uma habilidade sempre presente na arquitetura brasileira, que consiste em apropriar-se de procedimentos importados – determinados por uma permanente condição de dependência, seja ela econômica, política ou cultural – transformando-os, adaptando-os e tornando autêntica a produção local”. Ver: MAHFUZ, Edson da Cunha. O Sentido da Arquitetura Moderna Brasileira. Arquitextos 020.01, Vitruvius: São Paulo, jan. Arquitextos, 2002. Disponível em: . Acesso em: 23 jun. 2011, às 23h 42min. 13 É notável a presença de arquitetos e construtores alemães em Chicago, muitos oriundos de formação pautada pela Escola de Berlim e a influência de Frederich Schinkel, que tiveram significativo papel na cultura local e na sustentação de experiências e ideias que caracterizaram a Escola de Chicago, entre eles Hadler, sócio de Sullivan, descendente de alemães. O Movimento Moderno encontrou na América boas oportunidades. Seguidamente em destaque, o pronunciado interesse de Le Corbusier na América e Ásia advém também dos obstáculos em transformar suas teses em encargos em uma Europa conservadora e agastada economicamente, contrastante com as perspectivas do “novo mundo”, impressão registrada em seu livro Précisions sur un état présent 10 século XIX; a migração dos mestres europeus modernos aos E.U.A durante a Segunda Guerra, entre os quais Walter Gropius, Mies Van der Rohe , Richard Neutra e Marcel Breuer, que fazem paralelo a Hannes Meyer e Félix Candela no México; Antoni Bonet Castellana e Enrico Tedeschi, na Argentina e Uruguai; as visitas de Donat Agache, Marcello Piacentini, Le Corbusier ao Brasil e a imigração alemã erudita no Sul. Essa circulação de ideias, propiciada pelos fluxos migratórios e pelo interesse de intelectuais qualificados dos tradicionais centros em relação ao Novo Mundo, assim como algum paralelismo na montagem conceitual de ideias interpretativas do mundo moderno, veio ao encontro de anseios desenvolvimentistas que, no Brasil, encontraram respaldo na visão política do papel da arquitetura e do urbanismo como poderosos meios de representação e transformação, em alguns segmentos do Estado. Por fim, não menos importante observar no fluxo cultural entre centro e periferia, e, principalmente em relação à Europa, a contribuição da própria natureza disciplinar do Movimento Moderno, revolucionário em sentido amplo, preconizando transformações sociais, territoriais, técnicas e estéticas, cujos ideais progressistas de justiça social, relação espacial com a natureza, despojamento, racionalidade construtiva e abstração formal encontraram, na América e no Brasil, território fértil, cujo desapego a um passado frugal, território vasto e natureza exuberante reuniam aqui, talvez mais que na Europa, fertilidade para florescimento. O jardim já existia. Bastava construir a cidade. Da política desenvolvimentista de Getúlio Vargas, o papel central do Ministro Capanema e de Lúcio Costa, com a realização do Ministério de Educação e Saúde Pública pela equipe brasileira, com o traço inicial de Le Corbusier, a construção de Brasília, no comando visionário de Juscelino Kubitschek e, novamente, a intelectualidade genial e extraordinariamente simples de Lúcio Costa, a arquitetura e o urbanismo modernos preconizaram um capítulo fundamental na constituição da cultura e identidade brasileiras e na 14 historiografia internacional , cuja disseminação e impregnação nas décadas de l'architecture et de l'urbanisme. Esse interesse e experiências, entre outras particularidades, são bem retratados em publicações abordando as relações de Le Corbusier com países latinoamericanos. Ver, por exemplo: SANTOS, Cecília Rodrigues; PEREIRA, Margareth Campos da Silva; PEREIRA, Romão Veriano da Silva; SILVA, Vasco Caldeira da. Le Corbusier e o Brasil São Paulo: Corbusier Brasil. Projeto, 1987. Ver também: LIERNUR, Jorge Francisco; PSCHEPIURCA, Pablo. La Red Austral – Obras y proyectos de Le Corbusier y sus discípulos en la Argentina (1924-1965). Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 2008. 14 “As Construções Modernas Brasileiras estarão presentes em qualquer resenha séria da arte deste século, como responsáveis por uma contribuição aos rumos da arquitetura mundial”. LIERNUR, Jorge Francisco; PSCHEPIURCA, Pablo. La Red Austral – Obras y proyectos de Le Corbusier y sus discípulos en la Argentina (1924-1965). Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 2008. p. 12. 34 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Introdução posteriores merecem redobrados estudos e análises pormenorizadas, visando à compreensão do processo de validação e ao aprofundamento no debate crítico sobre a posterior perda de unidade, relativismo formal e desvalorização cultural da arquitetura brasileira nas décadas posteriores, ainda em discussão. Desde este ponto de vista, o estudo da Arquitetura Moderna Brasileira abrangente, produzida em outras regiões do Brasil, além dos centros irradiadores e pioneiros, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo, oferece igualmente, portanto, à investigação relações de disseminação, propagação, paralelismo, simultaneidade, apropriação, transformação, aportação e outros processos do Movimento Moderno como fenômeno cultural, que transcendem a visão reducionista de centro e periferia como um caminho linear de mão única, revelando outras contribuições, valores, experiências, potencialidades e fragilidades à análise que, como a própria Arquitetura Moderna Brasileira em relação ao campo arquitetônico internacional, constituem corpo conceitual e arquitetônico mais rico e plural que o da mera análise unívoca. Massme Mestres e Massmedium Fonte: Fotos Sérgio Marques, 2010 Fig. 3 – Da esquerda para a direita – Casa de Estudios para Artistas, Antoni Bonet Castellana, Horacio Vera Ramos, Abel López Chas, 1938, Buenos Aires. Parador La Solana del Mar, Antoni Bonet Castellana, 1946, Portozuelo – Uruguai. Neste sentido, na historiografia da arquitetura moderna, merece atenção o trabalho de determinados críticos e historiadores europeus – distinto dos consagrados estudiosos sobre a arquitetura moderna canônica – que narram igualmente a irradiação e sincretismo do Movimento Moderno programático inicial, a partir dos CIAMs e do contexto centro-europeu, em direção à margem e às gerações que sucederam os mestres pioneiros, de forma contextualizada em cada cultura, tanto em meios periféricos da própria Europa – como, por exemplo, Alvar Aalto (1898-1976), na Finlândia; Arne Jacobsen (1902-1971) na Dinamarca; o grupo GATCPAC e Josep Luís Sert 15 (1902-1983), na Espanha e posteriormente o Grupo R na Catalunha – como latino-americanos. Dentro desse campo, destaca-se a publicação recente de Montaner, retratando as “linhas de pensamento da crítica de arquitetura no A sequência de debates entre um racionalismo e funcionalismo ortodoxo inicial e o organicismo, também como forma de contextualização dos fundamentos modernos em culturas distintas, ocupou boa parte dos últimos CIAMs, a formação de grupos como os TEAM X e, durante os anos 1950, acompanhou a disseminação do movimento, dando partida ao realismo e outras linhas de revisão do próprio. O grupo R se constituiu em 1951, com nove membros, entre eles Oriol Bohigas (1925), Antoni de Moragas (1913-1985), Josep Maria Sostres (1915-1984), José Antonio Coderch (1913-1984), Manuel Valls e outros, com certa heterogeneidade de pensamento mas afinidade no entendimento que “superada a fase mais rígida e dogmática do funcionalismo, a arquitetura orgânica – e a obra de Alvar Aalto, em particular – representava o estado mais avançado de um processo que o transcendia histórica e esteticamente.” Ver: PIÑON, Hélio. CATALÀ-ROCA F. Arquitectura Moderna em Barcelona (1951- 1976). Barcelona: Ediciones UPC, 1996. p. 14. (1951Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 15 contexto latino-americano”, centrando-se no surgimento da arquitetura e pensamento modernos, a partir das matrizes europeia e norte-americana, sua “construção, consolidação e superação”, usando como base o esquadrinhamento sobre o meio cultural no âmbito do ensino da arquitetura, sua difusão no mundo editorial e pensamento de seus agentes, nem sempre 16 protagonistas . Igualmente, vale mencionar as publicações monográficas de Piñon, seletivas de arquitetos e obras cuja produção expressa "consistência formal com critérios de economia, precisão rigor e universalidade" de uma arquitetura moderna que se "baseia em sistema de relações abstratas e universais" em que o "objeto deixa de se considerar uma réplica mimética de qualquer realidade física ou ideal, para constituir-se em uma realidade nova, 17 construída com critérios de consistência visual" . Com este sentido mais universalista, porém disseminado no fazer, Piñon publicou monografias recentes 18 19 do argentino Mario Roberto Alvarez (Fig.5), uruguaio Raul Sichero (Fig.5) e 20 21 dos brasileiros Paulo Mendes da Rocha e Eduardo Almeida . Ainda neste contexto, também a coletânea com textos de Arís, Piñon e outros, sobre a Ver: MONTANER. Josep Maria. Arquitectura y crítica em Latino-América . Buenos Aires: Nobuko, Latino2011. contracapa. 17 Ver: PIÑON, Helio. La Forma y la Mirada . Buenos Aires: Nobuko, 2005. p. 35. 18 PIÑON, Hélio. Mario Roberto Alvarez. Barcelona: ETSAB/UPC, 2002. Alvarez . 19 PIÑON, Hélio. Raul Sichero. Barcelona: ETSAB/UPC, 2002. Sichero. 20 PIÑON, Hélio. Paulo Mendes da Rocha. Barcelona: ETSAB/UPC, 2003. Rocha . 21 PIÑON, Hélio. Eduardo Almeida . Barcelona: ETSAB/UPC, 2002. Almeida da. 16 Sergio MMarques 35 arquitetura moderna na Colômbia, que “não só tenta evitar alguns relatos hegemônicos, sim que, ademais, procura resisti-los e recolocá-los, pondo em foco a arquitetura latino-americana, em uma refinada parte da produção arquitetônica moderna, que se realizou na Colômbia entre os anos 1950 e 22 1965” . Não se trata, portanto, de feitichizar o alternativo, o raro e/ou o exótico, mas de prospectar a qualidade daquela arquitetura moderna, cuja disseminação, a partir dos anos 1950, deu-se em diversas direções e com quantidade exponencial, fora dos tradicionais centros de irradiação, identificando nesses países ou regiões, além dos precursores da arquitetura moderna consagrada, os agentes responsáveis pela construção e propagação da arquitetura apropriada. No México, país de larga tradição no ensino da arquitetura e sua história, são exemplos os aportamentos teóricos de José Villagran García 23 24 (1901-1982) e a presença de Juan O´Gorman (1905 – 1982) , Ignacio Diaz 25 26 Morales (1905-1992) e Alberto Teruo Arai Espinoza (1915-1959) , e em 27 especial Hannes Meyer (1889-1954) , que viveu no país de 1939 a 1949, assim 28 29 como o espanhol Félix Candela (1910-1997) e Luis Barragan (1902-1988) , cujas obras emblematizam o movimento mexicano. Também o são Emilio 30 Duhart Harosteguy (1917-2006) , no Chile e o papel central do meio acadêmico, inicialmente com a PUC de Santiago, Valparaíso, e a Universidad de Chile, graças às influentes teorias de Juan Borchers (1910-1975)31. Ainda nesta linha um tanto metafísica de Borchers, a linha autônoma de Valparaíso, desde 32 Alberto Cruz Covarrubias (1917) , em 1960, com a criação e experiências da 33 Ciudad Abierta, em Ritoque . Juan Kurchan (1913-1972)34, Jorge Ferrari Hardoy Citação de apresentação da publicação do editor da Edicions ETSAB. Ver: PEREZ, Fabián Gabriel. Introducción a la Segunda Edición Revisada y Ampliada. In: FONTANA, Pia Maria; MAYORGA, Miguel Y.; ARIS, Carlos Martí, PIÑON, Hélio. [Re]visión Colombia arquitectura moderna . 2. ed. Barcelona: Edicións ETSAB, 2006. p. 8. 23 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 24 Idem. 25 Idem. 26 Idem. 27 Idem. 28 Idem. 29 Idem. 30 Idem. 31 Idem. 32 Idem. 33 Para ver mais sobre a história e conceitos de Amereida (poema do poeta Argentino Godofredo Lommi), a Ciudad Abierta e as Travesías experiências de integração entre poetas, filósofos, artistas e arquitetos, organizadas por Covarruvias ver: PÉRES DE ARCE, Rodrigo; OYARZUN, Fernando Péres. Escuela de Valparaíso: Ciudad Abierta. Chile: Editorial Contrapunto, 2003. 34 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 22 Fonte: Fotos Sérgio Marques, 2006 Fig. 4 – Da esquerda para a direita - Facultad de Ingeniería, Julio Vilamajó, 1939, Montevidéu. Casa del Puente, Amâncio Williams,1942, Mar del Plata – Argentina. 35 36 37 (1914-1977) , Amancio Williams (1913-1989) (Fig.4), Clorindo Testa (1923) 38 39 (Fig.5), Horácio Baliero (1927-2004) e Mario Roberto Alvarez (1913-2011) 40 (Fig.5), assim como a Escuela de Tucumán , que arrancou sob influência de Antoni Bonet Castellana (Fig.3) e o grupo Austral; as teorias de Enrico Tedeschi 41 42 (1910-1978) e a abordagem histórica de José Luis Romero (1909-1977) , na 43 Argentina; Carlos Raúl Villanueva (1900-1975) , da mesma forma, na 44 Venezuela, com seu ex-colaborador e historiador, Juan Pedro Posani . No 45 Peru, o impulso foi dado por Fernando Belaude Terry (1912-2002) , o trabalho 46 teórico de Luis José Antonio Miró-Quesada Garland (1914-1994) , Héctor 35 Idem. Idem. 37 Idem. 38 Idem. 39 Idem. 40 O Instituto de Arquitectura y Urbanismo de Tucumán criado em 1946, com a ambição de 36 transformar-se em uma referência regional, promovido pelos jovens arquitetos Eduardo Sacriste (1905-1999), Horacio Caminos (1915-1990) e Jorge Vivanco (1912-1987), posteriormente travou intercâmbio com Ernesto Nathan Rogers e o grupo do realismo italiano, que favoreceu a migração de Enrico Tedeschi, à Argentina, em 1948. Ver: MARIGLIANO, Franco. El Instituto de Arquitetctura y Urbanismo de Tucúman – 1946/1950. [Tese de Doutorado]. Madri: ETSAM, 2003. 41 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 42 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 43 Idem. 44 Idem. 45 Idem. 46 Idem. 36 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 47 1950/1970 48 Introdução Velarde Bergmann (1898-1989) e Emilio Harth-Terré (1889-1983) . Na Colômbia, a arquitetura moderna ganhou força com a visita de Le Corbusier, em 1947, e o plano piloto para Bogotá, desenvolvido de 1949 a 1950, em parceria 49 com Josep Lluis Sert (1902-1983) e Paul Lester Wiener (1895-1967) e a fundação da Revista PROA (1946), iniciada por Jorge Arango Sanín (191650 51 2007) , Manoel de Bengoechea e dirigida por Carlos Martinez (1906-1991) até 52 1976. O mesmo impulso deve-se a Julio Villamajó (1894-1948) (Fig.4), 53 54 Mauricio Cravotto (1893-1962) , Raul Sichero (1916) (Fig.5) e o espanhol 55 Antoni Bonet Castellana (1913-1989) (Fig.3) no Uruguai e, de forma irradiante, aos brasileiros, com a ação basilar de Lúcio Costa, seus contemporâneos e seguidores, como Gregori Warchavchik, Burle Marx, Oscar Niemeyer, Eduardo Afonso Reidy, os Irmãos Roberto (Fig.1) em um primeiro momento, o sincretismo de Lina Bo Bardi e a ascendência estética e ideológica de Vilanova Artigas, a seguir (Fig.2). As lideranças, vetores de propagação do pensamento moderno, assumiram com justeza a carga emblemática do vanguardismo, sendo que, no episódio brasileiro, o constructo conceitual e formal resultante da apropriação e/ou inserção no Movimento Moderno transcendeu a condição de meio propagador para a de polo irradiador, resultando condição notória em termos nacionais, latino-americanos e mesmo em relação às matrizes do hemisfério norte. Com menos pormenor, porém, mantém-se o olhar sobre o seguimento do processo de disseminação e metabolização do Movimento Moderno, tanto nas diversas regiões com particularidades culturais e climáticas de um país especialmente continental como o Brasil, como na apropriação do movimento cultural pelas gerações subsequentes e a produção média da arquitetura recorrente realizada pela grande massa crítica de arquitetos em crescimento e Fonte: Fotos Sérgio Marques Fig. 5 – Da esquerda para a direita – Banco de Londres, Clorindo M. J. Testa, SEPRA – Sanchez Elía, Peralta Ramos, Agostini, 1959-1966. Buenos Aires. Edifício Panamericano, Raul A. Sichero Bouret, 1960-1964, Montevidéu. Centro Cultural Ciudad de Buenos Aires, Mario Roberto Alvarez, 1960-1970, Buenos Aires. 47 48 49 Idem. Idem. expansão pelo país, principalmente nos anos 1950 e 1960 . As gerações seguintes ou em parte contemporâneas à vanguarda brasileira e latinoamericana, receberam e conduziram legado, ora herdado pelos mestres conterrâneos, ora da mesma forma, sorvendo diretamente de fontes idênticas, principalmente norte-americanas e europeias, ou como todos, refletindo sobre o mundo contemporâneo e buscando respostas para seus casos particulares, através de arquiteturas modernas realizadas dentro de certa pluralidade. Considerando, portanto, que a relação mestre/discípulos não se dá exclusivamente de forma linear e unidirecional, tanto quanto não se dá o fluxo de ideias entre centro e margem, as gerações subsequentes de cada região ou 57 país, como Luis Garcia Pardo (1910-2006) (Fig.6), Walter Pintos Risso (1906Âmbito fundamental para análise, comprovação ou negação de afirmações um tanto eurocentristas, como a de Curtis: “Em fins dos anos 1950, as transformações, desvios e desvalorizações da arquitetura moderna haviam aberto caminho em muitas outras zonas do mundo. O modelo de desenvolvimento econômico do pós-guerra – que incluía uma rápida industrialização e a difusão de ideias progressistas ocidentais, fossem de origem capitalista ou socialista – desempenhava, sem dúvida um papel importante neste aspecto. E o mesmo ocorria com os meios reproduzíveis: as modas arquitetônicas se transmitiam a uma velocidade muito maior que antes”. Ver: CURTIS, Wilian J. R. La arquitectura moderna desde 1900. Nova York: Phaidon, 1986. p. 491-492. 57 Sobre a obra de García Pardo, ver: GAETA, Julio (Org.). Luis Garcia Pardo – monografias elarqa 6. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 2000. Sergio MMarques 37 56 56 Sobre o urbanismo moderno, o plano de Le Corbusier e a cidade de Bogotá, vale a pena ler o conciso e preciso texto de ARÍS, Carlos Martí. La Ciudad de La Arquitectura Moderna. El caso de Bogotá. Apud PEREZ, Fabián Gabriel. In: FONTANA, Pia Maria, MAYORGA, Miguel Y., ARIS, Carlos Martí, PIÑON, Hélio. [Re]visión Colombia arquitectura moderna. 2. ed. Barcelona: Edicións ETSAB, 2006. p. 22-27. Também os dois tomos, nos quais está publicado fac-símile do plano para Bogotá. Ver: O’BYRNE, Maria Cecília. LC BOG. Le Corbusier en Bogotá – 1947-1951. Bogotá: Fundation Le Corbusier / Universidad de Los Andes / Universidad Javeriana, 2010. 50 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 51 Idem. 52 Idem. 53 Idem. 54 Idem. 55 Idem. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fig. 6 – Da esquerda para a direita – Edificio Ovalle, Walter Pintos Risso, 1954. Edificio Positano, Luis Garcia Pardo, Adolfo Sommer Smith, 1959-1962. Montevidéu. Edificio Puerto, Guillermo Gómez Platero, 1959, Punta del Este. 58 59 Sánchez Gómez, Santos, Solsona, Sallaberry e Vinson Arquitectos – MSGSSS 67 68 (1966) , Sánchez Elía, Peralta Ramos e Agostini – SEPRA (1936) , Débora di 69 70 Veroli (1926) , Eduardo Larrán (1927) , na Argentina; Fábio Penteado (193071 2011) , Pedro Paulo de Mello Saraiva (1933), Acácio Gil Borsói (1924-2009), Joaquim Guedes (1932-2008), Carlos Millan (1927-1964), Jorge Wilheim (1928) Severiano Porto (1928) e Luiz Paulo Conde (1934), no Brasil; e mais uma legião de arquitetos do ofício, muitos pouco estudados, em todas as regiões, são ponto de partida para um olhar menos condicionado pelas tradicionais representações da Arquitetura Moderna Brasileira e latino-americana. As diversas apropriações, as diferentes contextualizações, os diferentes caminhos trilhados pelo Movimento Moderno nas inúmeras regiões por onde se disseminou e pelas diferentes gerações que o praticaram constituem o variado manto sob o qual se abrigam diversas interpretações culturais, técnicas e artísticas mais ou menos próximas da raiz universal. É nesse segmento, na propagação, na disseminação, na regionalização, que talvez se encontrem elementos para a explicação de seus valores revalidados e perpetuados e para suas fragilidades em renovação e/ou desaparição em âmbito global. A Crítica e a Contracrítica dos Anos 1980 A História de trás para diante Fonte: Fotos Sérgio Marques 2003) (Fig.6), Guillermo Gómez Platero (1922) (Fig.6), Eládio Dieste (191760 61 2000) e Mario Paisée Reyes (1913-1998) no Uruguai; Jorge Aguirre Silva 62 63 (1929) , Sergio Larrain García Moreno (1905-1999) , Mario Pérez de Arce Lavín 64 65 (1917-2010) , Juan Parrochia Beguin (1930) e, em especial, o escritório 66 Bresciani Valdés Castillo Huidobro (1954) , no Chile; o Estúdio Manteola, Sobre a obra de Pintos Rissos, ver: GAETA, Julio (Org.). Walter Pintos Risso – monografias Pintos elarqa 7. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 2001. 59 Sobre a obra de Gomez Platero, ver: GAETA, Julio (Org.). Guillermo Gómez Platero – monografias elarqa 8. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 2001. 60 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 61 Sobre a obra de Paysée Reyes, ver: GAETA, Julio (Org.). Mario Paysée Reyes – monografias elarqa 3. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 1997. 62 Sobre a vida e a obra de Aguirre, ver: GAZMURI, Alferdo Jünemann. Jorge Aguirre Silva: un arquitecto del movimiento moderno en Chile. Santiago: Ediciones ARQ, 1996. 63 Sobre a vida e a obra de Larrain, ver: DÍAZ, Cristián Boza. Sérgio Larrain GM: La vanguardia como proposito. Colômbia: Escala, 1990. 64 Sobre a vida e a obra de Arce Lavín, ver: VALDÉS, León Rodríguez. Mario Pérez de Arce Lavín: la permanencia de arquitectura moderna en Chile. Santiago: Ediciones ARQ, 1996. 65 Sobre a vida e a obra, principalmente trabalhos de urbanismo, ver: REYES, Maria Isabel Pavez. En la ruta de Juan Parrochia Beguin. Santiago: Univesidad de Chile, 2003. Beguin 66 Sociedade constituída de Carlos Bresciani (1911), Fernando Castillo (1918), Carlos G. Huidobro (1918) e Héctor Valdés Phillips (1918). Sobre esse escritório, Oyarzun afirma: "pertenciam a uma geração notável de arquitetos: aqueles que finalizaram seus estudos a começo dos anos 1940 [...] com uma forte convicção sobre a validade dos princípios da arquitetura moderna [...]. Eles manifestam também uma sólida convicção – quase de caráter ético – de colocá-la em prática". Ver: OYARZUN, Rodrigo Pérez. Bresciani Valdés Castillo Huidobro. Santiago: Ediciones ARQ, 2006. 58 Os anos 1970 trouxeram ao Brasil o impacto da crise econômica 72 mundial, bem como o agravamento da crise no cenário político do país . No panorama cultural, em especial a revisão do Movimento Moderno no cenário Escritório iniciado em 1966, com Flora Alícia Manteola (1936), Javier Sánchez Gómez (1936), Josefa Santos (1931), Justo Solsona (1931). Contou com a participação de Rafael Vignoly em alguns projetos. Atualmente é integrado por Manteola, Sánchez Gómez, Santos, Solsona Carlos Sallaberry e Damián Vinson. Há projetos publicados nos E.U.A, França, Japão, Itália e diversas publicações latino-americanas. Ver também: CRISPIANI, Alejandro. Solsona – Justo Solsona: entrevistas: apuntes para una autobiografia. Buenos Aires: Ediciones Infinito, 1997. 68 Sociedade de Santiago Sánchez Elía (1911), Frederico Peralta Ramos (1914) e Alfredo Agostini (1908). Ver: GROSSMAN, Luis J. Peralta Ramos en la arquitectura . Buenos Aires: Ediciones Infinito, 2006. 69 Imigrante judia da Romênia, uma das poucas mulheres que se destacou na arquitetura na Argentina. Ver: DI VÉROLI, Débora; OBETKO, Daniel. Arquitecta Débora Di Véroli: vida, obra y reflexiones. Buenos Aires: B&R Ediciones, 2006. 70 Arquiteto de Santa Fé, atuante no norte Argentino. Ver: GUTIERREZ, Ramón. Eduardo Larrán: arquitectura moderna en el noroeste Argentino. Buenos Aires: Cedodal, [s. d.]. 71 Penteado: Ver: PENTEADO, Fabio. Fábio Penteado: ensaios de arquitetura. São Paulo: Empresa das Artes, 1998. 72 Crise internacional de energia e do petróleo, advinda da crise no Oriente Médio, o insucesso, ao longo da década, da política do “Milagre Brasileiro”, e gradativo esgotamento dos governos militares na América do Sul, combalidos por inflações monetárias exorbitantes, corrupção e sectarismo. 67 38 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 75 Introdução internacional, desde os anos 1950, colocou em crise diversos valores que formavam a base da Arquitetura Moderna Brasileira, ocasionando, principalmente no meio acadêmico, debates sobre valores e rumos da arquitetura nacional no ambiente eclético do Pós-modernismo. Mesmo com uma baixa prodigiosa da produção arquitetônica, face à crise econômica, a desaparição de encargos públicos, a transformação cultural da sociedade sob ditadura militar e a crescente influência consumista norte-americana, a partir dos anos 1970 e ao longo dos 1980, proliferaram arquiteturas e pluralidade de valores, ou ausência deles, que demarcaram explicitamente a condição de crise. A transição entre o período de apogeu da arquitetura brasileira, dos anos 1930-1960, a massificação e esvaziamento de conteúdos dos 1970 e a revisão dos 1980 delinearam o processo de transformações interpretado por parte da crítica recente como perda da “tradição” moderna da arquitetura brasileira; desvalorização de seus princípios e paradigmas; deterioração conceitual e estética. Fenômeno acusado principalmente à década de 1980, chamada de “década perdida”, e parte dos 1990, marcadas, segundo seus detratores, pelo ecletismo arquitetônico, com distinções regionais ou por diferentes grupos que se aglutinaram em tendências muitas vezes volúveis, engajadas superficialmente no formalismo de correntes estéticas e muitos “ísmos”, com pontuais episódios de investigação consistente. Considerando que esse panorama geral se repetiu no Rio Grande do Sul, com esparsas manifestações arquitetônicas de qualidade, em segmentos bastante específicos de uma produção arquitetônica escassa dentre um ambiente de arquitetura imobiliária, destituída de qualquer erudição, que cresceu vertiginosamente, é voz corrente a superficialidade formal da arquitetura dominante nessas décadas de revisão, em particular das 73 manifestações classificadas como pós-modernistas . Esta tese, no entanto, dentro de certo olhar, busca descortinar relações não lineares da manifestação e cultura arquitetônica, em descompasso com o entendimento de descontinuidade direta entre tradição e modernidade, Pósmodernismo e Movimento Moderno, nas quais, de certa forma, a experiência 74 difusa dos anos 1980 e 1990 teve consequências importantes . A reação ao intuísmo, empirismo e a baixa fundamentação teórica que acompanhou a evolução da Arquitetura Moderna Brasileira, principalmente nos Fayet, em depoimento, denominou o movimento de “Pré-Obsoletismo”. MARQUES, Sérgio Moacir. FAYET ENTREVISTA_OBRA. Entrevista, DVD, Cópia Digitada, Porto Alegre, 2005. 74 Tratei igualmente do tema da crise da arquitetura moderna e da simplificação de análise atribuída à crítica pós-moderna detratora das vicissitudes do Movimento Moderno e da recíproca classificação igualmente simplificada desta, em fantasia superficial e irresponsável, em dissertação de mestrado realizada no PROPAR-RS. Ver: MARQUES, Sérgio Moacir. A Revisão do Movimento Moderno? Arquitetura no Rio Grande do Sul dos Anos 1980. Porto Alegre: UniRitter, 1999. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 73 anos 1970 , amparada em amplos movimentos internacionais de reavaliação da arquitetura moderna e revalidação da disciplina, motivaram o recrudescimento da análise e estudos acadêmicos sistemáticos sobre arquitetura moderna. Nos últimos trinta anos, o reconhecimento da arquitetura como corpo disciplinar próprio, em termos brasileiros, propiciou exame e depuração das diversas manifestações da arquitetura moderna em bases que recompõem o entendimento dos fundamentos e processos históricos que a motivaram. A partir do final da década de 1970, a consolidação da pósgraduação, o fortalecimento da pesquisa, o incremento de eventos, publicações e instituições dedicadas ao fomento intelectual do conhecimento em arquitetura no meio acadêmico do Rio Grande do Sul, em prol da geração de uma cultura acadêmica que a Arquitetura Moderna pressupostamente não valorizava, forjaram, paradoxalmente, o ambiente de revalidação de fundamentos da Arquitetura Moderna Brasileira em paradigmas contemporâneos. A revalorização da história, o esgotamento do pensamento unívoco e laudatório de uma única "idade de ouro", a queda e enfraquecimento crescente de modelos arquitetônicos simplificadores praticados ad referendum, principalmente os estereótipos mal interpretados e engendrados copiados do brutalismo paulista e da arquitetura pós-Brasília, contribuíram para a retomada de estudos que reconduziram ao pensamento de intelectuais modernos pioneiros, como Le Corbusier e Lúcio Costa. A análise da forma arquitetônica, o pensamento tipológico, a revalorização do patrimônio cultural e ambiental, do contexto e da paisagem, emergentes nos 1980, em termos brasileiros, revalorizaram o fazer arquitetônico consequente a um corpus conceitual e disciplinar, validando o projeto como ferramenta de investigação e ação de importante carga intelectual. É dentro dessa visão que uma nova fase da Arquitetura Moderna Brasileira consolida-se, centrada na produção recente, principalmente de arquitetos paulistas, cariocas, mineiros e gaúchos, acompanhados de estudos das diversas manifestações da Arquitetura Moderna Brasileira que ganham fôlego nos programas de pós-graduação e ambientes intelectuais privilegiados. Distinto, em parte conceitualmente, mas principalmente histórica e cronologicamente da crítica emergente ao Movimento Moderno, originada dentro dos próprios CIAMs a partir de grupos como o Team X e do Realismo dos anos 1950, a revisão do Movimento Moderno em solo brasileiro, se por um lado gerou uma arquitetura menos engajada e mais formalista, por outro pavimentou a revalorização da disciplina, do projeto, da Marcada pela contaminação ideológica provocada pela reação à ditadura militar advinda da revolução de 1964 e pela crescente presença da dominação cultural norte-americana, pela desaparição das publicações de arquitetura e da crítica, e a exclusão persecutória de intelectuais cassados, expurgos e exilamentos. Sergio MMarques 39 75 cidade, da história e consequentemente da própria Arquitetura Moderna como movimento cultural de excelência da arquitetura brasileira. Processo semelhante também pode-se apontar em relação ao Movimento Moderno em si. A ideia de descontinuidade histórica e ruptura, examinada com mais vagar e rigor analítico, demonstra que a propugnada inflexão histórica do Movimento Moderno em relação à tradição acadêmica, afirmada pelo próprio – que, em determinado sentido e em determinadas interpretações, existiu – oferece, na verdade, incontáveis interpretações. Determinados autores apontam a frequente relação de fundamentos estéticos e históricos da vanguarda moderna, em especial Le Corbusier, com o passado, contexto histórico e o pensamento acadêmico beaux-arts, como nas análises 76 de Cohen sobre a obra de Le Corbusier . Da mesma maneira, Rowe, em dois textos referenciais, já sinalizava pontos concorrentes e resistentes à visão generalista da crítica simplificadora. Em “Depois de qual Arquitetura 77 Moderna?” alertava para a necessidade de caracterizar, com precisão, à qual arquitetura moderna se dirigiam determinadas críticas, afirmando, em 78 pressuposto, a variedade e a heterogeneidade desta. Em Collage City , Rowe desenvolve, contrariamente à ideia de estruturação hegemônica da cidade a partir de pensamento urbanístico uníssono, implícito nas teses renovadoras da cidade moderna da década de 1920, a defesa da pluralidade cultural e histórica, defendendo ou constatando a configuração urbana, cuja matriz sobrepõe diversas lógicas através de processo adjetivado de colagem. Tal visão, ora, ao contrário de expurgar a cidade moderna unificadora, como manifestação ahistórica, pelo contrário admite, implicitamente, a inserção desta, dentro do tecido, como uma – talvez a mais importante – lógica de estruturação urbana, antecipando a acepção de espaço moderno como uma manifestação de natureza arquitetônica cujo sistema espacial também é história. O meio acadêmico gaúcho e a evolução de uma crítica de arquitetura amparada nele, emergente, não por mera coincidência, a partir do final da década de 1970, ocupando posição expressiva no panorama brasileiro, e por vezes internacional, advêm substancialmente da efervescência do período, motivada pelos antagonismos arquitetônicos, sem deixar de ressentir-se, em determinados momentos, dos mesmos reducionismos críticos e conceituais, frutos da generalização. Em especial a FAUFRGS, incorporando certa liderança na crítica questionadora aos postulados do Movimento Moderno, acabou por também fomentar condições para que exames aprofundados recolocassem valores da Arquitetura Moderna Brasileira em outro patamar, o que era Ver: COHEN, Jean Louis. Le Corbusier. Colônia: Taschen, 2007. Bis, Ver: ROWE, Collin. Después de qué arquitectura moderna? Arquitecturas Bis mar. 1987. p. 7. 78 Ver: ROWE, Collin; KOETTER, Fred. Ciudad Collage . Barcelona: Gustavo Gili,1981. . 77 76 inevitável. Mahfuz em seu emblemático texto “Quem tem medo do pós79 modernismo” , de certa maneira insinuava relações de continuidade teóricas que colocavam o chamado Pós-modernismo em condição distinta da oposição sistemática ao Movimento Moderno, como o debate dava a entender. Mais que isso, colocava-o como um movimento que, ao debruçar-se criticamente, partia deste – e não de sua negação – para o desenvolvimento de determinadas análises e pensamentos. Críticas e episódios deveras sectários em relação à Arquitetura Moderna existiram de fato, com frequência e intensidade significativas, mas também o reexame da Arquitetura Moderna Brasileira ofereceu, em níveis mais profundos, a compreensão de conceitos, particularmente no pensamento e obra de Lúcio Costa, que não significaram 80 antagonismo, mas continuidade histórica . As preocupações de Lúcio Costa em estabelecer nexo entre o progresso tecnológico, os valores universais da Arquitetura Moderna e da arquitetura brasileira, em responder aos anseios de identidade nacional e imagem de nação emergente, bem como atender a demandas mesológicas efetivas, como clima, geografia, hábitos culturais e características urbanas, em escritos e obras representativas, pronunciaram-se com espessura em meio à crítica. A obra e o pensamento de Lúcio, desde o neocolonial, passando por sua inflexão a uma modernidade apropriada, balizada pelo episódio do MESP, e sua afinidade de formação com uma modernidade de raiz classicizante – formulada por pensadores modernos iniciais como Aguste Perret e Tony Garnier, acentuada através da influência de Le Corbusier – contribuíram em disseminações regionais, como o realismo socialista, na obra e pensamento de Demétrio 81 Ribeiro, Edgar Graeff e Roberto Félix Veroneze . Comas, em sua tese 82 “Precisões sobre um estado passado da arquitetura moderna [...]” aponta 79 “Quem tem medo do Pós Modernismo? Nota sobre a base teórica da arquitetura dos anos Quem 1980”, de Mahfuz, texto referencial da década de 1980, publicado pela revista Projeto e republicado nos anos 2000. Ver: MAHFUZ, Edson. O clássico, o poético e o erótico e outros ensaios Porto erótico ensaios. Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2002. p.77-89. 80 Como sistematicamente Carlos E. D. Comas tem demonstrado em seus ensaios sobre Lúcio Costa e a formação de uma arquitetura brasileira, repleta de conexões com o contexto e com a tradição, assim como de uma cultura de sólida base intelectual, contraditória à frequente interpretação das motivações intuitivas do universo formal da arquitetura brasileira. Ver: COMAS, Carlos Eduardo Dias. Precisões brasileiras: Sobre um passado da Arquitetura e Urbanismos Modernos a partir dos projetos e obras de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, MMM Roberto, Affonso Reidy, Jorge Moreira & Cia., 1936-1945. Universidade de Paris VIII: Vincennes: Saint Denis, 2002. 81 Moojen, em depoimento, apelida o realismo socialista de “Proto-Pós-Modernismo”. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista, jun. 2008. Gravação digital. 82 Ver: COMAS, Carlos Eduardo Dias. Precisões brasileiras: sobre um passado da arquitetura e urbanismos modernos a partir dos projetos e obras de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, MMM 40 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Introdução diversas matizes, nem sempre evidentes, de conexão entre o pensamento beaux-arts, principalmente dos conceitos de caráter e composição de Quatremére de Quincy e as teorias estéticas de Gaudet, com a obra de Le Corbusier e a estruturação de seu corolário. Tal conexão ocorreria, da mesma forma, com o caráter relativo e a licenciosidade estilística do ecletismo, desprezado pelos modernos em território brasileiro, e particularmente importante no Sul, em detrimento do colonial e do neoclássico de ascendência francesa, que deitou relações de natureza conceitual com a gênese do Movimento Moderno em solo nacional. Mas, fundamentalmente, as investigações sobre o gênio nacional de Lúcio Costa alimentam uma visão de continuidade histórica que não responde nem ao atual desprezo pelas fantasias formalistas atribuídas ao Pós-modernismo, nem ao gosto de “bolacha velha” 83 sentido em relação à Arquitetura Moderna naqueles tempos . Contrária, portanto, à visão de descontinuidade entre movimentos culturais ou ao truncamento de relações por obstruções circunstanciais e adepta à valorização da compreensão dos caminhos trilhados pela cultura através das particularidades e processos históricos regionais, a investigação conduzida por esta tese sugere que parte da crítica emergente desde o final dos anos 1970, alimentada pela reação ao Movimento Moderno, no Brasil, a partir do meio acadêmico, acabou por oportunizar o resgate de princípios da Arquitetura Moderna para o debate da arquitetura contemporânea. O debate, desde então, transcendeu a questão do internacionalismo cultural ou do regionalismo crítico, da profusão de ícones da sociedade de consumo ou a volta da essencialidade, de uma possível identidade latinoamericana, da revisão crítica da Arquitetura Moderna sob uma ótica histórica. Atualmente, vem focando os rumos da Arquitetura em um mundo de novas tecnologias e mudanças importantes no panorama político, globalizado, mas repleto de fronteiras. A retomada de fôlego do Movimento Moderno e o redobrado interesse pelas suas manifestações particulares, na última década do século XX e princípios deste, deve-se, desde o ponto de vista da investigação aqui desenvolvida, aos seguintes aspectos: 1. conforme explicitado anteriormente, mais ao sentido culturalista e evocativo da história, na análise pós-moderna dos anos 1950-1980, do que ao rápido esvaziamento de certa arquitetura de natureza coloquial, produzida por esse movimento. Ao se opor aos intuísmos e empirismos Roberto, Affonso Reidy, Jorge Moreira & Cia., 1936-1945. Universidade de Paris VIII. Vincennes: Saint Denis, 2002. 83 Expressão utilizada por Comas em texto crítica às propostas de Niemeyer para o Rio Tietê, em São Paulo. Ver: COMAS, Carlos Eduardo Dias. Nemours-sur-Tietê, ou a modernidade de ontem. Projeto, Projeto São Paulo, n. 89, jul. 1986. p. 90-93. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 2. 3. 4. 5. 6. artísticos e defender uma apropriação erudita do conhecimento, o estudo historiográfico da arquitetura reencontrou a arquitetura moderna, justamente a que aparentemente se desviava da história; a globalização de valores e economias, no panorama contemporâneo, recolocou os temas de escala internacional, de índole moderna, mais abstratos em relação a particularidades, como valores transregionais disseminados em uma cultura de rápida circulação de informações. A nova revolução tecnológica, a era digital, a rápida industrialização e 84 urbanização de países emergentes, como os do BRIC , revalida determinados pressupostos de contemporaneidade e universalidade do Movimento Moderno, metabolizados em bases regionais; dentro de um panorama que busca o equilíbrio entre o processo avassalador da globalização (unificação de mercados de consumo, blocos econômicos, unificação de moedas, emergência de novas culturas no contexto internacional, troca de informações instantâneas) e a necessidade de afirmação de identidades regionais, como moeda cultural a ser oferecida, a arquitetura brasileira, como apropriação singular do Movimento Moderno, re-emerge no cenário internacional; aumento de consciência de que a arquitetura moderna realizada no Brasil, principalmente dos anos 1930-1960, além das obras referenciais produzidas, disseminou-se de maneira regionalizada, em especial na parte meridional latino-americana, através de uma arquitetura média e urbanismo consequente, de certa qualidade em seu conjunto, expressivos, principalmente nos anos 1950-1960, até pouco tempo desprezados como patrimônio urbano apreciável; reconhecimento crescente do valor substantivo da produção arquitetônica realizada por arquitetos adeptos, porém idiossincráticos, da Arquitetura Moderna Brasileira, a partir dos anos 1950, cujo patrimônio edificado é expressivo mas consideravelmente anônimo em termos nacionais e internacionais; o reconhecimento do valor de certa arquitetura moderna recorrente na região meridional sul-americana, entre os paralelos 30 e 35, onde estão localizadas as cidades de Santiago do Chile; Buenos Aires, Córdoba, Rosário, Mendoza e Santa Fé, na Argentina; Montevidéu e Punta del Este, no Uruguai e Porto Alegre, no Brasil, que gozam, além de afinidade climática, geográfica e cultural, de certa unidade arquitetônica, fruto de suas características de discrição, abstração e universalismo. Trata-se de 84 Brasil, Rússia, Índia e China. 41 Sergio MMarques arquiteturas até recentemente pouco frequentes no quadro de obras representativas da arquitetura moderna. O fenômeno que faz jus ao recobrado interesse pela prolífera arquitetura moderna produzida no continente sul-americano, por atuais críticos de arquitetura europeus e norte-americanos, como Josep Maria Montaner, Hélio Piñon e David Underwood reside, em parte, na intrigante e inédita experiência de construção de uma identidade e cultura nacional fundamentada na Arquitetura Moderna, particularizada e metabolizada pelas vanguardas brasileiras, que se disseminou por todo o território, em manifestações generalizadas nas cidades brasileiras, com grande qualidade média, principalmente nos anos 1950. Essa arquitetura representativa dos ideais do Movimento Moderno, praticada consensualmente, particularizada pelas idiossincrasias locais, oferece vasto espectro cultural da Arquitetura Moderna Brasileira, que ainda está por se desnudar e valorar devidamente. Fonte: Acervo FAM Fayet, Araújo & Moojen Os três arquitetos cuja produção fundamenta e substancia o foco desta tese, se, por um lado, justificam-se por si mesmos, como representantes de determinada produção e determinado modo de produzir arquitetura, que a investigação pretende demonstrar, dada a dimensão e densidades de seus projetos, assim como prolíferas carreiras profissionais, por outro têm sua eleição 85 sugerida por certa afinidade, dadas as questões pessoais . Assim, o esforço, que envolve tanto a superação pessoal no sentido exposto, quanto a perspectiva acadêmica, objetiva extrair das relações descritas material de projeto que possa ser compartilhado com a geração atual e, subsequentemente, entre herdeiros da Arquitetura Moderna Brasileira no Sul. De plano, os currículos de Fayet, Araújo e Moojen desmentem qualquer caracterização de produção inexpressiva ou inconsequente. Sendo filho de Moacyr Moojen Marques, e trabalhado conjuntamente, há mais de vinte anos, detenho relações pessoais e profissionais com Fayet e Araújo, assim como com seus familiares e, evidentemente, vivências conjuntas em diversos episódios e projetos abordados na tese, em particular o edifício FAM, a REFAP e o bairro Praia de Belas. Certa dúvida inicial, no recorte proposto, advindo de excessiva proximidade pessoal com os sujeitos investigados, neutralizou-se mediante a contribuição de respeitados conselheiros, para os quais o entendimento de que a proximidade pessoal, posta sob controle, à luz da isenção necessária à elaboração de análise investigativa consequente e motivação indispensável para o trabalho, pôde redundar em vantagem, dada a familiaridade e experimentação pessoal com o universo abordado, além de evidente facilidade de acesso a material e fontes primárias. Dentre as consultas iniciais, da viabilidade e pertinência de realização deste trabalho, nestas condições, além dos próprios arquitetos estudados, Fayet, Araújo e Moojen, é importante citar Carlos E. Dias Comas, Edson da Cunha Mahfuz, Cláudio Calovi Pereira e, posteriormente, Hélio Piñon. 85 Fig. 7 – Palácio da Justiça, Luis Fernando Corona, Carlos Maximiliano Fayet, 1953-67, Porto Alegre-RS. Carlos Maximiliano F ayet nasceu em 6 de junho de 1930, em Paraju, distrito de Domingos Martins, Espírito Santo. Cursou Belas Artes no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul e formou-se em Arquitetura na Faculdade de Arquitetura da UFRGS, em 1953. Foi arquiteto e urbanista da Divisão de Urbanismo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre entre 1955 e1963, ocupando a chefia da seção de Planejamento Urbano, de 1956 a 1963 e integrando a equipe para os projetos de urbanização da Praia de Belas (1956) e da Avenida Primeira Perimetral (1958), entre outros, e para o Plano Diretor de Porto Alegre, entre 1955 e 1961. No meio acadêmico, foi professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRGS, de 1958 a 1964, exercendo a docência nas cadeiras de Urbanismo, Arquitetura Paisagística, Grandes Composições de Arquitetura, Arquitetura Analítica, e da Escola de Artes da UFRGS, de 1965 a 1969, nas cadeiras de Perspectiva e Sombras e Geometria Descritiva. Nas atividades de classe, destacam-se a presidência da ABEA/DN, de 1984 a 1989, do IAB/RS, de 1984 a 1987, e do IAB/DN, de 1998 a 2000. Participou como concorrente, organizador ou jurado de diversos concursos profissionais e acadêmicos, nacionais e internacionais e integrou comissões de caráter público e institucional representativas. Possui um vasto currículo de atividades voltadas ao ensino, desenvolvimento e regulamentação da profissão, 42 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Introdução do contexto cultural da arquitetura e é autor de uma produção arquitetônica representativa da Arquitetura Moderna no Rio Grande do Sul e significativa no panorama da Arquitetura Moderna Brasileira. Dentro do período proposto para investigação neste trabalho, destacam-se o Palácio da Justiça de Porto Alegre – Sede do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1953-1967 (em equipe: arquiteto Luis Fernando Corona) (Fig.7); o Centro Evangélico de Porto Alegre, Porto Alegre, 1959 (em equipe: arquiteta Suzy Therezinha Brücker Fayet); o Edifício Sede do Instituto de Arquitetos do Brasil, Porto Alegre, 19601963; o Auditório Araújo Vianna, Porto Alegre, 1961 (em equipe: arquiteto Moacyr M oojen Marques); a Refinaria Alberto Pasqualini – REFAP/SUPRO, Canoas – RS, 1962-1968 (em equipe: arquitetos Cláudio L. G. A raújo, Moacyr Moojen Marques e Miguel Alves Pereira,); o Terminal Almirante Soares Dutra – TEDUT, Osório – RS, 1962-1968 (em equipe: arquitetos Cláudio L. G. A raújo, Moacyr Moojen Marques); o Edifício FAM Porto Alegre, 1967 (em equipe: FAM, arquitetos Cláudio L. G. A raújo, Moacyr Moojen Marques). Cláudio Luiz Gomes A raújo nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 1931. Formou-se em Arquitetura na Faculdade de Arquitetura da UFRGS, em 1955. No meio acadêmico, foi professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRGS, de 1959 a 1968, exercendo a docência na cadeira de Composição Decorativa. Foi professor titular do Trabalho Final de Graduação da Faculdade de Arquitetura do Centro Universitário UniRitter, de 1990 a 2009 e coordenador do Núcleo de Projetos (em equipe com Sérgio Marques). Nas atividades de classe, destaca-se a presidência do IAB/RS, de 1966 a 1967. Participou como concorrente ou jurado de diversos concursos profissionais e acadêmicos nacionais e integrou comissões de caráter público e institucional representativas. Igualmente possui um vasto currículo de atividades voltadas ao ensino e ao contexto cultural da arquitetura e também é autor de uma produção arquitetônica representativa da Arquitetura Moderna no Rio Grande do Sul, significativa no panorama da Arquitetura Moderna Brasileira. Dentro do período proposto para investigação neste trabalho, destacam-se diversas arquiteturas de interiores entre os anos 1950 e 1960 (Fig.8), a Refinaria Alberto Pasqualini – REFAP/SUPRO, Canoas – RS, 1962-1968 (em equipe: arquitetos Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e Miguel Alves Pereira,); o Terminal Almirante Soares Dutra –TEDUT, Osório – RS, 1962-1968 (em equipe: arquiteto Carlos M. Fayet, Moacyr M oojen Marques); a Casa Kopstein, Porto Alegre, 1965 (em equipe com Arquiteto Carlos E. D. Comas); o Ed. FAM, Porto Alegre, 1967 (em FAM equipe: arquitetos Carlos M. Fayet, Moacyr M oojen Marques). Moacyr Moojen Marques nasceu em 1930, em Lagoa Vermelha, no Rio Grande dos Sul. Formou-se em Arquitetura na Faculdade de Arquitetura da UFRGS, em 1954. Concluiu o Curso de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura Fonte: Foto João Alberto da Fonseca - Acervo Cláudio Araújo Fig. 8 - Loja Senador, Cláudio Luiz Gomes Araújo, Carlos Antonio Mancuso, 60, Porto Alegre-RS. da UFRGS, em 1960. Foi arquiteto e urbanista da Divisão de Urbanismo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre entre 1958 e 1987, ocupando os cargos de Chefe do Setor de Planejamento Urbano – SMOV, Chefe da Seção de Planejamento Urbano – SMOV, Gerente de Projetos Urbanos – SPM, Supervisor de Planejamento Urbano – SPM, Secretário Substituto – SPM e integrou a equipe para os projetos de urbanização da Praia de Belas (1956), da Avenida Primeira Perimetral (1958), Plano para Área Central de Porto Alegre, Plano Piloto para o Parque Saint'Hilaire, Plano de Reurbanização da Ilhota, entre outros do Plano Diretor de Porto Alegre, de 1959. Coordenou os trabalhos em equipe das 86 extensões A, B, C e D do Plano Diretor , em 1964, 1967, 1972 e 1975. Foi gerente do "PROPLAN", Programa de Reavaliação do Plano Diretor, do qual o o 87 resultou o 1 Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (1 PDDU), em 1979 . No meio acadêmico, foi professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRGS, de 1958 a 1968, exercendo a docência nas cadeiras de Urbanismo e Arquitetura Paisagística. Além da carreira pública no urbanismo, manteve ativa a produção de projetos de arquitetura, igualmente representativos. Dentro do período proposto para investigação neste trabalho, destacam-se a Sede 86 87 Instituído pelos Decretos nos 2.872/64, 3.481/72 e 4.552/72 e 5.162/75. Lei Complementar no 43/1979. 43 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques O Sul na Arquitetura Moderna Brasileira Como citado anteriormente, a historiografia da Arquitetura Moderna Brasileira tradicionalmente apresenta o contexto da arquitetura produzida no Rio de Janeiro de 1930 a 1960 e, a seguir, em São Paulo, nos anos 1950 e 1960 como o principal eixo de propagação do Movimento Moderno europeu e matriz da arquitetura nacional. Os avanços propiciados pela liderança cultural do Rio de Janeiro, então capital brasileira, e a centralização econômica em São Paulo, o surgimento e evolução do ensino da arquitetura e a produção dos arquitetos estrangeiros migrantes são razões apontadas como estruturadoras do cenário no qual se constituiu a Arquitetura Moderna Brasileira, que, como igualmente se diz, com seu vanguardismo idiossincrático, confunde-se com o pioneirismo do próprio Movimento Moderno. A devida importância desses acontecimentos e seus personagens tem sido em parte reconhecida pela crítica nacional ou internacional, através das já 88 clássicas publicações, como “Brazil Builds”, de Philip Goodwin ; “Modern 89 Achitecture in Brazil”, de Henrique Mindlin ; “Arquitetura Brasileira”, de Carlos 90 91 Lemos e “Arquitetura Contemporânea no Brasil”, de Yves Bruand , também por publicações mais recentes, como “Quando o Brasil era Moderno”, de Lauro 92 Calvalcanti ; “Arquitetura Brasil 500 anos”, organizado por Roberto 93 Montezuma (Fig.10); Arquiteturas no Brasil 1900-1990 (Fig.10), de Hugo 94 Segawa ; Architettura Contemporanea – Brasile (Fig.10), organizado por Renato 95 Anelli e, recentemente, por "Brasil: Arquiteturas após 1950", de Maria Alice 96 Junqueira Bastos e Ruth Verde Zein , bem como por significativo e necessário número de dissertações e teses realizadas e trabalhos apresentados em eventos. Porém, com exceção do publicado esparsamente em alguns Fonte: Fotos Sérgio Marques. Acervo FAM Fig. 9 – Sede da Cia. Carris Porto-alegrense, Moacyr Moojen Marques, Rodolfo Sigfried Matte, 1957, Porto Alegre-RS. Campestre e Centro Esportivo do Serviço Social do Comércio (SESC) – Vila Jardim, Porto Alegre, 1956 (em equipe: arquitetos João José Vallandro e Leo Ferreira da Silva); o Edifício Sede da Cia. Carris Porto-alegrense, Porto Alegre, 1957 (em equipe: arquiteto Rodolfo Sigfried Matte) (Fig.9); a Refinaria Alberto Pasqualini – REFAP/SUPRO (em equipe: arquitetos Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. A raújo, Miguel Alves Pereira), Canoas – RS, 1962-1968; o Terminal Almirante Soares Dutra – TEDUT (em equipe: arquitetos Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. A raújo), Osório – RS, 1962-1968; o Auditório Araújo Vianna (em equipe: arquiteto Carlos M. Fayet), Porto Alegre, 1961; Residência Maurício Sirotsky Sobrinho, na Rua Gal Ildefonso Simões Lopes, Três Figueiras, em Porto Alegre (posteriormente reformada), 1963; o Clube do Professor Gaúcho, Porto Alegre, 1966 (em equipe: arquitetos João José Valandro e Leo Ferreira da Silva); o Plano Piloto para o Parque Estadual de Itapuã, 1966; projeto do Prédio Sede da SMOV, Secretaria Municipal de Obras e Viação, Porto Alegre, 1966 (em equipe: Arquitetos João José Valandro e Leo Ferreira da Silva) e o Edifício FAM FAM, Porto Alegre, 1967 (em equipe: arquitetos Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. A raújo). A vida pessoal, formação e atuação profissional dos três arquitetos, época em que atuaram, filiações e conexões, examinadas através fundamentalmente de seus projetos e obras, material substancial do corpo deste trabalho, é que traz, de alguma maneira, aporte ao sentido da Arquitetura Moderna Brasileira no Sul. GOODWIN, Philip. Brazil builds: architecture new and old 1652-1942. New York: Modern Art Museum, 1943. 89 MINDLIN, Henrique. Brasilian architecture London: Royal College of Art, 1961. architecture. 90 LEMOS, Carlos. Arquitetura brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1979. brasileira 91 BRUAND, Yves. L'architecture contemporaine au Brésil. [Tese de doutorado]. Paris: Université Paris IV, 1971. 92 CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era moderno: guia de arquitetura – 1928-1960. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001. 93 MONTEZUMA, Roberto (Org.). Arquitetura Brasil 500 anos: uma invenção recíproca. Recife: UFPE, 2002. 94 SEGAWA, Hugo, Arquiteturas no Brasil 1900 – 1990 São Paulo: Edusp, 1998. 1990. 95 ANELLI, Renato. Architettura contemporanea: Brasille. Milão: Motta Architettura, 2008. 96 Ver: BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN; Ruth Verde. Brasil: arquiteturas após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010. 88 44 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 97 1950/1970 98 Introdução periódicos , em livros de caráter catalográfico, em publicações acadêmicas e pelo apresentado recentemente nos eventos, pouca expressão tem tido a arquitetura moderna no Rio Grande do Sul, na bibliografia representativa da arquitetura brasileira, em que pese a singularidade de obras como as Tribunas 99 do Jockey Club do Rio Grande do Sul , de Roman Fresnedo Siri; o Palácio da 100 Justiça , de Fernando Corona e Carlos Maximiliano Fayet; o Auditório Araújo 101 Vianna , de Carlos Maximiliano Fayet e Moacyr Moojen Marques; a inovação 102 tecnológica da Refinaria Alberto Pasqualini , de Cláudio L. G. A raújo, Carlos Maximiliano Fayet, Moacyr Moojen Marques, Miguel e Alves Pereira, e a CEASA, de Carlos Maximilano Fayet, Cláudio L. G. A raújo e Carlos E. D. Comas, com 103 Eládio Dieste . Destaca-se, nesse quadro de ausências, o Edifício FAM pela FAM, caracterização de sua arquitetura, pelo conceito de habitação, pelos princípios 104 modernos ali representados . De um modo geral, as referências à Arquitetura Moderna no Rio Grande do Sul, historicamente, são escassas e esparsas se comparadas com as do centro do país. Há alguma documentação de época, em revistas editadas contemporaneamente às primeiras turmas de arquitetos do Rio Grande do Sul, formados pelo Instituto de Belas Artes e pela Escola de Engenharia, ainda na A Revista Projeto, no final dos anos 1970 e, posteriormente, a Revista AU, a partir dos 1980, publicaram esparsamente retrospectivas e matérias panorâmicas sobre a Arquitetura Moderna no Rio Grande do Sul. Ver referências no final do trabalho. 98 Principalmente através dos esforços editoriais da Editora Ritter dos Reis e do PROPAR, a partir dos anos 1990. 99 Ver: COMAS, Carlos Eduardo; BOHRER, Glênio; CANEZ, Anna Paula. Arquiteturas cisplatinas: Roman Fresnedo Siri e Eladio Dieste em Porto Alegre. Porto Alegre: UniRitter, 2004. 100 Ver: ALVAREZ, Cícero. Palácio da Justiça de Porto Alegre construção e recuperação da Alegre: arquitetura moderna em Porto Alegre: 1952-2005. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: PROPAR, 2008. 101 Ver: MARQUES, Sérgio Moacir. O anfiteatro, a foice e o martelo, o O.V.N.I. e guarda-chuva: vida e sobrevida do Auditório Araújo Vianna em Porto Alegre. In: COMAS, Carlos Eduardo; PEIXOTO, Marta; MARQUES, Sérgio Moacir (Orgs.). O moderno já passado, o passado no moderno moderno: reciclagem, requalificação, rearquitetura. Porto Alegre: UniRitter, 2009. Ver também: MARQUES, Sérgio Moacir; CANEZ, Anna Paula Moura. O Mercado Público e o Auditório Araújo Vianna: o momento presente. Boletim do Instituto de Arquitetos do Brasil – RS n.17, set. 1996. p. 8-9. RS, 102 Obra estudada em dissertação no PROPAR: MAGLIA, Viviane Villas Boas. Refinaria Alberto Pasqualini: Pasqualini aplicações dos paradigmas modernistas à tipologia industrial no Rio Grande do Sul. [Dissertação de Mestrado – Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul]. Porto Alegre: PROPAR/UFRGS, 2003. 103 Obra estudada em dissertação no PROPAR: BOHRER, Glênio Vianna. CEASA – RS espaço e RS: lugar na arquitetura e urbanismo modernos. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul] Porto Alegre: FAUFRGS, 1997. 104 Em publicação recente, abordei o emblematismo do edifício FAM face à representatividade de +, seus conceitos. Ver: MARQUES, Sérgio Moacir. The fountainhead, el manantial. Revista Summa + Buenos Aires, n. 58, Editora Summa, 2003. p. 26-29. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 97 década de 1940, e a seguir com a fundação da Faculdade de Arquitetura, nos anos 1950. Em 1948, foi lançada, em Porto Alegre, sob o patrocínio da revista Ante-projeto, do Rio de Janeiro, a Revista Espaço – Arquitetura Urbanismo e Arte (Fig.15), sob a direção dos alunos do Instituto de Belas Artes, Carlos M. Fayet, Enilda Ribeiro, Jorge Sirito, Luis F. Corona, Nélson Souza e G. Bianchetti. A revista, aos moldes da Revista Ante-projeto que, “em 1945 surgia no Rio para 105 reavivar, entre nós, a luta por uma nova arquitetura” , como a Pilottis, em São Paulo, dedicava-se à afirmação do Movimento Moderno no contexto nacional e regional. O segundo número apresentava a Carta de Atenas na íntegra e trabalhos acadêmicos de urbanismo e arquitetura, realizados dentro desses princípios, além de um texto crítico de Edgar Graeff sobre a aula inaugural de Cristiano Stockler das Neves na Faculdade de Arquitetura Mackenzie em São Paulo. O quarto número abria com uma retrospectiva ilustrada sobre os então cinco anos de funcionamento do Curso de Arquitetura do Instituto Belas Artes e apresentava projetos acadêmicos de estudantes de diversos níveis, como Emil Bered, Jorge Sirito de Vives, Enilda Ribeiro, Vera Fabrício e Júlio N. B. de Curtis, além de um informe do IAB-RS, o quadro da primeira turma de arquitetos formados no Rio Grande do Sul, integrada por Emil Bered, Mauro Guedes de Oliveira, Roberto Félix Veronese, Salomão S. Kruchin, entre outros, e a tradução 106 da conferência realizada por Le Corbusier no CIAM de Atenas . No início dos anos 1950, foi lançada a Revista Módulo (Fig.15), fundada por Moacyr Zanin, editada pelos estudantes da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, sob a direção de Marcos D. Hekman, Luiz C. da Cunha e Moacyr Moojen Marques, com um Conselho de Redação renovado a cada número. O número três, de março e abril de 1953, foi dedicado, em boa parte, ao fundador da revista, com textos a seu respeito e a publicação de diversos projetos 107 acadêmicos . Outra parte da edição é dedicada ao ensino da arquitetura que se estruturava na Faculdade. Nos anos 1950, a Revista Espaço-Arquitetura, foi relançada, sob a direção de Nelson Souza e um Conselho de Redação presidido pelo Arquiteto Edgar A. Graeff e constituído por Castelar B. Peña, Carlos A. Mancuso, Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. A raújo, Demétrio Ribeiro, Edvaldo Paiva, Emil A. Bered, Enilda Ribeiro, Francisco R. Macedo, Irineu Breitman, Ivo Wolf, Luiz F. Corona, Paulo. F. Gastal, Pedro Gus e Vasco Prado, entre outros. A Revista foi criada como “decorrência necessária do desenvolvimento da Arquitetura, do Urbanismo e da Construção no Rio Grande ESPAÇO. Editorial, I.B.A, Porto Alegre, n. 2, nov. 1948. p.2. ESPAÇO. Editorial, I.B.A, Porto Alegre, n. 4, dez. 1949. 107 Publicação que antecedeu em três anos a revista homônima fundada por Oscar Niemeyer em 1955, no Rio de Janeiro. MÓDULO. Órgão Independente de Estudantes da Faculdade de Arquitetura do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, n.3, abr.-mar., 1953. 106 105 Sergio MMarques 45 Fig. 10 – Da esquerda para a direita, Arquiteturas no Brasil 1900 – 1990, Hugo Segawa, 1998, São Paulo. Arquitetura Brasil 500 anos: uma invenção recíproca. Roberto Montezuma (Org), 2002, Recife. Architettura Contemporanea: Brasille, Renato Anelli, 2008, Milão. do Sul” . O primeiro exemplar (Fig.11), muito representativo, abria com o projeto do Palácio da Justiça, de Luis F. Corona e Carlos M. Fayet; em seguida, o projeto do Restaurante do SESC, de Moacyr Moojen Marques e Max Warchawski; o Edifício Armênia, de Ari M. Canarin; os projetos classificados para o Concurso Público para o Plano Piloto do Delta do Jacuí, promovido pela Secretaria de Obras Públicas do Estado, nos anos 1950, vencido pela equipe constituída por Edvaldo P. Paiva, Carlos M. Fayet, Roberto F. Veronese e Moacyr Moojen Marques. Em segundo, por Demétrio Ribeiro e Enilda Ribeiro, em terceiro, por Danilo Landó, Castelar Peña e outros, em quarto, pelo Eng. Geraldo Coufal e, em quinto, por Lincon Ganzo de Castro e Flávio Soares. A publicação ainda contava com artigos de Edgar Graeff fazendo um balanço sobre os últimos dez anos da arquitetura gaúcha e outros sobre patrimônio, questões urbanas de Porto Alegre, arquitetura de interiores, legislação profissional, artes plásticas e questões técnicas das edificações. O segundo número abria com o concurso para o Palácio Legislativo e os projetos classificados, tendo em primeiro lugar o projeto de Gregório Zolko, de São Paulo e, entre os classificados, os projetos das equipes constituídas por Nelson Souza, Celso Carneiro e Ary Mazzini Canarin; por Marcos D. Hekman, Moacyr Moojen Marques e Luiz Carlos da Cunha; por Emil Bered, entre outras equipes 109 externas ao Rio Grande do Sul . No final dos anos 1950 e início dos 1960, o Centro dos Estudantes Universitários de Arquitetura – CEUA editava uma publicação denominada “Caderno de Estudos”, fundada por Jorge Neves, com a colaboração, em momentos diversos, de Alberto Xavier, Rogério Malinsky e Fernando Burmeister, entre outros (Fig.11). A publicação de edição modesta privilegiava textos 108 Fig. 11 – Da esquerda para a direita, Revista Espaço, n. 1, década de 1950. Caderno de Estudos, n. 1, década de 1950. Porto Alegre. Arquitetura Moderna em Porto Alegre, Alberto Xavier, Ivan Mizoguchi, 1987, São Paulo. Guia de Arquitetura Moderna em Porto Alegre, Guilherme Essvein de Almeida, João Gallo de Almeida, Marcos Bueno, 2010, Porto Alegre. teóricos de autores gaúchos e de outros estados sobre arquitetura e 110 urbanismo . Livros sobre a Arquitetura no Rio Grande do Sul foram editados com maior frequência a partir dos anos 1980, e alguns projetos e artigos publicados nos principais periódicos de arquitetura e urbanismo brasileiros, como a Revista Projeto e a AU, também a partir dos 1980. Provavelmente, o documento mais abrangente da arquitetura moderna gaúcha, em termos de documentação, é a 111 publicação Arquitetura Moderna em Porto Alegre , de Alberto Xavier e Ivan Mizoguchi, na qual estão registrados os exemplares mais representativos da produção edificada de Porto Alegre de 1935 a 1985 (Fig.11). É um catálogo da Arquitetura Moderna porto-alegrense, que cobre meio século, desde o Cassino da Exposição Farroupilha, de Cristiano de La Paix Gelbert (1935) até obras de revisão, na década de 1980. Boa parte das obras expressivas de Fayet, A raújo e Moojen, produzidas no período, encontram-se resumidamente nessa publicação. O livro tinha o importante objetivo de documentar e sistematizar as obras representativas da Arquitetura Moderna em Porto Alegre, como foi realizado pela mesma coleção da Editora Pini, em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Em nota preliminar, XAVIER aponta a importância da produção regional na Arquitetura Moderna Brasileira, em particular do Sul, a partir dos anos 1950, simultaneamente com a “rara presença da arquitetura gaúcha nas poucas 112 publicações de âmbito nacional ” ocasionada, segundo seu ponto de vista, pela interrupção da circulação de ideias nos anos 1960, a desaparição de revistas especializadas e a “ausência de trabalho documental sistematizado CADERNOS DE ESTUDOS. Centro dos Estudantes Universitários de Arquitetura, Porto Alegre, n. 1, 1958. 111 XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. Porto Alegre / São Alegre Paulo: FAU-UFRGS / Pini, 1987. 112 XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. Porto Alegre / São Alegre Paulo: FAU-UFRGS / Pini, 1987. Nota Preliminar. p. 10. . 110 108 109 ESPAÇO ARQUITETURA. Manifesto de Fundação, Porto Alegre, n. 1, nov.-dez., [s.d.] p.2. ESPAÇO ARQUITETURA. Porto Alegre, n. 2, [s.d.]. 46 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 113 Introdução sobre esse tema nas faculdades de arquitetura da capital” no período . A ampla introdução do livro descortina um panorama consistente das conformações históricas da Arquitetura Moderna Gaúcha, com textos sobre sua 114 evolução, autorias de Rio Pardense de Macedo , Júlio Nicolau Barros de 115 116 Curtis e Günter Weimer . A seguir, uma clara exposição das razões do surgimento e desenvolvimento da arquitetura moderna no Rio Grande do Sul, no período de 1945 a 1950, por Demétrio Ribeiro, formula um roteiro de análise e relação de fatos, no qual uma parte da análise histórica do contexto deste 117 trabalho se baseia . A introdução ainda apresenta um conciso texto de Edgar Graeff sobre a evolução do ensino de arquitetura no Estado e sua coincidência com a Arquitetura Moderna, igualmente referencial para um roteiro de análise do 118 ambiente acadêmico no período ; um texto-depoimento de Miguel Alves 119 Pereira sobre sua visão e experiências nos anos 1960 e o texto de Ivan Mizoguchi, que retoma análise sobre a evolução da Arquitetura Moderna do Sul, descortina um panorama dos anos 1970, igualmente com depoimentos de sua 120 participação, e indica a abertura de discussão dos anos 1980 . Essa publicação, de certa forma, teve continuidade e complementação recente na publicação do "Guia de Arquitetura Moderna de Porto Alegre", de Guilherme E. Almeida, João G. de Almeida e Marcos Bueno, uma coletânea criteriosa de 113 114 Ibidem. p. 11. DE MACEDO. Francisco Rio Pardense. Porto Alegre: origem localização e estrutura. In XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre Porto Alegre / São Paulo: FAUAlegre. UFRGS / Pini, 1987. p. 12-15. 115 DE CURTIS, Julio Nicolau Barros. A arquitetura oitocentista e seus remanescentes mais Alegre. significativos.In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre Porto Alegre / São Paulo: FAU-UFRGS / Pini, 1987. p. 16-22. 116 WEIMER, Günter. Arquitetos estrangeiros no Rio Grande do Sul. In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre Porto Alegre / São Paulo: FAU-UFRGS / Arquitetura Alegre. Pini, 1987. p. 23-25. 117 Ver: RIBEIRO, Demétrio. A Arquitetura no período 45-60.In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Alegre. Arquitetura moderna em Porto Alegre Porto Alegre / São Paulo: FAU-UFRGS / Pini, 1987. p. 2631. 118 GRAEFF, Edgar. A luta por um ensino autônomo. In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. Porto Alegre / São Paulo: FAU-UFRGS / Pini, 1987. p. 32. 33. 119 PEREIRA, Miguel Alves. Arquitetura moderna em Porto Alegre: os anos 1960. In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre Porto Alegre / São Paulo: FAU-UFRGS / Alegre. Pini, 1987. p. 34-37. 120 MIZOGUCHI, Ivan. Período de transformação: os anos 70 e 80. In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. Porto Alegre / São Paulo: FAU-UFRGS: Pini, 1987. p. 38-41. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado obras modernas representativas em Porto Alegre, com qualificado registro 121 fotográfico, de Marcelo Donadussi, e apurado padrão gráfico (Fig.11). No âmbito de interpretações e narrativas históricas, em algumas 122 publicações de Günter Weimer , sobre a arquitetura no Rio Grande do Sul e Porto Alegre, descortinam-se amplos panoramas do cenário no qual está inserida a arquitetura, seus processos históricos e descrições, normalmente fundamentadas em análises arquitetônicas, amparadas nos fenômenos ideológicos. Em vários textos encontram-se algumas referências aos trabalhos arquitetônicos e urbanísticos de Fayet, Araújo e Moojen, predominantemente através de uma tentativa de relacioná-los perante os fatos políticos, sociais e econômicos concomitantes, estabelecendo, muitas vezes, conexões discutíveis. Ao longo dos anos 1980, o principal meio de veiculação da arquitetura brasileira foi a Revista Projeto, que, posteriormente, recebeu a companhia da AU. Graças à atenção de seu editor, Vicente Wissembach, e uma equipe constituída de jovens arquitetos, como Hugo Segawa, Ruth Verde Zein e Cecília Rodrigues dos Santos, a publicação em medidas espasmódicas e dentro das limitações de comunicação continental, abrangia diversas regiões brasileiras. 123 Em 1983, a Revista dedicou um número especial à arquitetura gaúcha (Fig.12). A edição apresentava a sinopse de um debate organizado pelo Ateliê/82 da Unisinos sobre arquitetura gaúcha, com os arquitetos convidados João Marchioro, Paulo Bertussi, Cláudio Luiz Gomes A raújo, Rubem Kleebank, Jorge Decken Debiagi e David Leo Bondar, sob a coordenação de Demétrio 124 Ribeiro , bem como um conjunto de depoimentos acompanhados de projetos 125 destes arquitetos e de Carlos Maximiliano Fayet . Essa discussão, bastante contaminada pelas questões político-sociais nacionais, é perpassada pela ideia Em que pese se apoiar em referencias restritas. Ver: ALMEIDA, Guilherme Essvein de; ALMEIDA, moderna Alegre. João Gallo de; BUENO, Marcos. Guia de arquitetura mode rna em Porto Alegre Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010. 122 Ver: WEIMER, Günter (Org.). A arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. WEIMER, Günter A Arquitetura modernista em Porto Alegre, entre 1930 e 1945. Porto Alegre: Unidade Editorial, 1998. WEIMER, Günter. Síntese Rio- Grandense: a arquitetura. RioPorto Alegre: UFRGS, 1998. 123 Ver: ARQUITETURA gaúcha, um panorama e algumas reflexões. Projeto, São Paulo, n. 50, abr. Projeto 1983. p.31-87. O número recebeu a colaboração da Arquiteta Maria Isabel Milanez de Ballestra, que havia coordenado o trabalho de seus alunos no Atelier Livre da Unisinos, denominado “Arquitetura no Rio Grande do Sul: História, Atualidade, Tendências”. Esse evento objetivava um panorama da arquitetura gaúcha através das obras e depoimentos de arquitetos representativos, selecionados pelos estudantes, anteriormente noticiado na mesma revista. Ver: ESTUDANTES pesquisam a arquitetura gaúcha. Projeto São Paulo, n. 46, dez. 1982. p. 5. (Fig. 12). Projeto, 124 AS RAÍZES da arquitetura gaúcha e a posição do arquiteto na sociedade. Projeto São Paulo, n. Projeto, 50, abr. 1983. p. 36-39. 125 SEIS arquitetos falam de sua arquitetura, das condições de trabalho... Projeto São Paulo, n. 50, Projeto, abr. 1983. p. 42-47. Sergio MMarques 47 121 Fig. 12 - Da esquerda para direita: Revista Projeto, n. 50, abr. 1983, capa e p. 31; n. 53, jul. 1983. AU-Arquitetura e Urbanismo, n.60, jun./jul. 1995. São Paulo. da dependência econômica, tecnológica e cultural do Rio Grande do Sul em relação ao centro do país e ao exterior, como afirma Ribeiro: “É preciso verificar por que não existe uma arquitetura gaúcha pelos traços culturais ou técnicos. Coloco como explicação principal a dependência e o cosmopolitismo 126 capitalista” . Também Cláudio L. G. A raújo apresenta preocupações nesse sentido: A nossa arquitetura sempre foi influenciada pela produção arquitetônica dos centros mais desenvolvidos, sempre foi um reflexo desta situação. Tem que haver uma consciência deste processo senão podemos cair no erro de usar conceitos e até materiais que não têm nada a ver com nossas tradições culturais e peculiaridades regionais.127 Fayet, por sua vez, aponta algumas facetas da arquitetura gaúcha: No Rio Grande do Sul, a arquitetura é um pouco mais comedida, um pouco mais responsável. A proposta é justamente um pouco mais de prudência, de comprometimento com os custos; não é bem uma característica formal, mas acaba atingindo a forma128. Carlos Maximiliano Fayet, Cláudio Luiz Gomes A raújo, Moacyr M oojen Marques e Miguel Alves Pereira; os Pavilhões da Festa da Uva, de João Alberto Marchioro e Paulo Bertussi, em conjunto com Arthur Baldisserotto e Antonio Fernande Filippini; o Parque Marinha do Brasil (1977), de Ivan Mizoguchi e Rogério Malinsky; algumas estações do Trensurb, de Jorge Decken Debiagi e o Centro Administrativo do Estado do Rio Grande do Sul (1972), de Charles René Hugaud, Ivanio Fontoura, Leopoldo Constanzo, Luis Carlos Macchi da Silva e Cairo Albuquerque da Silva; a CEASA (1970) de Carlos Maximiliano Fayet, Cláudio Luiz Gomes A raújo, Carlos Eduardo Dias Comas e Eládio Dieste; a agência da CEF para São Leopoldo (1976), de César Dorfman e Edeonor A. Buchoolz; algumas construções no Parque Marinha do Brasil (década de 1970), de Ivan Mizoguchi e Rogério Malinsky; e o Edifício Politécnico (1978), de Cláudio 129 Luiz Gomes A raújo . No número 53 (Fig.12), a revista Projeto dedica 40 páginas a um panorama da arquitetura brasileira do momento, a partir da Exposição Arquitectura Brasileña Actual, promovida pelo CAYC e Revista Projeto em 130 Buenos Aires, da qual participaram em torno de trezentos projetos , predominantemente dos anos 1970, “onde se nota a expansão e a 131 diversificação da atividade do arquiteto neste período” . O sucesso e repercussão deste evento em Buenos Aires iriam dar forte impulso à realização da 1° Bienal de Arquitetura de Buenos Aires, em 1985. Na revista, saíram publicados a residência de Jorge Decken Debiagi; o Centro Social Urbano, de Sílvio Jaeger da Rocha; a Sede da Cotrijuí, de Clóvis Ilgenfritz da Silva e Ignez D’Ávila Pinto; a Memphis S.A. Industrial, de Cláudio Luiz Gomes A raújo e Cláudia Obino Frota; a COPESUL, de Carlos Maximiliano Fayet, Cláudio Luiz Gomes A raújo e Luiz Ramires Boeira; o Pavilhão de Exposições da Festa da Uva, de Paulo Iroquez Bertussi e João Alberto Marchioro; a Agência da CEF em Torres, de Jorge Debiagi; o Parque Marinha do Brasil, de Ivan Mizoguchi e Em que pesem muitos problemas de identificação das obras e créditos dos autores. Na equipe da REFAP, por exemplo, que aparece em diversas oportunidades, o nome de Moacyr Moojen Marques foi excluído. Também, na página síntese de Fayet, estão imagens da Casa Kopstein de Araújo e Comas, identificada como Casa Zeniro San Martin (que na verdade é o projeto de Fayet), atribuída a Fayet e Araújo, além da imagem do restaurante da REFAP, coordenado por Moojen, cujo nome não aparece nos créditos. Ibid., p. 45. 130 . Ver: ZEIN, Ruth Verde. Nos últimos anos, surgem os novos caminhos e tendências. Projeto São Projeto, Paulo, n. 53, jul., 1983. p. 86-126. 131 Ibid., p. 86. Zein classificou essa exposição, em entrevista realizada para o autor, “como o evento mais importante daquele momento, com repercussões por toda a década” por ter mostrado o Brasil ao Brasil, e esta face era a da pluralidade e descentralização em relação a São Paulo. Para Zein, a participação dos gaúchos foi expressiva e significativa: acredita que o evento estimulou a realização de um outro importante, chamado Fórum de Arquitetura, realizado em Porto Alegre no mesmo ano. ZEIN, Ruth Verde. Entrevista por escrito Porto Alegre, abr. 1998. escrito. . 129 Os projetos publicados nessa edição apresentam experiências arquitetônicas ocorridas ao longo da década de 1970, com o uso enfático do concreto armado, a preferência por grandes vãos e generosos espaços livres, as construções isoladas de relações com o entorno e padrões estéticos, consoantes com a arquitetura moderna internacional, em especial a vertente paulista do brutalismo. Dentre os projetos publicados, estão a Universidade de Caxias do Sul, de João Alberto Marchioro e Paulo Bertussi; a REFAP (1962), de 126 AS RAÍZES da arquitetura gaúcha e a posição do arquiteto na sociedade. Projeto, São Paulo, n. Projeto 50, abr., 1983. p. 36. 127 Ibid., p. 44. 128 Ibid., p. 45. 48 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Introdução Rogério Malinsky; e a CEASA, de Carlos Maximiliano Fayet, Cláudio Luiz Gomes A raújo, Carlos Eduardo Dias Comas e Eládio Dieste. A Revista Projeto publicou ainda, no número 171, reportagem abordando os grandes escritórios Brasileiros, onde a Equipe de Arquitetos, constituída por Fayet e Araújo foi 132 retratada, com um panorama de suas obras e a Revista AU publicou matéria 133 monográfica, organizada por Benamy Turkienicz, sobre Cláudio Araújo . 134 Em "Arquiteturas no Brasil: 1900 – 1990" , de Segawa, pode-se dizer também que a abrangência manifesta-se no espectro regional abordado pela publicação, considerando o alinhamento dos processos de irradiação da arquitetura brasileira entre o centro do País e os demais Estados. No capítulo “Episódios de um Brasil Grande e Moderno 1950-1980”, várias referências à Arquitetura Moderna no Rio Grande do Sul, como à Refinaria Alberto Pasqualini de Carlos M. F ayet, Cláudio L. G. A raújo, Miguel Alves Pereira e Moacyr Moojen Marques e a Central de Abastecimento – CEASA de Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. A raújo, Carlos Eduardo Comas e Eládio Dieste, estabelecem paralelos entre o cenário brasileiro e o regional. Da mesma forma, o livro de Anelli, organizado para a editora italiana, publicado em italiano, francês e espanhol, com um catálogo da arquitetura moderna e contemporânea no Brasil, com obras do período compreendido entre 1957-2007 e texto introdutório do autor, que traça explanação sobre a sensibilidade para distintos matizes da Arquitetura Moderna Brasileira, e em particular sobre as ordinárias, colocando em destaque, na 135 136 região sul, o Edifício FAM e a CEASA . A publicação de Bastos e Zein , no entanto, com o intuito de dar continuidade ao canônico livro de Ives Bruand, "Arquitetura Contemporânea no Brasil", porém questionando a ideia de uma "idade de ouro" insuperável, focada exclusivamente em determinada produção 137 e em determinada época, como aponta Montaner na apresentação , parece Ver: Projeto, São Paulo, n. 171, abr. 1995. Projeto Ver: TURKIENICZ, Benamy. Escritório – Cláudio Araújo. AU – Arquitetura e Urbanismo. São Urbanismo Paulo, n. 60, 1995. p. 91-96. 134 SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900 – 1990 São Paulo: Editora da Universidade de 1990. São Paulo, 1997. 135 Ver: ANELLI, Renato. Architettura Contemporânea: Brasile. Milão: Motta Architettura, 2008. 136 Ver: BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN. Ruth Verde. Brasil: arquiteturas após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010. 137 A apresentação de Montaner indica a pluralidade do produto de investigações em andamento no ambiente acadêmico brasileiro, do qual o trabalho de Bastos e Zein emerge: "O trabalho de Bastos e Zein nasce não apenas de suas pesquisas pessoais, mas aproveita o clima de debate que vem resultando em muitas e boas pesquisas específicas de vários autores brasileiros. Como o trabalho de Alberto Xavier em sua imprescindível compilação Arquitetura Moderna Brasileira: Depoimento de : uma geração (1987); como o de Carlos Eduardo Dias Comas, máximo especialista na análise formal da Arquitetura Moderna Brasileira, autor de ensaios memoráveis, como o que dedicou ao edifício do Ministério de Educação e Saúde no Rio de Janeiro; ou como todas as publicações sobre a história 133 132 não corresponder plenamente à abrangência sugerida, extraindo da análise obras representativas externas ao eixo Rio-São Paulo, em especial do Rio 138 Grande do Sul, assim como a de Cavalcanti . Neste sentido, as publicações de Segawa, Anelli e Montezuma são mais sensíveis ao tema abordado aqui. Por outro lado, assim como também indica Montaner, a atividade acadêmica e a investigação no Rio Grande do Sul, além de terem ocupado espaço reconhecido no campo da investigação, tanto através da qualificação da massa crítica, através da pós-graduação, em especial o PROPAR-UFRGS, quanto das consequentes publicações e produção de trabalhos para eventos científicos, em especial o DOCOMOMO, Projetar e as publicações do UniRitter, têm sido o principal meio de documentação e exame da Arquitetura Moderna no Sul. Montaner destaca esse ambiente: No caso do Brasil além da potência cultural de uma cidade como São Paulo, com tantas linhas de pensamento e escolas de arquitetura, como a da Universidade de São Paulo (USP) ou o Mackenzie, que iria de Alberto Xavier até Ruth Verde Zein, nos referimos à escola de investigação e doutorado, o PROPAR (Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura), gerado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, [..], que tem como órgão de expressão de suas investigações a publicação ARQtexto, a Revista do Departamento de Arquitetura do PROPAR, iniciada no ano 2000, no ano em que o PROPAR, que desde 1990 oferecia um mestrado, criou o doutorado e que no ano 2010 havia publicado quinze números.139 Parte significativa dos recentes trabalhos de pesquisa no meio acadêmico tem se dedicado ao tema da Arquitetura Moderna no Rio Grande do Sul. Como cita Montaner, no ano 2000, a Faculdade de Arquitetura da UFRGS voltou a lançar uma revista de Arquitetura, a ARQTEXTO. Seu número de 140 lançamento, número zero – “(POA-RS) ”, dedicado a Porto Alegre, traz diversos artigos relacionados ao tema, como “Arquitetura Moderna em Porto da paisagem e as arquiteturas brasileira e latino-americana, de Hugo Segawa. Além das contribuições de outros pesquisadores já consagrados, como Paulo Bruna, Cêça Guimarães, Mobica Junqueira de Camargo, Sérgio Marques, Carlos Ferreira Martins, Rogério de Castro Oliveira, Roberto Segre; ou promissores jovens pesquisadores, como Cláudia Cabral, Marta Peixoto, Lais Bronstein, Andrés Pásaro e muito mais. E os ensaios certeiros e didáticos de críticos como Edson Mahfuz e Paola Berenstein Jacques". Ver: MONTANER, Josep Maria. Interpretação Arquitetura. Dialética para um Continente de Arquitetura . In: BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN, Ruth Verde. Brasil: arquiteturas após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010. p.16. A seleção de obras e . meios da arquitetura e urbanismos brasileiros não parece, porém, acompanhar a abrangência retratada. 138 CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era moderno: guia de arquitetura 1928-1960. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001. 139 MONTANER, Josep Maria. Arquitectura y Crítica en Latino América . Buenos Aires: Nobuko, 2011. p. 153. 140 LEÃO, Silvia; FUÃO, Fernando; FROTA, José Artur (Orgs.). ARQTEXTO n. zero, Porto Alegre, ARQTEXTO, FAUFRGS, 2000. Sergio MMarques 49 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fig. 13 – Da esquerda para a direita: Revista ARQTexto, n. Zero, 2000, e n. 3-4, 2003. Cadernos de Arquitetura UniRitter, v. II, 2000 e v. III, Porto Alegre. 2001. Alegre – uma história recente”, de Luis H. H. Luccas; “Emil Bered – seis edifícios”, de Eneida Ripol e um artigo escrito por mim, chamado “Memphis: uma análise tipológica necessária”, analisando obra de Cláudio A raújo, além de um depoimento do Arquiteto Cláudio L.G. A raújo. Os números seguintes; número 1, “Interfaces”; número 2, “Ponte Rio-São Paulo”; números 3-4, onde 141 há artigo meu sobre o edifício FAM , número 5 “Identidade” e número 6, abrem-se para temas amplos com a participação de autores de várias regiões do País e exterior, denotando o cosmopolitismo cultural e o cruzamento acadêmico entre a massa crítica local e o contexto latino. A produção contida na revista de certa maneira reflete o incremento da atividade acadêmica em nosso meio, nos últimos vinte e cinco anos, fruto principalmente da produção gerada pelos Programas de Pós-graduação em Arquitetura, liderados pelo PROPAR/FAUFRGS, uma certa contribuição do aumento vertiginoso de Faculdades de Arquitetura no Estado e o consequente aumento da demanda pela docência, acompanhado do acanhamento progressivo do mercado de trabalho em arquitetura desde os 1980, até recentemente. Dentro do mesmo contexto da produção acadêmica, destacam-se as pesquisas e publicações da FAU-UniRitter, com ênfase no contexto gaúcho. A série “Escritos de Arquitetura”, iniciada em 1998, abriu com o livro “Fernando Corona e os caminhos da Arquitetura Moderna em Porto Alegre”, de Anna 142 Paula Canez . Na série “Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis”, iniciada em 1999, o segundo número, “Arquitetura – História e Crítica – Textos Selecionados , e o terceiro “Crítica na Arquitetura – V Encontro de Teoria e 144 História da Arquitetura” , 2001, dedicam-se fundamentalmente ao contexto do Rio Grande do Sul. O trabalho de catalogação e constituição de acervos do Laboratório de Teoria e História da Arquitetura e do Núcleo de Projetos do UniRitter apresenta material vasto e inédito sobre a Arquitetura Moderna no Rio Grande do Sul, principalmente nos Acervos “Azevedo Moura & Gertum” e “João 145 146 Alberto da Fonseca” , "Arquitetura de Concursos no Rio Grande do Sul" e 147 "Fayet, A raújo & Moojen . F Em relação aos temas de urbanismo, ainda é importante citar 148 “Urbanismo no Brasil: 1895-1965” , publicado recentemente, onde importantes contribuições para o caso em estudo são encontradas, de autores 149 150 como Célia Ferraz de Souza e Maria Soares de Almeida , que tratam do urbanismo em Porto Alegre, e Vera F. Rezende, que trata do urbanismo no Rio 151 de Janeiro . Igualmente o faz “Estudos Urbanos: Porto Alegre e seu 152 planejamento” , que reúne um conjunto diversificado de trabalhos sobre Porto 143 141 MARQUES, Sérgio. A máscara In: LEÃO, Silvia; FUÃO, Fernando; FROTA, José Artur (Orgs.). ara. másc ara ARQTEXTO, n. 3-4, Porto Alegre, FAUFRGS, 2003. p.154-159. 142 CANEZ, Anna Paula. Fernando Corona e os caminhos da arquitetura moderna em Porto Alegre. Alegre Porto Alegre: Faculdades Integradas do Instituto Ritter dos Reis, 1998. PEIXOTO, Marta; LIMA, Raquel (Orgs.). Arquitetura: história e crítica – textos selecionados. Reis, Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis n. 2, Porto Alegre, Ritter dos Reis, 2000. 144 LIMA, Raquel; MAGLIA, Viviane Villas Boas; KIEFER, Flávio. Crítica na Arquitetura. Cadernos de . Arquitetura Ritter dos Reis, n. 3, Porto Alegre, Ritter dos Reis, 2001. 145 Uma ideia do teor contido nessa base documental pode ser vista na publicação “Imagem e Construção da Modernidade em Porto Alegre”, organizada pela equipe de professores do Laboratório. Ver: CAIXETA, Eline Maria; CANEZ, Anna Paula; CARUCCIO, Margot Inês; LIMA, Raquel Rodrígues; MAGLIA, Viviane Villas Boas. Imagem e construção da modernidade em Porto Alegre. Porto Alegre: UniRitter, 2004. 146 Material disponível em CD-ROM e através de site. Ver: MARQUES, Sérgio Moacir; ARAÚJO, Cláudio; LUZ, Maturino. Arquitetura contemporânea no Rio Grande do Sul: Monitoramento e Acervo: Arquitetura de Concursos: 1984-2006. Porto Alegre: UniRitter, 2008. Disponível em: . 147 Acervo em constituição conjunta com a elaboração deste trabalho. 148 LEME, Maria Cristina da Silva (Coord.). Urbanismo no Brasil 1895-1965 São Paulo: Studio 1895- 1965. Nobel / FAUUSP / FUPAM, 1999. 149 SOUZA, Célia Ferraz de. Trajetórias do urbanismo em Porto Alegre, 1900- 1945. In: LEME, Maria Cristina da Silva (Coord.). Urbanismo no Brasil 1895- 1965 São Paulo: Studio Nobel: FAUUSP: 1895-1965. FUPAM, 1999. 150 ALMEIDA, Maria Soares de. Gestores da cidade e seus regulamentos urbanísticos: Porto Alegre de 1893 a 1959. In: LEME, Maria Cristina da Silva (Coord.). Urbanismo no Brasil 1895-1965. São 1895- 1965 Paulo: Studio Nobel / FAUSP / FUPAM, 1999. p. 102-119. 151 REZENDE, Vera F. Evolução da produção urbanística na cidade do Rio de Janeiro, 1900-19501965. In: LEME, Maria Cristina da Silva (Coord.). Urbanismo no Brasil 1895- 1965 São Paulo: 1895-1965. Studio Nobel / FAUSP / FUPAM, 1999. p. 39-70. 152 PANIZZI, Wrana M.; ROVATTI, João F. Estudos urbanos: Porto Alegre e seu planejamento. Porto urbanos Alegre: Ed. Universidade UFRGS / Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1993. 143 50 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 159 Introdução Alegre, dos quais interessam particularmente as contribuições de Laís 153 Guimarães de Pinho Salengue e Moacyr Moojen Marques . Das publicações de que participei, destaco o número 33 da Revista 154 Elarqa de Montevidéu (Fig.14), especial dedicado a Porto Alegre, e que apresenta, na primeira parte, um conjunto de artigos, realizados a quatro mãos, por convidados dentro de combinações complementares, para tratar de temas afins, como “A influência do Uruguai no ensino de arquitetura do Rio Grande do Sul”, escrito por Demétrio Ribeiro e Maria Isabel Milanez: “A Arquitetura de Porto Alegre”, por Maturino Luz e Flávio Kiefer; “O Hipódromo de Cristal”, por Carlos E. D. Comas e Anna Paula M. Canez; “A Evolução Urbana de Porto Alegre”, por Moacyr Moojen Marques e “A Porto Alegre Recente”, escrito por mim. O número, de certa maneira, comemora o restabelecimento de laços culturais importantes havidos entre o contexto gaúcho e o meio acadêmico de Montevidéu e dava continuidade a uma ideia de revalorização da arquitetura erudita produzida no sul brasileiro e conexões meridionais, ainda que bastante delimitada, iniciada na FAU-Uniritter com a organização do número 58 da 155 Revista Argentina Brasil Meridional dedicada ao Rio Grande do Sul (Fig.14). Essas publicações motivaram a realização do livro “Arquiteturas Cisplatinas”, de 156 Carlos E. Comas e Glênio Bohrer e Anna Paula Canez , que configura um significativo documento sobre obras emblemáticas da arquitetura moderna, com contribuição platina, no Rio Grande do Sul, as Tribunas do Jockey Club e a 157 158 CEASA . Ainda é indispensável citar os Cadernos de Arquitetura UniRitter V e SALENGUE, Laís G. de Pinho; MARQUES, Moacyr Moojen. Reavaliação de planos diretores: o caso de Porto Alegre. In: PANIZZI, Wrana M.; ROVATTI, João F. Estudos urbanos Porto Alegre e urbanos: seu planejamento. Porto Alegre: Ed. Universidade UFRGS / Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1993. p.155-164. 154 Elarqa, MARQUES, Sérgio Moacir (Org.). Revista Elarqa n. 33, Montevidéu: Editora Dos Puntos, 2000. 155 O exemplar, com seleção de obras produzidas por arquitetos gaúchos, na década de 19801990, abre com texto panorâmico de Maturino Luz, sobre a arquitetura no Rio Grande do Sul, desde o período colonial até a arquitetura moderna. Ver: KIEFER, Flávio; LUZ, Maturino; MARQUES Sérgio (Orgs.). Brasil Meridional. Casas Internacional, n. 58, Buenos Aires: Kliczkowski Publisher, 1998. 156 COMAS, Carlos Eduardo; BOHRER, Glênio; CANEZ, Anna Paula. Arquiteturas cisplatinas. Porto Alegre: UniRitter, 2004. 157 A respeito dessa publicação escrevi uma pequena nota introdutória para a contracapa, que salienta a importância das relações regionais e o protagonismo das obras abordadas: “Quando encontrei, em um café de Montevidéu, Júlio Gaeta, editor da revista Elarqa (Uruguai), brindamos o reencontro de herdeiros de uma história repleta de encontros entre Rio Grande do Sul e Montevidéu. Dentre os muitos, de pessoas e arquiteturas, que se realizaram a partir daí, o encontro para o lançamento da edição bilíngue da Elarqa, n. 33, dedicada a Porto Alegre, em 2000, celebrou a [re]união de porto-alegrenses com sua própria arquitetura, com a arquitetura de Montevidéu e com uruguaios. Na organização da publicação, entre os importantes encontros propostos, o encontro de Carlos E. D. Comas com Anna Paula Canez, no texto ’Hipódromo de Cristal‘, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 153 VI (Fig.14), com seleção de textos produzidos no I Seminário DOCOMOMO Sul (Porto Alegre, 28 a 30, ago., 2006) e VII Seminário DOCOMOMO Brasil (Porto Alegre, 22 a 26, out., 2007) respectivamente, onde, no primeiro, Comas abordou o Museu das Missões em "Simples Abrigo, Límpida Ruína, Modernidade Real: O Museu das Missões de Lúcio Costa"; Anna Paula Canez, o Edifício Sulacap em " Olhos que avistam a cidade: a poética das janelas na arquitetura de Arnaldo Gladosh"; Heitor da Costa e Silva, as questões de conforto no Jockey Club do Rio Grande do Sul, em "Controle de Radiação Solar: Estratégia de Projeto para clima temperado"; Marta Peixoto e Helena Karpouzas, a habitação coletiva moderna em "Edifício Armênia"; Viviane Maglia, a REFAP em "Arquitetura Moderna e o Tema Industrial no Rio Grande do Sul: o caso exemplar da Refinaria Alberto Pasqualini"; Andrea Solér Machado, os edifícios modernos da Praça da Matriz, em "Dois Palácios e uma Praça: Transparência e Sombra nos Altos da Praia"; Renato Holmer Fiori, a relação da cidade com o rio em "O Muro da Mauá em Porto Alegre: a não transparência, a controvérsia e os significados do lugar"; e eu, o Edifício FAM em "Filtro Solar – Fator Paralelo 30: O FAM e a arquitetura moderna brasileira no sul". No segundo, dentre um apanhado de autores de todas as partes do Brasil, Marta Peixoto abordou a arquitetura de interiores de apartamentos modernos requalificados, em "Os novos apartamentos velhos"; Silvio Abreu, as relações de morfologia e normativa na Avenida Independência, em "Independência ou Morte"; e eu, a revitalização do Auditório Araújo Viana em "O Anfiteatro, a foice e o martelo, o O.V.N.I. e o guarda chuva". O âmbito do DOCOMOMO, principalmente após a fundação do Núcleo DOCOMOMO-RS em 2004, é onde, conjuntamente com as pesquisas institucionais e os programas de póssistematizou a atenção merecida e carente às Tribunas do Jockey Club do Rio Grande do Sul, obra singular da Arquitetura Moderna Brasileira, encontro do uruguaio Roman Fresnedo Siri com a construtora Azevedo Moura & Gertum, Porto Alegre e o rio. O encontro dos uruguaios Eládio Dieste e Eugênio Montañez com os gaúchos Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. Araújo e Carlos E. D. Comas no projeto para a Central de Abastecimento – CEASA, que produziu obra emblemática dos encontros brasileiros com a América Meridional, estudado por Glênio V. Bohrer em ’CEASA – Espaço e Lugar na Arquitetura e Urbanismo Modernos‘. A oportuna publicação dos episódios Jockey e CEASA, dessa história, em ’Arquiteturas Cisplatinas‘, vem ao encontro dos esforços de documentação e conservação da arquitetura moderna brasileira, coincidente com a recente criação do Núcleo DOCOMOMO-RS e do sentimento que encontramos nessas páginas, um tanto de boa arquitetura, um bocado da identidade própria, um referencial para a dispersão dos desencontros, um pouco de cada um de nós”. MARQUES, Sérgio Moacir. Contracapa. In: COMAS, Carlos Eduardo; BOHRER, Glênio; CANEZ, Anna Paula. Arquiteturas cisplatinas. Porto Alegre: UniRitter, 2004. Contracapa. 158 COMAS, Carlos Eduardo; MARQUES, Sérgio. A segunda idade do vidro: transparência e sombra na arquitetura moderna do Cone Sul Americano – 1930-1970. Porto Alegre: UniRitter, 2007. 159 COMAS, Carlos Eduardo; PEIXOTO, Marta; MARQUES, Sérgio. O moderno já passado / O passado no moderno – Reciclagem, requalificação, rearquitetura. Porto Alegre: UniRitter, 2009. Sergio MMarques 51 graduação, em especial do PROPAR-FA/UFRGS e da FAU/UniRitter, se concentra a principal produção acadêmica sobre a arquitetura moderna no sul do Brasil. Além das duas publicações citadas acima, a realização do II Seminário DOCOMOMO Sul, "Concreto – Plasticidade e Industrialização na Arquitetura do Cone Sul Americano – 1930/70" (Porto Alegre, 25 a 27, ago., 160 2008) e III Seminário DOCOMOMO Sul, "Madeira – Primitivismo e Inovação na Arquitetura do Cone Sul Latino Americano – 1930/70" (Porto Alegre, 8 a 10 161 nov., 2010) , abordaram, de forma temática, a arquitetura moderna no sul, cujos textos podem ser pesquisados nos anais dos eventos. Ainda os Seminários DOCOMOMO Brasil e seminários regionais, realizados pelos demais núcleos, têm contado sistematicamente com a produção acadêmica de pesquisadores abordando a arquitetura moderna no Rio Grande do Sul. No VIII Seminário DOCOMOMO Brasil, "Cidade Moderna e Contemporânea: Síntese e Paradoxo das Artes" realizado no Palácio Capanema, Rio de Janeiro (01 a 04 set., 2009), apresentei o artigo "A Cidade Moderna | O Moderno [e a arte] na 162 cidade: A Praia de Belas e o Largo dos Açorianos – 1752/1973" que serviu de base para o texto "Ciudad Moderna, Ciudad Mutante: Porto Alegre/ Praia de Belas/1750-2016"163 publicado pela revista Palimpsesto, tratando da cidade moderna no aterro da Praia de Belas. Finalmente, entre os trabalhos desenvolvidos nas pesquisas acadêmicas e nos cursos de pós-graduação, ativos no contexto gaúcho desde os anos 1970, primeiramente com os Programas de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUFRGS (PROPAR e PROPUR), diversas dissertações e, recentemente, teses de doutorado têm abordado o tema da Arquitetura Moderna no Sul do Brasil como cenário de investigação. Cláudia 164 Cabral, com a dissertação “Tipologias Comerciais em Porto Alegre” ; Raquel Lima, com “Os Liceus de Artes e Ofícios no Rio Grande do Sul” ; Andréa Soler 166 Mahfuz com “Dois Palácios e uma Praça” ; Glênio V. Bohrer, com “CEASA167 RS: Espaço e lugar na Arquitetura e Urbanismo Modernos” , trabalho que forneceu substrato para a publicação de “Arquiteturas Cisplatinas”; Anna Paula 168 Canez, com o já citado trabalho sobre Fernando Corona ; Eneida Ripohl, com “Habitação Coletiva na Obra de Emil Bered na década de 50 em Porto 169 Alegre” ; Viviane V. Maglia, com “Refinaria Alberto Pasqualini: aplicações dos 170 paradigmas modernistas à tipologia industrial no Rio Grande do Sul” e diversas dissertações de mestrado realizadas no PROPUR desde 1975, que igualmente tratam de matéria referente ao Rio Grande do Sul. Também dentro do recente programa de doutorado do PROPAR, Luis Henrique H. Luccas realizou tese abordando as relações entre a Arquitetura Moderna Brasileira e a 171 Arquitetura Moderna de Porto Alegre . Este trabalho provavelmente é o estudo panorâmico de maior aprofundamento acadêmico sobre a Arquitetura Moderna Brasileira em Porto Alegre, consistente tanto na montagem da investigação pretendida, confrontando a arquitetura produzida no Sul, nos anos 1950 e 1960, com os paradigmas emblematizados pelas escolas hegemônicas da arquitetura brasileira, quanto nos instrumentos de análise, próprios do olhar contemporâneo, fundamentalmente na análise arquitetônica dos exemplares apresentados. Com espectro amplo na abrangência de obras envolvidas, é um trabalho referencial, em que pese a ausência de textos e publicações anteriores específicas sobre determinadas obras e episódios tratados na pesquisa, que não foram considerados. 165 COMAS, Carlos Eduardo Dias; MAHFUZ, Edson; CATTANI, Aírton; MARQUES, Sérgio Moacir (Orgs.). Concreto – Plasticidade e industrialização na arquitetura do Cone Sul Americano: 19301970. v. 1. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2008. 161 COMAS, Carlos Eduardo Dias; MAHFUZ, Edson; CATTANI, Aírton; MARQUES, Sérgio (Orgs.). Madeira – Primitivismo e inovação na arquitetura do Cone Sul Americano – III Seminário DOCOMOMO Sul. v. 1. Porto Alegre: UFRGS, 2010. 162 Ver: MARQUES, Sérgio. A cidade moderna | O moderno [e a arte] na cidade: A Praia de Belas e o Largo dos Açorianos – 1752-1973. Disponível em: . Acesso em: 07 abr., 2012 às 20h54min. 163 MARQUES, Sérgio Moacir. Ciudad Moderna, Ciudad Mutante: Porto Alegre / Praia de Belas / 1750-2016. In: PALIMPSESTO. Habitar la Ciudad, n. 1. Barcelona: Catedra Blanca, ESTAB/UPC, Ciudad mar., 2011. p.10-11. 164 CABRAL, Cláudia Pianta Costa. Tipologias comerciais em Porto Alegre: da rua comercial ao shopping center. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. Porto Alegre: UFRGS,1996. 160 LIMA, Raquel Rodrigues. Os Liceus de Artes e Ofícios do Rio Grande do Sul: 1900-1930. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. Porto Alegre: UFRGS,1995. 166 praça: MAHFUZ, Andréa Soler Machado. Dois palácios e uma praça: a inserção do Palácio da Justiça e do Palácio Farroupilha na Praça da Matriz em Porto Alegre. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. Porto Alegre: UFRGS, 1996. 167 BOHRER, Glênio Viana. Ceasa -RS: espaço e lugar na arquitetura e urbanismo modernos. Ceasa[Dissertação de Mestrado em Arquitetura] Porto Alegre, UFRGS, [1997]. 168 CANEZ Anna Paula Moura. Fernando Corona e os caminhos da arquitetura moderna em Porto Alegre: 1928-1951. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. Porto Alegre: UFRGS, 1997. 169 STRÖER, Eneida Ripol. Habitação coletiva na obra do arquiteto Emil Bered, na década de 1950, em Porto Alegre. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. Porto Alegre: UFRGS, 1997. 170 MAGLIA, Viviane Villas Boas. Refinaria Alberto Pasqualini: aplicações dos paradigmas modernistas à tipologia industrial no Rio Grande do Sul. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003. 171 LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do brasileira "gênio artístico nacional". [Tese de Doutorado em Arquitetura]. OLIVEIRA, Rogério da Castro (Orientador). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, 2004. 165 52 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Introdução Moderna Brasileira e Gaúcha, quanto em sua conclusão, indicam a necessidade de revalidação de determinadas experiências locais, o reexame dos valores dominantes na denominação da Arquitetura Moderna Brasileira representativa e o equilíbrio de fundamentos dos modos de concepção, emergentes face ao relativismo oportunizado pela cena contemporânea, construindo, a partir de uma certa tradição local, novos princípios comuns de projeto, de trás para diante. Fig.14 – Da esquerda para a direita: Revista Casas Internacional, n. 58, Brasil Meridional, 1998, Buenos Aires. Revista Elarq, n. 33, Porto Alegre, 2000, Montevidéu. Cadernos de Arquitetura Uniritter, n. V, 2007 e n. VI, Porto Alegre. 2009. Ainda o conjunto de dissertações realizadas pelos professores da FAUUniRitter, no curso de mestrado PROPAR fora de sede, realizado na FAU/UniRitter em 2000, em que diversos pesquisadores investigaram temas correlatos à Arquitetura Moderna no Rio Grande do Sul, como José Carlos Marques, com “História de uma via: o advento da arquitetura moderna e a : 172 configuração da Avenida Senador Salgado Filho” ; Paulo Cesa, com “A 173 arquitetura da verticalidade na recém-aberta Avenida Borges de Medeiros” ; e Dalton Bernardes, com “Jaguaribe e Esplanada – o edifício de apartamentos 174 modernista e um novo paradigma habitacional em Porto Alegre ”. Realizei a dissertação “Tendências da Arquitetura Contemporânea no 175 Rio Grande do Sul: mudanças de paradigmas nos anos 1980” , posteriormente publicada pela Editora Ritter dos Reis. Esse trabalho teve a pretensão de analisar o período mais agudo de revisão do Movimento Moderno e o aporte do Pós-modernismo, no Rio Grande do Sul, prospectando alguns caminhos para a arquitetura local, que, de certa maneira, tanto na montagem do quadro referencial, correspondente ao Movimento Moderno da Arquitetura MARQUES, José Carlos. História de uma via: o advento da arquitetura moderna e a configuração da Av. Senador Salgado Filho, Porto Alegre 1940-1970. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. PEREIRA, Cláudio Calovi (Orientador). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, 2003. 173 CESA FILHO, Paulo. A arquitetura da verticalidade na recém-aberta Avenida Borges de recémMedeiros. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, 2003. 174 BERNARDES, Dalton. Jaguaribe e Esplanada: o edifício de apartamentos modernista e um novo paradigma habitacional em Porto Alegre. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura] Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, 2003. 175 MARQUES, Sérgio Moacir. Tendências da arquitetura contemporânea do Rio Grande do Sul: mudanças de paradigmas nos anos 80. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. Porto Alegre: UFRGS, 1999. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 172 ? A dispersão de análise crítica e sistematização bibliográfica dessa arquitetura “periférica” seja pelo distanciamento cultural, seja pela sucessão cronológica, que só mais recentemente começa a ser enfrentada, remete a certa emergência da cultura arquitetônica brasileira, excessivamente centrada nos epicentros de irradiação e seus protagonistas, e pouco atenta à produção de uma cultura arquitetônica, produzida a partir da vanguarda, mais próxima da recorrente, metabolizada por seus filiados mais distantes, que seguidamente, como os mestres da arquitetura brasileira em relação aos centros europeus, descortinam novos valores originados de suas particularidades. As sucessões da vanguarda canônica, havida em direção às diversas regiões do País ou em direção à apropriação e elaboração dessa cultura arquitetônica brasileira pelas gerações a seguir, ainda são um capítulo por se investigar com mais profundidade, justamente aquele, por mais distante dos centros, mais próximo da totalidade do país. Essa condição de distanciamento, acentuada com uma história gaúcha tida como “separatista”, amparada pela tradição conservadora e potencialmente nacionalista, sugere algumas indagações: a arquitetura moderna produzida na região meridional sul-americana é de fato uma arquitetura distinta em relação à Arquitetura Moderna Brasileira consagrada? Há efetivamente particularidades formais na produção da Arquitetura Moderna no Rio Grande do Sul que distinguem a produção local da nacional? Essa arquitetura oferece algum legado para as gerações seguintes e para a cena contemporânea? Na produção de Fayet, A raújo e M oojen, arquitetos de atuação e produção significativa da Arquitetura Moderna no Rio Grande do Sul, há elementos que possam expressar essas eventuais particularidades? Há elementos próprios e suficientes, do contexto local, sejam culturais, sociais, econômicos, climáticos, geográficos e idiossincráticos, que caracterizem os fundamentos de uma Sergio MMarques 53 apropriação regionalizada da Arquitetura Moderna propagada pelas vanguardas? Na arquitetura e pensamento produzidos por Fayet, A raújo e Moojen, há fundamentos de projeto comuns, tais como os citados, racionalidade estrutural, simplicidade espacial e sofisticação construtiva, atenção às partes e outros que estabeleçam um senso comum suficiente à criação de um referencial? Na vida profissional dos arquitetos, exercício do ofício, procedimentos de projeto, conhecimento técnico, colaboração com outros profissionais e clientes, há elementos metodológicos, éticos e/ou ideológicos que exemplifiquem maneira referencial de fazer Arquitetura Moderna apreensível pela média e potencializadora da arquitetura como cultura? Por outro lado, o desvanecimento dessa arquitetura e práticas nas gerações seguintes têm a ver com o modo como ela foi praticada e propagada? O fato de Fayet, A raújo e Moojen estarem envolvidos tanto com os problemas da cidade quanto com edificações advém de um pensamento ideológico, que vai além das considerações estilísticas que se possam fazer sobre seus projetos urbanísticos e de arquitetura, em particular no caso do Edifício FAM FAM? Em uma visão parcialmente panorâmica da produção arquitetônica de Fayet, A raújo e M oojen, dos anos 1950-1960, de sua formação, atuação, pensamento, produção pessoal e em equipe, através das diversas combinações FAM, FA, FM, AM, os projetos para a Petrobras, a Praia de Belas e uma visão particularmente minuciosa do Edifício FAM – obras emblemáticas dessa produção, do olhar pessoal dos arquitetos, e dos temas da arquitetura e da cidade moderna no Cone Sul brasileiro – está contido o exame dessas indagações. Esta investigação busca respostas a essas questões, mas também, ao investigar tais hipóteses, busca desnudar um contexto cultural e arquitetônico enlaçando à formação da profissão e à chegada do Movimento Moderno em solo gaúcho a estruturação do ensino, o surgimento e consolidação da carreira de arquiteto, do planejamento urbano sistêmico, das agremiações de classe, dos vínculos ideológicos, ainda presentes na memória de muitos e na presença de alguns personagens que, gradativamente, começam a desvanecer-se. A tese, portanto, sem pretender uma visão panorâmica ampla da historiografia do período como um todo, já devidamente realizada em outros estudos, em que é fértil a análise de tendências mas menos eficaz o aprofundamento da análise arquitetônica, adota a produção de três arquitetos representativos da Arquitetura Moderna no Sul, descendentes diretos da geração de vanguarda desse Movimento na região, como meio através do qual se desenvolve a investigação de elementos essenciais do pensamento, cultura e espírito de um segmento da Arquitetura Moderna Brasileira, com foco nas particularidades projetuais e tectônicas correspondentes. A obra de arquitetos representativos, assim como a obra representativa desses arquitetos são os instrumentos principais de exame do produto dos processos culturais, econômicos, históricos, geográficos que caracterizam a aclimatação do Movimento Moderno no Sul, com paralelos latino-americanos ainda pouco examinados. Através da experiência e da produção destes arquitetos, prolífera e extensa, abrangendo temas de escala edilícia e urbana, bem como representativas do pensamento dominante em diversas circunstâncias, é realizado um exame dos principais expedientes através dos quais se formulou o ingresso da Arquitetura Moderna no Sul, relacionando os episódios, influências, 176 fatos e acontecimentos a partir das particularidades dos projetos realizados . Um olhar, que pela proximidade, espia esse universo de dentro para fora, que pela diferença de gerações, incorpora outras óticas, pós-modernas e contemporâneas, que pela admiração e filiação enxerga com respeito. Fig.15 – Da esquerda para a direita: Revista Espaço, I.B.A., n. 2, 1948. Revista Módulo, FAUFRGS, n. 2, Porto Alegre. 1952. Desenho da capa de Carlos M. Fayet. Neste sentido, o foco central da investigação são os projetos e obras, a partir dos quais se examinam outras questões, em concordância com a observação de Martí Arís de que “toda teoria do projeto deve partir do estudo das obras de arquitetura em sua singularidade e concretude. Esta assertiva parece uma obviedade, e talvez o seja, mas creio que seu frequente descumprimento é uma das principais causas do descrédito que hoje pesa sobre qualquer tentativa de discurso teórico no campo da arquitetura”. Ver: ARÍS, Carlos Martí. La Cimbra y el Arco. Barcelona: Fundación Caja de Arquitectos, 2005. p. 23. 176 54 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Introdução Resenhas Biográficas JOSÉ VILLAGRAN GARCIA – Introdutor e teórico da Arquitetura Moderna no México, como Lúcio Costa, no Brasil, de formação acadêmica, valorizou a cultura nativa e também a pré-hispânica, com textos influenciados por Semper e Worringer e posteriormente, Giedieon e Bruno Zevi. Arquiteto de prolífera produção arquitetônica entre 1924 e 1972, com obras de Arquitetura Moderna representativas do movimento no País, como o Estacionamiento Gante (1945), Hannes Meyre, ver seu texto mais combativo: MEYER, Hannes; DAL CO, Francesco. El Arquitecto en la lucha de clases y otros escritos. Barcelona: Gustavo Gilli, 1972. FÉLIX CANDELA – Candela, madrilenho, formou-se pela ESTAM, em 1935. Após uma estada na Alemanha e sua participação na Guerra Civil Espanhola (foi preso em Perpignan no sul da França), emigrou ao México em 1940, onde sua produção se deu de forma intensa, como arquiteto, engenheiro e construtor. Com o apelido de arquiteto das conchas e particular investigação nas formas hiperbólicas, assim como o uruguaio Eládio Dieste (1917-2000) e o italiano Pier Luigi Nervi (1891-1979), produziu mais de 600 projetos, entre eles o Pavilhão do Raio Cósmico (1951), Mercado Coyoacan (1955), Laboratórios Lederle (1955-1956), Restaurante Los Manantiales (1957-1958), Plaza de los Abanicos (1958), Auditório de Ciências Químicas (1962), estação de metrô Candelária (1967), Palácio de Los Esportes (1968) e as Igrejas de San Felipe de Jesus (1958-1959), San Lorenzo (1960), San Vicente de Paul (1959) e Virgen Milagrosa (1955). Ver: SAVORRA, Massimiliano. Félix Candela, Pier Luigi Nervi and formalism in architecture. In: CASSINELLO, P. (Ed.). Félix Candela Candela. Madrid: EDITORA, 2010. EDITORA LUIS RAMIRO BARRAGAN MORFIN – Nasceu em Guadalajara, México e formou-se em Engenharia com uma complementação em Arquitetura. Prêmio Pritzker em 1980, pela sua dualidade, moderna inclinada à abstração e regionalismo, voltado às tradições locais, representa não só a Arquitetura Moderna Mexicana contextualizada, quanto uma produção que, pelo universalismo e realismo simultâneos, transcendeu debates entre Movimento Moderno e Pós-modernismo. ”A arte de Barragán é moderna mas não é modernista, é universal mas não é o reflexo de Nova York ou Milão”. Ver: PAZ, Octávio. In: SEGAWA, Hugo. Arquitectura contemporanea Latino Americana . Barcelona: Gustavo Gili, 2005. p. 14. Sua obra, dedicada predominantemente a residências e jardins, como a casa do próprio arquiteto (1948 – patrimônio cultural pela UNESCO) e também empreendimentos próprios, igualmente representam um segmento de arquitetura e mercado imobiliário qualificado não tão frequentemente em termos latino-americanos. EMILIO DUHART – Provavelmente o arquiteto e urbanista mais influente do Movimento Moderno no Chile. Prêmio Nacional em 1977, entre diversas premiações na França e E.U.A. Titulou-se na Universidad Católica de Chile (1941), realizou master em arquitetura em Harvard (1943), onde colaborou com Walter Gropius; estudou urbanismo na Sorbonne e no Centre Technique du Batimênt, em Paris (1952), quando trabalhou no escritório de Le Corbusier em projetos para Ahmedabad e Chandigard. Filiado às ideias de Le Corbusier, foi ganhador do concurso para o CEPAL – edifício para as Nações Unidas na América Latina (1960), com Christian De Groote e Roberto Goycoolea. Realizou, entre outras obras, o Plano Regulador de Concepción (1960), Aeroporto Internacional Comodoro Arturo Merino Benítez, em Pudahuel, Santiago (1961), Campus da Universidad de Concepción (1957) e o Complexo Industrial Carozzi, Santiago (1961). Ver: KLENNER, Alberto Montealegre. Emilio Duhart Arquitecto. Chile: Ediciones ARQ, 1994. JUAN BORCHERS – Arquiteto de poucas obras, bastante influenciadas pela arquitetura brutalista de Le Corbusier, desenvolveu uma linha de pensamento particular, conectando o mundo da Física e da poesia, com muita influência no meio cultural chileno. Ver: BORCHERS, Juan. MetaMetaarquitectura. Santiago do Chile: Mathesis Ediciones, 1975. (1951), Edifício Comercial e Cine Las Américas (1952), entre outras. Seu texto mais influente, escrito em 1963, é: GARCIA, José Villagran. Teoria de la Arquitectura . México: UNAM, 1981. JUAN O'GORMAN – O’Gorman, com grande influência de Le Corbusier, projetou em 1929 a casa e estúdio dos artistas Diego Riveira e Frida Kahlo. Como Rivera, dedicou-se à pintura e ao muralismo, com motivos nacionalistas, tal qual o realizado para o aeroporto da Cidade do México (1937/1938). Gradativamente abandonou o funcionalismo dos primeiros anos em favor de uma expressão pitoresca e orgânica, como a utilizada no exterior da Biblioteca da Universidade Nacional Autônoma do México (1953). Ver: RODRIGEZ, Prampolini Ida. Juan O'Gorman, arquitecto y pintor. México: UNAM, Instituto de Investigaciones Estéticas, 1983. Escuela Nacional de Arquitectura Museo y Instituto Superior de Arte – Ciudad Universitaria UNAM Escuela de Ingenieros de Guadalajara, foi o fundador da Escola de Arquitetura na mesma cidade (1948), onde foi professor de Teoria da Arquitetura, Geometria Descritiva e Análise de Programas. Realizou igualmente uma série de projetos urbanos, praças e jardins na Cidade. Ver: GONZÁLEZ CORTAZAR, Fernando. Tres arquitectos mexicanos, en México en el arte T. 4, México: Instituto Nacional de Bellas Artes, 1984. ALBERTO TERUO ARAI ESPINOZA – Filho de embaixador japonês no México, dedicou-se à filosofia e à abordagem social da arquitetura com influência racionalista de Villagran Garcia. Foi um dos fundadores da União os Arquitetos Socialistas (1938) e projetou, no mesmo ano, duas obras não executadas: a Confederação dos Trabalhadores Mexicanos e a Cidade Obreira do México. Viveu no Brasil, Chile, Peru e Espanha. Ver: DRAGO QUAGLIA, Maria Teresa. Alberto Teruo Arai Espinoza. Su Obra y propuesta teórica. Disponível em: Acesso em: 03 jul. 2011. 23h 47min. HANNES MEYER – De origem suíça, frequentou a Kunstgewerbeschule Basel e a Kunstgewerbeschule Berlin, ligado ao partido Comunista, diretor da Bahaus, de 1928 a 1938, período de recrudescimento na ideologização da escola, realizou projetos na Alemanha e, posteriormente, na União Soviética, de 1930 a 1936. Sua principal obra é a Bundesschule des allgemeinen Deutschen gewerkschaftsbundes (Escola Federal da União dos Trabalhadores Alemães – 1928-1930). Trabalhou no México com Villagran Garcia e outros, em muitos projetos, como o concurso para o Centro Esportivo Espanhol (1942). Promoveu o Instituto de Planificación y Urbanismo, inspirado na experiência da Bauhaus, de onde foi demitido pela tendência progressista e substituído por Mies Van der Hoe. Para conhecer o pensamento de IGNACIO IGNACIO DIAZ MORALES – Engenheiro-arquiteto, formado com Barragán na Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 55 ALBERTO CRUZ COVARRUBIAS – Prêmio Nacional de Arquitetura do Chile em 1975, fundador do Instituto de Arquitetura da P.U.C.V. em Valparaíso (1952), junto com o poeta Godofredo Iommi (1917-2001), escultor Cláudio Girola (1922-1994) e os arquitetos Miguel Eyquem Astorga (trabalhou com Jean Prouvé e projetou a Escuela de Arquitectura y Diseño de la P.U.C.V.), Francisco Méndez, Jaime Bellalta, José Vial, Fabio Cruz Prieto (1927-2007), e Arturo Baeza (1927-1981). Sua produção tem conexões com a poesia, a filosofia, as artes e o meio ambiente, arquitetura em um enfoque extremamente humanista. Ver seu livro: CRUZ COVARRUBIAS, Alberto. Don arquitectura. Santiago: Ediciones ARQ de la Facultad de Arquitectura, Diseño y Estudios Urbanos, Universidad Católica de Chile, 2002. JUAN KURCHAN – No ano em que terminou o curso na Unversidad de Buenos Aires (1937), viajou a Paris, onde colaborou, no estúdio de Le Corbusier, no Plano Diretor para Buenos Aires. No ano seguinte, formou com Ferrari e Bonet o Grupo Austral e desenhou com ambos a Cadeira BKF, para o projeto de Bonet na rua Suiupacha. Foi diretor de urbanismo da cidade de Buenos Aires (1952). Com Ferrari, realizou edifícios de primeira linha da vanguarda moderna na América Latina, como os edifícios nas ruas O’Higgins (1938) e Virrey del Pino (1941) em Buenos Aires. Ver: LIERNUR, José Francisco; PSCHEPIURCA, Pablo. La red austral: obras y proyectos de Le Corbusier y su dicípulos en la Argentina (1924-1925). Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 2008. JORGE FERRARI HARDOY – Descendente da família investidora do edifico na rua Virrey del Pino, Ferrari trabalhou com Kurchan junto a Le Corbusier e Pierre Jeanneret. Alguns autores atribuem o desenho da cadeira BKF a Ferrari, o que teria sido manifestado por Bonet e Kurchan no Tercero Salón de Artistas Decoradores de Buenos Aires (1940). Ver: LIERNUR, José Francisco; PSCHEPIURCA, Pablo. La red austral: Obras y proyectos de Le Corbusier y us dicípulos em la Argentina (1924-1925). Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 2008. WILLI AMANCIO WILLIAMS – Nasceu em Buenos Aires, Argentina, fez três anos de Engenharia na Universidad de Buenos Aires, interrompeu o curso, dedicou-se à aviação e mais tarde retornou à mesma universidade para concluir Arquitetura, em 1941. Williams, desde estudante, filiou-se à ideia de associar o conhecimento científico e a técnica a serviço da sociedade, construindo uma carreira essencialmente dedicada à investigação de sistemas espaciais impregnados de racionalidade e essencialismo: “Trabalhar com toda liberdade no espaço, operar livremente as três dimensões, buscar na técnica sua expressão verdadeira, trabalhar com sentido de unidade, fazer obras de síntese, trabalhar com o sentido do permanente”. Em 1947, viajou à Europa para visitar Le Corbusier, intensificando troca de correspondências que fortaleceram uma relação de amizade, a ponto de através de o mestre ter-lhe sido oportunizada a publicação de projetos na Europa. Assim como Le Corbusier, Williams estruturou seu escritório como um ateliê-escola, realizando trabalhos e investigação em design, arquitetura, urbanismo, planejamento, tecnologia e artes. Seus projetos mais conhecidos e influentes são a Casa sobre el Arroyo, Mar del Plata (1943-45), uma verdadeira casa manifesto, Sillón – Versión Moderna de un mueble Popular (1943), Aeropuerto de Buenos Aires (1945), edifício suspendido de Oficinas (1946), Planeamiento Regional del Delta (1947), Transformacion de una manzana en la ciudad de Córdoba (1948), Monumento del primero Congreso Mariano Interamericano (1960), Departamento en la Calle Pereira (1948), Uma nueva Bóveda Cascara (19521952), Laboratorio en la Calle Juncal (1965), La Ciudad que necesita la Humanidad (1974-1989), entre outros. Ver: WILLIAMS, Cláudio. Amancio Willams. Buenos Aires: Donn , 2008. CLORINDO MANUEL JOSÉ TESTA – nasceu em Nápoles e naturalizou-se argentino. Graduou-se pela Universidad de Buenos Aires, em 1948. Iniciou a carreira de engenharia naval; posteriormente passou para engenharia civil e finalmente arquitetura. Tomou conhecimento da obra de Le Corbusier no final da graduação, sendo profundamente influenciado pela obra e pensamento do mestre, especialmente do período brutalista. Recém-formado, inspirado nas teorias de Le Corbusier, integrou-se ao órgão municipal Oficina de Estudio del Plan de Buenos Aires, onde trabalhou com Hardoy, Ferrari, Bonet e Ernesto Nathan Rogers, que periodicamente assessorava o grupo. O pensamento realista de Rogers posteriormente influenciou a obra madura de Clorido Testa e sua inclinação ao Pós-modernismo. Após duas viagens à Europa, a partir de 1949, ingressou na pintura, motivado pelo conhecimento das obras de Ucello, Boticelli, Balla, Boccione, Klee, Picasso e Modigliani. Inclinado à vanguarda e à insubordinação de valores, Testa, mesmo hoje, com 88 anos de idade, situa-se na vanguarda artística, conforme atestam suas recentes obras de arte e arquitetura, como o projeto para a Ciudad Cultural Konex, em Buenos Aires (2003). Suas principais obras, dentro do período estudado neste trabalho, são: Banco de Londres (1959-1966), uma das obras de Arquitetura Moderna mais importantes da América Latina; Biblioteca Nacional (1962), cuja metáfora artística com o Cliptodonte foi narrada na conferência realizada por Clorindo Testa, em Porto Alegre, nos anos 1990; Casa di Tella (1968) e Hospital Naval Central (1970). Ver: DIEZ, Fernando. Clorindo Testa. Buenos Aires: Donn, 1999. HORÁCIO BALIERO – Nascido em Buenos Aires, integrante do Grupo OAM (Organização de Arquitetura Moderna) e fundador da Editora Nueva Visión, trabalhou com Ferrari, Kurshan e Bonet. Teve grande liderança local, apesar de não ser muito conhecido fora do contexto regional. Como docente da FADU, tanto quanto como arquiteto de ofício, assim como Justo Solsona (1931), influenciou seus contemporâneos e colaboradores, como Mariano Clusellas, ainda nas gerações atuais, com seus escritos e produção laboral, em particular o Cemitério de Mar del Plata (1962). Filiou-se ao brutalismo moderno, em particular alinhado com a arquitetura paulista de Villanova Artigas. Para mais sobre suas obras e biografia, ver: DAITCH, Aida. Baliero. Buenos Aires: FADU, 2006. Para conhecer sua análise da Arquitetura Moderna e contemporânea, ver: BALIERO, Horácio. La mirada desde el margen. Buenos Aires: FADU, 1993. ma rgen MARIO ROBERTO ALVAREZ – Principal representante da Arquitetura Moderna de caráter universal e abstração formal na Argentina e um dos maiores nomes da Arquitetura Moderna Latino-americana, mais recentemente foi reconhecido internacionalmente. Formou-se com medalha de ouro na FADU da Universidad de Buenos Aires, em 1938, e foi detentor do prêmio Ader (concedido aos melhores da universidade), viajou à Europa em 1939. Mario Roberto, por razões econômicas, mas também ideológicas, distanciou-se do meio acadêmico, o qual lhe delegou certo ostracismo, dedicando-se ao exercício do ofício por mais de setenta anos e à produção de uma centena de projetos de altíssima qualidade média. Talvez um dos melhores representante da arquitetura do mercado imobiliário americano, realizada a partir do sentido comum, mas com consistência formal e rigor, produziu projetos no tecido urbano, representativos de uma arquitetura moderna qualificadora da paisagem urbana recorrente, assim como edifícios excepcionais para programas especiais, dentro de certo controle formal, clareza construtiva e intelecção visual precisa. A arquitetura de Mario Roberto Alvarez ilustra, com 56 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Introdução representatividade, a Arquitetura Moderna produzida nos anos 1950 e 1960, particularmente na região meridional latino-americana, da qual Fayet, Araújo e Moojen, de alguma maneira, são credores. Ilustram bem esta afirmação alguns projetos de Alvarez, como os recorrentes Casa d´Abrollo (1947-1948), Edificio de Viviendas, calle Humberto (1948-1950), Casa Podesta (19541956), Edificio de Viviendas, calle Pousadas (1957-1958), Casa Mergherian (1958-1970), Edificio de Oficinas, calle Pelegrini (1963-1965), e os programas especiais Centro Sanitario (1948-1950), Centro Cultural San Martin (1953-1960), Nuevo Banco Italiano (1957-1958), Bank of America (1963-1965), Centro de Investigaciones Cientificas y Tecnicas de las Fuerzas Armadas (1963-1965), Belgrano day School (1964-1966), Clinica San Luis (1964-1966), Laboratório Enfermidades virósicas y Laboratório carnes INTA (1965-1967), Planta de Equipos Eletrônicos Ken Brown (1966-1968), em particular o Edificio Somisa (1971-1978), outra obra referencial, assim como, mais recentemente, o Edifício American Express (1985-1988). Para mais sobre a obra de Alvarez, ver: PIÑON, Hélio. Mario Roberto Alvarez. Barcelona: ETSAB/UPC, 2002. ENRICO TEDESCHI – Teórico italiano vinculado às correntes organicistas e ao pensamento de Benedetto Croce e Bruno Zevi. Para saber mais sobre seu pensamento, ver: TEDESCHI, Enrico. Una Introdución a la história de la arquitectura . Tucumán: Universidad Nacional de Tucumán, arquitectura quite 1951 e TEDESCHI, Enrico. Teoria de la arquitectura. Buenos Aires: Nueva Visión, 1962. arquitectura JOSÉ LUIS ROMERO – Historiador portenho, engajado às correntes progressistas e ao pensamento dos franceses Lucien Paul Victor Febvre (1878-1856) e Fernand Braudel (1902-1985). Sua principal publicação, de 1976, resenhada por Montaner em seu livro, é: ROMERO José Luís. Latinoamérica: Las ciudades y las ideas. Buenos Aires: Siglo XII Editores, 2001. CARLOS RAÚL VILLANUEVA – Filho de diplomatas, nasceu em Londres e cursou, desde a escola básica até o curso de arquitetura, a Ecole de Beaux Arts de Paris. Com sólida formação acadêmica, retornou à Venezuela, passando antes uma temporada de trabalho nos E.U.A., em 1928, para iniciar uma intensa carreira como arquiteto, urbanista, artista, escritor e promotor do meio artístico, em diversas fases da evolução de seu pensamento, iniciada com uma etapa eclética, de elementos arquitetônicos mouriscos, coloniais, e grande influência acadêmica. A partir da casa Los Manolos (1934), engajou-se definitivamente no Movimento Moderno. Ganhou o Grand Prix na Exposição Internacional de Artes e Técnicas da Vida Moderna, em Paris (1937) com o pavilhão da Venezuela. Em 1938, incorporou-se à Direção de Urbanismo do Governo do Distrito Federal, participando da elaboração do Plano Regulador de Caracas. Projetou a Escola Gran Colombia (1939-1942), a reurbanização de El Silencio (1941-1945), a primeira (1944-1948), e segunda (1949-1951) etapas da Cidade Universitária de Caracas, a Casa Caoma (1951-1952), Unidade Residencial El Paraíso (1952-1954), Faculdade de Arquitetura (19541957), urbanização Dos de Deciembre (1955-57), Igreja Asunción (1957), Casa Sotavento (19571958), ampliação do Museu de Belas Artes de Caracas (1968-1977), pavilhão Venezuelano na Exposição de Montreal (1966-1967) e o Museu Jesus-Soto (1970-1973), entre outros. Protagonista do Plano Nacional de Habitação, em 1951 fundou a Sociedad Venezuelana de Arquitectos, sendo o primeiro presidente e, conjuntamente com Posani, em 1953, criou a primeira revista de arquitetura da Venezuela: Hombre y Expresión. Montaner destaca que, em seu texto La Sintesis de las Artes (1965), “o autor da Praça Coberta da Cidade Universitária, com obras abstratas e cinemáticas, escreve com clarividência e razão sobre a integração das artes. Repassa e comenta a obra de Gaudí, O’Gorman, Burle Marx e Joaquim Torres Garcia, propõe o desenho industrial italiano como o exemplo contemporâneo de integração de arte e indústria”. Ver: MONTANER, Josep Maria. Arquitectura y crítica en Latino-América . Buenos Aires: Nobuko, 2011. p. 77. Para as obras, ver: Latino- VILLANUEVA, Paulina; PINTÓ, Marcia. Carlos Raúl Villanueva. Basel / Birkhäuser: Publisher for Architecture, 2000. JUAN PEDRO POSANI – Historiador e crítico de Arquitetura, publica periodicamente nos jornais venezuelanos. Professor de História da Arquitetura e Projeto desde 1959, foi fundador do Museu de Arquitetura de Caracas. Segundo Montaner, “elaborou uma teoria arquitetônica com a vontade de sintetizar o pensamento marxista com as interpretações regionalistas, exigindo da arquitetura moderna rigor funcionalista, versatilidade para adaptar-se ao meio ambiente e respeito pela arquitetura colonial”. Ver: MONTANER, Josep Maria. Arquitectura y crítica en Latino-América . Buenos Aires: Nobuko, 2011. p. 77. LatinoFERNANDO BELAUDE TERRY – Foi presidente do Peru em duas oportunidades: entre 1963 e 1968, quando foi derrubado por um golpe militar, e entre 1980 e 1985. Filho de embaixadores, formou-se no Texas. No Peru foi um dos importantes pioneiros da Arquitetura Moderna: fundou a revista El Arquitecto Peruano (1937-1977), criou a Sociedad de Arquitectura (1937) e incorporou-se ao ensino na faculdade de Engenharia para impulsionar a criação do Departamento de Arquitetura (1948) e a Faculdade, em 1950, de que foi diretor. Como presidente, promoveu políticas de habitação no país. Ver: MONTANER, Josep Maria. Arquitectura y crítica en Latino-América . Buenos Aires: Nobuko, Latino2011. p. 78. MIRÓLUIS JOSÉ ANTONIO MIRÓ- QUESADA GARLAND – Teórico fundacional do pensamento moderno no Peru e autor de vários livros, afinados ao pensamento de Gidion e Zevi, Quesada investigava a fusão do universal da Arquitetura Moderna com a cultura autóctone do Peru. Rechaçava claramente a ideia de ruptura com o passado e a arquitetura moderna como estilo formal alheio à cultura. Ver: CHIURINOS, Utia. Luis Miró Quesada Garland y la modernidad en arquitectura. In: SÓRIA, José Ignacio López. MOQUILLAZA, Isaac Cazorla. RODRÍGUEZ, Valencia (Orgs.). Construyendo el Perú: Aportes de ingenieros y arquitectos. Lima: Universidad nacional de Ingenieria. UNI: Proyecto Historia, 2001. p. 209-224. Sua principal obra é: QUESADA, Luis Miró. Espacio en el tiempo: arquitectura como fenomeno cultural. Lima: Compañia de Impresiones y Publicidad, 1945. HÉCTOR VELARDE BERGMANN – Também filho de diplomata, viveu no Brasil e cursou Arquitetura na École Lemania, em Lucerna e École de Travaux Publicdu Batimen et de Industrie, de Paris.Trabalhou no estúdio de Victor Laloux (autor da Gare D' Orsay). De volta ao Peru, após uma estada em Washington acompanhando o pai, ingressou como professor de História na Escuela Nacional de Bellas Artes e assumiu cátedra na Universidad Nacional de Ingeniería. Ainda atuou na Pontíficia Universidad Católica do Perú. Velarde praticou uma arquitetura continuamente eclética, conectada à sua formação Beaux-Arts, mas no campo teórico teve prolífera produção, destinada aos estudantes e leigos, cujos fundamentos contribuíram para a evolução da arquitetura conectada à tradição do país e valeram-lhe relações de amizade e contatos com Josep Luis Sert e Gidieon. Ver: VILLACORTA S. Luis. Hector Velarde (1898Disponível em: . Acesso em: 02 jul. 2011, às 15h 43min. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 57 EMILIO HARTH-TERRÉ – Formado em Engenharia Civil em 1922 e em Arquitetura em 1925, HARTHocupou cargos públicos ligados à arquitetura, em diversas cidades do Peru e foi professor de História da Arquitetura, na P.U.C.P. e na E.N.B.A. Praticava uma arquitetura neocolonial e produziu uma série de textos de cultura e arquitetura, entre eles o teórico referencial, citado por Montaner, Formas Estéticas, para o curso de Teorias Estéticas da Universidad Nacional Federal Villareal. Ver: SYRA, Álvarez Ortega. La formación en arquitectura en el Perú, antecedentes, inicios y desarrollo hasta 1955. Lima: Universidad Nacional de Ingeniería, 2006. p. 79. JORGE ARANGO SANÍN – Estudou no Chile e na Colômbia. Posteriormente, foi aluno de Walter Gropius, em Harvard, com bolsa do governo americano. Com Carlos Martinez, publicou, em 1951 e 1963, o Arquitectura en Colombia, marco inicial da propagação da Arquitetura Moderna no meio. Em Bogotá, foi chefe da Dirección de Edificios Nacionales del Ministerio de Obras Públicas e manteve sua atividade de projetos ativa, realizando projetos para Bogotá, Caracas, Califórnia e Miami, onde se estabeleceu em 1958 e fundou o Estudio Arango. Foi casado com a irmã da mulher de Marcel Breuer e mantinha contato com Charles Eames, Eero Saarinen e Philip Johnson. Foi professor na Universidad Nacional de Colombia e na Berkeley University. Para ver seu livro basilar: MARTÍNEZ, Carlos; ARANGO SANÍN, Jorge. Arquitectura en Colombia 1946-1951. Bogotá: Ediciones PROA, 1953. 1946CARLOS MARTINEZ – Arquiteto e historiador, formado na Ecole du Travaux Publiques e no Institut de Urbanisme em Paris, nos anos 1920. A partir de 1934, dedicou-se à docência, investigação e ao exercício profissional na Colômbia. Ver: PEREZ, Fabián Gabriel. Introdución a la segunda edición revisada y ampliada. In: FONTANA, Pia Maria; MAYORGA, Miguel Y.; ARIS, Carlos Martí; PIÑON, Hélio. [Re] visión Colombia arquitectura moderna . 2. ed. Barcelona: Edicións ETSAB, 2006. p. 45. JULIO AGUSTIN VILAMAJÓ ECHANIZ – Natural de Montevidéu, teve sólida formação acadêmica na UDELAR: influenciado pelo ensino de José Pedro Carré (1870-1941), concluiu o curso em 1915. Detentor do Grand Premio de la Facultad de Arquitectura, já como professor adjunto da UDELAR, após longo planejamento, realizou estudos em urbanismo e arquitetura na França e na Espanha, entre 1921 e 1924, onde realizou propostas urbanísticas para Montevidéu, influenciadas pelo monumentalismo de Haussman, recebidas com restrição pela academia. Após a estada na Europa, professor destacado na universidade, Vilamajó realizou mais de cinquenta projetos em Montevidéu, derivando entre uma arquitetura de influência acadêmica, com rasgos expressionistas, como o projeto para o Estádio de Futebol do Clube Peñarol (1934), e uma arquitetura moderna, assim como Lúcio Costa, flertando com o vernacular, como na Vila Serrana (1947). Sua obra mais emblemática é a Facultad de Ingenieria y ramas anexas, realizada no mesmo ano do MES, no Brasil (1936), com esquema funcional semelhante à organização da Bauhaus e filiação a um esquema formal severo e brutalista, assim como sua própria casa (1930), com grandes panos texturizados, em concreto aparente. Neste caso, é um dos marcos da Arquitetura Moderna no Uruguai. Conjuntamente com Oscar Niemeyer, foi um dos dois sul-americanos convidados a realizar propostas para a sede da ONU, em Nova York (1947) . Ver: LUCCHINI, Aurelio. Julio Vilamajó, su arquitectura . Montevidéu: UDELAR, 1970. Para uma análise mais profunda e filosófica da obra e pensamento de Vilamajó, assim como sobre sua inserção no Movimento Moderno no Uruguai, ver a tese doutoral de Juan Gustavo Scheps (1954), atual decano da Faculdade de Arquitetura da UDELAR e autor do projeto de readequação da sala de máquinas da Faculdade de Engenharia, premiado no segundo Prêmio Mies Van der Hoe para América Latina. Ver: SCHEPS, Gustavo. 17 registros. Montevidéu: UDELAR, 2009. MAURICIO CRAVOTTO (1893-1962) – graduado na Facultad de Arquitectura de la Universidad de la Republica (1917), dedicado ao urbanismo, realizou o Plano Diretor de Montevidéu (1930), que não foi implantado, e ganhou o concurso para o Plano Diretor de Mendoza, Argentina (1941), do qual também participava uma equipe liderada por Le Corbusier. Projetou o Palácio Municipal da capital uruguaia (1930-1962), além do Montevidéu Rowing Club (1923) e do Hotel Rambla (1931), também o interessante projeto para a fábrica de cigarros Barrera Hnos de 1930, e sua própria casa, construída em frente à do amigo e rival, Julio Vilamajó, na Avenida Sarmiento, junto à Faculdade de Arquitetura da UDELAR, de nítida influência wrigthiana, assim como o palácio municipal. Cravotto exercia certa liderança no campo do urbanismo moderno, no Cone Sul latino-americano, com uma visão que se situava a meio caminho entre o racionalismo e a tradição, tendo sido professor de Demétrio Ribeiro, Ubatuba de Farias e Edvaldo Pereira Paiva, do qual tornou-se amigo, simpatizante político e sócio em alguns planos urbanos no Sul do Brasil. A influência das teorias de Cravotto e, principalmente, seus métodos de análise urbana tiveram significativa influência no trabalho de Paiva, no Plano Diretor de Porto Alegre dos anos 1950-1960 e, posteriormente, em Moojen e Fayet. Ver: FOLLE-CHAVANES, Eduardo. 18893Mauricio Cravotto 18893-1962. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 1994. RAUL A. SICHERO BOURET – nasceu em Rivera, fronteira com o Brasil, e viveu parte de sua infância em Curitiba. Ingressou na FA/UDELAR em 1936 e terminou o curso em 1942. Foi aluno de Vilamajó e Gómez Gavazzo, o principal divulgador das ideias de Le Corbusier no meio. Fez projetos associado com Antoni Bonet Castellana (edifício Bahia, em Punta de Leste, 1955), e Mario Roberto Alvarez (edifícios Pez Espada, Tiburón I, Tiburón II, 1979-1981 e Portofino, 1992, também em Punta del Este). Seu projeto mais emblemático, o edifício Panamericano, em Pocitos (1960-1964), entre Pocitos e Puerto del Buceo, assim como o Pedregulho de Reidy, no Rio de Janeiro, é parte de uma estratégia urbana maior, filiada à visão conceitual de Le Corbusier, proposta para as respectivas cidades. Para um panorama da obra de Sichero, ver: PIÑON, Hélio. Raúl Raúl Sichero. Barcelona: Ediciones UPC, 2002. ANTONI BONET CASTELLANA – Catalão, formado pela ETSAB, onde entrou em 1929, iniciou sua carreira junto a Josep Lluis Sert (1902-1983), Torres Clavé (1906-1939), entre 1932 e 1934, e integrou o grupo GATCPAC (Grup d'Arquitectes i Tècnics Catalans per al Progrés de l'Arquitectura Contemporània), conjuntamente com Ricardo Churruca, Sixto Illescas, Ricardo Ribas, José Luis Sert, Manuel Subiño, José Torres Clavé e Juan Bautista Subirana. Bonet, em 1933, realizou a viagem no Patris II, rumo a Atenas, onde se celebrou o IV CIAM, conjuntamente com Le Corbusier, Alvar Aalto, Gideon e Cornelius Van Essteren. Em 1936, viajou a Paris e passou a colaborar no estúdio de Le Corbusier. Ali conheceu HardoyFerrari e Kurshan, no ano em que Le Corbusier veio ao Brasil para sua última série de conferências e colaboração nos projetos brasileiros; no mesmo ano também concluía a Casa de Week-end e a primeira versão da Casa Jaoul. Com a Guerra Civil Espanhola (1937-1939), em que morreu Clavé, Sert migrou para os E.U.A e Bonet para a Argentina (1938), onde, com Ferrari e Hardoy, fundou o Grupo Austral, associação fundacional da Arquitetura Moderna na Argentina, da qual fizeram parte Amancio Williams, Mario Roberto Álvarez, Horacio Vera Ramos, Abel López Chas, Samuel Oliver, José María Pastor, Simón Ungar e Federico Peralta Ramos, entre outros. O trabalho de Bonet na região do Prata é representativo deste diálogo pioneiro entre contextos iberoamericanos na propagação do Movimento Moderno no Cone Sul Americano. Em Buenos Aires, Bonet projetou a Casa de Estudios para Artistas, com Horacio Vera Ramos y Abel López Chas (1938), para onde a 58 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Introdução cadeira BKF foi criada, constituindo marco inicial da Arquitetura Moderna Corbuseriana na região. Projetou também, em Buenos Aires, as Casas Martínez (1941) e o conjunto urbanístico de Casas Amarillas (1943), conjuntamente com Amancio Williams e Eduardo Sacriste. Também os edifícios Terrazas Palace (1957), conhecido como “caixa registradora”, Galeria Rivadavia (1957) e Galeria de Las Américas (1958), em Mar del Plata. Em 1945, projetou a casa La Gallarda, do poeta Rafael Alberti em Punta del Este. Contratado pela família catalã Lussich, trasladou-se para Punta Ballena e projetou o balneário Portozuelo em Maldonado, no Uruguai (1945), bem como o Parador La Solana del Mar (1946), as casas Berlingieri (1947), Quatrecasas (1947), Casa Booth (1947-1948) e a Casa Riconada (1948), cuja cobertura em abóbodas foi calculada por Eládio Dieste e apresenta-se como marco inicial das abóbodas de tijolos realizadas por este. Antes de voltar à Espanha, em 1963, projetou a Capela de Soca (1960) e o Banco del Plata (1963). A presença e projetos de Bonet, portanto, são cruciais no ingresso deste segmento da Arquitetura Moderna no Uruguai e, a partir daí, de acordo com Luccas, parte da contribuição uruguaia a Porto Alegre. "Antonio Bonet colocouse como mais uma rota alternativa das premissas corbusianas e de outras vanguardas europeias rumo ao Novo Mundo. A recuperação de sua trajetória expõe os caminhos, às vezes acidentais, da transmissão do conhecimento e das ideias na arquitetura, como o encontro de Dieste com as abóbadas que o consagraram. Sabe-se que o próprio Le Corbusier já havia lançado suas sementes quase uma década antes de sua chegada, quando proferiu as palestras baseadas na apologia às máquinas, às formas puras, à racionalidade e à salubridade, nas quatro cidades sul-americanas, em 1929. Entre as repercussões menos conhecidas da obra de Bonet, figuram duas experiências realizadas por profissionais uruguaios na cidade de Porto Alegre: uma delas tácita, a partir de Dieste; a outra subliminar, através da provável influência de suas obras em Punta Ballena sobre Fresnedo Siri". Ver: LUCCAS, Luís Henrique Haas. Antonio Bonet e a arquitetura do Cone Sul: o exemplo de Punta Ballena. Vitruvius, São Paulo. Arqtextos, 087.04, ano 08, ago. 2007. Disponível . em: . Acesso em: 05 jul. 2011, às 22h 14min. ELÁDIO DIESTE nasceu em Artigas, Uruguai e estudou engenharia na UDELAR. Sobrinho do poeta Rafael Dieste, apreciava a literatura e as artes tendo orbitado o grupo de Torres García, amigo da família. Reconhecido como um home religioso, diversos autores atribuem à esta condição a "qualidade espiritual" do projeto de suas igrejas, como a de Atlântida (1960) e São Pedro em Durazno no Uruguai (1971). Conjuntamente com o engenheiro Eugênio Montañez, criou a empresa Dieste & Montañez que realizou um considerável número de obras no Uruguai, Brasil e Espanha, disseminando o sistema formal e construtivo de suas investigações no campo da cerâmica armada, cujas raízes estão profundamente relacionadas com a idéia de inventividade e sofisticação na construção de pouco recursos economicos do Uruguai e do contexto latino-americano. Tendo iniciado carreira sob influência de Antoni Bonet Castellana, para o qual realizou o cálculo das abóbadas da Casa Berlingieri, desenvolveu suas investigações com base na construção histórica, realizadas com tijolos, como as igrejas de Toulouse no sul da França, as quais o jovem Dieste visitou. Seu sistema arquitetônico teve grande impacto na região, em especial no sul do Brasil através das obras realizadas conjuntamente com Fayet, Araújo e Comas. Ver: ANDERSON, Stanford. Eládio Dieste: Um construtor com principios éticos e morais. Disponível em: < http://www.vitorlotufo.com.br /imagens/2008/12/dieste2.pdf> . Acesso em : 31 jul.2012 às 17:45h. Ver também: COMAS, Carlos Eduardo; BOHRER, Glênio; CANEZ, Anna Paula. Arquiteturas cisplatinas Porto Alegre: UniRitter, 2004. TORRECILLAS, cisplatinas. Antonio Jimenéz (Org.). Eládio Dieste 1943- 1996. Sevilha: Junta de Andalucia, 1996. 1943- Referências Referênc ias de figuras das Resenhas Biográficas JOSÉ VILLAGRAN GARCIA - JUAN O'GORMAN - IGNACIO DIAZ MORALES - HANNES MEYER - FÉLIX CANDELA - LUIS RAMIRO BARRAGAN MORFIN: EMILIO DUHART - ALBERTO CRUZ COVARRUBIAS - JUAN KURSHAN - JORGE FERRARI HARDOY - < http://thenorthelevation.blogspot.com.br/2010/08/icons-marcel-breuer-bkf-butterfly-chair.html> AMANCIO WILLIAMS - CLORINDO MANUEL JOSÉ TESTA - HORÁCIO BALIERO - MARIO ROBERTO ALVAREZ - CARLOS RAUL VILLANUEVA - JUAN PEDRO POSANI - JOSÉ QUESADA GARLAND - FERNANDO BELAÚNDE TERRY - HÉCTOR BERLADE BERGMANN - JORGE ARANGO SANÍN - JULIO VILAMAJÓ - MAURICIO CRAVOTTO - Acervo FAM RAUL SICHERO - ANTONI BONET CASTELLANA - ELÁDIO DIESTE - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 59 Figuras da Capa: De cima para baixo: Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, Fachada Oeste, Carlos M. Fayet, Claudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Claudio Araújo), 1962, Canoas-RS. Fonte: Foto João Alberto da Fonseca. Acervo FAM. Refinaria Alberto Pasqualini REFAP, Petrobras, Refeitório. Carlos M. Fayet, Claudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962 Canoas-RS. Fonte: Foto João Alberto da Fonseca. Acervo FAM. Plano Diretor de Porto Alegre, Nova versão para o Projeto da Praia de Belas, Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet e Moacyr Moojen), 1961, Porto Alegre-RS. Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954-1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre-RS. Edificio FAM, Fayet, Araújo & Moojen, 1964, Porto Alegre-RS. Fonte: Foto Guilherme Werle, Acervo FAM. Contra-Capa: Figuras da Contra - Capa De cima para baixo: Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962 Canoas-RS. Fonte: desenho Sergio M. Marques, 2010. Plano Diretor de Porto Alegre, Projeto da Praia de Belas, Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS. Desenho Acad. Caroline Valicente, B.I. C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012, Acervo FAM. Edifício FAM, Fayet, Araújo & Moojen, 1964, Porto Alegre-RS. Fonte: Desenho Sergio Marques 2010, Acervo FAM. 60 Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior - PDSE - CAPES FAYET, ARAÚJO & MOOJEN ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL - 1950/1970 Volume 2 Capítulo I - F_A_M Fayet Faculdade de Arquitetura - UFRGS Rua Sarmento Leite, 320 /201 90050-170 Porto Alegre/RS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ARQUITETURA Fone/Fax: 55 51 3316-3485 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA - PROPAR ppgarq@vortex.ufrgs.br TESE DE DOUTORADO Orient. Carlos E. D. Comas/ Co-Orient. Hélio Piñon Sergio Moacir Marques F CAPÍTULO I FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I CAPÍTULO I F_A_M FM, AM, FA, AF, AM, MF, MA dedicado à arquitetura moderna em Porto Alegre . No entanto, o correlacionamento do contexto sul-brasileiro com a região meridional sulamericana ainda é tema menos explorado e, mesmo recentemente, com o incremento de intercâmbios e contatos acadêmicos crescentes desde os anos 1980, através da UFRGS, e nos 1990, da FAU-UniRitter, a investigação das relações e paralelismos, em particular da arquitetura moderna, ainda é 2 incipiente . Nesse sentido, sem pretender esgotar o tema, amplo e complexo, nem desenvolvê-lo de forma desproporcional aos objetivos deste trabalho (centrados na visão contextual através do projeto e da obra dos arquitetos em estudo), convém breve e sumaríssimo panorama deste cenário, em particular do meio cultural uruguaio, relevante nas ligações regionais gaúchas, além de Rio de Janeiro e de São Paulo, com algumas relações fundamentais, que 3 eventualmente servirão como ponto de partida para futuras investigações . 1 LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do "gênio artístico nacional". [Tese de doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura]. OLIVEIRA, Rogério da Castro (Orient.). Porto Alegre: FA-UFRGS, 2004. 2 Em termos acadêmicos, o exame da arquitetura moderna latino-americana e seus paralelismos, desde o ponto de vista panorâmico, salvo os Seminários de Arquitetura Latino-Americana – SAL, realizados desde 1985, ainda têm sido realizados com mais amplitude e regularidade, desde a Europa, em especial, dadas as afinidades pessoais e institucionais já consolidadas na Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona de la Universidad Politécnica de Cataluña – ETSAB/UPC, e em particular no Master en Teoría y Historia de la Arquitectura do Departamento de Composición Arquitectónica, no âmbito da arquitetura latino-americana, promovido por Fernando Victorino Alvarez Prozorovich e Josep Maria Montaner, oferecido até recentemente, e também no Programa de Doutorado La Forma Moderna, do Departamento de Proyectos Arquitectónicos, coordenado até o momento por Hélio Piñon e Teresa Rovira, responsáveis pelo Grupo de Pesquisa FORM – Arquitectura de Investigación, do Laboratório de Arquitectura ESTAB/UPC, com um número significativo de publicações documentais sobre a arquitetura moderna latino-americana. Ver, por exemplo, o catálogo da exposição: LLOBERA, Teresa Rovira; GASTON, Cristina (Orgs.). Arquitectura moderna en America Latina – 1950-1965. Barcelona: Ediciones UPC, 2007. E America também a coleção: LLOBERA, Teresa Rovira (Org.). Documentos de arquitectura moderna en América Latina – 1950-1965. Barcelona: Ediciones UPC, – Tomo 1 (2004), Tomo 2 (2005), Tomo 3 (2006), Tomo 4 (2007). E por fim: LLOBERA, Teresa Rovira (Org.). Vivienda social moderna . México 1947-1967. Barcelona: Ediciones UPC, 2009. Em termos nacionais, com caráter panorâmico e documental, a mais ampla é a publicação: SEGAWA, Hugo. Arquitectura latino americana contemporánea. Barcelona: Gustavo Gilli, 2005. Sobre o meio uruguaio, das contemporánea investigações locais se pode citar: MILANEZ, Maria Isabel Marocco. Arquitetura reativa. O Caso de Montevidéu - UY. [Dissertação de mestrado]. OLIVEIRA, Rogério de Castro (Orient.). Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2002; WEIZENMANN, Jamile Maria da Silva. A arquitetura de Román Fresnedo Siri (1938-1971). [Dissertação de mestrado]. PEREIRA. Cláudio Calovi (Orient.). Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2008; e GAETA, Júlio César. Arquitetura e cidade – o caso da Rambla de Pocitos de Montevidéu. [Tese de doutorado]. MAHFUZ, Edson da Cunha (Orient.) Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2009. 3 Para uma visão consistente, em termos de conformação cultural do território sul-americano e suas relações com Europa, ver: FERNÁNDEZ, Roberto. El laboratorio americano. Arquitectura, geocultura y regionalismo. Madrid: Biblioteca Nueva, 1998. Da mesma forma, desde o ponto de 1 Fig. 1 - Fayet, Araújo e Moojen. Desenhos de Moacyr Moojen Marques, 2010. Rio Grande do Sul e Uruguai na Cena Meridional Paralelos Platinos (1678-1960) A inserção do Rio Grande do Sul no panorama histórico-cultural brasileiro é tema vasto e tem sido abordado de maneira aprofundada por diversos autores. O correlacionamento deste cenário com a arquitetura na região, em particular com o desenvolvimento da arquitetura moderna, dadas as pesquisas realizadas no meio acadêmico citadas na introdução, igualmente já oferece material substancial para uma visão ampla, como já citado anteriormente, dentro dos pressupostos deste trabalho, o texto de LUCCAS, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 61 A região meridional brasileira geograficamente integra – conjuntamente com Uruguai, Argentina e Chile – a área compreendida entre os paralelos 30º e 34º, ocupada por cidades de significativa expressão cultural e econômica na 4 América Latina, como Montevidéu , capital do Uruguai (paralelo 34°), Buenos 5 6 Aires , capital da Argentina, (paralelo 34°), Santiago do Chile , capital do país (paralelo 33°) e igualmente por cidades, assim como Montevidéu, de porte 7 8 semelhante a Porto Alegre (paralelo 30°), Rosário (paralelo 32°) e Córdoba vista da conformação de cultura sul-americana, no âmbito da modernidade, ver: LIERNUR, Jorge Francisco. Trazas de futuro – episodios de la cultura arquitectónica de la modernidad en América Latina. Santa Fé: Universidad Nacional del Litoral, 2008. 4 Fundada em 1724, sede administrativa do Mercosul, maior cidade do Uruguai, tem aproximadamente 1,4 milhões de habitantes e 1,7 milhões incluindo a região metropolitana, o que perfaz metade da população do país. Um pouco mais ao sul que Buenos Aires, é a capital mais austral latino-americana. Segundo o International Mercer of Human Resource, tem sido, na última década, a capital latino-americana de maior qualidade de vida, e a 76ª do mundo, sendo uma das trinta cidades mais seguras. Está a 180 km de Buenos Aires, com intensa ligação aquática, a 868 km de Porto Alegre e 1.984 km de São Paulo. Disponível em . Acesso em 18 abr. 2011 às 19h30min. 5 Fundada em 1536, terceira maior aglomeração urbana da América Latina, com 13 milhões de habitantes, tem a segunda maior região metropolitana, perdendo apenas para São Paulo. Distrito Federal autônomo (não integra a província de Buenos Aires), incorporou, no final do século XIX, as cidades de Belgrano e Flores. Capital cultural latino-americana, foi categorizada “Cidade do Design” pela UNESCO em 2005. Segundo o international Mercer of Human Resource, é considerada a segunda capital latino-americana com maior qualidade de vida, atrás de Montevidéu, e a 78ª do mundo. Está a 1.048 km de Porto Alegre e 2.203 km de São Paulo. Disponível em . Acesso em 18 abr 2011 as 15h18min. 6 Fundada em 1541, maior cidade do Chile, tem aproximadamente 5,5 milhões de habitantes, cerca de 40% da população do país, distribuídos em 640 km². Assim, é a sétima cidade latino-americana mais habitada, a segunda maior metrópole em extensão territorial da América Latina e umas das quarenta e cinco maiores áreas metropolitanas do mundo. Segundo o international Mercer of Human Resource, é considerada a terceira capital latino-americana com melhor qualidade de vida, atrás de Buenos Aires, e a 81ª do mundo, com a 53ª colocação em termos de receita econômica (PIB de U$ 91 bilhões em 2005), graças fundamentalmente ao setor terciário. Está a 2.408 km de Porto Alegre e 3.510 km de São Paulo. idem 7 Situada na província de Santa Fé, na Argentina, em uma área de 178,69 Km², a 306 km de Buenos Aires, 401 km de Córdoba e 1.330 km de Porto Alegre, possui em torno de 1 milhão de habitantes na cidade e 1,2 milhões na conurbação. Fundada em 1663, a partir do século XIX era conhecida informalmente com a Chicago Argentina, pelo desenvolvimento e arquitetura. A região, denominada Pampa Úmido, com uma planície ondulante, é local estratégico de passagem e deslocamento entre diversas regiões, com importante relação econômica através do Rio Paraná. O clima é composto, classificado como pampa temperado, com quatro estações do ano bem definidas, como o de Porto Alegre. 8 Capital da província de Córdoba, segunda maior cidade da Argentina em população, fundada em 1573, às margens do Rio Suquia, tem uma população aproximada de 1,3 milhões na cidade e 1,4 milhões na região metropolitana, distribuída em uma área de 576 km². Distante 713 km de Buenos (paralelo 31°), na Argentina, e ainda outras menores, como Santa Fé (paralelo 10 32°) e Mendoza (paralelo 32°), no mesmo país, de dinâmica cultural e urbana particulares. Esse circuito – apelidado de “Banana” Latino-americana, graças ao traçado em meia-lua, que inicia em São Paulo e termina em Santiago do Chile, passando por Porto Alegre, Montevidéu e Buenos Aires – caracteriza o principal eixo de relações culturais entre o Brasil e os países do Cone Sul-americano, com os quais Porto Alegre detém relações de proximidade geográfica e afinidades históricas, ainda que sem relações de influências profundas, nem trocas culturais constantes e sistemáticas, mas paralelos significativos com a arquitetura moderna produzida no sul latino-americano. Neste quadro, por razões históricas, geográficas e culturais evidentes – cujas macrorrazões igualmente não cabe aprofundar aqui, já que o tema também é prescindido por inúmeros estudos multidisciplinares – as conexões e paralelismos do Rio Grande do Sul com Uruguai são universo central em termos meridionais. O Uruguai, desde a chegada dos primeiros colonizadores europeus 11 no início do século XVI , foi território de disputas entre as coroas portuguesa e espanhola que se prolongaram até o século XIX através do Brasil Imperial e das Províncias Unidas do Rio da Prata, atual República Argentina. Em 1679, a Coroa portuguesa enviou expedição para ocupar e fortificar posição estratégica nas margens do Rio da Prata, ocasionando a fundação da Colônia do 12 Santíssimo Sacramento na margem oposta a Buenos Aires. No ano seguinte, 9 Aires, 1.454 km de Porto Alegre, 2.343 km de São Paulo e 857 km de Montevidéu, tem importante patrimônio jesuítico e cultural, como a Manzana Jesuítica, patrimônio mundial pela UNESCO (2000) e a Universidade Nacional de Córdoba (1613), a mais antiga da Argentina. 9 Capital da província de Santa Fé, fundada em 1573, tem 400 mil habitantes distribuídos em uma área de 65 km². 10 Capital da província homônima, fundada em 1561, tem baixa população, com aproximadamente 110 mil pessoas na cidade de 54 km², no entanto, em torno de 900 mil na região metropolitana, perfazendo a quarta maior da Argentina. A região semidesértica, no pé da cordilheira dos Andes, tem clima árido continental, propício à produção de vinho e azeite, principais produtos da região. Está a 1.050 km de Buenos Aires, 670 km de Córdoba, 890 km de Rosário, 930 km de Santa Fé e aproximadamente 2.100 km de Porto Alegre. 11 Logo após as primeiras viagens ao atual território brasileiro, a Coroa portuguesa organizou expedições, como a comandada por Martim Afonso de Souza (nobre e militar português que fundou a primeira vila do Brasil, em 1532, chamada Vila São Vicente, no planalto onde está localizada São Paulo), para, a pretexto de dar continuidade ao processo de colonização, consolidar a presença portuguesa no Rio da Prata. CHAUNU, Pierre. História da América Latina São Paulo/Rio de Latina. Janeiro: DIFEL, 1979. 12 A expedição foi capitaneada pelo capitão-mor da capitania do Rio de Janeiro, D. Manoel Lobo (1678-1679) e financiada por comerciantes cariocas interessados em expandir seus negócios com a América Espanhola. 62 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 13 1950/1970 Capítulo I a colônia foi conquistada por espanhóis de Buenos Aires e índios , até a 14 devolução aos portugueses em 1681, mediante tratativas diplomáticas , desrespeitadas por Espanha em 1683. quando nova ocupação militar se 15 sucedeu até 1715 . O interesse português, além da expansão territorial de suas colônias americanas, consistia em garantir o canal mercantil oferecido pelo Rio da Prata, de produtos como algodão, tabaco e açúcar brasileiros em troca da prata 16 originária principalmente do Peru . A condição de “cabeça de ponte” ocupada pela Colônia de Sacramento motivava o incremento da ligação terrestre à região sul do Brasil, em especial Santa Catarina e São Paulo, o que implicava a incorporação do atual território uruguaio ao domínio português e, portanto, ao Império Brasileiro. A Espanha reagia apoiando o estabelecimento dos jesuítas na região dos Sete Povos das Missões, a refundação da cidade de Montevidéu (1726), destruída pelos portugueses três anos antes, assim como o povoamento das áreas interiores do Uruguai, tentando isolar Colônia. Após cerco de dois anos por forças espanholas, em 1737, a Coroa portuguesa forçou um armistício e enviou nova expedição para fortalecer o sul do Brasil, fundando a Colônia do Rio Grande de São Pedro, hoje cidade de Rio Grande, e 17 tentou reconquistar Montevidéu . Em 1750, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madrid, trocando a Colônia do Sacramento pela região dos Sete Povos das Missões – o que 18 induziu a Guerra Guaranítica . Dadas as dificuldades na demarcação de terras Comandados pelo Governador de Buenos Aires, Marcos José de Garro Senei de Artola (1623– 1702), importante militar espanhol que ocupou diversos cargos de comando em Tucumán, Chile, Gibraltar e no País Basco. 14 Tratado provisional de Lisboa, assinado em 7 de maio daquele ano, devolvia a posse aos portugueses, mas impedia o crescimento da colônia, principalmente com construções fortificadas. 15 A esquadra portuguesa encarregada de dominar a fortaleza de São Gabriel cedeu a Nova Colônia do Sacramento aos espanhóis, que voltaram a dominar o ponto estratégico até 1715. Nesta data, foi devolvida aos portugueses pelo segundo tratado de Utrech. 16 Igualmente o interesse do Império Britânico, enfraquecido pela perda das colônias no oriente, em explorar as regiões mineiras hispano-americanas, associado aos interessas da burguesia portuguesa, cuja Coroa se alinhou com a grande aliança formada por Grã-Bretanha, Paises Baixos, Áustria e Prússia contra Espanha e França, no contexto da Guerra de Sucessão Espanhola (17011713). 17 A expedição foi comandada pelo Brigadeiro José da Silva Pais (1679-1760), recorrente combatente dos espanhóis na região Sul e hábil construtor de fortificações, como o Forte Jesus, Maria, José, fundacional da vila original de Rio Grande, e o sistema de fortificações da ilha de Santa Catarina (Florianópolis). 18 Com a recusa dos índios Guaranis, apoiados pelos Jesuítas, em sair da região para o outro lado do Rio Uruguai, conforme determinado pelo tratado, explodiram violentos conflitos entre nativos aliados a missioneiros contra as duas Coroas, reunidas pelo acordo. A guerra durou três anos e 13 envolvidas na troca e os conflitos, o tratado foi sendo substituído por outros sucessivos, em intervalos de tempo recheados por novos conflitos, invasões e reconquistas, acirrados tanto pelas disputas regionais, quanto pela 19 movimentação política e alianças entre as nações europeias . Finalmente, o tratado de Badajoz, em 1801, durante as guerras napoleônicas, delegou a Portugal os territórios conquistados, inclusive a região das Missões, fixando a fronteira sul na linha de Quaraí, Jaguarão e Chuí. Entretanto, Portugal ocupou 20 toda a região do Uruguai em 1811 e anexou-a ao Brasil em 1821 . Com a iniciativa de anexação da Província Cisplatina e a criação do Império brasileiro em 1822, proclamado por D. Pedro I, estabeleceram-se negociações diplomáticas com o governo das Províncias Unidas do Rio da Prata que, em 1825, redundaram em conflitos armados na região de Colônia, motivados por espanhóis da província desejosos de independência, apoiados pelos argentinos. O recrudescimento dos confrontos levou à declaração de guerra por D. Pedro I ao governo de Buenos Aires, iniciando a Guerra Cisplatina ou Guerra del Brasil, como chamavam os castelhanos. Por três anos, a guerra devolvia à região avanços e retiradas de ambas as partes, tanto em Colônia do Sacramento como na Região das Missões mais uma vez. O Império Britânico, tradicionalmente interessado no comércio da região, entabulou sucessivas intermediações, de sucesso relativo até 1828, quando se realizou a Convenção Preliminar da Paz, cessando as hostilidades e estabelecendo o reconhecimento de independência da província, firmado no tratado do Rio de Janeiro, que criava o Uruguai. Entre o desejo brasileiro de estabelecer a fronteira sul no Rio da Prata e o argentino de manter monopólio, o interesse comercial britânico, prejudicado pela guerra, favoreceu a criação de um território neutro e a consolidação das divisas no sul do Brasil. Assim, grosseiramente se pode dizer que o Brasil, ao tentar conquistar o território do Uruguai, criou o Rio Grande do Sul e, ao defender o território do Rio Grande do Sul, criou o Uruguai. terminou em 1756, na Batalha de Caiboaté, na qual morreu o célebre líder Guarani, Capitão Sepé Tiaraju. 19 A Espanha voltou a invadir a Colônia do Sacramento em 1762, devolvendo no ano seguinte mediante o Tratado de Paris. Porém, invadiu-a novamente em 1777, e simultaneamente a Ilha de Santa Catarina. Um novo Tratado, o de Santo Ildefonso, no mesmo ano, dentro de diretrizes do Tratado de Madrid, cedia a Colônia do Sacramento, território das Missões e parte do Rio Grande do Sul à Espanha em troca da Ilha de Santa Catarina, tratado que igualmente não chegou a se efetivar. 20 A invasão e anexação ocorreram no momento em que D. João VI veio com a Corte portuguesa ao Brasil, fugindo da expansão europeia de Napoleão Bonaparte, e constituiu o Reino Unido com Brasil, Portugal e Algarves. Sua esposa, Carlota Joaquina, descendente dos Bourbon de Espanha, seria o elo para a criação de uma monarquia no Rio da Prata. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 63 O pequeno país, segundo menor da América Latina (atrás apenas do Suriname em termos de menor território), desenhou-se dentro dos limites geográficos do rio Uruguai a oeste, o Rio da Prata a sudoeste e o Oceano Atlântico a sudeste, mantendo fronteira terrestre com o Rio Grande do Sul a norte. Extensão natural do atual território sul-brasileiro, as condições mesológicas são bastante semelhantes às gaúchas, com clima temperado de temperaturas extremadas no verão e inverno, marcado na paisagem por planícies e colinas (coxilhas) dos Pampas, que avançam até a Argentina, onde por vezes sobe, desde a cordilheira e Patagônia, em direção ao norte, o vento frio chamado de Pampero pelos uruguaios e Minuano pelo gaúchos. De tradição agrícola e produção bovina, semelhante ao Rio Grande do Sul, no Uruguai, que chegou a ser conhecido como la gran estância, folclore e tradicionalismo em torno do personagem el gaucho são igualmente coincidentes. Desde o século XIX até a década de 1960, no entanto, o Uruguai gozou ciclos de prosperidade como centro financeiro e de negócios, trocando a alcunha campeira pela de “Suíça Latino-Americana”, com índices de desenvolvimento comparáveis às nações europeias, especialmente no desenvolvimento social, pioneiro em termos de avanços culturais e educacionais, cujo legado fundamentou gerações de sólida formação 21 intelectual, talvez o principal patrimônio uruguaio . No entanto, a economia de base agrícola entrou em crise nos anos 1970, acompanhada das crises políticas latino-americanas que assolaram todo o continente. Essa distinção do Uruguai em termos culturais reflete-se no marco da arquitetura e urbanismo, com mais vigor entre os anos 1920 e 1950, quando a decadência do modelo cultural e político eurocêntrico e a crise da Primeira Guerra Mundial contribuíram para o questionamento dos fundamentos academicistas importados desde a Ecóle de Beaux-arts de Paris, em todo continente, estimulando reformas universitárias, como a realizada em Córdoba – Argentina, em 1918. O ensino de arquitetura no Uruguai – em particular o ensino de história, com especial interesse nas correntes nacionalistas que redundaram nos movimentos neocoloniais – além do início de investigações e teorias geradas no continente sul-americano – onde Maurício Cravotto e Júlio 22 Vilamajó fazem paralelo a Gregori Varchavshik e Lúcio Costa, no Brasil – criaram, na região do Prata certo protagonismo renovador que, mesmo sem fazer jus a uma vanguarda como a brasileira, provocou em Le Corbusier, quando de sua visita em 1929, a observação: “os uruguaios estão na vanguarda, enquanto que a dois passos dali, em Buenos Aires, até estes últimos anos, a arquitetura estava metida na segurança da caixa forte dos 23 estilos” . A Faculdade de Arquitetura da República foi criada em 1915, desmembrada da Facultad de Matemáticas y Ramas Anexas, um ano depois da 24 formação da Sociedad de Arquitectos e respectiva revista Arquitectura . Logo buscava raízes para uma arquitetura nacional, em um marco americano, o qual se voltava para a arquitetura colonial, Espanha, norte da África e a arquitetura produzida pelos norte-americanos da Califórnia, que “souberam criar uma arquitetura absolutamente própria, baseando-se na mais pura tradição clássica, mas não a imitando servilmente, e sim adaptando seu espírito e seus métodos e 25 agregando todos os aperfeiçoamentos do conforto moderno” . Agrega ao 26 movimento nacionalista regional o gosto tradicionalista intenso na Argentina , o abolengo, presente até hoje também no sul do Brasil, mas que logo apresentou 27 seus sinais de esgotamento . Maurício Cravotto e principalmente Júlio Vilamajó, antes de aderirem ao movimento moderno, afinaram-se, enquanto estudantes e jovens profissionais, com as ideias nacionalistas. No entanto, esses jovens LE CORBUSIER. Cuando las catedrales eran blancas. Buenos Aires: Poseidon-Apostrofe, segunda parte, capítulo IV. 1948. 24 A escola se organizou inicialmente sob a liderança do francês José Pedro Carré, egresso da Ecóle de Beaux Arts de Paris, vindo da França em 1907, especialmente contratado como catedrático do Curso de Arquitetura. Carré era discípulo de J. L. Pascal, que detinha proximidade com Guadet, e através deles interesse em Labrouste e no racionalismo francês. Carré gozava entre os alunos, apesar da sólida formação acadêmica, da fama de investigador aberto e interessado em inovações, assim como René Karman, que liderou o ensino de taller na escola de Buenos Aires. Ver: ARANA Mariano; GARBELLI, Lourenzo. Arquitectura renovadora en Montevideo: 1915 – 1940. Montevidéu: Fundación de Cultura Universitária, 1991. p. 12. 25 LERENA ACEVEDO, Raul. Sobre arquitectura colonial. Comentarios a um artículo del arquitecto Christophersen. Revista Arquitetcura, n. 33, Montevidéu, 1921. In: ARANA Mariano; GARBELLI, Lourenzo. Arquitectura renovadora em Montevideo: 1915 – 1940. Montevidéu: Fundación de Cultura Universitária, 1991. p. 18. 26 Na Argentina, o movimento cultural de restauração nacionalista foi liderado por Martín Noel, autor da casa Charrua na província de Córdoba (1917). Em 1932, Noel proferiu cinco conferências na Faculdade da República sobre arquitetura pré-colombiana e protovirreinal, evidenciando a penetração do pensamento nacionalista. Ver: Revista Arquitectura, Montevidéu, n. 177, 1932. 27 Leopoldo Carlos Agorio, decano da Faculdade da República de 1928 a 1934, em artigo de 1926, criticando o movimento, apontava: “nestes momentos [...] os valores artísticos em arquitetura sofrem uma profunda revisão e uma depuração tão radical como a história não há presenciado outra. [...] Nossa arquitetura não pode afastar-se muito das modernas correntes. Pouco a pouco, na medida que nossos problemas se eliminem, iremos nos aproximando delas”. Revista Arquitectura, Montevidéu, n. 101, 1926. p.12. 23 Nas últimas décadas, com as crises no sistema financeiro internacional e a flutuação dos preços das exportações agrícolas, mesmo sendo o comércio exterior desta produção sua principal atividade comercial, o Uruguai exporta também recursos humanos e conhecimento. No meio da arquitetura, informalmente se diz que a melhor contribuição uruguaia ao mundo não é a arquitetura, mas os próprios uruguaios e sua formação. Hoje o país também é o maior produtor e exportador de softwares da América do Sul. 22 Alunos – conjuntamente com Surraco, Amargós e Scasso – do professor Arquiteto Carré. 21 64 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I docentes, gradativamente, acompanhando as transformações culturais, territoriais e tecnológicas da Europa e as interpretações iniciais latinoamericanas do Movimento Moderno, iniciaram o constructo de suas sólidas carreiras e lideranças no meio, a partir de canônicos episódios, cujos paralelos 28 brasileiros são frequentes : a referencial ida de Le Corbusier, em 1929, a Montevidéu, no mesmo ano da não tão mencionada visita de Eugene Steinhof, que posteriormente foi contratado para organizar o Curso de Arquitetura da 29 Escola de Engenharia da UFRGS; a criação do Grande Prêmio , que facultou a viagem de três anos a Cravotto assistindo aos cursos de Urbanismo de León 30 Jaussely ; a experiência de Rodolo Amargós trabalhando no atelier de Peter 31 Behrens e Carlos Gómez Gavazzo (1904-1987) no estúdio de Le Corbusier; e 32 ainda a difusão da revista Arquitectura , principal veículo de circulação de ideias no contexto. AGÓRIO, nestes tempos de transição e afirmação do Movimento Moderno no Uruguai, cita referências que podem ser classificadas de igualmente transitórias, integrantes de movimentos laterais, como o expressionismo alemão, o Wendingen holandês e a secessão vienense: São altos valores, entre outros, R. Otsberg, autor do palácio Municipal de Estocolmo, o vienense Hoffman, Peter Behrens, Diretor da Escola de Especialização de Viena, Van de Velde, os Holandeses Dudok, B. T. Boeyinga, Oud e H. P. Berlage, os franceses Mallet Stevens, A. e G, Perret, Henri Sauvage, Patout e sobretudo Tony Garnier [...]. Na Alemanha, Bruno Taut, Poelzig, 33 Holzmeister e Mendelson. O tradicional professor Carré entrou em contato com a arquitetura moderna europeia em 1928 em viagem a Europa. A Escola, neste mesmo ano incorporou os jovens professores Agório, Cravotto, Scasso Rius, Amargós e Surraco. 29 Concurso realizado entre os arquitetos recém-formados, cujo prêmio era uma viagem à Europa, no qual a primeira edição foi vencida por Cravotto, em 1918, que realizou viagem aos E.U.A e Europa. Ver: CRAVOTTO. Maurício. Monografias Elarqa n. 2. Montevidéu: Editorial dos Puntos, Elarqa, 1995. 30 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 31 "Segundo RIBEIRO, quem representou e divulgou as ideias do modernismo funcionalista da Carta de Atenas entre os professores uruguaios foi o arquiteto Gomes Gavasso, também professor do Curso de Arquitetura de Montevidéu, que vai manter, pelas décadas de 1950 e 1960, muitos e frequentes contatos com os arquitetos e professores de Porto Alegre". Testemunho oral – Depoimento do arquiteto Demétrio Ribeiro, Porto Alegre, 10 de junho de 2002. In: ALMEIDA, Maria Soares de. Transformações urbanas – atos, normas decretos, leis na administração da cidade, Porto Alegre: 1937-1961. [Tese de doutorado]. São Paulo: FAU USP, 2004 32 Revista editada pela Sociedad de Arquitectos, circulou de 1914 a 1940, com mais de 200 números. 33 In ARANA Mariano. GARBELLI, Lourenzo. Arquitectura renovadora em Montevideo: 1915 – 1940. Montevideo: Fundación de Cultura Universitária, 1991. p. 24. Relação visível, por exemplo, nas raízes wrigthianas do projeto da Prefeitura de Hilversum (1928-1938) de Willem Marinus Dudok (1884/1974) e o Palácio Municipal de Montevidéu (1935/1941) de Maurício Cravotto (Fig.2). 28 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Fotos Sergio Marques, 2011, 2010 Fig. 2 - Da esquerda para a direita - Raadhuis, Prefeitura de Hilversum, Willem Marinus Dudok, 1928/31. Palácio Municipal de Montevidéu, Maurício Cravotto, 1935-41. Pode se dizer, no entanto, que esses nomes, em comum, abordavam de maneira introdutória os temas da abstração e um sentido universal da arquitetura, onde manifestação sintética se expressa na vertente neoplasticista, em especial holandesa, com a qual a vertente Uruguaia se conformaria logo a 34 seguir sob a influência artística do artista Joaquín Torres García (1874-1949) (Fig.4.1) e arquitetos como Mario Payssé Reyes e Garcia Pardo. A renovação, contudo, ainda circulava afirmativamente no ambiente acadêmico, com a criação da Cátedra de Trazados de Ciudades y Arquitectura Paisagística, de Maurício Cravotto, em 1922, na qual efetivamente se cultiva um território fértil para as ideias de Le Corbusier, advindas do Professor Carré, após seu exame pessoal da arquitetura moderna, que se explicitaria, depois da visita do mestre Corbu, no anteprojeto do Plano Regulador para Montevidéu, de Antônio Maurício Cravotto, e em projeto acadêmico de seu aluno, Gómes Gavazzo. O Plano Regulador de Montevidéu (Fig.3) foi impulsionado por um grupo formado por destacados cidadãos do meio industrial, bancário, comercial e político, sintonizados em uma ideia de modernização da cidade e sociedade através do urbanismo, portanto do meio privado e não do Estado, que logo a seguir associou-se à proposta. A partir de 1930, Cravotto desenvolveu o anteprojeto para a cidade de Montevidéu com teor, em todos os sentidos, Torres García é um personagem chave nas relações artísticas da arte e arquitetura abstrata, entre o continente europeu, Barcelona e o contexto platino. Sobre as relações da produção artística de Torres García e seu grupo, com a arquitetura ver: GOÑI, Ana Laura. Leccion 151 - El Taller Torres García: Transposiciones a la enseñanza contemporánea del Proyecto de Arquitectura. Montevidéo: Universidade de la República, Facultad de Arquitectura, 2008. Sobre sua biografia ver: TORRES GARCIA, Joaquín. Historia de mi vida. Montevidéu: Arca Editorial, 2000. 34 Sergio M. Marques 65 situado em uma condição de equilíbrio entre idealismo e realismo, relacionando o caráter investigativo e prospectivo em termos teóricos apresentados por Corbusier em conferências um ano antes, principalmente os da racionalidade e propostas específicas para as particularidades da cidade e seus meios de 35 viabilização, assim como os valores acadêmicos de composição . Entre Movimento Moderno e Tradição Acadêmica, Cravotto, além de sua formação em Paris com León Jaussely e interesse no urbanismo alemão e italiano de 36 entreguerras, através de contatos pessoais com Sartoris (1901/1998) e Werner 37 Hegemann (1881/1936) , trabalhou em um âmbito bastante condicionado pelo estado da arte europeia após a Primeira Guerra Mundial, quando, além da intensa atividade no campo do urbanismo da Alemanha e Itália fascista, o aporte fundamental vinha das elaborações teóricas da vanguarda holandesa, assim como os citados por Cravotto, grupos GATEPAC e GATPAC espanhóis e, evidentemente, o projeto para a Ville Contemporaine, para três milhões de habitantes, apresentado por Le Corbusier, assim como sua proposta para Montevidéu (Fig.4.1). Na região do Prata, portanto, a arquitetura moderna se desenvolveu com certa consistência cultural e histórica, ainda que se manteve dentro de determinadas reservas formais e abstração regional que, se por um lado não lograram representar de maneira explícita traços culturais particulares, distintos das manifestações centro-europeias e norte-americanas, por outro o compartilhamento daqueles valores conceituais, técnicos e formais, integrantes dos fundamentos de universalidade e abstração do Movimento Moderno, acabaram por forjar determinada produção, menos afeta a identidades vernáculas e mais adepta da indistinção que, amparada em rigor construtivo, controle formal e sofisticação visual, forjaram arquiteturas mais recorrentes e tecidos urbanos de qualidade consistente predominantemente, assim como no 38 sul do Brasil nos anos 1950 e 1960 . “O anteprojeto se situa, em um território intermediário entre a proposta ideal e a pré-figuração de uma operação de urbanismo concreta. É neste sentido que opta por um difícil nível intermediário. Nem olímpico, nem dionisíaco. Nem tributário de uma visão vanguardista e dogmática do racionalismo (que alguém logo chamará Movimento Moderno), nem adepto de um pitoresquismo característico das diversas alternativas que a arquitetura e urbanismo do entreguerras apresentavam naqueles anos.” SCHELOTTO, Salvador. El anteproyecto de plan regulador de Montevideo. In: CRAVOTTO, Maurício. Monografias Elarqa n. 2. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 1995. p. 32. Elarqa, 36 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 37 Idem. 38 LUCCAS atribui esta característica conservadora uruguaia à acentuada tradição acadêmica: "uma produção marcada pela obediência às prescrições externas – normativas legais, acadêmicas e convenções sociais – que resultou na sobriedade das formas contidas. O elevado nível médio atingido pode ser creditado a essa sólida base acadêmica e à contenção de uma prática que não se expunha a riscos: evitava-se a transgressão de regras compositivas convencionadas e a 35 Fonte: CRAVOTTO. Maurício. Monografias Elarqa, n. 2. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 1995. p. 31 Fig. 3 - Desenvolvimento de ideias para o Plano Regulador de Montevidéu, realizado nos anos 1930. Maurício Cravotto, 1932-1937. Fayet, Araújo e Moojen, tanto pela formalidade de suas obras quanto pelos procedimentos de projeto e ascendência cultural, sem dúvida, debitam boa parte de seu universo referencial tanto à arquitetura representativa da escola carioca, dos anos 1930/50 – permeada em solo gaúcho por representantes diretos – e arquitetura paulista dos anos 1950/60, quanto ao paralelismo e convivência com os uruguaios e em uma medida menor, com os argentinos, como descortina o panorama de suas biografias a seguir, especialmente no urbanismo. No entanto, igualmente parte significativa do traço cultural regional, com repercussões na maneira de proceder o projeto arquitetônico e exercício do ofício, com reflexos formais de certa profundidade na arquitetura dos três arquitetos, advém da coincidência histórica e geográfica, bem como das afinidades pessoais e ideológicas com o Uruguai, além das relações diretas de influência urbanística entre Montevidéu e Porto Alegre, assim deformação dos elementos de arquitetura, preservando os resultados". LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do "gênio artístico nacional". Alegre: [Tese de doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura]. OLIVEIRA, Rogério da Castro (Orient.). Porto Alegre: FA-UFRGS, 2004. p. 108. 66 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010 Fig. 4 - Edifício da Calle Arcos, Juan Molinos, 1965, Bairro Belgrano, Buenos Aires. como de referenciais arquitetônicos comuns, inclusive cariocas e paulistas. Da mesma forma, com a Argentina, as relações de troca são pontuais e episódicas, mas os paralelos e afinidades formais, promissores como revela o Edifício da Calle Arcos, de Juan Molinos (1965) (Fig.4)39, um pequeno edifício de apartamentos organizado segundo princípios formais bastante aparentados ao do edifício FAM, com fachada principal, descolada do térreo, integralmente vedada por sistema de venezianas móveis, estruturadas por peças verticais moduladas na organização da fachada, e faces laterais com alvenaria rebocada onde as aberturas compõem certo jogo geométrico de assimetrias. Por outro lado, no urbanismo, a partir de circunstâncias que envolveram diretamente Paiva, Ubatuba, Demétrio Ribeiro e Maurício Cravotto, as relações de influências e intercâmbio foram mais acentuadas como a repercussão na cultura local, com a criação do primeiro curso de urbanismo brasileiro no Rio Grande do Sul, cuja orientação inicial estava fortemente conectada às relações com o Uruguai. O exame dessas relações, influências e suas raízes, sugerido neste panorama meridional introdutório, está igualmente contido na análise das relações e projetos dos três arquitetos cujos episódios pessoais e arquitetônicos significativos são, em parte, ato contínuo. 39 Igualmente ao FAM, onde os autores vivem no edifício projetado, o arquiteto Juan Molinos (trabalhou com Luis y Alberto Morea), vive no 5° pavto. do edifício situado na Calle Arcos, 1357, Bairro Belgrano de Buenos Aires. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: CRAVOTTO. Maurício. Monografias Elarqa, n. 2. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 1995. p. 31. Fig. 4.1 - Acima, Joaquín Torres Garcia e o "Universalismo Construtivo", Montevidéu, 1943. Abaixo, proposta para Montevidéu, Le Corbusier, 1929. Sergio M. Marques 67 Paraju, Gravataí e Porto Alegre (1930-1953) F CARLOS MAXIMILIANO FAYET (1930-2007) 40 Carlos Maximiliano Fayet nasceu na localidade de Paraju, distrito de Domingos Martins – Espírito Santo, em 6 de junho de 1930, filho de Nambycahy Carajatée Fayet, gaúcho, e Gisela Salloker Fayet, capixaba, ambos descendentes de imigrantes europeus (Fig.6). Seu avô paterno, Carlos Adolpho 41 Boop Fayet , neto do primogênito João Jorge Fayet – que chegou em São Leopoldo em 28 de novembro de 1825, aos quinze anos, procedente de Lich, Hessen, Alemanha – se casou, em 1897, com Palmira Amanda Fontoura, 42 gaúcha de Livramento . Foi dela a escolha dos dois nomes de chefes indígenas dos Nambyquaras e Carajás para seu primeiro filho e dos das meninas Ydorilda 43 Juracy e Amaryntha Roselvada . 44 Seu avô materno, Maximiliano Salloker , nasceu em 1862, em Laibach, na Áustria; chegou ao Rio de Janeiro seguindo depois para a colônia Alemã de Santa Isabel, no Espírito Santo, em 1891. Em menos de seis meses, falava português e naturalizou-se brasileiro. Casou-se em 1893 com Sophia Simmer, a Filho de Theodoro Augusto K. Fayet (o sexto filho de João Jorge Fayet) e Guilhermina Boop Fayet. Foi funcionário da Viação Férrea, como chefe de estação, em vários municípios. Deixando a Viação Férrea, fixou-se em Porto Alegre, então vendedor da Cervejaria Boop, que pertencia aos parentes abastados; aposentado, mudou-se para Esteio em agosto de 1937. Araújo depõe que Seu Adolpho era Maçon e que, de certa forma, essa filiação também influenciou a relação com o neto. ARAÚJO, Cláudio Luis Gomes. Depoimento ao autor Gravação digital. Edifício FAM, 28 jul. 2009. autor. 42 Klaus Becker, no seu trabalho inédito “Os Alemães e a Revolução Farroupilha”, cita que o coronel Reformado Manoel Rabelo em ofício ao Presidente Brito, em 7 de fevereiro de 1837, fez sérias acusações aos Fayet: “[...] Guilherme e seu filho João Jorge Fayet consta-me também que foram sedutores dos colonos alemães deste lado do Rio dos Sinos (oriental) e muito influentes no partido dos rebeldes [...]”. “[...] O Fayet pai foi solto há pouco, mas com portaria do ex-presidente Araújo Ribeiro, o filho também estava preso nesta cidade de São Leopoldo”. BECKER, Klaus. Razões da participação dos alemães na Revolução Farroupilha. In: III colóquio de Estudos Teuto- Brasileiros Teuto-Brasileiros (1974). Porto Alegre: UFRGS, 1980. p. 495-501. 43 No batizado, ante a recusa do Padre de usar os dois nomes indígenas, o batizou como Luiz Nambycahy, e assim ele assinou por muito tempo, até conhecer o que constava em seu registro ao alistar-se no Exército. FAYET, Myrtha Sallocker. Entrevista. Depoimento ao autor. Cópia digitada, set. 2009. 44 Filho do médico Ludowig Salloker e Cristina Salloker. Foi comerciante e tornou-se em pouco tempo chefe político representante de Sapucaia (hoje Paraju-ES) como Governador, cargo equivalente a Vereador. Depois, como Presidente da Câmara, este equivalente a Prefeito, no período de 1904-1916, administrou o Município de Santa Isabel nos Governos de Henrique Coutinho e Jerônimo Monteiro. Foi o primeiro no Estado a introduzir em uma administração municipal o controle ambiental, ao determinar, em 1914, através de decreto, posturas ecológicas pela higiene dos quintais e da vila, bem como a defesa da natureza. Entusiasta do progresso, trouxe as primeiras abelhas africanas do Rio Grande do Sul, adquiriu arado, abriu estradas vicinais. (Ibid). Segundo Suzy, o Sr. Maximiliano foi assassinado por disputas políticas envolvendo o traçado de uma estrada. FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, 18 ago. Entrevista. 2009. 41 Fonte: Acervo Família Fayet Fig. 5 - Carlos M. Fayet, auto retrato, grafite sobre papel, 1948. Biografia escrita a partir de depoimentos de Suzy Brucker Fayet, viúva, e Myrtha Sallocker Fayet, irmã de Carlos Maximiliano Fayet, com depoimentos de Araújo, Moojen, Irineu Breitman e familiares. Ver: FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, 5 ago. 2009. FAYET, Entrevista. Myrtha Sallocker. Entrevista. Depoimento ao autor. Cópia digitada, set. 2009. 40 68 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Acervo Família Fayet vendia café, e casaram-se em fevereiro de 1928. Logo retornaram juntos ao sul, fixando residência em Porto Alegre. Posteriormente, já com a primeira filha Myrtha, retornaram a Vitória, ocasião em que nasceu Carlos Maximiliano, em 47 Sapucaia (hoje Paraju) . Designada em fevereiro de 1931 para a Escola de Muquiçaba, município próximo de Guarapari, a Professora Gisela, em maio de 1932, pede licença e afastamento para retornar com a família a Porto Alegre, onde seu diploma naquela época não era reconhecido, e, portanto, se dedicou 48 ao lar . Dona Gisela, nesta época, alfabetizou seus dois filhos. Acompanhava seus deveres de casa e os levava aos acontecimentos da cidade que considerava importantes, como anualmente as visitas aos presépios das igrejas católicas e outros eventos, sempre com o hábito de perguntar a opinião das crianças sobre o que viam. Em 1935, quando Carlos contava com cinco anos, 49 realizaram várias visitas à Exposição Farroupilha , com muitas noites dedicadas aos pavilhões, sempre estimulando as observações e opiniões das crianças (Fig.7). Precocidades, Vocações e Perseverança Fig. 6 - Gisela Salloker Fayet e Nambycahy Carajatée Fayet, final da década de 1920. quarta filha de Nicolau Willembrot Simmer e Catarina Effgen. Estava presente à instalação do Município e Governo de Santa Isabel e assinou a ata da sessão. Em 1903, construiu a casa que serviria de residência e comércio, até hoje conservada, onde nasceu sua filha Gisela, naquele ano, e posteriormente, em 1930, seu neto Carlos Maximiliano. Trouxe os primeiros professores, às suas expensas, vindos da Europa, e conseguiu o primeiro professor público 45 para o município . Enquanto as tarefas da casa se distribuíam entre as filhas mais velhas, Gisela acompanhava seu pai em passeios nos quais transcorriam 46 as conversas com amigos e políticos. Tendo passado a trabalho, como caixeiro viajante, comerciando café, por Santos e Rio de Janeiro em 1917 e Manaus em 1925, Nambycahy Carajatée Fayet seguiu para Vitória, e da Capital para Sapucaia (Paraju) em 1927. Conheceu a professora Gisela, filha do dono de uma casa comercial, que Suas filhas Cristina, Maria, Ludovica e Gisela, após formadas no Colégio do Carmo em Vitória-ES, iniciaram suas carreiras de magistério em distritos do Município de Santa Isabel. Um termo de visita do Inspetor de Educação do Estado registra Cristina em 1917, outro, em 1919, encontra a professora Gisela regente da Escola Mista de Sapucaia, com apenas 16 anos. FAYET, Myrtha Sallocker. Entrevista. Depoimento ao autor. Cópia digitada, set. 2009. 46 Alfabetizada primeiro em alemão, o domínio da língua estrangeira lhe ajudou mais tarde, quando designada em 1939, para a Escola Rural de Santa Maria de Jequitibá. Ibid. 45 Carlos ingressou no Colégio Bom Conselho, em Porto Alegre, em 1935, para cursar o primário, inicialmente matriculado no primeiro ano atrasado. Logo foi conduzido pelas freiras alemãs ao primeiro ano adiantado, para, em seguida, 50 passar direto ao segundo ano, dada sua precocidade . Mais tarde, quando ele e a irmã já estavam internos no colégio e internato Dom Feliciano, em Gravataí – RS, havia uma prova extra que possibilitaria aos aprovados fazerem exame de admissão ao ginásio. Carlos passou, mas como a idade ainda não alcançava a exigida por lei, foi impedido de continuar. São seus padrinhos de batismo o Desembargador João Manoel de Carvalho e sua esposa Dona Mariinha Navarro de Carvalho. Ibid. Nesta época, Seu Nambycahy havia se afastado do comércio e ingressado no Tribunal de Contas do Estado; era colega de Wanda Paes Bianchi, mãe de Maria Ivone Bianchi Marques, esposa de Moojen. FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, 18 ago. 2009. Entrevista. 49 Emblemática exposição comemorativa dos 100 anos da Revolução Farroupilha, com a construção de monumental parque de exposições no Parque Farroupilha, cuja arquitetura fortemente influenciada pelo expressionismo teve grande impacto na arquitetura no sul. Ver: FROTA, José Artur D’Aló. A Permanência do Transitório. Preservação, Permanência e Transitoriedade: algumas reflexões sobre a arquitetura da Exposição Comemorativa do Centenário Farroupilha de 1935 em Porto Alegre. ARQtexto ZERO Porto Alegre, 1º semestre 2000. p. 13-21. ZERO, 50 “Apaixonado por aviação, Carlos insistia em ver no cinema filmes com aviões, mesmo à noite, na segunda sessão, depois de prometer à mãe, Dona Gisela, que ambos os filhos fariam os deveres após a volta tarde para casa. Assim, em algumas ocasiões, ele rapidamente completava não só os deveres dele como os da irmã”. Ibid. 48 47 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 69 Com a separação dos pais, em 1941, foi interno no ginásio Cruzeiro do Sul, concluindo em 1944, enquanto a irmã Myrtha retornou a Vitória com Dona Gisela, em uma viagem complicada em face do momento de guerra. Por ocasião da formatura no ginásio da filha Myrtha, em 1946, Seu Nambycahy foi a Vitória e a trouxe a Porto Alegre para rever o irmão e a família paterna. Nesta oportunidade, Dona Gisela achou melhor que ela permanecesse e continuasse seus estudos em Porto Alegre, onde cursou o científico no colégio Júlio de Castilhos e o Bacharelado e Licenciatura em Matemática na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. . Com o jeito para desenho que o filho sempre demonstrara, Nambycahy Carajatée Fayet procurava novidades na Livraria do Globo, tanto livros como 51 objetos de desenhar, compassos e esquadros . Carlos cursou o científico igualmente no Júlio de Castilhos, o “Julinho”, que contava com professores de prestígio em ambiente tradicional e altamente politizado. Ao mesmo tempo, fazia o curso de Artes Plásticas no Instituto de Belas Artes, IBA-RS, em Porto 52 Alegre, que também contava com notáveis professores . Neste período, trabalhava à noite na Folha da Tarde, fazendo análise de corridas de cavalos, 53 charges e outros biscates . Esse curso e a vivência estudantil determinaram a escolha pelo Curso de Arquitetura do IBA. Normalmente não havia necessidade de cursos preparatórios para passar nos vestibulares das universidades, bastavam algumas aulas que os próprios professores se propunham a dar para recordar tópicos do programa. Carlos contava que, em janeiro, em aula do 51 FAYET, Myrtha Sallocker. Entrevista. Depoimento ao autor. Cópia digitada, set. 2009. Moojen relata que o pai de Fayet era homem interessado em consertar coisas e bastante autoritário. Lembra que, durante os trabalhos da Petrobrás, deu uma carraspana em Fayet por ter acendido um cigarro na sua frente. Araújo entende que Fayet tinha dificuldades de relacionamento com o pai, que faleceu de diabetes. ARAÚJO, Cláudio Luis Gomes. Depoimento ao autor Gravação digital. Edifício FAM, autor. 28 jul. 2009. MARQUES, Moacyr Moojen. Depoimento ao autor Gravação digital. Edifício FAM, 21 autor. jan. 2009. 52 Realizou prova de admissão e foi aprovado para o Curso de Artes em fevereiro de 1945, portanto com 15 anos incompletos. Formou-se em pintura em 1948, mesmo ano em que ingressou na Arquitetura, tendo sido aluno de José Lutzemberger, Ernani Correa e Fernando Corona. O Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul, IBA-RS, foi criado em 1908, já com Arquitetura e Artes Aplicadas à Indústria previstas entre suas competências no estatuto publicado em 22 de agosto de 1908, no jornal a Federação. Ver: SIMON, Círio. Origem do Instituto de Artes da UFRGS. [Tese de doutorado]. Porto Alegre: PUC-RS, 2002. 53 Segundo Suzy, nesta época Fayet morava com o pai na Rua Marcílio Dias e, com uma energia invejável, depois do trabalho ainda passava em bares para encontrar amigos, muitas vezes perdendo o último bonde e retornando a pé para casa. No entanto, o hábito da boêmia, no início do Curso de Arquitetura, acompanhado de Radomsky, Zubaran e Marcus Heckman, levou, no primeiro ano do Curso de Arquitetura, à reprovação em cálculo, a primeira em sua vida. FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, 18 ago. 2011. Entrevista. Fonte: Acervo Família Fayet Fig. 7 - Carlos M. Fayet e Myrtha Sallocker Fayet, Porto Alegre, por volta de 1935. Julinho, atento ao professor Abílio, de biologia, que discorria sobre carotenos , se deu conta que decidira fazer o vestibular para Arquitetura, ingressando em 54 54 Os carotenos são pigmentos orgânicos encontrados nas plantas e microrganismos como algas e fungos. São essenciais para a vida e nenhum animal pode sintetizá-los, por isso devem ser ingeridos na dieta. 70 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I 1948 no Curso de Arquitetura do Instituto de Belas Artes quando este já 55 realizava seu quarto ano de existência . No ambiente acadêmico, como já era de sua natureza, rapidamente assumiu funções e logo participava intensamente de toda a vida estudantil, 56 colocando-se seguidamente em posições de liderança . Foi sócio fundador da Associação Araújo Porto Alegre – AAPA, em 1947, sendo posteriormente eleito 57 presidente da instituição, de 1951 a 1953 . Em 1948, colaborou com a comissão de organização do II Congresso Brasileiro de Arquitetos. A realização do Congresso em Porto Alegre estava associada aos esforços de estruturação do ensino, da profissão e da própria arquitetura no Estado, coincidente com a afirmação do Movimento Moderno, do qual também é ato contínuo a criação do Departamento do Rio Grande do Sul, do Instituto de Arquitetos do Brasil e a 58 própria Faculdade de Arquitetura . No mesmo ano, já estava na direção da Em 1939, foi criado no IBA-RS curso Técnico de Arquitetura, com duração de três anos, cursado, entre outros, por Iberê Camargo, que serviu de base para a proposta de estruturação do Curso Superior de Arquitetura, proposto em 1942 e efetivado com a primeira turma de ingressos em 1945. A equipe de professores era constituída por José Lutzemberger, Ernani Correa e Fernando Corona, do Curso de Artes, arquitetos Demétrio Ribeiro, Jorge Machado Moreira (que não chegou a lecionar, fez apenas algumas palestras), Engenheiros Danilo Smith, Frederico Werner Hugo Grunding, Fernando de Azevedo e Moura, Urbanistas Luiz Arthur Ubatuba de Faria, Edvaldo Pereira Paiva e Advogado Max Valdemar Lubke. Em 1948, foi convidado Edgar Albuquerque Graeff, gaúcho formado na FNA-RJ, um ano antes. A primeira turma se formou em 1949, com Emil Achutti Bered, Mauro Guedes de Oliveira, Roberto Félix Veronese, Salomão Sibemberg Kruchin, e nas turmas seguintes, até 1951, Charles Renné Hugaud, Nélson Souza, Emilio Mabilde Rippol, Enilda Ribeiro, Jaime Luna dos Santos, Vera Carvalho Fabrício e Luís Fernando Corona. Ver: FIORI, Renato. arquitetura: Arquitetura moderna e ensino de arquitetura os cursos em Porto Alegre de 1945 a 1951. . [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: PUC-RS, 1992. 56 Moojen e Araújo lembram que Fayet, desde os tempos de estudante, participava de todas as atividades possíveis com energia e disposição excepcionais. Além de trabalhar, fazia também perspectivas para diversos arquitetos. ARAÚJO, Cláudio Luis Gomes. Depoimento ao autor autor. Gravação digital. Edifício FAM, 28 jul. 2009. MARQUES, Moacyr Moojen. Depoimento ao autor autor. Gravação digital. Edifício FAM, 21 jan. 2009. 57 A AAPA, formada por estudantes dos cursos de Belas Artes e Arquitetura do IBA, com caráter cultural, teve seu estatuto aprovado em agosto de 1947, organizando, a seguir, uma viagem de estudos de três meses de duração à Bahia e Minas Gerais, a partir de dezembro daquele ano, da qual Fayet participou, que gerou exposições itinerantes de desenhos, pinturas e fotografias (Figs.8.1). Os sócios fundadores eram Ruy Miranda Falcão – Presidente, Carlos Galvão Krebs – Secretário, Remo José Irace – Tesoureiro, Carlos Maximiliano Fayet, Emílio Mabilde Ripoll, Jorge Sirito de Vives, Luiz Eduardo Santos, Luís Fernando Corona, Luiz Florência Braga, Plínio Cesar Bernhardt e Roberto H. Bins. Ibid. 58 Em fevereiro de 1948, foi realizada, no Instituto de Belas Artes, IBA-RS, reunião convocada por Tasso Bolivar Dias Correa, Diretor do IBA, e Eduardo Corona, Secretário Geral do Instituto de Arquitetos do Brasil, Direção Nacional – IAB-DN, tratando da realização do II CBA em Porto Alegre. O evento foi realizado em novembro do mesmo ano com a presença, entre outros, de Edgar Graeff, Jorge Machado Moreira, Eduardo Kneese de Mello, Ícaro de Castro Mello, Carmen Portinho, Idelfonso Aroztegui, Firmino Fernandes Saldanha (1905-1985) – Presidente do IAB-DN e de 55 Fonte: Acervo Família Fayet Fig. 8 - Carlos M. Fayet e Myrtha Sallocker Fayet, Porto Alegre, por volta de 1948. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 71 Fonte: Acervo família Fayet Fig. 8.1 - Carlos Maximiliano Fayet, Iate-Club, Pampulha- MG, viagem da AAPA à Bahia e Minas Gerais. Dezembro de 1947 a fevereiro de 1948. Imagem dos azulejos semelhante à utilizada para a capa do número 2 da Revista Espaço de dezembro de 1949. Fonte: Acervo família Fayet Fig. 8.2 - Carlos Maximiliano Fayet, Iate-Club e Cassino, Pampulha- MG, viagem da AAPA à Bahia e Minas Gerais. Dezembro de 1947 a fevereiro de 1948. Fonte: Acervo família Fayet professores do Curso de Arquitetura e de Urbanismo do IBA e da Escola de Engenharia, bem como de arquitetos atuantes em Porto Alegre, tais como Ernani Correa, Egon Weindorfer, Edvaldo Ruy Pereira Paiva, Eugene Steinhof, José Lutzemberger, Ubatuba de Farias, Demétrio Ribeiro, Carlos Alberto de Holanda Mendonça e outros. Ver: KREBS, Carlos Galvão. II Congresso Brasileiro de Arquitetura. Revista do Globo Porto Alegre, n. 478, 5 mar. 1949. p. 46-49. Globo, 72 Fonte: Acervo família Fayet Fig. 8.3 - Fotos de Carlos Maximiliano Fayet, viagem da AAPA à Bahia e Minas Gerais. Dezembro de 1947 a fevereiro de 1948. Produção de desenhos e pinturas para a exposição itinerante. Fig. 8.4 - Desenhos e aquarelas de Carlos Maximiliano Fayet, Viagem da AAPA à Bahia e Minas Gerais. Dezembro de 1947 a fevereiro de 1948. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 60 Capítulo I Fonte: . do Brasil, em 1948 , e igualmente da presença marcante de Maurício Cravotto, professor da Faculdade de Arquitetura da Universidad de La República de Montevidéu em Porto Alegre, para ministrar um curso no IBA contratado 61 conjuntamente com o Prof. Arquiteto Idelfonso Aroztegui (1916 - 1998) (Fig.9). A presença dos uruguaios neste momento inaugural do ensino de arquitetura em Porto Alegre é, de certa maneira, representativo do marco cultural gaúcho nesta época e suas conexões com a região do prata, que teria significativa influência na formação das primeiras gerações de profissionais, em especial no campo do urbanismo. Em 1949, participou da Exposição Coletiva do Instituto de Belas Artes, com outros alunos, como Alice Soares, Glênio Bianchetti, Paulo O. Flores, Paulo Valandro, Nélson Souza, Luís Fernando Corona e Enilda Ribeiro, no mesmo ano em que Oscar Niemeyer visitou o Instituto, acompanhado, entre outros, pelo 62 estudante Fayet (Fig.10). Fig. 9 - No centro da foto, à esquerda, Enilda Ribeiro, no meio, Charles Renné Hugaud, à direita, Mauricio Cravotto. Curso de Cravotto no IBA, 1948. Revista Espaço conjuntamente com Jorge Sirito, Glênio Bianchetti, Nélson de Souza e seus amigos mais próximos, Enilda Ribeiro e Luís Fernando Corona, 59 (Figs 9.3,4) . Certamente, como estudante engajado e atento ao momento de transformação do meio artístico e cultural gaúcho, dos anos 1940, do qual a arquitetura de certa maneira era protagonista, e igualmente com seu desejo veemente de atuação no meio, Fayet como estudante participou atentamente da formação do Departamento do Rio Grande do Sul do Instituto de Arquitetos 59 A Revista Espaço era sequência da publicação denominada Ante-projeto, editada por ocasião do II Congresso Brasileiro de Arquitetos, realizado em Porto Alegre, em 1948, a exemplo da revista homônima criada por Edgar Albuquerque Graeff e Marcos Jaimovish na Faculdade Nacional de Arquitetura do Rio de Janeiro. Em Porto Alegre, o primeiro número dedicado ao próprio II CBA foi dirigido por Edgar Albuquerque Graeff, Marcos Jaimovish, Francisco Riopardense Macedo, Jorge Sirito, Luis Fernando Corona e Nélson Souza. Ver: IBA. Ante - Projeto. Arquitetura, Urbanismo, Arte Ante– Edição dedicada ao II Congresso Brasileiro de Arquitetos. Porto Alegre: IBA-RS, n. 1, ago. 1948. Em sequência da reunião para a realização do II CBA, com a presença de Ernani Dias Correa, Eugênio Steinhof, Edgar Albuquerque Graeff, Edvaldo Ruy Pereira Paiva, Egon Weindorfer, Carlos Alberto de Holanda Mendonça, Carlos Bube dos Santos, Romeu Amaral e Max Hermann Schlüpmann, foi realizada, em março de 1948, nova reunião para a criação do Departamento Estadual do Instituto de Arquitetos do Brasil, sendo eleito como presidente o Prof. Ernani Dias Correa. Ibid 61 O curso de Cravotto no IBA foi realizado em 1948 e acompanhado pelos professores Demétrio Ribeiro, Edgar Graeff, Luiz Ubatuba de Farias, Edvaldo Paiva, Ney Crisostomo da Costa, Eugênio Steinhoff, e pelos estudantes Enilda Ribeiro, Jaime Luna dos Santos, Charles Renne Hugaud, Emil Achutti Bered, Samuel Sibemberg Kruchin, Roberto Félix Veronese, entre outros. O Prof. Arquiteto Idelfonso Aroztegui (1916 - 1998), formado na Facultad de Arquitectura de la Universidad de la Republica (1941) e com o titulo Master of Science pela Illinois University em Chicago, obteve o primeiro prêmio do concurso Ab Elementary School of Tomorow, promovido pela revista norteamericana Architectural Record. Foi presidente da Sociedadde Arquitectos de Uruguay (1961-1963). 62 Oscar Niemeyer veio pela segunda vez ao Estado. A primeira viagem foi realizada em 1945, vinculada ao projeto realizado para o Instituto de Previdência do Estado, em terreno localizado na esquina da Avenida Borges de Medeiros com Andrade Neves, posteriormente ocupado pelo “MataBorrão” de Marcos Hekman. Nesta segunda viagem, igualmente realizada de táxi, como a primeira, veio acompanhado de Eduardo Corona, convidado como paraninfo da turma de Urbanismo do IBA proposto em 1945 e criado em 1947 (primeiro curso de urbanismo do Brasil), inicialmente com os professores Luiz Ubatuba de Farias e Edvaldo Pereira Paiva, ao qual Fayet se incorporaria como professor em 1964, na disciplina Teoria e Prática dos Planos de Cidade. Conjuntamente com a turma de formandos composta dos Engenheiros Nelly Peixoto Martins, Sérgio Correa e Francisco Riopardense de Macedo, o meio acadêmico do IBA mobilizou-se para prestigiar a presença do arquiteto carioca, que por sua vez, além do discurso de formatura, realizou duas palestras no IBA e uma mesa redonda na casa de Fernando Corona, além de duas entrevistas concedidas ao Correio do Povo e à revista o Globo. Ver: NIEMEYER, Oscar. O povo gosta da nova arquitetura. Correio do Povo, Porto Alegre, ano 54, n. 165, 15 abr. 1949. p. 16. OSCAR Niemeyer em Porto Alegre. Revista do Globo, Porto Alegre, ano 20, fascículo 482, 15 mai.1949. p. 43-45 e 72 . 60 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 73 Fonte: Acervo família Fayet Fig. 9.1 - À esquerda, Carlos M. Fayet, auto retrato, pastel sobre papel, 1950. À direita, Carlos M. Fayet no terraço do I.B.A., 1950. Fonte: Acervo família Fayet Fonte: Espaço, n. 2. Porto Alegre: I.B.A, nov. 1948, p.1. Espaço, n. 4. Porto Alegre: I.B.A, dez. 1949, p.25 e p.4. Fig. 9.3 - À esquerda, Carlos M. Fayet. No meio, Luís Fernando Corona. A direita, Enilda Ribeiro. Integrantes da direção da revista Espaço conjuntamente com Nelson Souza, Jorge Sirito de Vives, e Glênio Biancheti,1950 Fonte: Módulo n. 3. Porto Alegre: C.E.U.A, abril, 1953. Acervo Moojen p. 5, Fig. 9.2 - À esquerda, projeto para a nova Faculdade de Arquitetura da UFRGS, no local onde hoje está a Faculdade de Engenharia nova, na Avenida Osvaldo Aranha, realizado por comissão de professores do I.B.A., coordenada por Demétrio Ribeiro e integrada, entre outros pelos Acad. Carlos M. Fayet e Moacyr Moojen Marques, 1952. A direita, projeto para a nova Faculdade de Arquitetura da UFRGS, no local onde hoje está a atual Faculdade de Arquitetura, na Rua Sarmento Leite, realizado por comissão integrada de professores oriundos do I.B.A e da F.E, Demétrio Ribeiro, Plínio Almeida, Luiz Frederico Mentz, Emil Bered, Leovegildo Paiva e os alunos Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques, Luiz Carlos Cunha e Rubem Pilla, 1953. 9.4 Fig. 9.4 - Revista Espaço. À esquerda, Oscar Niemeyer , retrato de Glênio Biancheti, 1948. No meio, Carlos M. Fayet, charge "Comissão de estética do gov." satirizando os estilos arquitetônicos, 1949. À direita, artigo "5 anos de Arquitetura" sobre o curso de arquitetura do I.B.A., 1949. 74 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I A FNA de certa maneira é espinha dorsal do ensino de arquitetura no Brasil, oriunda da Academia de Artes e Ofícios, criada em 1808 com a chegada da família real no Brasil, posteriormente transformada em Academia Imperial, com a arquitetura como um dos cursos da Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, coordenado por Grandjean de Montigny, integrante da missão francesa. No início do século XX, já na República, a Escola Nacional de Belas Artes passou a ocupar o edifício historicista e monumental, projetado por Morales de los Rios, na atual Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. Em 1931, com a reforma de ensino, filiada ao Movimento Moderno e aos modelos de ensino contemporâneos, com a criação, entre outros conteúdos, da disciplina de urbanismo, proposta pelo diretor Lúcio Costa (de 1930 a 1931), iniciou processo de inovação – repleto de polêmicas com o segmento conservador ligado à tradição acadêmica e recheado de episódios como a realização do Salão Revolucionário, em 1931, com artistas como Guinard, Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. A exoneração de Lúcio da direção da Escola, logo a seguir, e a passeata de protesto de estudantes acompanhada de Frank Lloyd Wright culminaram com a criação da FNA, em 1945, separada da ENBA, mesmo ano de criação do Curso de Arquitetura do IBA. Ver: SIMON, Cirio. Origem do Instituto de Artes da UFRGS. [Tese de doutorado]. Porto Alegre: PUC-RS, 2002 64 Dentre outros, os projetos de Jorge Machado Moreira para o Centro Cívico de Porto Alegre, no final dos anos 1930, o seu projeto para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em 1942, o concurso para Administração Central da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, vencido por Affonso Eduardo Reidy e Jorge Machado Moreira, em 1944, e o projeto de Oscar Niemeyer e Saturnino de Brito para o Instituto de Previdência do Estado – IPE, em 1945. Posteriormente, em 1948, o IBA perderia seu professor de grandes composições, Jorge Machado Moreira, cedido ao Escritório Técnico da Cidade Universitária da Universidade do Brasil, por solicitação do Ministério de Educação e Saúde, para a realização do projeto da Cidade Universitária e da sede da FNA projeto premiado na Bienal de 1957. A arquitetura carioca ainda marcaria presença no contexto gaúcho com a vinda e produção arquitetônica local do alagoano Carlos Alberto de Holanda Mendonça (1920-1956), em 1947, e do gaúcho Edgar Graeff, em 1948, ambos formados na FNA. Ver: CALOVI PEREIRA, Cláudio. Primórdios da arquitetura moderna em Porto Alegre: a presença dos arquitetos do Rio de Janeiro. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis Porto Alegre, v. 2, out. 2000. p. 47-71. Reis, 63 Fonte: < http://profciriosimon.blogspot.com.br/2010/05/niemeyer-em-porto-alegre-04.html> A vinda de Oscar Niemeyer a Porto Alegre coincide também com o arrefecimento de outro significativo capítulo da afirmação da arquitetura no Estado: o movimento para a criação de uma faculdade de arquitetura autônoma, ao qual Niemeyer emprestou seu apoio. O curso de Arquitetura do IBA, desde sua criação em 1945, detinha, além de natural proximidade com as artes, filiação institucional com a outrora Escola Nacional de Belas Artes – ENBA, posteriormente Faculdade Nacional do Rio de Janeiro – FNA, com 63 adoção formal do currículo da mesma em 1946 . Essa natural relação referencial com o contexto cultural da capital federal, no meio acadêmico, acentuava-se igualmente face à produção arquitetônica nativa, dominada por engenheiros, projetistas e alguns poucos arquitetos formados no Brasil, com predominância de estrangeiros de formação acadêmica e produção historicista, contrastando com os episódicos projetos cariocas modernos realizados para Porto Alegre, que pressupostamente despertavam o interesse da crítica e dos 64 jovens estudantes gaúchos . O Curso de Arquitetura da Faculdade de Engenharia – FE, criado em 1945, no mesmo ano que o do IBA, como reação à Fig. 10 - No centro em pé, Oscar Niemeyer. À direita em cima, Carlos M. Fayet. Visita de Oscar Niemeyer à casa de Fernando Corona (abaixo à esquerda), 1949. criação deste, seguia uma orientação relativamente distinta, de um modo geral, mas não desinteressante, e muito menos antagônica aos fundamentos modernos do IBA e, por consequência, da FNA, cujo entendimento de certa 65 maneira se disseminou (Fig.11) . O curso de arquitetura da FE naturalmente se 65 Os antagonismos, porventura, estavam mais no campo ideológico do que na relação de sobreposição ou oposição de conteúdos disciplinares, ou ao menos de orientação técnica do Curso de Arquitetura de ambas as instituições. O Curso de Engenharia, coordenado por engenheiros que dominavam o mercado de trabalho, de fato detinha um perfil mais liberal, desde o ponto de vista econômico e significativamente mais conservador, sob o ponto de vista estético, apesar da presença de Eugênio Steinhof. Enquanto que o IBA, recheado de arquitetos e urbanistas filiados a correntes progressistas, com grande afinidade a personagens como Oscar Niemeyer, inicialmente, e Vilanova Artigas, a seguir, reconhecidos por suas posições de esquerda, aderiu ao Movimento Moderno tanto pela via de suas tendências formais quanto por seu emblematismo ideológico. Estabeleceu-se, portanto, um acirrado embate de correntes filosóficas acentuadas pelo panorama internacional do pós-guerra, início da Guerra Fria, stalinismo por um lado, macarthismo por outro e, no contexto nacional, o fim do Estado Novo e o início de uma breve abertura política interrompida abruptamente em 1964. Nesse sentido, a liderança de Steinhof, naturalizado norte-americano, na FE, e Demétrio Ribeiro, Edgar Graeff e Edvaldo Paiva, referendados por Oscar Niemeyer pelo IBA, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 75 Fig. 11 - Trabalho de Carlos M. Fayet, Adrovando Guerra, Aluísio Chula, Alceu Lopes. Modelagem, II ano, Prof. Fernando Corona, 1949 (semelhante ao Edificio Suspendido de Oficinas, Amancio Williams de 1946). afinava com a Politécnica de São Paulo e, paradoxalmente, tendia a uma visão acadêmica e conservadora da arquitetura, graças à forte conexão com o mercado, a produção local e uma sociedade em parte provinciana e conservadora, formada por significativa presença alemã positivista no meio cultural, marcada pela arquitetura eclética e consequente influência de outras vertentes da arquitetura moderna europeia dentre elas o expressionismo. No entanto, com a criação do curso de arquitetura, em 1945, e a contratação do arquiteto austríaco Eugenio Steinhof para coordenar o curso, o ensino da FE aproximou-se do praticado na Bauhaus, mesmo sem resultados expressivos de 67 qualidade no produto de seus estudantes . 66 Portanto, com resistências e reações, de maior ou menor escala, a fusão entre os dois cursos era uma tendência, e após mobilização importante do meio acadêmico do IBA, a qual Fayet integrou, foi criada, em 1952, a 68 Faculdade de Arquitetura . Estava no quarto ano e logo se estabeleceu outro movimento, entre professores e estudantes, pela obtenção de prédio próprio, já que o curso, funcionando no “castelinho” (onde hoje se encontra o Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação – NORIE, no Campus Central), alimentava a ideia de dependência da engenharia. Criada comissão, constituída por Demétrio Ribeiro, Fayet, Moojen e outros, foi feito estudo para o novo edifício no local onde hoje está a engenharia nova (Fig.9.2). A ideia era um edifício moderno, com pilotis intervalando o corpo do volume principal, onde estaria o Centro Acadêmico. Havendo resistência da Engenharia em ceder aquela área, novo estudo foi realizado para a esquina da Sarmento Leite com Osvaldo Aranha (1953), agora conjuntamente com professores oriundos do 69 curso da engenharia, estabelecendo certa paridade (Fig.92) . Finalmente, um projeto realizado dentro do Departamento Administrativo do Serviço Público – D.A.S.P. do Rio de Janeiro, cuja autoria é desconhecida, por encomenda do 70 reitor Eliseu Paglioli , foi construído, com grande rejeição por parte dos estudantes e professores da arquitetura, com o compromisso de ser demolido na oportunidade de implantação da Avenida Primeira Perimetral, cujo traçado posteriormente mudou diversas vezes, com a participação de Moojen enquanto arquiteto da Divisão de Urbanismo do município, em parte para preservar os edifícios da universidade. Fonte: < http://profciriosimon.blogspot.com.br/2010/08/arte-em-porto-alegre-apos1945-0802.html> só faziam acentuar o processo de polarização radical, não tão incomum, em geral, no sul e frequente no campo ideológico. 66 A Politécnica da Universidade de São Paulo – USP foi criada em 1893, face às demandas de industrialização, iminentes no panorama internacional do final do século XIX, e à necessidade de engenheiros, inicialmente com os cursos de Astrofísica, Arquitetura, Belas Artes, Física, Química e Zootecnia, que posteriormente se transformaram em faculdades autônomas, com professores importantes, tais como Adolfo Lutz, Vital Telêmaco, Van Langendock, entre outros. Em 1934, a Escola Politécnica incorporou-se à Universidade de São Paulo e, em 1960, instalou-se na Cidade Universitária. 67 Outras considerações sobre o Curso de Arquitetura da FE e de Eugênio Steinhof são feitas a seguir, em capítulo dedicado a Cláudio Araújo, aluno da FE. O movimento pela criação de uma faculdade de arquitetura independente e não parte integrante do Instituto de Engenharia, como pretendido em determinado momento pela Reitoria, com anuência do Curso de Arquitetura da FE, ganhou força em 1950 a partir da campanha “Por uma Faculdade de Arquitetura” – PUFA, coordenada pela comissão integrada pelos estudantes do IBA, Ari Mazzini Canarim, Vera Fabrício, Enilda Ribeiro, Carlos Maximiliano Fayet, Paulo Vallandro, Luiz Radomski, Gerson Hoyer, Adrovando Guerra, Zeno Maraninchi, Afrânio Sanches Loureiro, Moacyr Moojen, conjuntamente com os professores Tasso Bolívar Dias Correa, Ernani Dias Correa, Fernando Corona e outros. O movimento ganhou páginas no jornal e envolveu mobilização pública. Ver: Lançam-se os estudantes do Instituto de Belas Artes na campanha “Por uma Faculdade de Arquitetura”. Correio do Povo Porto Alegre, Cia. Jornalística Caldas Júnior, 26 mar. 1950. p. 32. Povo, 69 A equipe foi constituída por Demétrio Ribeiro, Plínio Almeida, Luiz Frederico Mentz (1925), Emil Bered, Carlos Maximiliano Fayet, Leovigildo Paiva e Moacyr Moojen Marques. MARQUES, Moacyr Moojen. Depoimento ao autor Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. autor. 70 No momento, o diretor da escola era Ney Chrisóstomo da Costa, antigo professor de Geometria Descritiva e Materiais de Construção, bem como integrante do Conselho de Direção do IBA, nomeado pelo Reitor, cujo filho, Oziel, aluno da escola, foi contratado pela direção para redesenhar os projetos, vindo do Rio em cópias heliográficas, produzindo originais. Ibid. 68 76 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Alvorecer - As Casas Flor , Ernesto Cross Valdez, Cândido Norberto Flor, e Manuel Madureira Coelho (1950-1952) Em raras oportunidades, algum arquiteto brasileiro projetou arquitetura moderna e, décadas mais tarde, com status de patrimônio histórico, realizou sua restauração. Carlos Maximiliano Fayet, entre o seu primeiro e último trabalho profissional, dedicados à obra emblemática da arquitetura moderna de vertente corbusieriana no sul, o Palácio da Justiça de Porto Alegre (Sede do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul, em equipe com Luís Fernando Corona, 1953/1967 e 2000-2003), fez bem mais do que isso. 73 Obstinado, ainda estudante do último ano , venceu, com Corona, o concurso para o Palácio, com solução impregnada da verve de Le Corbusier e a mesma motivação da casa Cândido Norberto (1952), primeira obra conjunta construída pelos autores do Palácio. O esforço, principalmente do Corona e meu, de fazer uma residência que tivesse aqueles elementos, que a gente tanto admirava na arquitetura contemporânea, que estava sendo feita especialmente no Rio de Janeiro, e até procurando, ainda que forçando um pouco, a utilização de algumas soluções e alguns detalhes que pudessem vincular esse projeto a essa tendência, 74 especialmente na arquitetura contemporânea carioca . Fonte: Acervo Família Fayet, Foto Irineu Breitman Fig. 12 - Da esquerda para a direita: Enilda Ribeiro, Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet. Fayet tem nas mãos maquete do projeto "Restaurante Rodoviário" realizado no III ano do I.B.A, 1951. Em sua trajetória inicial e em obras normalmente tidas como marcos de ingresso notável na profissão, que de fato são, o projeto vencedor para o Palácio da Justiça e a casa Cândido Norberto, obras integrantes do Patrimônio Histórico arrolado pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, denotam uma investigação formal consistente, ainda que circunscrita ao âmbito restrito de esquemas compositivos excessivamente sugeridos por tendências formais, determinadas a priori, Le Corbusier em um e apropriações cariocas deste em outro. Fayet formou-se em pintura, pelo Instituto de Belas Artes de Porto Alegre, em 1948, Arquitetura em 1953, pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e em Urbanismo, pela mesma universidade, em 1955. Conheceu a estudante de artes Suzy Brucker durante o curso e casaram-se logo após sua formatura mas ainda estudante, 71 conjuntamente com Luís Fernando Corona , já tratava de perseguir realizações, 72 algumas deveras importantes (Fig.12). 71 72 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. Nesta época, o escritório de Corona e Fayet no Sulacap era ponto de encontro dos arquitetos e estudantes no final da tarde (Fig.19), para concursos de pontaria com arminhas de pressão e jogos de futebol com bolas de papel, até que Suzy gradativamente foi cortando o hábito dos folgados. ARAÚJO, Cláudio Luis Gomes. Depoimento ao autor Gravação digital. Edifício FAM, 28 jul. 2009. autor. MARQUES, Moacyr Moojen. Depoimento ao autor Gravação digital. Edifício FAM, 21 jan. 2009. autor. 73 Segundo Suzy, nos últimos anos do Curso de Arquitetura, Fayet, trabalhava na empresa Barcelos & Cia, onde, por interesse do engenheiro Ophyr Barcelos, deveria participar do concurso do Palácio da Justiça. Como não estava formado, tomou a iniciativa de convidar Corona, quando alugaram a sala 707 no Sulacap para desenvolver o projeto. O projeto do Palácio atraiu outros trabalhos e logo o escritório estava repleto de projetos. Face às condições econômicas favoráveis, Fayet e Suzy, que ainda era estudante, resolveram se casar, tendo Edgar Graeff como um dos padrinhos. FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, 18 ago. 2009. Entrevista. 74 FAYET, Carlos Maximiliano. Entrevista com o autor. Vídeo digital e cópia digitada. Porto Alegre, set. 2005. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 77 Fonte: Acervo FAM, L’Architecture D’Aujourd’hui n. 18-19, jun. 1948, p. 72. GUTIERREZ, Ramón. Eduardo Larrán - Arquitectura Moderna en el Noroeste Argentino. Cedodal, Buenos Aires, 2007, p. 81 Janeiro, em particular a carreira referencial de Oscar Niemeyer , que espalhava influências pela América do Sul, como na Casa Ibañez (1955), de Eduardo Larrán, em Salta (Fig.13). A Casa Flor, embora singela, de solução espacial convencional, apoiase em esquema formal revestido de trejeitos cariocas, como o telhado em meia78 água (ou meia “asa de borboleta” ) configurando um prisma trapezoidal, cuja face vertical maior se projeta gerando varanda e cobertura do segundo pavimento. Pilotis parciais para acesso social e de automóveis, no térreo, telha de fibrocimento e esquadria da sala em forma de combogó dão o tom moderno contrastante, em um contexto cultural que recém-refestelava-se no colonial 79 californiano ou no art decó . No caso da residência Cândido Norberto, realizada, durante a parceria estabelecida entre Corona e Fayet para o concurso do Palácio, a tímida aproximação de Fayet com a arquitetura carioca na Casa Flor, dois anos antes, encontra-se com experiências formais resolutas, na mesma direção que Luís Fernando Corona vinha praticando, como nas casas 80 para o Banco Lar Brasileiro (1951) e a residência Eugênio Noes (1951) (Fig.15), 81 de certo modo iniciadas por seu pai na residência Guilhermino Cesar (1950) . Neste caso, as residências do arquiteto carioca, cujo esquema formal vinha se ensaiando desde suas primeiras obras. A forma essencial da casa Flor é uma livre adaptação da matriz volumétrica da primeira versão para a casa de Juscelino Kubitschek, na Pampulha (1943), e especialmente da Casa Prudente de Moraes Neto, no Rio de Janeiro (1943) (Fig.13). Para as casas de Niemeyer, ver: ALMEIDA, Marcus. As casas de Oscar Niemeyer 1935-1955. [Dissertação de Mestrado]. Porto Niemeyer: Alegre: PROPAR – UFRGS, 2005. 78 Oscar Niemeyer adotou a solução na casa Oswald de Andrade (1938) (Fig.15) e na casa M. Passos (1939), mas a consagrou em contexto brasileiro no Yacht Club (1940-42) e na casa construída para Juscelino Kubitschek na Pampulha (1943) (Fig.14). Le Corbusier e Pierre Jeanneret já haviam adotado o esquema asa de borboleta na Casa Errázuriz, no Chile, não construída (1930) (Fig.14), e na Ville La Sextant, em La Palmyre-les Mathes (1935). Marcel Breuer igualmente utilizou na casa Geller1 (1946). A solução formal difundiu-se em território brasileiro. Sérgio Bernardes empregou a solução em projetos residenciais, como na casa Jadir de Sousa (Rio de Janeiro, 1952), premiada na Bienal de Arquitetura de São Paulo, e Acácio Gil Borsoi e Delfim Amorim, em Recife, adotaram o tipo formal em diversas residências na década de 1950 assim como Emilio Duhart na Casa Duhart (1948) em Santiago do Chile (Fig.14). 79 Ver: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, Alegre 1987. p. 70-71. 80 As casas para o Banco Lar Brasileiro foram realizadas em parceria com Emil Bered e Salomão Kruchin, localizadas na rua Eça de Queiroz, nº 948, e as outras duas, geminadas, na rua Itaboraí, nº 8 e 28, próximas portanto à Casa Flor. A terceira, na Rua Rivera, nº 39. Todas, além de bem ordenadas funcionalmente, apresentam variações do mesmo tema: telhado asa de borboleta, pérgulas e aberturas sangradas nos vãos que as contêm. Na casa Eugênio Noes, em São Paulo, conjuntamente com Eduardo Corona e Roberto Tibau, formados na ENBA, o esquema segue com mais acento, tanto pela pureza volumétrica da cobertura, a inserção de combogós e da varanda estruturada por pilares palito em desaprumo, principalmente pelo fato de o terreno, com topografia acentuada, exigir três níveis, remanescendo à vista da rua o volume com estes elementos (Fig. 15). O universo formal filiado à arquitetura carioca dos anos 1940, em Corona, já se manifestava com 77 77 Fig. 13 - À esquerda, em cima, Casa Prudente de Morais Neto, Oscar Niemeyer, 1943, Rio de Janeiro. A esquerda, abaixo, Casa Flor, Carlos M. Fayet, 1950. À direita, Casa Ibañez, Eduardo Larrán, 1953, Salta. A casa Cândido Norberto (Fig.14) sucede de certa forma as primeiras experiências de projeto construídas por Fayet, quando, no terceiro ano do curso de arquitetura, em 1950, dada a precocidade característica, trabalhando na 76 empresa do Engenheiro Leo Lubianca, projetou a Residência Maria Flor Vieira (Fig.13). O projeto denota o interesse de Fayet, assim como do meio acadêmico do curso de arquitetura do IBA, na arquitetura moderna em marcha no Rio de 75 75 Ver: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, Alegre 1987. p. 98-99. 76 Localizada na Avenida Montenegro, nº108, Bairro Petrópolis, Porto Alegre. Construída no mesmo ano de casas inaugurais da arquitetura moderna em Porto Alegre, como a residência Jorge Cassado d`Azevedo (1950), de Carlos Alberto de Holanda Mendonça, e a residência Guilhermino César (1950), de Fernando Corona. Ver: Ibid, p. 70-71. 78 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 83 Capítulo I 14 Fig. 14 - À esquerda, em cima, Casa Juscelino Kubitschek, Oscar Niemeyer, 1943, Pampulha. À direita, em cima, Casa Cândido Norberto, Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, 1952, Porto Alegre. À esquerda, abaixo, Casa Errázuris, Le Corbusier, Pierre Jeanerret, 1930, Zapallar, À direita, abaixo, Casa Duhart, Emílio Duhart, 1948, Santiago do Chile. No meio do caminho, dentro do mesmo programa de financiamento oferecido pelo Instituto de Pensões e Aposentadoria dos Comerciários (IAPC), que oportunizou a construção da casa Cândido Norberto, a residência Manoel 82 Madureira Coelho, do mesmo ano , e de outros jornalistas nas redondezas da Praia de Belas, Fayet projetou a residência Ernesto Cross Valdez (1951), dentro de esquema organizado por setores, em planta, agrupados em faixas intervaladas por pátios sequenciais (Figs.17), sendo que dos pátios, o que separa a ala íntima da social, coberto por pérgulas, abriga extensão protegida da sala, solução difundida na arquitetura moderna em Porto Alegre, a exemplo 84 das casas da costa oeste norte-americanas e dos arquitetos paulistas . O esquema formal da residência é um hiato entre as Casas Flor e Cândido Norberto, retrocedendo a uma composição mais reservada de tendência à planaridade da fachada, jogo neoplástico de texturas e pequenas profundidades entre planos separados por janelas horizontais, porticadas por platibanda que, no mesmo plano destas, com as paredes de divisa, cria a moldura entre medianeiras. A Casa Cândido Norberto, não se espalha pelo terreno desta forma, tem as funções agrupadas em um partido monovolumétrico, de composição formalista literalmente filiada à casa Oswald de Andrade, de Oscar Niemeyer (1938), que associando um arco à cobertura asa de borboleta, criou relação formal icônica utilizada coloquialmente em diversas partes do país, mesmo como elemento de coroamento de edifícios em 85 altura. Neste caso, como na casa de Oswald de Andrade, o esquema formal condiciona substancialmente a solução geral do projeto, sendo que a maior compartimentação interna, em Porto Alegre, com esquema próximo ao convencional, distinto da referência ordenada em planta livre, além de introduzir algum aperto no relacionamento com o terreno, gerando excessivas áreas residuais, não permite apreciação interna da solução volumétrica (Figs.16). Solução formal de qualidade visual indiscutível, a casa Cândido Norberto parece perder engenhosidade na organização espacial doméstica conquistada pela vizinha Casa Samuel Madureira Coelho (1952) (Figs.18), de menor pretensão formal. MIZOGUCHI e XAVIER apontam, em seu livro, manifestação dos autores no sentido “de se libertar dos compromissos de dar à casa um ar de arquitetura moderna brasileira através da utilização de elementos próprios de nosso passado, como azulejo e combogó”. Aqui não só a Segundo MIZOGUCHI e XAVIER, o encargo desta casa a Fayet deve-se à relação estabelecida com o jornalista, no jornal “O Estado do Rio Grande do Sul”, no qual Fayet e Adrovando Guerra mantinham a coluna “Ar, Som, Luz”. Possivelmente, os demais projetos, em parceria com Corona, tenham evoluído desta relação. No entanto, SZEKUT em seu trabalho, informa que, em entrevista com Cândido Norberto, este relata lembrar-se de ter procurado Fernando Corona para a realização do projeto, sem ter clareza em que momento o trabalho foi desenvolvido por Luis Fernando Corona e Fayet. Ver: Ibid. p. 80-81. 84 Em particular Richard Neutra, com a casa Kaufmann em Palm Springs, Califórnia (1946), onde cabe também paralelo com a Casa da rua Suécia, esquina rua Bélgica, de Rino Levi, em São Paulo (1944), ou a residência Milton Gupper, também em São Paulo (1951), do mesmo autor. 85 Um exemplo próximo é o segundo projeto de Eduardo Affonso Reidy para a Viação Férrea do Rio Grande do Sul – VFRGS (1944), não construído, que arremata a torre de pilotis mais vinte pavimentos, com costados cegos, pousando na cobertura, uma construção híbrida de Pampulha com casa Errázuriz. Idem. 83 Fonte:. Foto Sergio Marques,, , KLENNER, Alberto Montealegre. Emilio Duhart Arquitecto. Ediciones ARQ Chile, 1994, p.52 muito talento em seus trabalhos acadêmicos, despertando sempre a admiração de colegas e professores. Em especial, um de seus primeiros trabalhos profissionais, o projeto vencedor da Sociedade dos Amigos da Praia de Imbé – SAPI (1951). Ver: SZEKUT, Alessandra Rambo. Sul. Vertentes da modernidade no Rio Grande do Sul A obra do arquiteto Luís Fernando Corona. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura – PROPAR, UFRGS]. Porto Alegre: PROPAR, UFRGS, 2008. Em concurso posterior, realizado para a mesma sociedade, Fayet sozinho classificou-se em segundo lugar (1958). 81 Ver: CANEZ, Anna Paula. Fernando Corona e os caminhos da arquitetura moderna em Porto Alegre. Alegre Porto Alegre: UE/Porto Alegre/Faculdades Integradas do Instituto Ritter dos Reis, 1998. 82 MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, Alegre 1987. p. 100-101. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 79 Fonte: COMAS, Carlos E. D. Precisões Brasileiras. Sobre um passado da arquitetura e urbanismos modernos a partir dos projetos e obras de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, M. M. M. Roberto, Affonso Reidy, Jorge Moreira & Cia. 1936-1945. [Tese de doutorado]. Paris: Universidade de Paris VIII, Vincennes, Saint Denis, 2002, vol.II, cap. 5. Casa Eugênio Noes, Luís Fernando Corona, Eduardo Corona, Roberto Tibau, São Paulo, 1951. Fonte: Revista Habitat, n. 5, p.54, 1953. Fonte: Acervo FAM Fig. 16 - Casa Cândido Roberto. À esquerda, fachada Av. Bastian (norte). À direita, fachada Av. Praia de Belas (oeste). Projeto original. Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, 1952, out. 1952. Fonte: Acervo FAM Fig. 16.1 - Casa Cândido, fachada Av. Praia de Belas (oeste). Foto de época. O acréscimo a direita, em direção ao sul, sobre o terraço, ainda não havia sido realizado Roberto, Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, 1952. Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010 Fonte: Acervo FAM 80 Fonte: Acervo FAM Fig. 15 - À esquerda, Casa Oswald de Andrade, Oscar Niemeyer, 1938. À direita, Casa Eugênio Noes, Luís Fernando Corona, Eduardo Corona, Roberto Tibau, São Paulo, 1951. Fig. 16.2 - Casa Cândido Roberto, Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, 1952. planta. Projeto original, out. 1952. 16.3 Fig. 16.3 - Casa Cândido Roberto, Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, 1952. corte. Projeto original, out. 1952. Fig. 16.4 - Casa Cândido Roberto, Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, 1952. Detalhes das fachadas. À esquerda, fachada norte.Centro e direita, fachada oeste. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte :MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p. 80 Fonte: Acervo FAM Fig. 18 - Residência Samuel Madureira Coelho, Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, 1952. Planta. Projeto original, 1952. . Fig. 17 - Residência Ernesto Cross Valdez, planta, Carlos M. Fayet, 1951. Fonte: Acervo FAM Fig. 18.1 - Corte longitudinal. Projeto original, 1952. . Fonte MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p. 80 e 100 17.1 Fig. 17.1 - Residência Ernesto Cross Valdez, Fachada Av. Bastian. A garagem foi acrescentada posteriormente, pelo proprietário, assemelhando-se à residência Madureira Coelho Carlos M. Fayet, 1951. Fig. 18.2 - Residência Samuel Madureira Coelho. Centro e direita, fachada Av. Praia de Belas (oeste) Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, 1952.). . Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 81 austeridade da Ernesto Cross Valdez, com o idêntico sistema de composição plástica de planos e texturas porticados, como a ideia do pátio centralizado articulador da casa com o terreno é retomada (Figs.18). Apesar de menos elegante na proporção e incômoda com a posição da garagem (estranha incorporação da solução espontânea adotada pelo Sr. Ernesto C. Valdez em sua casa), as residências Samuel Madureira Filho e Ernesto Cross Valdez dão indícios iniciais de determinados valores arquitetônicos que tanto Fayet como Corona darão prosseguimento em sua obra madura, afastando-se do 86 formalismo palatável da casa Cândido Norberto . Atendimento aos requerimentos específicos do programa de organização espacial ordenada geometricamente e fluida visualmente, dentro de esquema formal que tende à abstração, sem deixar de usufruir as pertinências do sítio, começam a se pronunciar, ainda que de maneira acanhada. O Concurso do Palácio da Justiça, realizado em período prolífero de 87 88 investimentos e concursos de arquitetura no país , foi realizado em 1952 , Curiosamente, o nome de Fayet não aparece nos originais da casa Samuel Madureira Coelho, apesar de constar em seu currículo e publicações, assim como Corona não consta na casa Ernesto Cross Valdez, em documento de nenhum tipo, mesmo que ambas pareçam ter sido projetadas a partir de um mesmo sistema baseado na racionalidade. Na casa Cândido Norberto, cuja construção Fayet fiscalizou, há uma distinção de partido e opção formal, em relação às demais, que da mesma forma que no Palácio sugere um gesto personal, cuja origem se pode presumir, sem atribuir necessariamente nenhuma preeminência. No caso das casas, parece ser de Fayet a maior contenção formal e de Corona a virtuosidade, pelo indicado na sucessão de obras posteriores, ambos convergem na racionalidade de soluções espaciais e economia de meios. 87 Com o fim do Estado Novo em 1945 (Getúlio Vargas – 1930-1945) e a retomada de Getúlio Vargas do poder, por eleições democráticas em 1951, além de certa abertura política, o governo retomou os investimentos em infraestrutura iniciados no período da ditadura Vargas. No primeiro governo, criou a Companhia Siderúrgica Nacional (1940), a Vale do Rio Doce (1942), a Hidroelétrica do Vale do São Francisco (1945), além de ter consolidado a legislação trabalhista (1939) e criado o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1938). No Rio Grande do Sul, o Estado promoveu o concurso público para o Instituto de Pesquisas Biológicas, atual Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (1950), com Demétrio Ribeiro classificado em primeiro, com projeto marcado por sua formação no Uruguai, de viés modernizante e sistema compositivo ligado à tradição, como em Auguste Perret. Em 1951, dois concursos: as Tribunas do Jockey Club do Rio Grande do Sul, vencido pela Construtora Azevedo Moura e Gertum, com projeto do Uruguaio Roman Fresnedo Siri, e a Sociedade dos Amigos da Praia do Imbé, vencido por Fernando Corona. No final de 1951, o Governador do Estado encaminha a realização dos concursos para o Palácio da Justiça e o Colégio Júlio de Castilhos, cujos edifícios anteriores foram destruídos por incêndios. Ver: A CONSTRUÇÃO do edifício do Instituto de Pesquisas Biológicas. Correio do Povo, Porto Alegre, 6 Povo jul. 1950. p. 9. Ver: SOCIEDADE dos Amigos da Praia do Imbé. Correio do Povo Porto Alegre, 14 Povo, out. 1951. p. 7. Ver: COMAS, Carlos Eduardo; CANEZ, Anna Paula; BOHRER, Glênio Vianna. Arquiteturas cisplatinas: Roman Fresnedo Siri e Eládio Dieste em Porto Alegre. Porto Alegre: Uniritter, 2004. 88 O edital foi publicado em maio de 1952, prevendo a entrega dos trabalhos para setembro. Em agosto, houve complementação do edital, com consolidação do programa de necessidades, 86 Fonte: Acervo FAM 19 Fig. 19 - Luís Fernando Corona e Carlos M. Fayet. Escritório no Edifício Sulacap, 1954. acompanhado da atenção de arquitetos e meio acadêmico, mas também de representantes da sociedade, dada a representatividade do edifício em questão. Razões semelhantes e história análoga fazem certo paralelo com o episódio do Ministério de Educação e Saúde Pública – MESP, no Rio de Janeiro. Lá e cá, expectativas de edifício caracterizado por arquitetura emblemática de espírito modernizador, através do poder público, na figura do Ministro Capanema no Rio de Janeiro e de certa maneira do Governador do Rio Grande do Sul, General 89 Ernesto Dornelles , e Secretário de Estado de obras Públicas, Eng. Leonel de Moura Brizola, faziam jus à obra emblemática, representativa do espírito desenvolvimentista que assolava a era Vargas. prevendo a instalação do Tribunal de Justiça, 2ª Instância; Foro de Porto Alegre, 1ª Instância; Procuradoria Geral do Estado e prorrogação dos prazos. Os trabalhos foram entregues em outubro, 13 meses antes, portanto, da formatura de Fayet, em dezembro de 1953. Ver: ALVAREZ, Cícero. Palácio da Justiça de Porto Alegre. Construção e recuperação da arquitetura moderna em Porto Alegre 1952-2005. [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2008. 89 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 82 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 90 Capítulo I monumento: Justiça” “Protótipo e monumento : um palácio, o Palácio da Justiça” (1952-1968) Construído como reposição substantiva do Superior Tribunal do Estado 91 (antiga Casa de Câmara) , vítima de sinistro, o projeto do Palácio foi escolhido 92 entre aproximadamente oito projetos concorrentes . O partido geral parece nascer da ideia purista de caixa prismática, com costados cegos a norte e sul, e fachadas em forma de pantalha transparente, protegida por brises a oeste, fachada cortina a leste, solto do solo por pilotis (Fig.20), dentro do arquétipo adotado por Le Corbusier em obras como o Pavilhão Suíço ou a Unidade de 93 Habitação de Marselha , cuja disseminação em termos latino-americanos é significativa, como, por exemplo, além do canônico projeto carioca para o MESP, o Sanatório Dr. Carlos Maria Fosalba-CASMU (1949), dos arquitetos 94 Alfredo Altamirano, Villega Berro e Mieres Muró, em Montevidéu (Fig.21) , e em termos de marco corbusieriano, o Edifício Miguel de Aguinaga (1952-55), de Augusto González (1929) para as empresas públicas de Medelín na Colômbia (Fig.21), ou, ainda, a Secretaría del Trabajo y Previsión Social (1954), no México D. F., de Rafael Mijares Alcerréca (1924). Fig. 20 - Palácio da Justiça, Luís Fernando Corona e Carlos M. Fayet, Porto Alegre, 1952-1968. Referência ao antológico artigo de COMAS tratando da representatividade do Ministério de Educação e Saúde no Rio de Janeiro em termos de fundamentação da cultura arquitetônica moderna brasileira. Ver: COMAS, Carlos Eduardo Dias. Protótipo e monumento: um ministério, o ministério. Projeto São Paulo, n. 102, ago. 1987. p. 136-149. Projeto, 90 Projeto de Georg Karl Phillip Von Normann, alemão de Halle chegado em Porto Alegre em 1848. Em 1849, assumindo cargo na Secretaria de Obras Públicas, reprojetou o teatro São Pedro e a Casa de Câmara como edifícios gêmeos que portificavam a conexão da Praça Marechal Teodoro com o porto. Ver: WEIMER, Günter. Arquitetos e construtores rio-grandenses na Colônia e no rioImpério. Império Santa Maria: Editora da UFSM, 2006. O edifício, alterado pelo engenheiro Teóphilo Borges de Barros – projetista conservador de índole historicista – em 1927, foi parcialmente destruído por incêndio em 1949. 92 O “Concurso de Anteprojetos para o Palácio de Justiça de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul” foi organizado pela Secretaria de Estado dos Negócios das Obras Públicas, SOPS, em 1952. O júri, composto por Demétrio Ribeiro, representando o Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento RS, Eng. Júlio Ribeiro de Castilhos, representando a Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul, Desembargador Celso Afonso Eduardo Pereira, representando o Tribunal de Justiça, um representante da Secretaria de Obras e um eleito pelos concorrentes, desconhecido, classificou em segundo lugar a equipe composta pelo Arquiteto Alfredo Leboutte e Engenheiro Mario José Correa e, em terceiro, a equipe composta pelos engenheiros arquitetos Plínio de Oliveira Almeida e Naum Turquenitch. No entanto, a ata de julgamento não foi localizada e não se sabe ao certo o número de concorrentes nem a íntegra do júri. Ver: MELLO, Bárbara et alli. Palácio da Justiça de Porto Alegre: a longa espera pelo fim, 1952-2006. O projeto de recuperação, restauração e readequação do ícone da arquitetura moderna de Porto Alegre. In: VII Seminário DOCOMOMO Brasil – O moderno já passado, o moderno no passado – reciclagem, requalificação, rearquitetura. Porto Alegre, 2007. Disponível em: . Acesso em 23 ago. 2009, às 16h. 93 O Pavillon Suisse, projetado por Le Corbusier e Pierre Jeanneret entre 1931 e 1933, na Cité Universitaire de Paris, faz par com a Maison Du Brésil, projetada por Lúcio Costa e Le Corbusier em 1959. Este último, assim como a Unité d` Habitation de Marseil, realizada entre 1947 e 1953, tem conclusão posterior ao concurso do Palácio, portanto provavelmente desconhecido dos autores. 94 Construído na Avenida Colônia, nº 1.936, o edifício, hoje sede do Sindicato Médico do Uruguai, é Monumento Histórico Nacional por seu protagonismo moderno corbusieriano. 91 Fonte: Desenho Sergio Marques, 2012. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 83 Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010, Fonte: Foto Sergio Marques, 1987, CURTIS, William J. R. Modern Architecture,since 1900-1910. Phaidon, p.97 Fig. 22 - À esquerda, Pavillon Suisse, Le Corbusier 1931-1933, Paris. À direita, As quatro composições, Le Corbusier, 1929. Fig. 21 - Acima, à esquerda e à direita: Sanatório Dr. Carlos Maria Fosalba-CASMU, arqs. Alfredo Altamirano, Villega Berro e Mieres Muró, Montevidéu, 1949. Abaixo, à esquerda, Edifício Miguel de Aguinaga de Augusto González, 1952-55, Medelin. O esquema formal claro e sintético, filiado aos preceitos corbusierianos e aos cinco pontos, na verdade segue, com bastante controle, além do segundo diagrama de “as quatro composições”, classificado por ele como “muito difícil”, principalmente o terceiro diagrama – examinando a planta e o arranjo espacial dos dois primeiros pavimentos – o “muito fácil” (Fig.22). A planta do pavimento térreo, que originalmente abrigava o tribunal do júri, sala de jurados, réus e circulação vertical, e da galeria, com os casamentos civis e os vazios correspondentes, foi organizada pela justaposição da malha estrutural, composta de sete vãos de oito metros e quarenta centímetros no sentido nortesul e três vãos de sete metros no sentido leste-oeste, e fechamentos revestidos de granito negro e vidro, que ora serpenteiam, ora sobrepõem-se dentre o intercolúnio (Fig.23). No entanto, ao contrário do esquema diagramático de Corbusier e assim como no pavimento térreo da Villa Savoye em Poissy (1928), o perímetro de fechamento cerra figura simétrica, denotando, tanto em um como em outro caso, princípios de composição acadêmicos e igualmente figuratividade acentuada nos pavimentos superiores do Palácio, do primeiro ao quinto, onde estavam as diversas varas, cartórios, juizados, curadorias, corregedoria, direção e presidência, cuja simetria bilateral configura pavimento tipo de organização axial, com saguão e circulação vertical no centro de gravidade, repartindo transversalmente a planta em duas, e circulação horizontal longitudinal, ortogonal ao saguão, repartindo a planta em quatro quadrantes. A compartimentação, mesmo modulada em dimensões repetitivas, evita os eixos dos pilares, deixando-os sempre expostos, nos dois sentidos, já que também se afastam das fachadas em balanço, como a solução de Lúcio Costa para o Parque Guinle (Fig.24). Os sexto e sétimo pavimentos, como os dois primeiros, receberam usos, soluções formais e estruturais diferenciadas, estabelecendo o sistema tripartite de composição volumétrica de tradição moderna em ressonância com 95 a composição clássica . No pavilhão Suíço, igualmente nos últimos pavimentos – dedicados ao tribunal pleno no sexto e restaurante no sétimo, no caso do Palácio – o esquema formal define como coroamento superfície de maior planaridade relacionada aos planos dos costados cegos, com recessos para aberturas ao terraço jardim, como as funções especiais no caso do Palácio. O projeto vencedor do concurso coroava o volume igualmente com recessos nos COMAS tem abordado os sistemas clássicos de composição presentes na arquitetura moderna, em particular nas aportações teóricas de Lúcio Costa e na arquitetura moderna do Rio de Janeiro das décadas de 1930 e 1940, igualmente relacionando fundamentos da arquitetura moderna com as definições acadêmicas sobre caráter arquitetônico de Quatremére de Quincy. COMAS, Carlos Eduardo Dias. 95 84 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM 23.2 Fig. 23.2 - Palácio da Justiça, Luís Fernando Corona e Carlos M. Fayet, Porto Alegre, 19521968. Da esquerda para a direita, corte longitudinal, desenho do concurso. Corte longitudinal, desenho do projeto executivo. Fig. 23 - Palácio da Justiça, desenhos do concurso, 1952. Da esquerda para a direita, planta pavto. térreo, planta 2° pavimento, planta 6° pavto., planta 8° pavto. Luís Fernando Corona e Carlos M. Fayet, Porto Alegre, 1952-1968. Fonte: Acervo FAM Fig. 23.3 - Palácio da Justiça, Luís Fernando Corona e Carlos M. Fayet, Porto Alegre, 19521968. Da esquerda para a direita, desenho do concurso e desenho do projeto executivo. Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 23.4 - Palácio da Justiça, Luís Fernando Corona e Carlos M. Fayet, Porto Alegre, 19521968. Fachadas, desenhos do concurso. Fig. 23.1 - Palácio da Justiça, Luís Fernando Corona e Carlos M. Fayet, Porto Alegre, 19521968. Foto de época, 1968. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 85 dois últimos pavimentos superiores, no entanto cobertos com placa plana, como dobra dos costados, a mesma utilizada para separar os pilotis do piano nobile, mantendo a estereotomia e configurando uma “caixa” pétrea que envolve o miolo do edifício propriamente dito, correspondente ao esquema formal adotado pela equipe brasileira no projeto do MESP, no Rio de Janeiro. No desenvolvimento do projeto executivo, o Palácio recebeu mais um pavimento técnico, sobre a laje do sétimo, para localização de infraestrutura e 96 solução estrutural da cobertura . O novo pavimento agregou mais uma faixa horizontal às fachadas leste e oeste, definidas pela face das lajes intermediárias e a caixilharia, esta, porém, cega. O ajuste técnico e formal aproximou a composição do Palácio ao Pavilhão Suíço, proporcionando melhorar visualmente a volumetria. A estrutura, neste pavimento superior, visando cobrir o vão de vinte e cinco metros e de vinte e um metros entre apoios, foi resolvida com treliça de concreto armado executada in loco, transmitindo as cargas para a linha de pilares de seção elíptica, do perímetro da edificação, que aparecem expostos, revestidos de mármore nos recessos dos sexto e sétimo pavimentos, assim como nos pilotis (Fig. 23). No térreo, no entanto, a transição estrutural entre os pavimentos tipo, dada a posição do tribunal de júri e necessidade de vãos maiores que o módulo estrutural, vigas de transição desviam a carga vertical dos pilares intermediários para novos pilares, fora da modulação, 97 envolvidos pelos fechamentos externos e internos da sala do tribunal . A estrutura dos pilotis, no entanto, não se apoia em superfície contínua do espaço público, e sim mergulha em novos volumes, criados para a acomodação do edifício na topografia, na forma de um terreno artificial, de projeção idêntica ao corpo do edifício principal, que emerge e nivela o solo. Esse basement originase a partir do segundo módulo estrutural no sentido sul-norte, remanescendo o primeiro, portanto, como porche monumental de acesso ao hall e extensão do espaço público relacionado à praça. O desnível – em semissubsolo, em direção à Riachuelo a norte, envolve o estacionamento e o arquivo, bem como áreas de O projeto executivo, além dos ajustes iniciais em relação ao projeto do concurso, dado o desenvolvimento dos projetos de engenharia e mudanças no programa de necessidades, enfrentou longo e extenuante processo de construção, no qual, em diversas oportunidades, a qualidade da obra, a monumentalidade e dignidade desejadas pelos autores estiveram ameaçadas, provocando, em continuação às polemicas sobre o concurso publicadas nos jornais, novos debates públicos sobre o caráter da construção e os acabamentos, entre os agentes envolvidos. A obra, iniciada no final de 1953, só foi concluída em 1968. Ver: ALVAREZ, Cícero. Palácio da Justiça de Porto Alegre. Construção e recuperação da arquitetura moderna em Porto Alegre 1952-2005. [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2008. 97 A estrutura do Palácio da Justiça foi projetada e calculada pelo Engenheiro Ivo Wolf. Além das estruturas especiais de pilotis e cobertura, a solução das lajes de entrepiso e dos pavimentos tipo são igualmente criteriosas, com lajes nervuradas de 40 cm de altura e módulos de 1,20m, que, por sua vez, adéquam-se à modulação geral do edifício (esquadrias, fechamentos, etc.). 96 Fonte: Fig. 24 - Edifício Nova Cintra, Parque Guinle, Lúcio Costa, Rio de Janeiro, 1948/1954. Plantas 2°, 4° e 6°. infraestrutura – externamente é revestido com granito rosa posto de forma rusticada, acentuando por um lado a ideia de topografia artificial, reforçando por outro a conexão com a tradição acadêmica (Fig.23). Da mesma forma, os diversos murais e afrescos, propostos desde o projeto original, tanto externa quanto internamente – gradativamente eliminados durante a revisão do projeto executivo, e retomados na realização da escultura Themis e os murais das fachadas leste e oeste, durante a restauração do Palácio realizada entre 2002 e 2006 – remetem à tradição presente na Arquitetura Moderna, como o movimento Síntese das Artes ou a arte muralista da arquitetura moderna mexicana (Fig.25). A questão das obras de arte no Palácio da Justiça evoca discussões mais amplas da arquitetura moderna brasileira e sua dimensão artística, ou 98 mesmo da crítica em relação a ela . No caso do Palácio da Justiça, a O inter-relacionamento artístico entre arquitetura e as “artes maiores” – pintura e escultura – já era objeto de atenção de Lúcio Costa e Le Corbusier nos primórdios da arquitetura moderna brasileira. O projeto do Ministério de Educação e Saúde Pública, de 1936, conjugava arquitetos, pintores, escultores e paisagistas, materializando as preocupações de Lúcio Costa nesse sentido manifestadas no texto “Razões de uma nova arquitetura”, do mesmo ano, identificando a importância do diálogo entre as artes, enquanto que Le Corbusier, no texto “A Arquitetura e as belas Artes”, escrito durante sua viagem ao Brasil, destaca a mesma posição. A ideia de monumentalidade e tradição, somada às referências Corbusierianas, perfaz uma tríade fundamental na arquitetura moderna brasileira, inicialmente na escola carioca, igualmente presente em ambos os palácios: Capanema e Justiça. Esse universo, a seguir abordado por Gidion, Sert e Leger no texto “Nove pontos sobre a monumentalidade”, tratando do tema da monumentalidade relacionado à integração das artes, será o objeto dos três CIAMs seguintes à Segunda Guerra (1947, 1949, 1951), do I Congresso Brasileiro de Arquitetos (1945) e, da mesma forma, base da crítica feita à arquitetura brasileira por Max Bill durante a II Bienal internacional de Artes de São Paulo (1952). Ver: FERNANDES, Fernanda. Arquitetura no Brasil no segundo pós guerra – a síntese das artes. VIII 98 86 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fig. 25 - À esquerda, painel com azulejos de Cândido Portinari, Ministério de Educação e Saúde Pública – MESP, Lúcio Costa, Carlos Leão, Affonso E. Reidy, Ernani Vasconcellos, Jorge M. Moreira, Oscar Niemeyer, Rio de Janeiro, 1936-1945. À direita, em cima, mural com mosaicos, Juan O´Gorman, Biblioteca Central da U.N.A.M., Juan O´Gorman, Gustavo M. Saavedra, Juan M. de Velasco, Cidade do México, 1953. À direita em baixo, baixo relevo em painéis pré-moldados em concreto, Carlos M. Fayet. Palácio da Justiça, Porto Alegre, executado entre 2003 e 2006, de acordo com o projeto de 1953. Igualmente, a vertente artística presente no Curso de Arquitetura da escola de Belas Artes, que Luís Fernando Corona e Fayet cursaram, e a expressão de Fernando Corona, pai de Luís Fernando, neste sentido somam fator significativo. A presença das obras de arte e seu caráter de monumentalização, assim como a dimensão evocativa do Palácio Capanema, concorrem com a tectônica de ambos os edifícios, construídos com matérias nobres, “de lei”, como argumenta Fernando Corona, na ideia de solidez e representatividade dos ideais de progresso social e ascensão coletiva da nação buscados na 100 arquitetura moderna como emblema . A construção do Palácio, em que pesem malogros de custos e cronograma, se afasta da busca de expressão nos sistemas construtivos à vista, de maior intensidade na arquitetura brasileira a partir dos anos 1960, e centra-se em certa tradição de revestimentos, estereotomias e texturas de materiais nobres, em particular das pedras de cantaria, e do desenho meticuloso da caixilharia, que acompanharam a arquitetura de tradição acadêmica e as obras inicias do Movimento Moderno, 101 incluso o brasileiro . Não há dúvida quanto à percepção, tanto da oportunidade quanto da carga emblemática, que o projeto moderno do Palácio da Justiça aportava à arquitetura moderna no sul, por parte dos autores, e igualmente, o significado social do judiciário na legislação do poder público e Alegre: PROPAR-UFRGS, 2008. FERNANDES, Fernanda. Arquitetura no Brasil no segundo pós guerra – a síntese das artes. VIII Seminário DOCOMOMO- BRASIL – Síntese e paradoxo das artes. DOCOMOMOCidades Moderna e Contemporânea, 2009. Disponível em: . Acesso em 25 ago. 2009, às 17h. 100 “[...] Os três poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário, são a casa do povo, onde este deverá entrar quando quiser, a cumprir os seus deveres ou a exigir os seus direitos. Estes edifícios públicos, estes três precisamente, devem ser sobretudo bem concebidos e melhor acabados. Devem ser austeros, de bom gosto e feitos com material de lei. Os povos sentem orgulho de mostrar ao estrangeiro sua riqueza coletiva, enquanto esta, acumulada, poderá um dia ser distribuída entre todos.” CORONA, Fernando. Edifícios públicos. Correio do Povo Porto Alegre, 15 Povo, out. 1958. p.10. 101 A construção do Palácio da Justiça foi feita através de licitações públicas das etapas de obra. Em 1953, inicia com a contratação da empresa Estacas Franki para a realização do estaqueamento. A estrutura fica a encargo da Construtora Ernesto Woebke SA, que inicia em 1955 e conclui em 1957. No mesmo ano, a empresa Carvalho e Hosken Ltda. é encarregada da construção das alvenarias, rescindindo o contrato em 1958 e sendo recontatada em 1960. A rede telefônica foi executada pela Ericsson do Brasil – Comércio e Indústria SA, esquadrias com a Metalúrgica METAMEX SA, elevadores com a ATLAS SA e, posteriormente, com as Indústrias Villares, condicionamento artificial pela CEI Brasil – Companhia de Engenharia e Indústria, revestimentos de pedras com a PIATELI & Cia. Ltda. e Floriani Cia. Ltda., ficando a obra parcialmente inacabada, porém inaugurada em 1968, sem a presença dos arquitetos, já constrangidos pelas ações da ditadura militar. Ver: ALVAREZ, Cícero. Palácio da Justiça de Porto Alegre Construção e recuperação da arquitetura moderna em Alegre. Porto Alegre 1952-2005. [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2008. Fonte: incorporação de elementos artísticos figurativos se, por um lado, podem oferecer interpretações ideológicas, por outro inserem-se absolutamente na 99 ideia de caracterização monumental e identidade cívica que o edifício sugeria . Seminário DOCOMOMO-BRASIL – Síntese e paradoxo das artes. Cidades Moderna e DOCOMOMOContemporânea, 2009. Disponível em: . Acesso em 25 ago. 2009, às 17h. 99 ALVAREZ, em seu texto, deposita como tributo à corrente denominada Realismo Socialista, os diversos murais figurativos e a escultura Themis propostos para o Palácio no projeto do concurso. Sem dúvida, a conexão progressista dos autores e a ideia de edifício público como espaço do povo, professados nos artigos de Luiz Fernando Corona publicados nos jornais da época, são ingredientes. No entanto, a objeção ao racionalismo moderno e a falta de uma identidade formal clara do Realismo Socialista, mais amparado em pensamento ideológico que em sistema estético, esvanece essa interpretação frente às conexões formais estabelecidas entre arte e arquitetura no Movimento Moderno, apontadas no texto de FERNANDES. Ainda uma interpretação, de certo modo cultural, poderia relacionar as obras figurativas com a tradição positivista do Estado, mas não parece ser esse o caso. Ver: ALVAREZ, Cícero. Palácio da Justiça de Porto Alegre. Construção e recuperação da arquitetura moderna em Porto Alegre 1952-2005. [Dissertação de mestrado]. Porto Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 87 sua presença edilícia na Praça da Matriz, em Porto Alegre, proximamente à 102 Catedral Metropolitana, ao Palácio do Governo e à Câmara Municipal . O paralelo com o episódio do Ministério de Educação e Saúde no Rio de Janeiro estava traçado, e mesmo se comparações críticas não denunciavam, paralelos estilísticos e referenciais evidenciam a aparentada filiação corbusieriana, o mesmo universo arquitetônico da equipe carioca, 103 respeitadas as distintas escalas e algumas diferenciações locais . Sem entrar em debates cronológicos, como a irreverente resposta que Lúcio Costa apresentou ao questionamento sobre o pioneirismo dos cariocas diante das obras paulistanas do imigrante Gregori Warchavchik, argumentando que arquitetura não é far-west, não importa quem fez primeiro, e sim o que foi 104 feito . Pelo momento e processo de realização do concurso do Palácio da Justiça, representatividade e localização, não há dúvida que seja o marco simbólico inaugural da Arquitetura Moderna Brasileira em Porto Alegre, ainda que sua arquitetura denuncie, por um lado, excessiva filiação estilística e, por outro, instabilidades econômicas e culturais locais. No memorial descritivo do concurso, os autores enfatizam a necessidade de produzir um edifício cuja legibilidade o relacione com os demais edifícios públicos e, simultaneamente, transmita os ideais de sobriedade e monumentalidade, cujo caráter e representatividade são pertinentes ao caso. Graeff, na publicação do projeto no número um da revista Espaço, manifesta: “O Palácio da Justiça pode ser considerado como o marco mais significativo do início do Movimento Moderno no Rio Grande do Sul. [...] Pelo fim a que se destina o edifício, pelo que ele representa para a coletividade e pela sua localização, garantidas as soluções de caráter técnico e utilitário, é fundamentalmente um problema de expressão arquitetônica”. Ver: GRAEFF, Edgar. Palácio Legislativo. Revista Espaço Arquitetura, Arquitetura Porto Alegre, ano 1, n. 2. p. 3. Na mesma direção, também a manifestação de Luiz Fernando Corona, em artigo crítico aos problemas de orçamento na execução da obra: “[...] os três poderes de um Estado, governativo, legislativo e judiciário, não podiam estar instalados em edifícios que não fossem dignos de austeridade pela forma, claros pela função, e ricos, sem suntuosidade, pelos materiais de seu acabamento”. Ver: CORONA, Luiz Fernando. Palácio da Justiça. Correio do Povo, Povo Porto Alegre, 31 mai. 1959. p. 34. 103 Demétrio Ribeiro, integrante do júri do concurso, a respeito do projeto do Palácio afirmou: “Uma obra como o Tribunal representa, realmente, um produto daqui, ou seja, dá a compreensão completa do que é novo, moderno e não tem nada de acadêmico. Mas há uma certa presença de uma história secular da composição arquitetônica, que vem talvez de um certo isolamento, não estávamos totalmente dependentes da corte de Capanema – e havia outras fontes de um passado, de um pensamento mais ponderado, uma cultura europeia mais marcante. É uma obra nova, indiscutivelmente, mas para durar muito tempo”. Ver: MAHFUZ, Andréa Soler Machado. Dois palácios e uma praça: a inserção do Palácio da Justiça e do Palácio Farroupilha na Praça da Matriz praça em Porto Alegre. [Dissertação de mestrado – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul]. Porto Alegre: UFRGS, 1996. p. 56. 104 “Não adianta portanto perder tempo à procura de pioneiros – arquitetura não é far-west, há precursores, há influências, há artistas maiores ou menores [...].” Ver: COSTA, Lúcio. Cartadepoimento, O Jornal, Rio de Janeiro, 14 mar. 1948. In: COSTA, Lúcio. Lúcio Costa: Sobre Arquitetura itetura. Arqu itetura Porto Alegre, CEUA, 1962. p. 124-125. 102 Dentro de uma solução espacial complexa, sofisticada e eficiente, de momumentalidade adequada ao caso, pesa sobre o Palácio da Justiça certo formalismo, não o da formalidade gratuita, desconectada de conteúdo histórico, muito menos o do trato epidérmico da arquitetura superficial com roupagens formalistas, mas certa literalidade formal na solução arquitetônica sobre a qual agem em demasia referenciais estilísticos. Os cinco pontos de Le Corbusier e as quatro composições, entronizados com as vanguardas cariocas dos anos 1930 e 1940, no caso do Palácio, e as interpretações formais de Oscar Niemeyer, de maior frescor no caso da Casa Cândido Norberto, delimitam, em meu entender, uma apriorística formalidade, próprias de um, embora competente, ainda 105 estudante de arquitetura e de um arquiteto talentoso, momentaneamente suscetível a ditames estilísticos. Modos de projeto mais maduros e integralizadores, de uma maneira de abordar o problema arquitetônico, no qual a lógica da solução e a consistência formal nascem e se desenvolvem durante o próprio projeto a partir da abordagem dos problemas específicos do programa, do sítio e da técnica correspondente, manifestaram-se de maneira mais consistente posteriormente, em particular nos projetos para a REFAP, procedimentos de projeto providos de certa universalidade moderna, que esteve presente de maneira significativa nos anos 1950 e 1960 no cenário brasileiro e no sul latino-americano, em particular, de maneira relativamente anônima. Pode-se afirmar que no sul do Brasil, dentro de determinada resistência local a formalismos apriorísticos, ainda que por conservadorismo e economia, o projeto e a consistência formal da solução arquitetônica armado sobre as circunstâncias específicas do problema arquitetônico em particular, com sensibilidade ao sentido comum e à construção racional, assumiu algum protagonismo na maneira de projetar dominante, que no caso de Fayet, manifestou-se inicialmente em outro concurso. Antes da refinaria, realizou, conjuntamente com Suzy Fayet o projeto para o Centro Evangélico de Porto Alegre (1959), vencido em concurso nacional 106 e construído dez anos mais tarde . Fayet, na oportunidade do projeto para a casa Cândido Norberto e do concurso para o Palácio da Justiça, mesmo coordenando o escritório de projetos da firma Barcelos e Cia. (o contrato do projeto do Palácio foi realizado em nome de Luis Fernando Corona e da firma Barcelos e Cia.), ainda não havia se graduado no Curso de Arquitetura, embora convidado por Luiz Fernando Corona, passaram a dividir escritório no Edifício Sulacap (1952-1959), já ao melhor estilo das parcerias formadas entre professores e alunos em prol da “boa causa da arquitetura moderna”. 106 Ver: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, Alegre 1987. p. 156-157. 105 88 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Mais algumas parcerias e o Centro Evangélico de Porto Alegre – CEPA (1959 - 1969) Fonte: Desenho Acad. Débora Assis Brasil e Sergio M. Marques Fonte: Acervo FAM Fig. 27 - Santa Casa de Caridade, Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, Bagé-RS, 1954. Fonte: SZEKUT, Alessandra Rambo. Vertentes da modernidade no Rio Grande do Sul. A obra do arquiteto Luís Fernando Corona. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura – PROPAR, UFRGS]. Porto Alegre: PROPAR, UFRGS, 2008, p. 155. http://lealevalerosa.blogspot.com.br/2010/05/hospitais-de-porto-alegre_1761.html Fig. 26 - Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Porto Alegre, 1959-1969. Antes de seguir carreira solo, após o projeto para o concurso do Palácio, Fayet concluiu sua parceria com Corona com mais alguns projetos não construídos, que parecem indicar o citado prenúncio de ajustes nos procedimentos de projeto, além de refletir novos ingredientes do debate arquitetônico local e nacional. O projeto para a Santa Casa de Caridade de 107 Bagé (1954) anuncia, ainda que dentro de determinados paradigmas formais, alguma mudança de foco, no qual o projeto parece nascer de uma análise criteriosa do complexo funcionamento de um conjunto hospitalar – composto de bloco de hospitalização, pronto-socorro, serviços gerais e garagem coberta, interligados entre si e com as instalações já existentes, das quais o projeto é ampliação – e de esquema espacial ordenado por relações geométricas 107 Fig. 28 - À esquerda, Santa Casa de Caridade, Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, Bagé-RS (1954). À direita em cima, Hospital Fêmina, Irineu Breitman, Porto Alegre, 1954-1955. À direita em baixo, Hospital de Clínicas da UFRGS, Jorge Machado Moreira, Porto Alegre, 1942-1958. precisas de teor urbano (Fig. 27). A necessidade de implantação do hospital em fases, dadas condicionantes orçamentárias, contribuiu para a decomposição do Medalha de prata na Seção de Arquitetura do 5º Salão de Belas Artes do Rio Grande do Sul (1954). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 89 Fig. 29 - À esquerda em cima, em baixo, à esquerda e à direita, Casa Manoel Quintanilha, Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, Bagé-RS, 1954. Em cima à direita, Residência Israel Iochpe, Edgar Graeff, Porto Alegre, 1953. programa em volumes autônomos que fazem entre si jogo neoplástico, em uma 108 organização de espaço urbano moderna . O esquema barra horizontal em altura associado à placa deitada junto 109 ao solo é de certa forma arquétipo presente em antecedentes modernos, como o canônico Hospital de Clínicas da UFRGS, em Porto Alegre (1942-1958), de Jorge Machado Moreira (Fig.29), cujo esquema formal foi também utilizado por Oscar Niemeyer no Hospital da Lagoa no Rio de Janeiro (1952), substituindo a placa junto ao solo por elementos formais aparentados com o conjunto da Pampulha, no mesmo ano que a Santa Casa de Bagé . O projeto de Fayet e Corona, ocupando a esquina da área pertencente à Santa Casa, recua a barra principal destinada ao bloco de hospitalização criando praça pública, ladeada a sul pelas garagens cobertas, ligadas por marquise externa, onde o esquema geral de implantação agrega paisagismo à Burle Marx (Fig.28). O edifício, de térreo mais seis pavimentos, orientado a leste e oeste, com os costados parcialmente cegos, apoia-se em base recuada, deixando à vista as colunas, pretensos pilotis, semelhante ao Hospital de Clínicas, e estrutura que permanece à vista a partir do terceiro pavimento, livre pela caixilharia recuada, mas interrompida pelo avanço dos peitoris horizontais, como no Hospital Fêmina - de Porto Alegre (1955), do mesmo ano (Fig.28). A organização da planta obedece sistema semelhante ao Hospital de Clínicas, conectando placa e barra por circulações que geram pátio entre ambos em um, e dentro da placa em outro. No segundo pavimento, o bloco cirúrgico projeta-se em direção à esplanada. Com tratamento diferenciado, estabelece jogo de assimetria com a marquise de acesso principal do edifício, igualmente projetada à frente, e com a praça, cuja relação parece uma constante, do Palácio ao Centro Evangélico. Logo após a contratação de ambos para o projeto da Santa Casa, Fayet e Corona também foram encarregados do projeto de outra casa, para o Sr. Manoel Quintanilha, membro da direção do hospital, igualmente não 111 construída (Fig. 29). Esse projeto dá sequência a estratégias utilizadas nas casas anteriores, de Corona e Fayet, estabelecendo sequencialidade de espaços através da articulação de pátios com espaços transparentes, esquema 112 que Corona adotaria, com requinte, no projeto de sua própria casa (1962) , e 113 Fayet, com Suzy, revisitaria na residência Petrôneo Correa (1963) e com 114 maestria na Residência Marcelo Blaya (1970) , onde o esquema ABAB – em que áreas de estar fechadas e abertas se intervalam, em jogo de continuidade – se encontra com melhor exploração dos planos constituintes do espaço, de maneira abstrata, sem perder, contudo, a noção do terreno e lugar. A residência Referência à primeira versão do projeto realizada pelo arquiteto carioca Jorge Machado Moreira para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, prêmio de Honra na Exposição do VI Congresso PanAmericano de Arquitetos (Peru, 1947) e Medalha de Ouro no Salão Nacional de Belas Artes (1949). Após dez anos de envolvimento com o projeto, Jorge Machado afastou-se da obra, que recebeu modificações a encargo de outros arquitetos. Ver: MIETHICKI, Marcus. O Hospital de Clínicas de Alegre. Porto Alegre A presença de Jorge Machado Moreira na arquitetura da capital gaúcha. [Dissertação de Mestrado – PROPAR, UFRGS]. Porto Alegre: UFRGS, 2006. 111 Ver: GONÇALVES, Magali Nochi Collares. Arquitetura bageense: o delinear da modernidade – bageense 1930-1970. [Dissertação de mestrado, PROPAR, UFRGS]. Porto Alegre: UFRGS, 2006. 112 Situada na rua Dr. Veridiano Farias, nº 98, Petrópolis, Porto Alegre. Ver: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p. 174-175. 113 Situada na Rua Prof. André Poente, nº 34, Independência, Porto Alegre. Idem. p. 190-191. 114 Situada na Rua Fernandes Vieira, nº 125, Independência. Idem. p. 236-237. 110 Fonte: SZEKUT, Alessandra Rambo. Vertentes da modernidade no Rio Grande do Sul. A obra do arquiteto Luís Fernando Corona. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura – PROPAR, UFRGS]. Porto Alegre: PROPAR, UFRGS, 2008, p. 69,70. 110 Segundo SZEKUT, de acordo com a orientação da instituição, a previsão era implantar o projeto em etapas. A autora, em seu texto, faz minuciosa descrição da distribuição de funções e organização geral do projeto. SZEKUT, Alessandra Rambo. Vertentes da modernidade no Rio Grande do Sul. A obra do arquiteto Luís Fernando Corona. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura – PROPAR, UFRGS]. Porto Alegre: PROPAR, UFRGS, 2008. 109 Conceito de arquétipo adotado de Piñon em texto recente: “A arquitetura moderna renunciou a autoridade da arquitetura clássica, por dois motivos: por uma parte devido à escassa adequação de seus esquemas aos novos programas surgidos da industrialização, e por outra devido às mudanças nos critérios formais a que deram lugar as vanguardas construtivas. Questionada a autoridade do tipo, os arquitetos modernos centraram a ênfase na concepção de um objeto a partir das condições que estabelece o programa. A experiência dos novos edifícios, projetados a partir de programas modernos e com sistemas construtivos tecnificados, gerou, de novo, arquétipos arquitetônicos que povoaram a melhor arquitetura do século XX [...]”. Ver: PIÑON, Hélio. Sobre tipos de edifícios. Quaderns d`architectura i urbanisme, Barcelona, n. 256, 2007. p. 138-139. 108 90 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 30 - Edifício Obino, Carlos M. Fayet, Luís Fernando Corona, Porto Alegre, Esquina Rua Avaí com Rua Lima e Silva, 195?. Fig. 31 - Edifício Obino, Carlos M. Fayet, Luís Fernando Corona, Porto Alegre, 195?. Em cima à esquerda: fachada Rua Avaí. Em cima à direita, fachada Rua Lima e Silva. Em baixo à esquerda, planta térreo, Em baixo à direita: planta tipo. Manoel Quintanilha formalmente parece retornar à investigação de caráter arquitetônico situado em contexto de ascendência carioca. Nesse sentido, 115 aproxima-se bastante da Residência Israel Iochpe (1953) , projetada por Edgar Graeff, tanto pelo partido quanto pelos elementos alusivos a um vernáculo nacional, como o telhado insinuado, as aberturas protegidas por espaço poché e elementos porosos, estruturas delgadas, varandas e espaços de transição (Fig. 29). Ainda outro projeto deste período, de data incerta, desenvolvido em nível preliminar para a Rua Lima e Silva, esquina com a Avaí, com certeza anterior à abertura da Avenida I Perimetral, transpõe para o contexto da habitação coletiva o sistema formal adotado no Palácio da Justiça: um conjunto de três barras de apartamentos, duas unidas entre si por uma circulação comum e uma terceira, na esquina, independente, com cinco tipos de apartamentos variando entre trinta e oito e cento e vinte metros quadrados (Fig. 115 30). O Edifício Obino, como chegou a ser denominado, teria térreo mais dez pavimentos na esquina e térreo mais oito pavimentos e cobertura nos blocos da Rua Avaí. As barras mais baixas, paralelas à rua, com as fachadas das áreas social e íntima a leste e a oeste, respectivamente, voltavam para a área interna da planta em "H" as áreas de serviço e banhos, através de circulações horizontais abertas. O mesmo esquema é adotado na barra mais alta, com frente a norte para a Lima e Silva (Fig.31). O conjunto, bastante semelhante em escala, implantação, solução funcional e esquema formal ao edifício Louveira (1946), de Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Fig.32), de certa forma dá continuidade a critérios corbusierianos de costados cegos e cobertura coroada pelo prolongamento da estrutura, adotado no pavilhão Suíço e disseminado pela escola carioca, à qual o edifício de Artigas e Cascaldi prestou tributo em 116 São Paulo . Situada na Travessa Desembargador Vieira Pires, esq, Rua Prof. Álvaro Alvim, Rio Branco, Porto Alegre. Uma das primeiras casas modernas desta escola construída em Porto Alegre, hoje pertence a Construtora Dallasanta. Idem. p. 102-103. CAMPOS desenvolveu análise pertinente ao caso sobre a qualidade urbana da arquitetura moderna na área da habitação coletiva, a partir dos anos 1930, em São Paulo, em especial com o edifício Louveira. Ver: CAMPOS, Cândido Malta. Edifício Louveira: arquitetura moderna e qualidade 116 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 91 Fonte: Foto Sergio Marques. Google Earth. Fig. 32 - Edifício Louveira, Vilanova Artigas, Carlos Cascaldi, Rua Piauí, Higienópolis, São Paulo, 1946. Do Pavilhão Suíço, o Edifício Obino incorpora ainda a ideia da circulação vertical, como corpo excêntrico e autônomo em oposição à regularidade da barra. No caso de Porto Alegre, as janelas em fita são substituídas por terraços rasgados, de fora a fora, sobre fachadas envidraçadas, conferindo mais leveza ao conjunto que, apoiado sobre base rusticada em pedra, recuada dos planos de fachada, cuja transição estrutural dos balanços, através de delgados pilares de transição, destoa da elegância do conjunto. A elegância é determinada, igualmente, assim como a referência de São Paulo, pela relação urbana das barras consigo mesmas – em que pese o sacrifício dos apartamentos voltados para a divisa oeste – e do conjunto com a cidade, configurando esquina e meio de quadra por relação de ortogonalidade entre objetos, prototípico do espaço urbano moderno. No mesmo ano do concurso do CEPA, Fayet realizou seu último projeto em parceria com Luís Fernando Corona e também seu pai e ex-professor Fernando Corona. O projeto, para a Imobiliária Imbal, incorporação de apartamentos para venda, em edifício de pretensões inovadoras para o mercado imobiliário de Porto Alegre, previa sistema de elevador de automóveis para as unidades, inédito no Brasil (Fig.33). A inovação, no entanto não era somente o sistema proposto pela Elevadores Atlas, mas além da organização urbana. V Seminário DOCOMOMO- Brasil – Arquitetura e urbanismo modernos: projeto e DOCOMOMOpreservação, 2003. Disponível em: Acesso em 24 dez. 2010, às 14h 34min. Fonte: Acrópole n. 232. São Paulo: 1958, p. 359. Fig. 33 - Edifício Imbal, Fernando Corona, Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, Porto Alegre, 1958. Pavto. tipo e elevador de automóveis para cada dois apartamentos. funcional eficiente das unidades habitacionais e clareza no sistema estrutural, a inflexão definitiva para estratégias formais neoplásticas geradas por sistema abstrato de ordenação dos elementos de arquitetura e construção do edifício. Em 1958, a arquitetura moderna em Porto Alegre já havia vicejado mesmo no mercado imobiliário, reduto tradicional de parcimônias em relação à inovação e à arquitetura moderna. Edifícios de apartamentos modernos, de bom calibre – como o Edifício Santa Teresinha (1950), de Carlos Alberto de Holanda Mendonça, Esplanada (1952), de Roman Fresnedo Siri, Link (1952), de Emil Bered, Roberto Félix Veronese e Salomão Kruchin, Redenção (1955), de Emil Bered e Salomão Kruchin, Armênia (1955), de Ari Mazzini Canarim – faziam jus à produção de boa qualidade arquitetônica em edifícios recorrentes, praticada por alguns dos professores e oriundos das primeiras turmas do curso de arquitetura do IBA e Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Mas, em especial, o Edifício Jaguaribe (1951-1957), de Fernando Corona e Luís Fernando Corona, dá o tom da investigação formal, cuja evolução no desenho das fachadas, desde 1951 até o estudo definitivo em 1957, denota a transição de um sistema formal de filiação carioca em direção à maior abstração, cuja habilidade Luís Fernando Corona iria praticando até sua morte precoce em 1977 (Fig.35). O edifício para a imobiliária Imbal parece ser prosseguimento dessa investigação (Fig.34). 92 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Alessandra Rambo. Vertentes da Modernidade No Rio Grande Do Sul: A Obra do Arquiteto Luís Fernando Corona. PROPAR/UFRGS (dissertação de mestrado), PEREIRA, Cláudio Calovi (orient.), Porto Alegre, 2009, p. 111. Fonte: Foto s Marcelo Donadussi in ALMEIDA, Guilherme Essvein de; ALMEIDA, João Gallo de; BUENO, Marcos. Guia de Arquitetura Moderna em Porto Alegre. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010, p.17 Fig. 35 - Edifício Jaguaribe, Fernando Corona e Luís Fernando Corona, Porto Alegre, 1951. Fig. 34 - Edifício Imbal, Fernando Corona, Luís Fernando Corona, Carlos M. Fayet, Porto Alegre, 1958. Fachada principal pintada a guache. Desenho de Luís Fernando Corona. A planta do pavimento tipo, em esquina, como o Jaguaribe, em terreno retangular, é resolvida de forma alongada, colocando todos os cômodos da área social e íntima para a fachada principal e dependências de serviço na retaguarda, definindo assim duas faixas longitudinais que coincidem com a divisão estrutural, de maneira semelhante ao que ocorre na perna principal da planta em “L” do Jaguaribe. A chegada de automóvel em cada pavimento, em um total de vinte e três, com dois apartamentos por andar, é realizada por elevador que distribui os automóveis em cada lado, como residências unifamiliares. A partir desse espaço, há acesso direto a todos os setores da unidade (social, íntimo e serviços) bem como ao elevador de serviço. Os elevadores sociais, independentes desta circulação, levam diretamente ao vestíbulo da área social, em organização criteriosa tanto do relacionamento das funções entre si quanto dos acessos, inclusive de automóvel (Fig.33). O desenho da fachada, uma pintura à guache, bem ao gosto da 117 estética gráfica da época, publicado na revista Acrópole , poderia ser um quadro de Paul Klee. Representa o criterioso estudo compositivo, em plano geométrico e dimensional, com decomposição do volume edilício em planos que envolvem dois pavimentos, formando uma “caixa”, intervalados por um pavimento “solto”, como um hiato que serve de fundo para as figuras retangulares definidas pelas caixas. A estrutura vertical resistente do edifício é visível por trás da trama horizontal, destacada em cores escuras, formando uma 117 Ver: EDIFÍCIO de apartamentos com garagem em cada pavimento. Revista Acrópole n.232, São Acrópole, Paulo: 1958. p. 358-360. 1958. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 93 grelha abstrata com o jogo das caixas, peitoris e topos de lajes horizontais, no melhor estilo de Mondrian. Tal relação entre a partitura estabelecida pela malha de pilares e a sequência de linhas horizontais é dramatizada pela fina cadência visual ordenada por critério formal rigoroso: ABCDEDCBA, onde “A” é o intervalo entre o entrepiso – delicadamente projetado ao exterior, como no 118 Edifício Jardim Chistoffel (1962), de Emil Bered – e o peitoril (B), que, por sua vez, é a linha horizontal inferior, que fecha a caixa; “C” é o intervalo entre o peitoril e a viga (D) e “E”, o intervalo entre a viga e o peitoril do próximo pavimento, que tem as mesmas dimensões que “D”. Assim, o esquema de linhas (figuras) e fundo (intervalos por onde se vislumbra a pauta gerada pelos pilares) volta a se repetir na ordem inversa, até fechar a caixa e criar um intervalo (A) para soltar a próxima laje e iniciar o ritmo outra vez, em jogo gestáltico de preciso apelo perceptivo. A complexidade e finura aumentam, quando, no décimo quarto pavimento, o critério muda: ADC faz a transição e, a partir daí, o esquema segue BADCDABC, fazendo dois pavimentos cada conjunto novamente. O terraço, ocupado por área de uso comum e jardim, é resolvido na fachada simplesmente com um hiato do plano de fundo e um coroamento com laje (A) (Fig. 34). Esse projeto, infelizmente não construído, vai bem mais além de um trabalho de estreantes; mesmo dirigido a encargo ordinário, propõe-se à investigação funcional e coerência plástico-construtiva, que impõem ao mercado e arquitetura média, integrante do tecido urbano, a mesma qualidade e rigor dos projetos excepcionais. Provavelmente, o projeto do edifício Jaguaribe (1951-1959), desenvolvido por Corona com seu pai, teve sua contribuição como experiência plástica. 119 No concurso para o CEPA, Fayet parece agregar outros ingredientes . O projeto do CEPA, em área central, em substituição à antiga igreja luterana 120 existente no local (Fig.36), cujo programa reúne as atividades do centro religioso com estacionamento público e edifício de apartamentos, estabelece Ver: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, Alegre 1987. p. 176-177. Bered utilizou este recurso formal inúmeras vezes em sua arquitetura de tendência neoplástica, afinada com outros arquitetos latino-americanos, como Luis García Pardo no Edifício Gilpe (1955) e no célebre Edifício Pilar, realizado com A. Sommer Smith (1957). Ver: GAETA, Julio (Org.). Luís Garcia Pardo – Monografias Elarqa 6. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 2000. 119 Moojen e Nadruz ganharam menção honrosa no mesmo concurso (Fig.39.6,7,8,9). 120 Segundo Suzy Fayet, este projeto, realizado em seu primeiro ano de formada, teve na solução geral e na definição do partido a concepção de Fayet. Sua participação centrou-se no desenvolvimento do trabalho, com o qual afirma ter aprendido bastante em relação ao uso do concreto, calculado por Knor. Para o detalhamento, principalmente na igreja, foi contratado o Arquiteto Armênio Wendhausen, que integrou a equipe e acompanhou o escritório na mudança para o edifício do IAB, com detalhes primorosos. FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao autor. Entrevista. Gravação digital, 18 ago. 2009. 118 Fonte: Porto Alegre Antigo. Fig. 36 - Igreja Luterana, Praça Otávio Rocha, Porto Alegre. Imagem de 1934. uma série de relações urbanas de caráter monumental por um lado e contextual por outro. Articulando continuidade espacial com a praça Otávio Rocha, organizada em níveis, de acordo com a topografia (Fig.37), com espaço semipúblico, concebido de maneira a, após o pórtico de entrada do conjunto, estabelecer nova praça elevada, cobertura do estacionamento e belvedere para o espaço urbano, a conexão urbana e ideia de lugar distinguem-se da forma apriorística em parte aportada à solução arquitetônica na relação do Palácio da Justiça com a Praça da Matriz. Emblemático o sentido moderno de substituição do templo historicista pela caixa de concreto, novo templo ladeia e se abre para a praça criada com fachada composta de planos de tijolos à vista, intervalados pela estrutura de concreto à vista, solta entre a caixilharia, jogo compositivo de raiz geométrica e rigor modular, utilizado posteriormente nos edifícios da 121 (Fig.37.2). Fayet, em depoimento, garagem e almoxarifado da REFAP descreve o programa e os conceitos do projeto: Fayet gerenciou o projeto do primeiro pavilhão construído na Refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas-RS, onde o sistema semiporticado e coordenação modular, com a estrutura ordenando a composição e formalidade do espaço, utilizados na igreja do Centro Evangélico, foi otimizado pelas lógicas construtivas da pré-moldagem adotados pioneiramente no caso da Petrobrás. 121 94 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Desenho Débora Assis Brasil, Sergio Marques 37.2 Fig. 37.2 - CEPA, Praça semipública, e fachada lateral da igreja. Fonte: Acervo FAM Fonte: Desenho Débora Assis Brasil e Sergio Marques 37 Fig. 37 - Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Praça Otávio Rocha, Porto Alegre. Fachada principal, projeto executivo, 1960. Fonte: Desenho Débora Assis Brasil, Sergio Marques Fonte: Acervo FAM, Fotos Sergio Marques, 2010 Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010 37.1 Fig. 37.1 - CEPA, Praça semipública, e vista da Praça Otávio Rocha. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 37.3 Fig. 37.3 - CEPA, fachada principal e acessos, Rua Senhor dos Passos. Sergio M. Marques 95 38 Fig. 38 - Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Praça Otávio Rocha, Porto Alegre. Fachada principal, Edifício de Apartamentos, 1960. A ideia foi, em primeiro lugar, de dar à igreja uma presença importante na praça, substituindo a antiga igreja de uma arquitetura europeia, pequenininha e bastante bonitinha. Garantir que no eixo da subida, da continuação da Otávio Rocha, sequência da praça, se tivesse uma visão do campanário que seria separado e externo. O projeto previa uma grande placa, a exemplo do Palácio da Justiça, onde estariam os quatro evangelistas, que hoje foram substituídos por uma cruz. Eu fiz uma viagem à Europa, que nunca tinha feito até então, e achava muito interessante aqueles pequenos jardins ao lado das pequenas igrejas, de beira de passeio, em Paris especialmente. Tem igrejas, na borda do alinhamento, sem recuo, com um pequeno jardim com banco, semipúblico com um pequeno gradil. O pessoal pode entrar e sentar. Então eu queria criar um ambiente daqueles para dar continuação ao espaço da Praça Otávio Rocha, jogando para trás, como uma espécie de cenário, ou melhor ainda, de tapume dos prédios que se veriam ao fundo, que estavam em construção na parte mais elevada da cidade. Da igreja se veria o volume quase que integralmente contra aquele plano que tinha que ser um tecido. Então a solução foi fazer o que fosse necessário, tanto para as instalações da paróquia como para os apartamentos, para que tudo 122 ficasse coberto com combogó. O volume da igreja perfaz uma caixa de concreto à vista – no qual não foram executadas as quatro imagens dos Evangelistas, previstas no projeto original, solução similar à fachada do Palácio da Justiça em relação à Praça da MARQUES, Sergio Moacir. Fayet Entrevista_Obra. Entrevista. Gravação digital DVD. Cópia Entrevista Digitada. Porto Alegre, 2005. 122 Matriz – que se debruça sobre o passeio através de vigas de seção quadrangular em balanço, visíveis na frontalidade do edifício. Uma aparente relação agressiva com o pedestre, que circula sob o balanço debruçado sobre a entrada da garagem, é imediatamente subvertida ao ingressante, que através de escada e rampa, postos à direita da fachada – na perspectiva do passeio que ladeia a praça Otávio Rocha, em direção à rua Senhor do Passos – ascende à igreja e praça semipública, fazendo da calçada apenas uma intermediação ao espaço configurado (Fig.37.3). A sucessão de planos oferecidos à paisagem urbana, pelo partido em “L” do conjunto, que cria a praça interna, devolve à perspectiva do ingressante as relações visuais de planos ortogonais e composição abstrata, prototípicos do lugar moderno, porém formalizados em franco diálogo com a cidade histórica. No entanto, a ausência do campanário em forma de torre, no eixo da rua que ladeia a Praça Otávio Rocha, previsto no projeto vencedor do concurso como centro de gravidade da composição da fachada principal, articulando transversalmente o corpo da igreja com o pórtico de aceso à praça interna e, simultaneamente, articulando longitudinalmente o percurso desde o espaço público até o interior, enfraquece a dimensão urbana pretendida inicialmente (Fig.37). O novo campanário, transferido para a praça interna e diminuído de sua escala original, atesta a perda de função do elemento original, cuja proporção, presença do relógio e da cruz – executada pelos dirigentes do CEPA, na fachada da igreja, em substituição às imagens dos evangelistas – acertavam a medida de monumento e tecido, de templo e espaço cívico do CEPA. O corpo principal do conjunto, tanto pela volumetria quanto pela vitalidade permanente do Centro, o edifício de apartamentos justaposto ao fundo do lote, ao contrário de todos os demais, atua como bastidor, fazendo as vezes de mantilha sobre a paisagem prolixa dos interiores de quarteirão (Fig.38) Vigas horizontais e elementos vazados de concreto formam o urdimento poroso do cenário urbano. O mix de atividades proporcionado pelo programa igualmente se contrapõe a uma ideia de literalidade enquanto ocupação funcional de usos exclusivos por vezes acusada à arquitetura moderna, enquanto prática racionalista sectária, mas nem sempre praticada de maneira aleatória ou indiscriminada, como neste caso. O CEPA, pelo conjunto de relações oferecidas, sinaliza um marco referencial de expedientes arquitetônicos e urbanísticos, que tanto de maneira inaugural na promissora carreira profissional de Fayet, quanto de forma recorrente na produção de projetos de arquitetura e planejamento urbano dos demais de sua geração, denotam lógicas de projetação da arquitetura moderna, cuja regularidade, qualidade, disseminação e perenidade foram pouco igualados no segundo quartel do século XX e princípios deste (Figs. 39). Fonte: Foto Sergio Marques, 2010 96 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Acervo FAM Fonte: desenho Débora Assis Brasil, Sergio Marques 39.2 Fig. 39.2 - Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, planta nível 2° Pavto, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Porto Alegre. 39 Fig. 39 - Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, corte longitudinal sobre a igreja e edifício, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, 1960, Praça Otávio Rocha, Porto Alegre. Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM, Desenho Débora Assis Brasil e Sergio Marques Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM 39.1 Fig. 39.1 - Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, croquis de estudo e imagens do interior da igreja, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, 1960, Praça Otávio Rocha, Porto Alegre. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 39.3 Fig. 39.3 - Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA. Acima, detalhes da igreja de Armando Wendhausen,1960. Abaixo interior da igreja, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Porto Alegre. Sergio M. Marques 97 Fonte: Fonte: desenho Débora Assis Brasil, Sergio Marques. Google Earth Fonte: Fotos Sergio M. Marques, 2010 39. 9.4 Fig. 39.4 - Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, fachada oeste, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, 1960, Porto Alegre. 39.5 Fig. 39.5 - Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA. À esquerda fachada norte e oeste. No meio, fachada oeste sobre a marquise. A direita, relação com a praça. Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, 1960. 98 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Desenho Débora Assis Brasil, Sergio Marques 39.8 Fig. 39.8 - Concurso, Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, planta, nível de acesso, Menção Honrosa, Moacyr Moojen e Nestor Nadruz, 1960, Porto Alegre. 39. 9.6 Fig. 39.6 - Concurso, Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, vista da Praça Otávio Rocha, Menção Honrosa, Moacyr Moojen e Nestor Nadruz, 1960, Porto Alegre. O projeto de Moojen e Nadruz, de certa forma se relaciona de maneira mais amigável com a rua, adotando o consagrado partido de placa baixa na escala do pedestre e torre recuada sobreposta, onde a criação de uma "fachada" elegante, articulada ao passeio está mais presente. A torre de apartamentos, por sua vez assume a monumentalidade adotada pelo campanário separado na proposta de Fayet e Suzy, ocupando posição semelhante. No entanto, apesar de uma formalidade mais embrutecida na relação visual com o espaço público, provocada principalmente pelo volume da igreja em balanço sobre o passeio, a proposta vencedora, cria uma relação com o espaço público, cuja dimensão urbana, tanto pelo promenade oferecido pela praça semi-pública, quanto pelas visuais recíprocas, desde este espaço sobre a Praça Otávio Rocha e vice-versa, onde a torre de apartamentos como bastidor, completa o lugar com mais pertinência. Fonte: Desenho Débora Assis Brasil, Sergio Marques. Fonte: Original do Concurso, Acervo FAM 39.7 Fig. 39.7 - Concurso Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, fachada oeste, Menção Honrosa, Moacyr Moojen e Nestor Nadruz, 1960, Porto Alegre. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 99 Quem casa quer casa Residências Henrique Krolikowski, Petrônio Correa e outras (1959-1981) O casamento de Fayet com Suzy Therezinha Brücker Fayet foi além da união conjugal e da formação de uma nova família. Entre as afinidades pessoais, ascendência germânica e o interesse comum em estruturar uma vida de certa maneira rigorosa, tanto em termos de objetivos quanto de cotidiano, a reciprocidade na arquitetura, ainda que obscurecida pelo brilho de Fayet, é igualmente importante. Suzy, filha de descendentes alemães, bastante talentosa para as artes, sempre apreciou o meio cultural, tendo pautado sua vida entre a organização doméstica, com bastante afinco, e a arquitetura, à qual se dedicou profissionalmente até determinada etapa da sua vida, quando cedeu espaço para a administração do patrimônio do casal. Desde sempre teve gosto pela leitura e pela música, hábito constante e frequente em toda a vida. Com Fayet e família, compartilhava também o apreço, de certa maneira comum entre os de ascendência alemã, de manter contato frequente com o ambiente natural e a frugalidade do meio rural. Assim, desde cedo adquiriram terras em São Sebastião do Caí, no Distrito Capela de Santana, próximo à Barragem Barão do 124 Rio Branco , localidade de familiares de Suzy, onde logo, com esforço e capacidade de organização admiráveis, estruturaram pequeno sítio de produção hortifrutigranjeira, para abastecimento da família e pequeno 125 comércio . Do núcleo inicial emprestado aos Fayet, onde pré-existia pequena casa de madeira construída para os operários da hidrovia, adquiriram gleba mais importante e afastada, também com modesta construção de madeira que, com o passar dos anos, foi se tornando maior e mais confortável, graças principalmente ao trabalho de Suzy, sem perder no entanto a simplicidade e despojamento originais, em um sentido de aproveitamento inteligente do existente e otimização dos recursos, típicos (Fig.41). Processo semelhante se deu na propriedade dos Fayet em Santa Catarina. Nos anos 1970, ao realizar um trabalho em Florianópolis, Fayet conheceu o Município Governador Celso Ramos, ao norte de Florianópolis, e logo adquiriu, dos pescadores, uma pequena propriedade, à beira mar, na localidade de Armação da Piedade, próxima à Vila dos Ganchos, dentro da área de proteção ambiental do Ahnatomirim, que gradativamente foi ampliando, com Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. Construída em 1928, no governo Getúlio Vargas, a primeira barragem da América Latina, visando melhorar a navegabilidade do rio, quando todo o transporte entre São Sebastião do Caí e Porto Alegre era via fluvial. 125 Além da criação de cavalos, os Fayet produziam hortaliças, frutas, ovos, leite, legumes, tornandose autossuficientes em uma série de produtos e negociando os excedentes com outros produtores da região, prática que teve sequência, profissionalmente, pela filha mais velha, Beatriz Brucker Fayet, que mesmo tendo posteriormente trabalhado na área administrativa da Equipe de Arquitetos, com Araújo e Fayet, sempre manteve atividade econômica ligada à produção do Sítio da Barragem. 124 123 123 Fonte: Acervo FAM Fig. 40 - Retrato de Suzy Brücker, Carlos M. Fayet, Grafite sobre papel, 1947. 100 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Google Earth Fonte: Google Earth Fig. 41 - "Sítio da Barragem", Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, propriedade no Distrito Capela de Santana, São Sebastião do Caí, às margens do Rio Caí. Fig. 42 - "Sítio da Armação", Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, propriedade na Costeira da Armação, Governador Celso Ramos-SC. novas aquisições, até a configuração atual de aproximadamente cento e quinze hectares, com entorno de um quilômetro de praia (Fig.42). O lugar, um paraíso ainda relativamente intacto dos processos predatórios de urbanização de baixo calibre, comuns em Santa Catarina, foi sendo mantido e utilizado com o mesmo espírito que o Sítio da Barragem. Benfeitorias aditivas e comedidas, regulares e frequentes foram pouco a pouco dando consistência à estrutura da área, sem nunca perder o sentido primitivo de sua condição original. A casa "núcleo", onde inicialmente não havia nem energia elétrica, nem água encanada, em um processo de agrandamento por "citocinese", foi adquirindo cômodos, ampliando terraços e incorporando infraestrutura, conquistados tenazmente por Fayet e gestionados por Suzy com dedicação constante e duradoura (Fig.43). Ambas as casas, tanto Sítio da Barragem quanto Casa da Armação, adquiriram identidades semelhantes: ranchos, elevados do solo, cobertos por telhas de barro envelhecidas, cômodos compartimentados com madeira abrindo para varanda perimetral, que, com estrutura delgada e baixa altura, emolduram a paisagem circundante promovendo interface qualificada entre paisagem – campo em uma, mar em outra – e a casa. Em ambos os casos, no entorno imediato, outras benfeitorias foram configurando as pequenas sedes Fonte: Foto Sergio Marques, 2008 Fig. 43 - "Casa da Armação", Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Costeira da Armação, Governador Celso Ramos-SC, 1972-2000. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 101 Fonte: Foto Sergio Marques, 2008 Fig. 44 - "Tambo de Leite", Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Costeira da Armação, Governador Celso Ramos-SC, 1972-2000. das propriedades, na forma de núcleos com casa para caseiros, tambos de leite, moinhos, galinheiros, áreas de lazer, etc. (Fig.44). As casas dos Fayet, de alguma forma, fazem um paralelo relativamente frequente entre arquitetos da vanguarda moderna, que equilibravam sua ação urbanizadora, edificatória e civilizadora em refúgios pessoais primitivos, com o sentido do Cabanon de Roquebrune-Cap-Martin (1952) de Le Corbusier. Araújo, igualmente ligado às atividades campeiras mais características da região da fronteira e das áreas de criação de gado, também encontrou seu refúgio predileto na casa de campo da família de Mary Suzana, a "Casa do Barão do Aceguá" (início do séc. XX), para onde se dirigia regularmente e onde, da mesma forma, se dedicou à realização de uma série de benfeitorias. Moojen com menos ligação familiar no campo, e de certa maneira menos afeto à vida rural, igualmente construiu e manteve constantemente a "Casa de Ipanema" (1958-1961) (abordada no capítulo "A Casa de Ipanema – um dos protótipos?: 1958"), para onde as famílias de Fayet, Araújo e Moojen se dirigiam regularmente nos finais de semana durante toda a década de 1960 e boa parte dos anos 1970, para confraternizar. Por fim, ainda como patrimônio pessoal do casal e investimento, Fayet e Suzy projetaram e construíram os edifícios na rua Vitória (1977), com fundos para a Avenida Ipiranga, com o objetivo de organizar uma pensão familiar, para renda, cuja atividade ainda se mantém (Fig.45) e a incorporação Edifício Colina Fonte: Fotos Sergio Marques, 2012 Fig. 45 - "Edifício da Rua Vitória", Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Porto Alegre, 1977. Edifício Colina dos Ventos, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Porto Alegre, 1979-81. dos Ventos, na rua Toropi (1979-1981), onde Fayet residiu e localizou escritório, em apartamento triplex, na última etapa de sua vida, antes de falecer (Fig.45). As ações arquitetônicas conjuntas do casal, além de potencializar a organização familiar e o patrimônio, igualmente foram prolíferas na produção profissional, desde a primeira associação com Corona e, posteriormente, durante toda a década de 1960 e meados dos 1970, em especial no projeto e construção de uma série de casas privadas, que em algumas oportunidades, como após o expurgo de Fayet da UFRGS em 1968, eram a principal fonte de 126 renda familiar . Os projetos residenciais em parceria foram, de certa maneira, um escritório paralelo que Fayet manteve ao largo de suas primeiras duas Suzy depõe que, até 1968, com Fayet dando aulas na FA-UFRGS e no IBA, e tendo passado pela PMPA, não dispunha de tempo contínuo para permanecer no escritório. Portanto, decidiram que Suzy não deveria integrar-se em nenhum emprego regular e permanecer no escritório coordenando os trabalhos, que ambos conduziam juntos. Com a cassação de Fayet, ficaram integralmente dedicados ao escritório, tempo em que aceitaram encargos de projeto e execução de casas e reformas. FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, 18 ago. Entrevista. 2009. 126 102 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Acervo FAM décadas de carreira, Nessa condição, Suzy, efetivamente, além de esposa, foi uma sócia importante e competente. As casas projetadas por ambos mantêm, de certa maneira, uma unidade em termos de critérios de projeto: atenção pormenorizada ao programa e ao bom funcionamento, com densidade de equipamentos e funções incorporadas à própria construção; soluções construtivas recorrentes, adotadas com realismo e resolvidas com rigor e solução formal recatada, quase severa, de pouca carga histriônica, porém por vezes excessivamente convencional. Projetaram juntos aproximadamente vinte 127 residências, muitas construídas por eles, dentro desta mesma cadência . Residência Dr. Romeu, Caxias do Sul – RS (1961); Residência Sr. Henrique Krolikowski, Jardim Lindóia, Porto Alegre – RS (1960-1961); Residência Sr. Wilmar Ferreira, Cel. Demétrio Ribeiro, Porto Alegre – RS (1962); Residência Sr. Petrôneo Correa, Rua André Puente, Porto Alegre – RS (1963); Residência Dr. Carlos Coutinho, Rua João Obino, Porto Alegre – RS (1964); Residência Sr. Waldir Bischoff, Rua Artur Rocha, Porto Alegre – RS (1969-1970); Residência Sr. Renato Menzel, Rua Maracá, Porto Alegre – RS (1969-1970); Residência Marcelo Blaya, Rua Bororó, Porto Alegre – RS (1969), Residência Dr. Marcelo Blaya, Rua Fernandes Vieira, Porto Alegre – RS (1970); Residência Dr. Marcos Nestrovsky, Rua Langendonck, Porto Alegre – RS (1970); Residência Dr. Zeniro Sanmartin, Rua 14 de Julho, Porto Alegre – RS (1971); Residência de praia, Dr. Marcelo Blaya, Gov. Celso Ramos – SC (1973/1974); Residência Sr. João Carlos Schell, Rua José Sanguinetti, Porto Alegre – RS (1974); Residência Dr. Jaime Paz da Silva, Porto Alegre – RS (1974); Residência de praia Dr. Ary Juchem, Xangrilá – RS, (1974); Residência Dr. João Antonio Martinez (reforma e aumento), Rua Prof. Emílio Mayer, Porto Alegre – RS (1974); Residência Sr. Jorge Inda, Jardim Isabel – Pedra Redonda, Porto Alegre – RS (1974); Residência Sr. Marco Antonio Fonseca, Belém Novo, Porto Alegre – RS (1976); Residência do Dr. David Zimmermann, Porto Alegre – RS (1977); Residência do Dr. Abade Pereira Bulhões, Porto Alegre – RS (1977); Residência Dr. Vitor Stumpf, Gravataí – RS (1977); Residência de veraneio Sr. Ernesto Neuguebauer, Gov. Celso Ramos – SC (1981). 127 Fonte: Acervo FAM, Google Earth, fotos Sergio Mauqes, 2012 Fig. 46 - Residência Sr. Krolikowski, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Porto Alegre, 1960-61. Fig. 47 - Residência Sr. Krolikowski, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, planta pavto. único e vistas Porto Alegre, 1960-1961. A casa para o Sr. Krolikowski , primeira da série e primeiro trabalho profissional de Suzy, guarda, a matriz fundamental de todas as demais, principalmente a engenhosidade da planta e a despretensão formal, filiada mais à vertente da Casa Manuel Madureira Coelho que à da Casa Cândido Norberto (Fig.46). A construção, disposta em terreno de certa topografia, acomoda o volume principal em um promontório, encaixando garagem para dois veículos no nível inferior. A planta superior, de uma casa térrea, organiza todos os setores com habilidoso jogo de pátios e prolongamento de muros oriundos da compartimentação interna da residência, em arranjo próprio dos sistemas 128 128 Cliente indicado pelo jornalista Ernesto Valdez, amigo de Fayet, para quem, posteriormente, Corona e Fayet igualmente projetaram a residência. FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento Entrevista. ao autor. Gravação digital, 18 ago. 2009. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 103 Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 49 - Residência Sr. Krolikowski, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, fachada principal, sul, 19601961. Fig. 48 - Residência Sr. Krolikowski, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, estudos para a Lareira de Suzy B. Fayet, 1960-1961. espaciais neoplásticos adotados por Mies. Porém, os arquitetos gaúchos desta geração, em particular Fayet, Araújo e Moojen, mantinham certo olhar na arquitetura residencial norte-americana, principalmente a produzida entre 1940 129 e 1960, no Study cases houses program – notoriamente, Craig Ellwood e Ed Killingsworth foram premiados nas Bienais de São Paulo de 1953 e 1961 respectivamente – a qual, dada a proximidade com os arquitetos paulistas, igualmente signatários dessas influências, só fazia acentuar. Ainda a revista 130 Pilotis, editada por estudantes do Mackenzie , entre 1948 e 1951, era 129 O Case Study House Program foi um programa de projetos e obras de casas experimentais, promovido de 1945 a 1964, pela revista norte-americana Arts & Architecture, editada por John Dymmock Entenza, um importante personagem cultural da época, objetivando o uso da industrialização na construção do design total dos componentes e da estética moderna. Ver: SMITH, Elisabeth A. T. Case Study Houses – The complete CSH Program 1945-1966. Taschen: Colõnia, 2009. 130 Jorge Wilheim, Roberto Carvalho Franco, Carlos Milan e outros, contemporâneos à geração de Fayet, Araújo e Moojen. O Mackenzie, instituição onde também se formou Oswaldo Bratke, sempre fortemente influenciada pela revista californiana, Arts & Architecture, promotora do Study cases houses program. As casas de Fayet e Suzy, no entanto, não se detinham tanto em esquemas artísticos e formas abstratas quanto as de Moojen e Araújo. Induziam solução carregada de praticidade e pragmatismo, simultânea à atenção ao conforto e calidez doméstica, quase pitoresca em determinado sentido. A distribuição das atividades, em planta baixa, na Casa Krolikowski, obedece princípios de funcionalidade bastante pormenorizados, assim como, decorrente desta organização, o jogo de pátios estabelece relações espaciais qualificadas (Fig.47). O arranjo geral do volume foi organizado em "T", com o corpo principal, contendo estar e ala íntima, entre medianeiras, da largura generosa do terreno, de vinte e dois metros de frente (na verdade dois de onze metros), com um volume perpendicular contendo os serviços, que divide o pátio dos fundos em dois (Fig.47). A planta do volume fronteiriço, por sua vez, é organizada funcionalmente em cruz, com uma circulação longitudinal paralela à fachada principal que coordena toda a circulação e acessos, e o plano que separa a ala íntima da social, prolongamento, por sua vez, do volume perpendicular (Fig.47). Assim, na extremidade oeste da planta, temos estar, articulado por permeabilidade com estar íntimo, copa, gabinete e hall, ligados diretamente ao pátio dos fundos, através de varanda e pérgula. O pátio é configurado pela parede alta da divisa oeste, que se prolonga desde a casa e envolve perímetro e parede de pedra, que separa o volume de serviços, onde estão cozinha e dependências de empregada. Na extremidade leste, os três dormitórios foi escola de grande prestigio, entre os gaúchos e no restante do país, pela formação técnica de seus egressos. 104 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p. 190-191 Fig. 50 - Residência Sr. Petrônio Correa, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, fachada principal, norte, 1963. Fonte: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p. 190-191 Fonte: Acervo FAM principais igualmente voltam-se para os fundos a norte, deixando quarto de hóspedes e banheiros para a fachada principal, sobre a garagem. Esses dormitórios abrem-se para pátio próprio, delimitado pelo prolongamento da parede de separação entre as alas que, inflectindo paralelamente à fachada, com elementos vazados, separa o pátio dos fundos leste em dois, no sentido transversal do terreno, restando, portanto, um terceiro pátio ligado ao volume de serviços. A solidez funcional da planta reflete um olhar atento aos modos de vida da classe média em Porto Alegre, assim como o conforto da casa moderna. Os diversos estudos de Suzy e Fayet para o ambiente da lareira na sala de estar enfatizam essa atenção ao doméstico e ao abrigo familiar emblematizados pelo 131 fogo, segundo Semper (1803-1979) e Françoise Choay (1925) , materializada 132 em detalhes construtivos, normalmente desenvolvidos por Suzy (Fig.48) . A solução formal do conjunto mantém o mesmo espírito: um volume único, com telhas de barro, duas águas, encabeçado nas extremidades pelo Fig. 51 - Residência Sr. Petrônio Correa, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, plantas térreo e 2° pavto., 1963. Fig. 52 - Residência Sr. Petrônio Correa, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, corte longitudinal, 1963. Gottfried Semper, um dos arquitetos alemães mais importantes do Século XIX, afirma que um dos elementos primitivos do abrigo é o fogo, representando o controle da natureza e a ação do homem sobre os agentes. Para Françoise Choy, "o mito de origem da construção está diretamente associado ao fogo. A cabana primitiva e o fogo primitivo revelam-se como inseparáveis. O rito, o mito e a consciência nascem, para a humanidade, da associação da casa e do fogo". Ver: MIGUEL, José Marão Carnielo. Casa e lar: a essência da arquitetura. Arqtextos Vitruvius São Paulo, 029.11, Vitruvius, ano 3, out. 2002. Disponível em: . Acesso em 09 ago. 2010. 19h47min 19h47min 47min. 132 Suzy depõe que, de fato, o grande acontecimento da casa era a lareira, pesquisada por ela tenazmente em revistas americanas e alemãs. FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao Entrevista. autor. Gravação digital, 18 ago. 2009. 131 pano cego das divisas que se pronunciam nas laterais, conjuntamente com beiral e piso de acesso sobre-elevado, criando uma espécie de moldura (Fig.49). O "recheio" dessa moldura obedece o esquema ordenado de planos, opacos, transparentes ou intercalados, com variação de texturas de acordo com o material e variação de alinhamentos de acordo com os cômodos, em um jogo de certa forma aparentado com o sistema formal da Casa Pegoraro (1960), de Araújo (quiçá mais abstrata se não fosse pelo telhado), e da Casa de 133 134 Ipanema de Moojen (1958-1961) . A residência Petrônio Correa (1963) , feita logo a seguir, tem outra configuração (Fig.50). Em um terreno mais apertado, com onze metros de frente e aproximadamente cinquenta de fundos, organiza Abordados, respectivamente, nos capítulos "Casas Telmo Ferreira, Lauro Borges, Antônio Pegoraro e Paulo Torelly – Cada Casa é um caso? – 1955-1961" e "A Casa de Ipanema – um dos protótipos?: 1958". 134 Ver: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, Alegre 1987. p. 190-191. 133 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 105 Fonte: Acervo FAM Fig. 53 - Residência Sr. Renato Menzel, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, fachada principal, 1969. igualmente os cômodos relacionando-os com pátios, porém em dois pavimentos, de forma que o térreo é dividido em duas "faixas" longitudinais e o segundo pavimento em quatro transversais. Os princípios de ordem, em faixas funcionais, são significativamente qualificados novamente pela estratégia dos pátios, que de certa maneira incidem no acesso principal à casa (Fig.51), e outro, separado deste pelo prolongamento da parede da sala, situa-se entre o estar e a garagem. Na parte dos fundos, a norte, a sala abre-se em toda a extensão transversal da casa para o pátio social, delimitado pelas paredes altas de divisa e o pavilhão de jogos e churrasqueira, que, por sua vez, separa ainda outro pátio, na extremidade norte do lote, com dependências de serviços. A casa Petrônio, assim como as demais, obedece criterioso detalhamento construtivo e projeto de interiores coordenado por Suzy, compensando, talvez, sua relativa modéstia estrutural e construtiva, partidária da economia, ainda que neste caso abandone o uso do telhado à vista por cobertura com telhas de 135 alumínio, escondido por platibandas (Fig.52). No final da década de 1960 e ao longo dos 1970, com a cassação de Fayet, as residências foram, por um tempo, a principal atividade profissional dos Fayet, e também o envolvimento aumentou com a execução das obras, que passaram a administrar. Essa etapa inicia, de certa forma, com as residências 136 Renato Menzel (1969) (Fig.53) e Marcello Blaya (1970) (Fig.54) e coincide com Segundo Suzy, praticamente todo o mobiliário da casa foi desenhado por eles e executado em madeira. Os proprietários ficaram amigos e muito contentes com o projeto, no entanto, após um ano de ocupação, o Sr. Petrônio Correa foi transferido para São Paulo e a casa vendida. FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, 25 abr. 2009. Entrevista. 136 Casa com esquema funcional semelhante ao da casa Curuchet de Le Corbusier, em La Plata, com um volume fronteiriço que abriga o consultório do Dr. Blaya. Porém o detalhamento interno, muito semelhante, segundo Suzy, ao da Residência Renato Menzel, segue rigorosamente o padrão 135 Fonte: Acervo FAM Fig. 54 - Residência Sr. Marcelo Blaya, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, fachada principal e detalhes semelhantes ao Edifício FAM, 1970. este período certa variação de estratégia arquitetônica, principalmente nos sistemas construtivos e consequente formalidade, com paulatino e crescente incremento do uso do concreto armado como meio estrutural e plástico, cuja ascensão na arquitetura brasileira já havia se consolidado, principalmente pelos paralelos paulistas e as próprias experiências de Fayet, Araújo e Moojen, em especial, na Petrobras e FAM. e soluções utilizadas no Edifício FAM (Figs.54). Ver: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura Alegre. moderna em Porto Alegre São Paulo: Pini, 1987. p. 236-237. 106 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Acervo Família Fayet Fonte: Acervo Família Fayet Fig. 55.1 - Suzy B. Fayet, Carlos M. Fayet, São Miguel das Missões. 55. Fonte: Acervo Família Fayet Fig. 55 - Suzy B. Fayet, Carlos M. Fayet, Parque Farroupilha, carnaval em Rondinha-RS e Centro de Porto Alegre, 1952 . Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo Família Fayet 55.2 Fig. 55.2 - À esquerda, Suzy B. Fayet, Carlos M. Fayet. No meio, Julio Nicolau Barros de Curtis. A direita no fundo, João José Vallandro e Irineu Breitman. Churrasco dos bixos, I.B.A, 1951. Sergio M. Marques 107 PMPA e UFRGS – Arquitetura, Urbanismo e Movimento Moderno em afirmAÇÃO (1955-1969) AÇÃO primeiramente com Corona e Suzy, no edifício Sulacap, e a seguir só com Suzy – e com a carreira de urbanista e arquiteto na PMPA, de 1955 a 1963, incorporou-se à Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS em 1958 e lá permaneceu até 1970, quando foi cassado, retornando com a anistia em 1980 e permanecendo até sua aposentadoria em 1991. Foi professor responsável pela cadeira de Arquitetura Analítica (1962-1969), regente da cadeira de Geometria Descritiva (1966-1969) e da cadeira de Perspectiva e Sombras (1965-1968) do Instituto de Artes; professor assistente da cadeira de Urbanismo e Arquitetura Paisagística (1958-1964), responsável pela cadeira de Grandes Composições (1961-1962), pela cadeira de Teoria e Prática dos Planos de Cidade do Curso de Urbanismo (1964-1969) e professor titular da cadeira de Teoria e Prática de Planos de Cidades na Faculdade de Arquitetura 137 em 1970, quando foi cassado . Anistiado, retornou em 1980 como professor titular do Departamento de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura, na disciplina de Prática de Projeto de Urbanismo II, até 1991, quando se 138 aposentou . Quando Fayet se formou na FA-UFRGS, sua turma não realizou a tradicional viagem de formatura, postergada para a turma seguinte, quando deveria viajar com a turma de Moojen. No entanto, já estava comprometido com Suzy, ainda estudante, e ambos resolveram não participar. A viagem ao exterior, portanto, foi de certa forma redirecionada para o VII Congresso Internacional da União Internacional de Arquitetos, realizado em Cuba em 1963, no qual Fayet, já professor, integrou a delegação brasileira, conduzindo o grupo de estudantes 139 da UFRGS (Fig.56). Participaram do congresso, entre outros brasileiros, Ruy Othake, Paulo Mendes da Rocha, Pedro Paulo de Melo Saraiva, Vilanova Artigas, José Carlos Leander de Castro, Joaquim Guedes (1932-2008 – neste Como em todas atividades de que participou, Fayet em seguida estava em posições de liderança e poder decisório. Além das atividades docentes, foi Membro da Comissão de Projetos da Faculdade de Arquitetura da UFRGS em 1954; Membro da Comissão encarregada de organizar o Museu de Materiais e Métodos de Construção em 1960; Membro do Conselho Departamental da Escola de Artes de 1964 a 1969; Membro da Comissão de Administração dos Serviços Gráficos da Faculdade de Arquitetura em 1965; Presidente do Departamento de Urbanismo no mesmo ano; e Membro do Grupo de Trabalho para implantação do Concurso de Habilitação Unificado em 1967. Posteriormente , quando foi reintegrado, assumiu a Chefia do Departamento de Urbanismo. 138 Neste período, foi Membro da Comissão Especialista em Arquitetura e Urbanismo CEAU, designada pelo Ministro da Educação para assegurar o aperfeiçoamento do ensino de Arquitetura em Brasília-DF, de 1986 a 1987; Chefe do Departamento de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura, de 1989 a 1991, além de Membro da Comissão de Avaliação do Departamento de Projetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, designado pela Reitoria da Universidade de São Paulo em 1992. 139 Suzy, finalmente, não viajou, pois já tinha a primeira filha, Beatriz, nascida em novembro de 1962. Ver: FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, 5 ago. 2009. Entrevista. 137 Fonte: Acervo Família Fayet Fig. 56 - Carlos M. Fayet (à direita, na ponta, em pé), acompanhando a delegação de estudantes da UFRGS, conjuntamente com as demais, na chegada ao VII Congresso da U.I.A. em Cuba. Recepção com Vilanova Artigas (em pé, de gravata, no fundo), Porto de Havana, 1963. Fayet, assim como boa parte dos arquitetos pioneiros da arquitetura moderna do sul brasileiro, envolveu-se com os meios basilares, através dos quais, mais que movimento moderno, a própria caracterização e definição da profissão no meio social gaúcho se processava, tais como a criação da FAUFRGS, do IAB-RS e das carreiras de arquiteto e urbanista na PMPA. Em paralelo à atividade profissional, em seu escritório, desde a formatura (1953) – 108 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 146 Capítulo I evento tornou-se membro da Comissão Habitat da UIA), Rodolpho Ortemblad 140 Filho e Acácio Gil Borsói (1924-2009) que, como membro do Governo de Miguel Arraes em Pernambuco, pesquisou sobre construção pré-moldada, com 141 tecnologia tcheca e sistemas de construção para habitação popular . Do meio intelectual internacional, participaram nomes como Graham Greene (1904142 143 1991) e Alberto Moravia (1907-1990) . O Congresso foi polarizador, no meio da arquitetura, dos debates ideologizados entre as vertentes de esquerda sobre 144 a "técnica e a estética a serviço das necessidades sociais" que, segundo SEGRE, se explicitaram em duas tendências antagônicas: "a imagem do 145 socialismo como um sistema liberador das forças criadoras da sociedade" , igualmente representada pela frase de Ernesto Che Guevara: “nós socialistas somos mais livres porque somos mais plenos; somos mais plenos porque Para depoimento de um participante o VII Congresso da UIA, sobre a viajem e outros aspectos do evento, ver: PEREIRA, Sabrina Souza Bom; GUERRA, Abílio. Rodolpho Ortenblad Filho – A arquitetura moderna paulista olhando para Wright e Neutra. Vitruvius, São Paulo, entrevista 048, ano 11, out. 2011. Disponível em: . Acesso em 30 nov. 2011, às 16h 09min. 141 NASLAVSKY, Guilah. Arquitetura moderna em Pernambuco, 1951-1972. As contribuições de Pernambuco Acácio Gil Borsoi e Delfim Fernandes Amorim. 2004. [Tese de Doutorado em Estruturas Ambientais e Urbanas]. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2004. p. 216. 142 Henry Graham Greene nasceu na Inglaterra e foi um importante escritor, autor de livros, peças teatrais e críticas sobre a literatura, cinema e o meio político, em especial de Cuba e do Haiti, países aos quais viajava com frequência. Autor de “Expresso do Oriente” (1932) e “Nosso Homem em Havana” (1958). Ver: SHERRY, Norman. The life of Graham Greene . Reino Unido: Better World Books Ltd., 2004. 143 Na verdade, Alberto Pincherle, escritor e jornalista italiano, filho de arquiteto judeu, teve problemas com o governo fascista de Mussolini. Esteve na Inglaterra, afastado durante a II Guerra. Ligado ao Partido Comunista Italiano, trabalhou como roteirista para o cinema e é autor de livros que igualmente foram adaptados para o cinema, por Vittorio De Sica (La Ciociaria), Jean-Luc Godard (O Desprezo) e Bernardo Bertolucci (O Conformista). Ver: ZANIN, Luiz. 20 anos sem Alberto Moravia. Estadão 30 mar. 2010. Disponível em: . Acesso em 1º dez. 2011, às 11h 56min. 144 Fernando Salinas foi o relator-geral do VII Congresso da UIA, e "procurou resumir as ideias, que se expressaram em vários discursos e escritos de Fidel e Che Guevara sobre o necessário equilíbrio entre a técnica e a estética e a necessidade de colocar o talento criador a serviço das necessidades sociais”. Sintetizou o espírito do VII Congresso nas seguintes frases de Che Guevara: “a arquitetura é a arte da forma para ser vivida pelo povo” e “transforme-se ao homem e com ele se transformará a arquitetura". Ver: VILLELA, Fábio Fernandes, A escola da jjustiça global. UNESP, São José do ustiça Rio Preto. Disponível em: . Acesso em 30 nov. 2011, às 17h 09min. 145 SEGRE, Roberto. FAU 1960-1975: los "años de fuego" de la cultura arquitectônica cubana. 1960-1975: Disponível em: . Acesso em 30 nov. 2011, às 17h 03min. 140 somos mais livres” , e a segunda posição que denunciava a "ameaça do realismo socialista e do tecnocratismo imposto pelos funcionários, perigo já 147 assinalado por Fidel” . O Congresso, segundo BRITO, também evidenciava a discussão da participação popular nas ações urbanas: "o aspecto mais marcante deste congresso foi a discussão da questão da participação popular em torno dos problemas técnicos, como a reforma urbana, e como poderia se dar o desenvolvimento da arquitetura e urbanismo em países subdesenvolvidos 148 [...]" . Dada a Revolução Cubana de 1959 e o arrefecimento da Guerra Fria, muitos da delegação brasileira foram ao Congresso viajando de avião até Paris e depois a Cuba, desde Moscou. Outros, conjuntamente com estudantes 149 argentinos, uruguaios , chilenos e brasileiros, embarcaram em pequeno navio de bandeira soviética enviado para esta finalidade, que partiu do porto de Santos (Fig.57), após roteiro de visitas a obras exemplares da arquitetura Paulista organizado por Fayet junto aos arquitetos de São Paulo para os 150 estudantes gaúchos (Fig.58). Na PMPA, Fayet foi, a convite de Paiva, de 1955 a 1963, Arquiteto e Urbanista da Divisão de Urbanismo, sendo Diretor da Divisão de Urbanismo em 1958 e Chefe da Secção de Planejamento da Prefeitura Municipal de Porto Alegre de 1956 a 1963, ano em que deixou a Prefeitura, já que a legislação não permitia o acúmulo de três cargos públicos, e Fayet, na oportunidade, além da 151 PMPA, era professor na FAUFRGS e IBA, cargos que ele optou por manter . 146 GUEVARA, Ernesto Che. El socialismo y el hombre en Cuba. In: _____. Obra revolucionaria 8. revolucionaria. ed. México: Era, 1965. p. 627-639. 147 SEGRE, Roberto. FAU 1960-1975: Los "años de fuego" de la cultura arquitectônica cubana. 1960Disponível em: . Acesso em 30 nov. 2011, às 17h 03min. 148 BRITO, Alfredo L. Aspectos do VII Congresso da União Internacional dos Arquitetos – U.I.A. Arquitetura, Arquitetura Rio de Janeiro, n. 20, fev. 1964. p.32. 149 Acompanhava a delegação uruguaia o professor Carlos Reverdito, posteriormente diretor da UDELAR (1970-1973 e 1985-1992), que transportou uma máquina de mimeógrafo para o navio e, durante a viagem, foi produzindo e reproduzindo manifestos de teor progressista. ARAÚJO, Cláudio Luis Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Uruguai, 24 mai. 2008. 150 Segundo César Dorfman, então estudante de arquitetura, aproximadamente vinte e três estudantes da FA-UFRGS integraram a delegação brasileira embarcada no navio, entre eles Clóvis Ilgenfritz da Silva, Cláudio Casacia, Jorge Decken Debiagi, Moema Debiagi, Mirna Cortapassi e o Arquiteto Alberto Xavier, entre outros. Após doze dias de viagem, foram recebidos no porto de Havana por membros da organização do evento e Vilanova Artigas (Fig.56). Precedia o VII Congresso da UIA um encontro internacional de estudantes de arquitetura, cuja conferência de encerramento foi de Ernesto Che Guevara, de certa forma, segundo Dorfman, dentro de um espírito de disseminação das teses do socialismo que predominavam no meio intelectual internacional daqueles tempos (Fig.59). DORFMAN, César. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, 1º dez. 2011. 151 Dentro deste período na PMPA, Fayet foi membro da Comissão, designada pelo Prefeito de Porto Alegre, encarregada de planejar a execução das obras da Avenida Beira Rio (1957) e elaborar os Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 109 Fonte: Acervo Família Fayet Fonte: Acervo Família Fayet Fig. 57 - Carlos M. Fayet, em navio russo, acompanhando a delegação de estudantes da UFRGS, ao VII Congresso da U.I.A. em Cuba,1963. Fig. 58 - Visita a obra da Casa A.C. Cunha Lima de Joaquim Guedes, antes do embarque, 1963. anteprojetos de lei relativos à área (1959); membro da Comissão designada pelo Secretário Municipal de Obras e Viação para estudar a criação do fundo do Plano Diretor (1959), para elaborar o Anteprojeto de criação do “Expediente Urbano de Porto Alegre” (1959) e da Comissão designada para elaborar estudo sobre “Áreas verdes nos loteamentos de Porto Alegre”, no mesmo ano. Também das comissões designadas para projetar a implantação do Sistema Viário e apresentar projeto de regulamentação das escrituras de transferências de imóveis em Porto Alegre. Foi membro do Conselho do Plano Diretor de Porto Alegre, representante do Prefeito Municipal de 1959 a 1962; membro da Comissão designada pelo Prefeito Municipal para julgar proposta para execução do Entreposto de Frutas e Verduras de Porto Alegre em 1960; representou o Município na comissão de estudos relativos ao Hipódromo do Moinhos de Vento; e integrou o Conselho do Plano Diretor de Porto Alegre, encarregado de apresentar relatório sobre “As perspectivas financeiras de aplicação prática do Plano Diretor. Ainda em 1960, participou da Comissão encarregada de estudar a passagem para a esfera estadual das obras da Avenida Beira Rio e da implantação do Sistema de Trolley-bus. Por fim, foi membro representante da Prefeitura Municipal de Porto Alegre na Comissão de execução do convênio relativo à construção do novo Auditório da Cidade – Araújo Vianna (1960). Evidenciando sua citada capacidade, assim como os demais de sua geração, de interagir e atuar em diversos meios profissionais e diversas escalas de trabalho, Fayet na PMPA, envolveu-se principalmente com urbanismo, principal tarefa para a qual foi convidado, principalmente na equipe de desenvolvimento do Pré-Plano produzido por Paiva e Demétrio, em 1951, etapa intermediária da realização do Plano Diretor de 1959, o "Plano Paiva", no qual, em particular o 152 projeto para a Praia de Belas, coordenado por Fayet e Paiva, é destaque (Fig.60). O Plano Paiva, assim como os planos anteriores, em muitos aspectos não foi implementado em sua totalidade, e com a própria dinâmica do crescimento urbano, com suas variáveis cada vez mais complexas, foi gradativamente se desatualizando. A própria ideia de plano diretor, dentro do 152 Abordado no Capítulo III – “A Cidade Moderna, a Praia de Belas e os Três Arquitetos” 110 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I pensamento urbanístico moderno, como projeto global da cidade, foi se alterando para a ideia de sistema de planejamento, com escalas distintas de urbanismo, desde o âmbito regional até o desenho, nos quais os mecanismos de reavaliação passaram a ser imaginados para ter maior agilidade e flexibilidade. No entanto, o Plano Paiva foi o primeiro Plano Diretor de Porto 153 Alegre normatizado , com princípios e conceitos claramente filiados à corrente de pensamento urbanístico moderno (mesmo que incorporando elementos da tradição, quando era o caso), manifestos desde as primeiras décadas do século XX. Suas diretrizes, germinadas por Moreira Maciel e cultivadas nos primeiros estudos de Paiva e Ubatuba, ordenaram os princípios estruturadores fundamentais da cidade, responsáveis, em boa parte, por sua organização e pela qualidade média urbana da capital gaúcha, em comparação com outras cidades brasileiras. Da mesma forma, nortearam a evolução do pensamento urbanístico moderno dos arquitetos que prosseguiram a tarefa do planejamento urbano da cidade a partir daí, dentre eles Fayet – em um primeiro momento – e Moojen, que, de certa forma, recebeu do mestre Paiva o bastão para prosseguir (Ver Capítulo III – “A Cidade Moderna, a Praia de Belas e os Três Arquitetos). Fayet, assim como Moojen, neste período, também realizou projetos de arquitetura para o município, já que a Divisão de Urbanismo da Secretaria de Obras envolvia seus arquitetos nos projetos das obras públicas municipais, das quais Paiva encarregava os jovens arquitetos, como um oficial recrutando 154 combatentes nas fileiras . Assim, Fayet foi designado para projetar o Edifício 155 Sede da Secretaria da Produção e Abastecimento – SPA , cujo projeto e execução, dada sua singeleza, poderiam passar despercebidos se não denotassem determinada racionalidade construtiva e formal, adequada a condições de economia e sistematicidade, que chamaram a atenção de Richard Neutra em sua vinda a Porto Alegre (Fig.63). Em 1959, o IAB-RS, presidido por Irineu Breitman, conjuntamente com a FA/UFRGS, promoveu a vinda e 156 conferência do arquiteto austríaco , que participava como convidado do Fonte: Acervo Família Fayet Fig. 59 - Discurso de Ernesto Che Guevara, no VII Congresso da U.I.A, 1963. Regulamentado pela aprovação das leis 2.046/59 conjuntamente com a 2.047/59 que instituiu o Código de Obras de Porto Alegre. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 155 Posteriormente ocupado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente – SMAM, o edifício situado na Avenida Carlos Gomes com a Avenida Protásio Alves foi demolido nos anos 1990. Ver: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre São Paulo: Pini, 1987. Alegre. p. 154-155. 156 Nos final dos anos 1950, José Baptista Pianca, diretor da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, cedeu espaço, nas dependências da Escola, ao Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio Grande do Sul, que ainda não possuía sede própria. Conveniados, escola e IAB realizavam eventos conjuntos e a vinda de palestrantes, como Vilanova Artigas, Luís Saia, Sérgio Bernardes, 154 153 Congresso Internacional Extraordinário dos Críticos de Artes e também realizou viagem a Buenos Aires. Em seu depoimento, Breitman relata Maurício Roberto, Kneese de Mello e outros. Na ocasião, Neutra retornava de Buenos Aires a São Paulo (Fig.61). BREITMAN, Irineu. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, 8 out. 2008. 157 Realizado em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, de 17 a 25 de setembro de 1959, ano anterior à inauguração da capital federal. Para ver mais sobre a participação de Richard Neutra no congresso, ver: RIBEIRO, Patrícia Pimenta Azevedo. A participação do arquiteto Richard Neutra no Congresso Internacional Extraordinário de Críticos de Arte, 1959. VIII Seminário DOCOMOMODOCOMOMOBRASIL – Síntese e paradoxo das artes. Cidade Moderna e Contemporânea, 2009. Disponível em: . Acesso em 4 out. 2010, às 9h 30min 157 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 111 Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954-1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, p.65. Desenho Caroline Valicente, B.I.C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 60 - Plano Diretor de Porto Alegre, projeto da Praia de Belas, Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto AlegreRS (Ver Cap. III, Praia de Belas, A Cidade Moderna e os três Arquitetos). 112 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Fonte: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p.154 Capítulo I Fonte: Acervo Irineu Breitman Fig. 62- Sede da Secretaria da Produção e Abastecimento – SPA, Carlos M. Fayet, Porto Alegre 1959. Fig. 61 - Da esquerda para a direita: Miguel A. Pereira (Vice Presidente do IAB-RS), Líder Comunitário do Bairro Praia de Belas, Carlos M. Fayet, Irineu Breitman (Presidente do IAB-RS), Divisão de Urbanismo, da PMPA, 1959. que Neutra causou forte impressão em sua conferência, com a apresentação das obras e projetos, em particular para a América Central, e que, visitando a cidade, chamou sua atenção o Edifício Sede da Secretaria da Produção e Abastecimento, de Fayet, recém terminado. É possível que tenha reconhecido no projeto de Fayet relações com suas propostas para escolas na região do Caribe. Neutra estabeleceu escritório em Porto Rico, em 1943, onde realizou projetos de mais de duas centenas de miniescolas, centros rurais de saúde, creches, habitação coletiva e hospitais, com forte sentido de adaptação dos fundamentos formais da arquitetura moderna e princípios de uma arquitetura universal, contextualizada às condições climáticas, econômicas e sociais locais, estudadas atentamente, dentro de análise caracterizada por ele, 158 posteriormente, como "biorrealismo" . Baseado nessa experiência pouco 158 conhecida (Fig.64), publicou suas análises, propostas e projetos para o programa de educação e saúde do governo de Porto Rico – com significativa influência na arquitetura dos trópicos da América Central e alguma na América do Sul – em publicação (português-inglês), com introdução de Gregory Warchavchik, realizada na sua vinda ao Brasil em 1945, a serviço do Departamento do Estado dos E.U.A., dentro dos programas de aproximação 159 norte-americana do pós-guerra . AMORIN e LOUREIRO afirmam que: O impacto do livro, apesar de pouco referido, parece ter sido significativo: veio representar uma importante referência para a elaboração de projetos de edificações públicas, sobretudo para as redes de ensino [...]. O fim da Segunda Guerra Mundial apresentou o cenário apropriado para a aplicação em larga escala de várias concepções arquitetônicas e tecnológicas desenvolvidas na Europa nas décadas de 20 e 30 do século XX. Problemas de racionalização e pré-fabricação da construção foram equacionados com a integração entre indústria e canteiro de obras, sobretudo de sua vida nos Estados Unidos, publicada em Buenos Aires um ano antes da conferência em Porto Alegre. Ver: NEUTRA, Richard. Realismo biológico. Un Nuevo renacimiento humanístico en arquitectura. Buenos Aires: Nueva Vision, 1958. 159 Warchavchik, na introdução, apresenta o arquiteto como "bem preparado pelos estudos politécnicos, consegue Neutra chegar a soluções inteiramente novas para os mais importantes problemas da nova arte de construir. O seu interesse se prende a novos materiais, a sua utilização mais racional, a novos elementos técnicos, novos processos e novos métodos, a sua aplicação às realidades sociais e econômicas, assim como ao clima e às necessidades diversas, tanto na cidade quanto nas regiões rurais em que o trabalho se fixa". Ver: WARCHAVCHIK, Gregory in: NEUTRA, Richard. Arquitetura social em países de clima quente. São Paulo: Grerth Todman, 1948. p. 10. A análise de Neutra do comportamento fisiológico do ser humano, sua interação com o meio ambiente e consequentes exigências em termos de requerimentos arquitetônicos é uma espécie de manifesto, bastante intuitivo, de afirmação da universalidade da arquitetura moderna, com sistemas de racionalização e standartização adequados a especificidades tanto biológicas quanto de caráter social, cultural e ambiental. Essas teorias, apresentadas na conferência de São Paulo em 1959, estão em publicação, organizada a partir de conferências anteriores e uma espécie de autobiografia Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 113 . Fonte: LIERNUR. Jorge Francisco. Arquitectura en la Argentina del Siglo XX: La construcción de la Modernidad. Buenos Aires: Fundo Nacional de las Artes, 2001, p. 253 Fig. 63 - Visita de Richard Neutra (no meio) à Buenos Aires, década de 1950. relacionadas às obras de caráter social, como habitação, escolas e equipamentos de saúde. 160 Richard Neutra esteve entre os arquitetos europeus que mais se destacaram neste movimento. Por outro lado, em Porto Alegre, o final da década de 1950 sinalizava certo fortalecimento do recato da arquitetura moderna produzida no sul em relação à arquitetura carioca, em especial ao uso acrítico do livre-formismo que, como em outras disseminações, começava a propagar certo formalismo 161 gratuito, segundo os observadores locais . A parcimônia formal com que a Ver: AMORIM, Luiz; LOUREIRO, Cláudia. Por uma arquitetura social: a influência de Richard Neutra em prédios escolares no Brasil. Vitruvius São Paulo, Arquitextos, 020.03, ano 2, jan. 2002. Vitruvius, , Disponível em : < http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.020/813 >. Acesso em 24 abr. 2011, às 12h48min. 161 Esta posição se evidencia com a opinião de dez reconhecidos arquitetos gaúchos analisando o conservadorismo da arquitetura moderna no sul em publicação sobre o tema. Participaram os arquitetos Irineu Breitman, Carlos M. Fayet, Edgar A. Graeff, Emil A. Bered, Demétrio Ribeiro, Moacyr Moojen Marques, Luís Fernando Corona, Luís Carlos Cunha, Cláudio Luís Araújo e João José Vallandro. Ver: MARTINS, Lineu. MUITO edifício, pouca arquitetura. Revista do Globo n. 711, Globo, 1958, p. 8-21, 46-51. LUCCAS, em relação a esta publicação, cita que "perguntados se o Rio Grande do Sul comportava uma arquitetura diferente daquela comum em outros centros brasileiros, 160 114 Fonte: NEUTRA, Richard. Arquitetura social em países de clima quente. São Paulo: Grerth Todman, 1948. p. 57. Fig. 64 - Escola pavilhonar com circulação aberta, Richard Neutra, Porto Rico, 1943. arquitetura moderna no sul foi tradicionalmente praticada, dadas as idiossincrasias locais, passou a coincidir também com determinada dissidência daquela arquitetura "oficial" produzida no Rio de Janeiro, desde os anos 1930, com crescente influência das tendências neoplásticas, principalmente de Mies, Wright e dos arquitetos da costa oeste norte-americana, a partir de São 162 Paulo . respondiam, que, na produção local, ‘não há quase formismo livre, nem ânsia pelo original’, assumindo a dissidência ao modelo em declínio". Ver: LUCCAS, Luís Henrique Haas. O Sul por testemunha: declínio da hegemonia corbusieriano-carioca e ascensão da dissidência paulista na arquitetura brasileira anos 50. Pós. Ver: Programa Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – Pós FAUUSP. n. 27, São Paulo, jun. 2010. Disponível em: . Acesso em 18 mar. 2011, às 7h45min. 162 Segundo alguns autores, como LUCCAS, e personagens observadores da época, como MOOJEN, o marco desta inflexão foi o concurso para a Assembleia Legislativa (1958) (abordado no capítulo "M" deste trabalho). FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fig. 65 - "Brizoletas", Grupo Escolar Estrada Gedeon Leite, Porto Alegre e Escola Estadual José Bennemann, São Sebastião do Caí, 1959. Fonte: NEUTRA, Richard. Arquitetura social em países de clima quente. São Paulo: Grerth Todman, 1948. p.79. Fonte . . Da mesma forma, no Rio Grande do Sul, as ideias de sistematicidade e padronização da construção, em prol de programas sociais, já se pronunciavam em obras públicas desde o final dos anos 1950. Uma experiência notável nesse sentido foi a do Engenheiro Leonel de Moura Brizola, Governador do Estado 163 (1959-1962) , na implantação do projeto educacional "Nenhuma Criança sem 164 Escola no Rio Grande do Sul" . Para a realização dos projetos, foi realizado concurso com o objetivo de desenvolver um protótipo, vencido pelos arquitetos 165 Celso Carneiro e Edgar Bittencourt da Luz . O projeto, no entanto, foi abandonado em prol de um sistema, desenvolvido pela Comissão Estadual de Brizola, por sua formação de engenheiro e inclinação política de esquerda, tinha ligações com o meio da arquitetura e urbanismo simpatizante, em especial Paiva, que integrava a Divisão de Urbanismo da Prefeitura, concluindo o Plano Diretor da cidade, em sua administração na prefeitura de Porto Alegre (1956-1958), o qual, após o plano de 1959, foi convidado a acompanhar Brizola no governo do Estado (sendo que Moojen acompanhou Paiva por alguns meses, projetando o GAPLAN no Salão Negrinho do Pastoreio do Palácio, e retornou para o urbanismo da prefeitura). MARQUES, Moacyr Moojen. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 21 jan. 2009 164 Brizola reestruturou a Secretaria de Educação, tornando-a a mais importante de sua administração, com três superintendências – ensino primário, médio e técnico – com o objetivo de escolarizar cem por cento das crianças gaúchas entre sete e quatorze anos, erradicando o analfabetismo. O programa foi elaborado a partir de um censo realizado em todas as regiões do Estado (que indicou um déficit de aproximadamente 285 mil vagas), contemplou a divisão do território estadual em regiões, convênio com as prefeituras, preparação de professores, planejamento e criação de sistema de construção de escolas. Para isso, criou os seguintes expedientes: Serviço de Expansão Descentralizada do Ensino Primário (Sedep), Comissão Estadual de Prédios Escolares (Cepe), contratação de professores, compra de vagas de escolas particulares em troca da cedência de professores estaduais e concessão de bolsas de estudo. Ver: QUADROS, Claudemir. Brizoletas: a ação do governo de Leonel Brizola na educação pública do Rio Grande do . Sul (1959-1963). Teias Rio de Janeiro, ano 2, n. 3, jan./jun. 2001. p.1-12. Teias, 165 Publicado no Correio do Povo com o título "Os concursos: concorrência para mil prédios escolares". Ver: CORREIO DO POVO, 20 set. 1959. p. 18. 163 Fig. 66 - Escola Urbana com 8 Salas de Aula, Richard Neutra, Porto Rico, 1943. Prédios Escolares – Cepe , constituído de tipologia pavilhonar, com circulação lateral aberta na forma de varanda e sistema construtivo "industrializado" e de certa forma "pré-fabricado", com peças estruturais e fechamentos de madeira, material bastante familiar na região. Os projetos, dentro desse sistema flexível, eram adaptados conforme o caso e construídos muitas vezes em mutirão, com 167 a participação das comunidades (Fig.65). O Curso de Urbanismo da FAUFRGS funcionou alguns anos em uma "brizoleta", como eram chamadas as unidades, construída no Campus Central da UFRGS ao lado da Faculdade de Arquitetura, atrás do prédio da Rádio da Universidade, onde Fayet, Moojen e Veronese atuaram como docentes (originalmente Colégio Aplicação). A Cepe "criada pelo Decreto n° 10.416, de 25 de março de 1959, tratava-se de um órgão de cooperação entre a Secretaria de Educação e Cultura e a Secretaria de Obras Públicas. Era presidida pelo Secretário de Educação e Cultura e tinha a incumbência de superintender, estudar, planejar, projetar e executar tarefas de conservação, reparos, adaptação, construção, reconstrução e aparelhamento de prédios escolares. Deste órgão, colegiado e especializado, ainda participavam o secretário de Obras Públicas, os subsecretários de Educação e a diretoria do Centro de Pesquisas e Orientação Educacional (CPOE)". Ver: QUADROS, Claudemir. Brizoletas: a ação do . governo de Leonel Brizola na educação pública do Rio Grande do Sul (1959-1963). Teias Rio de Teias, Janeiro, ano 2, n. 3, jan./jun. 2001. p. 1-12. 167 O processo construtivo envolvia estrutura de madeira tipo baloon-frame e painéis de fechamento lateral, com esquadrias já incorporadas, montadas no canteiro. Um panorama sobre todo o programa, com imagens de diversas "Brizoletas" construídas, bem como o processo de construção, em mutirão, com imagens análogas às dos filmes norte-americanos, nos quais construções coletivas de madeira são feitas com a participação da comunidade (normalmente com o mocinho sobre a cumeeira trocando olhares com a mocinha que traz limonada), pode ser visto no extraordinário registro cinematográfico de Hamilton Charles. Ver: NENHUMA criança sem escola no Rio Grande do Sul. Disponível em: . Acesso 1º dez. 2011, às 17h 18min. 166 166 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 115 Fonte: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p.155. Fonte: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p.155. Fig. 68 - Sede da Secretaria da Produção e Abastecimento – SPA, Carlos M. Fayet, Entrada Principal, Porto Alegre 1959. Fig. 67 - Sede da Secretaria da Produção e Abastecimento – SPA, planta, Carlos M. Fayet, Porto Alegre 1959. O projeto de Fayet, assim como as brizoletas, armava a solução a partir de um sistema pavilhonar, vertebrado por sistema estrutural de fechamentos e cobertura, com modulados de madeira, como o sistema espacial adotado por Neutra nas escolas em Porto Rico (Fig.64), que, na forma de fitas ladeadas por circulações abertas, varandas ou áreas de transição cobertas/abertas, ordenavam o arranjo adequado da planta. No caso das brizoletas, normalmente fitas simples, únicas ou dispostas em paralelismo, e nas escolas de Neutra, 168 arranjadas segundo diversas configurações, como "H", "U", "E", etc. (Fig.66) . Fayet organizou em cruz, com uma fita principal, no sentido norte-sul – onde se localizavam os gabinetes técnicos, cozinha, refeitório e depósitos – e outra no sentido leste-oeste – também com atividades burocráticas, com pé-direito duplo, na extremidade leste, para garagem de veículos. Na outra extremidade, a 168 oeste, uma ala perpendicular, onde estavam a entrada principal e as dependências do secretário, determina uma espécie de suástica na planta em cruz (Fig.67). O volume, bastante singelo, com cobertura em duas-águas, de baixa declividade, dadas as telhas de fibrocimento, com a esbeltez das peças de madeira da estrutura, tábuas horizontais de fechamento e sua sobreelevação do solo, em uma espécie de pilotis baixo, adquire uma simplicidade 169 formal que, como o projeto de Niemeyer para o Catetinho em Brasília (1956) , passa a ideia de efêmero-econômico, porém com a dignidade de um edifício público, determinada, principalmente, por sua abstração formal. O projeto de Fayet para a SPA, contemporâneo às brizoletas (1959170 1963), conjuntamente com a Casa de Ipanema de Moojen (1958-1961) e a 171 Casa Pegoraro de Araújo (1960) , configura um paralelo que certamente concorre entre si, assim como possivelmente com o sentido de racionalização tectônica e abstração formal, em expansão na Europa e EUA após a guerra, veiculados por Neutra, conferencista daquele ano em Porto Alegre, cuja obra na América Central igualmente se entronizava. Residência oficial do presidente Juscelino Kubitschek em Brasília durante as obras da capital, foi construído, dada a racionalidade do sistema projetado, em apenas dez dias. Para ver mais sobre a história do "Palácio de Tábuas", tombado pelo IPHAN em 1959, ver: VASCONCELOS, José Adirson de. A epopeia da construção de Brasília Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1989. Brasília. 170 Abordada no capítulo "A Casa de Ipanema – um dos protótipos?: 1958". 171 Abordada no capítulo "Casas Telmo Ferreira, Lauro Borges, Antônio Pegoraro e Paulo Torelly – 1955-1961" 169 Se não há conexão direta comprovável entre as propostas de Richard Neutra para a América Central e os projetos sociais no Rio Grande do Sul, o paralelo é promissor, assim como a coincidência de sua conferência na FAUFRGS em 1959, provavelmente o personagem estrangeiro mais importante a apresentar-se em Porto Alegre naquela década e na seguinte. Igualmente sua observação em relação ao projeto da S.P.A. de Fayet e a notória repercussão de sua obra nos projetos gaúchos, não só de Fayet, como Moojen, Araújo, Lincon Ganzo de Castro e outros. 116 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Urbanismo, outras parcerias e o encontro do ofício com a UFRGS – Projeto para a Cidade Universitária (1958) Fonte: Revista Espaço Arquitetura, Porto Alegre, ano 1, n. 2. Capa. do Plano Diretor de Esteio – RS (1970), de Taquara – RS (1970) e de Criciúma (1972), logo a seguir. Desses trabalhos, a maioria em equipe, o mais representativo da natureza das ações urbanísticas pioneiras do Movimento Moderno no Estado, que Fayet participou, é, além dos projetos para a Praia de Belas, o projeto da Cidade Universitária. O processo histórico de desenvolvimento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, suas instalações, projetos e espaço físico é capítulo importante da própria história de Porto Alegre, de seu urbanismo e arquitetura. A instituição, iniciada em 1895 com a Escola de Farmácia e Química e em seguida a de Engenharia (1896), na qual já constava a carreira de arquitetura, foi transformada em universidade em 1934 e, em 1950, federalizada. Com o passar das décadas, o conjunto de edificações concentradas na área próxima aos Campos da Redenção constituiu patrimônio 172 de arquitetura eclética, considerável em termos brasileiros . Ao longo deste processo, áreas de expansão para a universidade foram sendo prospectadas, principalmente a partir da década de 1940. Nos planos de Gladosch, constava a previsão de outros campi, com a destinação de quatrocentos hectares no "Vale do Riacho" (1939) para a construção da Cidade Universitária e, em seguida (1944), os cinquenta hectares desocupados próximos ao atual hospital de Clínicas. O Pré-Plano de Paiva e Demétrio (1954) previa a destinação de vinte e quatro hectares no aterro da Praia de Belas, junto ao estuário, para troca de área com o atual Campus Central, para onde estava prevista a localização do Centro Cívico da Cidade. As tratativas da permuta entre a Divisão de Planejamento Urbano da Secretaria de Obras da PMPA (com a participação de Moojen representando a Prefeitura) e a Reitoria chegaram a se estabelecer, nos anos 1950, esbarrando no fato que os aterros da área reservada à universidade ainda não estavam concluídos, e a mudança obrigava uma interrupção nas ampliações em andamento no Campus Central, até a construção da nova área, 173 inviável para a conjuntura da universidade . Fig. 69 - Cidade Universitária - UFRGS, Escritório Técnico de Planejamento da Cidade Universitária de Porto Alegre – ETPCUPA, Edvaldo Paiva (Diretor), Demétrio Ribeiro, Roberto Veronese, Carlos M. Fayet, Nélson Souza e Roberto J. Fabian, Porto Alegre, 1958. Fayet, no período estudado, assim como Moojen, dedicou boa parte de sua atividade profissional ao urbanismo. Além dos trabalhos na PMPA, participou do Plano Diretor de Panembi-RS (1958), do projeto vencedor do concurso para o Delta do Jacuí (1958), da estrutura urbana da Bacia Taquari-Antas (1968-1969), e prestou consultoria à Comissão de Planejamento da Região Metropolitana de Vitória – ES, além de ter coordenado o projeto da Segunda Perimetral em Porto Alegre (1970), participado Recentemente, o Projeto de Resgate do Patrimônio Histórico e Cultural da UFRGS recebeu menção honrosa na sétima edição do Prêmio Internacional Rainha Sofia de Conservação e Restauração do Patrimônio Cultural (2011), concedido pela Agencia Espanhola de Cooperación Internacional para el Desarollo entre projetos de onze países ibero-americanos. Entre os edifícios restaurados no programa, estão a Escola de Engenharia (1898-1900), a "Engenharia Velha", projeto do Eng. João José Pereira Parobé, onde funcionou o Curso de Arquitetura da Escola de Engenharia (1945-1952) e o Instituto Técnico Profissional da Escola de Engenharia (1906), o "Castelinho", projeto do Eng. Manoel Itaqui, onde funcionou inicialmente a Faculdade de Arquitetura, a partir de 1952 até a inauguração do atual prédio em 1958. Ver: CARVALHAL, Tânia Franco. Os prédios históricos da UFRGS: atualidade e memória. Porto Alegre: UFRGS, 1998. . 173 O próprio edifício da reitoria estava em construção neste período (1954-1957). MARQUES, Moacyr Moojen. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 21 jan. 2009 172 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 117 Fonte: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p.106, 152, 158, 184. Fonte: Revista Espaço Arquitetura, Porto Alegre, ano 1, n. 2, p.32. Fig. 70 - Campus Médico - UFRGS, À esquerda, em cima, Gráfica e Almoxarifado, Emil Bered, 1962. À direita, em cima, Hospital de Clínicas, Jorge Machado Moreira, 1942-58. A esquerda, em baixo, Faculdade de Farmácia, Flávio Figueira Soares e Lincon Ganzo de Castro, 1953. À direita em baixo, Faculdade de Odontologia, Emil Bered, 1960 Fig. 71 - Cidade Universitária - UFRGS, Escritório Técnico de Planejamento da Cidade Universitária de Porto Alegre – ETPCUPA, Edvaldo Paiva (Diretor), Demétrio Ribeiro, Roberto Veronese, Carlos M. Fayet, Nélson Souza e Roberto J. Fabian, Análise do Sítio, PPCU, Porto Alegre, 1958. Com o incremento da industrialização e as novas condições econômico-sociais do país, a universidade, antevendo em seu crescimento progressivo, em face da demanda crescente, o colapso das instalações e áreas disponíveis, passou, na década de 1950, através de aquisições, a ampliar a área adjacente à Escola de Agronomia, perfazendo um total de 800 hectares, e consolidou o Campus Médico planejando a localização da Faculdade de 174 175 Medicina, Farmácia , Odontologia e Enfermagem em área adjacente ao 176 177 Hospital de Clínicas , onde conjuntamente com a Gráfica, Almoxarifado e Projeto de Flávio Figueira Soares e Lincon Ganzo de Castro (1953). Ver: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre São Paulo: Pini, 1987. p. 106-107. Alegre. 175 Projeto de Emil Bered (1960). Idem. p. 158-159. 176 Projeto de Jorge Machado Moreira (1942-1958) . Ver: MIETHICKI, Marcus. O Hospital de Alegre. Clínicas de Porto Alegre. A presença de Jorge Machado Moreira na arquitetura da capital gaúcha. [Dissertação de Mestrado – PROPAR, UFRGS]. Porto Alegre: UFRGS, 2006. 174 Planetário , criou significativo conjunto de arquitetura moderna (Fig.70). Em maio de 1958, criou o Escritório Técnico de Planejamento da Cidade Universitária de Porto Alegre – ETPCUPA, sob direção de Edvaldo Paiva, com equipe constituída pelos arquitetos Demétrio Ribeiro, Roberto Veronese, Fayet, 179 Nélson Souza e Roberto J. Fabian , que realizou o Plano Piloto da Cidade Universitária - PPCU, para as instalações no Campus do Vale. 178 177 Projeto de Emil Bered (1962). Projeto de Emil Bered (1960). Ver: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre São Paulo: Pini, 1987. p. 248-249. Alegre. Arquitet ura 178 Projeto de Fernando Gonzáles e Walter Bered. Projeto de Emil Bered (1962). Projeto de Emil Bered (1960). Ver: Idem, p. 184-185. 179 Com a assessoria dos Engenheiros Paulo Bastos, Dino Zaccolo e a colaboração dos estudantes Jorge Neves, Suzy Fayet, Udo Mohr, Carlos M. Maia, Maury Poisl, Alberto Parussi, Milton Bernardes e Fernando Salazar. 118 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Revista Espaço Arquitetura, Porto Alegre, ano 1, n. 2, p.33. Fig. 72 - Cidade Universitária - UFRGS, Escritório Técnico de Planejamento da Cidade Universitária de Porto Alegre – ETPCUPA, Edvaldo Paiva (Diretor), Demétrio Ribeiro, Roberto Veronese, Carlos M. Fayet, Nélson Souza e Roberto J. Fabian, Maquete do conjunto, PPCU, Porto Alegre, 1958. O projeto obedeceu algumas diretrizes observadas pelos autores, classificadas em quatro categorias: os "Dados Estatísticos", considerando que a universidade, entre as diversas unidades, naquele momento possuía aproximadamente três mil alunos e estava no limite de sua capacidade. A projeção com a construção da Cidade Universitária era de dez mil alunos, distribuídos proporcionalmente nos campi, de acordo com a configuração das unidades e sua organização espacial; a "Localização", considerando o histórico das hipóteses examinadas e a inexistência de área em Porto Alegre para a construção do projeto. De acordo com as características e programa imaginados, a opção foi pela área do atual Campus do Vale, junto à Escola de Agronomia e Veterinária, onde era possível a ocupação de cento e cinquenta e oito hectares, sendo cinquenta hectares na parte ocupável do Morro Santana e o restante na área plana do vale; o "Sítio", uma área longitudinal de aproximadamente dois quilômetros e meio de extensão, era limitado ao sul pela Estrada Bento Gonçalves e ao Norte pelas encostas do morro Santana. A oeste, em direção ao centro, existia o Instituto de Pesquisas Hidráulicas, onde foi projetada uma represa. Nesse trecho, a área plana se alargava, criando boas condições de ocupação (Fig.71); a "Organização", que obedecia a um programa e organograma estruturado conjuntamente com a Universidade, de acordo com as diretrizes institucionais e acadêmicas desta na época, como a 180 180 Fonte: Revista Espaço Arquitetura, Porto Alegre, ano 1, n. 2, p.35. Fig. 73 - Cidade Universitária - UFRGS, Escritório Técnico de Planejamento da Cidade Universitária de Porto Alegre – ETPCUPA, Edvaldo Paiva (Diretor), Demétrio Ribeiro, Roberto Veronese, Carlos M. Fayet, Nélson Souza e Roberto J. Fabian, Em vermelho, "Esplanada da Reitoria", em amarelo, "Unidades de Ensino", em laranja, "Unidades de Habitação". Porto Alegre, 1958. centralização da pesquisa em Institutos, a separação dos ciclos básicos, a autonomia das unidades e a ideia de flexibilidade para novas estruturas didáticas de um organismo complexo e dinâmico como a universidade. O plano geral, imaginado como um Plano Piloto onde as edificações seriam projetadas de acordo com o desenvolvimento da implantação, através de concursos ou outras modalidades, fixava determinados conceitos urbanísticos gerais e sistema formal modernos para o conjunto, mesmo que os autores sugerissem o contrário (Fig.69): Foi lançada uma estrutura orgânica e um princípio de unidade arquitetônica, foi aberta uma porta para o futuro. Diferentes arquitetos de diferentes gerações poderão trazer sua contribuição para a realização das obras, porque o plano não perseguiu a unidade através de uniformidade estilística. 181 Poderão ser abertos concursos de anteprojetos dos edifícios. Medalha de ouro (prêmio máximo) em equipe, no 1º Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul (1960). 181 Texto de apresentação do projeto em publicação da época, provavelmente escrito por Edvaldo Paiva. Ver: CIDADE Universitária. Espaço Arquitetura n. 2, ano 1, Porto Alegre, 1959. p. 36. Arquitetura, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 119 Fonte: . . Fig. 74 - À Esquerda, Cidade Universitária na Quinta da Boa Vista, Le Corbusier, Rio de Janeiro 1936. À direita, Cidade Universitária na Quinta da Boa Vista, Lúcio Costa, Rio de Janeiro 1937. O partido ordenava a distribuição das edificações e seus respectivos espaços abertos ao redor de três núcleos centralizados por áreas de convívio, com caráteres distintos, formulando assim uma organização polinuclear e evitando, conforme os autores, princípios acadêmicos de organização (Fig. 72). "Como revelam os desenhos, os arquitetos não basearam a composição em simples linhas ou eixos geradores. Os espaços foram moldados a partir de três campi [...]"182 (Fig.73). A hierarquia dos espaços vai sendo determinada pela posição dos agrupamentos no conjunto e o desígnio das edificações que os compõem. O espaço principal, composto pela Reitoria, Biblioteca, Aula Magna e Museu ocupa "tranquilamente os sítios mais importantes da composição" junto ao centro da área, criando espaço monumental chamado "Esplanada da Reitoria" (Figs. 69 e 73), onde os edifícios prismáticos da administração e os de forma especial são unidos por circulações abertas e fechadas, no nível do térreo, configurando a praça. Mesmo conceito foi utilizado a leste, nas unidades de ensino e seus respectivos laboratórios, que na parte fronteira da gleba, junto à Avenida Radial, configura o segundo "campus" interno, conectado por sua vez aos institutos de pesquisa existentes (Fig.73). Esse conjunto, unido na base pelo prolongamento do pavimento térreo, na forma de redents, é composto por barras ortogonais ordenadas geometricamente. Por fim, a introdução do tema da habitação coletiva no programa da Cidade Universitária, como no campus da USP em São Paulo, visava dar vitalidade à estrutura, além de dirimir os problemas de distância do centro urbano já identificados. Esse terceiro conjunto, de edifícios de habitação coletiva, com os equipamentos esportivos, áreas de comércio e lazer, ocupa a parte oeste da Cidade Universitária, com 182 Idem. p. 35. 120 Fonte: . LIERNUR, Jorge Francisco; PSCHEPIURCA, Pablo. La Red Austral: obras y proyectos de Le Corbusier y sus discipulos en la Argentina (1924-1965). Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 2008. p. 361 Fig. 75 - À esquerda, Cidade Universitária na Ilha do Fundão, Escritório Técnico da Universidade do Brasil - ETUB, Jorge Machado Moreira e equipe, 1952. À direita, Conjunto Habitacional para Bajo Belgrano, Estudio del Plan de Buenos Aires – EPBA, Antôni Bonet Castellana, Roca, Vivanco, Ferrari Hardoy (Diretor), Buenos Aires, 1949. prédios em forma de barras longitudinais, de aproximadamente dez pavimentos, com costados cegos e fachadas na orientação norte-sul (Figs. 69 e 73). O sistema espacial da proposta, tanto do ponto de vista formal quanto tipológico, parece dar continuidade ao jogo de organização moderna iniciado por Le Corbusier para a Cidade Universitária da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro (1936), e de certa forma criticado por Lúcio Costa em sua proposta 183 feita logo a seguir (Fig.74). A localização do campus no vale próximo à "cordilheira" de morros e do Arroio do Sabão, com natureza exuberante e topografia importante, faz modesto paralelo com a paisagem do Rio de Janeiro, apenas por coincidência. A similitude arquitetônica não. A adoção dos postulados de Le Corbusier neste caso é deliberada, e a conformação de imagem urbana moderna, de certa forma semelhante ao que estava sendo desenvolvido por Paiva, Fayet e equipe para o aterro da Praia de Belas, nos estudos do Plano Paiva, no mesmo momento, é coincidente com as ideias da nova arquitetura e do novo urbanismo perseguido por essas gerações. O projeto da Cidade Universitária é mais que a solução de um problema específico de arquitetura e urbanismo. Naquela oportunidade, era um manifesto em prol do sistema moderno de organizar a cidade, ao qual os arquitetos e sociedade gaúcha desejavam aderir, com paralelos institucionais no projeto para a Cidade Universitária – CidUni, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, construído na Ilha do Fundão, nos anos 1950, por Jorge Machado Moreira A análise das duas propostas, assim como as diferenças de partido, mesmo com a unidade figurativa sugerida, pode ser vista em texto de OLIVEIRA. Ver: OLIVEIRA, Rogério de Castro. Jogos compositivos na cidade dos prismas. Universidade do Rio de Janeiro, 1936. Arqtexto PROPAR, Arqtexto, UFRGS, Porto Alegre, n. 9, 2006. p. 40-53. 183 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: Fonte: . 1950/1970 Capítulo I Lijnbaan, Van den Broek e Bakema, Centro de Roterdam, 1951-53. Fig. 76 - À Esquerda, expansão para Amsterdam, Van den Broek e Bakema, 1964. À direita, De (Fig.75), e formais, por exemplo, na imagem teórica de cidade Moderna 184 proposta pelo EPBA para o bairro Belgrano em Buenos Aires (1949) (Fig.75) . No entanto, as coincidências com os projetos cariocas esbarram em algumas diferenças, que mais uma vez parecem advir de especificidades do problema e alguma contenção gaúcha. Primeiramente, a escala. Dentro do conceito de campus, entendido como espaço livre, de uso comum, como observam os autores – "dizer campus equivale a dizer convivência humana. Os arquitetos adotaram, portanto como princípio gerador da composição espaços livres destinados ao contato direto e espontâneo entre alunos e professores de 185 diferentes escolas e dos institutos" – a ideia de prismas abstratos soltos na paisagem não significou a perda de escala urbana e distâncias imensuráveis, como ocorreu no Fundão, ocupando uma área de mais de cinco milhões de metros quadrados (maior que Copacabana). O sistema de circulação interna, portanto, é de uma via de veículos perimetral, com acessos desde a Radial em cada um dos três núcleos, e estacionamentos em todo o perímetro. No miolo da cidade universitária, no entanto, circulação exclusiva de pedestres em distâncias razoáveis, normalmente sob circulações cobertas que intermedeiam as edificações e configuram áreas abertas. Com isso, a densidade construtiva em parcelas da gleba aumentou, criando maior relação formal entre os elementos que a Estudio del Plan de Buenos Aires – EPBA, criado em 1947, integrado por Antôni Bonet Castellana, Roca e Vivanco, que teve Ferrari Hardoy como diretor. Ver: LIERNUR, Jorge Francisco; PSCHEPIURCA, Pablo. La Red Austral: obras y proyectos de Le Corbusier y sus discipulos en la Austra l Argentina (1924-1965). Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 2008. p. 343. 185 Texto de apresentação do projeto em publicação da época, provavelmente escrito por Edvaldo Arquitetura ra, Paiva. Ver: CIDADE Universitária. Espaço Arquitetura n. 2, ano 1, Porto Alegre, 1959. p. 35. 184 Fonte: SILVA, José Loureiro da. PAIVA., Edvaldo Pereira. Um Plano de Urbanização. Editora do Globo, Porto Alegre, 1943. p. 51 Fig. 77 - Localização da Cidade Universitária na Publicação "Um Plano de Urbanização" do Prefeito Loureiro da Silva e Urb. Edvaldo Paiva, 1943. compõem. As edificações não estão portanto dispersas aleatoriamente na paisagem, mas conformam um conjunto de relações funcionais e topológicas, dentro de critérios de ordenamento geométrico, como o projeto de expansão para Amsterdam (1964), de Van den Broek e Bakema (Fig.76). Da mesma maneira, a justaposição de barras verticais ordenadas por ortogonalidade, articuladas por fitas prolongadas no pavimento térreo, onde se concentram comércio, serviços e circulação de pedestres, evidenciam pertinência na adequação de escala do projeto moderno, como atesta o projeto de reconstrução de parte do centro de Roterdam, De Lijnbaan (1951-1953), dos mesmos arquitetos (Fig.76). A monumentalização de espaços por edifícios singulares é corbusieriana, mas a criação de espaços cívicos configurados por esses edifícios é brasileira. O projeto da Cidade Universitária da UFRGS permitiria (e mereceria) outras análises, que não cabem aqui; no entanto – apesar de não ter sido executado, como muitos outros projetos modernos –, este breve panorama revela, em síntese, a expressão de arquitetura e urbanismo modernos, adequados ao contexto, na qual Fayet e Moojen, conjuntamente com os mestres, colegas e representantes da sociedade, faziam escola (Fig.77). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 121 Atividades de classe, outras lideranças e o encontro do ofício com o IABInstituto – O projeto para a sede do IAB-RS (1960-1963) Fayet desde sempre denotou sua vocação e desejo de assumir cargos representativos, ocupar postos de chefia e assumir responsabilidades de 186 liderança , assim como em ter performance destacada em eventos, 187 congressos, certames públicos e participação em comissões julgadoras . No entanto, ao longo da sua vida, a dedicação ao IAB-RS foi um tema preponderante em relação aos demais, o que de certa maneira é evidenciado em sua participação na configuração arquitetônica das sedes históricas do Instituto no Rio Grande do Sul. O Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio Grande do Sul – IAB-RS, desde sua fundação, em 1948, funcionava no escritório do 188 presidente em exercício . Emil Bered e Veronese exerceram o cargo, Cedo, foi Presidente da Associação Araújo Porto Alegre (Entidade Artística), Porto Alegre-RS, de 1951 a 1953; I Secretário do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Rio Grande do Sul de 1957 a 1958; Delegado no Rio Grande do Sul do Instituto Brasileiro de Acústica de 1958 a 1962; e Vice-Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Direção Nacional-IAB/DN de 1966 a 1967. Durante os anos 1970, com a cassação na UFRGS e IBA, Fayet dedicou-se exclusivamente ao ofício. A partir dos anos 1980, com a carreira consolidada, a Equipe de Arquitetos organizada em escala empresarial e certa autonomia de funcionamento, principalmente através da sociedade com Cláudio Araújo, Fayet voltou a dedicar tempo às atividades agremiativas. Foi Presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento do Estado do Rio Grande do Sul de 1980 a 1982; Presidente da ABEA – Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura em Brasília-DF de 1984 a 1987 e de 1988 a 1989; Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Rio Grande do Sul de 1994 a 1997; e Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, Direção Nacional, de 1998 a 2000. 187 Igualmente, desde cedo, marcou constante presença nos eventos em que participou. Foi membro e relator do Júri de Confronto Internacional de Estudantes de Escolas de Arquitetura junto ao "X Congresso Mundial da U.I.A" em Buenos Aires (1969); membro do Júri do "Confronto Internacional de Projetos de Escolas de Arquitetura" para atribuição do Prêmio instituído pela UNESCO, junto ao "XI Congresso Internacional de Arquitetos, Varna-BULGARIA" (1972) e membro do júri para atribuição do Prêmio “Presse Architecturale” no mesmo ano e membro do Júri do "Confronto Internacional entre Estudantes de Escolas de Arquitetura" junto ao "XII Congresso Mundial U.I.A", Madrid-ESPANHA (1975). Regionalmente, foi representante do Instituto de Arquitetos do Brasil no Júri do "Concurso Nacional de Anteprojetos para a Agência do Banco do Brasil de Caxias do Sul" (1970); membro do Júri para escolha do Monumento ao Sesquicentenário da Imigração Alemã, Novo Hamburgo-RS (1974); membro representante da Prefeitura Municipal de Florianópolis no júri para escolha do projeto para o Terminal Rodoviário de Passageiros de Florianópolis, Concurso Nacional (1977); membro do Júri do "Concurso Nacional de Projetos para reurbanização do Vale do Anhangabaú", São Paulo-SP (1981); membro do Júri para escolha do projeto para a sede do CREA-SP (1978); membro do Júri do Concurso Público para a escolha do projeto para a Sede do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul-CREMERS (1982); Presidente do Júri do Concurso para projeto do Marco Comemorativo ao Cinquentenário do Município de Canoas-RS; Membro da Comissão de Julgamento do Concurso Brasilit – Edição 1990; membro da Comissão Julgadora do Concurso “50 Anos do Cimento Amianto no Brasil”, promovido pela Eternit S.A. (1990); presidente do júri da II Bienal de Arquitetura do Rio Grande do Sul, promovida pelo IAB (1993). 188 Na sequência da criação do Departamento-RS, conjuntamente com a programação do II Congresso Brasileiro de Arquitetos, em 1948, e as demais ações de afirmação da arquitetura 186 Fonte: Acervo FAM Fig. 78 - Edifício Instituto de Arquitetos do Brasil, IAB- RS, Carlos M. Fayet, Porto Alegre, 1960. 122 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: . faculdade e, conjuntamente com a direção, exercida por José Baptista Pianca, 190 realizavam inúmeros eventos . Em outros Estados, como em São Paulo e Rio de Janeiro, o IAB possuía sede própria, sendo que a de São Paulo, pelo projeto arquitetônico e autorias, exercia certo referencial e alimentava o plano de um edifício sede próprio para o Instituto no Rio Grande do Sul, com escritórios para arquitetos, 191 como o modelo da capital paulista (Fig.79). Naquela gestão, iniciada em 1958, com Irineu Breitman na presidência, Miguel Pereira como vice e Militão de Moraes Ricardo como secretário, todos praticamente recém-formados, o IABRS, com os recursos de que dispunha, comprou o terreno na Rua Professor Annes Dias e, em 1960, realizou o concurso de arquitetura que selecionou projeto de Fayet para a realização de incorporação (Fig.78). As salas foram vendidas a preço de custo, reservando vinte por cento da área total para a sede, a título de permuta pela cota terreno e administração da incorporação. No final do processo, faltando 5% para completar a área prevista para o IAB, algumas salas foram vendidas a preço de mercado (como as adquiridas por Moojen, Vallandro, Leo Ferreira, Nadruz e Hekman) e uma das salas foi objeto de rifa. No concurso de projetos, além de Fayet, apresentaram-se Vicente Marsilha e Perrone. Todos foram remunerados. Fayet venceu o concurso, Marsilha e Perrone ficaram com a construção, e o cálculo estrutural a cargo do Engenheiro Dicran Gureghian. A obra demorou cinco anos, cronograma determinado pelo desembolso dos condôminos, com o detalhamento do Fig. 79 - Edifício Instituto de Arquitetos do Brasil - SP, Rino Levi, Abelardo de Souza, Galiano Ciampaglia, Hélio Duarte, Jacob Ruchti, Miguel Forte e Zenon Lotufo, São Paulo, 1946. realizando reuniões e atividades frequentes da entidade em seus próprios escritórios. Com a construção da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, o IABRS tratou com a direção da escola para instalar-se nas dependências do novo prédio, funcionando inicialmente no Centro Acadêmico. Para Irineu Breitman, presidente do IAB-RS na época, este período foi o melhor do IAB-RS, dado o 189 convívio com professores e estudantes . Em sua gestão, detinha chave da moderna no Estado, após a gestão de Ernani Dias Corrêa, primeiro presidente, as direções, até a inauguração do edifício sede, foram: Max Hermann Schlüpmann (1949-1952), Roberto Félix Veronese (1953-1954), Emil Achutti Bered (1958), Irineu Breitman (1959-1961), Miguel Alves Pereira (1962-1963), Irineu Breitman (1964) e Edgar Bittencourt da Luz (1965), que inaugurou o prédio. No entanto, o primeiro presidente a usufruir a nova estrutura, em uma gestão memorável de atividades culturais realizadas no Edifício IAB, foi Araújo, entre 1966 e 1967. 189 O edifício da Faculdade de Arquitetura da UFRGS foi inaugurado em 1958, com a presença do Presidente da República, Juscelino Kubitschek. O significado da construção da Faculdade e a escola como âmbito cultural da arquitetura moderna no Estado é capítulo fundamental. Ver: LICHT, Flávia Boni; CAFRUNI, Salma. Arquitetura UFRGS: 50 anos de Histórias. Porto Alegre: UFRGS, 2002. 190 BREITMAN, Irineu. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, 8 out. 2008. 191 O Departamento do IAB de São Paulo e o Departamento de Minas Gerais, criados em 1943, foram os primeiros departamentos estaduais da estrutura federativa da Direção Nacional, centrada no Rio de Janeiro, que iniciava. São Paulo sediou, logo a seguir, o I Congresso Brasileiro de Arquitetos em 1945. O edifício sede foi projetado em 1947 por um grupo de arquitetos formado por Rino Levi, Roberto Cerqueira Cesar, Miguel Forte e Jacob Ruchticom, após a realização de concurso realizado em 1946, com Oscar Niemeyer, Hélio Uchoa e Firmino Saldanha (ex-presidente do IAB-SP) no corpo de jurados, que selecionou três equipes vencedoras. Kneese de Mello, presidente do IAB/SP, no momento do concurso, recomendou que realizassem um projeto conjunto, que segundo Miguel Forte (1915-200), arquiteto de uma das equipes, foi desenvolvido somente por seu escritório e o de Rino Levi. Com seis andares, subsolo, galeria. auditório e restaurante, entrada independente para salas de escritórios nos andares superiores, onde se situaram os escritórios de Paulo Mendes da Rocha, Vilanova Artigas e do próprio Miguel Forte, o edifício incorporou obras de arte expressivas, como murais de Antônio Bandeira e Ubirajara Ribeiro, móbile de Alexander Calder e escultura de Bruno Georgi, tombados, conjuntamente com o edifício, em 2000, pela Secretaria da Cultura do Governo de São Paulo. Para ver mais detalhes do depoimento, ver: FORTE, Miguel. Entrevista. ProjetoDesign São Paulo, Arco Editorial, n. 262, dez. ProjetoDesign, 2001. p. 74. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 123 Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 80 - Edifício Instituto de Arquitetos do Brasil - RS, Carlos M. Fayet, planta pavto. térreo, Porto Alegre, Projeto aprovado na PMPA, 1961. 80.2 Fig. 80.2 - Edifício Instituto de Arquitetos do Brasil - RS, Carlos M. Fayet, planta pavto. tipo, Porto Alegre, Projeto aprovado na PMPA, 1961. 80.1 Fig. 80.1 - 1 - Edifício Sady Maisonave, Fernando Corona e Luís Fernando Corona, 1948. 2 Edifício Guanabara. 3 - Edifício Instituto de Arquitetos do Brasil - RS, Carlos M. Fayet, 1960. 4 Edifício Annes Dias, Armando d´Ans, 1955. 124 Fonte: Desenhos Acad. Roberta Handler, 2006, Acervo MooMAA Fonte: Google Earth 80.3 Fig. 80.3 - Edifício Instituto de Arquitetos do Brasil - RS, Carlos M. Fayet. Fachada principal, corte transversal, corte longitudinal, 1961. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Fonte: Foto Sergio Marques, 2010 Fonte: Fig. 81 - Edifício Instituto de Arquitetos do Brasil - RS, Carlos M. Fayet, acerto com a geometria da rua e continuidade com o Ed. Annes Dias, Porto Alegre. Fig. 82 - Avenida Presidente Vargas, Rio de Janeiro, imagem atual. projeto sendo desenvolvido conjuntamente com a execução . O edifício foi inaugurado em 1965 com vários arquitetos instalados ali, como o próprio Irineu Breitman, Flávio Soares, Lincon Ganzo de Castro, Roberto Levy, Militão de Moraes Ricardo, Jaime Leverton, David Leo Bondard, Arnaldo Knijnick, Nestor Nadruz, Moacyr Moojen Marques, Leo Ferreira da Silva, João José Vallandro, Marcos Hekman, Carlos Maximiliano Fayet e Suzy Fayet, mas com maioria de médicos psiquiatras entre os proprietários. O projeto, naquele terreno, estava bastante condicionado pela geometria de um lote de pouco mais de doze metros de frente, contido entre medianeiras, e pelo Plano Diretor de 1959, sendo que o terreno de aproximadamente vinte metros de profundidade se abria a norte, nos fundos, 192 O detalhamento visava categorizar o edifício com algumas inovações tecnológicas, como o projeto do elevador, de Armênio Wendhausen, que se transformou em um protótipo da empresa fabricante, com portas de vidro, botoeira digital, controle de acesso fotoelétrico e piso de granito. Além de outros itens, o detalhe de Fayet para a escada com estrutura metálica e a base dos degraus pré-moldados com granitina, soltas sobre o vazio, eram elementos feitos com este intuito de promover algum diferencial na construção da sede dos arquitetos, ainda que conjugado a um empreendimento comercial. 192 criando uma espécie de apêndice em um polígono de forma irregular . Em uma estratégia racional e de certa maneira paralela ao esquema hotel particulier de ortogonalização do terreno através da construção, Fayet, ocupando praticamente cem por cento da área no pavimento térreo, adota o primeiro segmento do edifício, mais regular e conectado à rua, para a implantação da parte alta da construção, implantando a bateria de circulações verticais e horizontais no centro de gravidade da planta, salas para a frente e para os fundos (Fig.80), distribuídas em nove pavimentos. Com essa organização funcional, a distribuição de salas se divide em duas alas, criando uma faixa transversal que abriga elevadores e circulação horizontal dupla, em torno de uma escada organizada em lance único, três salas para a fachada principal, a leste, e três para os fundos, voltadas para o pátio criado sobre o térreo no apêndice irregular, sendo duas menores, a oeste, e uma maior, que vai até o fundo do lote, com abertura a norte (Figs.80). Os sanitários, agrupados dois a dois e ventilados por poços, gravitam ao redor da circulação horizontal, no meio da planta tipo. Com a estrutura independente do No seu lado, a sul, já estava construído o Edifício Annes Dias, projeto do argentino Armando d´Ans (1955), em um terreno triangular, mais próximo da esquina com a Avenida Independência, em condições urbanas semelhantes. Ver: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Alegre. Porto Alegre São Paulo: Pini, 1987. p. 130-131. 193 193 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 125 Fig. 83 - Edificio del Notariado, C. Barañano, J. Ferster e G. Rodrigues Orozco (Studio 5), Av. 18 de Julio, Montevidéu, 1962. Banco Boa Vista, Oscar Niemeyer, Av. Pres. Vargas, Rio de Janeiro, 1946. edifício e a venda em planta da incorporação, no entanto, muitos proprietários tiveram oportunidade de remanejar as compartimentações e a distribuição de suas unidades. Moojen, conjuntamente com Hekman, Vallandro, Ferreira e Nadruz, por exemplo, adquiriram três salas nos fundos do quarto pavimento, eliminaram um banheiro e criaram escritório único com a planta livre distribuída por armários e divisórias. O pavimento térreo dispunha das dependências do bar-restaurante nos fundos e uma loja para a frente, adquirida por Manlio Gobbi (ver Cap.I, "A"), conhecido promotor do design e comerciante de mobiliário de alto padrão, cuja logotipia em mármore ainda se encontra na fachada. A sobreloja foi programada integralmente para o IAB-RS, com salas para a diretoria e reuniões, organizadas em uma planta livre, no segmento leste, à frente, tendo um grande terraço sobre a marquise em balanço, o auditório, com uma sala anexa na parte posterior e um sanitário aberto para circulação. O instituto dispunha ainda de uma sala no segundo pavimento, utilizada pela diretoria. Todas as áreas de serviço e um sanitário-vestiário, com parte pública, foram organizados no subsolo. O corpo da edificação acomoda-se no terreno e na paisagem urbana de forma a integrar-se com o conjunto de edificações modernas que compõem o quarteirão e ladeiam a Praça Dom Feliciano fazendo a transição de nível entre a Avenida Independência e a Rua dos Andradas, como o Edifício Annes Dias (1955), do argentino Armando d´Ans, ao sul, e o Guanabara, mais abaixo, ao norte, cuja sequência culmina no edifício Sady Maisonave (1948), de Fernando e Luís Fernando Corona, na esquina com a Rua dos Andradas (Fig.80.1). Portanto, diferente do edifício sede do IAB São Paulo, de esquina e, de certa maneira, mais monumental, o projeto de Fayet adapta-se à condição de tecido, articulado à geometria sugerida pelo Edifício Annes Dias (Fig.81). Nesta peculiar circunstância em que a arquitetura moderna se acomodou em traçados e parcelamentos antigos, próximos a centros históricos e obedecendo normas de gabarito e alinhamento, constituiu tecido contínuo e figurativo, como no caso da Av. Presidente Vargas no Rio de Janeiro (Fig.82) ou a Avenida 18 de Julio em 194 Montevidéu . A fachada, assim como a do Edifício Annes Dias, é desenhada em curva, dando continuidade ao traçado urbano e concordância à suavidade das empenas que compõem o bastidor visual da praça que, por sua vez, delimitada a leste pela Santa Casa de Misericórdia e a oeste por outro conjunto considerável de edifícios modernos de interesse, como o Edifício Uarumã (1969), de Cláudio Casacia, e o Edifício Santa Tecla (1957), de Carlos Alberto de Holanda Mendonça e Jaime Luna dos Santos, compõe espaço urbano apreciável. As relações de aproximação ao edifício, no entanto, não são as da neutralidade. Fayet arma, na relação dos pavimentos térreo e sobreloja com o espaço urbano, um refinado jogo, mantendo no pavimento térreo a ortogonalidade adotada no interior do edifício. Recuando o plano de fachada do ingresso ao prédio em relação ao da loja, obtém por um lado a caracterização do volume desta, por outro uma entrada fluida, com espaço externo de transição que, pela transparência, conduz ao interior. A estrutura, por sua vez, organizada em quatro linhas longitudinais, duas nas divisas e duas dividindo a largura do lote em três vãos de aproximadamente quatro metros cada, 194 Fonte: Foto Sergio Marques, 2010, A relação urbana do Edifício IAB, com arquitetura miesiana encravada entre medianeiras de quarteirão figurativo, faz paralelo ao Edificio del Notariado, de escritórios e galeria comercial no térreo, objeto de concurso (1962) vencido pelos Arquitetos C. Barañano, J. Ferster e G. Rodrigues Orozco (Studio 5), na Avenida 18 de Julio, em Montevidéu, que por sua vez tem grande semelhança com a Avenida Independência em Porto Alegre (Fig.83). Também se pode citar o Edifício Banco del Pacífico (1960) de Sergio Larrain G. M., Ignacio Covarrubias S., Oswaldo Larraín e Jaime Larraín, em Santiago do Chile ou ainda, de alguma maneira, o Banco Boa Vista de Oscar Niemeyer no Rio de Janeiro (Fig.83). 126 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I Esse prédio do IAB, ali na rua Prof. Annes Dias, em frente à Santa Casa, foi uma aventura. Uma aventura vitoriosa de meia dúzia de pessoas, que acreditou e fez o possível para o IAB ter uma sede, que até então ele era um livro de atas. A sede do IAB era onde estivesse a atividade principal do seu presidente, fosse no escritório, na faculdade, ou enfim, na residência de outro. Precisava-se de uma sede. Precisava-se tanto que a gente se aventurou a fazer um empreendimento comercial, capitaneados pelo Irineu Breitman. Era possível fazer ali um prédio de escritórios e que ficasse bem clara a presença de algo diferente, que era o IAB, ali na parte térrea, no primeiro andar e no segundo, com uma grande marquise que seria também terraço do primeiro andar. O resto tinha que ser um prédio que fizesse uma concordância daquela arquitetura e até dos alinhamentos. Um prédio que acerta os alinhamentos da Annes Dias com o fim da Senhor dos Passos. Enfim é um prédio que valeu. Mas o mais importante desse projeto foi o seu uso, ele abrigou ali não só a sede, como um bar de propriedade do IAB, o Bar do IAB, e a Galeria do IAB, uma galeria de arte que, na época, sem dúvida nenhuma, era o bar da intelectualidade porto-alegrense e a melhor galeria de arte do 196 Rio Grande do Sul . Fonte: Foto Sergio Marques, 2010 Assim, durante aproximadamente quarenta anos, antes que outros tempos e fatores supervenientes levassem o IAB para outra sede, mais uma vez nas mãos de Fayet, desta vez como presidente, o Edifício Instituto de Arquitetos do Brasil, em sua condição de peça urbana moderna integrada ao tecido da cidade, de certa maneira representava, em parte, o espírito da arquitetura 197 moderna brasileira no sul . Fig. 84 - Edifício Instituto de Arquitetos do Brasil - RS, Carlos M. Fayet, Porto Alegre, 1960. sobressai-se no térreo e sobreloja como lâminas estruturais revestidas de mármore cinza nas faces laterais e granito preto nas extremidades, assim como as divisas externas (Fig.84). A fachada da sobreloja, onde estava a diretoria do IAB, também é recuada, criando um plano transparente sob o volume avançado do edifício. Desta maneira, o corpo principal flutua sobre esses vazios transparentes cortados horizontalmente pela marquise. O efeito visual torna-se ainda mais potente pela caixilharia de ferro da fachada cortina dos pavimentos 195 tipo, acentuando sua verticalidade contrastante (Fig.82) . Fayet, contando a história da criação da sede, chama a atenção sobre esta sobreposição do edifício "tecido" e a excepcionalidade do Instituto: 195 A fachada Curtain Wall original foi detalhada e executada com elementos de ferro tubular e painéis de ferro esmaltados nos peitoris. Como em muitos casos em Porto Alegre, o manuseio para a instalação dos ares-condicionados e a própria oxidação das peças de ferro acabaram por deteriorar os elementos de fachada, que foram substituídos, por sistema de alumínio, nos anos 1970, por projeto de Moojen, com a indicação e acompanhamento de Fayet, que alterou a proporção visual original entre opacos e transparentes. FAYET, Carlos Maximiliano. Entrevista ao autor por ocasião da V Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Gravação digital e texto digitado. Porto Alegre, 2003. O restaurante/galeria de arte previsto no projeto original de Fayet, no pavimento térreo, nos fundos do lote, foi encaminhado para Moojen desenvolver, com desenho feito pelo estudante de arquitetura Carlos Eduardo Comas, mas não chegou a ser construído integralmente. Na gestão de Araújo, entre 1966 e 1967, a galeria de arte coordenada pelo artista plástico Xico Stockinger (1919-2009) ocupou o espaço, tendo ampla repercussão. Posteriormente, em 1981, o Bar foi locado por Dirceu Russi, conhecido empresário da noite, que criou o Bar Espaço IAB, de certo sucesso no meio cultural de Porto Alegre, onde, por exemplo, o Espetáculo “Tangos e Tragédias” fez a sua estreia. Nos anos 1990, a Livraria do Arquiteto, de Ignácio e Cristina Benitez, também esteve por lá. 197 De certa maneira ilustrando a afirmação de Fayet: "Quando se conversa sobre arquitetura, a gente sempre se lembra das obras de exceção, que obrigam a procurar o endereço e sair de carro para achar. Acho que o que interessa, de arquitetura brasileira, é aquilo que a gente vê. Não aquilo que a gente tem que procurar para enxergar". FAYET, Carlos Maximiliano. Porta -retratos, PortaBrasil. DOCOMOMO Brasil Disponível em: . Acesso em 10 out. 2011, às 12h 56min. 196 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 127 Omni + presença Fig. 85 - Carlos M. Fayet, visita as obras do Palácio da Justiça, Work-shop Brazil- New Zeland, Unitec/ UniRitter, 2005. No apogeu de sua carreira, a conexão com as obras públicas, a liderança, o ensino e o exercício da profissão foram constantes. Na área do urbanismo, além dos sucessivos projetos para o aterro da Praia de Belas, o projeto vencedor do concurso para o Detalhamento da Área Funcional de Preservação Cultural e Proteção da Paisagem Urbana para a Vila do IAPI (Porto Alegre – RS, 1994), não executado, evidencia a emergência de um espaço moderno dos anos 40 em franca desfiguração e a atenção redobrada ao patrimônio cultural desde os 80. No ensino, Fayet anistiado voltou à Universidade, sendo que nessa década foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Escolas de Arquitetura – ABEA, posteriormente transformada em Associação de Ensino de Arquitetura, e o principal articulador do Concurso de Trabalhos Finais de Graduação “Opera Prima”, promovido desde 1990 até hoje. A multiplicidade e dedicação à produção e ensino da arquitetura só foram menores que sua veneração ao IAB. Em duas sucessivas presidências do Departamento RS, o autor do edifício sede original promoveu sua mudança, capitaneando a obtenção junto ao Governo do Estado do Solar Conde de Porto Alegre e deflagrando o processo de criação do Centro Cultural IAB, no centro histórico, na nova sede. “Eu gostaria de ter uma bola de cristal pra ver o Solar 198 funcionando a mil como funcionava o IAB ali defronte à Santa Casa...” . Como presidente do IAB, organizou importantes concursos de arquitetura, como o do Muro da Mauá (1994), do Restaurante da Usina (1994), da Rua 24 horas (1995), do Parque Municipal de Canoas (1996), do Porto dos Casais (1996), das Calçadas do Corredor Cultural (1996), dos Portais do Rio Grande (1997), do Porto Velho de Rio Grande (1997), revertendo alguns empreendimentos já condenados pela má condução política, como o Anexo do Teatro São Pedro (1998), e encaminhando outros, como o Teatro da OSPA (1998). No IAB-DN, foi um dos principais articuladores e incansável militante pela criação do Colégio Brasileiro de Arquitetos – CAU. Condecorado com o colar de ouro, maior homenagem do Instituto, Fayet, sozinho, foi uma entidade de classe inteira. Pego de surpresa quando chamado pelo Poder Judiciário para restaurar o Palácio da Justiça de acordo com o projeto original do concurso, completando inclusive as obras de arte imaginadas inicialmente, que contumaz fez ele mesmo, se dedicou ao trabalho e o conduziu de forma messiânica, produzindo, além dos projetos, as obras de arte, exposições, publicações e eventos. Ademais, dos projetos e coordenação da restauração, com profunda e complexa recuperação das instalações e espaços do palácio, a realização da escultura da Deusa Themis, de nove metros, fundida em bronze, para a fachada da praça cívica, e os quatrocentos painéis de concreto representando povo, 198 Fonte: Foto Cesar Wagner, 2005, WAGNER, Cesar. LAUB, Débora.Fotografia do Brasil - a publication, Auckland: ScALA-Unitec, 2007 Idem. 128 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo I história, cultura, episódios, lendas, terra, flora e fauna, dispostos lado a lado, no coroamento das fachadas leste e oeste, demandaram dois anos de trabalho e o uso de técnicas sofisticadas. Nada era obstáculo. Fayet devolveu a surpresa geral quando faleceu, em 19 de março de 2007, data de aniversário do IAB-RS. Permanece em todos que com ele conviveram sua presença. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Foto Sergio Marques, 2009 Fig. 86 - Avenida Carlos Maximiliano Fayet, inaugurada na zona sul de Porto Alegre, 2009. Sergio M. Marques 129 Capa: Figura da Capa Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Praça Otávio Rocha, Porto Alegre. Fachada principal, 1960. Fonte: Acervo FAM. Contracapa: Figuras da Contracapa Palácio da Justiça, Luís Fernando Corona e Carlos M. Fayet, Porto Alegre, 1952-1968. Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2012. Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Praça Otávio Rocha, Porto Alegre. Praça Interna, 1960. Fonte: Desenho Débora Assis Brasil, Sergio Marques, 2011. 130 Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior - PDSE - CAPES FAYET, ARAÚJO & MOOJEN ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL - 1950/1970 Volume 3 Capítulo I - Araújo Faculdade de Arquitetura - UFRGS Rua Sarmento Leite, 320 /201 90050-170 Porto Alegre/RS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Fone/Fax: 55 51 3316-3485 FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA - PROPAR ppgarq@vortex.ufrgs.br Orient. Carlos E. D. Comas/ Co-Orient. Hélio Piñon Sergio Moacir Marques A TESE DE DOUTORADO FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Pelotas, Upacaraí e Porto Alegre (1931-1951) A CLÁUDIO LUIZ GOMES DE ARAÚJO (1931) Cláudio Luís Gomes de Araújo nasceu em Pelotas-RS em 02 de junho de 1931, filho de Luís Teixeira de Araújo, natural da mesma cidade, e Antonina Gomes de Araújo, natural de Santana do Livramento-RS. Realizou, em Pelotas, o primário, no Colégio de freiras São José (1936-1943), admissão (1943), ginásio (1944-1947) e científico (1948-1950) no Colégio Gonzaga, dos Irmãos lassalistas (Fig.2). Seu pai tinha atividades ligadas ao comércio de carnes, junto com seu avô, marchante, intermediando compras e vendas entre abatedouros, frigoríficos e casas de carnes. Teve estabelecimento comercial próprio, no período em que o avô tinha banca de carnes no mercado, antes de, junto com sócio amigo, montar empreiteira para serviços na construção civil. Com a sociedade, Seu Luís e sócio começaram a construir para a Viação Férrea do Rio 1 Grande do Sul – VFRGS . Por volta de 1941 foram contratados para a construção do ramal entre Santana do Livramento e Bagé, no trecho de Dom Pedrito. A linha de trem percorria de Porto Alegre a Bagé e, passando por Dom Pedrito, seguia para Santana do Livramento (Fig.3). As obras para a estação, casas de turma e ferrovia exigiam a permanência de Seu Luís no canteiro de obras, para coordenar equipes, dada a dificuldade de acesso ao local. Cláudio, neste momento, havia terminado o primário, com idade adiantada para fazer o exame de admissão ao ginásio, o que, na opinião de Dona Antonina, autorizava uma pausa nos estudos, para acompanhar Seu Luís, sem prejuízo na sua formação. Portanto, no verão daquele ano, a família deslocou-se para o local da obra, na localidade chamada Upacaraí, próxima a rio de mesmo nome, para construir a pequena vila, a um quilômetro da estação, onde habitariam os operários que recuperariam e dariam manutenção à linha de trem. A VFRGS era uma empresa estatal criada em 1920 e extinta em 1959, quando foi incorporada à Rede Ferroviária Federal – RFFSA, tendo dado continuidade às obras de construção da malha ferroviária no Estado, iniciadas pela The Porto Alegre & New Hambburg Railway Company Limited, que executou a pioneira linha entre Porto Alegre e São Leopoldo, concluída em 1874, e posteriormente prolongada até Carlos Barbosa e Caxias do Sul. A ligação entre Porto Alegre e Uruguaiana começou a ser estudada em 1880 e implantada em 1907. A VFRGS, presidida pelo exdeputado federal Augusto Pestana, recuperou as linhas existentes, adquiriu novas composições e, posteriormente, introduziu os trens Minuanos e locomotivas a óleo diesel. "A linha entre São Sebastião, na Cacequi-Marítima, e Dom Pedrito foi aberta em 1923, sendo que somente por volta de 1946 ela foi esticada até Livramento, onde se encontrava com o início de outra linha, LivramentoCacequi (Fig.3). Entre 1963 e 1971, não são acusados trens de passageiros no trecho mais novo (Dom Pedrito-Livramento), voltando eles em 1972, para serem extintos por volta de 1979. O ramal foi totalmente erradicado". Ver: Estações Ferroviárias do Brasil. Disponível em: . Acesso em 17 dez. 2011, às 16h 27min. Sergio M. Marques 131 1 Fonte: Acervo Família Araújo Fig. 1 - Retrato de Cláudio L. G. Araújo, aquarela sobre papel Fabriano, Carlos Mancuso, ao redor de 1957. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: http://ronaldofotografia.blogspot.com. br/ 2012_01_01_archive.html>. Acervo Araújo. Fonte: Acervo Araújo Fig. 3 - À esquerda, estação de trem, "Sant´Anna" do Livramento, 1940. A direita, estação Upacaraí construída por seu Luís, em torno de 1943. Fig. 2 - Cláudio Araújo, agachado na extremidade direita, equipe vice-campeã de futebol, III Científico, Ginásio Gonzaga, Pelotas-RS, 1949. A moradia inicial dos Araújo foi feita com material de construção do local e da própria rede ferroviária: um rancho constituído de volume único, compartimentado em quarto e sala-cozinha, conectada ao pequeno banheiro, com estrutura de madeira, teto de palha e paredes de madeira ou torrão (Fig.4). Os Araújo permaneceram nessa casa improvisada até a construção da definitiva, após o inverno, em uma temporada total de quase dois anos. As condições neste período, eram, portanto, bastante frugais. A comunicação com Dom Pedrito, cidade mais próxima, era feita por carroça, em estradas precárias, ou pelo campo (Fig.5). O abastecimento da família e de toda a equipe, com enlatados e bolachas de campanha, era realizado pelo armazém gerenciado por Seu Luís. Com aproximadamente dez anos de idade, nesta época, Cláudio dividia seu tempo entre aulas de preparação para o exame de admissão, ministradas por Dona Antonina, e brincadeiras com filhos dos empregados da empreiteira. Próximo a esse local, havia a fazenda arrendada pelo fazendeiro Sr. Gelon Santana, antigo amigo de Dona Antonina, conterrâneo de Santana do Livramento, cidade natal dos Gomes, onde seu avô por parte de mãe possuía hotel, mais tarde trocado por outro em Pelotas, onde Dona Antonina conheceu Seu Luís. A linha de trem cruzava a área da fazenda e o Sr. Gelon convidava Cláudio que, periodicamente, percorria quinze quilômetros a cavalo, para acompanhar as lides da fazenda, campereadas, marcação de gado e castração de touros, atividades que apreciava acompanhar e mantém com certo gosto, até hoje, no compartilhamento com a família de sua mulher, da fazenda em 2 Aceguá, interior de Bagé . No entanto, boa parte do tempo dedicava, interessado, à construção dos elementos da ferrovia, dando apoio inicialmente em serviços simples, como buscar água na cacimba e distribuir para os operários. Progressivamente, começou a se envolver com os trabalhos de construção, auxiliando na execução de alicerces, paredes, estruturas de madeira das coberturas, colocação de telhas e estuque do forro. Posteriormente, com estímulo do pai e dos operários, aprendeu a assentar tijolos e a rebocar. Lembra de chamar sua atenção o fato que os elementos construídos para a ferrovia, ao contrário da experiência na construção do rancho, seguiam uns “desenhos de fundo azul e linhas brancas” (papel 3 heliográfico) . Com as construções em marcha, uma das primeiras casas da vila foi realizada para os Araújo, e ele participou ativamente das construções da obra e do mobiliário (Fig.6). Propriedade adquirida pela família de Mary Suzana, esposa de Araújo, cuja propriedade anterior da sede é atribuída ao Barão de Aceguá (Astrogildo Pereira da Costa, 1809-1892), militar que se destacou nas guerras contra o ditador Rosas, de Buenos Aires, e na Guerra do Paraguai (Fig.69). 3 ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 27 abr. 2008. 2 132 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Acervo Araújo Fig. 4 - 1ª Casa dos Araújo na linha férrea, Cláudio Araújo e Dona Antonina, Upacaraí-RS, 1941. Aproximadamente dois anos depois, com Dona Antonina, retornou a Pelotas para o exame de admissão, enquanto seu pai seguiu, com o Batalhão Ferroviário, em direção a Canguçu, para a construção de outro ramal, para onde, nas férias, retornava para se envolver com as obras. Neste meio tempo, conheceu o Engenheiro Cabral, professor de Engenharia Rural do Curso de Agronomia de Pelotas, disciplina voltada às construções relacionadas ao meio agrícola, como galpões, barragens e açudes, através de seu assistente, Sr. Neves, um projetista, que fazia alguns projetos construídos por Seu Luís. Em função do interesse de Cláudio, então com aproximadamente treze anos de idade, na construção e no projeto, seu pai acertou com o Sr. Neves que o ensinasse noções básicas de desenho, com tira-linhas, nanquim, papel vegetal e manuseio de cópias heliográficas. Através deste tutor, Cláudio frequentava a casa do Engenheiro Cabral, professor de prestígio, e convivia com os alunos do Curso de Agronomia que admiravam o mestre. Recorda que, nessa época, entendeu que “construção tinha que ter projeto. Para isto tinha que ter o 4 desenho do projeto e que para desenhar era necessário algumas ideias” . Dessa época em diante, no ginásio, começou a ter mais interesse pela matemática e geometria e, nos finais de semana, ia para a casa de um amigo, cujo pai tinha marcenaria, para fabricar modelos de barcos, aviões e outros brinquedos de madeira, gosto que evoluiu para a dedicação ao aeromodelismo, 4 Fonte: Acervo Araújo Fig. 5 - Seu Luís, Dona Antonina (no meio) e Cláudio Araújo (a direita). À esquerda, amiga da família e à frente o cavalo "Lubuno" que Araújo utilizava. Upacaraí-RS, 1941. Idem. Doutorado Sergio M. Marques 133 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Acervo Araújo Fig. 6 - 2ª Casa dos Araújo na linha férrea, Dona Antonina e Cláudio Araújo, Upacaraí-RS, 1943. e a obtenção de projetos de aviões para construir em escala. Como a disponibilidade de madeira não era farta, em determinada oportunidade, os dois amigos chegaram a adquirir um tronco de corticeira que desdobraram em pranchas para a construção dos aviões. “Não era fazer o brinquedo para 5 brincar, era brincar fazendo o brinquedo” . Em paralelo, nesta época, também mantinha certo interesse nas artes. Durante o científico, acompanhou com dedicação a pintura do interior da Catedral de São Francisco de Paula em Pelotas, realizada pelos pintores 6 italianos Aldo Locatelli (1915-1962) e Emilio Sessa (1913-1990) (Fig.7). Ambos vieram ao Brasil a convite de Dom Antônio Zattera, Bispo de Pelotas, que oportunizava aos estudantes interessados acompanhar as pinturas da igreja. Cláudio, que nesta época ajudava a paróquia a vender rifas, frequentava a execução dos trabalhos regularmente, ficando amigo de Sessa, que lhe explicava os trabalhos e dava conselhos. Emilio Sessa fazia esquemas e maquetes de elementos que Locatelli introduzia nas pinturas murais. Naquelas visitas e conversas, manifestou expressão que Cláudio guardou para si, levando posteriormente para a arquitetura: “O mais importante para pintar é ter amor por 7 pintar” . 5 6 Idem. Nasceu em Bérgamo, Itália, onde estudou na Escola de Belas Artes com Locatelli. Fazia projetos de decoração de igrejas e capelas na região e trabalhou também com restauração de edifícios históricos na Bulgária. Como pintor, se dedicava à pintura mural de símbolos e padrões decorativos. No Brasil, teve um filho arquiteto, Franco Sessa, professor de desenho na FAU-UniRitter. 7 ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Edifício FAM, 12 set. 2011. 134 Fonte: Fig. 7 - Pinturas de Aldo Locatelli e Emilio Sessa, Catedral São Francisco de Paula, Pelotas-RS, 1948. Neste caminho, Cláudio foi desenvolvendo o desejo de, no futuro, fazer algo relacionado à construção, o que no seu entendimento era engenharia. Mais tarde, por volta de 1945, com aproximadamente quinze anos de idade, nessas andanças de obras com seu pai, conheceu o Major Mostardeiro, engenheiro militar em viagem a Rio Grande, oportunidade na qual Cláudio foi motorista, já que, na época, bastava uma autorização dos pais para menor dirigir. Lembra que, na conversa ao longo da viagem, indagado pelo militar sobre o que pretendia ser profissionalmente, descreveu suas experiências com a construção, os desenhos com o Sr. Neves, os projetos de modelos e o anseio de projetar casas. O engenheiro militar chamou a atenção que aquilo não era engenharia, mas sim arquitetura. Mostardeiro descrevia o projeto de arquitetura como o planejamento de uma obra, mas com atenção a outras questões, além da construção, principalmente às de higiene, e a viagem foi uma aula do militar sobre arquitetura com esse enfoque. Portanto, com a noção traçada pelas experiências em obras com seu pai, a convivência com Sr. Neves, Engenheiro Cabral e Major Mostardeiro, da arquitetura como uma maneira particular de fazer engenharia, começou a se preparar para fazer o Curso de Arquitetura da Escola de Engenharia da UFRGS, em Porto Alegre, sem ter conhecimento da existência do Curso de Arquitetura do Instituto de Artes. Já no último ano do científico, em Pelotas, cursou o preparatório com ênfase nas ciências exatas e, em seguida junto com um colega que estudava para engenharia industrial, veio a Porto Alegre, na casa dos irmãos de sua mãe – em um sobrado no Alto da Bronze, em que seu avô chegou a residir – para fazer vestibular. Em 1951, retornou à capital definitivamente, para cursar a faculdade, morando inicialmente com seus tios nesta casa onde já havia passado algumas férias de verão. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Acervo Araújo Fig. 8 -Acima, Seu Luís, Dona Antonina e Cláudio Araújo, viagem a Upacaraí-RS, 1941. No meio, Araújo nas obras da linha férrea. Abaixo, Araújo nas obras da Casa dos Araújo, entre 1941 e 1943. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo Araújo Fig. 8.1 - Da esquerda para a direita, Araújo, não identificado e Cláudio Rizzatto, desfile dos bixos, Curso de Arquitetura da Faculdades de Engenharia, 1950. Sergio M. Marques 135 Engenharia x Realismo Socialista = Arquitetura e o Movimento Moderno no Sul (1950-1955) Fig. 9 - Concurso Hotel de Atlântida-RS, Mauro Guedes de Oliveira, 1° Lugar. Maquete de Cláudio Araújo. Primeiro à esquerda, Araújo, o terceiro, Mauro Guedes. No fundo, à direita, Carlos M. Fayet, colaborador da equipe de Luís Fernando e Fernando Corona, classificado em 2° lugar, 1951. Neste período, seu pai não estava mais envolvido com obras e havia retornado ao comércio. Esteve vinculado ao negócio de automóveis e, através das Casas Víctor, veio também morar em Porto Alegre, reunindo a família em outra casa, alugada na Rua General Portinho, onde permaneceu até seu falecimento. Cláudio, cursando arquitetura na engenharia, se relacionou no bairro, junto com seus primos, a amigos ligados ao aeromodelismo, entre eles Mauro Guedes de Oliveira, já finalizando o curso de arquitetura no IBA. Mauro Guedes, logo depois de formado, participou, conjuntamente com outro estudante da FE, chamado Manuel Carvalho Meira, do Concurso para o Hotel de Atlântida-RS classificado em primeiro lugar, e através da convivência na construção dos protótipos, chamou Cláudio e o primo para fazerem a maquete do projeto 8 (1951) (Fig.9) . 8 Araújo entrou na UFRGS em 1950, pouco antes da transição, quando foi criada a Faculdade de Arquitetura (Fig.8.1). No início as aulas eram conjuntas com todas as demais engenharias, no prédio antigo da Faculdade e o Curso de Arquitetura orientado pelo austríaco Eugene Steinhof. Era importante também a participação de José Carlos Bornancini (1923-2008), seu professor de desenho no primeiro ano, dedicado ao desenho industrial e à organização geral do curso. Naquele ano, a primeira turma de engenheiros-arquitetos se formou com Plínio Almeida, Frederico Mentz e Dirceu Fontoura. Quando se deu a fusão entre os cursos de arquitetura da Engenharia e do Belas Artes estava no segundo ano, passando a ter aulas no prédio do "Castelinho", próximo ao observatório. No seu entender, o Curso de Arquitetura da engenharia era inclinado ao ensino da Bauhaus, no sentido de valorização da tecnologia e da racionalidade abstrata, através da orientação de Steinhof (Fig.10), e o IBA, neste período, tinha um ensino mais ligado às artes e à arquitetura como manifestação cultural, influenciado pela tradição beaux-arts e pela formação uruguaia de Demétrio Ribeiro. Eugen Gustav Steinhof (1880, Viena – 1952, Los Angeles), ou Eugene Pierre Lacour, era arquiteto, pintor, escultor e cenógrafo. Vienense conectado aos arquitetos da secessão, formou-se engenheiro estrutural e arquiteto (1905), sendo aluno de Joseph Maria Olbrich, Otto Wagner, José Hoffman, Adolf von Hildebrand e Henri Matisse, e colega de Arnold Schoenberg. De 1923 a 1930, foi professor na Kungstgewerbeschule (Escola de Artes e Ofícios), em Viena. Conjuntamente com Hoffman, representou a Áustria na comissão julgadora do Concurso da Liga das Nações (1926) em Genebra e, segundo AZEVEDO E 9 MOURA, apoiava a proposta de Le Corbusier . Fez diversos projetos de cenografia, entre eles para a ópera "O Menino e os Sortilégios", de Maurice 10 Ravel, em Paris (1925) , a qual teria recebido prêmio na Exposição Internacional de Barcelona (1929). Refugiado judeu nos Estados Unidos, trocou de nome e, entre 1931 e 1946, foi professor em diversas universidades americanas (entre elas a Columbia University) e auxiliou na migração de arquitetos alemães aos empreendimentos. Ver: BERTOLUCI, Nélide Casacia. Atlântida, 60 anos. Porto Alegre: Leonid Streliaev, 2011. 9 AZEVEDO e MOURA, Roberto. Entrevista. Depoimento ao autor gravação digital, Porto Alegre, autor, nov. 2010 (autor de investigação sobre Steinhof patrocinada pelo CREA-RS). 10 RAVEL, Maurice l. L'Enfant et les sortilèges. Fantaisie Lyrique. Poème de Colette. Paris: Durand sortilèges & Cie., [s. d.]. A obra foi composta entre 1920 e 1925 e teve sua premiere no Théatre de Monte Carlo, em março de 1925. Fonte: Acervo Araújo Fayet, associado a Corona, classificou-se em segundo lugar neste concurso. Há registros deste certame, assim como do projeto do Balneário de Atlântida-RS, desenvolvido por Ubatuba de Farias, em publicação comemorativa organizada por integrante da família que realizou os 136 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL Fonte: . . 1950 a 1970 Capítulo 1 Fig. 10 - Eugen Gustav Steinhof, década de 1940. Escultura e pintura de Steinhof, década de 1920. EUA, em particular os oriundos da Bauhaus, como Walter Gropius e Mies van der Rohe. Realizou conferências em São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Córdoba e Montevidéu (1929) no mesmo ano da vinda de Le Corbusier à 11 América Latina, tendo sido professor Ad honorem na UDELAR de Montevidéu . No Rio de Janeiro, recebeu o titulo de sócio honorário do Instituto Central de Arquitetos, de Adolfo Morales de los Rios, que o indicou para organizar o Curso de Arquitetura da Escola da Engenharia da UFRGS. Veio a Porto Alegre, onde lecionou Arquitetura na Escola de Engenharia da UFRGS, entre 1946 e 1951, especialmente contratado para estruturar o Curso de Arquitetura. Voltou aos Estados Unidos diante do recrudescimento da Guerra Fria, falecendo em 1952. Segundo AZEVEDO e MOURA, que foi aluno de Steinhof de 1948 a 1950, o ensino apregoado por Steinhof privilegiava a educação pessoal e o desenvolvimento, nos estudantes, de cinco habilidades básicas: concentração, observação, associação de ideias, intuição e criatividade. Afirmava, citando Einstein, que "o conhecimento é importante porém limitado. A criatividade é Fonte: Foto nestor Nadruz, Acervo Araújo Fig. 11 - Araújo e colegas da Faculdade, arquitetura e engenharia. Da esquerda para a direita Luiz Carlos Cunha, Araújo, Nestor A. Mantese, Flávio Pasquali, Zeno N. Giacometti, Maurício Nogueira Lima, Radomsky Schwantz e Nélson Souza. Inicio dos anos 1950. infinita" . Explicava que a arquitetura era constituída de aspectos variáveis e fixos. Os variáveis se aprendem no dia a dia, os fixos se têm de estudar. Para ele, havia quarenta e cinco tipos de edifícios. Para cada tipo, havia um lugar central, razão de ser do edifício: em um hospital, o centro cirúrgico; em um restaurante, a cozinha, etc. Em relação a esse lugar central, há os lugares secundários que alimentam o principal. Desta relação, surgem as circulações, 13 que são a chave da solução funcional do projeto . Araújo tem na lembrança o personagem Steinhof, semelhante fisicamente ao ator e dramaturgo Procópio Ferreira, circulando pela escola e acompanhando todos os níveis do curso. O desenho, por exemplo, segundo sua orientação, era ensinado através de exercícios abstratos com linhas. Lembra que, no primeiro ano, fazia exaustivos exercícios de composição com linhas de papel branco, de várias espessuras, cortadas à guilhotina, coladas 12 AZEVEDO e MOURA, Roberto. Entrevista. Depoimento ao autor, gravação digital, Porto Alegre, nov. 2010. 13 Ver: VARGAS, Milton; BRITO, Eugênio; SOUZA, José Leite de; STEINHOF, Eugênio; BERNARDI, Duílio. Manual do Engenheiro – 4° Volume. Porto Alegre: Globo, 1955. 12 Realizou sete conferências em Montevidéu, cinco em Buenos Aires, duas em Córdoba, uma em São Paulo, onde concedeu entrevista fazendo críticas à ideia da "máquina de morar" e às propostas urbanísticas de Le Corbusier para a América Latina, e outra no Rio de Janeiro, na Escola Nacional do Belas Artes, com a presença do Embaixador da Áustria, do Reitor da Universidade e de Adolfo Morales de los Rios, presidente do Instituto Central de Arquitetos. STEINHOF, Eugene. Entrevista. Paulo, Estado de São Paulo 22 set. 1929. p. 47. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 11 Sergio M. Marques 137 Fig. 12 - Hotel Termas Xangrilá, Roberto F. Veronese, 1955, Xangrilá-RS. sobre papel preto. Dentro do ateliê, também havia um torno em que modelavam volumes cilíndricos de gesso para compor formas, semelhantes aos exercícios 14 de arte abstrata de Paul Klee e os artistas da Bauhaus . A unificação dos dois cursos gerou muitos desencontros e conflitos entre alunos e professores, mas por uma questão de afinidades, apesar de transitar em todos os grupos, Araújo passou a frequentar o grupo oriundo do IBA, constituído por Fayet, que estava no quarto ano, Moojen no terceiro, além de Mancuso, Radomsky, José Vallandro, Adrovando Guerra, Rubem Pilla, Moacyr Zanin, Ari Mazzini Canarim, Ivo Schuartz (que se salvou do acidente de 15 avião no qual morreu Moacyr Zanin), Nadruz e outros . Naquela época, segundo seu discernimento, a arquitetura contemporânea referencial, pelo lado da engenharia, era a praticada pelos arquitetos da Bauhaus que migraram para os E.U.A., citando Marcel Breuer, Walter Gropius e Mies van der Rohe, com as novas tecnologias, e Le Corbusier, Lúcio Costa e o realismo socialista, pelo lado do pessoal oriundo do IBA, como a principal referência formal, havendo conotações políticas de direita e esquerda Araújo lembra que, dado o grau de abstração dos exercícios, sentindo necessidade de fazer algo concreto, começou a produzir, por conta, maquetes de edifícios. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 27 abr. 2008. 15 Sua turma da Engenharia era composta por: Lincon Ganzo de Castro; Flávio Soares; Ivânio Fontoura – que mais tarde coordenou a equipe de projetos para o Centro Administrativo do Estado; Julio Rubro – ligado ao poder público e à carreira política (foi diretor do DMLU); os irmãos Schan – ligados à engenharia, que seguiram carreira pública; Pasquali – que voltou a Bento Gonçalves; e alguns, que na lembrança de Araújo não fizeram carreira de arquitetos, diferentemente da maioria dos estudantes do IBA. Dos veteranos da engenharia, lembra também de Edirceu Fontoura – que projetou o Tribunal Eleitoral Regional do Rio Grande do Sul – TRE, na Rua Duque de Caxias; Meira – que se vinculou ao BNH e foi morar no Rio de Janeiro; e Perrone – que fazia uma curiosa arquitetura historicista (Fig.11 e 15). ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Escritório CLAraújo Arquitetos Associados, 01 jul. 2009. 14 Fonte: Fonte:. Fotos Sergio Marques, 2007 Fig. 13 - Aeroporto Salgado Filho, Nelson Souza, 1950, Porto Alegre-RS. entre esses referenciais. Edgar Graeff era uma liderança do Curso de Arquitetura que procurava investigar determinado sistema formal cuja identidade estivesse em conexão com o contexto cultural regional e fizesse frente, a seu ver, ao internacionalismo abstrato representado pela arquitetura moderna norteamericana. Graeff intentava descobrir raízes para a arquitetura no Rio Grande do Sul, o que, no entender de Araújo, não era uma investigação prolífera, já que os antecedentes ou eram os portugueses e uma arquitetura extremamente frugal, como a do rancho em que viveu na infância, ou os índios. Entendia que essa vertente de pensamento advinha de Lúcio Costa e de certa interpretação arquitetônica da tradição no Rio de Janeiro, cujos modelos arquitetônicos e elementos como o combogó, a treliça de madeira e os espaços abertos não tinham afinidades climáticas nem formais com o sul. Desdenhava portanto, de certa forma, essa tentativa de conexão vernacular, e hoje interpreta que havia certa oposição desse pensamento com a vertente 16 mais abstrata da Bauhaus representada pelo ensino da engenharia . Segundo Araújo, o realismo socialista, de certa forma, foi um freio na vertente artística de sua geração, pois um discurso regionalista e a resistência à “cultura estrangeira”, assim como a investigação de raízes vernaculares na arquitetura brasileira, teorizada por Lúcio Costa e representada regionalmente por Graeff, 16 Idem. 138 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fig. 14 - Hotel Atlântida-RS, Mauro Guedes de Oliveira, 1951, Atlântida-RS. no caso do Rio Grande do Sul, focava um passado excessivamente frugal e árido em termos de arquitetura colonial. Pelo lado de Demétrio Ribeiro, entende que, além de sua formação no Uruguai e a influência de um modernismo conservador contaminado pela ideologia, havia uma característica particular de rigidez formal, ao contrário de outros simpatizantes de esquerda, como Vilanova 17 Artigas, de produção formal representativa e elaborada . Cita deste meio, como bom exemplo de arquitetura moderna gaúcha, assim como Moojen, a obra de Roberto Veronese, professor de urbanismo, pouco examinada, como o Hotel Termas em Xangrilá-RS (1955) (Figs.12) ou o Tourist Hotel em Laguna-SC, construído mais tarde (1969-1972) e de Nelson Souza, professor de Teoria da Arquitetura junto com Graeff, o projeto do aeroporto Salgado Filho (Fig.13). Assim como valoriza a experiência com o concurso para o Hotel de Atlântida (Fig.14). Por outro lado, em relação à prestigiada arquitetura uruguaia, a obra representativa de Maurício Cravotto e Júlio Villamajó não era para ele referência arquitetônica decisiva, mas sim referência ideológica e afinidades pessoais importantes, que, no entanto, não influenciava, substancialmente a produção formal da sua geração. A partir de lideranças como Demétrio, um certo desejo de se diferenciar da arquitetura moderna realizada no Rio e São Paulo, de certa forma, reforçava os laços com Montevidéu, que por sua vez exercia sobre Porto Alegre influência cosmopolita, porém já com certo estigma de anacronismo. Dentre esse panorama, para Araújo, portanto, as referências estavam diretamente situadas na arquitetura europeia e norte-americana, para ele, em especial, em Richard Neutra, Mies 18 Van der Rohe e seus adeptos, como o grupo norte-americano S.O.M . Em sua percepção, para Wright e Oscar Niemeyer já se olhava com alguma desconfiança, pela formalidade orgânica que se opunha ao fascínio “pelo aço e vidro de Mies”. Por outro lado, em sua sensibilidade, os colegas da engenharia eram excessivamente racionalistas, preocupados somente com as questões de construção, apelidados de “6H”, análogo à dureza do grafite, pelos colegas do Belas Artes e, naquele meio, as qualidades formais e visuais da arquitetura eram áridas. Identificou-se, portanto, com os colegas do IBA, próximos ao meio artístico, especialmente Mancuso, exímio desenhista e aquarelista, com o qual Araújo, ainda estudante dos últimos anos, iniciou sociedade. Na Faculdade de Arquitetura unificada, passou então a ter contato frequente com os professores Corona, Demétrio Ribeiro e Edvaldo Paiva. Chegou a desenhar um clube em Alegrete para Demétrio e trabalhou como desenhista para Graeff em sua casa moderna construída atrás do Colégio Americano, que "lembrava muito as coisas do Lúcio Costa". Através dos professores e alunos do IBA, e em parte também do “espírito regionalista”, se relacionou da mesma forma com estudantes uruguaios, como Conrado Petit e Carlos Reverdito, vinculados à UDELAR. Araújo avalia que, com o passar do tempo, as divergências entre os dois cursos foram se aplainando. Steinnhof, de alguma maneira, já se havia aproximado dos arquitetos do IBA e do IAB, durante a criação do Departamento, em 1948, antes de voltar definitivamente para os E.U.A., em 1950. Alguns, no entanto, permaneceram contrários à unificação dos dois cursos e se posicionavam com radicalismo, como Jayme Ayrton Brandão Lompa (1923-1983), que posteriormente fez o Tribunal de Contas do Estado (1956) e a Capela da Comunidade Nossa Senhora de Mont´Serrat (1965). Lompa, mais veterano que Araújo, naquela época associado com engenheiro formado, funcionava como projetista e, durante o curso, já tinha construído Fonte:. Acervo Cláudia Casacia 17 ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Uruguai, 24 mai. 2008. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 18 ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Escritório CLAraújo Arquitetos Associados, 01 jul. 2009. Sergio M. Marques 139 alguns projetos que os estudantes mais novos iam visitar. No entanto, se 19 atrasou no curso e acabou, posteriormente, aluno de Araújo e Moojen . Cláudio Araújo, assim como Moojen e Fayet, durante a faculdade, 20 acompanhava a revista suíça Bauen + Wohnen Internationale Zeitschriften , interessado nas obras dos arquitetos da Bauhaus, Mies e outros, obtidas na livraria Cosmos, na Rua da Praia, através de um livreiro que importava algumas poucas e caras publicações. Os livros, em sua opinião, custavam muito e traziam informações excessivamente específicas; já as revistas se atualizavam constantemente. Entende que o conhecimento absorvido pelos periódicos foram muito úteis, face ao dilema que os estudantes viviam entre uma vertente que buscava a identidade regionalista e outra buscando avanço tecnológico. Lembra que, apesar disso, em exercício de projeto na faculdade, incursionou em uma experiência com elementos vinculados a certa interpretação de valores regionais, conceitualmente voltado às questões sociais, intentando afinar-se com o pensamento dos professores que admirava, em particular Demétrio Ribeiro. Em seu juízo, naquela circunstância, a visão renovadora, sob o ponto de vista tecnológico da arquitetura moderna internacional, no contexto regional significava um caminho antagônico à ideologia progressista dominante na cultura arquitetônica local, atenta às realizações sociais produzidas na 21 U.R.S.S. . Reflete hoje que Graeff e Demétrio tiveram uma importância basilar sob o ponto de vista conceitual e teórico, na arquitetura no Rio Grande do Sul e em sua formação, mas ambos não eram arquitetos referenciais da prática de projeto, nem produziram uma obra arquitetônica com este estatuto. Igualmente seus colegas da engenharia, como seu amigo Plínio Almeida, engenheiro arquiteto, que fez o estádio do Grêmio Futebol Clube, com Edson Ribeiro, irmão de Enilda (migrou posteriormente para os E.U.A.), em sua visão, também produzia uma arquitetura, em seu ponto de vista, relativamente rígida Durante a revolução, Lompa esteve mais uma vez entre os movimentos acadêmicos, apoiando a direita, e foi estigmatizado pelos colegas, com reputação de alcaguete. "Construir + Habitar Temas Internacionais", fundada em 1914 pela Associação de Engenheiros e Arquitetos Suíços (Schweizerische ingenieur-und Architektenverein - SIA), e o Werkbund suíço, editada em alemão. Após a fusão com outras publicações, é ainda editada com a denominação Werk, Bauen + Wohnen (Trabalhar, Construir + Habitar), pela Offizielles Organ des BSA/FSA Bund Schweizer Architekten (Federação dos Arquitetos Suíços). 21 Araújo narra, a título de exemplo, casos relatados por Graeff, como as obras comandadas por Stalin para o metrô de Moscou ( ), fazendo referência à política stalinista de exaltação aos espaços do povo, através de arquitetura ornamental, com pés direitos altos, paredes de mármore, obras de arte e enormes lustres de cristal maneiristas, dento do espírito “futuro radiante” (svetloe budushchee), ou um projeto de Graeff em que, para equilibrar a necessidade formal de determinado pilar no espaço, criou outro falso, defendendo a ideia de composição, conceitos que geravam em Araújo questionamentos e dúvidas. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 27 abr. 2008. 20 19 Fonte: Acervo Araújo Fig. 15 - Convite de Formatura de Cláudio Araújo, Faculdade de Arquitetura da UFRGS, Paraninfo Eng. Urano Eichenberg, desenhos de Ivanio Fontoura, 1955. Porto Alegre-RS. (extremamente “competente do ponto de vista da honestidade nas questões de materialidade sem abrir mão de fazer as coisas corretas e coerentes com a 22 tecnologia” , não tirava partido formal proporcional de seus projetos). Entende que a sua geração – constituída por Fayet, Moojen, Breitman, Coroninha e outros das primeiras turmas do IBA e da Faculdade de Arquitetura unificada – trouxe produção arquitetônica mais densa e consistente. "Esta geração formou 23 mais arquitetos do que engenheiros ou teóricos" . Conclui que pessoalmente, pelo lado do Belas Artes, o ensino preparou melhor sua formação nos aspectos relacionados à teoria, reflexão conceitual e consciência política e, pelo lado da engenharia, nas questões técnicas, mas o projeto de arquitetura e o fazer veio da vivência e convivência com veteranos que exerciam o ofício – como Carlos Alberto de Holanda Mendonça (19201956), que teve formação no Rio de Janeiro – e da troca com os colegas, perambulando pelos escritórios. Recorda que, desde estudantes, todos circulavam, participando de trabalhos, nos escritórios de Veronese, Vera Fabrício e Emil Bered, que tinha escritório importante na Rua da Praia, onde trabalhavam seus amigos Moojen e Mancuso. 22 23 Idem. Idem. 140 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 A Europa, as Indústrias e o Design (1954) Fonte: Fig. 16 - Fábricas da Olivetti, a esquerda, primeira (1934-36) e segunda extensão (1937-39). A direita, terceira extensão (1939-40), Luigi Figini e Gino Pollini, Ivrea. Fonte: Fig. 17 - Fábrica Fiat, Matte Trucco, Lingotto, Turim, 1916-23. Araújo realizou a tradicional viagem à Europa, praxe acadêmica na época, com os colegas da Engenharia, seu curso original, já que o grupo de viagem se formava desde o início para angariar fundos. Na Engenharia, diferente da Arquitetura, a viagem era realizada no penúltimo ano, saindo em dezembro e retornando no final de março, sendo que nesta oportunidade (1954), apenas Araújo e Pasquali eram do Curso de Arquitetura, o restante dos estudantes eram de várias áreas da engenharia. Mesmo assim, o roteiro incluía projetos de interesse comum, como obras de Nervi, Gio Ponti e Le Corbusier, além das fábricas da Mercedes Benz e indústria pesada na Alemanha, Olivetti (Fig.16) e Fiat (Fig.17), na Itália e outras empresas que envolviam design e patrocinavam as visitas. Da viagem, rememora ter ficado bastante impressionado com a 24 arquitetura moderna promovida pela Olivetti, na cidade italiana Ivrea , e com os Pequena cidade situada no Piemonte italiano, no distrito de Canavese. As construções ligadas à prestigiada fábrica Olivetti incorporaram-se ao nome da cidade, graças a projetos de vanguarda realizados por arquitetos ligados ao M.I.A.R (Movimento Italiano per l’Architectura Razionale, fundado em 1930), como Luigi Fingi (1903-1984) e Gino Pollini (1903-1991), e o escritório BBPR, que produziram inúmeros projetos residenciais e industriais para a Olivetti entre 1934 e 1942. Ambos ainda colaboraram com Xanti Schawinsky (1904-79), ex-aluno da BAUHAUS, no projeto da clássica máquina de escrever Estúdio 42 da Olivetti. Ver: DOORDAN, Dennis. Building modern Italy: italian architecture, 1914-1936. Princeton: Architectural Press, 1988. Italy Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 24 arquitetos modernos italianos, particularmente Gio Ponti, que “fazia o projeto e 25 depois introduzia pequenas deformações” , e Marco Zanuzo, que 26 posteriormente veio ao Brasil e fez a fábrica da Olivetti em São Paulo (1956) , em um sistema modular que cita ter influenciado, mais tarde, seu projeto para a 27 fábrica Memphis . A fábrica, segundo Araújo, foi sua primeira e principal Cita ter usado esses princípios, mais recentemente, nos corredores laterais do Auditório do UniRitter. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 27 abr. 2008. 26 Marco Zanuzo (1916), designer, autor da poltrona maggiolina e, conjuntamente com Richard Sapper, do rádio TS 502 (1966) – citado como um dos cem objetos de design representativos do século XX – projetou a fábrica de máquinas de escrever da Olivetti, sobre a via Dutra, em GuarulhosSP, posteriormente transformada em Shopping Center e completamente descaracterizada. Ver: BYARS, Mel. 100 Diseños – 100 años. Madri: Mcgraw-Hill Interamericana, 2001. . 27 Essas experiências com a engenharia, as indústrias e as visitas à Olivetti contribuíram, também, para a dedicação de Cláudio Araújo ao design relacionado com arquitetura e à disciplina de Composição Decorativa, que ministrou durante bastante tempo na universidade. Neste período, junto com Petzold e Bornanci, iniciou o projeto de criar, no Curso de Arquitetura, a área do design, a exemplo da FAUSP. Neste campo, a Olivetti sempre foi uma referência forte, sendo a patrocinadora da vinda de Umberto Eco ao Brasil e a Porto Alegre na época em que Cláudio era presidente do IAB-RS (ver capítulo: Um passeio político com tonalidades estéticas – Breve passagem pelo IAB/RS (1966-1967). ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 27 abr. 2008. Sergio M. Marques 141 25 Fonte: XAVIER, Alberto. LEMOS, Carlos. CORONA, Eduardo. Arquitetura moderna Paulistana São Paulo: Pini, 1983. p. 44 O princípio do princípio: Edifícios Pioneiro e Feliciano Xavier (1955-1965) Fig. 18 - Fábrica Olivetti, Marco Zanuzo, 1956, São Paulo. A sociedade de Claúdio Araújo com Carlos Antônio Mancuso (19302009) dedicou-se inicialmente a produzir desenhos de apresentação para construtoras, imobiliárias e alguns projetos de habitação coletiva, decorrentes dos contatos provenientes das relações com o mercado imobiliário obtidas 30 através das perspectivas (Fig.19). Em Pelotas, cidade natal de Araújo, por 31 intermédio da construtora CISA S.A. Engenharia e Comércio , e em Porto Alegre, a partir do corretor imobiliário e corredor de automóveis Antônio 32 Pegoraro , iniciaram portanto os primeiros trabalhos profissionais, além de um rol de amizades em círculo social de profissionais liberais e empresários, muitos da comunidade judaica, para quem Araújo se dedicou a fazer também arquitetura de interiores de apartamentos, lojas, escritórios e projetos de residências unifamiliares. Os primeiros projetos para edifícios de apartamentos, como o Edifício Pioneiro (Porto Alegre-RS, 1955-1960) (Fig.21) e o Edifício Feliciano Xavier (Pelotas, RS, 1960-1965) (Fig.20), adotavam a arquitetura moderna de maneira Pintor, desenhista, gravador e arquiteto. Foi Professor de Estética e História da Arte, na UFRGS. Obteve diversas premiações em salões e exposições de arte. Publicou o livro “Aspectos do Barroco”, em 1972. Entre 1975 e 1984, trabalhou na restauração do Solar Lopo Gonçalves e do , Teatro São Pedro, em Porto Alegre. 30 A sociedade entre ambos iniciou por volta de 1953 – no período em que Araújo morava com a mãe em um apartamento de três dormitórios na Rua Felipe Néri, em Porto Alegre, utilizando um dos dormitórios como escritório – e perdurou até aproximadamente 1962, quando Araújo iniciou os projetos para a Petrobras, no escritório do Edifício Comendador Azevedo, próximo à Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Mancuso, desde estudante de arquitetura, era exímio aquarelista e pintor com guache. Fazia perspectivas à têmpera para vendas de imóveis, plantas baixas perspectivadas e mobiliadas, que Araújo particularmente apreciava pela demonstração minuciosa dos espaços e equipamentos. Inicialmente, Araújo armava as perspectivas para Mancuso pintar. Depois, gradativamente, foi aprendendo a pintar partes repetitivas entre várias perspectivas, como o céu, vegetação, etc. Igualmente realizaram perspectivas para diversos arquitetos, como Emil Bered e Holanda Mendonça, sendo que este último, após vários trabalhos em que a dupla, ao fazer as perspectivas, acabou colaborando, convidou-os para integrar sociedade, convite recusado por ambos. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 08 jun. 2010. 31 Sociedade dos Engenheiros Cláudio Pereira Lima e Ruy Gomes da Silva. No projeto para o Edifício Feliciano Xavier, realizado para a construtora, o contratante era a Empresa Xavier e Irmãos. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 27 abr. 2008. 32 Tradicional praticante e incentivador do automobilismo no sul do Brasil. Junto com Raffaele Rosito, foi um dos idealizadores e responsáveis pelo Autódromo de Tarumã, inaugurado em 1970 em Viamão-RS. 29 29 referência em termos da utilização da coordenação modular e princípios de projeto com elementos repetitivos, que de certa forma foram adotados 28 posteriormente na REFAP . Sua vocação juvenil para a construção, o início da formação ligado à engenharia e o contato com a cultura do desenho industrial na Europa alimentaram grande interesse no desenho do objeto, nos produtos industrializados e no que Araújo denomina de design aplicado à arquitetura. A formação de uma sólida competência na resolução de problemas arquitetônicos complexos, sempre municiada de sistemas construtivos minuciosamente pesquisados e estudados, com controle formal rigoroso e sofisticado, deve em muito aos primeiros projetos, normalmente de pequena escala, à arquitetura de interiores e ao desenho do objeto, foco inicial da carreira profissional e espírito constante na produção madura. O projeto de Zanuzo foi desenvolvido sobre uma malha triangular, na qual os elementos de cobertura foram construídos em tijolo armado, com variações de altura que permitiam iluminação e ventilação natural, como a MEMPHIS, posteriormente. Ver: XAVIER, Alberto; LEMOS, Carlos; CORONA, Eduardo. Arquitetura moderna paulistana São Paulo: PINI, 1983. p. 44. paulistana na. 28 142 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Acervo João Alberto / FAU UniRitter Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca / FAU UniRitter Fig. 19 - Edifício Consórcio, Carlos Alberto de Holanda Mendonça e Jaime Luna dos Santos, perspectiva de Carlos Mancuso e Cláudio Araújo. Entre a Av. Mauá e Júlio de Castilhos, Porto Alegre, 1956. Fig. 20 - Edificio Feliciano Xavier, Projeto e perspectiva, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, PelotasRS, 1956. simplificada, contaminada em parte, por um lado, com as filiações estilísticas das modernidades ditas de transição ou protomodernas, tais como o art-decó – 33 de grande repercussão em Porto Alegre – ou o racionalismo simplificado A arquitetura expressionista e algumas vertentes do Movimento Moderno desenvolvidas sobre bases distintas do sistema arquitetônico corbusieriano e do estilo internacional, tal como denominado por Philip Jonhson no antológico texto de apresentação da exposição do MoMA, tiveram significativa disseminação na América do Sul. Como dizia BROWNE, “se Le Corbusier foi o pai da arquitetura moderna, Mendelson foi o tio predileto”. Boa parte das primeiras manifestações do movimento moderno no sul refletem atributos dessa arquitetura, denominada de muitas maneiras genéricas, como Art-decó, protomodernismo, arquitetura de renovação, arquitetura judia, etc. Em Porto Alegre, algumas obras pioneiras da arquitetura moderna situam-se neste território, entre a arquitetura moderna canônica, firmada no cenário brasileiro pelo contexto cultural do Rio de Janeiro dos anos 1930-1950, e esta arquitetura moderna estilística, influenciada tanto pelo expressionismo alemão aportado pela migração tardia monumentalizada por ocasião da Exposição do Centenário da Exposição Farroupilha em 1935, quanto pela arquitetura do leste europeu, adotada como Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 33 utilizado comumente pelas empresas de engenharia e construtoras, em projetos muitas vezes desenvolvidos por projetistas ou engenheiros. Essa arquitetura muraria, cúbica, de atributos relacionados a sistemas de organização espacial moderna esquemáticos, já indicava a produção de obras – convencionais e ordinárias, típicas de início de carreira – dedicadas à formulação de uma estratégia de abordagem de temas recorrentes, obediente às diretrizes urbanísticas e atenta aos padrões de mercado e construção, com certa investigação em termos de simplicidade, refinamento dos elementos empregados e engenhosidade da solução geral, embora ainda formalmente incipientes e híbridos. O Pioneiro, edifício de apartamentos cuja morfologia atende e exemplifica a volumetria edilícia concebida para o aterro da Praia de Belas, no referência cultural pelo chamado Realismo Socialista. Obra prototípica desse universo híbrido é o Colégio Júlio de Castilhos, de Demétrio Ribeiro e Enilda Ribeiro. Ver: BROWNE, Enrique. Otra arquitectura em América Latina . México: Gustavo Gili, 1988. Sergio M. Marques 143 Fonte: Foto Sergio Marques, 2008 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca/ FAU UniRitter Fig. 22 - Edifício Pioneiro (à direita) em frente ao antigo Mercado da Praia de Belas, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, Praia de Belas, Porto Alegre-RS, 1956. Fig. 21 - Edifício Pioneiro, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1955, Praia de Belas, Porto Alegre-RS. projeto para um bairro de 200 mil habitantes de Paiva e Fayet, no Plano de 1959, retratado em capítulo a seguir, obedece à mesma normativa que o Edifício FAM, localizado proximamente, cujo regime determinava altura máxima de onze metros, térreo mais três pavimentos, recuos de frente de seis metros, lateral de dois metros e meio e fundos de cinco, de maneira a manter o gabarito de alturas e alinhamentos padronizados. O projeto, realizado dez anos antes que o FAM, em frente ao antigo Mercado da Praia de Belas (Fig.22), igualmente se situa dentro deste racionalismo empastelado pela ideia de elementos ornamentais modernos, como roupagem da volumetria máxima obtida pelo 34 empreendedor . Neste caso, cimalhas regulares exteriorizando a posição das lajes e paredes internas, bem como a platibanda e a viga sobre o pavimento térreo e panos de elementos vazados sobre a circulação vertical de uso comum Normalmente viabilizando edifícios de térreo mais três pavimentos. No entanto, como o Código de Obras nos anos 1950 prescrevia pés-direitos mínimos de dois metros e oitenta centímetros, os construtores enterravam os edifícios cinquenta centímetros em relação ao nível do passeio, para viabilizar os três pavimentos de apartamentos, além do térreo, normalmente com garagens que podiam ser individualizadas e fechadas ao exterior e que, pela relação com o nível da rua, seguidamente alagavam. 34 garantem certa elaboração visual (Fig.23). As aberturas, no entanto, de formato quadrangular e desenho convencional, com venezianas em sanfona, padronizadas comercialmente, seguem, como no Edifício Feliciano Xavier, subvertendo a lógica formal de expressão moderna do edifício. Vãos abertos nos muros incorporam a verga, situada entre a abertura e a cimalha da laje, otimizada pelo pé-direito de 2,80m, bem como o peitoril, na superfície da parede que contém a abertura, atitude conservadora em termos compositivos (Fig.23). Com apartamentos de dois e três dormitórios destinados à classe média, normalmente ocupados por funcionários públicos e trabalhadores do centro da cidade, o edifício Pioneiro mimetiza-se com as construções anônimas realizadas por empreendedores de pouca expressão das redondezas, diferentemente do edifício FAM, cuja lógica formal e arquitetônica demonstram a necessidade de qualidade dos projetos arquitetônicos que integram sua realidade para que normativas urbanísticas tenham sucesso pleno. O mesmo se pode dizer do edifício Feliciano Xavier, um edifício pesado, com volumetria típica de edifícios mistos – base comercial, com térreo e sobreloja, comunicando-se diretamente ao passeio, ocupando boa parte do lote, e torre composta de oito pavimentos residenciais, neste caso um volume corpulento, de planta em “L” e larguras avantajadas – integra o âmbito das soluções arquitetônicas recorrentes no mercado imobiliário, de apartamentos 144 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Fotos Sergio Marques, 2008 Fig. 23 - Edifício Pioneiro, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1955, Praia de Belas, Porto Alegre-RS. O encargo do edifício Feliciano Xavier originou-se da solicitação de adaptação a projeto realizado pela própria construtora para destinação da base comercial do edifício para supermercado (Fig.46), o primeiro de Pelotas-RS. A adaptação, no entanto, ocasionou revisão do cálculo estrutural do corpo superior, revelando problemas na estrutura do conjunto. Dada a circunstância, portanto, o projeto arquitetônico geral foi integralmente refeito por Araújo e Mancuso, assim como o estrutural pelo Engenheiro Dicran Gureghian, incorporando e ajustando a estrutura já executada. Araújo avalia que a arquitetura do Edifício Pioneiro e do Feliciano Xavier de Pelotas, de certa forma, era uma arquitetura moderna incipiente, muito conectada ao mercado imobiliário da época. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Edifício FAM, 12 set. 2011. 36 Ver: GARCÍA. Eunice García. Las aportaciones proyectuales de los conjuntos Habitacionais Modernos en las Ciudades de América Latina . Disponível em: . Acesso em 27 mai. 2012 às 16:00h. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 35 Fonte: LLOBERA, Teresa Rovira (org.). Documentos de Arquitectura Moderna en América Latina 1950-1965, V.IV. Barcelona: UPC, 2010, p.51. relativamente padronizados, resolvidos com certa engenhosidade e solução formal epidérmica, neste caso de visualidade racionalista ainda um tanto singela 35 (Fig.24) . Panos cegos contínuos, que emolduram o volume superior do conjunto, e também panos porosos de combogós, aqui sobre as dependências de serviço, distinguem-se como princípio visual, dando certa ordem abstrata ao conjunto. De resto, a profusão de elementos distintos da fenestração, caracterizada por simples vãos sobre a superfície das paredes, e ausência da estrutura como elemento expressivo perfazem ainda determinada opacidade sobre os claros princípios modernos adotados em obras posteriores, típicos de um moderno ainda simplificado, como o conjunto Habitacional Monoblock (1958-1964), de Hilário Zalba, em La Plata na Argentina (Fig.25), ainda que este 36 expresse estrutura aparente e pilotis . Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010 Fig. 24 - Edifício Feliciano Xavier, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, Pelotas-RS, 1956. Fig. 25 - Conjunto Habitacional Monoblok, Hilário Zalba, 1958-64, La Plata - Argentina. Sergio M. Marques 145 Casas Telmo Ferreira, Lauro Borges, Antônio Pegoraro e Paulo Torelly Cada casa é um caso? (1955-1961) Fonte: LLOBERA, Teresa Rovira (org.). Documentos de Arquitectura Moderna en América Latina 1950-1965, III. Barcelona: UPC, 2006, p.153. Fig. 26 - Casa Telmo Ferreira, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1955, Porto Alegre. No mesmo ano do edifício Pioneiro, Araújo e Mancuso projetaram a 37 Casa Telmo Ferreira (1955) (Fig.26) e, na sequência, as Casas Lauro Borges em Passo Fundo-RS (1957) (Fig.27), Antônio Pegoraro em Atlântida-RS (1960) (Fig.28) e a Paulo Torelly em Torres-RS (1961) (Fig.32). A primeira evidencia o mesmo gênero de arquitetura utilizada por Moojen nas Casas Dr. Derly Monteiro e Álvaro Torres (Fig.71,cap.M), ou seja, avança formalmente em direção a uma maior abstração em relação aos projetos anteriores, com a eliminação do telhado, a valorização dos planos horizontais e o jogo entre alguns panos de vidro e revestimentos, mas mantém ainda um esquema híbrido em termos de desmaterialização do volume, com o desenho de algumas aberturas, como ocos diretos na superfície de alvenaria, sem nenhum plano de contenção, e a base rusticada, de acomodação da construção no desnível do terreno, de certa maneira ligada à tradição das casas de alvenaria burguesas das décadas de 1940 (Fig. 26). 37 Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 27 - Casa Lauro Borges, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1957, Passo Fundo-RS. Fig. 28 - Casa Pegoraro, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Atlântida-RS. Construída na rua Dr. Lauro de Oliveira, próxima ao Colégio Americano, em Porto Alegre, demolida posteriormente. Não foram localizados, até o momento, desenhos de projeto da residência. O projeto de Araújo e Mancuso, em relação ao de Moojen, no entanto, já estabelece maior caracterização dos planos que configuram o volume 146 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: LLOBERA, Teresa Rovira (org.). Documentos de Arquitectura Moderna en América Latina 1950-1965, III. Barcelona: UPC, 2006, p.153. Fig. 29 - Casa Rojas, Francisco Artigas e Fernando Luna, 1962-63, Cidade do México. Fonte: Acervo FAM Fig. 30 - Casa Telmo Ferreira, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1955, Porto Alegre. principal, cuja percepção é dominada pela horizontalidade acentuada das superfícies de entrepiso e cobertura. O corpo principal da casa, uma caixa retangular, apoia-se em parte diretamente no terreno, que cai paralelo à testada principal e em direção à rua, possibilitando um pavimento inferior acomodado no desnível do terreno, onde a outra parte da casa também se apoia, solução utilizada com certa frequência, como na Casa Rojas (1962-63), de Francisco Artigas e Fernando Luna na Cidade do México (Fig.29). A separação entre a parte superior e a base é definida pelo plano do entrepiso, que arranca do terreno natural com uma pequena escada, mais ou menos no centro geométrico da fachada principal, e prolonga-se até a divisa, criando a varanda de chegada e terraço, sobre a garagem, onde se dobra verticalmente como uma placa. O volume superior, com o corpo e atividades principais, é coberto por lâmina horizontal, que abriga um telhado escondido, balanceado nas quatro faces e apoiado em vigas transversais, que dividem o volume paralelepipédico da parte superior em quatro septos. As vigas balanceadas, juntamente com o beiral e platibanda da cobertura, participam da forma geral de maneira importante, estabelecendo, principalmente na extremidade da ala de estar e garagens, uma espécie de pauta modular que ordena os limites de panos opacos e transparentes (Fig.30), como na Casa Cervantes (1960), de Antonio Attolini Lack (1931), em Col. Pedregal de San Angel, no México. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Esse sistema de estrutura, como regra modular e visual dentro da qual se articulam planos, de certa maneira é o mesmo utilizado no Edifício FAM: uma sequência modular de vigas e pilares de mesma seção, apoiando lajes que, na face principal da edificação, em balanço, eliminam a viga longitudinal, deixando a laje apoiada em três lados e livre na fachada. Esse recurso visual, associado ao gabarito de esquadrias e vergas, faz com que todas as aberturas que coinstituem planos tenham o dorso na face inferior da viga, deixando íntegra a visualização da planaridade da laje, no espaço transparente entre vigas, tal como no FAM. Amenizando, no entanto, o papel de vigas e pilares como planos virtuais que seccionam o volume transversalmente e gabaritam as alturas dos fechamentos longitudinalmente, a estrutura é pintada de branco, conjuntamente com as superfícies horizontais e alvenarias de fechamento, formando um todo volumétrico que cede a uma certa formalidade "cúbica". Isso se acentua na parte térrea da casa, na outra ponta, onde está a ala íntima, que com a mera desaparição dos planos leves de fechamento e a transparência no entrevigas, adquire uma fisionomia muraria bastante convencional. Mesmo assim, na extremidade oposta, com dois pavimentos, pela posição das garagens mais permeáveis abaixo e as aberturas da ala social, se evidencia a forma neoplástica com que a estrutura e a organização espacial se Sergio M. Marques 147 Fonte:: GAETA, Julio (Org.). Walter Pintos Risso monografias Elarqa 7. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 2001, p. 57. VEROLI, Debora Di. Vida, Obra y Reflexiones. Buenos Aires: 2006, p. 69. Fig. 31 - À esquerda, Vivienda Bangerter, Walter Pintos Risso, 1957, Montevidéu. À direita, Casa Furmann, Débora di Verolii, 1951, Acassusso - Argentina. relacionam, em um sistema onde pilares, vigas, lajes e painéis de fechamento lateral compõem um sistema formal de peças independentes, onde a autonomia formal e construtiva de cada uma é acentuada visualmente, antecipando, com bastante coincidência, critérios de projeto e princípios arquitetônicos, farta e habilmente utilizados na REFAP e FAM. As casas, portanto, evidenciam maior pertinência ao sistema moderno de ordem – consagrado nos anos 1950 e 1960 no âmbito da arquitetura recorrente internacional e apurado na obra madura de Araújo – do que os edifícios. O descolamento do corpo da casa do plano do solo na Torelly, a independização dos planos cegos de fechamento lateral dos que contêm as aberturas, assim como a caracterização dos peitoris e vergas denotam progressiva definição dos elementos que integram tanto a construção quanto a composição, ainda que o beiral e o telhado aparente, principalmente na casa Torelly, contextualizem esta ordem abstrata e plástica de decomposição do volume em planos a uma configuração tradicional. Entretanto, na casa Lauro Borges, onde platibanda e pérgula arrematam de maneira mais coerente o jogo de planos (Fig.27), como na Vivienda Bangerter (1957) de Walter Pintos Risso, no Uruguai (Fig.31), a abstração visual da cobertura é retomada. A Casa Lauro Borges, no entanto, mantém-se naquela organização formal moderna simplificada, característica das primeiras experimentações, como na Casa Furmann, primeiro projeto de Débora di Verolli (1951), em Acassuso, Província de Buenos Aires (Fig.31), enquanto que a casa Torelly, por outro lado, evidencia o ingresso do ordenamento espacial moderno na arquitetura de interiores, na qual o desenho de alguns móveis e cortinas dão sequência ao esquema de planos exteriores, assim como o uso de mobiliário tradicional à figuratividade (Fig.32). Na Casa Lauro Borges, a valorização dos planos de configuração espacial dos espaços domésticos ficou mais por conta do painel artístico, construído em vidrotil, Fonte: Acervo FAM Fig. 32 - Casa Paulo Torelly, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1961, Torres-RS. assinado por Danúbio Gonçalves (Fig.33), realizado para servir de limite visual ao ingresso, solução semelhante à que Araújo retomou para a entrada do edifício da superintendência da REFAP, em painel de cerâmica projetado por ele e Pierre Prouvost. Na Residência Pegoraro, em Atlântida (1960-1961) (Fig.28), em que Araújo se dedicou também à execução da obra, transparecem novamente com explicitude critérios de projeto de organização espacial e ordem visual cuja manifestação é concorrente na arquitetura desenvolvida posteriormente na REFAP e FAM, assim como na precedente Casa de Ipanema, projetada por Moojen em 1958, ou na Secretaria Municipal da Produção e do Abastecimento, por Fayet em 1960. Nestes casos, a organização espacial dos projetos é dada por coordenação modular e ordenamento estrutural cuja lógica é credora da racionalização da construção e uso de elementos industrializados, na qual a 148 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Acervo FAM Fig. 33 - Casa Lauro Borges, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1957, Passo Fundo-RS. Painel de Danúbio Gonçalves, visto através da esquadria. pertinência de cada elemento é determinada tanto por seu desempenho funcional, construtivo ou estrutural, quanto formal. No caso das construções de caráter singelo e econômico, o uso da madeira como peça chave do sistema remete à ordem geral do projeto o ritmo da repetição modular da estrutura, exteriorizada e distinta dos planos de fechamento, assim como a distinção tectônica e formal de cada peça do “lego”: fechamentos dos planos norte e sul da casa, com esquadrias de madeira e persiana de enrolar; peitoris e vergas de madeira (Fig.34). As paredes transversais, no sentido leste-oeste são de alvenarias de tijolos à vista, sendo que a oeste, com elementos cerâmicos vazados, permite ingresso de luz filtrada, ao entardecer, no recesso do volume da casa reservado à entrada e varanda (Fig.34). No sentido construtivo, as construções de madeira realizadas pelos três arquitetos (Secretaria Municipal da Produção e Abastecimento, Casa Pegoraro e Casa de Ipanema) apontavam em direção ao caminho da racionalidade, abstração e sistematicidade, explorados com profundidade nos projetos para a Petrobras, ainda que Araújo, antes do episódio REFAP e TEDUT, ingressasse no campo da pré-fabricação, de maneira inicial e singela, porém interessada, mais uma vez no litoral gaúcho. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Fotos Sergio Marques, 2008. Fig. 34 - Casa Pegoraro, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Atlântida-RS. Sergio M. Marques 149 Arquitetura Moderna na Praia Colônia de Férias em Tramandaí (1960) Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca/ FAU UniRitter Fonte: Acervo FAM Fig. 36 - Corte do pavilhão dos dormitórios, Colônia de Férias do AGRIMER, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Tramandaí-RS. Fig. 35 - Colônia de Férias do AGRIMER, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Tramandaí-RS. Através de Carlos Alberto Holanda de Mendonça, em 1955, Araújo e Mancuso colaboraram no projeto do térreo do edifício Santa Cruz (no qual também David Leo Bondard trabalhou), Sede do Banco Agrícola Mercantil – 38 Agrimer (1955-1961), projeto de Holanda de Mendonça e Jaime Luna dos 38 Instituição financeira criada no início do século XX, em Santa Cruz do Sul, através da Caixa de Crédito Rural, da Caixa Econômica de Empréstimos e da Cooperativa Santa-cruzense, como decorrência das ações do Padre Theodor Amstad, introdutor do cooperativismo no sul, com a Fundação da Cooperativa da Linha Imperial em Nova Petrópolis. Nos anos 1960, o Banco Agrícola Mercantil estava disseminado no território nacional. Logo fundiu-se com o Banco Moreira Salles, formando a União dos Bancos Brasileiros – Unibanco, incorporou o Banco Nacional, nos anos 1990, e, fazendo uma fusão com o Itaú nos anos 2000, criou a maior rede financeira da América do Sul. Graças a essa relação regional, muitos usuários da Colônia de Férias do Agrimer, assim como a maior parte das casas próximas, eram oriundos da região de colonização alemã do Estado. Ver: KLEIN, Renato. Disponível em: . Acesso em 19 out. 2011, às 16h 30min. Santos. Através deste contato inicial com a instituição, Araújo e Mancuso realizaram o projeto para a Colônia de Férias do Agrimer, no balneário de Tramandaí-RS, em área próxima à plataforma de pesca (1960) (Fig.35). O projeto, dividido em três usos interligados por passarela, adotou processos industrializados de determinados itens, condicionados aos princípios de ordem e coordenação modular correspondentes à pré-fabricação. O pavilhão das habitações, composto de quitinetes compactas, foi resolvido com um sistema de pórticos de concreto, pré-moldados no canteiro da obra, de maneira que, enfileirados, os pórticos criaram um pavilhão vertebrado, no qual as demais peças da subestrutura da cobertura, fechamento lateral e piso elevado do solo foram feitas de madeira (Fig.36). De baixo para cima, a construção do pavilhão habitacional utilizava consoles previstos na base dos pórticos de concreto, para apoio da estrutura de madeira do piso, elevada do solo para favorecer a manutenção, ventilação e consequente eliminação de contrapiso com material molhado. Na ausência do pórtico, ou nos intervalos da modulação deste (seis metros), bases de concreto, também pré-fabricadas, apoiavam a estrutura dos pisos a cada metro e meio, assim como no sentido transversal um apoio subdivide o vão do assoalho em dois, de aproximadamente cinco metros cada. O piso, deque de madeira na circulação aberta e coberta e assoalho nas partes internas, recebia sobre ele painéis de fechamento lateral feitos de material industrializado, estruturado por subestrutura tipo balloon-frame, modulada a 150 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Acervo FAM Fig. 37 - Passarela de ligação entre pavilhões e volume dos sanitários ao fundo. Colônia de Férias do AGRIMER, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Tramandaí-RS. Fonte: Acervo FAM cada metro. Com pé-direito alto, junto aos fechamentos externos, os painéis eram organizados com meio módulo de largura e altura da verga da porta ou do peitoril das aberturas, dependendo do caso. Sobre a linha das vergas, outro painel, com um módulo de largura e a altura da bandeira das janelas. Sobre esses painéis, ainda, uma faixa de venezianas reguláveis propiciava ventilação higiênica e exaustão do ar quente, favorecendo as condições de verão (Fig.36). A cobertura, como de costume, foi executada com telhas onduladas de cimento-amianto em meia-água. A passarela de conexão entre este pavilhão e os demais mantém a mesma solução de piso e cobertura, com estrutura de tubos de ferro galvanizados, pintados e vinculados à estrutura de madeira do piso (Fig.37). Os sanitários e banhos, dado o conceito de construção a seco do pavilhão habitacional e as condições favoráveis de uso no verão, foram construídos em volume separado, com sistema construtivo tradicional, porém com solução formal singular: uma caixa de alvenaria caiada de branco com pequenas aberturas irregulares dispostas aleatoriamente, cujo aspecto visual tanto pode ser lido como um esquema formal corbusieriano, quanto como uma Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fig. 38 - Restaurante, Colônia de Férias do AGRIMER, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Tramandaí-RS. reinterpretação moderna da arquitetura colonial, em bases de extrema abstração, cuja síntese formal só apareceria entre nós, mais tarde, na arquitetura contemporânea portuguesa (Fig.37). É curiosa a sensação de atemporalidade do bloco de banheiros, considerando que o edifício do clube e restaurante tem data e local. A sede da Colônia de Férias, com bar e restaurante (Fig.38), é prototípica da arquitetura moderna utilizada consensualmente em clubes do litoral gaúcho, de acento pitoresco como a SABA em Atlântida, a SACC em Capão da Canoa (anos 1960) ou a SAPI, de Luís Fernando Corona, em Imbé (1951) (Fig.38), com elementos formais abstratos, grandes planos envidraçados mesclados com materiais mais rusticados, como a pedra, ou lúdicos, como a pastilha confete, de um moderno irreverente, como nos Baños e Casino (19451947), em Rocas de Santo Domingos, no Chile, de Valdés, Castillo e Huidobro (Fig.38) ou de certa maneira na Colônia de Férias do IRB (1943) dos Irmãos Roberto (Fig.38). Entretanto, é diferente do adotado por Fayet no projeto para a Sociedade dos Amigos de Arroio do Sal – S.A.S. (1962), com partido Sergio M. Marques 151 Fonte: . . OYARZUN, Rodrigo Pérez. Bresciani Valdés Castillo Huidobro. Santiago: Ediciones ARQ , 2006, p. 27. . Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca/ FAU UniRitter Fig. 41 - Planta, Restaurante, Colônia de Férias do AGRIMER, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Tramandaí-RS. Fig. 39 - Abaixo à esquerda, Colônia de Férias do IRB, Irmãos Roberto, 1943, Rio de Janeiro. Acima, à esquerda, Baños y Casino, Valdés, Castillo e Huidobro, 1945-47, Rocas de Santo Domingo, Chile. À direita, Sociedade dos amigos da Praia do Imbé - SAPI, Luís Fernando Corona, 1951, Imbé-RS. condicionado pela ideia de "casa" de veraneio grande, portanto mais vernacular, sem elementos de abstração. Na colônia de férias do AGRIMER, o telhado, apoiado em quatro pontos, com frontões envidraçados ou fechados pelos mesmos painéis do pavilhão habitacional, nas quatro faces, que trespassam a platibanda horizontal, completa um quadro de certa forma híbrido formalmente, por um certo pitoresquismo da solução, não menos interessante (Fig.40 e 41). Fonte: Acervo João Alberto/ FAU UniRitter Fig. 40 - Elevação do conjunto, Colônia de Férias do AGRIMER, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Tramandaí-RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 42 - Vista dos dormitórios (ao fundo) e sanitários, desde o restaurante. Colônia de Férias do AGRIMER, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Tramandaí-RS. 152 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/ UniRitter Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca/ FAU UniRitter Arquitetos e arquitetura moderna no mercado: Variedades (1955-1959) Fig. 44 - Capela de Pinhal, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, final dos anos 1950, Pinhal-RS-RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 43 - Hidráulica de Pinhal, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, final dos anos 1950, Pinhal-RS. Araújo, de 1955 até 1959, quando ingressou como professor na UFRGS conjuntamente com Moojen, dedicou-se exclusivamente à atividade privada no escritório que dividia com Mancuso, em projetos de distintas escalas e temas, característicos de uma equipe de jovens arquitetos ingressando no mercado. Em 1956, ocuparam uma sala no quarto andar do Edifício Comendador Azevedo, em frente ao Paço Municipal, onde também funcionava a sede da Construtora Azevedo, Moura & Gertum. Deste período, dentre uma coleção de projetos, muitos não construídos, mas que detêm certa familiaridade entre si, na mesma vertente da Colônia de Férias do Mar, projetaram para a Imobiliária Pinhal, cujo escritório 39 também estava no Comendador Azevedo , algumas edificações para o loteamento de mesmo nome, em marcha no litoral gaúcho. Intermediados pelo Araújo e Mancuso ainda fizeram logotipia e projetos de programação visual para a Construtora Castilhos, também vizinha no edifício, do Engenheiro Elísio Castilhos, que posteriormente integrou o círculo de amizades de Araújo conjuntamente com Heinz Agte, dono do Mobília Contemporânea. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Edifício FAM, 12 set. 2011. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 39 Fig. 45 - Hotel em Rolante, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, final dos anos 1950, Rolante-RS. Sr. Bender, conterrâneo de Araújo, realizaram anteprojetos para a hidráulica e a capela do balneário, com solução formal e desenhos bastante simples, assim como a tônica geral dos projetos daquele período. A hidráulica, dois pavilhões soltos do solo, unidos por passarela coberta, como na Colônia de Férias em Tramandaí, tem arquitetura pavilhonar regular, ordenada por modulação de estrutura esbelta e costados cegos, dentro do mesmo sistema formal da casa Pegoraro (Fig.43). A pequena Capela, em planta mantém o esquema de combinação de peças elementares: uma figura retangular para a sala de culto e outra como Sergio M. Marques 153 Fonte: VEROLI, Debora Di. Vida, Obra y Reflexiones. Buenos Aires: 2006, p. 150. Acervo FAM Fig. 47 - À esquerda, Supermercado, Gran Tía, Débora Di Veroli, Buenos Aires, 1970. A direita, Xavier Market, Edifício Feliciano Xavier, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1962, Pelotas-RS Fig. 46 - Xavier Market, Edifício Feliciano Xavier, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1962, PelotasRS espaço de intermediação, ambas elevadas do solo. Como nos demais projetos para o litoral, a relação entre o volume da capela e o deque de madeira de chegada é dramatizada pela posição do campanário separado, posicionado na extremidade do espaço de chegada. O volume principal, bastante simples, igualmente com cobertura de duas-águas, inverte o esquema de costados cegos, definindo a extremidade de chegada com transparência e a modulação cadenciada da estrutura, nas laterais, marcadas com aberturas em arcos invertidos, junto à cobertura, de maneira formalmente ingênua (Fig.44). Não tão longe do litoral, em direção à serra, no município de Rolante, outro estudo de Araújo e Mancuso, para o Sr. Benjamin Zanotta, antigo sócio do pai de Araújo em Pelotas, para a construção de um hotel dentro de um loteamento, dá continuidade ao mesmo esquema de pavilhões em fitas, com circulações laterais abertas cobertas, contendo dormitórios, pavilhão retangular, construído com planos revestidos de material rusticado e transparências, conectados por passarelas elevadas do solo (Fig.45). Solto na composição, com elemento vertical marcante, assim como na colônia de férias, na hidráulica e posteriormente na REFAP e TEDUT, a caixa d´água estabelece certo jogo formal entre o reservatório e a estrutura de pilares que a suspende. Não só a descrição do projeto pode coincidir com a Colônia de Férias, mas também a estratégia de implantação de pavilhões soltos ordenadamente na área verde, estabelecendo relações espaciais entre si, refletem o sentido de espaço aberto e implantação moderna coincidente com a arquitetura produzida no período, que de alguma forma também é embrionária, tanto do sentido urbano dos projetos para Petrobras quando de determinados temas urbanísticos, na obra dos três arquitetos, em particular no Bairro Praia de Belas. Posteriormente, Araújo e Mancuso foram chamados para fazer a arquitetura de interiores do supermercado no térreo do edifício Feliciano Xavier, em Pelotas-RS, o "Xavier Market" (1962), no mesmo ano em que iniciavam os projetos para a Petrobras e de certa forma concluíam a parceria juntos (Fig.46). O encargo do supermercado era relativamente simples e modesto, porém atrativo desde o ponto de vista de agregar comércio de abastecimento básico no "mix" do edifício moderno, com uma das primeiras construções de supermercados no Estado, assim como os Super Mercados Satélite (1970) ou Gran Tía (1970), de Debora di Veroli em Buenos Aires (Fig.47). Com orçamento restrito, o programa consistia em ocupar a loja principal do pavimento térreo do prédio, com lay-out tradicional de circulações paralelas ladeadas por gôndolas para os produtos em geral, e determinados setores especializados, como o açougue, fiambreria, etc. Mesmo com esquemas funcionais determinantes e restritivos, o projeto proposto buscava, por um lado, explorar as condições espaciais do próprio edifício, articulando circulações e equipamentos à pauta da estrutura – adotando a repetição modular desta e sua presença visual como princípio ordenador – e por outro armando os setores específicos como ponto Fonte: Acervo FAM 154 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 de culminância visual dos corredores, onde novamente submúltiplos da modulação estrutural ordenam luminárias, balcões, etc. (Fig.47). Araújo, em particular, sempre foi signatário de levar arquitetura e design a qualquer tema e escala. Ao longo de sua trajetória profissional, muitas vezes em condições bastante restritivas de orçamento e programa, tratava de agregar valor ao encargo, ao projeto e ao cliente, tornando toda e qualquer relação especial, no sentido profissional, técnico e pessoal. Assim, como normalmente ocorreu em boa parte de suas ações ao longo da vida, situações ordinárias de trabalho eram encaradas no melhor estilo corbusieriano de "arquitetura em 40 tudo, urbanismo em tudo" , o que, de certa maneira, também alimentava sua predileção pelos detalhes e design de todos os elementos, mesmo os aparentemente sem importância. No Xavier Market, tal postura levou a, novamente dentro de restrições econômicas, definir certo tratamento formal aos balcões frigoríficos, à iluminação e à comunicação visual, feita com neon em letra corrida, tal qual a grafia de Araújo (Fig.46). O sentido de arquitetura e urbanismo em tudo, nesta variedade de casos, no entanto não diz tanto respeito às grandes ações arquitetônicas e urbanísticas, como em palácios e cidades, onde sem dúvida a ausência destes atributos, ainda que falíveis, é catastrófica, mas se dá em outra dimensão, na qual de maneira recorrente atua a maioria dos arquitetos no exercício do ofício, fazendo tecido urbano ou arquitetura ordinária, nos quais a mesma ausência pode ser ainda mais desastrosa, para a maioria, como se pode ver em termos contemporâneos na arquitetura do mercado imobiliário (e especificamente no 41 tema supermercado) . O Verdadeiro eu interior: A revelação em quatro magazines (1958-1961) Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/ UniRitter Referência ao título da terceira conferência realizada por Le Corbusier em Buenos Aires, em outubro de 1929, na Faculdade de Ciências Exatas. LE CORBUSIER. Precisões. São Paulo: Cosac & Naif, 2004. p. 77-87. 41 Os mercados de abastecimento são temas quase tão ancestrais quanto a própria habitação na configuração da estrutura básica de qualquer conglomerado urbano. Nas metrópoles, sua distribuição e organização espacial podem significar eixos de centralidade e configuração de espaços tão importantes quanto edifícios institucionais representativos. O tema tem sido objeto de estudo de diversos pesquisadores e de exploração arquitetônica, associando o mercado a outros programas públicos, dado seu valor atrativo, em países europeus. Em Porto Alegre, com uma política urbana descentralizadora em termos de abastecimento, que de certa forma torna o tecido mais homogêneo, a arquitetura de determinadas redes atacadistas tem significado a propagação de péssima qualidade arquitetônica em uma espécie de metástase que, sem dúvida, faz diferença na paisagem urbana, tanto quanto outras, funções mais nobres. Para ver mais sobre a arquitetura de mercados públicos, ver: MURILHA, Douglas; SALGADO, Ivone. A arquitetura dos mercados públicos. Vitruvius São Paulo, Arqtextos, 138.02, 12, nov. 2011. Disponível em: . Vitruvius, . Acesso em 14 nov. 2011 às 17:47 min.. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 40 Fig. 48 - Instituto de Resseguros do Brasil, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso,1958, Porto AlegreRS. Sergio M. Marques 155 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fig. 49 - Instituto de Resseguros do Brasil, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso,1958, Porto AlegreRS. No final dos anos 1950 e início dos 1960, em projetos de pequena escala, arquitetura de interiores e desenho de mobiliário, que determinados critérios de projeto – armados sobre soluções gerais simples, mas de grande sofisticação na definição das partes, caracterizada posteriormente na obra madura de Araújo – se manifestam com maior consistência. A abordagem do projeto, atendendo criteriosamente os requerimentos do problema, as exigências programáticas e normativas, bem como a busca de soluções construtivas e detalhes técnicos apurados, dentro de procedimentos de desenho que sempre buscam a sofisticação formal, revestida de certa abstração, embora austera e parcimoniosa, revelam o apreço que Araújo começa a cultivar pelo desenho industrial, pela cultura objetiva e técnica dos arquitetos alemães, a sofisticação dos detalhes e por Mies Van der Rohe em particular. Os primeiros trabalhos em arquitetura de interiores dedicavam-se a layouts e especificação de mobiliário, divisórias, detalhamento de marcenaria, tratamento de superfícies internas e escolha de componentes, como tapetes, persianas, etc., sendo o projeto para o escritório do Instituto de Resseguros do Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca/ FAU UniRitter Fig. 50 - Instituto de Resseguros do Brasil, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso,1958, Porto AlegreRS. Brasil (1958) um dos significativos da primeira safra (Fig.48). Com “pinta” de arquitetura moderna de certa frugalidade, dentre salas espaçosas, com piso de parquet e pouco, porém sofisticado mobiliário, agrupado sobre tapetes lisos ou organizados da maneira adequada ao funcionamento do escritório, o tom geral é de sobriedade sem sisudez. Apresenta aquele ar low-profile, em que por trás de uma aparência econômica está a sofisticação: no caso, tanto nas cadeiras Bertoia que dominam as posições de aproximação, quanto nos conjuntos de 42 42 O Instituto de Resseguros do Brasil – IRB, foi criado em 1939, durante o governo Getúlio Vargas, sendo uma empresa estatal até 1997, quando foi transformado em Sociedade Anônima, mantendo monopólio do mercado até 2007. No Rio de Janeiro, a sede do Instituto foi projetada pelo escritório MMM Roberto (1943), dando sequência à arquitetura moderna carioca, que teve particular emergência na arquitetura de edifícios de escritórios da capital federal, como a ABI (1936-1938), o Instituto dos Industriários (1938-1940), a Liga de Combate à Tuberculose (1937-1944) e o próprio Ministério de Educação e Saúde (1937-1945). A importância deste contexto na Arquitetura Moderna Brasileira é abordada em COMAS, Carlos Eduardo Dias. Questões de base e situação: arquitetura moderna e edifícios de escritórios, Rio de Janeiro, 1936-45. Vitruvius São Paulo, Arquitextos, Vitruvius truvius, 078.00, ano 07, nov. 2006. Disponível em: . Acesso em 22 out. 2011, às 19h 59min. 156 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Acervo FAM. Acervo João Alberto da Fonseca FAU/ UniRitter Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/ UniRitter Fig. 52 - Apartamento Paulo Torelly, Edifício Paglioli, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1958, Porto Alegre-RS. Fig. 51 - Apartamento Paulo Torelly, Edifício Paglioli, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1958, Porto Alegre-RS. escrivaninhas de desenho moderno, com planos de madeira laminada e tampo de fórmica (Fig.49). Na mesma onda dos planos ortogonais das escrivaninhas e balcões, as divisórias mesclando superfícies opacas, translúcidas e transparentes, assim como as luminárias de acrílico embutidas no forro, davam mais uma vez a visualidade abstrata, anunciada nas casas Telmo Ferreira e Pegoraro (Fig.48). No entanto, a prova de resistência à ortodoxia excessiva, como os cariocas, em uma medida parcimoniosa, está na vegetação ornamental, de boa envergadura, em vasos de vime que adornam todos os ambientes, e um insistente galo que, de maneira divertida, aparece sobre vários móveis (Fig.50). O escritório podia perfeitamente ocupar uma das salas da Sede do Instituto de Resseguros do Brasil no Rio de Janeiro. Em paralelo, Araújo realizou o apartamento de Paulo Torelly (1958), no Edifício Paglioli, cliente para quem, logo a seguir, projetou a casa em Torres. Este projeto baliza o início, ainda incipiente, de algumas definições espaciais em sua arquitetura de interiores, com o uso de planos e trocas de materiais, principalmente o uso de painéis de madeira, que vão se sofisticar em projetos posteriores, criando a distinção de superfícies que separam ambientes ou embutem equipamentos (Fig.51). O jogo com planos de forro, neste caso, insinua o recurso frequentemente utilizado para caracterizar ambientes, embutir iluminação especial ou abrigar instalações através de desníveis, volumes suspensos, negativos ou sancas, e, da mesma forma, o gosto, como Gio Pontti, por incorporar às paredes determinados usos, tornando os planos de fechamento ativos no funcionamento do recinto (Fig.52). Finalmente, desde já, e no projeto de seu próprio apartamento feito no ano seguinte, a especificação criteriosa de mobiliários, luminárias e revestimentos, sempre com certa sobriedade e sofisticação (Fig.52), dá o tom equilibrado e preciso dos projetos de Araújo. O encargo para a Loja Senador, em 1960, oportunizou o mesmo 43 “mergulho” . Situada no térreo do edifício Urubatã, na rua dos Andradas, em frente à antiga Casas Víctor, surgiu de relações pessoais de Araújo e Mancuso com Artur Dallegrave (1930-2008), conhecido empresário da moda e do esporte 44 em Porto Alegre . O projeto de loja térrea, abrindo diretamente ao espaço 1º Prêmio na categoria “Interiores” no 1º Salão de Arquitetura do RS (1961). Arthur Dallegrave além de atuar no comércio de roupas finas, conjuntamente com seu irmão Ermínio Dallegrave, foi presidente do Sport Club Internacional no biênio 1982-1983, e esteve em cargos diretivos do clube por mais de cinquenta anos, integrando a comissão de construção do Estádio Gigante da Beira Rio. A afinidade de Dallegrave com Araújo e Mancuso, além da dedicação ao Sport Club Internacional, estava no campo do gosto por sofisticação. A loja de Dallegrave vendia itens de vestuário importados, normalmente com desenhos consagrados, da qual Araújo e Mancuso eram fregueses e onde acabaram se tornando amigos (Fig.57.3). ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 14 jun. 2010. 44 43 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 157 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fig. 53 - Loja Ibraco, Edifício Urubatã, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960-61, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM 54Fig. 54 Loja Senador, Edificio Urubatã, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Porto Alegre-RS. público, em particular ao seleto público alvo que realizava o footing na Rua da Praia nestes tempos, conduziu a determinante ideia de usar o próprio espaço interno da loja, de tamanho mediano, e sua arquitetura de interiores como vitrine e identidade visual principal do espaço comercial, além dos produtos expostos e da comunicação visual igualmente projetada naquela caso (Fig.54). O esquema espacial pensado parte da ideia de preparar o ambiente interno para além de atender com eficiência os requerimentos programáticos de funcionamento e conforto – tais como exposição, recepção, provas e as instalações necessárias –resultar em espaço visualmente significativo ao transeunte, desde a rua, definindo o caráter do estabelecimento a partir da arquitetura de seu espaço interior. Dentre a especificidade dos elementos projetados para a configuração da loja, o particular desenho destes e o arranjo do conjunto, o uso do vidro em especial, representa o elemento chave de arquitetura nas relações estabelecidas. O vidro temperado, ocupando grandes superfícies sem caixilho, não estava disseminado como tecnologia corrente nem era comum em Porto Alegre, era caro e portanto ainda associado a uma imagem de sofisticação que igualmente concorria no caso. No entanto, a separação diáfana exterior-interior oportunizada pela esquadria de ingresso e fundamentalmente pela grande abertura de canto, de aresta viva com o encontro dos vidros, configura, além da relação fluida entre espaço público e receptivo da loja, a relação expressiva entre volumes transparentes criada no térreo do edifício, potencializada pela solução espacial da loja Ibraco, simétrica à Senador, igualmente projetada por Araújo e Mancuso posteriormente (Fig.53). O recurso do vidro e da sucessão de transparências em espaços definidos por "planos e linhas, texturas e cores, luzes e sombras vinculados por critérios de posição", ou seja, "a identidade de 45 cada elemento vem determinada pelo lugar que ocupa respeito aos outros" , como na Tienda George Jensen (1958), de Josep Maria Fargas (1926-2011) e Enric Tous (1925), evidencia o international style como sistema de sofisticação da forma na visualidade dos espaços comerciais (Fig.55), ou ainda a Peletería California (1953), de Silvério Bosch e Mario Romañach, em Havana, Cuba (Fig.55). A superfície transparente da loja Senador, intervalada apenas pela presença da coluna revestida com pastilhas, onde se apoiava a platibanda da vitrine, cuja quina em balanço criava as condições para a janela de canto, deixava entrever, em primeiro plano, a recepção caracterizada pela organização 45 PIÑON, Helio; ROCA, Catalá F. Arquitectura moderna en Barcelona (1951-1976). Barcelona: Ediciones UPC, 1996. p. 75. 158 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL Fonte: PIÑON, Helio; ROCA, Catalá F. Arquitectura moderna em Barcelona (1951-1976). Barcelona: Ediciones UPC, 1996. p. 76. LLOBERA, Teresa Rovira (org.). Documentos de Arquitectura Moderna en América Latina 1950-1965, II. Barcelona: UPC, 2005, p.247. 1950 a 1970 Capítulo 1 Fig. 55 - A esquerda, Tienda George Jansen, Josep Maria Fargas e Enric Tous, 1958, Barcelona. A direita, Peleteria Califórnia, Silvério Boch e Mario Romañach, 1953, Havana, Cuba. geométrica interna do magazine, definida principalmente pelo mobiliário e equipamentos, além de pequenos expositores estruturados por ferro tubular de seção quadrada, utilizados nos demais móveis, influência da Bauhaus e de Marcel Breuer, que, como pequenas mesas, suspendem planos flutuantes de abas largas, onde eram expostos produtos de maneira delicada (Fig.56). A loja, de tamanho médio para pequeno, constituía-se em espaço único, com forma de “L”, no qual a perna menor, paralela à rua, configurava vitrine e recepção, com pé-direito mais alto, e a maior, espaço de vendas, armazenagem e provadores ao fundo (Fig.57). O volume central, subtraído do diedro da loja, perfaz a planta em “L”, em parte ocupado por áreas de uso comum do edifício, em parte pelo ar-condicionado central da loja (outro equipamento relativamente incomum e discretamente anunciado na vitrine como atributo da loja) (Fig.57.2). Transformado em uma parede ativa, através do mobiliário, recorrente nos projetos de Araújo, como no escritório do Instituto de Resseguros do Brasil, cria espaços de armazenagem dos produtos, encabeçados no plano superior pelas grades de difusão e retorno do arcondicionado (Fig.57.1). O desenho do móvel, gavetas, estantes e armários, em um primeiro olhar, poderiam aparentar organização formal de planos distintos, como um quadro neoplasticista de Theo Vandesbourg ou um móvel da casa Schoreder, de Rietvield. No entanto, a repetição cadenciada dos módulos utilizados, assim como os espelhos intervalados na parede oposta, ligados com estes através da luminária embutida no forro, estabelecem certa ordem e controle espacial cuja lógica parece ser matemática e precisa, e não apenas visual, assim como o uso da imbuia, madeira de cor escura, em contraste com a fórmica branca, delineia quadros e compõe planos desencontrados que em seu conjunto formam uma cadência. O volume é encabeçado por um aparador com prateleiras de Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter 56Fig. 56 Loja Senador, Edifício Urubatã, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Porto Alegre-RS. Sergio M. Marques 159 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fig. 57 - Recepção, armazenagem e vendas ao fundo. Loja Senador, Edifício Urubatã, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fonte: Acervo FAM. Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fig. 57.2 - Loja Senador, Edifício Urubatã, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Porto AlegreRS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fig. 57.1 Armazenagem e vendas. Loja Senador, Edifício Urubatã, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Porto Alegre-RS. Fig. 57.3 - Da esquerda para a direita, Diguez (sócio de Dallegrave), Cláudio Araújo, Arthur Ermínio Dallegrave e Carlos Mancuso. Loja Senador, Edifício Urubatã, 1960, Porto Alegre-RS. 160 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fig. 58 - Norvic Boutique, Edifício Urubatã, Cláudio Araújo, 1961, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter. Acervo FAM Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter de vidro, para exposição de produtos, emolduradas pela base escura de gavetas e barras laterais que criam arremates junto à parede, por um lado, e pano cego na lateral, fazendo a transição ao corredor. O sistema compositivo deste móvel de parede, com o sócolo em negativo junto ao solo, o sistema de composição em planos ordenados segundo princípios de repetição e ritmo, panos cegos emoldurando as trocas de face do volume e elementos de coroamento, como em um edifício moderno, além de atender diversas funções a serem exercidas no espaço, através de uma parede utilitária – conceito adotado em diversas oportunidades posteriores, em especial no FAM –, apresenta uma ordem visual e controle formal aos quais Araújo retornará muitas vezes em projetos de escalas distintas, critérios de projetos comuns a elementos de pequena escala ou edificações que evidenciam a consolidação de determinados princípios de projeto representativos da arquitetura moderna praticada de maneira exemplar em determinadas obras suas e nesta inaugural em particular. A relação é igualmente visível no balcão de atendimento disposto logo à frente do volume do armário, na recepção, onde uma esbelta estrutura metálica de seção tubular, a mesma do apoio dos planos da vitrine, suporta em Fig. 59 - Casa de Câmbio e Agência de Turismo Edu las Casas, Cláudio Araújo, 1961, Porto Alegre-RS. suspensão um prisma de vidro, descolado da estrutura (Fig.57). O espírito “divino” que sublima o criterioso desenho dos detalhes, por sua vez, revela-se em sutilezas não menos importantes, mesmo que funcionalmente prescindíveis, como a linha de pequenos recessos na parede lateral, criando nichos expositores iluminados, e o painel com desenhos de personagens que encabeça o rebaixo de forro que proporciona o pé-direito baixo da parte posterior da loja. Esse painel artístico, de certa maneira, contrapõe a abstração dominante do sistema estético utilizado, assim como equilibra a universalidade da arquitetura moderna adotada com elementos figurativos, neste caso desenhos de Mancuso, feitos a grafite sobre papel manteiga, fotografados por 46 João Alberto Fonseca da Silva , aplicados como papel de parede, e o pequeno anjo barroco pendente sobre os nichos, pequena concessão à tradição da arquitetura moderna brasileira (Fig.57). A loja despertou muito interesse entre estudantes de arquitetura e arquitetos dedicados à arquitetura 46 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. . 161 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques Fig. 60 - Norvic Boutique, Edifício Urubatã, Cláudio Araújo, 1961, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter. Acervo FAM Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fig. 61 - Fotografia de João Alberto da Fonseca, premiada na categoria "Fotografia de Arquitetura" do 1° Salão de Arquitetura do IAB-RS, 1961. Provador, Norvic Boutique, Edifício Urubatã, Cláudio Araújo, 1961, Porto Alegre-RS. 162 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 de interiores, cuja repercussão contribuiu com o convite para Araújo se apresentar à vaga de instrutor de ensino na Faculdade de Arquitetura da 47 UFRGS, junto a Frederico Michel Müller . Na sequência de projetos de interiores realizados nos anos 1960, após a loja Senador, preliminares e concomitantes ao início dos projetos para a REFAP, a consolidação de um sistema espacial de natureza neoplástica, com caracterização dos elementos construtivos resistentes ou de cerramento, autônomos formalmente e inter-relacionados em uma ordem normalmente comandada por coordenação modular ou malhas geométricas, buscando romper com simetrias ortodoxas, se apresenta com maior explicitude. O encargo da loja Senador abriu caminho para os projetos da Norvic Boutique Dallegrave (1960) (Fig.58) e da Loja Ibraco (1961) (Fig.53), realizados no mesmo edifício, e a pequena Loja de Câmbio e Turismo Edu Las Casas (1960) (Fig.59), 48 na rua General Câmara, igualmente em parceria com Mancuso . A Norvic Boutique Dallegrave (Fig.58), dedicada ao público feminino, ocupava uma sala em andares superiores do edifício Urubatã. Mantendo fidelidade com a ideia de sofisticação, o projeto arma o espaço com elementos e sistemas estéticos idênticos aos da loja Senador, com armários embutidos, bancadas e painéis expositores que tornam os fechamentos laterais ativos, dando a sensação de maior amplidão ao espaço que a realidade, onde espelhos e recessos iluminados são determinantes (Fig.61). No entanto, o tom geral do espaço é reverso ao da loja Senador, já que, inexistindo o diálogo com o espaço público, o esquema intimista busca armar o projeto como um grande closet, com carpete no piso, mesas e poltronas características de um lugar de estar mais reservado, por onde circula o corpo feminino em roupas íntimas, cujo ponto de culminância, oposto à vitrine, é o provador (Fig.62). A imagem denota sofisticação, silêncio e intimidade, assim como a solidão, de um filme de Luís 49 Buñuel . Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Ex-professor de Araújo na disciplina Composição Decorativa, da Faculdade de Arquitetura, na qual Araújo colaborou de 1959 a 1965, quando então assumiu a regência desta. 48 Estes projetos valeram o primeiro prêmio na categoria "Interiores" do I Salão de Arquitetura do IAB-RS, 1961. Posteriormente, a loja Senador se mudou para a Avenida Independência (também projeto de Araújo), na atual Galeria Moinhos de Vento, na esquina com a Ramiro Barcellos. Iniciou ainda projeto de outra loja na Mostardeiro esquina com a Florêncio Ygartua que não chegou a ser desenvolvido, já que estava sobrecarregado, reestruturando a Equipe de Arquitetos com Fayet, no escritório da Avenida Borges de Medeiros, para realizar os projetos da COPESUL. 49 Não por coincidência, João Alberto da Fonseca ganhou prêmio de fotografia, na premiação do IAB_RS, com esta imagem do provador. A referência ao filme La Belle de Jour advém da atmosfera de intimismo e sofisticação com algum grau de secreto, pressentida na imagem e ligada a espaços de uso eminentemente feminino, como o cômodo utilizado por Catherine Deneuve em seu papel de A Bela da Tarde. Ver: BUÑUEL, Luís. La belle de jour. Paris Films – Five Films, França – Itália,1967. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 47 Fig. 62 - Loja Ibraco, Edifício Urubatã, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960-61, Porto AlegreRS Sergio M. Marques 163 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter A Loja Ibraco (1961) (Fig.53), realizada logo a seguir, em posição simétrica à Senador, de apelo mais popular, se não usasse critérios semelhantes poderia ser um "bastantão", cujo apelo comercial é dado não pela arquitetura, mas pela profusão de produtos dispostos quase no passeio público, assim como as lojas populares da Avenida Voluntários da Pátria atualmente. No entanto, ao contrário, tirando partido do carisma estético que os eletrodomésticos exerciam nos anos 1950 sobre a opinião pública, com a imagem de vida moderna propiciada pela tecnologia, Araújo e Mancuso acentuam a sensação de profundidade da loja de dimensões reduzidas com uma prateleira-expositor, em balanço, que gabarita a altura do interior da loja em todo o perímetro, e um tablado em "L" no piso, que eleva os objetos expostos do plano do solo, tratado como extensão do espaço público (Fig.62). O recurso visual do plano horizontal superior, reutilizado posteriormente no apartamento de Dicran Gureghian e no próprio FAM, além de otimizar a armazenagem e exposição de produtos, de certa maneira conecta visualmente o fundo do estabelecimento com o ingresso, transformando todo o espaço comercial em uma grande vitrine (Figs.64,67). Este plano de elevação, revestido integralmente com acrílico leitoso, é ainda acentuado por iluminação embutida, na face inferior e na face frontal, onde são colocadas as identificações dos Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fig. 63 - Loja Ibraco, Edifício Urubatã, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960-61, Porto Alegre-RS Fig. 64 - Loja Ibraco, Edifício Urubatã, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960-61, Porto Alegre-RS fabricantes, criando a sensação de que os objetos expostos flutuam sobre uma faixa de luz (Fig.63), da mesma forma que o tablado no solo, cujo sócolo recuado com iluminação embutida flutua sobre o piso. O conjunto, finalmente, é ordenado por uma envolvente, desenhada como uma malha abstrata, na qual paredes e forro são caracterizados por planos paralelos à vitrine, em direção ao fundo da loja, intervalando superfícies de madeira e panos brancos nas empenas verticais, e superfícies opacas e translúcidas com luz embutida no teto. Os pilares da estrutura resistente do edifício acima, que dão sequência à coluna da fachada, são integralmente revestidos com espelhos, desaparecendo 164 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fonte: BORONAT, J. Yolanda. RISSO, Marta R. Roman Fresnedo Siri – Un Arquitecto Uruguayo. Universidad de la republica, Facultad de Arquitectura, Insituto de História de la Arquitectura, Montevidéu, 1990, p. 70 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fig. 65 - Casa de Câmbio e Agência de Turismo Edu las Casas, Cláudio Araújo, 1961, Porto Alegre-RS. Fig. 67 - Loja Ibraco, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960-61, Porto Alegre-RS. Fig. 66 - Edifício para la Comisíon Honoraria para la Lucha Antituberculosa, Roman Fresnedo Siri, final da década de 1950, Montevidéu. visualmente do container de produtos (Fig.63). A quebra da abstração imposta pelos produtos industrializados, luz artificial e o jogo de planos é dada exclusivamente pelo piso de basalto irregular, tratado com selador, que encaminha a calçada para dentro da loja (Fig.62). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Por fim a pequena casa de Câmbio (Fig.59), apresentada no I Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul (1960), é, na verdade, uma diminuta loja de calçada, organizada funcionalmente e ordenada formalmente por um sistema de esquadria-divisória e forro que armam a vitrine e as divisões internas, em um ambiente monocromático. O criterioso detalhamento das divisórias (Fig.65), desenho das mesas de trabalho e especificação das cadeiras, as mesmas que Araújo adotou para seu apartamento, estabelecem a ideia de frugalidade com frescor, assim como o sistema neoplástico de linhas e planos das divisórias, análogo ao utilizado por Román Andrés Fresnedo Siri para os interiores do Edifício de la Comisión Honorária para la Lucha Antiberculosa (1959), em Montevidéu (Fig.66). Quatro magazines, dois sofisticados, dois populares. Três públicos, um privado. Dois populares públicos, outro sofisticado também público, o quarto, sofisticado privado. Em todos – público, privado, sofisticado ou popular – a mesma arquitetura: elementos ordenados de acordo com critérios eficientes de funcionamento, pertinência construtiva e qualidade visual. Sergio M. Marques 165 Casa de ferreiro espeto de ferro: Os apartamentos de Araújo e Dicran Gureghian (1958-1962) Fonte: Acervo Araújo Fonte: Acervo Araújo Fig. 69 - Fazenda da família de Mary Suzana, adquirida do Barão de Aceguá, Astrogildo Pereira da Costa, (1809-1892), final séc. XIX, Aceguá-RS. Fig. 68 - Araújo e Mary, Lua de Mel, 1959, Bariloche. Araújo começou com projetos de arquitetura de interiores residenciais como muitos arquitetos ingressam em experimentações iniciais arquitetônicas: 50 fazendo sua própria moradia. Casou com Mary Suzana , em 1959 (Fig.68), saiu 51 do apartamento que dividia com sua mãe na Felipe Néri e alugou um pequeno imóvel, de dois dormitórios, no Edifício Ricardo Eicheler, na Rua Dr. Flores, Mary Suzana Araújo (1938), nasceu em Bagé, filha de José Maria Silveira, juiz de direito, natural de Bagé, prefeito de Piratini-RS, e Mary Torrescasana, igualmente natural de Bagé. Estudou até o primeiro ano do normal, no Colégio Espírito Santo, de Irmãos Franciscanos e completou o segundo e terceiro ano no colégio Sevigné, quando veio morar em Porto Alegre com a família, em 1956. Ingressou no curso de pedagogia, mas com o casamento em 1959, não concluiu. A avó da Mary, adquiriu no final do século XIX, a fazenda em Aceguá, mantida e utilizada pela família, com frequência, até hoje (Fig.69). 51 O apartamento de três dormitórios, onde Araújo realizava trabalhos com Mancuso em um dos dormitórios, já havia sido trocado por um de dois dormitórios com João Dib, ex-prefeito de Porto Alegre, que residia no mesmo prédio, a pedido deste, logo após a mudança do escritório de ambos para a sala alugada em frente à Prefeitura, no centro. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 02 dez. 2011. 50 próximo à Avenida Salgado Filho, vizinho portanto de Moojen, que morava no edifício Nice, ao lado da CRT, nesta avenida, desde 1956. Coincidia, nessa época, o potencial cultural do centro histórico ainda remanescente do seu auge nos anos 1940. Local aprazível para a vida social, provido de cinemas, como o Ópera e o Cacique (o mais luxuoso, com pinturas murais de Glauco Rodrigues), na Rua dos Andradas, o Victória (inaugurado em 1953, o primeiro com ar condicionado na capital) (Fig.70) e o Continente, na Avenida Borges de Medeiros, o Imperial e o Guarani na Praça da Alfândega, entre outros, as 52 dezenas de cafés ao longo da Rua da Praia , os magazines, como a Casa Masson, o Bromberg, a Confeitaria Colombo, o Clube do Comércio, o Cotillon Club e o footing da rua da Praia. A fruição da vida urbana em metrópole e centro histórico estava impregnada neste contexto. Os jovens casais Araújo e Moojen, amigos desde estudantes, usufruíam este meio cultural com rodadas Em relação aos cafés, sua influência nas práticas sociais de Porto Alegre, bem como a relação destas com Buenos Aires e Montevidéu, é interessante ver o texto de LEWGOY, Bernardo. Os cafés na vida urbana de Porto Alegre (1920-1940): as transformações em um espaço de sociabilidade masculino. [Dissertação de mestrado]. Cópia digitada. ROCHA, Ana Luiza Carvalho da . (Orient.). Porto Alegre: BIC/CNPQ, UFRGS, 1988. 52 166 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: . Foto de 1960 Fig. 70 - Cinema Victória, Av. Borges de Medeiros, esq. Andrade Neves, 1953, Porto Alegre-RS. Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fig. 71 - Apartamento Araújo, Edifício Ricardo Eicheler, Araújo, 1959, Porto Alegre-RS. semanais de cinema, principal veículo de informações da época, e idas a bares e restaurantes. A reforma deteve-se mais no tratamento de superfícies e mobiliário sob medida, sem envolver grandes alterações na planta do apartamento alugado, mas com introdução de elementos arquitetônicos significativamente expressivos de recursos formais utilizados sistematicamente em projetos posteriores. Como no apartamento de Dicran, feito logo a seguir, uma espécie de bandeau horizontal percorre o perímetro da sala de estar, nivelado pela sua face inferior a aproximadamente dois metros e dez centímetros, na altura da verga das portas, criando, além de um limite para os painéis de paredes e aberturas, uma separação visual entre estas e o plano de forro mais acima (Fig.71). Este gabarito visual contínuo, igualmente nivela o rebaixo de forro, da ligação adjacente, como o translúcido do hall de acesso, com luminária embutida, e acomoda dispositivos como os trilhos da cortina da fachada principal envidraçada e painéis móveis. A parede oposta à da transparência, ao contrário, tem sua superfície escurecida por laminados de madeira, formando um plano contínuo, que serpenteia desde o hall, incluindo a porta de chegada, passando pela sala, incluindo a porta da cozinha e parte da parede lateral, perpendicular à fachada, através do painel móvel que isola a circulação da ala íntima (Fig.72). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Assim, a sala fica dividida, de certa forma, em espaço limitado por planos escuros, claros e transparentes, sistema espacial de certa maneira adotado na sala de estar do FAM posteriormente. O mobiliário, de um modo geral, se relaciona com as superfícies brancas. O sofá, desenhado por Araújo, constitui uma bancada baixa de madeira com pés metálicos, com tampa superior de abrir, permitindo armazenagem de revistas e utensílios em seu interior. Soltas sobre esta base, almofadas de courvin com variação de cores, sem ocupar toda a superfície, criam certo jogo geométrico (Fig.71). Na parede oposta, igualmente clara, paralela ao sofá, móvel modulado e solto do solo, também desenhado por Araújo, para acomodar a aparelhagem de som, criteriosamente embutida, item tecnológico normalmente bastante valorizado nestes tempos (Fig.73). Entre eles, mesa de centro, igualmente projeto de Araújo, com tampo de fórmica e pés metálicos, com desenho influenciado pelo mobiliário de Charles Eames, cadeiras de aproximação e luminária de design assinado. As superfícies de madeira cumprem outro papel: o de incorporar obras de arte, através de nichos brancos iluminados desenhados especialmente para determinadas obras, igualmente recurso adotado por Araújo na sala de estar do FAM e incorporado Sergio M. Marques 167 Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fig. 73 - Apartamento Araújo, Edifício Ricardo Eicheler, Araújo, 1959, Porto Alegre-RS. Fig. 72 - Apartamento Araújo, Edifício Ricardo Eicheler, Araújo, 1959, Porto Alegre-RS. por Moojen (Fig.72). A forração do piso, como superfície contínua, faz a ligação entre todos os ambientes do apartamento. O dormitório mantém alguns regramentos visuais da sala, como o bandeau sobre a cortina e penteadeira na forma de módulo em balanço, no entanto, o armário sob medida, assim como a estante da Loja Senador, feita dois anos depois, faz o jogo neoplástico entre superfícies brancas de fórmica, emolduradas por fitas de madeira, em um detalhamento idêntico ao do magazine Senador, assim como com o clima intimista da Boutique Dallegrave (Fig.74), paralelo que também pode ser feito tanto pelo rigor abstrato no desenho dos armários, quanto no despojamento do mobiliário adotado, na sala 53 de estar da Vivienda Dr. García Pardo (1955), de Luís Garcia Pardo (Fig.75) . Os projetos para os apartamentos de Dicran Gureghiann (Fig.77) e David Zimmerman, ambos realizados em 1962, consolidam a época de mudanças operacionais e ajustes arquitetônicos. Com o convite para os Ver García Pardo In: GAETA, Júlio (Org.). Luís Garcia Pardo – Monografias Elarqa 6. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 2000. p. 115. 53 trabalhos da REFAP e a organização da equipe no escritório de Araújo, acrescentando mais uma sala às duas que Araújo mantinha com Mancuso, este se do escritório indo dedicar-se à docência e às artes. Também nesses projetos, além do rigor, da atenção ao detalhe e das vertentes estéticas neoplásticas que Araújo vinha observando, o apuro de determinadas continuidades de elementos geométricos alinha-se com a ideia dos planos integradores de espaços de Mies, como na Casa Tugendath (1928-1930) (Fig.76). Os apartamentos pontuam, portanto, em dois projetos solo, além de um câmbio de fase profissional, a tomada de rumo em direção a certo modo de fazer arquitetura e a determinado universo estético, em consolidação nos projetos para Petrobras e FAM, que de alguma maneira acompanharão toda sua carreira. O apartamento de Dicran, localizado no Edifício Armênia (1955), de Ari 54 Mazini Canarim , além de ambientar-se em apartamento moderno de dimensões generosas comparativamente aos apartamentos de classe média atuais, integrava este edifício de qualidade formal reconhecida entre seus pares, que despertava a atenção de arquitetos e opinião pública nos anos 1950, MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, Alegre 1987. p. 126-127. 54 168 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Fonte: GAETA, Julio (Org.). Luis Garcia Pardo - monografias elarqa 6. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 2000, p.112. Capítulo 1 Fig. 75 - Vivienda Dr.Garcia Pardo, Luis Garcia Pardo, 1955, Montevidéu. Fonte: COHEN, Jean – Louis. Mies van der Rohe, Hazan, Madrid, 1994 , p.64 Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fig. 74 - Apartamento Araújo, Edifício Ricardo Eicheler, Araújo, 1959, Porto Alegre-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fig. 76 - Casa Fritz e Grete Tugendath, Mies van der Rhoe, 1929-30, Brno. Sergio M. Marques 169 Fonte: Foto Leopoldo Plentz, Acervo FAM Fonte: ESPAÇO ARQUITETURA. Manifesto de Fundação, Porto Alegre, n.1, nov-dez, 195?, p.11. Fig. 78 - Edifício Armênia, Ari Mazzini Canarim, 1955, Porto Alegre-RS . Fig. 77 - Apartamento Dicran Gureghiann, Edifício Armênia, Araújo, 1962, Porto Alegre-RS. dispondo, entre outras qualidades, de criterioso sistema de fenestração e proteção solar em sua fachada oeste: sistema de caixilhos venezianados, com roldanas e cabos de aço, e forma de abrir tipo guilhotina, idêntico ao utilizado 55 como elemento principal na fachada do FAM posteriormente (Fig.78). A unidade adquirida pelos Gureghiann justamente ocupa o quadrante oeste e sul da planta baixa assimétrica (Fig.78), de dois apartamentos por andar, na qual a bateria de quartos se abre para oeste, onde estão os sistemas de proteção solar. A ação de Araújo, concentrada na introdução de novos planos para a delimitação de ambientes, como rebaixos de forro e painéis divisórios, além do Ari Mazini Canarim trabalhou com Edgar Graeff, de quem, além de outras influências, provavelmente provêm estas referências: como o sistema de venezianas de guilhotina utilizado anteriormente por Graeff na residência Victor Graeff (1961), no Edifício Presidente Antônio Carlos (1952) e na residência Israel Ioschpe (1953). O projeto, premiado com medalha de bronze no I Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul (IAB/RS, 1960), em terreno de dimensões reduzidas, armava dois apartamentos de três dormitórios por andar, com área de cento e trinta metros quadrados cada, ressentindo-se da existência de um único banheiro. Para uma análise da arquitetura do edifício, organização dos apartamentos e pertinência da concepção em termos atuais, ver: PEIXOTO, Marta. Os novos apartamentos velhos. In COMAS, Carlos Eduardo Dias; PEIXOTO, Marta; MARQUES, Sergio Moacir. O Moderno já passado, o passado no moderno – reciclagem, requalificação, rearquitetura. Porto Alegre: Uniritter, 2000. p. 113-121. . 55 mobiliário e decoração, definitivamente prioriza a ideia de gabaritar o dimensionamento dos elementos de forma a definir planos formais autônomos. Na área social, espaço principal do apartamento, um plano de rebaixamento do teto é estabelecido, dotando outro gabarito de regulagem de altura para os planos verticais: na sala de jantar o forro é rebaixado para dois metros e trinta centímetros, deixando apenas um oco, sobre a mesa de jantar, de dimensões idênticas às da mesa (Fig.78). Este rebaixo percorre todo o perímetro da sala de estar, criando uma espécie de sanca com iluminação embutida em toda a volta, e mais uma vez, como nos projetos das casas realizadas anteriormente, regulando a altura das quatro faces internas do espaço. Na face norte, toda a parede de separação com um dos dormitórios e circulação da ala íntima é substituída por um plano contínuo, de toda altura, com painéis móveis e outros fixos, revestidos de madeira escura, relacionando assim o quarto – transformado em estar íntimo com forro rebaixado – e a circulação – com iluminação artificial embutida no forro – com a sala, de maneira que, com painéis móveis abertos, estar íntimo se transforma em prolongamento da sala de estar. Igualmente o corredor, com a cristaleira em balanço, desenhada por Araújo, em apoio do jantar, com solução funcional e visual análoga à utilizada na sala de estar do FAM, onde cozinha, bar e gabinete se relacionam com a área social de maneira semelhante. O critério de fixar uma altura que gabarita todos os elementos verticais, adotado anteriormente em parte da casa Telmo Ferreira, com a altura da estrutura, mesmo critério formal usado com rigor no FAM posteriormente, de certa forma é adotado aqui. Na face oposta do estar íntimo e acesso ao corredor, o plano horizontal rebaixado, além de suporte para iluminação das obras de arte distribuídas sobre as paredes, serve para caracterizar pequeno hall de acesso e o plano texturizado da face norte espelho do painel de madeira da face oposta (Fig.79). 170 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Fonte: Le Corbusier, Perre Jeanneret. Ouvre Complete, 19101929. Paris: Les Éditions d´Architecture, 1936, p.182 Capítulo 1 Fonte: Foto Leopoldo Plentz, Acervo FAM Fig. 80 - À esquerda, Les Jardin suspendu d´un appartement, Immeubles-Villas, Le Corbusier 192829, Genebra. À direita "Architect Mies Van Der Rohe Relaxing on Couch While Smoking Cigar and Reading at Home", fotografia comercializada na internet. Mies , passando pelos interiores da arquitetura moderna brasileira bem 57 exemplificados pelos projetos de Jorge Hue (1923) . No caso de Araújo, se insere também em outra característica de sua personalidade e forma de projetar: a extrema valorização de cada objeto, cada ação, cada fato. Tudo é Fig. 79 - Apartamento Dicran Gureghiann, Edifício Armênia, Araújo, 1962, Porto Alegre-RS. Eduardo Souto de Moura, em sua Aula Inaugural realizada na FAU- UniRitter, e conferência de encerramento do I DOCOMOMO Sul, em 2006, ilustrou este "espírito", na conclusão da apresentação, com a imagem de Mies sentado na cadeira de balanço Thonet, que teria pertencido a sua avó. Em relação à arquitetura carioca, Moura faz referência justamente a este "tempero": "Gosto de toda essa geração que é menos radical, menos universal. São mais honestos, mais humanos, portanto ganham em qualidade" (Fig.80). Ver: MOURA, Eduardo Souto. Artífice da Pedra. Entrevista de Eduardo Souto de Moura a professores do UniRitter. Conexão UniRitter, Porto onexão, Alegre, 2006. p. 16-17. 57 Jorge de Souza Hue, arquiteto de interiores veterano, amigo de Lúcio Costa, dedicou-se ao estudo do mobiliário tradicional no Brasil. É autor do livro "Uma visão da arquitetura colonial no Brasil" e de projetos de interiores com utilização farta de peças modernas e tradicionais, reunidas, em mais de uma centena de obras de interiores de empresas, escolas, instituições, palácios, residências e apartamentos. Projeto emblemático neste sentido é seu próprio apartamento, situado no Parque Guinle, no Rio de Janeiro (Fig.81). "Agora falo de outra alma, que habita meu corpo e que transferi com toda a nossa ’tralha’ da casa da Santo Avito, a chamada coelheira, para um apartamento no Parque Guinle, projeto do meu mestre Lúcio Costa, que sempre admirara. Tudo foi para lá, móveis, quadros, tapetes, livros, muitos livros e objetos que nos acompanharam por toda a vida, nossos testemunhos permanentes. [...]. Tudo foi transladado com amor, encontrou-se o ponto de equilíbrio correto. Uma arquitetura sapiente e despojada, linda e plena de incríveis virtudes. É a própria definição de estrutura, no seu sentido substantivo. Não há vigas, uma ou duas paredes que marcam os extremos do apartamento e alguns pontos hidráulicos no piso. Espaço livre, onde apenas afloram pilotis que brotam do embasamento para vazar todo o ambiente. Isso nos conduz ao sentido de liberdade plena, que, afinal, é uma qualidade moral que transborda como um endosso natural de nossa personalidade". Ver: HUE. Jorge de Souza. In: PADILLA, Roberto; SOARES, Nair de Paula. Jorge Hue. Rio de Janeiro: 2010, p.39. Sergio M. Marques 171 56 56 Com esta solução, a grande superfície envidraçada da fachada sul se coloca igualmente regrada, na altura, pela sanca que se prolonga do rebaixo e na face inferior, por uma prateleira de concreto, que também serve de assento, que completa a moldura da esquadria. O mobiliário proposto, como diversos interiores residenciais feitos por Araújo, mescla peças antigas e novas, aproveitando objetos existentes e adicionando novos, com desenho sofisticado, que acabam por valorizar todo o conjunto. Assim, na sala, o pesado terno de veludo cinza é justaposto com as mesas de apoio em acrílico e a esbelta prateleira de concreto, desenhadas por Araújo; a mesa de jantar com apoios de latão e tampo de pedra, com cadeiras de madeira escura que suspendem planos brancos de assento e encostos minimamente apoiados, também desenhados por Araújo (Fig.79). Esta maneira de equipar e mobiliar o espaço moderno se insere em um sentido mais flexível e emotivo, do "recheio" da espacialidade abstrata, mesclando o conceito de arquitetura moderna como contêiner diáfano das atividades humanas, presentes desde as imagens canônicas da "máquina de morar" de Le Corbusier (Fig.80), até a cadeira de balanço Thonet, utilizada por Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: HUE. Jorge de Souza. In: PADILLA, Roberto; SOARES, Nair de Paula. Jorge Hue. Rio de Janeiro: 2010. p. 39 Fonte: Fotos Leopoldo Plentz, Acervo FAM Fig. 82 - Apartamento Dicran Gureghiann, Edifício Armênia, Araújo, 1962, Porto Alegre-RS. moderno, estabelece aquele rigor despretensioso ou disfarçado, próprio de ações elaboradas com profundidade (Fig.82). O espírito minucioso dedicado à solução do todo e das partes simultaneamente, no qual o detalhe, a escolha do sistema construtivo e a solução técnica como sofisticação formal, recorrente em Mies, a admiração pela tecnologia e os processos de industrialização e refinamento do desenho do 58 produto, recorrente na Werkbund alemã , são critérios de projeto que fundamentam a formação e personalidade arquitetônica de Araújo, que inicialmente, por intermédio de seus projetos para espaços interiores e desenho 59 de mobiliário, manifestaram-se com mais consistência . Igualmente, o ingresso para a universidade, os contatos com a Semiótica, através do interesse no design, o meio acadêmico da USP, relacionado com o tema e Décio Pignatari, situam o universo cultural frequentado e vivenciado por Araújo naqueles anos de consolidação profissional. Não há conexões diretas entre o interesse no desenho industrial de Araújo e estudos sistemáticos de teorias dos utopistas e adeptos da Deutch Werkbund, porém, por vias indiretas, a evolução de seu pensamento irá se afinar, em parte com a ideia de estetização da máquina e desenvolvimento social através da industrialização, cujos fundamentos se alinhavam com o desenho de vocação funcional teorizado pela Werkbund. Ver: BANHAM, Reyner. Teoria e projeto na primeira era da máquina. máquina São Paulo: Perspectiva, 1979. 59 Alguns colegas, em tom de brincadeira, classificam Araújo como um apreciador da cultura germânica e das características do “povo de organizadores”, como definiu Le Corbusier. Araújo não se põe de acordo que haja esta conexão direta, através de pensamentos e referências arquitetônicas em particular, mas reconhece que o pensamento da Bauhaus de Weimer, marcante na orientação dada por Eugene Steinhof no Curso de Arquitetura da Escola de Engenharia, a presença da cultura alemã no sul do Brasil, expressiva no meio da arquitetura, tanto pela arquitetura eclética produzida no início do século XX, quanto pelas tradicionais empresas de construção atuantes em Porto Alegre, até os anos 1970, como a Azevedo, Moura & Gertun, mas principalmente o apreço pela industrialização e o uso da técnica, potencializado pelas visitas às fábricas alemãs e o contato in loco com o pensamento positivista da werkbund e a admiração por Mies contribuíram na construção de sua formação profissional e pessoal. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 14 jun. 2010. 58 Fig. 81 - Apartamento Jorge Hue, Parque Guinle, Jorge Hue, Rio de Janeiro - RJ. tratado com esmero e atenção, assim elementos e aspectos do projeto, ou mesmo da vida, aparentemente sem importância, ganham sempre uma sobredimensão, que procura sistemática e metodicamente valorizar e usufruir ao máximo o que cada artefato ou episódio tem para oferecer. Essa atitude, ou mesmo maneira de ver e enxergar o mundo e a arquitetura, define uma personalidade significativamente perspicaz e detalhista, ainda que de atos planejados e comedidos, na qual cada parte, gesto ou detalhe tem seu significado e valor, mesmo que aparentemente não recebam atenção. No caso de Araújo, como no de Hue, a hibridez dos espaços internos com este juízo, bastante recorrente no espaço doméstico moderno, de incorporar signos de universos distintos em um marco geral, ordenado pelos princípios do espaço 172 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 60 Capítulo 1 Gott steckt im Detail Do interior ao objeto: mais um alemão no caminho (1962-20??) Araújo, conjuntamente com outros próximos a sua geração, como 61 62 Nelson Ivan Petzold (1931) e Günter Weimer (1939), e professores, como José Carlos Bornancini, nos anos 1960, influenciado pela atenção ao objeto e ao desenho industrial – disseminado pela Bauhaus de Dessau e Walter Gropius, 63 a Hoschule für Gestaltung de Ulm e Max Bill , pela Escola Superior de Desenho 64 Industrial – ESDI de São Paulo e, posteriormente, por Décio Pignatari e a FAU/USP, dedicou-se ou ao desenho gráfico ou do objeto propriamente dito. Neste ambiente, cresceu seu interesse pela qualidade tectônica e formal de artefatos produzidos industrialmente para solucionar engenhosamente problemas típicos do espaço recorrente, através de equipamentos e produtos de design eficientes e sofisticados, assim como o desenho de mobiliário e componentes, ora incorporados à construção, ora projetados para solucionar problemas específicos de arquitetura, além de especificações criteriosas de móveis e materiais consagrados no design internacional, justapostos aos objetos cotidianos valorizados com sua sensibilidade. Dentro do panorama da arquitetura moderna brasileira no sul, Araújo consolidou uma produção consistente de arquitetura de interiores que o acompanhou ao largo de toda carreira, mesmo quando seu escritório já se dedicava a projetos de maior escala e grande envergadura. Esta constante deve-se muito mais à maneira de abordar o projeto do que a oportunidades de trabalho ou nichos de mercado. Efetivamente, o trato do design e da Fig. 83 - Cadeira para o restaurante da REFAP, Cláudio Araújo, 1962, Canoas-RS. Fabricação, Heinz Agte, Móveis Contemporâneos, Porto Alegre-RS 60 Traduzido do alemão: “Deus vive nos detalhes”, aforismo atribuído a Mies Van de Rohe, na verdade interpretação sua de afirmação original de Frank Lloyd Wright. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. Idem. 63 A Hochschule für Gestaltung Ulm (Escola Superior da Forma de Ulm), fundada na Alemanha por Inge Aicher Scholl (escritora alemã, 1917-1998), Otl Aicher (importante designer gráfico alemão, casado com Inge, desenhou o logotipo da Lufthansa e os pictogramas para os jogos de Munique, 1922-1991) e Max Bill (designer gráfico e do produto, arquiteto, pintor e escultor suíço, cursou a Arts and Crafts Academy de Zurique e artes na Bauhaus, foi diretor da escola de Ulm, tendo influenciado o perfil assumido pela escola de desenho industrial de São Paulo. Adepto dos conceitos universalistas da arte concreta de Theo Vandesbourg, suas ideias foram influentes na escola artística conhecida como concretismo paulista, 1908-1994), era estruturada por um curso comum a todas as áreas, o GrundKurs, e depois se desenvolvia em dois ramos: Produto e Comunicação, com disciplinas de ergonomia e história da cultura. A escola, dirigida por Max Bill e posteriormente por Tomás Maldonado (Argentina), passou a colaborar com indústrias, como a alemã Braun, e a valorizar a tecnologia, desenvolvendo um espírito eminentemente funcionalista. Ver: KRAMPER, Martin; HÖRMANN, Günter. The Ulm school of design: beginnings of a project of unyelding modernity. Germany: Verlag Eugen G. Leuze, 2003. 64 A Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) foi fundada em 1962, em São Paulo, como unidade autônoma da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com planejamento de Alexandre Wollner (1928, designer brasileiro, que estudou em Ulm e integrou o pioneiro escritório de design FormInform) e Karl Heinz Bergmiller, influenciados pela escola de Ulm e pelo projeto da Escola Técnica de Criação, elaborado por Tomas Maldonado para o MAM no final dos anos 1950. Ver: SOUZA, Pedro Luís Pereira de . ESDI – Biografia de uma ideia. Rio de Janeiro: UERJ, 1996. 62 61 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU / UniRitter Sergio M. Marques 173 Fonte: Acervo FAM, Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 84 - À esquerda, Stand Metalúrgica Abramo Eberle S.A., Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Centro de Exposições do Menino Deus, Porto Alegre-RS. À direita, Stand Indústria Rio Grandense de Pescados, Cláudio Araújo, 1969, Rio Grande-RS. sofisticação formal incorporada a todas as escalas do projeto fez com que sua produção fosse pautada por partidos arquitetônicos e soluções espaciais relativamente simples, muitas vezes marcados por uma matriz elementar quase engenheril, desenvolvida com significativo controle tectônico e desenho das partes apurado. Evidentemente, seu interesse no design, na comunicação visual e na semiótica advém desta abordagem, a partir da qual o desenho de mobiliário e componentes associados ao projeto de arquitetura ganhou especial 65 importância em sua carreira . Nos projetos de arquitetura de interiores, esta ação foi uma constante importante. Em sua participação no projeto de interiores do Refeitório da REFAP, para o qual desenhou as cadeiras do restaurante (Fig.83), substituindo outra alternativa desenhada por Armênio Wendhausen, cujo protótipo apresentou problemas no processo de especificação e fabricação do mobiliário, 66 consolidou relações com Heinz Agte , representante de um dos fornecedores, No inicio dos anos 1960, além dos projetos para interiores e mobiliário, Araújo com Mancuso projetou o Stand, para a Metalúrgica Abramo Eberle S.A, construído para Exposição Agropecuária no Parque de Exposições do Menino Deus, em 1960 (Fig.84) . 66 Heinz Agte foi indicado para o serviço da REFAP, por Moojen, através dos trabalhos realizados para o SESC. Agte nasceu na Alemanha, e tendo passado dificuldades durante a guerra, fugiu com parte da família, pelo lado oriental, e veio ao Brasil. Aqui trabalhou primeiramente como mecânico de automóveis e depois, através de um tio, ligado ao grupo da rede de Hotéis Plaza, ingressou no ramo de venda de mobiliário e elementos para arquitetura de interiores, trabalhando primeiramente como gerente de uma loja de móveis sofisticados também de seu tio, onde desenvolveu certo 65 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fig. 85 - Interiores da Assembleia Legislativa, Cláudio Araújo e Heinz Agte, 1968, Porto AlegreRS. que posteriormente desenvolveu sua própria fábrica de móveis: a Móveis Contemporâneos. Araújo e Heinz se tornaram amigos, e o interesse comum pelo projeto de mobiliário os levou a diversas parcerias. Realizaram trabalhos de arquitetura de interiores para o Grupo Ipiranga, como hotéis, paradouros, stands (Fig.84) e para a Assembleia Legislativa (1968), cuja licitação foi vencida 67 pela Móveis Contemporâneos (Fig.85) . Ainda no final dos anos 1960, Araújo 68 realizou o projeto de interiores do Cotillon Club (1967) , mobiliado por Heinz Agte, cujo presidente era Ricardo Eichler, proprietário do edifício onde Araújo senso estético e criou a Móveis Contemporâneos, prestigiada fábrica de móveis modernos de Porto Entrevista. Alegre dos anos 1960-1970. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 02 dez. 2011. 67 No projeto para a Assembleia, Araújo tratava com Oswaldo Goidanich, representante da instituição, o mesmo que anteriormente representou a Assembleia nas tratativas para a permuta da área do Auditório Araújo Vianna com Fayet e Moojen representando a P.M.P.A (ver capitulo FM). 68 Um clube social da alta sociedade, aparelhado com restaurante e boite, frequentado por Araújo e Mary Suzana, muitas vezes com Moojen e Maria Ivone, que funcionava na Avenida Senador Salgado Filho, no Edifício Paraguay, e mudou-se para o edifício do cinema Cacique, na Rua dos Andradas, abrindo espaço para o MARGS, que ali se instalou. Um projeto que Araújo depõe ter apreciado muito, em especial a escada feita com grossas chapas de aço dobradas, das quais, infelizmente, não se localizou nenhum registro gráfico ou fotográfico. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes; MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 21 jan. 2009. 174 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fig. 87 - Casa Heinz Agte, Cláudio Araújo, 1970, Porto Alegre-RS. Fig. 86 - Casa Heinz Agte, Cláudio Araújo, 1970, Porto Alegre-RS. morava logo que casou, no final dos anos 1950. Mas o clímax destas ações conjuntas foi o mobiliário produzido para o apartamento de Araújo no Edifício FAM, desenhado com a colaboração de Comas, em troca do projeto para a 69 casa de Heinz (1970) (Fig.86). A residência, localizada na Avenida Nilo Peçanha esquina com a Alameda Alípio César, infelizmente demolida e substituída por um posto de gasolina, introduziu uma experiência formal rara na obra de Araújo. Todos os elementos da arquitetura abstrata cultivados desde a loja Senador e a Casa Kopstein (ver capítulo Paralelos longitudinais – Peças de um mesmo jogo: Apartamento Rafael Strougo e Residência David Kopstein (1966) e consolidados no Edifício FAM estavam presentes, como a definição de planos autônomos, as esquadrias de dimensões generosas ocupando integralmente os vãos, paredes internas substituídas por painéis leves contínuos, elementos porosos afastados da fachada como fator de sombreamento e privacidade. No entanto, acompanhando a mudança de geometria da avenida para o interior do quarteirão, armada por suave curva, onde os lotes se abrem em leque, o projeto, em gesto de nítida adequação à condição urbana, conforma através de superfícies curvas, que acompanham a curvatura da esquina, uma fronteira 69 1ª premiação IAB-RS, projeto premiado, Porto Alegre (1971). Doutorado entre espaço público e privado. Na verdade, um único plano contínuo, paralelo ao alinhamento, une divisa leste a oeste, intervalado pela mudança de textura dos muros brancos, dos planos das aberturas e da fenda ortogonal na divisa leste, criada para o acesso principal (Fig.87). Assim, a composição geral é resumida em uma laje plana, de concreto aparente, de borda delgada, configuração irregular e vértices curvos, apoiada em muros brancos que acompanham o perímetro da laje em determinados casos e rompem em outros em uma curiosa composição, como a casa Ugalde de Coderch (1951) (Fig.88) ou a Villa Saracena de Luigi Moretti (1953-57) (Fig.88). Sala e dormitórios, a norte, se abrem para os fundos do lote, onde o prolongamento da laje na forma de pérgulas "engaiola" o pátio, solução usual nas casas californianas e de paulistas, como a de Rino Levi, tornando franca a relação entre área íntima e exterior (Fig.89). A sutileza e sofisticação das partes, normalmente associadas às estratégias espaciais de Araújo, que neste caso prosseguem com os negativos entre os muros e os planos horizontais, a inserção de equipamentos incorporados à estrutura da casa (Fig.89.1) e os jogos com volumes do forro (Fig.89.1), mas em especial a arquitetura de interiores, de certa frugalidade requintada, misturando moveis modernos desenhados por Araújo e fabricados por Agte a elementos consagrados do design internacional com peças antigas, fazem deste projeto uma conjunção especial de arquiteto e promotor concorrente da arquitetura moderna. Assim, Araújo foi bem sucedido na contínua atenção a todos os níveis de caracterização e complementação da obra, sendo que sua parceria com a Sergio M. Marques 175 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: . Fig. 88 - À esquerda, Casa Ugalde, Josep Antoní Coderch, 1951, Caldes d´Estrac - Barcelona. À direita, Villa La Saracena, Luigi Moretti, 1953-57, Santa Marinella-Roma. Fonte: Acervo FAU/UniRitter. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter João Alberto da Fonseca Fig. 89.1 - Casa Heinz Agte, Sala de estar e jantar, Cláudio Araújo, 1970, Porto Alegre-RS. Fig. 89.2 - Casa Heinz Agte, Cláudio Araújo, 1970, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 89.3 - Casa Heinz Agte, pátio dos dormitórios, Cláudio Araújo, 1970, Porto Alegre-RS. Fig. 89 - Casa Heinz Agte, pátio dos dormitórios, Cláudio Araújo, 1970, Porto Alegre-RS. 176 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 90 - Escrivaninha para escritório e poltrona, Cláudio Araújo, década de 1960. Móveis Contemporâneos, de seu amigo Heinz, oportunizou a produção industrial e a comercialização em série dos protótipos pensados em diferentes trabalhos. A partir desta relação, chegou a desenhar todos os móveis que Heinz fabricava. Projetava as peças e os desenhos eram produzidos por um ex70 desenhista da Petrobras, na própria fábrica . A industrialização do mobiliário no Rio Grande do Sul com atenção ao design de certa forma faz paralelo ao processo de industrialização da construção, que coincidiu ou decorreu, mas não precedeu, a arquitetura moderna no país. Ou seja, o desenho e o projeto precederam as condições de produção. A industrialização de mobiliário de escritórios foi pioneira, já que a vanguarda da arquitetura moderna brasileira, em especial a carioca, tinha nos edifícios públicos sua principal demanda. No entanto, o desenvolvimento de uma tradição no design nacional só foi se consolidar justamente nos anos 1960. CURTIS afirma que: Foi a década de 1960 que assinalou um dos períodos mais expressivos da história do móvel brasileiro, ao refletir um pouco do ritmo intenso do processo cultural. O meio artístico e cultural brasileiro nos anos 1960 foi efervescente, fruto da confluência de crises em vários setores da sociedade. Toda essa conjuntura acabou por constituir um novo projeto estético, na luta por uma 71 arte nacional e de contestação . Fonte: Foto Sergio Marques, 2011 Fig. 91 - Mesa "Buffet", Gerrit Rietveld, 1919 (protótipo original em exposição em Utrech). parceiros . Segundo FONTOURA, a produção de mobiliário em escala industrial, no Rio Grande do Sul, começou em 1955 com a Barzenski S. A. em Bento Gonçalves, a Florence e Toigo em Flores da Cunha e a Thonart em 73 Canoas, logo a seguir . Neste contexto, segundo GOBBI, foi fundamental o papel desbravador dos designers Bornancini e Petzold, amigos e colegas de 74 Araújo, e sua ação sobre indústrias como a Todeschini e, segundo CURTIS, o papel do próprio Manlio Gobbi como um dos principais promotores do design no Estado. "Especificamente no Rio Grande do Sul, Gobbi assinala empresas como a Heinz Agte, com móveis desenhados pelo arquiteto Cláudio Araújo, 75 Brixner S. A., Artema, FMI e Heuser, com uma linha própria de escrivaninhas" . Em Porto Alegre, os catalães Paco e Colé, que trabalharam na restauração do Teatro São Pedro, eram fiéis executores dos projetos de marcenaria da vanguarda local. Fayet, Araújo e Moojen recorreram a eles inúmeras vezes. 73 FONTOURA, Ivens. Uma visão do design moveleiro latino- americano Bento Gonçalves: Salão latino-americano. Design Movelsul, 2006. 74 GOBBI, Manlio. Designare, um sonhar acordado. In: BOZZETTI, Norberto; BASTOS, Roberto (Orgs.) Pensando Design 2. Porto Alegre: UniRitter, 2008. p. 14-49. 75 Manlio Maria Gobbi, Economista, Diretor da empresa familiar Manlio Gobbi Ltda. de comercialização de móveis para escritórios, de fabricação própria ou importados da Itália, com desenho de Zanuzo, Belgioioso e Morello, em sua loja "Domus", localizada no térreo do edfício sede do IAB-RS, realizava, duas vezes por ano, recepções aos formandos de arquitetura, na forma de um Fórum de discussão sobre design, com a presença de alunos, arquitetos professores, empresários e clientes. Ver: CURTIS, Maria do Carmo. Manlio Gobbi, um pioneiro do mobiliário no Rio Grande do Sul. Desenhando o Futuro. Anais do 1° Congresso Nacional do Design, 2011. Design Sergio M. Marques 177 72 72 No sul, era relativamente recente este processo, sendo comum, até o final dos anos 1950, o mobiliário moderno proposto pelos arquitetos ser produzido artesanalmente por marceneiros, que se tornavam célebres 70 ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 12 out. 2011. 71 CURTIS, Maria do Carmo. Manlio Gobbi, um pioneiro do mobiliário no Rio Grande do Sul. Desenhando o Futuro. Anais do 1° Congresso Nacional do Design, 2011. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Araújo desenvolveu um sistema de articulação estrutural com peças metálicas que adotou em diversas peças de mobiliário, como escrivaninhas, poltronas e mesas de centro. Na verdade, a lógica consistia, mais uma vez, em independizar a estrutura do móvel de seus planos de fechamento, criando uma espécie de exoesqueleto, no qual barras metálicas duplas abraçam as horizontais simples, que, por sua vez, se balanceiam para o exterior, expressando sua autonomia como peça resistente e individualidade como peça formal, dentro de critérios de projetos familiares ao De Stjil (Figs.90). De certa maneira, todo o universo de mais de sessenta peças de mobiliário, nem todas consagradas, desenhadas por Gerrit Rietveld, seguem princípios semelhantes (Fig.91). A cadeira para a REFAP, posteriormente utilizada na sede do IAB-RS, muda o sistema construtivo, adotando encaixes de madeira. Peças verticais e horizontais, igualmente definida com autonomia visual, são articuladas por pitões de madeira. O assento, apoiado sobre transversais, flutua sobre a estrutura, dado o balanço e negativo que cria com estes, em um recurso visual semelhante ao utilizado nos projetos de arquitetura (Fig.83). As poltronas desenvolvidas para a Assembleia Legislativa, em função do caráter do uso, adotam uma linha mais solene e sóbria, de caráter executivo, com peças revestidas em couro, com bordas arredondadas e o pé metálico central apoiado em uma "pata de galinha" (Fig.92). Deste tipo, filiado, segundo Araújo, aos desenhos de Charles Eames, como a poltrona Charles Eames (a qual Araújo adotou para si no edifício FAM), foram fabricados diversos "derivados" adaptados para poltronas de auditório e de estar (Fig.92). Ainda um conjunto de sofás e poltronas – estruturados por um plano contínuo que dobrado faz os apoios verticais, o antebraço e o assento das peças – cria um terceiro sistema formal elaborado por Araújo e produzido pela Móveis Contemporâneos. Assento e o encosto autoestruturado dão a Fonte: Foto Sergio Marques, 2011 Fonte: Foto Sergio Marques, 2011 Fig. 92 - Poltronas para a Assembleia Legislativa, Cláudio Araújo, 1968, Móveis Contemporâneos. Fig. 93 - Conjunto de sofá, poltronas e mesas de apoio, Cláudio Araújo, Década de 1960, Móveis Contemporâneos. Fig. 94 - Mesa com apoio "pé de galinha" e poltrona de madeira, Cláudio Araújo, Década de 1960, Móveis Contemporâneos. 178 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL Fonseca, 1950 a 1970 Capítulo 1 Paralelos transversais: Arquitetura de interiores no interior da academia (1958-1968) da Fig. 95 - Mesas para Escritório, Cláudio Araújo, Década de 1960, Móveis Contemporâneos. Fonte: BORONAT, J. Yolanda. RISSO, Marta R. Roman Fresnedo Siri – Um Arquitecto Uruguayo. Universidad de la republica, Facultad de Arquitectura, Insituto de História de la Arquitectura, Montevidéu, 1990, p. 70 Com a atividade profissional em marcha, em especial a atuação em projetos de pequena escala, e certa repercussão no meio acadêmico do projeto para a Loja Senador, Araújo foi convidado a candidatar-se, como docente na FA-UFRGS, para a disciplina Composição Decorativa, junto ao seu ex-professor 76 Frederico Michel Müller . Araújo classifica que a loja foi um momento de inflexão na arquitetura que vinha desenvolvendo e, tanto pela repercussão quanto pelo 77 convite, foi também uma espécie de marco em sua carreira . Prestou exame para o ingresso, em 1958, que consistia na realização de um projeto relacionado ao tema, a ser examinado por banca de avaliação, conjuntamente com Moojen, que ingressava na sequência de Urbanismo. Aprovado, foi Instrutor de Ensino desta disciplina de 1959 a 1965, quando assumiu sua regência até 1968, ano em que decidiu afastar-se da docência, descontente com a condição política da universidade, assim como com o ambiente 78 acadêmico desfavorável ao ensino de arquitetura . Dentro da disciplina, começou a desenvolver com os estudantes exercícios de projetos de elementos aplicados à arquitetura, como vasos 79 sanitários, lavatórios, maçanetas, mobiliários e utensílios . Araújo conduziu, portanto, o foco da disciplina Composição Decorativa para o desenho industrial Fonte: Acervo FAU/UniRitter João Alberto Fig. 96 - Mesa de escritório e poltrona de madeira para o Edifício para la Comisíon Honoraria para la Lucha Antituberculosa, Roman Fresnedo Siri, final da década de 1950, Montevidéu . impressão de almofadas flutuando, assim como os pequenos apoios niveladores, junto ao solo, descolam todo o conjunto do plano horizontal (Fig.93). Outros produtos, alguns mais simples, foram desenvolvidos a partir destes ou da combinação entre eles, como a mesa redonda (Fig.94), a poltrona de madeira (Fig.94), e as mesas de escritório (Fig.95), que, por sua vez, fazem paralelo aos móveis desenhados por Román Andrés Fresnedo Siri (1903-1975) para o Edificio de la Comisión Honorária para la Lucha Antiberculosa (1959), em Montevidéu (Fig.96), elementos entre várias dezenas de peças que Araújo desenhou para a produção artesanal ou industrial, sempre visando completar a arquitetura. Müller realizou entre outros trabalhos, o projeto de interiores do edifício da Reitoria da UFRGS. Ver: DALAROSA. Janaína Carla. Restauração do complexo da reitoria da UFRGS. Anais do VII Brasil, Seminário DOCOMOMO Brasil O Moderno já Passado | O Passado no Moderno – reciclagem, requalificação, rearquitetura, 2007. Disponível em: Acesso em 19 ago. 2008, às 12h 43min. 77 ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 21 jun. 2010. 78 Araújo, Moojen e Cirillo Crestani, no final dos anos 1960, desgostosos com a conjuntura, que de um modo geral desvalorizava o aprendizado das especificidades da profissão e o exercício do ofício, afastaram-se da Universidade, solicitando o desligamento junto à Reitoria, no mesmo dia. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes; MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 21 jan. 2009. Araújo retornou ao ensino na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Ritter dos Reis, em 1990, até sua aposentadoria em 2010. Inicialmente, foi convidado para lecionar Arquitetura e Comunicação Visual, disciplina teórica, estruturada por Nico Rocha nos anos 1970, dedicada aos fenômenos da comunicação na arquitetura, Teoria da Informação, Semiótica, Gestalt e estudos da forma em geral. No entanto, não teve disposição de retornar a este tema e se dirigiu ao ensino do projeto na conclusão do curso, sendo um dos criadores e fundadores do Núcleo de Projetos da FAU-UniRitter. 79 Neste período, por exemplo, Comas (que realizou um jogo de copos de vidro) foi aluno de Araújo, em um semestre em que a disciplina organizou exposição na qual alguns protótipos foram executados por empresas da área. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao Entrevista. autor. Gravação digital. Edifício FAM, 21 jun. 2010. Sergio M. Marques 179 76 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado contextualizado na arquitetura, em parte baseado na experiência da FAU-USP , ambiente com o qual passou gradativamente a ter contato. Conjuntamente com Petzold e com o apoio de Bornancini, chegaram a propor e planejar montagem de sequência de Desenho Industrial na Faculdade de Arquitetura, aos moldes da FAU-USP, iniciativa interrompida com sua prematura saída da Universidade. Neste período, através do relacionamento e afinidades do meio acadêmico gaúcho com São Paulo, Vilanova Artigas e a FAU-USP, estabeleceu relações 81 com Lúcio Grinover , professor da área na FAU-USP e primeiro presidente da 82 Associação Brasileira de Design – ABDI , Luiz Gastão de Castro Lima (192783 84 2003) e Michel Arnoult (1922-2005) (Fig.99). A sequência de desenho industrial da FAU-USP foi implantada em 1962, face à expansão da atividade no campo profissional, decorrente da industrialização e do desenvolvimento urbano do país nos anos 1950. Ver: BRAGA. Marcos da Costa. ABDI: história concisa. Agitrop Revista Agitrop, Brasileira de Design, Ensaios. Ano III, n. 26. Disponível em: . Acesso em 17 dez. 2011, às 18h 24min. 81 Formado pela FAU-USP em 1957, professor titular e doutor livre-docente (1966) da FAU-USP. Foi diretor da escola por dois mandatos, colaborou com diversas organizações acadêmicas, e com a UNESCO. Atua na área do desenho industrial, desenho urbano e arquitetura da hospitalidade, sobre a qual recentemente lançou publicação. Ver: GRINOVER, Lúcio. A hospitalidade, a cidade e o turismo. São Paulo: Aleph, 2007. 82 Criada em 1963, a ABDI foi a primeira associação profissional de design no Brasil e a única até 1978. Com a expansão da industrialização no país, o desenvolvimento urbano ocorrido desde os anos 1950 e o otimismo ainda remanescente do período JK, os profissionais da área de arquitetura e design, "que até então tinha sua grande base no campo do mobiliário e interiores, fruto da atuação predominante de arquitetos partidários do estilo moderno desde os anos de 1920", conjuntamente com intelectuais acadêmicos da área da arquitetura e desenho industrial, implantaram o ensino regular de design na FAU-USP, em 1962, e na Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI, no Rio de Janeiro, criada no mesmo ano. Alguns destes, conjuntamente com profissionais da área, do eixo Rio-São Paulo, entenderam que era o "momento propício, de assumirem um papel mais coletivo do que pura e simplesmente um papel de professor ou simplesmente de profissional” e fundaram a ABDI, entre eles Lúcio Grinover, professor da FAU/USP, primeiro presidente da associação (1963-1968), João Carlos Cauduro, Abraão Sanovicz, Rodolfo Stroeter, Alexandre Wollner, Carl H. Bergmiller, Décio Pignatari, Willys de Castro, Fernando Lemos e empresários da área como Leib Seincman, da indústria de móveis Ambiente, mais tarde indústria Probjeto. Na década de 1960, havia tanto sócios gaúchos na ABDI quanto do Rio de Janeiro: Arquiteto Armênio Wendausen, Engenheiro Mecânico Celso Raimundo de Couto, Arquiteto Cláudio Araújo, Arquiteto Nelson Petzold, Eng. José Carlos Mário Bornancini, Heinz Agte, entre outros. Ver: BRAGA. Marcos da Costa. ABDI: História Concisa. Agitrop Revista Brasileira de Design, Ensaios. Agitrop, Ano III, n. 26. Disponível em: . Acesso em 17 dez. 2011, às 18h 24min. 83 "Desde a década de 50, o ensino de arquitetura em São Paulo enfocou uma grande discussão de valores éticos e estéticos, tendo como centro difusor a Faculdade de Arquitetura da USP e como principal articulador Vilanova Artigas. Na época, duas linhas divergiam no âmbito do discurso arquitetônico, dentro e fora da universidade: os racionalistas e os organicistas, ou como costumavam se declarar, os corbusierianos e os wrightianos. Os dois grupos geraram, no seio da 80 80 Os anos 1960 foram de expansão e consolidação da atuação de arquitetos e designers no desenho industrial brasileiro, e a ABDI surgia com o objetivo, entre outros, de contribuir para o desenvolvimento de cultura sensível ao design no meio social e produtivo, através da promoção de eventos e publicações, assim como divulgação e ampliação do mercado, estabelecendo 85 parcerias com indústrias e agentes do setor . Através destes contatos e filiação à ABDI, Araújo manteve intenso e efervescente intercâmbio com profissionais, professores e indústrias do meio, que se traduziam em experiências para os estudantes, tais como o conjunto de móveis desmontáveis da Mobília Contemporânea, que Michael Arnoult cedeu à Disciplina de Composição Decorativa para os estudantes realizarem exercícios. Ainda neste período de ligação com o desenho industrial e o meio acadêmico, chegou a trabalhar um ano para a Admiral, indústria de Eletrodomésticos, para a qual desenhou peças para geladeiras e circuladores de ar de cozinhas (utilizados nas cozinhas do FAM, adaptados às caixas de concreto das cozinhas). Na última etapa de atividade docente, Araújo de certa maneira se dedicou a teoria, em particular com a emergente análise semiótica e a teoria da informação no meio da arquitetura. Esse interesse e contatos consequentes, através de relações ocasionadas pela atividade acadêmica, se estenderam também ao IAB-RS, cuja presidência Araújo exercia entre 1966 e 1967 e onde importantes eventos relacionados a este meio foram realizados, em conexão com a universidade. discussão moderna nacional, debates interessantes que foram muitas vezes além do aspecto arquitetônico. Entre os declaradamente wrightianos, estava o jovem Luiz Gastão de Castro Lima, formado pela FAU-USP em 1954, depois de ter cursado dois anos na Politécnica." Ver: BERNARDI Cristiane Kröhling Borges. Luiz Gastão de Castro Lima trajetória e obra de um arquiteto. Lima: [Dissertação de mestrado]. ANELLI, Renato (Orient.). São Carlos: USP, 2003. Resumo. 84 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 85 "Os objetivos da entidade abrangiam cinco ações principais: a) reunir ‘os desenhistas industriais que exercem a profissão no país’ e servir de fórum de aproximação com quaisquer interessados no desenvolvimento do desenho industrial no Brasil; b) atuar ‘na criação de condições favoráveis ao desenvolvimento do desenho industrial’ e ‘contribuir para a qualificação técnico-formal e cultural do produto industrial’ através de diversificados eventos e ações; c) ‘divulgar e documentar as atividades dos sócios’; d) assessorar os sócios em suas relações profissionais, destacando o registro autoral na própria ABDI; e) ‘desenvolver gestões no sentido do reconhecimento e regulamentação da profissão’”. ESTATUTOS Sociais da Associação Brasileira de Desenho Industrial. In: Desenho Industrial: aspectos sociais, históricos, culturais e econômicos. São Paulo: Fórum Roberto Simonsen/FIESP/ABDI, 1964. p. 101. 180 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fig. 97 - 1ª Edição de Opera Aperta, Umberto Eco (Milão: Casa Ed. Valentino Bompiani, 1960). Casa sede da Fazenda Capuava, Flávio de Carvalho, 1938-1939, Valinhos-SP. Em 1966, Araújo foi enviado a São Paulo, pela Faculdade de Arquitetura, para assistir ao curso "Problemas de Comunicações de Massa", organizado pela ABDI, patrocinado pela Divisão de Cooperação Intelectual do Ministério de Relações Exteriores e a Olivetti Industrial S. A., ministrado pelo 86 teórico Umberto Eco (1932) (Fig.97). Hospedou-se com Flávio de Carvalho (1899-1973), que havia realizado a exposição de abertura da galeria de arte do 87 IAB-RS, na gestão de Araújo (Fig.97). Além do curso de Eco, Araújo acompanhou parte de outro curso: "Teoria da Informação e Comunicação Visual", promovido pela Associação Paulista de Propaganda, ministrado por 88 Décio Pignatari (1927) , com quem iniciou longa amizade, estendida à vinda de Pignatari a Porto Alegre para a realização de curso análogo, no IAB-RS, a partir do qual Pignatari organizou seu livro referencial. Por conta desse episódio, a publicação "Informação, Linguagem e Comunicação" abordando a semiótica (Fig.98), motivado pela mesma análise peirciana de Umberto Eco, abre com agradecimentos a Araújo. Cláudio aproveitou a mesma viagem para outras articulações e contatos que julga igualmente importantes: estreitou relações com o professor Luiz Gastão de Castro Lima, responsável, na época, pela sequência de Desenho Industrial da FAUSP, quando trocaram experiências sobre as disciplinas e atividades acadêmicas, assim como acompanhou atividades de ateliê de projeto e desenho industrial. Luiz Gastão e um auxiliar ministraram na FA-UFRGS, à convite de Araújo, curso sobre a utilização da fibra de vidro na produção de mobiliário. Também realizou diversas visitas a escritórios e empresas ligadas ao design, como o Form-inform, escritório dedicado à comunicação visual e desenho industrial, acompanhado por Rubens 89 de Freitas Martins , e a empresa FORMA, indústria associada à Knoll International, dedicada à fabricação de mobiliário com design assinado por arquitetos de renome internacional, na qual foi acompanhado pelo diretor 90 arquiteto Carlos Pallis ; à loja da Mobília Contemporânea, acompanhado pelo Fonte: As aulas do curso de Eco foram ministradas no Salão Pandiá Calógeras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em um total de dezoito horas-aula, entre os dias 10 e 29 de agosto daquele ano. Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 87 Araújo se hospedou no apartamento de Flávio de Carvalho, na Avenida Paulista, onde o anfitrião realizou recepção com artistas paulistas para comemorar a exposição realizada em Porto Alegre, já que vinha de certo ostracismo em São Paulo, dadas suas atitudes excêntricas. Na mesma estadia, foram todos, acompanhando Umberto Eco em um final de semana, na casa sede da Fazenda Capuava (1938-1939), de Flávio, em Valinhos-SP (Fig.97), construída na propriedade de seu pai, plantador de café, para uma festa com convidados do meio cultural. Nesta casa com forma de mastaba, camas de concreto e uma coleção de obras de arte admirável, Flávio de Carvalho seguidamente fazia festas célebres. Ainda em outro final de semana, o grupo constituído por Grinover, Décio Pignatari, Umberto Eco, Lívio Levi, Rubem Martins e Araújo se deslocou para a casa de Michael Arnoult, em Ilhabela. Tocou para Araújo dividir um pequeno quarto e beliche com Umberto Eco: uma noite em claro com o parceiro que roncava extraordinariamente. ARAÚJO, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 86 Cláudio Luís Gomes; MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 21 jan. 2009 88 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 89 Um dos primeiros escritórios de design criados no Brasil (1958), pelos artistas Geraldo de Barros, Rubem Martins e Walter Macedo e, posteriormente, Alexandre Wollner e o alemão Karl Heinz Bergmiller, ex-alunos da Hochschule für Gestaltung – HfG (Escola Superior da Forma), de Ulm, a mesma onde estudou Ghünther Weimer. Form-inform introduziu no Brasil a ideia "gestáltica" de signos visuais ao invés do nome de produtos. Fez trabalhos, entre outros, para a indústria de pescados Coqueiros, Elevadores Atlas, Embalagens Ibesa e Tecelagem Argos. Ver: WOLLNER, Alexandre. Design visual 50 anos São Paulo: Cosac & Naify, 2003. Na visita guiada por Martins, anos. Araújo viu os projetos de comunicação visual e desenho industrial para os Laboratórios Procieux, Casa Almeida & Irmãos, Balas Bela Vista e Prima Eletrodomésticos (Figs. 99). Ver: ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Relat ório de viagem a São Paulo encaminhado ao diretor Werner Grundig. Cópia Relatório datilografada. Porto Alegre, 05 mar. 1967. 90 A visita foi realizada na antiga fábrica do grupo, no bairro Itaim, onde funcionava a estofaria, serralheria e mecânica, e na nova fábrica, na BR-116, em Taboada, onde lhe chamou a atenção o processo no qual eram usinadas as toras de jacarandá. Araújo cita peças fabricadas pela FORMA, desenhadas por Eero Saarinen, Charles Pollock, Richard Schultz, Mies van der Rohe, Harry Bertoia, Isamu Noguchi, Pierre Jeanerret, Franco Albini e Florence Knoll. Ver: ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Relatório de viagem a São Paulo encaminhado ao diretor Werner Grundig. Cópia datilografada. Porto Alegre, 05 mar. 1967. Sergio M. Marques 181 arquiteto Michel Arnoult (1922-2005) ; e, finalmente, visitas às lojas das indústrias OCA e L´Atelier. Araújo relata ainda ter tido oportunidade de conviver com o meio cultural em São Paulo, o qual Umberto Eco compartilhou em sua estadia, acompanhando as atividades sociais programadas, com personagens, 92 93 entre outros, como Nathalie Sarraute (1900-1999) , Michel Simon (1895-1975) 94 e Giuseppe Ungaretti (1888-1970) . Esta participação nos Cursos em São Paulo, visitas e contatos tiveram certo impacto em sua atuação e interesse no universo da comunicação visual e do design, mas igualmente potencializaram relações pessoais e culturais que tiveram desdobramentos no meio gaúcho e no IAB-RS, como a vinda de Umberto Eco, convidado por Araújo, para conferência no IAB-RS e FA-UFRGS, patrocinado pela Olivetti, as relações com Michael Arnoult e a Indústria Mobília Contemporânea, a realização do curso de Décio Pignatari no IAB-RS e a exposição de Flávio de Carvalho em Porto Alegre, cuja hospitalidade em São Paulo foi memorável, assim como os episódios de convivência. Fonte: 91 Fig. 98 - 1ª Edição de Informação, Linguagem, Comunicação, Décio Pignatari (São Paulo: Perspectiva, 1969). Logomarca da Eucatex, Sardinha Coqueiro e outras, Form-Inform, anos 1960, São Paulo. 91 Nascido na França, formou-se em arquitetura no Rio de Janeiro e trabalhou com Oscar Niemeyer. Conjuntamente com o arquiteto escocês Norman Westwater, formaram a indústria dedicada à ideia de levar o design ao grande público, adotando conceitos do início da industrialização, como eficiência da produção em série, modulação e redução no número de peças. Iniciou a produção em Curitiba e depois em São Paulo e Rio de Janeiro, até 1973, quando encerrou as atividades. Ver: DENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher, 2000. Araújo, em relação à produção e ao desenho dos dois arquitetos, afirma que "parece ser a tentativa mais séria de industrialização do móvel de custo médio em nosso país [...] sendo o resultado de dez anos de pesquisa nas séries de móveis modulados de madeira, cujo projeto leva em conta a automatização de diversas operações industriais". Ver: ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Relatório de viagem a São Paulo encaminhado ao diretor Werner Grundig. Cópia datilografada. Porto Alegre, 05 mar. 1967. p. 5. 92 Escritora e advogada francesa de origem russa, cujo nome verdadeiro era Natacha Tcherniak, filiada ao movimento nouveau roman, espécie de renovação romanesca publicada na França no pós-guerra. Ver: PORTELA FILHO, Artur Alfredo e. O novo romance . Lisboa: Editorial Presença, romance. 1962. 93 Artista suíço, protagonista de mais de duas dezenas de filmes, como Panic (1946), por Julien Duvivier; Les Amants du pont Saint-Jean (1947); La Beauté du diable (1950), por René Clair; Poison (1951), por Sacha Guitry; The Impossible Mr. Pipelet (1955), por André Hunebelle. 94 Poeta, nascido em Alexandria, filho de italianos, estudou na Sorbonne e lutou na Primeira Guerra Mundial. Morou no Brasil de 1936 a 1942, dando aulas de italiano e literatura italiana na USP e, durante a Segunda Guerra, voltou à Itália, sendo professor da Universidade de Roma. Araújo cita que, na época, Ungaretti presidia a Comunidade Europeia de Escritores e o Comitê de atividades Culturais da Comissão Italiana da UNESCO, assim como era apontado como um provável detentor do Prêmio Nobel. Acompanhando Ungaretti, teve a oportunidade de assistir ao concerto do Quarteto Viotti de Turim, no auditório da rádio Eldorado. Ver: ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Relatório de viagem a São Paulo encaminhado ao diretor Werner Grundig. Cópia datilografada. Porto Alegre, 05 mar. 1967. p. 6. 182 Fonte: . http://acervodeinteriores.com.br/cadeiras-famosas/ Fig. 99 - Casa Grinover, Lúcio Grinover, 1964, São Paulo. Cadeira Sabará, década de 1960, Michlel Arnoult, Mobília Contemporânea, São Paulo. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Um passeio político com tonalidades estéticas: Breve passagem pelo IAB/RS (1966-1967) Araújo, no final do período dos projetos para a Petrobras, durante o projeto do edifício FAM, e em paralelo às atividades na universidade, disputou eleição à presidência do IAB-RS, motivado pelos colegas que compunham a chapa, concorrendo com José Américo Ferreira, conectado ao grupo de Danilo Landó e outros, tido como ligado a Plínio Salgado e à direita. Isso o colocou, de certa forma, como representante da esquerda no certame. A disputa entre os dois grupos já vinha em marcha, desde a faculdade, quando Pasqualli, colega de Araújo da engenharia, venceu Landó na direção do Diretório Acadêmico da FA-UFRGS. Araújo, como os demais de sua geração, acompanhou de perto a conformação do IAB-RS em seus primeiros anos. Foi representante do Instituto, como suplente no Conselho do Plano Diretor da Cidade (1957-1958), quando 95 estava em elaboração o Plano Paiva, e tesoureiro daquela diretoria . Dada a espontaneidade do IAB no período inicial e sua itinerância nos escritórios de arquitetura antes de possuir sede própria, muitas reuniões de diretoria eram realizadas em seu escritório com Mancuso. 96 A gestão de Araújo na presidência (1966-1967) foi marcada pela primeira diretoria a ocupar a sede própria no Edifício IAB, projetado por Fayet, o que contribuiu para a efervescência cultural do momento. Com a casa nova e boas condições para eventos, como secretaria, auditório, bar e galeria de arte, o IAB-RS tornou-se ponto de referência no meio cultural da capital. Participavam colaborando nos eventos, além de número significativo de arquitetos e estudantes, representantes do meio artístico, como Bruno Kiefer (1923-1987), Lupicínio Rodrigues (1914-1974), Vasco Prado (1914-1998), Xico 97 Stockinger (1919-2009), Manlio Gobbi, e convidados como Teodoro Oniga , 98 Umberto Eco , Décio Pignatari, Haroldo (1929-2003) e Augusto (1931) de Foi também membro do Júri, representando o IAB-RS, no Concurso Público de Arquitetura para escolha do projeto do Instituto Concórdia de São Leopoldo-RS, pertencente à Igreja Evangélica Luterana do Brasil (1960). 96 A diretoria de Araújo no IAB-RS era composta por Newton Obino, Emil Bered, Bernardo Tailtelbaun, Vinícius Dani, Carlos M. Fayet, Alberto Xavier, Castelar Peña, Vera Fabrício, David Leo Bondard, Moacyr Moojen Marques, Ari Mazini Canarim, Celso Carneiro, Arnaldo Knijnick, Roberto Veronese, Edgar Bittencourt da Luz, entre outros. 97 Nascido na Romênia, estudou engenharia e aeronáutica em Bucareste e Paris. Naturalizou-se brasileiro em 1958. Professor do Instituto Nacional de Tecnologia – INT no Rio de Janeiro, desde 1952, foi pioneiro em estudos do aproveitamento da energia eólica, cibernética, automação e informática. Ministrou curso no IAB-RS sobre Pesquisa Operacional que atraiu profissionais de diversas áreas. 98 Araújo, aproveitando uma folga do programa em São Paulo, viabilizou a vinda de Umberto Eco para palestrar no IAB-RS, coordenada por Bernardo Tailtebaun, que acompanhou Eco em Porto Alegre. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Uruguai, 24 mai. 2008. Sergio M. Marques 183 95 Fonte: Acervo FAM Fig. 100 - Capa do catálogo geral, IV Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul, Armênio Wendhausen, Promoção IAB-RS, 1968, Rua dos Andradas, 1730, Porto Alegre-RS . Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo Araújo Fig. 101 - Retrato de Mary Araújo, nanquim sobre papel, Flávio de Carvalho, 1966, Porto AlegreRS. Flávio de Carvalho e Mary Suzana Araújo, 1966, Porto Alegre-RS Campos , Flávio de Carvalho, Andries Van Onck (1928) , e também 101 102 colaboradores como Michael Arnoult e Heinz Agte (Fig.102). Para a direção Poetas dissidentes do Clube da Poesia fundaram o grupo "Noigandres" publicando revista de mesmo nome, peça chave na criação do movimento concretista de São Paulo. Realizaram uma exposição de poesia concreta no IAB. Ver: CAMPOS, Augusto de; PIGNATARI Décio; CAMPOS, Haroldo de. Teoria da poesia concreta. Textos críticos e manifestos 1950-1960. São Paulo: Duas Cidades, 1975. 100 Holandês, estudou desenho industrial na Academia Real Holandesa de Haia e, de 1954 a 1959, foi aluno de Gerrit Rietvield, na Hochschule für Gestaltung, em Ulm. Trabalhou como designer na Olivetti, de 1959 a 1965, e era professor do Politécnico de Milão. Escreveu o livro VAN ONCK, Andries. Design il senso delle forme dei prodotti. Milão: Lupetti, 1994. Estava em destaque, na Europa, graças a seu trabalho teórico sobre o metadesign (tema que desenvolveu na palestra do IAB-RS). Veio ao Brasil patrocinado pela Olivetti, com organização da ABDI. Em Porto Alegre, visitou as obras da REFAP, com Araújo, e ficou bastante impressionado com a mescla do espaço industrial e a paisagem preservada. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Escritório CLAraújo Arquitetos Associados, 01 jul. 2009. 101 Dono da empresa Mobília Contemporânea de São Paulo, doou as cadeiras para o auditório do IAB-RS. 102 A mesa de reuniões do IAB foi desenhada por Araújo, fabricada e doada por Heinz Agte. 99 99 100 184 Fonte: . Fig. 102 - À esquerda, poesia concreta de Augusto de Campos, década de 1960. No meio, trabalho acadêmico de Andries Van Onck com o Prof. Gerrit Rietveld, 1954, Academia Real Holandesa de Haia. A direita, parte do poema "O organismo" de Décio Pignatari, 1960. da galeria de arte, Araújo convidou Francisco Stockinger (1919-2009), que organizou a exposição inaugural com Flávio de Carvalho, que, além do evento, 103 permaneceu um mês em Porto Alegre . Araújo organizou também o IV Salão de Arquitetura do IAB-RS (janeiro de 1968), realizado através de contatos com as construtoras, em um prédio de quatro pavimentos, em acabamento, na Rua dos Andradas, cuja inauguração foi presidida pelo Presidente do Banco Nacional da Habitação-BNH, que estava 104 no auge de seu programa econômico . O evento, além de grande sucesso entre o meio profissional, granjeou certa repercussão junto à opinião pública, e sua realização na Rua da Praia oportunizou fluxo expressivo de visitantes (Fig.100). Durante sua gestão no IAB-RS, também participou da organização do encontro entre arquitetos e urbanistas gaúchos e uruguaios, realizado em Rocha, no Uruguai, nas proximidades do Fuerte San Miguel, motivado por Paiva que, nesta época, vivia novamente no Uruguai, refugiado, pela situação política brasileira. Da representação do IAB-RS, além de Araújo, participaram Nico Chaves Barcellos e Newton Silveira Obino, entre outros. O objetivo era discutir padrões e estabelecer diretrizes para o planejamento urbano das cidades de Flávio de Carvalho, na época, vivenciava certo ostracismo em face de posições radicais assumidas. Apreciou muito o convite para vir a Porto Alegre, onde estabeleceu relações de amizade com o meio gaúcho, em especial com Araújo. Durante a sua estadia, realizou desenhos célebres das mulheres dos amigos gaúchos Dicran Gureghian, Faraco e também de Mary Suzana, esposa de Araújo (Fig.101). 104 Araújo relata que, através de seu colega Pasquali, obteve junto com seu cunhado Busnelli, que iniciava maltaria para comercialização de malte de uísque, a oferta de dois garrafões de malte importado para a abertura do evento, servido com água gelada. Segundo Araújo, foi “umas das maiores bebedeiras coletivas de que participou. Se recorda em especial de Fayet trocando as pernas”. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Uruguai, 24 mai. 2008. 103 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL Fonte: 1950 a 1970 Capítulo 1 membro do Corpo de Jurados do IAB-RS (1966-1993) e membro do Corpo Nacional de Jurados do IAB-DN (1971-2001), tendo participado da comissão julgadora de diversos concursos. A coincidência de Araújo na Universidade, conectado ao meio do desenho industrial e ao grupo ligado à ABDI, criou, portanto, uma rede de contatos e colaborações que, como sempre, misturava FA-UFRGS, IAB-RS e a construção da profissão, que em conjunto significavam arquitetura moderna. Fig. 103 - Obras de Maurício Nogueira Lima, Década de 1950. fronteira entre Rio Grande do Sul e Uruguai, de onde resultou documento chamado “Declaração de São Miguel”, fixando critérios e procedimentos para o 105 relacionamento binacional de planejamento das cidades limítrofes . Logo a seguir, organizou a exposição “Arquitetos Pintores”, com os arquitetos artistas 106 107 de São Paulo, Ubirajara Martins e Maurício Nogueira Lima (1930-1999) , entre outros. Após sua gestão, Araújo concorreu novamente à eleição, desta vez contra Demétrio Ribeiro, que de certa forma representava uma posição mais 108 politizada, ainda mais à esquerda e, também, uma distinção de gerações . No entanto, não houve distensões. Vencida a eleição por Demétrio Ribeiro, Araújo permaneceu na direção organizando cursos e atividades culturais. Posteriormente, Araújo, de alguma maneira, sempre esteve ligado ao IAB-RS, predominantemente em atividades culturais ligadas a concursos ou ao projeto de arquitetura. Foi membro do júri, representando o IAB-RS, da Exposição de Arquitetura do IX Congresso Brasileiro de Arquitetos em São Paulo-SP (1976), Idem. Premiado na categoria Cartazes – Montagem na X Bienal de São Paulo, 1969. 107 Pernambucano, estudou Artes no IBA de 1947 a 1950. Iniciou arquitetura, foi colega de Araújo e Moojen, mas concluiu o curso no Mackenzie, em São Paulo, em 1957. Teve prolífera atuação artística na área da comunicação visual e da arte. Influenciado pelas teorias da comunicação e da gestalt, integrou o grupo Ruptura e colaborou com Alexandre Wollner em trabalhos de design gráfico modernos. Ver: AGUILAR, Nelson (Org.). Catálogo Bienal Brasil Século XX São Paulo: XX. Fundação Bienal, 1994. 108 ARAÚJO depõe que a disputa ocorreu em clima de profunda cordialidade e respeito. “Um dia antes da eleição, comemos juntos um carreteiro feito pela Enilda, na casa do Demétrio”. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 12 out. 2011. 105 106 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 185 Paralelos longitudinais – Peças de um mesmo jogo: Apartamento Rafael Strougo e Residência David Kopstein (1966) Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 104 - Apartamento Rafael Strougo, Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Ed. Umuarama, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter. Fig. 105 - Apartamento Rafael Strougo, Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Ed. Umuarama, Porto Alegre-RS. O gosto de Araújo pelo design de certa maneira acompanhou a arquitetura de interiores residenciais e, a seguir, de interiores comerciais. Deste universo, conheceu o lojista Rafael Strougo, para quem, entre outros projetos, realizou, em parceria com Comas, seu apartamento. O imóvel no Edifício Umuarama, na Rua Dr. Timóteo (1966), apresentado no IV Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul (1968), de certa forma reflete critérios assim como elementos de arquitetura que vinham sendo depurados nos projetos de interiores anteriores, nos quais os paralelos, além da coincidência cronológica, com o Edifício FAM são evidentes: planos autônomos de tijolos à vista, balcões divisórios articulados com as alvenarias (Fig.104), painéis deslizantes para integrar ambientes, cozinha com janela rasgada entre o balcão e o armário 109 aéreo (Fig.105) , assim como a ambiência geral da sala (Fig.105), igualmente 109 semelhante à da Casa de Heinz Agte, feita posteriormente (1970) . O armário do closet faz parte da mesma família de desenho do armário da loja Senador (Fig.106), porém parece haver alguma diferença na especificação de mobiliários e revestimentos. Há mais profusão de elementos e estilos, assim como de tapetes e cortinas, em especial no dormitório (Fig.107). Este trabalho abriu nova rede de contatos, centrada na comunidade judaica de Porto Alegre, para a qual Araújo realizou, conjuntamente com a casa de Heinz Agte, seu projeto de residência unifamiliar mais significativo: a residência David Kopstein, na Rua Tobias Silva, nº 115, em Porto Alegre, com 110 A solução formal semelhante induziu ao erro de informação no trabalho de LIMA, confundindo imagem da cozinha do apartamento de Strougo com a do edifício FAM. Ver: LIMA, Raquel. Edifícios de apartamentos: um tempo de modernidade no espaço privado – Estudo da radial Independência/24 de outubro – Porto Alegre – nos anos 50. [Tese de doutorado]. KERN, Maria Lúcia Bastos (Orient.). Porto Alegre: PUC-RS, 2005. Fig. 157, p. 194. 110 Mesmo equívoco designando imagem da Sala da residência Heinz Agte como a sala do apartamento de Araújo no Edifício FAM. Ver: LIMA, Raquel. Idem. Fig. 160, p. 194. 186 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 106 - Apartamento Rafael Strougo, Closet, Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Ed. Umuarama, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 107 - Apartamento Rafael Strougo, Suíte, Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Ed. Umuarama, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca FAU/UniRitter. Fig. 108 - Apartamento Rafael Strougo, Hall e Sala, Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Ed. Umuarama, Porto Alegre-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 187 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 109 - Residência David Kopstein, Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Porto AlegreRS. Carlos E. Comas (1966) , realizada concomitantemente com o edifício FAM. Mantém atributos espaciais deflagrados desde a Loja Senador, visíveis nos interiores dos apartamentos realizados anteriormente e na casa de Agte, utilizados de forma exemplar. A residência para Kopstein de certa maneira faz a síntese das soluções maturadas em experiências anteriores, gerando um protótipo de residência unifamiliar que poderia fazer par com o edifício FAM em 111 111 Medalha de bronze correspondente ao primeiro prêmio na categoria Residência Unifamiliar do VI Salão de Arquitetura do IAB/RS (1967). 188 Fonte: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p. 205 Fig. 110 - Residência David Kopstein, Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Porto AlegreRS. termos de expressividade formal representativa da arquitetura moderna exemplar em Porto Alegre (Fig.109). A residência, de aproximadamente quatrocentos e trinta metros quadrados, construída em terreno exíguo, com dez metros de frente e aproximadamente trinta e cinco metros de profundidade, em formato de paralelogramo, ocupa, com dois pavimentos, boa parte do terreno, de divisa a divisa, mantendo livre, além do recuo de jardim, três pequenos pátios, para iluminação e ventilação. A organização do projeto de certa forma insinua um esquema explícito no FAM: a divisão da planta em três crujias longitudinais que, além de ordenar estrutura, ora pilares, ora muros portantes separam, em determinados casos, alas e setores da casa (Fig.110). A fachada frontal, a norte, evidencia tal partição: o pavimento térreo é dividido em três partes, marcadas por pauta dimensional que ordena os elementos, tais como os planos brancos emoldurados das portas de garagem e ingresso, os planos de alvenaria de tijolos à vista portantes – nas divisas e em FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: PIÑON, Hélio. Mario Roberto Alvarez, ETSAB/UPC, Barcelona, 2002, p.77 Fig. 111 - Casa Mergherian, Mario Roberto Alvarez, 1958-60, Buenos Aires. um dos terços – e as vigas longitudinais em balanço, que separam o corpo superior. As vigas, por sua vez, desempenham papel formal fundamental na solução visual obtida pela separação dos planos de fechamento do térreo com o volume do segundo pavimento, através de abertura envidraçada ocupando integralmente o espaço entre vigas, no sentido transversal, e a própria viga como negativo entre muro portante e "caixa" de concreto superior, no sentido longitudinal (Fig.113). No segundo pavimento, lajes superior e inferior, conjuntamente com os muros de divisa, emolduram a caixilharia recuada, com forma de caixa que faz paralelo à Casa Mergherian (1958-1960), de Mário Roberto Alvarez, em Martinez, Província de Buenos Aires (Fig.111), ou arquitetura paulista revisitada por arquitetos contemporâneos como Angelo Bucci. O espaço poché deixado entre a esquadria de vidro e a pele de painéis de madeira venezianados na vertical, que encerra com filtro poroso a fachada superior, por sua vez, com conceito idêntico ao FAM, tem correspondência aos sistemas vernáculos de proteção solar dos cariocas (Fig.109). O ingresso, assim como no FAM, é realizado em uma das extremidades, junto à divisa oeste, através dos planos brancos emoldurados de Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 112 - Residência David Kopstein, Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Porto AlegreRS. negro, de fechamento, que abertos criam um recesso em um dos terços da fachada térrea. Também como no FAM, a circulação de acesso emoldura jardim na extremidade. No caso da casa Kopstein, pátio interno de iluminação e escada aberta, vigiada por um dos Guerreiros de Stockinger, que se apoia em plano de concreto em balanço, dá continuidade linear, por sua vez à floreira, de mesma configuração, situada no recuo de jardim (Fig.112). O segundo pavimento configura sala com varanda na frente, dormitório nos fundos, cozinha, sanitários, escada e corredores no meio, o mesmo arranjo funcional do FAM adaptado ao lote e à circunstância. Sala e gabinete (Fig.117), Sergio M. Marques 189 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 113 - Residência David Kopstein, Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Porto Alegre-RS. 190 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 114 - Residência David Kopstein, Sala de Estar, Jantar e Circulação. A direita parede que separa com gabinete. Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Porto Alegre-RS. Fig. 116 - Residência David Kopstein, Sala de Jantar. Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 115 - Residência David Kopstein, Sala de Jantar. Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Porto Alegre-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fig. 116.1 - Residência David Kopstein, Sala de Jantar. Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Porto Alegre-RS. Sergio M. Marques 191 Sequências e Diagonais – Mesmo jogo com novas peças: Apartamento Maurício Branchtein e Residência Simão Kuperstein (1969-70) Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 117 - Residência David Kopstein, hall dos quartos e gabinete. Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Porto Alegre-RS. separados virtualmente por plano de tijolos à vista, ocupam toda a fachada principal, se unindo pela varanda e vãos internos. As alas mais profundas da casa são conectadas por circulação de forro rebaixado que funciona, simultaneamente, como duto principal de distribuição do ar condicionado central (Fig.114). A sala, conectada também ao pátio de iluminação e ventilação da cozinha, através de tijolos de vidro que formam composição abstrata (Fig.115), é definida por planos autônomos e mobiliário incorporado aos planos de fechamento, assim como móveis fabricados por Heinz Agte (sofás e poltronas de aproximação giratórias), associados a móveis "de estilo" (Fig.116). A circulação, um corredor alargado que permite a colocação de mobiliário e iluminação natural do mesmo pátio da escada de acesso, culmina em uma espécie de estar íntimo, separado deste por delicada veneziana (Fig.117), que introduz uma chicana no fluxo de circulação. A residência David Kopstein faz jus à condição exemplar de determinadas qualidades formais rastreadas nesta investigação: simplicidade, concisão e elegância, obtidas antes de tudo pela adoção de critérios formais da arquitetura moderna universais no caso em particular. Fonte: Acervo FAM Fig. 118 - Apartamento Maurício Branchtein. Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1969, Porto Alegre-RS. O projeto para o apartamento do Engenheiro Branchtein, realizado por Araújo e Comas, na Rua Fernandes Vieira, dá sequência ao mesmo sistema arquitetônico, arranjos espaciais e universo decorativo do apartamento de Estrougo: organização geral abstrata, com definições espaciais ordenadas por planos autônomos, volumes caracterizados e rasgos estratégicos justapostos a mobiliário eclético, profusão de obras de arte e licenciosidade intencional nos elementos decorativos (Fig.118). De um modo geral, os elementos de arquitetura são os mesmos: paredes brancas ou tijolos à vista, separadas em planos ou volumes independentes, seja por aberturas de madeira à vista que ocupam todo o vão, do solo ao forro, seja por equipamentos incorporados às alvenarias (Fig.119.), análogo aos interiores de Débora di Veroli para a Casa Rotschild (1954), em Martinez, província de Buenos Aires (Fig.120.). Aberturas internas e balcões, normalmente construídos conjuntamente com a obra, fazem uso do concreto armado para viabilizar aberturas rasgadas e volumes soltos de apoios intermediários (Fig.121). Painéis que se abrem intermediam ambientes 192 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Fonte: DI VÉROLI, Débora. OBETKO, Daniel. Arquitecta Débora Di Véroli. Vida, Obra y reflexiones. B&R Ediciones, Buenos Aires, 2006, p.75 Capítulo 1 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter Fig. 119 - Apartamento Maurício Branchtein. Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1969, Porto Alegre-RS. Fig.123), forros rebaixados caracterizam outros, além de incorporar instalações (Fig.122). Na cozinha, a solução insinuada no apartamento de Strougo e adotada no edifício FAM é repetida. Balcões lineares de funcionamento sequencial, como uma linha de produção industrial, são armados soltos do plano do solo, com os armários aéreos estruturados de maneira a permitir janela rasgada sobre o balão de cozinha, em uma face, e para a copa, na outra, sorvendo iluminação para o plano de trabalho. Outra abertura em fita, entre a face superior do armário e o forro, provê de luz as áreas mais profundas do ambiente (Fig.124). O forno embutido, feito sob encomenda, idêntico ao do FAM, mantém a estratégia das paredes ativas. A especificação de mobiliário, acabamentos e elementos de decoração, como as cadeiras de antiquário da sala de jantar (compradas em Pelotas), no entanto, rompem com eventual ortodoxia do sistema formal e aportam ao ambiente dimensões estéticas e simbólicas que transcendem o sistema visual da abstração para um equilíbrio entre dois mundos: o da racionalidade e o da afetividade (Fig.125). Objetos nitidamente oriundos de espectro amplo das artes decorativas, com adoção inclusiva de objetos e artefatos utilitários à decoração, como bules, chaleiras e panelas, justapostos a biscuis, vasos e obras de arte, trazem para o ambiente a dimensão pessoal da habitação, como na casa de Fig. 120 - Casa Rotschild, Débora di Veroli, 1954, Buenos Aires. vidro de Lina Bardi (1950) (Fig.126). A reincidência de Guerreiros de Chico Stockinger, como na residência Kopstein, no apartamento de Strougo, e o canapé de madeira, semelhante ao apartamento de Araújo no FAM, indicam 112 esta tendência eclética apontada por PEIXOTO , à qual Comas dedicou especial interesse, como no projeto de sua própria casa. A Residência Simião Kuperstein parece introduzir outros temas. Por um lado, inclina-se na direção de certa simplificação formal inerente à disseminação da arquitetura paulista durante os anos 1970, com algum enxugamento da paleta de materiais e introdução de outros novos oferecidos pela indústria. As construções tendem a maior homogeneização de materiais, cores e texturas, A justaposição de sistemas formais estéticos adeptos da abstração e da funcionalidade, cuja ortodoxia seguidamente é creditada ao Movimento Moderno, com critérios formais ligados à tradição acadêmica ou vernácula, é fato reconhecido e categorizado. Tanto na obra dos mestres pioneiros como Mies e Le Corbusier, mas principalmente na obra de cariocas e paulistas, esta contiguidade no ambiente domiciliar é razão de qualidade. Ver: PEIXOTO, Marta. A Sala bem temperada. Interior Moderno e sensibilidade eclética. [Tese de doutorado]. COMAS, Carlos Eduardo Dias (Orient.). Porto Alegre: PROPAR UFRGS, 2006. Sergio M. Marques 193 112 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM Fig. 121 - Apartamento Maurício Branchtein. Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1969, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 123 - Apartamento Maurício Branchtein. Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1969, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 122 - Apartamento Maurício Branchtein. Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1969, Porto Alegre-RS. Fig. 124 - Apartamento Maurício Branchtein. Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1969, Porto Alegre-RS. 194 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Fig. 125 - Apartamento Maurício Branchtein. Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1969, Porto Alegre-RS. Fonte Fonte: Acervo FAM normalmente concreto, vidro e elementos industrializados, como a telha de fibrocimento. A fachada principal da residência Kuperstein não deixa de ser uma versão mais simples da casa Kopstein: um volume de dois pavimentos, entre medianeiras, com o térreo caracterizado por plano contínuo materializado por esquadria ininterrupta (Fig.127). No segundo pavimento, janela alongada rasgada entre as divisas, sobreprosta por filtro solar. Neste caso, no entanto, há certo embrutecimento dos detalhes e das partes, obedecendo à tendência do momento, por um lado, e a restrições de economia por outro. A esquadria inferior, com grade de proteção incorporada, abandona a ideia de plano abstrato utilizado na residência Kopstein e no FAM. A abertura superior se aproxima de um desenho convencional, eliminando intermediações entre plano de vedação e plano de proteção solar, caracterizando-se por janela standart em fita, com venezianas, solução semelhante à adotada no Edifício Presidente (1970), de Obino, Araújo e Comas. A "caixa" do segundo pavimento é abandonada por sutil subversão: as paredes de divisa não se articulam com o fechamento horizontal da caixa e simplesmente se pronunciam por planos, distinguindo a solução da cobertura como elemento formal autônomo, no caso a telha de fibrocimento. Fig. 126 - Casa De Vidro, Lina Bo Bardi, 1951, São Paulo. No entanto, a casa sinaliza outra mudança, circunstancial na obra de Araújo: a recorrência do tema industrial. Sua produção arquitetônica até o momento, grosso modo, se dividia predominantemente em programas ligados à habitação, com os projetos de arquitetura de interiores e residências, tendo o FAM como estereótipo e clímax, e os projetos de natureza industrial, iniciados pelos trabalhos para a Petrobras, matriz elementar da arquitetura de Araújo e que, a partir da indústria Rio-Grandense de Pescados (1968-1969), em Rio Grande, se estabeleceram como carro chefe de sua atuação profissional. A residência Kuperstein, na verdade era um híbrido de fábrica de tintas, o início da indústria Kresil, programado para o pavimento térreo e subsolo da construção, com a residência ocupando o segundo pavimento. A composição programática condicionou, além de determinados ajustes no sistema formal e construtivo – explicando de certa maneira as simplificações – a solução espacial e estrutural do projeto. A residência, na verdade uma casa térrea elevada para o segundo pavimento, é apoiada integralmente em uma sequência de vigas de transição transversais que, apoiadas nas divisas, vencem todo o vão do terreno, liberando o pavimento industrial inferior de qualquer apoio (Fig.128). Assim, o pavilhão industrial, situado sob a casa, usufruindo a pendente do terreno, cresce de péSergio M. Marques 195 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Foto Sergio Marques, 2011 Fonte: Foto Sergio Marques, 2011 Fig. 128 - Residência Simião Kuperstein. Cláudio Araújo 1969, Porto Alegre-RS. Fig. 127 - Residência Simião Kuperstein. Cláudio Araújo 1969, Porto Alegre-RS. direito em direção ao subsolo e aos fundos do terreno, condição visual de pequena nave industrial, usufruída pela posição estratégica e abertura da escada que comunica este ambiente. O potencial visual da fábrica, pelas dimensões inusitadas em uma construção residencial, posteriormente, após a transferência da fábrica para novo local, favoreceu a ocupação do espaço pela galeria de arte Tina Zapoli (Fig.129), cuja rearquitetura, frequente em espaços industriais, evidencia que o condicionamento da forma pela função, mesmo na arquitetura moderna, é relativo. O segundo pavimento da casa hoje é ocupado por atividade comercial. Portanto, o projeto, além de incorporar no programa habitacional a função industrial, razão pela qual, de certa maneira, se explicam mudanças na arquitetura, marca involuntariamente certa mudança de trajetória da carreira profissional de Araújo, ocorrida no início dos anos 1970, migrando de escalas mais domésticas de projeto e escritório-ateliê para projetos de grande envergadura, muitos de uso industrial, e a retomada da Equipe de Arquitetos, em esquema empresarial. Fonte: Foto Sergio Marques, 2011 Fig. 129 - Residência Simião Kuperstein. Cláudio Araújo 1969, Porto Alegre-RS. 196 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL 1950 a 1970 Capítulo 1 Suave porém rigorosa presença Araújo, em sua trajetória, parece colecionar, desde a infância, experiências que, assim como seus atos, foram objeto de reflexão e incorporação em sua formação pessoal com certa profundidade. O teor comedido, rigoroso e por vezes obsessivo com aspectos aparentemente pormenorizados de seus projetos, de alguma maneira, refletem este panorama biográfico no qual determinados acontecimentos e episódios são valorizados sobremaneira, no sentido de alicerçar decisões e explicar ações, tanto pessoais como arquitetônicas. Esta atitude, de profunda reflexão, antecipação planejada de escolhas e condução pacienciosa das ações pensadas para atingir determinados objetivos, se encobre por uma postura suave, aparentemente desatenta em algumas ocasiões, na verdade acompanhadas de um olhar extremamente perspicaz e objetivo em relação aos aspectos essenciais dos contextos e circunstâncias, assim como especial capacidade de síntese. Esta natureza, visível tanto em sua vida particular, quanto em sua arquitetura, se traduz em atitudes e projetos que buscam sempre a qualidade, o especial, o diferenciado, que normalmente se traduzem em parâmetros de austeridade, discrição, rigor, sofisticação e particularidade. Agregar valor a qualquer ação pessoal ou arquitetônica parece ser uma meta, normalmente com horizontes largos, mas, diferentemente de Fayet, objetivando mais o teor qualitativo e a exclusividade do que a dimensão e a popularidade do proposto. Este funcionamento, conjugado com determinadas aspirações sociais, incorporadas cautelosamente durante sua formação, e o rigor ético no exercício profissional, característico de sua geração, bem como um caráter pessoal espirituoso e positivo em direção da qualidade, no caso de Araújo, armaram uma equação bem sucedida em termos profissionais, que em todos os segmentos por onde transitou, seja UFRGS, IAB, Equipe de Arquitetos, UniRitter, seja no ensino, nas atividades de classe ou no exercício do ofício, deixou em cada parte da história que viveu algo especial, pérolas arquitetônicas ou eventos singulares, sempre com a sabedoria de quem controla o tempo a seu favor e regula os valores de acordo com seus objetivos. Fonte: Foto Sergio Marques, 2009 Fig. 130 - Cláudio L. G. Araújo, inauguração da Av. Carlos Maximiliano Fayet, 2009, Porto AlegreRS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 197 Figura da Capa: Residência David Kopstein, Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1966, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter. Contracapa: Figuras da Contra capa: Loja Senador, Edificio Urubatã, Cláudio Araújo e Carlos Mancuso, 1960, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter - edição digital Sergio M. Marques, 2012. Casa Heinz Agte, Cláudio Araújo, 1970, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU/UniRitter - edição digital Sergio M. Marques, 2012. Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto AlegreRS. Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 1990. 198 Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior - PDSE - CAPES FAYET, ARAÚJO & MOOJEN ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL - 1950/1970 Volume 4 Capítulo I - Moojen FM Faculdade de Arquitetura - UFRGS Rua Sarmento Leite, 320 /201 90050-170 Porto Alegre/RS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Fone/Fax: 55 51 3316-3485 FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA - PROPAR ppgarq@vortex.ufrgs.br Orient. Carlos E. D. Comas/ Co-Orient. Hélio Piñon Sergio Moacir Marques M TESE DE DOUTORADO FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Ale Lagoa Vermelha, Joaçaba, Passo Fundo e Porto Alegre (1930-1949) M MOACYR MOOJEN MARQUES (1930) Moacyr Moojen Marques nasceu em Lagoa Vermelha, Rio Grande do Sul, em 1º de fevereiro de 1930 – filho de Inocência Aurélia Moojen, a Dona Rola, como era conhecida, natural de Lagoa Vermelha, e José de Souza Marques, natural de Passo Fundo-RS - onde estudou parte do primário, em grupo escolar público local, e parte no colégio de freiras Rainha da Paz, construído por um alemão radicado na região, prédio cuja arquitetura marcou sua memória (Fig.3). O restante cursou no Grupo Escolar Roberto Tromposvski, em Joaçaba, Santa Catarina, cujo nome era Cruzeiro do Sul na época, e pulando o quinto ano primário, prestou exame de admissão no Instituto Ginasial de Passo Fundo, colégio de orientação metodista (Fig.2). Seu pai, bancário, mas habilidoso nas artes gráficas e exímio desenhista, fazia cartazes de filmes para o único cinema da cidade (Fig.4). Seu José faleceu quando Dona Inocência ainda esperava o segundo filho, Moacyr, irmão do meio de Newton Moojen Marques (1926) e da caçula Zola Maris Moojen Coitinho (1932), filha do segundo casamento de Dona Inocência com Dr. Gaspar de Oliveira Coitinho, advogado natural de São Pedro do Sul-RS. Com o segundo casamento, Dona Inocência (Fig.4), junto com o filho mais velho e a filha caçula, foi viver em Joaçaba-SC, onde residia Dr. Gaspar, deixando Moacyr em Lagoa Vermelha, com uma tia. Maria Augusta Mello, chamada de Mãe Sinhá por Moacyr, casada com Pedro Andrade, tinha cinco filhas e um filho: Amaury (posteriormente funcionário da Secretaria do IAB de São Paulo), Suely, Lindoia, Argélia, Armida e Edite, primo e primas que foram irmãos de criação na família em que conviveu até meados de 1938, no término do segundo ano primário, quando também seguiu para Joaçaba. Desses anos passados em Lagoa Vermelha, na avenida principal da cidade, em um casarão de madeira assobradado, com porão alto de pedra e sótão, água de poço, forno e fogão à lenha, sem energia elétrica, restam lembranças de uma infância simples, de ambiente interiorano, deveras frugal e por vezes marcada por 1 privações, principalmente a distância da família (Fig.5) . Lagoa Vermelha, no entanto, cidade onde o nome familiar Moojen tem grande recorrência, sempre foi referência fundamental na memória e história pessoal de Moacyr, assim Fonte: Acervo Moojen 1 Josué Guimarães (1921), natural de São Jerônimo-RS, em seu livro Tambores Silenciosos, narra uma história de realismo fantástico em “Lagoa Branca”, sobre quatro personagens, senhoras solteironas que viviam em um grande sobrado de madeira, interpretada por diversos moradores de Lagoa Vermelha como história inspirada parcialmente na casa de Dona Sinhá, onde viveu Moacyr. Ver: GUIMARÃES, Josué. Os tambores silenciosos. Porto Alegre; Globo, 1977. Sergio MMarques 199 Fig. 1 - Caricatura de Moacyr Moojen Marques, grafite sobre papel , "Pedruka", 1977. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo Moojen Fonte: Desenho de Moacyr Moojen Marques, 2010. Acervo Moojen Fig. 3 - Colégio Rainha da Paz, Moacyr Moojen Marques, desenho de memória, hidrocor sobre papel, Lagoa Vermelha-RS. Fig. 2 - Moacyr Moojen Marques, o segundo agachado, da esquerda para a direita, equipe de futebol do Instituto Ginasial, 1941, Passo Fundo-RS . como nos demais familiares, sendo forte entre os Moojen o interesse na 2 genealogia familiar e sua disseminação no território . Após a temporada em Joaçaba, por volta de 1941, seguiu para internato em Passo Fundo-RS, centro regional de ensino que polarizava estudantes de Santa Maria, Cruz Alta, Lagoa Vermelha, região nordeste do Estado e sul de Santa Catarina (Fig.7). Regularmente, voltava de trem a Joaçaba, com a Companhia Sorocabana, para férias e temporadas curtas, quando se recorda de passar o tempo, em seu quarto no sótão, em um birô de vidro quebrado, desenhando fachadas de casas que gostava de imaginar, estimulado pelas construções que povoavam filmes norte-americanos e a publicação Seleções do Riders Digest (Fig.6). Moojen, nome de origem holandesa, é herança original de imigrante de nacionalidade inglesa, vindo de Londres à região sul do Brasil no século XIX. Dr. John George Moojen (1814 – filho de pai holandês de mesmo nome), ou João Inglês, como ficou conhecido na região, era comerciante e aventureiro. Casou-se com Dona Liduína Eufrosina Garcez, descendente de João Moreira Garcez, catalão, camareiro-mor de Dom João VI, na vinda da Corte Portuguesa ao Brasil durante a invasão de Bonaparte à Península Ibérica, e tiveram sete filhos. Ver: BARBOSA, Fidélis Dalcin. Nova história de Lagoa Vermelha. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1981. 2 Término o ginásio imaginando seguir carreira de engenharia, foi a Porto Alegre cursar o científico, matriculado pela família no curso noturno do Colégio Júlio de Castilhos, por falta de vagas no curso regular diurno. Morando em pensões econômicas (como a da rua dos Andradas, 914, em frente ao Cinema Cacique), com poucas amizades e com colegas do curso noturno de outra faixa etária, a adaptação na capital foi difícil, provocando, entre outras dificuldades, a reprovação no primeiro científico. Diante do despojamento de suas condições, optou novamente pelo internato, ingressando no Colégio IPA em 1945, sendo que no ano seguinte a família veio de Joaçaba a Porto Alegre para viver em uma casa em forma de “rádio” (expressionista) na Dario Perdeneiras, no bairro 3 Petrópolis, cuja construção acompanhou com interesse . No científico do IPA, 4 5 6 foram seus colegas Fernando Carneiro , Gerhard Jacob , Günther Schlieper e A casa em Porto Alegre era espaçosa, já que Dr. Gaspar gozava de boas condições econômicas. Foi encomendada à construtora local e o projeto escolhido em catálogo como “casa moderna”, de visíveis traços “protomodernos”. Internamente, porém, era significativamente ornamentada com pilastras, adornos em gesso e uma escadaria revestida de mármore separada do espaço da sala por romântico portão metálico no melhor estilo “E o vento levou”. Décadas mais tarde, a casa, em poder de Zola, a irmã mais nova, foi vendida para a construtora Lembert, e em seu lugar construído edifício de apartamentos. 4 Fernando Jorge da Cunha Carneiro (1931), nasceu em Araranguá-SC, ingressou na arquitetura na Engenharia da UFRGS, formado em 1954, na FA-UFRGS, atualmente arquiteto em Criciúma-SC. 3 200 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fig. 4 - José de Souza Marques, por volta de 1929. Inocência Aurélia Moojen, 1953. Fábio Souto Ribeiro (atualmente arquiteto em Porto Alegre). Moacyr, expressando o gosto pelo desenho, era convocado seguidamente para ilustrar 7 publicações e reclames . Em meados de 1949, ao aproximar-se o vestibular, cursando o Serviço Militar Obrigatório no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva – CPOR, na 8 Arma da Cavalaria, concomitante com o terceiro científico (Fig.8) , visitou a Faculdade de Engenharia (ainda no prédio da Escola de Engenharia, chamada Engenharia Velha), onde havia exposição do Curso de Arquitetura, surpreendentemente, para ele, predominada pela arquitetura “californiana” comum em seu bairro. Casas pitorescas, de varandas com apoios arqueados, Gerhard Jacob (1930) nasceu em Hannover, Alemanha. Brasileiro naturalizado, fez vestibular para arquitetura na Engenharia, tirou primeiro lugar mas não cursou. Formou-se em física e matemática, foi Pró-Reitor, Vice-Reitor e Reitor da UFRGS. 6 Günther Siegfried Schlieper (1929-2010), natural de Gramado-RS, ingressou na Arquitetura da Engenharia e posteriormente virou empresário na região da serra. Foi prefeito de Canela-RS (19761979, 1993-1996). 7 O colégio IPA organizava todos os anos o álbum Colunas, com os formandos, professores e as atividades do colégio, ilustrado por Moacyr em duas edições. 8 Durante o CPOR, seu principal amigo, na Arma da Cavalaria era Sinval Guazzelli, posteriormente Governador do Estado do Rio Grande do Sul (1957/1979 e 1990/1991). Agachado logo atrás de Moacyr (Fig.8). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 5 Fonte: Desenho de Moacyr Moojen Marques, 2010. Acervo Moojen Fonte: Acervo Moojen Fig. 5 - Casa da Dona "Sinhá", Moacyr Moojen Marques, desenho de memória, hidrocor sobre papel, Lagoa Vermelha - RS rebocadas de massa grossa texturizada e pintadas de branco, fachadas polvilhadas de pedras de granito que se soltavam dos alicerces à vista e telhas de barro colonial. Relata ter sentido grande frustração por não haver correspondência entre a arquitetura da exposição e a imagem mental de arquitetura moderna, construída em sua expectativa pela cultura contemporânea espelhada nos filmes e revistas do pós–guerra. Relatando a experiência para conhecidos, foi aconselhado a conhecer o Curso de Arquitetura do Instituto de Belas Artes – IBA, na Senhor dos Passos, onde também havia exposição de trabalhos de estudantes. Em uma exposição, montada no saguão, ao deparar-se com projetos acadêmicos de Luís Fernando Corona, Carlos Maximiliano Fayet e desenhos de professores como Emil Bered, teve certeza do que queria fazer. Sergio MMarques 201 Fonte: Acervo Moojen Fonte: Acervo Moojen Fig. 6 - Moacyr Moojen Marques, 1942, Joaçaba-SC. Desfile de escoteiros, 1945, Fig. 8 - Moacyr, Curso de Cavalaria, CPOR, 1949, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo Moojen Fonte: Acervo Moojen Fig. 7 - Moacyr com os colegas do ginásio, por volta de 1946, Passo Fundo-RS. Fig. 8 - Moacyr, à esquerda, formatura do ginásio, 1946, Passo Fundo-RS. No meio, formatura do científico, 1949. À direita, formatura do CPOR, 1949. Porto Alegre-RS. 202 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Arquitetura, União da Juventude Comunista, PUFA, Uruguaios e o Movimento Moderno (1949-1954) Fonte: Fig. 9 - Casa da Cascata,. Frank Lloyd Wright, 1934, Pensilvânia. Passou a frequentar o Instituto de Belas Artes durante o ano em que se preparava para o vestibular, nas exposições, na biblioteca e em eventos. Neste momento de interesse empírico, a imagem da Fallingwater House, de Frank Lloyd Wright, em uma publicação monográfica, foi definitiva e deslumbrante em face do que idealizava como produto da arquitetura (Fig.9). Nessas visitas, logo 9 ficou amigo de Moacyr Zanin , aluno do primeiro ano, através do qual se relacionava com outros estudantes de arquitetura e artes. Estudou para o vestibular sozinho, com afinco e desejoso de ingressar naquele meio. No C.P.O.R., levava os livros de física e matemática no capacete, para estudar nos intervalos das cavalgadas. O grau de dificuldade da prova, específica para cada curso, era semelhante ao da engenharia. Na divulgação Fonte: Acervo Moojen Fonte: Acervo Moojen 9 Fig. 10 - Projeto de Bered, Kruchin e Veronese, com a colaboração de Enilda Ribeiro. Perspectiva de Moacyr Moojen, guache sobre papel, primeira metade da década de 1950. Fig. 11 - À esquerda, Edifício Irmãos Rizzatto, Bered, Kruchin e Veronese, Santa Maria. A direita, Colégio Israleita, Irineu Breitman e Pedro Gus, Porto Alegre. Perspectivas de Moacyr Moojen, guache sobre papel, primeira metade da década de 1950. Moacyr Zanin faleceu em 1952, em um desastre de avião em São Francisco de Paula, quando retornava da Bahia de um congresso de estudantes. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado dos ingressantes, olhou a lista de classificados, de baixo para cima, desistindo na metade, acreditando não ter conseguido. Soube pelo amigo Moacyr Zanin que havia tirado o terceiro lugar. Ingressou junto com Marcos David Hekman (1931), Fábio Souto Ribeiro, Luís Carlos Cunha, Luís Edmundo Radomsky e outros na sexta turma de ingressantes do Curso de Arquitetura do IBA. No primeiro ano, foi aluno de Sergio MMarques 203 (Fig.12) . Produziu dezenas de perspectivas e desenhos para Emil Bered, Roberto Veronese, Demétrio Ribeiro, Edgar Graeff, Irineu Breitman, Cavalli 14 (Fig.10,11) e outros, através dos quais acabava tendo um pequeno nível de colaboração nos projetos, dado o constante debate e troca sobre arquitetura travado entre todos. No final do primeiro ano do Curso de Arquitetura (1950), foi convidado por Emil Bered para trabalhar como desenhista em seu escritório, onde permaneceu intermitentemente até a formatura (1954). Bered e Salomão Kruchin, seu sócio, tinham escritório abastado de trabalhos e era um dos importantes escritórios de arquitetura moderna do sul. Moojen entende que a experiência e convivência com o ofício, neste ambiente, foi sua segunda escola 15 de arquitetura . Dos tempos de faculdade, também se lembra da vibração, parceria e entusiasmo pela arquitetura, a troca de experiências de todos, alunos e professores, entre si, bem como de personagens como o Radomsky, inventivo, imaginativo e divertido, que de alguma maneira também indicava o clima de extroversão e camaradagem característico do grupo, reunidos em torno de uma causa comum. Radomsky inventava e fabricava aparelhos sem sentido, como a “mira-louca” feita com artefatos de pontaria colocados em sequência para 16 apontar algo inexistente, sem qualquer finalidade , ou o “sismoFig. 12 - Moacyr Moojen Marques e Maria Ivone Bianchi Marques, 1953. 13 Fonte: Acervo Moojen Ubatuba de Farias, Edgar Graeff, Ernani Correa (1900) , Ângelo Guido (189311 12 1969) e Fernando Corona . A seguir, de Demétrio Ribeiro e Luís Fernando Corona, seu contemporâneo, que se formou antes e logo retornou para ensinar Perspectiva e Sombras. Moojen relata que “Coroninha” desenhava virtuosamente. Com ele, apreendeu a montar perspectivas e a pintar à guache, atividade que lhe garantiu sustentação econômica por longo tempo, principalmente quando, ainda no terceiro ano, casou com Maria Ivone Bianchi 10 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. Ângelo Guido Gnocchi nasceu em Cremona, Itália. Filho de pedreiro, ornamentador de frontispícios, migrado da Itália, era pintor, escultor, gravador e crítico. Destacou-se pela sua literatura crítica e foi um dos primeiros a abordar o tema da arte moderna no Estado. Iniciou seus estudos no Liceu de Artes e Ofícios em São Paulo. Mudou-se para Porto Alegre em 1925, onde realizou no mesmo ano conferência sobre a arte moderna e posteriormente participou da exposição do Centenário Farroupilha em 1935. Foi diretor do IBA de 1959 a 1962. Era professor de História da Arte e Estética. Ver: ROSA DA SILVA, Úrsula. A fundamentação estética da crítica de arte em Ângelo Guido – a crítica de arte sob o enfoque de uma história de ideias. [Tese de doutorado]. Porto Alegre: IFCH, PUCRS, 2002. Cópia digital. 12 Lembra de exercícios de desenhos abstratos, nos moldes dos realizados na Bauhaus, com modulações e gradiente de cores, além de desenho de observação. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 11 10 Moojen, que já há algum tempo alimentava a ideia de independência, em 1953, com vinte e três anos de idade, saiu da casa na Dario Pederneiras, casou-se com a moça que conheceu no footing da Rua da Praia, então com dezenove anos (com Demétrio Ribeiro de padrinho), e foi morar em um apartamento alugado na Rua Xavier Ferreira, no bairro Auxiliadora, onde atrás de um biombo presenteado pelo colega Saulo Paiva desenhava perspectivas à noite, para subsistir. Maria Ivone Bianchi (1934), filha de Vanda Paes Bianchi e Carlos Bianchi, descendente de família tradicional de Porto Alegre, sobrinha de Elpídio e Isolda Paes, vivia no Edifício Imperial (projeto de Egon Weindorf), na Praça da Alfândega. Com o casamento, logo teve o primeiro filho, Nadia Maria Marques, nascida em 1954, enquanto Moojen ainda estava no último ano do curso. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 14 Italiano sem formação profissional, fazia arquitetura comercial e interiores para a alta sociedade. Moojen, durante aproximadamente um ano, além de perspectivas, desenvolvia projetos de interiores de lojas para Cavalli. 15 Dentre os trabalhos desenvolvidos no escritório de Bered e Kruchin, na Rua Dr. Flores, Moojen destaca o projeto do edifício Tannhauser, na Praça Rui Barbosa (1953); encarregado por Emil, coordenou a elaboração e desenvolvimento do projeto em todas as fases (Fig.13). MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 16 Em determinada oportunidade, no escritório de Emil Bered, onde Radomsky também trabalhava, um cliente, engenheiro do Banco Lar, chamado Sr. Antenor, intrigado a respeito do aparelho, pediu a Radomsky uma demonstração da “mira louca”. Radomsky perfilou-se imediatamente e orientou-o para visualizar um ponto imaginário através da sucessão de miras. O cliente, um pouco desajeitado, acomodou-se e seguiu a instrução do desenhista, até este indagar: “Pronto?”. “Sim...”, respondeu, com dúvidas em relação ao que estava pronto... Então, “FOGO!”, gritou Radomsky... MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 13 204 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo Moojen Fig. 13 - Edifício Tannhauser, Emil Bered, 1953, Porto Alegre-RS. zuzusódromo” . Radomsky posteriormente abandonou a arquitetura, foi dono de bar no Quarto Distrito, o Tom Bar, ponto de encontro de estudantes. Trabalhou no primeiro longa metragem gaucho "Vento Norte" (1951, com roteiro de Josué Guimarães e Salomão Scliar) e era um pianista memorável, 18 apresentando jams frequentes para o público da arquitetura . Faleceu precocemente, em face de uma vida excessivamente desregrada, segundo a interpretação dos colegas, mas era um personagem emblemático do espírito de cumplicidade e bom humor reinante entre o meio e a efervescência cultural da época. Moojen, recorda que a diferença de idade entre alguns professores e estudantes era pouca, e a novidade da arquitetura moderna despertava no Feito com peças de um antigo toca-discos e relógios, com objetivo imaginário de detectar a aproximação de uma moça chamada Zuzu, a qual ele dedicava afeição. Radomsky, sério, apresentava aos professores intrigados as suas máquinas, respondendo a perguntas cada vez mais estupefatas, como a formulada por Demétrio Ribeiro: “Para que serve a válvula luminosa?” “A válvula observadora acende quando chega a Zuzu” respondeu Radomsky... MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 18 Foi namorado de Suzy Brücker antes de Fayet, formando um par curioso, segundo Maria Ivone, já que ele tinha estatura diminuta e Suzy era bem mais alta. MARQUES, Maria Ivone Bianchi. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. ago. 2008. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 17 17 Fonte: Acervo Moojen Fig. 14 - Da esquerda para a direita, Moacyr Moojen, Milton Campos, Rodolfo S. Matte, Getúlio A. Zimmermann, não identificado e Luiz Carlos Cunha, estudantes de arquitetura, primeira metade da década de 1950. grupo motivação para investigação, descoberta e disseminação conjunta dos novos conhecimentos. O estudo coletivo, a troca de experiências e a convivência entre todos, portanto, era intensa. Em um universo relativamente pequeno, neste momento inaugural da arquitetura moderna brasileira no sul, as relações pessoais, trabalhos conjuntos e trocas, tanto acadêmicas e profissionais quanto pessoais, eram relevantes. No caso do Belas Artes, essas relações foram ainda enriquecidas pela presença simultânea dos cursos de música e artes plásticas (pintura e escultura). Havia também os estudantes da Engenharia e simpatizantes. Durante a fusão dos cursos de Arquitetura da FE e do IBA, não deixou de haver distensões, entre os da Engenharia e mesmo alguns do IBA, que desejavam titulação e formação de engenheiros-arquitetos e os que, ligados à esquerda, afinavam-se com a visão da arquitetura como disciplina autônoma, desligada da engenharia, e por consequência lutavam pela criação de uma Faculdade de Arquitetura sem distinções. Moojen, no primeiro ano, foi cortejado inicialmente Sergio MMarques 205 pelo grupo da engenharia . Entretanto, aconselhando-se com Nélson Souza 20 (1925) , percebeu as diferenças e aproximou-se do grupo "Por uma Faculdade 21 de Arquitetura" – P.U.F.A. , ativo por personagens como Enilda Ribeiro (192322 1910), Vera Fabrício Carvalho, Afrânio Sanches Loureiro , Coroninha, Fayet, entre outros. Este grupo inicial, com o acréscimo gradativo de outros estudantes e a contribuição das lideranças, seguiu posteriormente revezandose nos movimentos para a obtenção de prédio para a FA-UFRGS, a reforma de ensino, a consolidação do IAB-RS e todas as lutas com as quais a inserção da Arquitetura Moderna no sul se confundiu (Fig.14). Os estudantes do IBA também não aceitavam que professores do Curso de Arquitetura da Faculdade de Engenharia viessem dar aulas de projeto. Quando Plínio Almeida e Frederico Mentz foram designados para o ensino de Grandes Composições, os estudantes entraram em greve, o que Moojen posteriormente classificou como 23 uma injustiça . No terceiro ano do Curso de Arquitetura do IBA (1952), por sugestão 24 do professor Carlos Gómez Gavasso (1904-1987) , da FARQ-UDELAR, foi organizado seminário de ensino denominado "Concentração de Estudantes de Arquitetura – Montevidéu – Porto Alegre", patrocinado pelos centros acadêmicos das duas instituições. O Centro Acadêmico do IBA, presidido por 19 Aldrovando Guerra, através de contatos viabilizados pelos professores , 26 promoveu a vinda dos estudantes uruguaios Carlos Reverdito (1924-1995), 27 28 Suzana Tosar , Conrado Petit Rucker (1928-2004), José Pablo Guerra, Danilo López, Carlos Noriega e mais alguns, que mais tarde tornaram-se, a maioria, professores em Montevidéu. Pelo lado brasileiro, participaram, entre outros, Carlos Maximiliano Fayet, Ari Mazzini Canarim, Irineu Breirman, Moacyr Moojen Marques, Marcos Hekman, Nélson Souza e Moacyr Zanim. O seminário era organizado por grupos de trabalho temáticos, para os quais os uruguaios vieram extremamente preparados. Este evento propiciou relações, trocas de experiências e contatos que se mantiveram a vida inteira. Na visão de Moojen, o ensino de arquitetura uruguaio era mais evoluído, detinha consistência técnica acrescida da seriedade típica dos uruguaios, o que provocou certo impacto 29 entre o meio acadêmico da FA-UFRGS . A estrutura do curso e o trabalho de 30 conclusão, chamado carpeta , eram muito desenvolvidos, com exigências e Principalmente Demétrio Ribeiro, que realizou sua formação em arquitetura em Montevidéu, Edvaldo Paiva e Ubatuba de Farias, que cursaram urbanismo na UDELAR. 26 Posteriormente, foi decano (diretor) da UDELAR (1970), sendo que, com a intervenção militar na universidade, a partir do golpe de Estado de 1973, que perdurou até 1984, Reverdito foi condenado ao exílio, retornando em 1985 para reassumir o decanato até 1995. 27 Igualmente presa em 1972 e condenada ao exílio em 1973, refugiou-se na França, onde faleceu em 1978. 28 Conhecido militante pelo socialismo mas opositor ao stalinismo, muito apreciado pelos estudantes, Petit foi professor da UDELAR desde 1958, foi chefe de taller, catedrático de Teoria de Arquitetura e integrante do Conselho da faculdade. Durante a ditadura uruguaia, esteve refugiado no Brasil. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa em 1998, pela UDELAR. 29 "O grupo de estudantes então reunidos constituiu a segunda geração no relacionamento Porto Alegre-Montevidéu a propósito do Urbanismo e Arquitetura. Frutificado para muito além desses temas, até hoje são mantidos contatos altamente afetivos entre alguns participantes, que remanescem, uma vez que as identidades foram muitas e profundas, fundidas que estavam na mesma visão do mundo, suas promessas de uma muito próxima justiça social e suas consequências no exercício da profissão. A grande maioria desses estudantes tornou-se professor em ambos os países, muitos dos quais pagaram caro por suas convicções, no período em que a América sucumbiu ao totalitarismo." Ver: MARQUES, Moacyr Moojen. Porto Alegre su proyecto y otras consideraciones. In: MARQUES, Sérgio Moacir (Org.). Porto Alegre. Montevidéu: Elarqa, 2000. 30 O Curso de Proyecto Arquitectonico (Carpeta) da FARQ/UDELAR, pelo programa de estudos criado sob forte influência de Gómez Gavazzo (trabalhou no escritório de Le Corbusier entre 1933 e 1934) e grande participação dos estudantes, em 1952, deveria desenvolver-se em paralelo com o terceiro ciclo do Curso de Arquitetura, conjuntamente com Anteproyecto 5 e 6, culminando o processo analítico realizado nos Anteproyectos 3 e 4, a partir de possibilidades técnico-econômicas escolhidas pelos estudantes. Na verdade, os estudantes realizavam a carpeta, normalmente desenvolvida em nível de projeto executivo, durante bastante tempo após o término do terceiro ciclo, podendo estender-se muitos anos neste trabalho. Esse modelo de um projeto de livre escolha, proposto pelo estudante, a ser desenvolvido com mais profundidade, serviria de base para a proposta de Moojen e Araújo na reforma de ensino, havida nos anos 1960, na FA-UFRGS, para a 25 25 Tendo a profissão de engenharia tradicionalmente maior prestígio na sociedade brasileira, conjuntamente com médicos e advogados, oriundas das escolas mais antigas do país, muitos ingressantes no curso de Arquitetura do Belas Artes, através de vestibular realizado depois da Engenharia, o faziam por não terem conseguido vaga nesta. Ambicionando o título, lutavam, dentro do curso de Arquitetura do IBA, pela designação do título de “Engenheiro- arquiteto”. Este grupo reunia-se na casa de Jayme Ayrton Brandão Lompa (autor do projeto da sede do Tribunal de Contas do Estado, 1956, posteriormente acrescido de um pavimento com projeto de Emil Bered) sistematicamente, onde Moojen foi algumas vezes no início do curso. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 20 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 21 O movimento “Por uma Faculdade de Arquitetura”, em prol da criação da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, a partir da fusão dos cursos de Arquitetura do Belas Artes e da Engenharia, chegou a colocar em marcha passeatas e movimentos para despertar interesse da opinião pública, bem como mobilizar professores e estudantes junto às autoridades e políticos para a criação da Faculdade. Ver MARQUES, Moacyr Moojen. Nove e meio in LICHT, Flávia Boni. CAFRUNI, Salma meio. (Orgs.). ARQUITETURA UFRGS: 50 ANOS DE HISTÓRIAS. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 50 HISTÓRIAS. 2002. 22 Realizada uma arrecadação de recursos financeiros entre os estudantes, Sanches foi enviado à capital federal para mobilizar e articular com deputados a criação da faculdade. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 23 MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 24 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 19 206 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo Moojen Fonte: Acervo Moojen Fig. 16 - Solana del Mar, Antoni Bonet Castellana (1945). Visita em 1952. capacidad creadora; pero sobre todo, ineludiblemente, el más profundo conocimiento del medio y sus problemas, y una conciencia clara de los objetivos hacia los cuales debe tender la sociedad." 31 Fig. 15 - Concurso Palácio Legislativo de Quito, 2° Lugar, Carlos Gòmez Gavazzo, 1946 (semelhante ao Palácio da Sociedade das Nações, Le Corbusier, 1927, Genebra). Foto da implantação presenteada a Moojen, 1952. padrões elevados, contrastante com os brasileiros naquele momento. O Plan de estudios da FARQ-UDELAR, aprovado em 1952, depois de um largo processo de estruturação da própria universidade, estava fundamentalmente estruturado a partir das postulações ideológicas do Movimento Moderno, dos CIAMs e da Carta de Atenas, como manifesta sua exposição de motivos: " La Arquitectura es un arte vital; no es desahogo, ni pasatiempo, ni capricho. Si bien está en parte condicionada al temperamento, como toda otra actividad humana, el estímulo que pone en marcha la creación es exterior. Debe responder con alta precisión a las necesidades de la comunidad, debe ambientar e interpretar las relaciones sociales, debe contribuir a resolver problemas que solo en su ámbito pueden ser resueltos." "La honda raíz social de la arquitectura exige que la enseñanza se oriente a proporcionar al profesional un serio dominio de su técnica, una certera concepción de su arte y una desarrollada Ao término do seminário, todos desceram a Rua da Praia abraçados, cantando a Marselhesa. Moojen, Canarim e Moacyr Zanin foram convidados para retornar junto com os estudantes uruguaios e visitar a escola em Montevidéu. Acomodaramse todos nas casas dos amigos. Moojen hospedou-se com Pablo Guerra. Lembra que, de um modo geral, identificou nos projetos acadêmicos aquele A Universidad de la Republica foi criada em 1838 e a carreira de arquiteto em 1887, dentro da Facultad de Matematicas, sob forte influência positivista. Em 1915, foi criada a Facultad de Arquitectura sob influência Beaux-Arts através do professor francês Joseph Paul Carré, e em 1923 31 conclusão do Curso de Arquitetura chamado de Projeto de Diplomação. Ver: FACULTAD DE ARQUITECTURA. Universidad de la Republica Oriental del Uruguay. Plan de estudios. FARQ/UDELAR, Montevidéu, 1989. Cópia impressa. Ver também: ARAÚJO, Claudio L. G.; MARQUES, Moacyr Moojen; MENTZ, Luiz Frederico. Programa de ensino. Ciclo de preparação básica – Ciclo de preparação profissional. Porto Alegre: FA-UFRGS, 1966. Cópia datilografada. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado se incorporaram os cursos de urbanismo. O primeiro decano, Arquiteto Horácio Acosta, realizou a implementação de novo plano de estudos, equilibrando o ensino da arte e da técnica, que nos anos 1920 recebeu impulsos sociais a partir do movimento de reforma universitária, de Córdoba (1918), que repercutiu em toda a América Latina. A partir dos anos 1930, começaram as influências do Movimento Moderno europeu, implicando os planos de reformas, em 1937 e 1945, com a influência de Vilamajó, Cravotto, Gavazzo e Otavio de los Campos, que culminou no plano de 1952, quando em dissidência com Gavazzo, Cravotto se afastou da escola. FACULTAD DE ARQUITECTURA, Universidad de la Republica Oriental del Uruguay. Resenha histórica. Disponível em: Acesso em 06 out. 2011, às 20h. Posteriormente, no início dos anos 1980, novos intercâmbios com a FARQ/UDELAR voltaram a influir no ensino de arquitetura da FA-UFRGS, em especial os procedimentos da crítica indireta e o projeto como investigação, a partir das teorias pedagógicas de Nélson Bayardo (1922-2002), expostas em curso promovido pela FA-UFRGS, acompanhado por diversos professores. Ver: BAYARDO, Nelson. Hacia una autodidactica dirigida – ideas sobre un modo posible de encarar la enseñanza en un taller de arquitectura. Montevidéu: FARQ/Udelar, 1990. Sergio MMarques 207 Fonte: Acervo Moojen Fig. 17 - Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura. Da esquerda para a direita, em pé Lincon G. de Castro, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Francisco D. Landó, não identificado e Irineu Breitman. Agachados, Flávio Soares e Rubem C. Pilla. Recife - PE, 1952. Fonte: Acervo Moojen Fig. 18 - Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura. Ponte Duarte Coelho. Ao fundo, edifício dos Correios na Avenida Guararapes. Moacyr Moojen e Irineu Breitman. Recife - PE, “espírito moderno mais próximo da obra de Alvar Aalto, do organicismo e de algo dos norte-americanos, extraindo o máximo de racionalidade com o mínimo 32 de recursos e materiais rústicos” , como na obra de Antoni Bonet Castellana cujas visitas o impressionaram (Fig.16). Na escola de arquitetura de Fresnedo Siri – “arquitetura de certo paralelo classicista, como a do Colégio Júlio de 33 Castilhos de Demétrio Ribeiro” – em uma visita a seu taller, ganhou do professor Carlos Gómez Gavazzo uma fotografia do projeto classificado no concurso para o Palácio Legislativo de Quito (1946), de vertente corbuseriana (Fig.15), mais vanguardista que a arquitetura renovadora uruguaia, como a escola de engenharia de Julio Vilamajó, em parte também conectada ao universo estético de raízes conservadoras. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 33 Universo arquitetônico chamado pelos uruguaios de "Arquitetura Renovadora", que pode ser ilustrado também pelo projeto da Sección Feminina de Enseñanza Secundária – SFDES (1937) de O. de los Campos, E. M. Puente e H. Tournier. 32 Lembra-se das longas confraternizações no Mercado Del Puerto, onde 34 depois de algumas copas cantavam todos juntos . Na década seguinte, com a revolução militar no Uruguai, muitos colegas uruguaios foram cassados e perseguidos, e alguns buscaram socorro e apoio entre os gaúchos. Petit refugiu-se na casa de Moojen, consolidando relações de cumplicidade que se 35 prolongaram posteriormente através de outros, como Isidoro Singer (1940) , além de contatos intermitentes com os colegas uruguaios e uma última vinda de 36 Gómez Gavasso a Porto Alegre, já na década de 1980 (Fig.7-Prólogo) . No terceiro ano, outro evento significativo foi a realização de concurso interno de projetos acadêmicos entre estudantes da Faculdade de Arquitetura, em duas categorias: pequenas e grandes composições. Moojen concorreu na “Toma esta copa, esta copa de vino, se yá tomó, se yá tomó y ahora le toca o vecino”. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 35 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo. 36 Por ocasião da inauguração da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, em Porto Alegre, o IAB-RS, presidido por Maria Isabel Ballestra, convidou o velho mestre para a cerimônia. 34 208 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo Moojen Fig. 19 - Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura de Recife, 1952. Escala no Rio de Janeiro. Aeroporto Santos Dumont, Irmãos Roberto, 1937. Fonte: Acervo Moojen Fig. 19.1 - Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura de Recife, 1952. Escala no Rio de Janeiro, Parque Guinle, Lúcio Costa, 1944. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Foto Moacyr Moojen Marques. Acervo Moojen Fig. 19.2 - Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura de Recife, 1952. Escala no Rio de Janeiro, Edifício Seguradoras, Irmãos Roberto, 1949. Sergio MMarques 209 segunda, com projeto de escola para Rio Pardo-RS, aproveitando elementos vernáculos do contexto, após amplas visitas à cidade, projeto desenvolvido na cadeira ministrada pelo professor Edgar Graeff, sempre interessado nas coisas da região. Araújo concorreu com uma casa moderna desenhada em papel preto com tira-linhas e tinta branca, um feito gráfico paciencioso e rigoroso, já notório, entre colegas, como característico de Araújo. Ambos premiados em cada categoria, como prêmio viajaram, acompanhando outros colegas, para o Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura em Recife-PE (1952) (Fig.17). Neste evento, assistiram às conferências de arquitetos modernos regionais, como Acácio Gil Borsói (1924-2009), visitaram a arquitetura moderna da cidade (Fig.18) e contataram estudantes de outras partes do país, principalmente da Bahia, cujos contatos não evoluíram como os do Uruguai. Na mesma viagem, realizaram escala no Rio de Janeiro, para visitar as obras referenciais da escola carioca (Fig.19), aproveitando a oportunidade em uma época significativamente dificil para realização de viagens, onde chamou a atenção de Moojen, em especial, as obras dos Irmãos Roberto (Figs.19). Com a parceria de Moojen e Araújo na programação, estreitaram-se afinidades acadêmicas e pessoais, como a que se estendia a outros colegas formando, junto com os professores, a rede cuja massa crítica inicial era a base da afirmação da arquitetura moderna no meio. Segundo Moojen, desta época o arquiteto mais talentoso era Coroninha e o mais culto era Veronese, com o qual, posteriormente, compartilhou docência nas disciplinas de urbanismo e realizou, em seu escritório, o projeto vencedor para o concurso das Ilhas do Delta. Araújo igualmente trabalhou como desenhista no seu escritório na Rua Pinto Bandeira. Em relação à convivência daqueles tempos, Moojen relata que em uma casa, localizada onde hoje é o Colégio Israelita, franqueada para Irineu 37 Breitman neste período, havia importante ponto de encontro para estudos de arquitetura, realização de trabalhos, reuniões políticas e festas, frequentadas por este circuito de estudantes e professores da facção autodefinida como esquerda. A militância política e engajamento ideólogico, de tendência progressista, com conexões com o Partido Comunista do Brasil – PCB, ainda que com colorações ingênuas e devaneadoras, relativamente comuns neste meio e época, eram importantes ingredientes motivadores dos encontros e reuniões. Fonte: . Fig. 20 - Jornal "A Voz Operária", 1954. Monteiro Lobato, "O Poço do Visconde", 1937 . Moojen lembra, em relação ao seu engajamento ideológico, que ainda 38 no Colégio IPA, o colega chamado Alberto Schroeder levou para o meio acadêmico a campanha nacionalista “O Petróleo é Nosso”, liderada por intelectuais, como Monteiro Lobato que o cativou e o envolveu na militância (Fig.20). Começou a participar de reuniões e congressos organizados pelo “partidão”, em lugares e condições informais, com certa discrição para que não fossem notados. Lembra da inocência e ingenuidade daqueles tempos, quando resoluções de âmbito mundial eram tomadas em apartamentos vazios por meia dúzia de apaixonados. Esse envolvimento prosseguiu nos primeiros anos da faculdade, onde o grupo de estudantes e professores próximos eram simpatizantes. Além da afinidade com o contexto de esquerda no meio acadêmico da arquitetura, manteve também militância na União da Juventude Comunista – U.J.C., realizando missões como a distribuição do jornal “A Voz 39 Operária” (Fig.20). As reuniões eram ordenadas com leituras conjuntas e Schoreder posteriormente seguiu carreira política, foi vereador em Porto Alegre até ser cassado e torturado durante a revolução. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 39 O Partido Comunista Brasileiro e seu órgão central foram fundados em 1922. O Voz Operária deu continuidade a uma longa tradição de periódicos sociais, editados desde o século XIX no Brasil. Ver: 38 37 Breitman tornou-se amigo próximo de Moojen. Naquela época, ainda estudante, desenvolvia o projeto para o Colégio Israelita e dispunha da casa para seu uso. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 210 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I estudos de textos fundamentais, bem como informes com diretrizes para as diferentes regiões do país e do mundo. Exemplifica com o movimento “A Luta pela Paz”, orientado pelo socialismo internacional, que estabelecia ações 40 conjuntas e tarefas de disseminação do movimento cultural . O engajamento neste movimento, além da coesão determinada pelas afinidades arquitetônicas, celebradas no "aparelho" de Breitman, culminou em um convite do governo polonês para visitar os programas de reconstrução do pós-guerra e sistemas de pré-fabricação, assim como do governo da República Democrática da Alemanha (R.D.A. – Alemanha Oriental) para participação no Congresso Mundial da Paz em Helsinque (1955), durante a realização da viagem de formatura, logo após a conclusão do Curso de Arquitetura, onde conheceu pessoalmente Jorge 41 Amado e outros militantes ilustres . RODRIGUES, Edgar. Pequena história da imprensa social no Brasil. Rio de Janeiro: Comunicação Comunitária, 1996. Disponível em: Acesso em 14 mai de 2009, às 23h 12min. Moojen lembra-se que, certa vez, quando foi em missão para distribuição e apresentação do Voz Operária com o Lênin na capa, na Vila do Sargento em Porto Operária, Alegre, foram postos para correr por militares à paisana moradores do local. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 40 Com a Revolução comunista nos países do leste asiático, desde as primeiras décadas do século XX, o enfrentamento com a ideologia capitalista e o ocidente redundou em conflitos, como a Guerra da Coreia e do Vietnã. Após a Segunda Guerra Mundial, com o fortalecimento do bloco Soviético e o início da Guerra Fria, era necessário, para a consolidação das repúblicas socialistas, um período de paz, sem corridas armamentistas, para estabilização de regimes e economias. Para visualizar o clima ideológico do movimento, ver o informe apresentado na sessão solene do Soviet de Moscou, a 6 de novembro de 1950, em comemoração ao 33° aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro. BULGARIN, N. As vitórias da URSS na marcha para o comunismo e na luta para a paz. Problemas Problemas – Revista Mensal de Cultura Política, Rio de Janeiro, n. 31, nov./dez., 1950. Disponível em: Acesso em 24 de out. 2010, às 19h45min. 41 Neste congresso, a delegação brasileira era chefiada pelo advogado e jornalista baiano João Falcão (1919 – responsável pelo aparelho clandestino de Luís Carlos Prestes no Rio de Janeiro, de 1947 a 1950), posteriormente deputado Federal. No Congresso, participaram Jean Paul Sartre, Lia Lafaye Torres (1898) e outros intelectuais. O momento histórico da criação do Conselho Mundial da Paz – C.M.P. e dos congressos mundiais ocorreu "após os horrores da guerra na frente europeia, a comoção causada pela tragédia de Hiroshima e Nagasaki que mobilizou amplos setores da intelectualidade a favor do desarmamento e da paz. Em 6 de agosto de 1948, exatamente três anos após o lançamento da bomba de Hiroshima, realizou-se em Wroclaw, na Polônia, o Congresso Mundial dos Intelectuais pela Paz do qual participou, entre outros, o filósofo e jornalista brasileiro Alberto Castiel. Neste congresso, se faz um apelo pela organização da luta pela paz em nível mundial". Posteriormente a sede do C.M.P transladou-se para Paris, de onde foi expulso dado o recrudescimento da Guerra Fria, mudando novamente para Helsinque, onde organizou o Congresso Mundial em 1955. Para mais informações sobre a história dos Congressos Mundiais da Paz, objetivos e participantes, ver: KINOSHITA, Dina Lida. Organização comunista na América Latina no Pós II Guerra Mundial: rastros do comintern Revista Izquierdas U. de Chile, ano 3, n. 7, 2010. comintern. Izquierdas, p.1-12. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado A Europa, a Cortina de Ferro e Alguns Convites (1955) Moojen classifica a viagem de formatura, outra prática herdada dos uruguaios, como importante acontecimento em sua formação e trajetória. Organizada durante todo o Curso de Arquitetura, com ações para angariar fundos, a edição de que participou partiu em maio de 1955, quando sua primeira filha, Nádia, já tinha seis meses de idade. O grupo – integrado pelos arquitetos Ari Mazzini Canarim, Suely Franco Neto, Fernando Jorge da Cunha Carneiro, Luís Carlos Cunha e Fábio Souto Ribeiro – acompanhados do professor Edvaldo Paiva, responsável pela viagem. Partiram do porto de Santos, no navio de carga North King, de bandeira panamenha(Fig.21). Em Viena, receberiam passaportes diplomáticos da Polônia, prática frequente e necessária, para evitar problemas no retorno ao Brasil, onde a visita a países comunistas era condenada. Aportaram em Portugal, seguiram para a Espanha e dali direto a Viena, para aguardar os passaportes e ingressar no programa oficial organizado para eles. Em Varsóvia, foram recebidos por um funcionário chamado Ernest Gruda, que já havia vivido no Brasil, designado pelo governo como intérprete e guia. Em uma caminhonete, conduziu-os em visitas aos programas de reconstrução do país, projetos de habitação coletiva e infraestrutura urbana, com uso de pré-fabricação, de caráter moderno para os padrões locais (Fig.22). Recorda da forte impressão deixada pelo sentimento nacionalista polonês na reconstrução dos centros históricos para a condição anterior à 42 invasão e destruição nazista . Constatou também que os arquitetos poloneses com quem tiveram contato classificavam a influência Soviética no leste europeu fundamental sob o ponto de vista da reestruturação social, mas indesejável sob o ponto de vista artístico e arquitetônico, tendo como paradigma dessa rejeição o Palácio da Cultura e da Ciência de Varsóvia, projeto soviético maneirista, mistura de fundamentos estéticos do realismo socialista com expressionismo, 43 presenteado pela U.R.S.S. e recebido com reservas (Fig.23). O sentimento do O exemplo mais expressivo era a Praça Staremiastro e os prédios circundantes no centro histórico de Varsóvia, que foram reconstituídos integralmente para a condição anterior à destruição total provocada pelo bombardeio de Varsóvia (1944), em que Hitler, além da dominação territorial, pretendia substituir Varsóvia por uma cidade nova chamada Hitlerstaat. Ver: DAVIES, Norman. Europa na Guerra – 1933-1945 – Uma vitória nada simples. São Paulo: Record, 2009. 43 O Palac Kultury i Nauki w Warrszawie, inicialmente chamado Palácio de Stalin, presente da U.R.S.S., construído entre 1952 e 1955, durante o período denominado "Era Bierut" (1948-1956) de ascensão da hegemonia soviética sobre a Polônia, é o edifício mais alto do país e chegou a ser o mais alto da Europa, com quarenta e dois pavimentos, projeto do Arquiteto Lew Rudniew com intervenções do próprio Stalin. Ver: ZAMOYSKI, Adam. História da Polônia. Lisboa: Edições 70, 2010. Sergio MMarques 211 42 Fonte: Acervo Moojen à Polônia marcou significativamente o grupo – além da hospitalidade com que foram recebidos – pela organização social e esforços de reconstrução patrimonial urbana e cultural do pós-guerra, assim como pelos sistemas construtivos utilizados. Na sequência, seguiram para a Alemanha Oriental, custeados pelo governo da República Democrática da Alemanha, onde também uma funcionária governamental, chamada Frau Herta, foi designada para ciceroná46 los, interpretando do alemão para o francês. Visitaram Berlim , Postdam, 47 Dresdem, Erfurt , Teupitz e outras localidades do interior da Alemanha do Leste. Em Berlim Oriental, foram convidados a participar de um encontro internacional de arquitetos, organizado pelo poder público, dedicado aos temas de reconstrução urbana e habitação coletiva, embalados pela recente reconstrução da Frankfurter Strasse, rebatizada de Stalinallee (hoje nomeada Karl-Marx-Allee), executada entre 1952 e 1954, e seu contraponto ocidental, o Hansaviertel, cujo concurso de 1951, divulgado em 1953, tinha novas versões 48 apresentadas entre 1954 e 1955 . Moojen recorda que, nesse evento, dando sequência aos debates que já havia testemunhado na Polônia, predominava discussão polarizada entre soviéticos e demais participantes de diversas nacionalidades, na qual os primeiros apresentavam e defendiam tese de que a arquitetura moderna não havia conseguido satisfazer as necessidades culturais da sociedade. Fig. 21 - Moacyr Moojen, navío panamenho North King, 1955. meio arquitetônico era de incredibilidade diante de uma manifestação estética retrógrada realizada pelo sistema social revolucionário mais moderno do mundo, segundo a percepção local. Também manifestavam desgosto em relação ao desprezo pela cultura nacional que a dominação cultural do imperialismo soviético começava a denotar. Na Polônia, foi significativamente marcante, ainda, a visita a Cracóvia, 44 cidade medieval, à Universidade Jaguelônica, uma das primeiras da Europa , e aos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau na Silésia, que 45 impactaram pela dura visão in loco da extensão do Holocausto nazista . A visita A Uniwersytet Jagiellonski – UJ, foi fundada em 1364, antes do Renascimento polonês, como uma universidade de elite, com o objetivo de preparar uma classe de pessoas instruídas para a sociedade polonesa, principalmente advogados. Teve estudantes ilustres, como Nicolau Copérnico (1473-1543), astrônomo, fundador do heliocentrismo, e o Papa João Paulo II (Karol Wojtyła, 19202005), poeta, escritor, bispo católico de Roma, entre outros. Ver: ZAMOYSKI, Adam. História da Polônia. Lisboa: Edições 70, 2010. 45 Oswiecim-Brzezinka, nome em polonês das localidades onde estavam situados os conhecidos campos um e dois do complexo Auschwitz, criados em 1940, onde foram executados mais de um 44 milhão e meio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, entre eles Anne Franke e Olga Benário Prestes, deportada pelo governo Vargas. Ver: ZAMOYSKI, Adam. História da Polônia. Lisboa: Edições 70, 2010. 46 Em Berlim, à revelia do programa, e em operação de certa forma arriscada, visitaram o lado ocidental, causando certo desconforto à guia encarregada. O muro ainda não existia e o controle não era tão rigoroso, mas eles não estavam autorizados a cruzar a fronteira. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 47 Capital da Turíngia (Thüringen), é uma cidade independente (Kreisfreire Städte), terra dos contos dos irmãos Grimm. Tem umas das universidades mais antigas da Alemanha, fundada em 1392, por onde passou Martin Lutero. 48 A reestruturação do Hansaviertel, em Berlim Ocidental, de acordo com o projeto vencedor do concurso, da equipe constituída pelos arquitetos Gerhard Jobst e Willy Kreuer, concluída em 1960, em meio à concorrência entre os dois sistemas sociais, estava também vinculada, dentro da política de reconstrução ocidental e do plano Marshal, à promoção da Exposição Internacional de Arquitetura, a Interbau, realizada em 1957, na qual, no pavilhão brasileiro, a exposição Brasilien baut Brasilia apresentou o projeto da nova capital para o público europeu, pela primeira vez. Esta foi, em contraponto ao urbanismo promovido pelo regime soviético na Stalinalle, a primeira exposição internacional de arquitetura após a Segunda Guerra Mundial, expondo as experiências recentes em termos de arquitetura e urbanismo modernos, na qual igualmente Oscar Niemeyer projetou, na Altonaer Strasse, o Niemeyer-House ou Object 14, em 1957. Ver: ESKINAZI, Mara Oliveira. A Berlim: Interbau 1957 em Berlim diferentes formas de habitar na cidade moderna. [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: PROPAR, UFRGS, 2008. 212 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo Moojen Fonte: Acervo Moojen Fig. 22 - Visita aos programas governamentais de construção de habitação coletiva, Varsóvia, 1955. Fonte: . Acervo Moojen Fig. 24 - Stalinallee, Berlim Oriental, República Democrática da Alemanha, 1955. Fig. 23 - Palácio da Cultura e da Ciência, 1952-1955, Varsóvia 1955. Fonte: Acervo Moojen Fig. 25 - Da esquerda para a direita, Moacyr Moojen, Suely F. Neto e Fernando Carneiro. Alemanha Oriental, 1955. 213 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques Fonte:< http://www.scandinaviandesign.com/artek/021119.htm> Essa prática, amparada em uma visão em parte ideológica, causava comoção e forte reação entre os demais participantes, principalmente os franceses, que diziam não compreender como uma filosofia social progressista podia ter recuado esteticamente e abandonando a correspondência formal moderna obtida pelo próprio construtivismo russo. Combatiam, portanto, a máxima de 49 Stalin, "nacionalista na forma, socialista no conteúdo" , e reagiam veementemente à corrente do Realismo Socialista de Andrei Szdhanov. Moojen atualmente considera que esses debates refletiam as discussões estéticas no meio acadêmico gaúcho dos anos 1950 e as que, mais tarde, ganharam corpo na crítica pós-moderna, mas, naquela oportunidade, revestidos da resistência progressista ao international style, iminente na Guerra Fria, transcendiam o debate estético contaminados pela carga ideológica, fenômeno que igualmente ocorreu, em paralelo, no âmbito gaúcho, entre a arquitetura regional e internacional e os debates sobre a arquitetura moderna brasileira no sul. 50 Em Berlim Oriental, o projeto para a Avenida Stalinallee , de traçado clássico, com os prédios modernos de influência soviética e adereços ornamentais, em parte semelhantes à obra de Arnaldo Gladosch em Porto Alegre, segundo Moojen, impactou o grupo (Fig.24), mas realmente impressionante foi a visita ao efervescente lado ocidental e aos novos sopros de modernidade, contraste de vitalidade com o lado oriental. Da Alemanha, o grupo se dividiu, uma parte seguindo Paiva, Cunha e Fábio para a Bulgária, e os demais para Helsinque, em vôo com um Topolev que causava insegurança, para o Congresso Mundial da Paz. Moojen participou ativamente do evento, como representante latino-americano, o que no seu entender não queria dizer muita coisa, já que a “representatividade” entre a esquerda era quantitativamente inexpressiva. Mesmo assim interagiram, em 49 DOLFF-BONEKÄMPER, Gabi; SCHMIDT, Franziska. Das hansaviertel – Internationale . nachkriegsmoderne in Berlin. Berlim: Bauwesen, 1999. p. 15. Tradução de ESKINAZI, Mara. 50 "Stalinallee, com sua proporção monumental e sua arquitetura eclético-acadêmica, foi executada entre 1952 e 1954. Sua construção foi anunciada logo após a separação da Alemanha, em 1949, e seu projeto foi objeto de concurso realizado em 1951. O plano definitivo mesclou ideias da proposta colocada em primeiro lugar, de autoria de Egon Hartmann, com os demais quatro premiados. A avenida, também planejada para marchas e paradas, acomodaria, ao longo de 1.800m de extensão e 80m de largura, lojas, cafés, restaurantes, hotel e um cinema, além de edifícios residenciais de seis a treze andares muito distanciados entre si. Seus 2.700 apartamentos eram espaçosos e bem equipados para os padrões da época, os aluguéis eram extremamente baratos e as fachadas eram ricas em ornamentos e detalhes. O caráter nacional se expressa através dos detalhes que evocam Schinkel e seus contemporâneos, o que indicava o lema político-cultural de Stalin: “nacionalista na forma, socialista no conteúdo”. ESKINAZI, Mara Oliveira. A Interbau 1957 em Berlim: diferentes formas de habitar na cidade moderna. Vitruvius, São Paulo, Arqtextos, 129.09, ano 11, fev. 2011. Disponível em: Acesso em 19 mar., 2012, às 22h 47min. Fig. 26 - Casa ateliê, Alvar e Aino Aalto, 1935, Helsinque. Visita em 1955. O Movimento Moderno, para os arquitetos soviéticos, havia avançado tecnologicamente, com sistemas construtivos capazes de solucionar os problemas de construção da habitação coletiva em massa, mas não tinha solucionado a questão estética. Os russos apresentaram projetos com préfabricação pesada e construção de larga escala, nos quais havia equipamentos específicos para, após a montagem das estruturas, ornamentar a construção com adereços pré-fabricados de filiação formal expressionista ou beaux-Arts. 214 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo Moojen Fonte: Acervo Moojen Fig. 28 - À esquerda, Moacyr Moojen, Suely F. Neto e Ari M. Canarim, Vaticano. À direita, Suely F. Neto, Moacyr Moojen e Fernando Carneiro, Palazzo della Civiltà Italiana, 1941-1942, Roma, 1955. Fig. 27 - Pavilhão Suíço, Le Corbusier, 1931-1933, Universidade de Paris, 1955. grupos de trabalho, com integrantes de diversas nacionalidades, o que ocasionou relações interessantes. Durante o evento, em uma reunião plenária, depois da convivência nos trabalhos, Jorge Amado pediu a Moojen que o presenteasse, com dedicatória, com uma caricatura sua feita por ele. Em outro contato, recebeu convite de um General Chinês para programa de visitas de três meses na China, que recusou vacilante, considerando o tempo excessivo. Na Finlândia, ainda durante o congresso, visitaram o escritório de Alvar Aalto antes de retornarem a Viena para a troca de passaportes. Moojen se impressionou com a simplicidade das instalações e estrutura do estúdio do mestre na casa ateliê em Munkkiniemi, onde os visitantes foram recepcionados por sua esposa, a arquiteta Elissa Aalto 51 (Fig.26) . 51 Casa-ateliê projetada e construída pelo casal Alvar e Aino Aalto (sua primeira esposa, designer falecida em 1949) na rua Riihitie, 10, bairro Munkkiniemi em Helsinque (1935), com partes da construção em madeira escura. Elissa era sua assistente e casaram-se em 1950. Posteriormente, Aalto projetou e construiu um escritório no mesmo bairro (1954-1955), no período em que o grupo de brasileiros visitou sua casa-ateliê. Atualmente, ambas integram a Fundação Alvar Aalto. O projeto da casa-ateliê, para alguns autores, a partir das relações teóricas de Aalto com o orgânico e o biológico, caracteriza o chamado "Modernismo Romântico". É provável que este contato tenha influenciado o referencial de Moojen para algumas obras, especialmente a Casa de Ipanema. Ver: THORNBRG, Joseph Muntañola. Alvar Aalto. Barcelona: Edicions UPC, 2003, p. 55-58. De Viena, por conta própria, o grupo se dirigiu a Paris, a partir de onde realizaram roteiro pela França e Itália. Em cada localidade, possuíam, registrados em um caderno de endereços, contatos com pessoas ligadas ao Partido Comunista, que davam apoio de todos os tipos. Em Paris, foram alojados no célebre Grand Hotel Saint Michel, de Madame Sauvage, na Rue Cujas, Quartier Latin, por intermediação de Jorge Amado, que apesar de lotado 52 havia reservado espaço para os indicados . Em Gênova, deixaram toda a bagagem na sede do Partido Comunista para visitar as cidades próximas. Em Milão, um militante designado pelo partido recebeu-os com um pequeno automóvel Fiat; em Roma, igualmente. Moojen guarda na memória a boa impressão causada pelo Pavilhão Suíço, de Le Corbusier, na Cidade Universitária em Paris (Fig.27), pela arquitetura histórica italiana (Fig.28) e pela viagem como um todo, uma experiência significativa, realizada em época em que a viabilização de viagens longas à Europa era difícil, que o marcou pessoal e profissionalmente, como atestam os relatos sorvidos por muitos em diversas oportunidades de convivência. Madame Sauvage, como era conhecida a proprietária do hotel, foi espiã de guerra conhecida por sua beleza. Seu hotel era centro de peregrinação de escritores, poetas e intelectuais latinoamericanos, como Nicolás Guillén, Tito Mundt, Gabriel García Márquez, Júlio Cortázar, Atahualpa Yupanqui, Francisco Coloane Cárdenas, Jorge Amado, Mario Benedetti, Roa Bastos e outros. 52 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 215 Mais Convites, o Convite Derradeiro, Edvaldo Paiva, a Carreira Multifacética e a Cidade (1956-1958) Fonte: Acervo FAM Farias, em momentos distintos, estava finalizado, mas necessitava ser detalhado. Paiva, posteriormente, já de volta ao Brasil, tornou a insistir no convite, já que o plano deveria ser apresentado à Câmara de Vereadores e a seguir implantado, aumentando a carga de trabalho e a necessidade de equipe. Moojen então concordou, ingressando na carreira pública em 1956, com a condição de trabalhar somente pela manhã, reservando as tardes para a carreira como autônomo. Quando iniciou, a Prefeitura funcionava exclusivamente à tarde. A equipe dedicada ao planejamento trabalhava sozinha pela manhã, com Fayet e Veronese. Demétrio e Ubatuba de Faria já não estavam mais. Moojen, ingressando na equipe, além de participar das discussões gerais, se dedicou a alguns traçados urbanos no Morro Santa Teresa, ao detalhamento da Primeira Perimetral e ao Plano da Ilhota. Neste momento, as influências do urbanismo em Porto Alegre já haviam superado o pensamento ligado à S.F.U e Agache, por seu trabalho no Brasil, e Léon Jaussely, por intermédio de Cravotto no Uruguai, e voltava-se a outras vertentes associadas ao Movimento Moderno canônico, que igualmente se introduzia na arquitetura da cidade, como as ideias, entre outros, de Tony Garnier, Hilberseimer e Le 53 Corbusier . Fig. 29 - Da esquerda para a direita, Moacyr Moojen, Irineu Breitman (presidente do IAB-RS), Maurício Roberto e Carlos M. Fayet. Divisão de urbanismo da Secretaria de Obras da Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA, 1958. A experiência da viagem trouxe ainda, por outro lado, oportunidades profissionais que acabaram por determinar boa parte de sua carreira. Durante a viagem, estreitaram-se os vínculos com Edvaldo Paiva. O mestre, que na visão de Moojen tinha dificuldades em mostrar afetividade e afinidades pessoais, mas que cultivava certo apreço por ele, desde que foi seu aluno, aproximou-se ainda na viagem de ida e convidou-o para, no retorno, integrar a equipe que se encarregava de formular o Plano Diretor de Porto Alegre, constituída naquele momento por Veronese e Fayet. Moojen, agradecido, não aceitou, manifestando seu desejo em montar escritório de arquitetura e iniciar carreira autônoma, fazendo projetos de arquitetura, algo que sempre entendeu ser sua vocação. A recusa ao convite de ingresso na carreira pública, tendência natural para aqueles que de alguma maneira militavam na afirmação da arquitetura moderna no sul, surpreendeu o velho amigo. Naquele momento, um Pré-Plano Diretor de Porto Alegre, elaborado por Paiva, Demétrio Ribeiro e Ubatuba de Da mesma forma, em outras cidades com planos desenvolvidos nos anos pós-guerra, como Santos-SP: "Assim, o enfoque da cidade a partir das unidades residenciais e da influência do modelo bairros-jardim se daria mesclado com o pensamento expansionista de modelos como o de Sória y Mata, mas também se percebem referências diretas ou indiretas aos trabalhos de Cerdá, Garnier, Hilberseimer e Le Corbusier". OLIVEIRA, Fabiano Lemes. Modelos urbanísticos modernos e parques urbanos: as relações entre urbanismo e paisagismo em São Paulo na primeira metade do século XX. [Tese de doutorado]. MONTANER, Josep Maria (Orient.). Barcelona: ETSAB/UPC, 2008, p. 321. Para aprofundamento no estudo do urbanismo moderno em Porto Alegre, a trajetória de Edvaldo Pereira Paiva e o Plano de 1959, é fundamental o trabalho de Rovatti. Ver: ROVATTI, João Farias. La Modernité est ailleurs: “ordre et progrès” dans l’urbanisme d’Edvaldo Pereira Paiva (1911-1981). [Tese de doutorado]. Paris: Université de Paris VIII – Vincennes-Saint-Dennis, 200. Alguns tópicos do desenvolvimento do planejamento urbano de ascendência no Movimento Moderno, são abordados no III capítulo deste trabalho, dedicado em especial a Praia de Belas. 53 216 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Primeira Perimetral (1956-1959) Fonte: . http://blog.best-bookings.com/en/vienna-the-ring-traman-original-way-to-discover-the-ringstrasse/> 1860-1890. Fig. 29 - Mapa e perspectiva de detalhe da Ringstrasse de Viena, 1860 O projeto da Primeira Perimetral, dentro dos conceitos de "perímetro de 54 irradiação" adotados por Paiva e Ubatuba em seus primeiros estudos de 1936, finalmente é formalizado, a partir da ideia de avenida anel que envolve o 55 perímetro do centro histórico, como a Ringstrasse de Viena , agindo como elemento de estruturação do sistema viário principal da cidade, neste caso anel irradiador/receptor do tráfego em direção às radiais de conexão aos bairros e região metropolitana, bem como com o sistema modal de transporte coletivo Ver Capitulo III - Praia de Belas - A cidade Moderna e os três arquitetos (1914-1979). A "Avenida Anel", em Viena, foi construída para substituir as antigas muralhas do Innere Stadt, distrito da cidade, entre as décadas de 1860 e 1890, com um plano viário e de construção de edifícios representativos, determinado pelo Imperador Franz Joseph I. Tornou-se a principal avenida da cidade, ocasionando a denominação do estilo Ringstrassenstil, pelo monumentalismo das arquiteturas construídas, como a Ópera Estatal de Viena (Wiener Staatsoper, 1861-1869, August Sicard von Sicardsburg e Eduard Vander Nüll), Academia de Belas Artes (Akademie Der Künste Bildenden, 1877, Theophil Freiherr von Hansen), Parlamento da Áustria (Parlament Österreichisches, 1874-1883, Theophil Edvard Hansen), Câmara Municipal (Rathaus, 1872-1883, Friedrich von Schimidt) e o Banco Postal de Poupança Austríaco (Österreichische Postsparkasse, 1894-1902, Otto Wagner), entre outros. Para alguns urbanistas, como Camilo Site, a experiência da implantação da avenida em Viena oferecia aspectos discutíveis: "Para Site, personagem mais ligado à tradição, em parte devido à proveniência da classe artesã, o racionalismo utilitário da Ringstrasse foi visto com extremo negativismo. Mais coerente com os valores que guiaram a construção da Ringstrasse, estaria Otto Wagner. Em contato direto com seus construtores, Otto Wagner tomava a vida moderna como principal inspiração para a criação artística, ou seja, o arquiteto teria de se libertar da história, da tradição, e buscar uma linguagem visual adequada à época. O esforço pela renovação ou pela negação, no caso de Site, do passado ressaltou experiências dentro da capital de um império arcaico, cujas reformas não foram capazes de alavancar definitivamente a locomotiva do progresso". Ver: FAGUNDES, Luciana Pessanha. Cidades pensadas, cidades construídas: diferentes experiências nas tensões da modernidade. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, Sociais Volume 1, n. 2, dez. 2009, p. 4. 55 54 Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954 - 1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964, p.27, 61. Alegre,1956 Fig. 30 - Planta e detalhe do trecho B da I Perimetral de Porto Alegre,1956-1959. Detalhe e perspectiva de Moacyr Moojen. urbano e regional; da mesma forma, como avenida indutora da ampliação do centro, organização das funções cívicas representativas da modernização urbana e dos equipamentos públicos de primeira grandeza, tais como o Novo Centro Comercial, Centro Administrativo Estadual, Paço Municipal, Teatro Municipal e terminais rodo-ferroviários. Classificada no próprio texto do plano como a obra mais importante, o traçado inicial previa a inclusão da Avenida Mauá, no contorno norte do anel, avançando sobre a marina pública e a Usina do Gasômetro até um determinado ponto mais ao sul da usina (onde hoje se Sergio MMarques 217 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: . FARIA, Ubatuba de, PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao Estudo da Urbanização de Porto Alegre. Original datilografado, Porto Alegre, 1938, p. 51. Fonte: Acervo Moojen Fig. 32 - Detalhe Trecho B, I Perimetral, Moacyr Moojen, 1956-59. Fig. 31 - Detalhe do Túnel da Conceição, Ubatuba de Farias, 1936, Porto Alegre. Passos e viaduto na Praça Dom Feliciano (não construído), passagem subterrânea entre a Rua da Praia e Avenida Borges de Medeiros (posteriormente, Araújo projetou um viaduto neste ponto igualmente não construído), construção de estacionamentos na remodelação da Praça XV de Novembro (concomitantemente, dentro desta diretriz, Oscar Niemeyer realizou 57 projeto de Restaurante Popular, para esta área ). Moojen dedicou-se, além da discussão e diretrizes gerais do traçado da Primeira Perimetral, ao detalhamento do trecho “B”, e às intermediações com a 58 UFRGS (Fig.30). Este tramo da Avenida compreendia, na extremidada oeste, O projeto de Niemeyer, realizado entre 1956 e 1958, encomendado pelo Prefeito Leonel de Moura Brizola, vinha em substituição da proposta de Moojen de executar o restaurante sobre o antigo abrigo dos bondes, acompanhado do comentário que “restaurante em ‘L’ não funciona” e propunha um volume cilíndrico de vidro, no centro da praça. A proposta foi mal recebida pelos técnicos do planejamento e não foi executada. Posteriormente, os originais enviados desapareceram da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e nunca mais foram encontrados. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. 13 set. 2011. 58 Acompanhou a negociação com a Universidade e posteriormente, na revisão do Plano de 1959, em 1961, no novo traçado para a Praia de Belas, feito com Fayet. A proposta era de transferência do campus para local próximo à Usina do Gasômetro, onde hoje está o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, em uma área de 40 hectares. Face à diretriz de adensamento da Primeira Perimetral, com atividades institucionais, e a necessidade de expansão da universidade, coincidiam as propostas do planejamento e os estudos de Ari Mazzini Canarim, arquiteto da universidade na época, na hipótese de mudança da atual área da UFRGS, para implantação no Centro Administrativo Municipal. No entanto, como a área planejada para a troca com a universidade ainda não estava aterrada, a Reitoria ressentiu-se de permutar o Campus Central por “água”, e o negócio não prosperou. Posteriormente, ainda algumas hipóteses de traçado da Primeira Perimetral voltaram à pauta de negociações com a universidade, culminando com a proposta de enterramento da perimetral sob o campus, com demolição de parte do prédio da Medicina (anexo construído posteriormente ao projeto original de Theo Wiedersphan) em troca de incorporação da Rua Sarmento Leite à área do campus, proposta que também não evoluiu. Finalmente, a Universidade construiu o Campus do Vale e o traçado da Primeira Perimetral foi adaptado aos moldes atuais, com desenho de Moojen. 57 encontra a rótula da Primeira Perimetral com a Avenida Beira Rio) (Fig.30). Deste ponto até a rótula da Avenida Borges de Medeiros, a leste, a avenida seguia em linha reta, sobre áreas que ainda não estavam aterradas, constituindo o trecho “A”. Desde este ponto até a rótula com a Osvaldo Aranha, no trecho “B”, o leito da avenida foi executado sobre o traçado original previsto, com exceção do trecho entre a rótula com as Avenidas João Pessoa e Osvaldo Aranha, alterado posteriormente, no Plano de 1979, para preservação do Campus da UFRGS (Fig.30). Desde este ponto até a rótula com a Avenida Mauá, foram previstas as principais obras viárias, das quais foi realizado o Túnel e Elevada da Conceição 56 (previstos desde 1936) (Figs.31 e 36), compreendidas no chamado trecho “C” . Outras obras foram planejadas acompanhando o traçado da avenida anel: o viaduto da Praça do Portão (Praça Argentina), alargamento da Rua Senhor dos Posteriormente, quando da realização das obras do Túnel da Conceição e da construção da elevada, Moojen posicionou-se contra o projeto adotado durante a administração do Prefeito Telmo Thompson Flores, por considerar excessivamente impactante naquela área. As obras, projeto do escritório Croce, Aflalo e Gasperini, de São Paulo (1970-1972), criavam a primeira obra dentro da tipologia de vias elevadas, como o "minhocão" de São Paulo, em Porto Alegre. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. 13 set. 2011. Entrevista. 56 218 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: . Acervo Moojen Fig. 33 - Palácio dos Soviets, Le Corbusier,1931. Teatro Municipal, I Perimetral, Moacyr Moojen, 1956-59. as rótulas com a Avenida Borges de Medeiros e outra, logo a seguir, com a avenida radial projetada, no sentido norte sul, entre a rua João Alfredo e José do Patrocínio, não costruída, e na extremidade leste, a rótula com a Avenida Osvaldo Aranha, passando em nível sob a Avenida João Pessoa. Para o complexo de rótulas que faria a articulação entre as avenidas existentes e projetadas, a oeste, a ideia de monumentalidade cívica era determinada pela proposta de um obelisco, no centro de gravidade do largo criado pelas bifurcações, sobre o qual também se abria o Teatro Municipal. Esse obelisco, representado na perspectiva, feita por Moojen, integrado ao plano talvez mais como intenção à monumentalidade que proposta literal, aproximar-se-ia de cem 59 metros de altura (Fig.32) . O Teatro Municipal igualmente é insinuado com representação formal que vai além da mera simulação volumétrica ou de aplicação quantitativa de regime urbanístico sobre a área urbana, mas de morfologia, expresso através de imagem que constitui cenário moderno de recomposição do tecido e seus monumentos, com elementos que mesclam a arquitetura moderna corbusiana e/ou carioca, em exoesqueletos sobre volume radioconcêntrico, como no 60 Palácio dos Soviets (Fig.33) . A proposta do teatro, implantado no eixo da nova MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 59 Se verdadeira a ideia de edificar um obelisco neste ponto, ele seria algo em torno de trinta metros. mais alto do que o construído em Buenos Aires, na Plaza Republica, na Avenida Nueve de Julio, projeto de Alberto Prebisch (1899-1970) em 1936, dentro dos festejos do quarto centenário da primeira fundação da cidade de Buenos Aires. Ver: GUTIÉRREZ, Ramon. Alberto Prebisch: una Prebisch vanguardia con tradición. Buenos Aires: Cedodal, 1999. 60 Sistema formal utilizado por Le Corbusier para as salas de espetáculos e congressos, no concurso para o Palácio dos Soviets, 1931, adotado logo a seguir por Lúcio Costa no projeto para a Cidade Universitária no Rio de Janeiro (1936) e em projetos de Oscar Niemeyer, consagrando de Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo Moojen Fig. 34 - Detalhe Trecho B, I Perimetral, Plano de massas desenhado sobre a planta do Plano, Moacyr Moojen, 1956-59. avenida e obelisco, culmina de maneira tradicional a perspectiva de edifícios gabaritados em vinte e cinco pavimentos, aproximadamente setenta metros, formando barras de habitação e serviços, debruçadas sobre galerias que cobrem os passeios, configurando a relação público-privado de maneira bastante figurativa, neste sentido, como o quarteirão Masson de Arnaldo Gladosch (Fig.34). A densificação da avenida, além de seguir a tendência de adensamento em vias de circulação rápida e transporte de massas, como nos planos para São Paulo, estabelece estratégia de recomposição formal da "erosão" criada pela abertura da nova via, sobre o tecido histórico, na melhor ideia de obturação urbana, com elementos de arquitetura moderna, como na Avenida Presidente 61 Vargas no Rio de Janeiro . No desenho de Moojen para a Primeira Perimetral, a certo modo o tipo formal auditório-teatro moderno, com planta radioconcêntrica e estrutura externa ao volume. Ver: COLLARES, Júlio. Exoesqueletos primogênitos: Le Corbusier e o Palácio dos Soviets. Porto Alegre: Dominó, PROPAR, 2005. Disponível em: Acesso em 26 set. 2011, às 18h 55min. 61 Talvez a mais importante avenida do Rio de Janeiro, aberta durante o governo de Getúlio Vargas, na década de 1940 (inaugurada em 1944), a via, com dois quilômetros, para ser construída, ocasionou a demolição de mais de quinhentos edifícios e ruas antigas, enfrentando muita oposição. Marco da consolidação do Movimento Moderno no Rio de Janeiro, próximo à igreja da Candelária, mantém edifícios contíguos nas medianeiras, alturas gabaritadas e circulação sob galerias, em Sergio MMarques 219 Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954 - 1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964, p.63 Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954 - 1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964, p.64 Fig. 35 - Detalhe Trecho B, I Perimetral, preservação da Igreja do Carmo, Moacyr Moojen, Desenho de Carlos M. Fayet, 1956-59. Fig. 36 - I Perimetral, Entrada do Túnel, Praça Dom Sebastião, Plano Paiva, 1959. base contínua das galerias é sobreposta por barras gabaritadas intervaladas (Fig.30), apoiadas sobre pilotis (criando áreas verdes elevadas, já que as áreas livres para a habitação no centro são escassas), que definem a avenida como um espaço moderno cuja geometria e configuração não são aleatórias. Assim como a Candelária no Rio, a Igreja do Carmo e o Convento das Carmelitas são preservados como monumentos em meio aos edifícios modernos que estabelecem relações de alinhamento e gabarito com relações topológicas entre 62 objetos, dominantes na cidade moderna (Fig.35). No caso do Rio de Janeiro, no entanto, a Avenida Presidente Vargas foi sendo construída com alguns edifícios representativos e arquiteturas exemplares, como o Banco Boa Vista (1946-1948), de Oscar Niemeyer, e o Banco Aliança (1952-1956), de Lúcio traçado figurativo herdado de Agache, que preserva a igreja oitocentista. Na outra extremidade, os edifícios crescem em altura, descolam-se das divisas e assumem alturas descontínuas dentro de morfologia mais abstrata. Ver: REZENDE, Vera F.; RIBEIRO, Fernanda de Azevedo. A arquitetura e . o urbanismo modernos no Distrito Federal, escolha ou consequência na Era Vargas?. Disponível em: . Acesso em 04 abr. 2010, às 14h 56min. 62 O plano publica perspectiva assinada por Fayet, de 1956, que mostra imagem do patrimônio histórico preservado, articulado ao espaço público através da galeria que se prolonga até a esquina com a Rua General Lima e Silva. Costa. Em Porto Alegre, entre as mudanças feitas por administrações posteriores, subvertendo o desenho proposto e os projetos dos 63 empreendimentos imobiliários realizados, não se teve a mesma sorte . Por exemplo, as modificações feitas pelo Prefeito Alceu de Deus Collares (1927), liberando postos de gasolina, como o executado na esquina com a Rua Lima e Silva, rompendo com o desenho e galerias estabelecido. Alceu Collares foi o primeiro prefeito eleito após a ditadura militar e a redemocratização do país, em Porto Alegre (1986-1988) pelo Partido Democrático Trabalhista – PDT. Em sua gestão, os temas urbanísticos foram cercados de polêmicas, bastante criticadas pelo IAB-RS (cujo presidente era Guilherme Takeda) na mídia da época, como o projeto Praia do Guaíba, o aumento indiscriminado de índices construtivos e o gradativo desmantelamento do corpo técnico de planejamento urbano da Prefeitura. Moojen, durante sua gestão, apressou sua aposentadoria. 63 220 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Reloteamento da Ilhota (1956-1958) Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954 - 1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964, p.53 frente e grande profundidade, em arruamento desordenado. A ocupação espontânea da área advinha de sua baixa qualidade ambiental para ocupação, já que antes da retificação do Arroio Dilúvio e da construção da Avenida Ipiranga, na década de 1940, o "Riacho" fazia nesta área uma série de curvas e, durante as inundações frequentes, alagava e fomava uma ilha, daí o nome 64 Ilhota . Durante os estudos de Gladosch e o programa de saneamento da Bacia do Riacho, em 1940, com a retificação do Arroio Dilúvio e canalização do Arroio Cascata, construção da Avenida Ipiranga, tratamento das áreas adjacentes e declaração de área de utilidade pública, a ideia era o reloteamento da Ilhota e adaptação ao traçado das ruas existentes. Passados vinte anos, assim como outros projetos deste período, a urbanização da Ilhota ainda não havia sido posta em marcha. No Plano Paiva, com a criação da Radial Cascatinha, projetada para incrementar as ligações do centro aos bairros Teresópolis e Glória, aliviando a Avenida Azenha, manteve-se a ideia de reloteamento e reurbanização, destinando mais áreas públicas, área para escola, para um mercado junto à praça Anita Garibaldi e para a construção de edifícios de apartamentos para a realização das permutas com parte dos imóveis. O traçado proposto por Moojen mantinha a diretriz de conexão ao sistema viário existente, dando-lhe continuidade e recomposição dos quarteirões adjacentes, com lotes oriundos do novo parcelamento. Projetava a concentração de equipamentos públicos junto à Avenida Cascatinha, atual Avenida Érico Veríssimo, com quarteirões de traçado relativamente sinuoso, pela continuidade do desenho do arruamento e áreas livres irregulares com edifícios especiais, insinuados como barras neoplásticas soltas no lote, ao gosto das representações gráficas da arquitetura e urbanismo modernos fartamente utilizadas na publicação do Plano de 1959 (Fig.35). Com a implementação do Plano, em 1962 chegaram a ser feitas desapropriações com o Fundo Especial para a Execução do Plano Diretor, porém este projeto igualmente não foi 65 realizado plenamente . Ver: PORTO ALEGRE. Plano Diretor de Porto Alegre Lei n. 2.330 de 1961. Prefeitura Municipal Alegre, de Porto Alegre, Porto Alegre, 1961, p. 51. 65 A Avenida Érico Veríssimo foi implantada no início dos anos 1970. Com o Projeto Renascença, coordenado pelo Governo Federal, destinado à recuperação de áreas deterioradas nas grandes capitais, a administração de Porto Alegre investiu as verbas do programa nos bairros Cidade Baixa, Menino Deus e na Ilhota. Neste espaço, foi criado o Centro Municipal de Cultura, em 1978, na gestão do prefeito Guilherme Socias Villela, com projeto dos arquitetos Edgar do Valle e Sérgio Matte, inicialmente pensado para outro terreno. Nos anos 1980, na administração do Prefeito Alceu de Deus Collares, foi construído o Ginásio Municipal Osmar Fortes Barcellos (Tesourinha), com projeto arquitetônico não identificado, que recebeu muitas críticas no meio acadêmico, tanto por Sergio MMarques 221 64 Fig. 37 - Novo traçado para a Ilhota, Moacyr Moojen, 1956-1958. Ao longo da Avenida Ipiranga, entre as avenidas Getúlio Vargas e João Pessoa, ao largo do desenvolvimento urbano de Porto Alegre, em uma área de aproximadamente vinte e dois hectares, se desenvolveu conjunto de habitação popular de baixa renda, em condições urbanas precárias, implantadas em pequenas propriedades constituídas de parcelas de quatro a seis metros de Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado No período de conclusão do Plano Paiva, ingressaram como estudantes, na Divisão de Urbanismo, Léo Ferreira da Silva e Cláudio Ferraro; mais tarde, João José Vallandro e Robert Levy, arquitetos parceiros tanto nos trabalhos na carreira pública quanto privada. Na administração do Prefeito Leonel de Moura Brizola, criou-se o quadro de arquitetos da Divisão de Urbanismo que, com a operacionalização do Plano Diretor, distribuíam-se em várias seções. Moojen e outros se incorporaram ao quadro de funcionários do 66 Município, em seu caso aconselhado a seguir carreira pública . Fayet assumiu a chefia da Seção de Planejamento, para onde Moojen se dirigiu. Em 1961, Paiva saiu da Prefeitura, acompanhando Brizola no Governo do Estado, para onde Moojen também foi convidado e trabalhou um mês projetando a adaptação do Salão Nobre do Palácio do Governo, no Gabinete de Planejamento Urbano Estadual, mas retornou para a Prefeitura, já que Fayet também sairia, logo a seguir, para ingressar no Belas Artes como professor concursado, em 1962, além de já lecionar na Faculdade de Arquitetura, desde 1958 (havia o impedimento em acumular três carreiras públicas). Veronese, com o término do Plano de 1959, resolveu permanecer somente na universidade, saindo igualmente do planejamento. Com a transferência de Paiva para o Estado, Moojen permaneceu na Prefeitura, de certa forma herdando a condução do trabalho iniciado pelo velho mestre, assumindo a gerência do planejamento urbano do município, atividade cuja culminância se deu na elaboração do Primeiro Plano de Desenvolvimento Urbano de Porto Alegre, aprovado em 67 1979, e todas as atividades ligadas à cidade, que ocuparam uma vida inteira . sua má arquitetura quanto pela solução desqualificada do espaço público e áreas abertas. Nos anos 1990, na administração do Prefeito Olívio Dutra, foram feitas algumas intervenções de habitações populares no bairro, com grande estardalhaço e novamente baixa qualidade arquitetônica. 66 Carreira segura sob o ponto de vista econômico, principalmente pela ótica da família de sua esposa, composta por funcionários públicos que o aconselharam a prosseguir na Prefeitura. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. 67 Moojen indicou Marcos Hekman para acompanhar Paiva no planejamento urbano do governo do Estado, cargo em que permaneceu até a aposentadoria e ficou ele próprio na Prefeitura de 1956 a 1987, quando se aposentou. Exerceu os seguintes cargos: Chefe do Setor de Planejamento Urbano – SMOV, Chefe da Secção de Planejamento Urbano – SMOV, Gerente de Projetos Urbanos – SPM, Supervisor de Planejamento Urbano – SPM, Conselheiro do Plano Diretor, Assessor Municipal, Secretário Substituto – SPM; participou da equipe que elaborou o plano diretor da cidade, instituído pelas leis complementares no 2.046/59 e 2.330/61, 1959 a 1961; coordenou os trabalhos em equipe das extensões “A”, “B”, “C” e “D” do Plano Diretor instituído pelos Decretos nos 2.872/64, 3.481/72, 4.552/72 e 5.162/75, 1964-1967-1972-1975; foi Gerente do "PROPLAN", Programa de Reavaliação do Plano Diretor, do qual resultou o 1o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (1o PDDU) – Lei Complementar no 4.319, 1979; participou entre outros, dos seguintes planos e projetos: plano de volumes traçados da 1a Avenida Perimetral, plano para área central de Porto Urbanismo e Arquitetura: Encargos públicos e privados em todas as escalas: O edifício Sede da Carris Porto-Alegrense (1957) Porto- Fonte: Foto Sergio Marques. Acervo FAM. Fig. 38 - Edifício Sede da Carris Porto Alegrense, Moacyr Moojen e Rodolfo Matte, 1957, Porto Alegre-RS. Com o acelerado desenvolvimento econômico do país e o correspondente progresso social e institucional iniciado por Getúlio Vargas e o Estado Novo (1937-1945), entre o pós-guerra e o Golpe Militar de 1964, coincidente com as condições culturais do surgimento e consolidação da arquitetura e urbanismo moderno no Estado, no final dos anos 1940 e durante a década de 1950, surgiam demandas, em todos os campos, do público ao privado, e em todas as escalas, do urbanismo à edificação, oportunizando a metabolização e contextualização do Movimento Moderno, literalmente em larga escala. Moojen, como Fayet, Araújo, e muitos de sua geração, atuou em todas as frentes. Do planejamento, desenho urbano, edificações, arquitetura de interiores, comunicação visual ao desenho de mobiliário, tanto na esfera pública quanto privada, além de envolver-se com o ensino e as atividades de classe, no Alegre, plano piloto para o Parque Saint'Hilaire, plano de Reurbanização da Ilhota, plano de urbanização de parte do Aterro da Praia de Belas, além dos projetos de edificações públicas analisados neste trabalho. 222 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo FAM. Fonte: Acervo FAM Fig. 40 - Estudo para ampliação do Jardim de Infância, Moacyr Moojen, 1956, Aquarela sobre papel Fabriano, Praça Intendente Montaury, Porto Alegre-RS. Fig. 39 - Estudo para ampliação do Jardim de Infância, Moacyr Moojen, 1956, Praça Intendente Montaury, Porto Alegre-RS. melhor espírito, sem meras coincidências, como citado anteriormente, de 68 "urbanismo em tudo, arquitetura em tudo" . Em paralelo com os encargos do Plano Diretor, a Divisão de Urbanismo da Secretaria de Obras de Porto Alegre realizava, através de seus técnicos, projetos para os edifícios públicos e obras relacionadas ao desenvolvimento da cidade e à própria estrutura da Prefeitura. Paiva, confiante nos jovens arquitetos e urbanistas das primeiras gerações preparadas pelos professores da recémcriada Faculdade de Arquitetura e também por ele, distribuía os encargos sem hesitação, assim como fez com a Sede da Secretaria da Produção e Abastecimento – SPA, para Fayet, seguro da capacidade de realização do 68 "Arquitetura e urbanismo agem efetivamente sobre todos os seus gestos. Arquitetura em tudo: sua cadeira e sua mesa, suas paredes e seus quartos, a escada ou o elevador, a rua, a cidade. Encantamento ou banalidade, ou tédio. E até o horror é possível nessas coisas. Beleza ou feiura. Felicidade ou infelicidade. Urbanismo em tudo, desde que se levantou da cadeira: lugares de sua casa, lugares do bairro; o espetáculo público de suas janelas; a vida da rua; o desenho da cidade." LE CORBUSIER. Mensagem aos estudantes. São Paulo: Martins Fontes, 2006. p.43. Publicação original realizada em 1942 e publicada em 1943, durante a ocupação nazista da França durante a Segunda Guerra Mundial. Ver: LE CORBUSIER. Entretien avec les étudiants des écoles d´architecture . Paris: Denoél, 1943. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado corpo técnico de funcionários públicos do município, assim como pela determinação de todos advinda do espírito de realização da época. Moojen, logo no ingresso na Prefeitura, projetou a ampliação da Creche Municipal, na Praça Intendente Montaury, em frente à Hidráulica do Moinhos de Vento, anexando a uma casa expressionista dos anos 1940, onde hoje ainda funciona a Creche Municipal, um pavilhão com planta ordenada dentro dos princípios das casas pátio de Mies ou das casas da Costa Oeste norteamericana, que Moojen voltaria a revisitar em outros projetos residenciais seus, 69 como na Casa de Ipanema, logo a seguir (Fig.39) . A construção, que não chegou a ser realizada, organizada pela sequência de espaços dispostos em faixas e compartimentos conectados diretamente a pátios, através da continuação dos planos de separação internos, reproduz os princípios neoplásticos de certa abstração que periodicamente se expressam na obra de Fayet, Araújo e Moojen, principalmente, e que de certa maneira fundamentaram os projetos para a Petrobras e o Edifício FAM, projetados posteriormente. Na creche, no entanto, a cobertura é resolvida com um telhado duas-águas, solto dos volumes de apoio, evidenciando as conexões mais orgânicas de Moojen com a obra de Frank Lloyd Wright e as casas da pradaria, reutilizadas 69 Moojen, além de assinar a revista suíça Bauen + Wohnen Internationale Zeitschriften, como Araújo, assinava e acompanhava atentamente as revistas norte americanas Progressiv Architecture e Architectural Record, cujas coleções completas do período mantém até hoje. No estudo para o Jardim de Infância Municipal, no ângulo superior esquerdo do planta escreveu a seguinte nota: "Grande pátio de jogos voltado para leste-norte (Vide progressive Arq. n.12, p 72)" onde há referência do gênero (Fig.39). Sergio MMarques 223 Fig. 41 - Edifício Sede da Carris Porto Alegrense, Moacyr Moojen e Rodolfo Matte, 1957, Porto Alegre-RS. igualmente em outras residências, de certa maneira, distinto de Araújo, mais inclinado à abstração (Fig.40). Moojen, logo faria projeto de obra pública de maior importância, no ano seguinte de seu ingresso na carreira pública (1957), portanto com vinte e sete anos de idade. Conjuntamente com os detalhamentos do Plano Diretor, foi 70 ncarregado de projetar o Edifício Sede da Companhia Carris Porto-Alegrense , em colaboração com o arquiteto Rodolfo Sigfried Matte (Fig.38). O edifício sede integrava um complexo de edificações, com garagens e oficinas destinadas à 71 infraestrutura do sistema de transporte coletivo de bondes em Porto Alegre . O projeto estabeleceu relações diretas com a arquitetura moderna brasileira, consagrada no Rio de Janeiro, com estrutura formalizada por colunas de seção circular, intencionalmente livres do sistema de compartimentação de 70 Ver: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura Moderna em Porto Alegre São Paulo: Pini, Alegre. Arquitetura 1987, p. 144-145. 71 O sistema de bondes em Porto Alegre começou experimentalmente em 1864. A Cia. Carris Portoalegrense foi criada em 1926, substituindo a Companhia de Força e Luz Porto-alegrense, que gerava energia e gerenciava o sistema de transportes. No mesmo ano, a produção de energia passou para a Companhia de Energia Elétrica Rio-grandense, que acabara de construir a Usina do Gasômetro. Em 1928, o controle acionário da Carris foi adquirido pela companhia norte-americana Eletric Bond and Share. "Porto Alegre teve o melhor projeto de linhas de bondes do Brasil. A capilaridade das linhas era sensacional. O porto-alegrense se movia para qualquer lugar do perímetro urbano através dos bondes. Para que se tenha uma ideia da importância dos bondes, durante o ano de 1961, foram transportados 89 milhões de passageiros, sendo utilizados para isso 103 bondes. Todos eram modelos americanos nesta época." O sistema foi encerrado em 1970 após um século de utilização. Ver: BASTOS, Ronaldo Marcos. Porto Alegre – A Capital dos Bondes – Parte III – Da Entrada da Bond and Share ao fim do transporte por bondes em Porto Alegre. Disponível em: . Acesso em 01 out. 2011, às 13h 30min. Com a desativação dos bondes e a construção da Avenida Primeira Perimetral, a Carris foi transferida para o bairro Partenon e os pavilhões demolidos, restando o edifício sede, destinado à Secretaria Municipal de Saúde. Ver: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Alegre. Arquitetura moderna em Porto Alegre São Paulo: Pini, 1987. p. 145. Fonte: . Fonte: XVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura Moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987, p. 145 Fig. 42 - À esquerda, Obra do Berço, Oscar Niemeyer, 1937, Rio de Janeiro-RJ. À direita, Casa do Pequenino, Carlos Alberto de Holanda Mendonça, 1947, Porto Alegre-RS. divisórias em planta livre (Fig.41), como o critério visual adotado por Lúcio Costa nos espaços internos do Parque Guinle (1948-1954) (Fig.24, Cap. F), e fachada definida por molduras que se projetam ao exterior, contendo brises verticais 72 móveis, como na obra do Berço, de Oscar Niemeyer (1937-1938) (Fig.42) . Ambas as edificações têm volumetria próxima à cúbica, térreo mais quatro pavimentos em Porto Alegre, térreo mais três no Rio. Ambas ocupam a esquina, sendo que o edifício de Niemeyer, na verdade, é composto de dois volumes, articulados pela circulação, com o da esquina mais pronunciado, tanto pela volumetria, quanto pelo sistema de colunas à vista no térreo e a fachada com brises. O da Carris, embora tenha a bateria de circulações no centro da A obra do berço igualmente foi referência do projeto para a Casa do Pequenino (1947), realizada pelo alagoano Carlos Alberto de Holanda Mendonça (1920-1956), formado na Faculdade Nacional do Rio de Janeiro, no ano em que chegou à cidade (Fig.42). "Em sua obra são percebidas ‘citações’ de trabalhos dos arquitetos modernos cariocas, especialmente do Oscar Niemeyer dos anos quarenta. A dimensão dessa influência é percebida desde o projeto da Casa do Pequenino, cuja referência visível foi a Obra do Berço (1937), de Niemeyer. Neste caso, as ideias perseguidas pelo autor puderam ser avaliadas através do projeto original, extraído dos microfilmes do Arquivo Público, pois a obra resultou inacabada e profundamente desfigurada. Além do extenso tratamento da fachada oeste previsto com brises verticais [...]." Ver: LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do "gênio artístico nacional". [Tese de doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura]. OLIVEIRA, Rogério da Castro (Orient.). Porto Alegre: FA-UFRGS, 2004. p.76. De certa forma também, o brise vertical como elemento principal de solução formal, emoldurado por abas, assim como na Carris, estava no seu projeto para a Residência Jorge Casado d’Ázevedo (1950), onde a solução é adotada no corpo principal do segundo pavimento, mascarando a cobertura com telhado inclinado para trás. Ver: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre São Paulo: Pini, 1987. Alegre. p. 72-73. 72 224 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Fotos Sergio Marques., Acervo FAM . Fig. 44 - A esquerda, Edifício Administrativo, Hidráulica do Menino Deus, Moacyr Moojen, 19??. A direita, edifício Administrativo Hidráulica Moinhos de Vento, Moacyr Moojen 1971, Porto Alegre-RS. Fig. 43 - Edifício Sede da Carris Porto Alegrense, Moacyr Moojen e Rodolfo Matte, 1957, Porto Alegre-RS. planta, dividindo praticamente o pavimento em duas alas, é configurado por um volume único. Niemeyer, no entanto, privilegia a frontalidade do edifício, armando a porosidade dos elementos de proteção contra o sol apenas nesta face. A volumetria deste corpo é a da consagrada tipologia de caixa com costados cegos, suspensa pela estrutura aparente, como o Pavilhão Suíço (1931-1933), de Le Corbusier, adotada, no Palácio da Justiça (1953), de Corona e Fayet, e no Hospital Fêmina (1955), de Irineu Breitman. No edifício da Carris, o esquema se repete, acentuando a frontalidade para a Avenida João Pessoa, com a fachada norte dominantemente preenchida pelos brises, e a Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado entrada principal, no térreo, articulada pelo avanço do pavimento em relação ao corpo do edifício, compensando a diferença de geometria entre a ortogonalidade adotada em planta e a via pública (Fig.41). A fachada oeste, posteriormente transformada em esquina, pela demolição dos pavilhões da Carris e a abertura da avenida, poderia ser um costado cego, como insinua o plano próximo à esquina, no entanto recebe a caixa de brises na forma de um plug (Fig.43), subvertendo em parte o esquema tipológico sugerido, assim como na Sede do Tribunal de Contas do Estado (1956), de Jayme Ayrton Brandão Lompa. A mesma subversão Niemeyer e Moojen adotam em relação aos pilotis, que são preenchidos por compartimentos, apesar de evidenciar as colunas nas fachadas. Por outro lado, assim como no parque Guinle, as colunas caprichosamente não se modulam com a compartimentação e compõem-se com os ambientes. Moojen, ainda através da Divisão de Urbanismo, projetaria diversas edificações para a Prefeitura, o edifício administrativo do Departamento Municipal de Águas e Esgotos – DMAE, junto à Hidráulica no Moinhos de Vento (Fig.44) e outro na área da Hidráulica do Menino Deus (Fig.44), assim como praças e áreas públicas, como a Praça Brigadeiro Sampaio, parcialmente executada e a Praça Engenheiro Guilherme Gaudenzi) na Rua Dr. Vicente de Paula Dutra), configurada pelo Plano de 1959 (ver Capitulo IV - FAM.), porém seu projeto mais emblemático enquanto funcionário público foi, sem dúvida, o 73 Auditório Araújo Vianna (1958-1962), realizado com Fayet . Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010. Acervo FAM 73 Ver capítulo I - "FM". 225 Sergio MMarques Borbotões de Projetos e a Prática Corrente da Arquitetura Moderna Trabalhos para Mello Pedreira (1955-1960) Edifício Phenix (1955) Entre sua formatura (1955), ingresso na Prefeitura (1956), aprovação do Plano na Câmara (1959), reaprovação (1961), gradativo aumento de responsabilidade e envolvimento com o urbanismo e os projetos para a Prefeitura, Moojen manteve, porém, como desejava desde o princípio, seu escritório e encargos privados em atividade, assim como ao longo de toda sua carreira. Logo no retorno da viagem de formatura (1955), em paralelo ao convite de Paiva para a Prefeitura, também recebeu convite da Construtora Mello Pedreira S.A. – dirigida por engenheiros estreitamente relacionados com o Banco Nacional do Comércio – BNC, para a qual já desde o tempo de estudante colaborava com desenhos e perspectivas e com quem detinha um ótimo relacionamento, em especial com o engenheiro Joaquim Alfredo de Mello Pedreira, um dos diretores – para realizar projeto do Edifício Phenix, na praça XV, em Porto Alegre. O trabalho deveria ser desenvolvido em colaboração com Joaquim Max Warchawsky, desenhista profissional que havia trabalhado em Israel, técnico formado no Parobé, nos moldes dos antigos projetistas que desenvolviam projetos para as construtoras antes da consolidação da profissão 74 de arquiteto em Porto Alegre . O primeiro escritório da Construtora Mello Pedreira ficava no último andar da sede do BNC (atual Centro Cultural Santander na Praça da Alfandega), 75 com entrada independente do banco, na fachada oposta à principal . As salas da empresa, metade de um pavimento, davam para a Rua Sete de Setembro e para o poço central do edifício. Moojen e Warchawsky, a convite de Pedreira, desenvolveram o projeto do Phenix (1955) nesse escritório. A Escola Técnica Estadual Parobé foi criada em 1907 por professores da Escola de Engenharia da UFRGS, tendo como patrono o ex-diretor da Faculdade, o Professor Engenheiro João Pereira Parobé. Em um século de existência, a Escola Técnica adquiriu prestígio na formação de técnicos que antes da criação dos cursos de arquitetura ocupavam parte significativa do mercado de trabalho. Warchavsky era judeu-alemão, nascido em Berlim. Após a formação no Parobé, foi a Israel, onde trabalhou com projeto e construção. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. 12 out. 2011. 75 Edificação situada na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, iniciada por Theo Wiedersphan, que executou a obra até as fundações, quando teve problemas econômicos, em parte oriundas das perseguições políticas a migrantes alemães, durante o Estado Novo e a ditadura de Getúlio Vargas, a partir da década de 1930. O projeto e a obra foram finalizados por Fernando Corona, segundo Canez. Ver: CANEZ, Anna Paula. Fernando Corona e os caminhos da arquitetura moderna em Alegre. Porto Alegre Porto Alegre: UE/Porto Alegre/Faculdades Integradas do Instituto Ritter dos Reis, 1998. 74 Fonte: Acervo FAM Fig. 45 - Edifício Phenix, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1955, Praça XV de Novembro Porto Alegre-RS. 226 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Google Earth Fig. 46 - Edifício Phenix, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1955, Praça XV de Novembro, Porto Alegre-RS. Fonte: Google Earth Fig. 47 - À esquerda Praça XV de Novembro, Largo Glênio Peres e Av. Borges de Medeiros, Porto Alegre-RS. Àdireita, Piazza San Marco, Riva degli Schiavoni e o mar Adriático, Veneza. O Edifício Phenix (1955), assim como o Edificio IAB de Fayet e o José Pilla de Moojen, possui condição incomum em termos de arquitetura moderna no contexto europeu e relativamente frequente em cidades americanas: arquitetura moderna verticalizada, construída em centro histórico, sobre parcelamento do solo colonial e legislação anterior às normativas urbanísticas modernistas. Um arranha-céu, de certa forma, com dezesseis pavimentos avantajados mais cobertura, com aproximadamente sessenta metros de altura, o encargo privado era empreendimento da Construtora Mello Pedreira conjuntamente com a Seguradora Phenix S.A., que instalava ali sua sede juntamente com escritórios privados, laboratório de análises clínicas Geyer e instituição bancária (Fig.45). Do Edifício Seguradoras dos Irmãos Roberto (1949) (Fig.19.2), guarda a motivação modernista, o parentesco funcional e o olhar do autor, confesso admirador da obra dos cariocas. Porém a circunstância arquitetônica é distinta. O Edifício Phenix, em lote de meio de quadra, de aproximadamente vinte e um metros de frente, ergue-se entre medianeiras, contíguo ao da esquina com a Rua Voluntários da Pátria, projeto de Luís Carlos Cunha, com o qual estabelece alinhamentos de pés direitos, por determinação normativa e familiaridade formal (Fig.46). Na divisa sul, casa eclética vizinha, com frontão recortado, remanescente dos casarões comerciais que ocupavam a Praça XV no início do século passado, cria intervalo entre o Phenix e o próximo edifício, de altura semelhante, deixando o quarteirão "banguela". Na verdade, não tanto o edifício isoladamente, mas o conjunto de edificações representa papel significativo na paisagem urbana e na composição espacial do Largo Glênio Peres. A Praça XV, a Praça Parobé e o Largo configuram espaço em forma de "P", cuja perna se conecta com a Avenida Borges de Medeiros (Fig.47). Este "P", de desenho urbano assemelhado em morfologia e dimensões à Piazza San Marco em Veneza (Fig.47), é definido espacialmente pelo Mercado Público a norte, o antigo abrigo dos bondes e os Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado edifícios tombados pelo patrimônio a sul, o quarteirão do Edifício Guaspari a oeste e o quarteirão de edifícios modernos a leste. O Edifício Phenix, assim como os vizinhos, funciona como bastidor e plano de fundo para quem acessa a praça, desde a Prefeitura e a Borges de Medeiros (onde seria o mar, na referência italiana), com visuais significativos (Figs.48). O edifício, de planta quadrada, costados cegos e fachadas leste (interior do quarteirão) e oeste (praça) é organizado de maneira convencional. Circulações verticais e serviços no centro da planta, salas em cada uma das faces. A articulação expressiva está na fachada para o Largo, onde a ideia de textura estabelece a regra compositiva. A edificação é definida por extratos, com diferentes tratamentos da envolvente, que criam uma sucessão vertical de edificações justapostas. O térreo mantém os postulados da arquitetura moderna carioca, com colunas colossais de dois pés-direitos à vista, seccionadas pela marquise obrigatória, com caixilharia de vidro recuada insinuando pilotis parciais mínimos, porém expressivos formalmente. Os dois pavimentos seguintes são configurados por caixa, emoldurada pelas paredes de divisa e barras horizontais, com janelas rasgadas de uma extremidade à outra, protegidas por brises. Deste pavimento para cima, a fachada tem desempenho estrutural: uma grelha com pilares delgados a cada um metro e trinta centímetros divide o vão em quinze partes. A caixa do terceiro e quarto pavimentos, portanto, na sua face inferior, contém viga de transição que recebe os quatorze pilares, redirecionando as cargas totais para as três colunas e as divisas. Assim, no quinto pavimento, sobre a caixa, há novos pilotis parciais, desta vez com a modulação da estrutura da fachada. Esse esquema cria formalmente um "novo" edifício, que arranca deste pavimento até o décimo quarto, onde a caixa que envolve os oito pavimentos inferiores fecha, há novos pilotis parciais e iniciam os dois últimos pavimentos e cobertura, que coroam toda a composição. Nesses "edifícios" Sergio MMarques 227 Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010. Acervo FAM Fig. 48 - Edifício Phenix, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1955, Praça XV de Novembro, Porto Alegre-RS. Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010. Acervo FAM Fig. 48.2 - Edifício Phenix, vista desde a Prefeitura Municipal, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1955, Praça XV de Novembro, Porto Alegre-RS. Fig. 48.1 - Edifício Phenix, vista desde o Mercado Público, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1955, Praça XV de Novembro, Porto Alegre-RS. 228 Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010. Acervo FAM Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010. Acervo FAM Fig. 48.3 - Edifício Phenix, vista desde a Rua Sete de Setembro, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1955, Praça XV de Novembro, Porto Alegre-RS. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Refeitório do SESC (1955) Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010. Acervo FAM Fig. 49 - Edifício Phenix, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1955, Praça XV de Novembro Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM superiores, as janelas são rasgadas, com os pilares incorporados no mesmo plano, como se integrassem a caixilharia, liberando os peitoris e vergas em uma faixa contínua que se articula com o edifício da esquina. A testa larga do coroamento fecha a última caixa e, de forma excêntrica, identifica o edifício com certa altivez (Fig.49). Posteriormente, a Construtora Mello Pedreira mudou-se para o Edifício Brasília, na Travessa Francisco L. Truda, mantendo no antigo Banco Nacional do Comércio o arquivo geral da construtora e o setor de desenvolvimento de projetos, onde Moojen e Warchavsky seguiram trabalhando entre estes e também seus próprios encargos. Os trabalhos para a Mello Pedreira, nesta fase inicial, eram desenvolvidos com desenhistas profissionais da empresa e a maioria com a colaboração de Warchavsky. Além do Edifício Phenix, neste período, entre 1955 e 1960, foram feitos em parceria vários projetos para o próprio Banco Nacional do Comércio, como a arquitetura de interiores para a diretoria em Porto Alegre, a sede de Rio Grande-RS, associada a um edifício de apartamentos, o projeto padrão para banco de esquina, além de outros, intermediados pela construtora, como o refeitório do SESC, no centro de Porto Alegre, e o Hotel Guaibinha, assim como as residências Álvaro Torres e Derly Monteiro, intermediadas por Moojen, e a residência para o próprio Engenheiro Mello Pedreira, que Moojen igualmente realizou com Warchavsky. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fig. 50 - Refeitório do SESC, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1955, Porto Alegre-RS. Sergio MMarques 229 Fonte: XVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura Moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987, p. 119 Fig. 51 - Refeitório do SESC, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1955, Porto Alegre-RS. 76 O Refeitório do SESC consistia em um engenhoso edifício restaurante . Uma máquina de refeições verticalizada, com a produção na base e consumo nos dois pavimentos superiores. O programa previa servir setecentas e cinquenta refeições subsidiadas pelo SESC aos comerciários associados, em horário de almoço. Em um terreno originalmente estreito, com nove metros e meio de testada, a alternativa viável era a verticalização, com salões de refeições nos pavimentos superiores e serviços na base. O partido, com ocupação quase integral do terreno, entre medianeiras, abre comunicações com o exterior na fachada da Rua Vigário José Inácio, a oeste, e nos fundos com um pátio de dois metros e cinquenta centímetros de profundidade, a leste (Fig.50). Em uma lógica industrial, todos os serviços de preparação e cocção dos alimentos, assim como armazenagem, infraestrutura e administração ficam no pavimento térreo, com acessos de serviço exclusivos, para fácil acesso de funcionários, abastecimento e saída de resíduos. A organização obedece a lógica. Ao fundo do lote, a cozinha industrial com seus anexos e pátio de serviço; no centro de gravidade da planta, a circulação vertical, otimizada por escadaria pública, escada de serviço e montacargas para a movimentação dos alimentos, iluminados e ventilados por pequeno pátio interno. Na frente, bar, recepção e sanitários fazem a interface com o espaço público (Fig.51). Nos andares superiores, salão principal à frente e menor aos fundos, comunicados Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010, Acervo FAM. Fig. 52 - Refeitório do SESC, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1955, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM 53Fig. 53 Refeitório do SESC, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1955, Porto Alegre-RS. Projeto de Moojen e Warchawsky de 1955, ano de formatura de Moojen, na Rua Vigário José Inácio, demolido em 2011. Ver: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Alegre. Porto Alegre São Paulo: Pini, 1987. p. 118-119. 76 por corredores perimetrais que ilham as circulações verticais e serviços ao centro. Em cada andar, espaço para lavagem, copa e distribuição de pratos a partir do montacargas (Fig.51). A fachada principal é resolvida com sistema de nervuras verticais – semelhantes às utilizadas no Edifício Phenix e de certa maneira na fachada do Edifício Tannhauser (1953) (Fig.13), de Emil Bered, no qual Moojen, como 230 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Banco Nacional do Comércio (1956-1960) 54Fig. 54 Refeitório do SESC, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1955, Porto Alegre-RS. Fotos feitas um pouco antes da demolição. estudante, colaborou – com profundidade de aproximadamente um metro, onde a esquadria está no plano interno e um sistema de persianas de enrolar está no plano externo, criando um hiato entre ambos, conceito semelhante ao utilizado no Edifício FAM posteriormente, também para a orientação oeste (Fig.52). Bandas horizontais, contendo as vigas dos entrepisos, encabeçam as nervuras verticais e favorecem a horizontalidade da fachada, acentuada pelos eficientes rasgos de ventilação higiênica colocados na faixa superior de cada pavimento, o que com certeza favorecia também a ventilação cruzada de conforto (Fig.52). Posteriormente, um acréscimo de lote de "vinte palmos" (seis metros e sessenta centímetros) de frente, comum no centro histórico, estendeu o edifício na direção norte, ficando sua fachada dividida em dois terços e um terço, no plano vertical (Fig.50). O nivel de acesso no térreo é protegido pela marquise obrigatória da área central, descolada dos pavimentos superiores por negativo (Fig.50) e do plano de fachada, no alinhamento onde se dá a identificação da instituição e floreira, em jogo de projeção e recessos recorrentes da arquitetura moderna (Fig.53). A obra marca o ingresso da arquitetura moderna no SESC-RS, compõe com as primeiras obras desta geração pioneira no sul e uma das primeiras de Moojen, dentro de uma história de realizações que o SESC, como um excepcional promotor da arquitetura, oportunizou em todo o país. Infelizmente, dentro de um quadro de mudanças mais amplo, no ano de 2010, durante o desenvolvimento deste trabalho, a diretoria atual do SESC decidiu demolir o edifício. Os autores do projeto original não foram sequer avisados do “enterro”. O estudo para banco de esquina, um dos projetos para o Banco Nacional do Comércio, era uma ideia da instituição, como é caracterísico das redes bancárias, principalmente nos anos 1970, de definir identidade corporativa através da arquitetura. Tanto banco quanto construtora já haviam compreendido as mudanças da arquitetura contemporânea, com o ingresso da arquitetura moderna no meio cultural gaúcho, e de certa forma incorporavam essa arquitetura a seus padrões de imagem institucional e negócios. A ideia de sistema arquitetônico ainda não era tão comum entre estabelecimentos comerciais, pelo menos não na escala e condições em que ocorre hoje, com as redes de franquias, fast-foods, supermercados, etc., normalmente mais apelativos d e elementos decorativos e de comunicação visual, muitas vezes de qualidade duvidosa. Naquele momento, sem a carga de marketing atual, a ideia de imagem corporativa através da arquitetura mantinha-se absolutamente dentro de parâmetros espaciais e genuinamente arquitetônicos, que naquele caso significava projetos de edifícios de natureza moderna em sua organização espacial, construtiva e formal. O estudo, nunca implantado, mais de Moojen que Warchavsky, para um banco de esquina, em terreno hipotético, tinha portanto este objetivo interessante: gerar, através da preposição da arquitetura moderna das agências, uma imagem de marca para o banco (Fig.55). A arquitetura proposta nesta circunstância, na qual se presume que a ideia era obter certa presença na paisagem e na percepção visual do público, estava visivelmente dentro do sistema formal neoplástico, de decomposição do volume em planos e da desmaterialização das intersecções entre planos através de vazios, negativos ou transparências. Esse sistema formal, como um castelo de cartas, eleito por Moojen para o estudo, representava talvez o que mais lhe parecia correspondente à imagem de contemporaneidade almejada pelo banco e indício da arquitetura que foi gradativamente ocupando as lógicas de projeto adotadas posteriormente, desde o estudo da ampliação da creche, para a Prefeitura, mais ou menos na mesma época, até os projetos para a Petrobras e FAM, com visível progressão na sequencia de projetos residenciais feitos a partir daí. O edifício sede em Rio Grande, associado à incorporação com edifícios de apartamentos, por outro lado, mantinha a arquitetura moderna prudente dos anos 1950-1960, largamente utilizada por esta geração em diversos empreendimentos e incorporações de habitação coletiva, compondo o tecido urbano moderno, muitas vezes adapatado a parcelamentos e configurações urbanas tradicionais, assim como o Phenix (Figs.56). Fonte: Foto Sergio Marques., 2010, Acervo FAM Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 231 Fonte: Acervo FAM 55Fig. 55 Banco Nacional do Comércio, protótipo de agência de esquina. Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1956. Fonte: Acervo FAM 56.1Fig. 56.1 Edifício Sede do Banco Nacional do Comércio e apartamentos. Moacyr Moojen, 1959. Rio Grande - RS. Fonte: Acervo FAM 56Fig. 56 Edifício Sede do Banco Nacional do Comércio e apartamentos. Perspectiva de Moacyr Moojen. Moacyr Moojen, 1959. Rio Grande - RS. 232 Fonte: Acervo FAM 56.2Fig. 56.2 Edifício Sede do Banco Nacional do Comércio e apartamentos. Moacyr Moojen, 1959. Rio Grande - RS. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Dois empreendimentos na mesma linha: Edifício José Pilla – Avenida Independência (1957) e Hotel Guaibinha – Rua Duque de Caxias (1957) Fonte: Google Earth 57Fig. 57 Edifício Sede do Banco Nacional do Comércio e apartamentos. Moacyr Moojen, 1956. Rio Grande - RS. Executados com qualidade construtiva por construtoras de bom calibre, como a própria Mello Pedreira, a Azevedo Moura & Gertum, Aydos e Tedesco S/A, em Porto Alegre, dessa safra podemos citar – com mesma familiaridade compositiva e critérios formais para a solução de térreo, articulação com o corpo do edifício, volume principal, aberturas, sistemas de proteção solar e tratamento das superfícies externas – os Edifícios Armênia (1955), de Ari Mazzini Canarim, Jardim Cristofell (1962), de Emil Bered, e o Edifício José Pilla, do próprio Moojen, ao longo da Avenida Independência e adjacências, em Porto Alegre. O paralelo pode ser feito, dada certa universalidade da arquitetura moderna praticada, e ao contrário de críticas recorrentes, de sua adaptabilidade às mais diversas situações urbanísticas e legislativas, com a recorrência de bons edifícios modernos, do mesmo período, no bairro Belgrano em Buenos Aires, Pocitos em Montevidéu, Higienópolis em São Paulo e Ipanema no Rio de Janeiro, assim como em outros contextos, fora dos centros tradicionais, como o Bairro Boa Viagem em Recife-PE, e Avenida Gustavo Penna em Belo Horizonte. Os dois encargos descritos a seguir dão conta desta sequência. Fonte: Foto Sergio Marques, 2010, Acervo FAM 58Fig. 58 Edifício José Pilla, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1957, Porto Alegre-RS. A Avenida Independência, prolongamento natural da Rua Duque de Caxias – como divisor de águas do promontório que inicia junto às margens do Rio Guaiba e segue, radialmente, a partir do centro, em direção ao leste, conectando-se com o anel de morros que circundam Porto Alegre – é também um histórico eixo de centralidade e mostruário de arquiteturas de época na cidade. O Bairro de mesmo nome se desenvolveu ao longo da antiga Estrada da Aldeia, posterior Avenida Independência, que ligava os Altos da Misericórdia, no centro, aos Moinhos de Vento Martins Barbosa, ou Barbosa Mineiro, e daí 77 até a Aldeia dos Anjos de Gravataí, desde o início do século XIX . 77 FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: UFRGS, 1988. p. 218. Um . panorama do desenvolvimento urbano do bairro pode ser visto em: LIMA, Raquel. Edifícios de apartamentos: um tempo de modernidade no espaço privado – Estudo da radial Independência/24 de outubro – Porto Alegre – nos anos 50. [Tese de doutorado]. KERN, Maria Lúcia Bastos (Orient.). Sergio MMarques 233 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Fotos Sergio Marques, 2008 e 2009 Fonte: Foto Sergio Marques, 2010, Acervo FAM Fig. 60 - À esquerda, edifícios Lugano e Lucarno, 1959-1962, Franz Heep. À direita, Edifício Santa Mariana, Higienópolis, São Paulo - SP. Fig. 59 - À esquerda, Edifício Piancó Mamanguape, Irmãos Roberto, 1950, Copacabana-RJ. À direita, Edifício Diana, Victor Reif, 1957-60, Higienópolis, São Paulo - SP. Prolongamento natural da vitalidade do centro histórico, comercial, cultural e cívico da cidade e eixo de expansão de moradia das elites, a Rua Duque de Caxias, desde a Praça da Matriz, e Avenida Independência, desde a Praça Annes Dias até a Praça Júlio de Castilhos, seguindo depois pela Avenida 24 de Outubro, consolidaram-se, a partir dos anos 1950, como o principal meio de manifestação de habitação coletiva moderna na capital gaúcha. Ou seja, no percurso que envolve as três praças, estão edifícios de habitação coletiva representativos da arquitetura moderna brasileira disseminada em suas primeiras manifestações no sul, enquanto conjunto urbano, ainda que linear, configurado por exemplares como os Edifícios Esplanada (1952), de Roman Fresnedo Siri; Link (1952), de Bered, Veronese e Kruchin; Flores da Cunha (1953), construído pela Construtora Azevedo, Moura & Gertum, de autoria não identificada; Santa Tecla (1953), de Edgar Guimarães do Valle; Elisabeth (1954), Porto Alegre: PUC-RS, 2005 (em que pese o trabalho ter mais conteúdo histórico que arquitetônico). construído pela Construtora Azevedo, Moura & Gertum, de autoria não identificada; Cerro Formoso (1954), construído pela Empresa Azevedo, Bastian, Castilhos & Cia Ltda., de autoria não identificada; Armênia (1955), de Canarim; José Pilla (1957), de Moojen e Warchawski Fig.; Professor Eliseo Paglioli (1957), de Remo José Irace e Miguel Irace; Porto Alegre (1959), de Bered; Moinhos de Vento (1959), de Mauro Guedes de Oliveira; Cristophel e Faial (1962), de Bered; entre outros. Segundo ABREU, "a Avenida Independência vinha se constituindo em uma espécie de strada nuova porto-alegrense, ilustrando a introdução e progressiva hegemonia de um tipo de edifício associado à normativa do 78 gabarito e alinhamento" . Essa arquitetura, relativamente anônima em termos ABREU defende a tese que a associação da arquitetura moderna sobre lotes de parcelamentos tradicionais e legislação ainda condicionada à morfologia da cidade histórica e figurativa, como as diretrizes urbanísticas anteriores ao plano de 1959, gerou determinado tipo urbano qualificado, de arquitetura moderna "contextualizada", cujo valor se perdeu com a gradativa desconexão à figuratividade dos gabaritos e alinhamentos, imposta pela vertente urbanística moderna consolidada em 1959 e desenvolvida em 1979 pelos planos diretores. Ver: ABREU, Silvio. Independência ou morte. In: COMAS, Carlos Eduardo Dias; PEIXOTO, Marta; MARQUES, Sergio Moacir. O moderno moderno já passado, o passado no moderno – reciclagem, reabilitação, rearquitetura. Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2009. p. 255. ABREU, no entanto, não incorpora em sua análise a qualidade arquitetônica intrínseca dos projetos em si, que, tanto em uma condição urbanística ou outra, geraram bons e maus exemplares de arquitetura, transcendendo a regra urbana como parâmetro único de aferição de qualidade formal. Soma-se a esta observação, aquela em que a configuração urbana de natureza abstrata, sem figuratividade, a priori não é responsável por espaços de menor 78 234 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: TRECCO, Adriana. Arquitectura de Córdoba 1573-2008. Argentina: 1440 Industrias Gráficas, 2009, p. 94. Fonte: Correio do Povo. Porto Alegre, 06 dez. 1957, p.30. Google Earth Fig. 62 - À esquerda, Informe publicitário, Edifício José Pilla, 1957. À direita, Edifício José Pilla, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1957, Av. Independência, Porto Alegre-RS. Fig. 61 - À esquerda, Edifício Progresso, 1955-1956, Carlos Lange e Luís Rébora, Córdoba Argentina. À direita, Edifício La Segunda, 1955, de Silvio Mariotti, Juan Carlos Valenti e Alfredo Molteni, em Rosário - Argentina. historiográficos, de grande qualidade arquitetônica no âmbito da recorrência urbana, encontra paralelos no tecido das cidades latino americanas, como os Edifícios Piancó Mamanguape e Guarabira (1950), dos Irmãos Roberto, em Copacabana, no Rio de Janeiro (Fig.59); Diana (1957-1960), de Víctor Reif (Fig.59); Lugano e Lucarno (1959-1962), de Franz Heep, no Bairro Higienópolis em São Paulo (Fig.60); Progresso (1955-1956), dos Arquitetos Carlos Lange e Luís Rébora (Fig.61), em Córdoba; La Segunda (1955), de Silvio Mariotti, Juan Carlos Valenti e Alfredo Molteni, em Rosário, Argentina (Fig.61); assim como uma coleção infindável de anônimos, como os edifícios Santa Mariana (Av. Higienópolis, 573) (Fig.60), Nobel (Av. Higienópolis, 375), Ariadne (Rua Maranhão, 671), Benteví (Rua Maranhão, 629), em São Paulo. O Edifício José Pilla foi produto de uma incorporação de investidores, 79 coordenada pela Construtora Mello Pedreira S. A. , programada para oferecer bons apartamentos com três dormitórios, sala de estar e jantar, dois banheiros sociais, dependência de serviço com entrada exclusiva através de circulação independente (elevador de serviço) e garagem para automóveis. Localizado na esquina, em terreno irregular, o edifício coloca-se como "cabeça de quarteirão”, encostado, em parte, na divisa oeste e solto nas demais faces. O esquema formal é relativamente simples e usual da arquitetura moderna dos anos 1950: as paredes das extremidades oeste (divisa) e norte (Rua Santo Antônio), revestidas de pastilha branca, se sobressaem em relação ao plano das fachadas, em toda a altura da edificação, dobrando na platibanda e junto ao embasamento, configurando, assim, o coroamento e a separação com a base, respectivamente (Fig.63). Desta forma, há uma espécie de separação de texturas diagonalmente na volumetria do edifício. As fachadas oeste e norte eram inteiramente brancas, e as fachadas para a Avenida Independência (sul) e para a Rua Santo Antônio (leste), emolduradas pela placa Em anúncio do Correio do Povo o empreendimento é divulgado, através da Cia. Imobiliária Vera Cruz, com associados como a Bojunga Dias & Morganti, Potter, Scheid & Cia Ltda., provavelmente participantes como fornecedores da obra, Cia Phenix de Porto Alegre, a mesma companhia seguradora do edifício projetado por Warchawski e Moojen em 1955, e a própria Mello Pedreira (Fig.62). Edifício José Pilla. Correio do Povo. Porto Alegre, 06 dez. 1957, p.30 Sergio MMarques 235 79 qualidade, e sim de outra lógica espacial, adequada a determinadas condições nas quais a figuratividade não é o caso. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Foto Sergio Marques, 2010, Acervo FAM Fonte: Foto Sergio Marques, 2010 Fig. 63 - Edifício José Pilla, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1957, Porto Alegre-RS. Fig. 63.2 - Edifício José Pilla, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1957, Porto Alegre-RS. Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010 Fig. 63.1 - Edifício José Pilla, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1957, Porto Alegre-RS. 236 Fonte: Foto Sergio Marques, 2010 Fig. 63.3 - Edifício José Pilla, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1957, Porto Alegre-RS. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: . Foto Sergio Marques, 2010 Fig. 64 - À esquerda, Edifício Galeria Califórnia, Oscar Niemeyer, 1951-55, São Paulo-SP. À direita, Edifício Panamericano, Raul A. Sichero, 1958, Montevidéu. branca das fachadas posteriores, se abriam, como uma fruta, com revestimentos de reboco pintado de verde e um plano de cor cerâmica, que recebia o balanço das sacadas na esquina. A simplicidade é rompida com a introdução de algumas variações e pequenas deformações. Na fachada principal, a placa branca da divisa, como um pente, arremata volumes horizontais em cada pavimento, que alinham o balcão das sacadas e peitoril das aberturas, terminando em balanço na fachada leste, onde curiosa inflexão da parede do dormitório, em direção ao apoio do pilar, no térreo (Fig.63.2), cria melhor condição estrutural para o "balanço do balanço" e para a tensão visual da esquina. O pavimento térreo, caracterizado por um pequeno recesso branco em relação ao corpo superior na fachada sul, com subtração importante na fachada leste, para o acesso ao edifício, estabelece um "terreno artificial" na cota de nível da avenida Independência, abaixo do qual se acomoda o estacionamento, sugestivamente revestido de pedra rusticada. Surpreendentemente, os apoios da fachada leste, dada a supressão da base, são peças icônicas do pilar em "V" recorrente na obra de Oscar Niemeyer, como no Edifício Galeria Califórnia Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010,,2011 Fig. 65 - À esquerda, Edificio Puerto, Guillermo G. Platero, 1959, Punta del Este. À direita, Edifício Mediterraneo, Antoni Bonet Castellana e Josep P. Torné, 1960-66, Barcelona. (1951-1955), em São Paulo, duramente criticado por Max-Bill em 1953 (Fig.64). O pilar em "V" acabou de certa forma sendo indicativo mais ou menos evidente e frequente da influência do Movimento Moderno por intermédio da arquitetura brasileira, em especial a carioca, como no Edificio Panamericano (1958), de Raul Sichero Bouret, em Montevidéu, (Fig.64), Edificio Puerto (1959), de Guillermo Gómez Platero, em Punta del Este (Fig.65), talvez a Unidad Tacubaya (1956-1958), de Jorge Cuevas, Fernando Hernández e Ignacio Zaballa, na Cidade do México, e o Edificio Mediterráneo (1960-1966), de Antoni Bonet Castellana e Josep Puig i Torné, em Barcelona (Fig.65). Funcionalmente, o projeto igualmente mantinha padrões de mercado, introduzindo algumas pequenas inovações ou subversões, como as formais. A planta tipo, que apresenta engenhoso esquema para acomodar os três apartamentos por pavimento, dispõe área de ventilação e iluminação interna, para onde se abrem as áreas de serviço e banheiros, favorecendo também a ventilação cruzada dos três apartamentos. Sergio MMarques 237 Fonte: Desenho de Moacyr Moojen. Acervo FAM atuem de maneira determinante, assim como as especificidades formais, que colocam lado a lado o elemento arquitetônico formalizado à Niemeyer, com os habilidosos jogos neoplásticos de planos da esquina. Este caminho, na direção de uma arquitetura moderna mais abstrata, com elementos formais de certa universalidade, ganha mais determinação e escala em outro serviço realizado através da Mello Pedreira. Trabalho de grande envergadura, infelizmente não construído integralmente, mas que mesmo assim redundou em convite para palestra no ateliê de Nélson Souza, na FA-UFRGS, 80 foi o projeto desenvolvido para a Sociedade Guaibinha Hotéis Ltda. (1957) (Fig.66). O Hotel Guaibinha, projetado para um terreno na Rua Duque de Caxias, próximo à esquina da Rua General Auto e da Praça da Matriz, com área de aproximadamente dois mil e oitocentos metros quadrados, era proposto, em sua versão final, em três volumes: o primeiro, mais próximo à rua, com sete mil metros quadrados distribuídos em quinze pavimentos, uma barra perpendicular ao passeio contendo cento e cinquenta e um apartamentos, subsolo, comércio, 81 recepção, portaria e hall ; o segundo, com vinte e sete pavimentos, de mil metros quadrados por andar, organizados em uma torre com cento e sessenta e oito apartamentos, restaurante, salas de banquete, exposição, auditório para conferências e projeção para aproximadamente oitocentas pessoas, além de garagem para mais de cem automóveis; um terceiro bloco, situado no final do lote, com três mil metros quadrados, abrigava os serviços como cozinha, lavanderia, casas de máquinas, entradas de serviço e um segundo restaurante (Fig.67). Os apartamentos da torre, de bom tamanho, embora voltados a sul, desfrutavam da formidável vista da do rio e da cidade, desde o promontório. Esta empena, a principal, desde o ponto de vista formal e desde o ponto de vista dos arquitetos (Fig.66), desenhava um jogo neoplástico entre volumes Fig. 66 - Hotel Guaibinha, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1957, Porto Alegre-RS. O edifício José Pilla pode ser facilmente classificado como manifestação arquitetônica cuja formalidade está impressa nas filiações corbusianas da escola carioca, em particular de Niemeyer. Porém, a condição particular do contexto urbano e das prerrogativas funcionais faz com que outros agentes específicos Nesta época de poucos arquitetos atuantes no mercado, os encargos privados normalmente eram dirigidos às construtoras e não diretamente aos escritórios de arquitetura, que por sua vez desenvolviam os projetos com seus próprios projetistas, predominantemente técnicos ou autodidatas. Dependendo da dimensão da obra, contratavam arquitetos no exterior ou em outros estados. A prática de contratar arquitetos locais era recente, portanto os projetos de maior envergadura surgiam desses contextos. A Sociedade Guaibinha Hotéis Ltda., criada no mesmo ano do projeto, tinha como um dos sócios o Dr. Walter Perachi Barcelos (1907-1986), ex-governador do Estado, de 1966 a 1971, durante a ditadura militar. 81 A maquete do projeto foi feita por Fayet e Suzy, já que era comum colaborações deste gênero entre os escritórios. Em contrapartida, Moojen, em outras oportunidades, fez perspectivas para Coroninha e Fayet. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Entrevista. Edifício FAM, jun. 2008. 80 238 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo FAM Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM Fig. 67 - Hotel Guaibinha, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1957, Porto Alegre-RS. À esquerda, de baixo para cima, 2° subsolo, 1° subsolo e Térreo. À direita, de baixo para cima, 2° pavto., 14° pavto. Da esquerda para a direita, 16° ao 24° pavto., 25° pavto. e 26° pavto. Sergio MMarques 239 Fonte: Desenho Moacyr Moojen. Acervo FAM Fig. 68 - "Terraço Jardim", Hotel Guaibinha, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1957, Porto Alegre-RS. de balcões, que ora se prolongam horizontalmente, dividindo fatias de três pavimentos na altura, ora se interrompem, dividindo três grupos na largura, aparentado de alguma maneira com o mesmo jogo neoplástico do edifício Jaguaribe (1951), de Fernando Corona e Luís Fernando Corona, na Avenida Senador Salgado Filho. Também como o Jaguaribe e outros edifícios anteriores em Porto Alegre (Edifício Esplanada, de Romam Fresnedo Siri, e Edifício Link, de Emil Bered, de 1952), o Guabinha encerra a composição de volumes dentro de uma caixa formada pelos planos limítrofes do volume principal que avançam até o alinhamento dos balcões, coroados por empena, de um pé-direito, no mesmo plano, que abriga o terraço jardim, onde estão piscina e área de lazer (Fig.68), na qual uma grande abertura conecta com a paisagem. O visual é o mesmo usufruído pelo restaurante disposto em uma faixa envidraçada no décimo-sexto pavimento, pouco acima do meio da torre, que por sua vez conecta com a área de lazer na cobertura da barra (Fig.67), caracterizando um pavimento especial no corpo do edifício, igualmente como no Juaguaribe. O térreo, no terreno em "L", arma a barra do primeiro volume, como uma sequência de áreas fluidas de recepção e hall que culminam no volume do auditório, cujo acesso é pelo andar inferior, ordenadas pela sequência de colunas colossais dispostas aos pares (Fig.67). O pavimento tipo adota a organização do Pavilhão Suíço, com a barra de apartamentos em enfilade e o volume da circulação vertical, com geometria excêntrica, plugado (Fig.67). A incorporadora chegou a realizar a contrução do Bloco "A" e as fundações dos demais blocos até 1966, porém, com a inflação e a dificuldade de vender cotas a investidores, o empreendimento foi abandonado nos anos 1970 e a obra, parcialmente executada, transformada para outra ocupação. Fonte: Fotos Sergio Marques, 2009, 2010, Fig. 69 - A esquerda, Edifício Ciudadela, Raul A. Sichero, 1958, Montevidéu. A direita, Edifício Ames, Rodolfo A. Guevara, Marcelo Moyano e Raul Zaraga, 1957-59, Córdoba - Argentina. O caráter de edifício moderno de grande envergadura, como conceito 82 de "superbloco" , torre habitacional com costados cegos articulada a outros volumes menores, de multifuncionalidade, conectado a eixo centralizador de desenvolvimento urbano e contíguo a espaço cívico faz paralelo ao Edificio Ciudadela, de Raul A. Sichero Bouret e Ernesto Calvo, projetado um ano depois 83 (1958) (Fig.69) ou o Edifício Ames, de Rodolfo Ávila Guevara, Marcelo Moyano 82 Alan Colquhoun adota a denominação para definir um dos principais tipos edilícios da cidade moderna, tanto desde o ponto de vista do gênero de empreendimento imobiliário quanto arquitetônico: "O superbloco e com ele, o paradigma de 'projeto total' é um fato do Estado capitalista moderno. Evoluiu a partir do edifício representativo tradicional e substituiu paulatinamente o sistema segundo o qual as unidades pequenas se projetavam dentro dos limites de um repertório metonímico estabelecido. Não se trata tão só de um novo tipo para acrescentar ao repertório tipológico da cidade, senão de um tipo de tipos, cuja presença está transformando rapidamente a cidade tradicional". Ver COLQUHOUN, Alan. El Superbloque, in Arquitectura moderna y cambio histórico. Barcelona: Editorial Gustavo Gilli, 1978, p.111. 83 Complexo multifuncional constituído de apartamentos, escritórios e comércio, construído entre 1959-1963, junto à Peatonal Sarandí, prolongamento da Avenida Nove de Julho e contíguo a Plaza 240 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: Fonte: . Foto Sergio Marques, 2010 1950/1970 Capitulo I A casa do patrão – Residência Mello Pedreira (1958) Fig. 70 - Edifício Arturo Prat, Emilio Duhart, 1954, Santiago do Chile. e Raul Zarazaga (1957-1959) (Fig.69), em Córdoba – Argentina. Ao mesmo tempo, o projeto do Hotel Guaibinha, evidencia a adoção do tipo torre ou barra sobre placa horizontal, inspirado nos modelos norte-americanos e disseminado na América do Sul, como no Edifício Arturo Prat (1954) (Fig.70), em Santiago do Chile, de Emilio Duhart, cujos esquemas tipológicos tiveram posteriormente significativa influência nos planos urbanísticos de Porto Alegre. Conjuntamente com esses trabalhos, seria também em escala doméstica que a materialização e maturação das experiências arquitetônicas que fundamentaram a produção arquitetônica madura de Moojen se evidenciariam. Uma sequência cronológica de casas que culminam na Casa para Maurício Sirotsky Sobrinho, no início dos anos 1960, um pouco antes dos trabalhos para a Petrobras, ilustra essa evolução. Em paralelo aos trabalhos realizados através da Mello Pedreira, Moojen, entre 1956 e 1957, por intermédio de relações familiares, projetou, com Warchavsky, um par de residências, para profissionais, casados com duas irmãs, chamadas Jane e June, portanto concunhados entre si, o comerciante Álvaro Torres e o médico Dr. Derly Monteiro, em terreno de esquina no bairro Bela Vista, com uma piscina em comum, posteriormente demolidas. O encargo veio através de seu cunhado, Jorge Kops, irmão mais velho de Jane e June, casado com sua meia irmã, Zola Maris Coutinho. As casas, se por um lado avançam formalmente em direção a uma maior abstração, com a eliminação do telhado, retrocedem em termos de desmaterialização do volume em planos, tanto no desenho das aberturas, novamente ocos diretos na superfície de alvenaria, sem nenhum plano de contenção, quanto na base rusticada, para 84 acomodar a construção no desnível acentuado do terreno (Fig.71) . A composição de volumes cúbicos é manejada como um jogo de adição e subtração de partes, de um volume paralelepipédico maior, cuja raiz poderia ser as casas cúbicas de Le Corbusier para Pessac, realizadas entre 1924 e 1926 (Bairros Modernos Frugès, Rues Le Corbusier, Henri-Frugès e Des Arcades), ou mesmo as de Gregori Warchavchik, realizadas em São Paulo entre 1927 e 1930 (Casa da Rua Mariana, Max Graf e Rua Itápolis), ou ainda a Casa Pucci (1928), de Maurício Cravotto (Fig.72), se não fossem os beirais balançados e os terraços cobertos com pérgolas e delimitados por brises. Na Argentina, se pode mencionar a Casa Individual (1931), de Alberto Prebisch (1899-1970) (realizada para seu irmão na Calle Luiz Maria Campos, em Buenos Aires), aparentada às de Warchavchik (Fig.72), e o conjunto de projetos corbusianos não construídos de Wladmiro Acosta (1900-1967), durante os anos 1930, como a Casa del Periodista (1931), em São Paulo (Fig.72), e a Casa en Villa Urquiza (1934-35), em Buenos Aires. Na verdade, a Casa Álvaro Torres, assim como a Casa Telmo Ferreira (1960) (Fig.30, Cap.A), de Araújo, integra este conjunto de arquiteturas eminentemente modernas, de traços abstratos, pendentes de vários elementos Mesmo assim, segundo Moojen, há diferenças entre uma casa e outra. Warchavsky, em seu entender, mesmo de formação básica e autodidatismo, tinha ótima performance na solução racional das plantas baixas, obtendo soluções extremamente funcionais, porém herméticas quanto à ponderação de esquemas não tão ortodoxos e pouco sensíveis à concepção formal dos espaços. Na casa do Dr. Derly Monteiro, Warchavsky fixou a solução nestas condições, e Moojen pouco pôde contribuir. Já na de Álvaro Torres, na esquina, por simetria, Moojen determinou a solução geral, que defendeu tenazmente junto ao velho amigo. O relacionamento com Warchavsky foi de aprendizado, mas rapidamente de superação, já que o parceiro não lograva acompanhar os debates e a disseminação da arquitetura moderna no meio e acabou se afastando. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. 12 out. 2011. Entrevista. Sergio MMarques 241 84 Independencia, muito semelhante ao contexto Rua Duque de Caxias e Praça da Matriz em Porto Alegre. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 73 - Residência Álvaro Nunes, Moacyr Moojen, 1955, Lagoa Vermelha-RS. Fig. 71 - Residência Álvaro Torres, Moacyr Moojen e Joaquim M. Warchavsky, 1956-57, Porto Alegre-RS. Fig. 72 - Da esquerda para a direita, Casa Pucci, Mauricio Cravotto, 1928, Montevidéu. Casa Individual, Albert Prebich, 1931, Buenos Aires. Casa Del Periodista, Wladimiro Acosta, 1930, São Paulo - SP. da tradição formal e construtiva da região, com bom nível de construção e aceitação entre a burguesia e a classe média não só no Rio Grande do Sul, mas também na Argentina e principalmente no Uruguai dos anos 1950 e 1960, como atestam o bairro residencial de Carrasco, em Montevidéu, e muitas cidades interioranas da região meridional latino-americana. A primeira casa feita por Moojen, anterior às de Álvaro Torres e Derly Monteiro, ainda no último ano da arquitetura (1955), para um parente seu, em Lagoa Vermelha-RS, o Sr. Álvaro Nunes (Fig.73), com seu volume cúbico, trespassado por um plano horizontal que configura o terraço do segundo pavimento, garagem e entrada lateral da casa, poderia estar em qualquer parte desta região. O moderno interiorano, nestes casos recorrente e provinciano, estava muito próximo das soluções de organização da casa eclética, com recuo lateral, platibanda e sobre-elevação do chão, para melhorar a relação com a 85 rua , ingredientes que gradativamente foram incorporando roupagem moderna e disseminando-se nas cidades interioranas, principalmente na direção das fronteiras com Uruguai e Argentina, onde o fenômeno já estava em marcha. O efetivo ingresso em um repertório mais sofisticado da arquitetura moderna, tanto em relação ao partido, elementos que compõem o espaço e principalmente na depuração de detalhes e materialidade, das partes internas e externas, foi na obra feita para o principal cliente. O projeto para a casa do 85 Fonte: MARGENAT, Juan Pedro. Tiempos Modernos Arquitectura Uruguaya afín de las vanguardias. Montevidéu: Tradinco, 2009, p. 52. GUTIÉRREZ, Ramon. Alberto Prebisch: Una vanguardia con tradición. Cedodal, Buenos Aires, 1999, p. 42. GAITE, Arnoldo. Wladimiro Acosta. Buenos Aires: Nobuko, 2007, p.1333. Para uma síntese da evolução da casa tradicional brasileira e uma descrição pormenorizada da casa no período do ecletismo no Brasil, ver: REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. Brasil São Paulo: Perspectiva, 1983. 242 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Fonte: . XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p. 102 Capitulo I Fig. 75 - À esquerda, Casa Hungria Machado, Lúcio Costa, 1942, Rio de Janeiro - RJ. À direita, Residência Israel Iochpe, Edgar Graeff, 1953, Porto Alegre-RS. Fig. 74 - Residência Mello Pedreira, Moacyr Moojen, 1958, Porto Alegre-RS. Machado (1942) (Fig.75), adotadas de alguma maneira nos projetos que Edgar Graeff construiu no Rio Grande do Sul, em particular a Residência Israel Iochpe 87 (1953) (Fig.75). O paralelo é pertinente na adoção do telhado em quatro águas à vista, com telhas de barro tipo canal (Figs.76), na simetria predominante da fachada principal (Fig.74), nas molduras que envolvem os planos de aberturas dos dormitórios (Fig.76), com venezianas de contrapeso e janelas guilhotina, dentro de panos de madeira e no uso dos combogós (Figs.76). No entanto, Da mesma forma que com esta casa pode-se fazer um paralelo entre a relação dos espaços com os pátios, o desenho das esquadrias e elementos de proteção, varandas e o uso de elementos tradicionais, a conexão entre o arquiteto e os clientes igualmente se estabelecia a partir de redes que transcendiam a profissional e ingressavam em relações pessoais duradouras, como a que Costa manteve com César Guinle, Barão Saavedra, Heloísa Marinho e Dona Clara Hungria Machado. "No começo dos anos 40, quando estava no seu fim a demorada construção do edifício do Ministério, surgiu de repente, no nosso escritório do Castelo, a simpática e até então desconhecida figura risonha de Dona Clara Hungria Machado, pedindo-me um projeto para a residência que pretendia construir [...] Resultou deste espontâneo gesto inicial, além de uma amizade para a vida toda, esta serena e bela casa [...]." COSTA, Lúcio. Registro de uma vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995. p. 218. "[...] fica evidente um traço característico de sua . produção residencial nesta fase: o acentuado envolvimento afetivo com os projetos e com os proprietários. Se nos anos 30 o esforço por entender e assimilar a arquitetura moderna leva Costa ao limite de abstrair o terreno e o proprietário (como é o caso das Casas sem Dono), nesses seus projetos dos anos 40 essa relação parece ser a base de sua atividade." Ver: CARLUCCI, Marcelo. As casas de Lúcio Costa. [Dissertação de mestrado]. MARTINS, Carlos Alberto Ferreira (Orient.) São Carlos: EAUSP, 2005. p. 50. 87 Classificada, por Graeff, posteriormente crítico em relação à literalidade da arquitetura adotada, como uma casa que reflete "preocupações de fundo mais cosmético que arquitetônico com o realismo socialista", a residência, no entanto, resolve engenhosamente a acomodação no terreno de topografia acentuada, liberando o volume principal, que abriga os dormitórios, tratado com nítida influência da tradição colonial e de Lúcio Costa. Ver: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Alegre. Arquitetura moderna em Porto Alegre São Paulo: Pini, 1987. p. 102-103. Sergio MMarques 243 86 86 Fonte: Acervo FAM engenheiro Joaquim Alfredo de Mello Pedreira, na Rua Lucas de Oliveira, dono e um dos diretores da contrutora, afiançava a relação de confiança, pavimentada desde os primeiros trabalhos, ainda como estudante, cuja raiz estava, além de nas boas afinidades pessoais, na crença na arquitetura moderna posta em marcha por esta geração de arquitetos e, neste caso, em Moojen em particular (Fig.74). Pedreira, assim como muitos engenheiros e empresas de construção de sua geração, percebia as mudanças a caminho, a diferença da arquitetura produzida pelos jovens arquitetos formados pela nova Faculdade de Arquitetura da UFRGS, a arquitetura moderna defendida arduamente por estes e os velhos projetistas, que manipulavam o "moderno" como um estilo com roupagem de soluções gastas. Portanto, como aspirante ao moderno, assim como parte da sociedade brasileira e gaúcha, e fiador da arquitetura moderna nos investimentos de sua construtora, ao realizar sua própria casa, selou com Moojen a cumplicidade arquitetônica. O projeto da casa tinha o ar senhoral das arquiteturas cariocas, hibridizando soluções modernas com elementos da tradição brasileira colonial, como nos projetos de Lúcio Costa, em especial a Casa Argemiro Hungria Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 76.2 - Residência Mello Pedreira, Moacyr Moojen, 1958, Porto Alegre-RS. Fig. 76 - Residência Mello Pedreira, Fachada dos dormitórios, Norte, Moacyr Moojen, 1958, Porto Alegre-RS. Fonte: Desenho de memória, Moacyr Moojen. Acervo FAM . Fig. 76.1 - Residência Mello Pedreira, desenho de memória, Moacyr Moojen, 1958, Porto AlegreRS. A esquerda, pavto. superior: 1- Vestíbulo, 2 - Estar, 3 - Gabinete, 4 - Pérgula, 5 - Jantar, 6 Copa/Cozinha, 7 - Estar diário, 8 - Dormitórios, 9 - Banho, 10 - Suíte. Pavto. Térreo - 1 - Pilotis, 2 - Garagens, 3 - Caldeiras, 4 - Serviços, 5 - Escada de serviço. 244 Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 76.3 - Residência Mello Pedreira, Moacyr Moojen, 1958, Porto Alegre-RS. Fig. 76.4 - Residência Mello Pedreira, Paisagismo, Moacyr Moojen, 1958, Porto Alegre-RS. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo FAM Fig. 77 - Residência Mello Pedreira, escada principal, norte, Moacyr Moojen, 1958, Porto AlegreRS. Fonte: Acervo FAM Fig. 78 - Residência Mello Pedreira, sala de estar, Moacyr Moojen, 1958, Porto Alegre-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 245 distingue-se das anteriores pela introdução de elementos que se encaminham a certa abstração neoplástica, aparente na ampliação da creche para a Prefeitura, 88 através de seu interesse na obra de Frank Lloyd Wright e, a seguir, dos 89 americanos da Costa Oeste . Esta tendência se pode observar na maneira como as partes estão associadas, diferentemente de Costa e Graeff, há uma progressiva tranfiguração da ênfase nos volumes, acentuando a relação entre os planos e a independização formal entre as partes. Examinando a fachada principal, aparentemente a mais tradicional de todas, percebe-se o nítido descolamento do volume do telhado em relação ao corpo principal da casa, através do recuo da viga antepondo-se ao plano de alvenaria revestido com pastilha "confete". Este, por sua vez, segue autônomo além dos limites da casa e do beiral do telhado, sem se conectar, todavia, com o plano de tijolos à vista que avança pela divisa, ultrapassando lateralmente a varanda que ele cerra. Assim, entre o plano horizontal de madeira escura que reveste o beiral e acentua sua flutuação, a viga de bordo e as paredes que não se tocam, o jogo abstrato de planos se arma de maneira elegante e convincente, de princípios formais próprios que a arquitetura moderna logrou consensuar nos anos 1950 (Fig.76.3). O princípio se mantém, assim como na arquitetura norte-americana e paulista, na criação de pátios fechados por planos externos, que se prolongam desde os ambientes internos de estar, com pérgulas que cobrem os pátios, protegendo-os, e se prolongam internamente, na forma de desníveis do forro (fig.76.2). Tijolos à vista pintados de branco, luminárias tipo pastilha e móveis de vime com estrutura de ferro redondo dão o tom típico (Fig.78). Nada típico, no entanto, está no jardim: dentre um traçado igualmente neoplástico, onde entre passeios, espelhos de água, bancos, escadas e floreiras de pedra, arranjados em formas geométricas conjuntamente com os canteiros de plantas (Fig.76.4), Moojen projetou para Mello Pedreira um galinheiro. Não um galinheiro qualquer, já que o engenheiro, oriundo do interior, gostava de criar galinhas e ter ovos frescos em casa. O projeto, além de ter um sofisticado sistema de ventilação para as aves e outro para recolher os ovos externamentente, assim como todos os demais elementos do paisagismo, projetados em um desenho total, obedecia aos mesmo critérios formais do todo. Possivelmente, portanto, o primeiro galinheiro moderno do Brasil com arquitetura wrightinana, brises e teto plano (Fig.78). Dada a simetria e a volumetria geral da fachada principal, poderia se alinhar a Casa Mello Pedreira com algo situado entre a Casa para Oak Park e o descolamento dos planos da Casa Robie (1909), paralelos que igualmente os arquitetos paulistas como Vilanova Artigas faziam. 89 Tendência que se acentua, em particular, no projeto para sua própria casa, em Ipanema (1958), analisada logo a seguir, acompanhando seu interesse em Richard Neutra e, conjuntamente com os paulistas, paralelos com o Study case house program. . 88 Fonte: Acervo FAM Fig. 78 - Residência Mello Pedreira, galinheiro, Moacyr Moojen, 1958, Porto Alegre-RS. Nestes anos, com Warchavsky em transição para São Paulo, Moojen negociou com o Engenheiro Pedreira o estabelecimento de seu escritório privado nas dependências do Banco Nacional do Comércio, desenvolvendo ainda projetos para a empresa e incrementando seus próprios trabalhos. Acertado o acordo, formalizou-se a primeira associação de Moojen, com Marcos David Hekman e, posteriormente, Luís Carlos Cunha, colegas de turma. Logo a seguir, veio Léo Ferreira da Silva para colaborar em alguns trabalhos, e acabou se incorporando ao grupo, assim como Nestor Nadruz, com os quais realizou o concurso para o Centro Evangélico, na Senhor dos Passos (1959). Neste período, Moojen realizou também o projeto e construção da Casa de Ipanema (1958-1960), modesta economicamente, porém com particularidades modernas evidentes, cuja integração espacial entre as funções, Warchavsky, sem ter envolvimento direto com o projeto, repudiava. 246 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Fonte: . Capitulo I Residência provisória no escritório transitório: A Casa de Ipanema – um dos protótipos? (1958) Fig. 80 - À esquerda, Casa/ Ateliê da Rua Avanhandava, Arq. Oswaldo Bratke, 1945, São , Paulo. À direita, Catetinho, Oscar Niemeyer, 1956, Brasília - DF. Fig. 79 - Casa de Ipanema, projeto original, Moacyr Moojen, 1958, Porto Alegre-RS. Nesta época, casado com Maria Ivone, tinha dois filhos: Nádia Maria Marques (1952) e José Carlos Marques (1957). Com quatro anos de formado e 28 anos de idade, morava em apartamento alugado na Avenida Senador Salgado Filho, no Edifício Nice, prédio expressionista dos anos 1940, ao lado da Companhia Rio-Grandense de Telecomunicações – CRT. Essa localização favorecia caminhadas pela área central, entre a Avenida Senador Salgado Filho, a Prefeitura Nova – onde funcionava a Divisão de Urbanismo – e o escritório, na Praça da Alfândega, em distâncias curtas e trechos animados pela vitalidade urbana. O hábito peripatético, jamais abandonado, de pensar caminhando Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado ganhava contornos. Morando no centro, no entanto, em face de tosses e problemas respiratórios constantes dos filhos, nas férias de verão, como sugestão do médico da família, alugava residência para veraneio na Avenida Osvaldo Cruz, na Praia de Ipanema. O bairro, na época, era local de moradia de muitos funcionários públicos aposentados e também, com o Lago Guaíba balneável, lugar de veraneio e finais de semana para boa parte da população que não se deslocava ao litoral marítimo em função da distância e dos custos. A família, portanto, passava o mês de verão em Ipanema, com hábitos típicos de veraneio, idas diárias à praia e rotina bucólica de balneário. Esse hábito suscitou o desejo de construção de casa própria para uso nos finais de semana e verão, com mais conforto. Após uma pesquisa inicial, estabeleceu contato com parente do Sr. Juca Batista, empreendedor do loteamento original do bairro. Através de seu escritório, localizado no Mercado Público, Moojen analisou um conjunto de terrenos disponíveis, optando pela rua Dr. Pio Ângelo, um cull-de-sac, com a tranquilidade desejada e árvores adultas, entre elas uma Timbaúva majestosa, já com aproximadamente dez metros de altura e quinze metros metros de copa, localizada em frente ao lote (Fig.86). O terreno, próprio para pequena chácara, com vinte e seis metros de frente e trinta e três metros de fundos, permitiu o parcelamento em dois lotes apropriados, repartidos com o colega Nestor Nadruz, sócio na aquisição realizada em vinte e quatro prestações. O projeto, apesar da singeleza imaginada para um bangalow de madeira de uso sazonal, assim como na SPA de Fayet, inseriu-se no desenho despojado das casas racionalistas produzidas na Califórnia nas décadas de 1940 a 1960, emblematizadas pelo Study cases houses program, conectadas ao contexto gaúcho pela via da arquitetura produzida por paulistas como Oswaldo Bratke e a vinda de Richard Neutra a Porto Alegre. Fonte: Acervo FAM Sergio MMarques 247 Fonte: Foto Sergio Marques, 2006. < http://membres.multimania.fr/floreportag es/corbu/Corbu.html> Fig. 81 - À esquerda, chalé em Ipanema, anos 1940. No meio e a direita, Le Cabanon, Le , Corbusier, Roquebrune, Cap-Martin, 1952. [...] simplicidade de projeto e clareza de raciocínio estrutural, integração espacial interior/exterior com flexibilidade de planta, predominante horizontalidade, luminosidade, ventilação, preocupação com desenho de mobiliário e qualidade de utensílios eletrodomésticos, reorganização dos espaços internos em função da superação de velhos estereótipos domésticos e familiares, a introdução de novos eletrodomésticos transfigurando as funções e os dimensionamentos e a possibilidade de aplicação de métodos construtivos e dos materiais desenvolvidos durantes a guerra, para a 91 arquitetura residencial. Fonte: Desenho 1999, Acervo FAM A revista Pilotis, entre 1948 e 1951, era fortemente influenciada pela revista californiana Arts & Architetecture, promotora do Study cases houses program que, por sua vez, publicou a casa Avanhandava, de Oswaldo Bratke, de madeira (Fig.80), também construída para si, primeiro latino-americano a 90 publicar na revista . A tipologia de casa moderna térrea ladeada por pérgolas e pátios delimitados por muros prolongados, horizontalidade acentuada, planta livre na área social e cozinha americana integrada, recheava o imaginário da classe média da década de 1950, ilustrado com imagens publicitárias da vida moderna, provida de automóveis, televisores, eletrodomésticos e móveis de perna palito. SEGAWA descreve as características da arquitetura californiana produzida no período como: Fig. 82 - Casa de Ipanema, Projeto definitivo, Moacyr Moojen, 1958, Porto Alegre-RS. Do modelo norte-americano, a casa de Ipanema ainda é herdeira do racionalismo construtivo condicionado pela estrutura, construída, paradoxalmente, com sistema semelhante ao tradicional norte-americano baloon frame e fechamentos laterais de madeira. O projeto original definiu um núcleo “molhado”, com banheiro, cozinha, área de serviço e paredes de divisa de alvenaria, e as fachadas norte e sul e demais paredes internas configuradas Edição de outubro de 1948. Oswaldo Bratke era assinante da revista e visitou a editora em sua primeira viagem aos EUA, quando também visitou um modelo de casa para a classe média de Marcel Breuer em exposição no Museun of Modern Arts de Nova York. Ver: SEGAWA, Hugo; DOURADO, Guilherrme Mazza. Oswaldo Arthur Bratke . São Paulo: Projeto, 1997. 91 Idem, p. 25. 90 por um esqueleto de madeira modulado a cada metro e meio, e fechamento lateral com tábuas de pinho na horizontal, originalmente à vista, tratadas com verniz. A cobertura é de fibrocimento, forrada pelas mesmas peças de madeira aparente. O uso de madeira com tábuas na horizontal faz jus à tradição econômica e construtiva dos chalés de madeira, bucolicamente construídos na Zona Sul, desde os anos 1940, associados ao uso das telhas de fibrocimento, usado com gosto nas casas modernas a partir dos anos 1950, apreciadas como novo material industrializado. Gosto semelhante ao de Niemeyer, o da racionalidade e frugalidade, no projeto do Catetinho para JK (Fig.80). Observações referentes aos chalés de madeira existentes em abundância, aliadas ao custo inferior da construção em pinho disponível no mercado, contribuíram com a estratégia de projeto e imagem de casa pretendida. De certa maneira, o conceito de casa de verão, refúgio da vida urbana em metrópole, esconderijo e posto avançado de contato com a natureza, com caráter de cabana primitiva em ambiente rústico, tem 248 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo FAM Fig. 83 - Casa de Ipanema, pérgula e estar, Moacyr Moojen, 1958, Porto Alegre-RS. correspondência, assim como o Sítio da Barragem de Fayet, com o sentido da Cabanon de Roquebrune-Cap-Martin (1952), de Le Corbusier (Fig.81) A construção, com aproximadamente cem metros quadrados, modesta em termos de escala, foi organizada próxima ao centro do lote, em uma franja de oito metros de largura por toda sua extensão, de divisa a divisa, uma estreita faixa transversal, dividindo o terreno em duas partes iguais. Como em outros projetos de Moojen, a opção de recuo frontal generoso pauta de alguma maneira o senso urbano moderno da cidade jardim, onde o espaço público e a intermediação com as construções se configura através de área livre frontal qualificada. Na Casa de Ipanema, o recuo de oito metros desde o alinhamento, além de valorizar a frondosa Timbaúva e outras árvores nativas preservadas em frente ao lote, criou através de pátios de transição entre público e privado, um pátio semipúblico, onde estão as árvores e acessos, e outro semiprivado, configurado por muros prolongados de alvenarias da casa (Fig. 82). Em mais três residências construídas, na Casa de Maurício Sirotsky, 1963 (Fig.117), na casa do Comandante Binz, 1967 (Fig.121), e posteriormente na casa de Almir Nácul, 1973 (Fig.75,Cap.IV,MFVHN), o partido em faixa transversal com recuo frontal exuberante proporcionou o protagonismo das árvores nativas e a celebração da imagem Garden City idealizada junto ao estuário. Também no Clube do Professor Gaúcho, de caráter institucional, o recuo de aproximadamente cem metros da avenida e do rio coloca o instrumento “recuo de jardim”, em escala monumental, concordando a planaridade do terreno com a horizontalidade da edificação térrea, ajustada transversalmente ao terreno. O gesto corajoso e sobretudo generoso com a Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: . Fig. 84 - A esquerda, Casa Pátio Mies van der Rhoe, 1934. A direita, Bailey House, Richard Neutra, 1947-48, Pacific Palisades, Califórnia - USA. paisagem ocasiona perspectivas amplas, desde a rua, neste caso na escala dos palácios governamentais de Brasília, e reserva cenário para figueiras e outras espécimes nativas que se pronunciam sobre a superfície plana da grama. No pátio interno da casa de Ipanema, ainda uma pérgola de madeira, apoiada nos pilares duplados da varanda, alcançava os muros fronteiriços – um continuação da parede de divisa, de tijolos à vista, vazado por tijolos furados; outro solto, plano com reboco texturizado e suporte de escultura metálica – perfazendo entrada coberta por buganville desde o portão situado no desencontro dos muros (Fig.83). A área de pátio, fronteriço à sala de estar, ficava então desenhada pela varanda da casa e pérgola, em um “L” de espaço sombreado, e nas outras faces pelos muros. No centro, em desnível desde o acesso e varanda, um quadrado de piso rebaixado, forrado com ladrilhos hidráulicos brancos, luminosos, enchia o pátio reservado de luz. Lugar de conversas familiares e recepção de visitas no verão, normalmente domingueiras, ali, em muitos verões, se encontraram as famílias de Fayet, A raújo e M oojen. A relação de pátio e sala, através de uma porta de folhas triplas, de abrir integralmente, e vidros generosos para os padrões da casa, segue o espírito de espaço fluido, com relações de continuidade entre interior e exterior fartamente explorados no Movimento Moderno e na arquitetura produzida pelos europeus migrados para a América do Norte em particular. A imagem de pátio como ambiente da sala de estar é emblemática das casas construídas na Califórnia por Richard Neutra, como a Casa Tremaine (1947-1948). A noção de organização da habitação fundamentada na relação com o pátio encontra também ampla repercussão na história e na arquitetura vernacular. Mies Van der Rohe e sua casa-pátio colocaram essa tradição em termos de exploração das relações espaciais entre recintos abstratos, virtualmente definidos por Sergio MMarques 249 Fonte: Foto Sergio Marques, 2006. < http://membres.multimania.fr/floreportag es/corbu/Corbu.html> Fig. 85 - Publicidade norte-americana da "cozinha americana", DKW Vemaguete, igual à de Moacyr Moojen e televisão P&B, década de 50. planos contínuos (Fig.84). A primeira Case Study House, projetada por J. R. Davidson, em 1946, como uma casa mínima, ordena a área de estar, ala íntima e serviços em uma faixa de espaços mais ou menos integrados que intermediam e se abrem generosamente para pátios. Da mesma forma, a Casa Bailey, Case Study House n° 20 (1946-1948), também conhecida como a “casa de quatro pátios” (Fig.84), em compactos cento e vinte e dois metros quadrados, arma as funções em sequência arranjada em faixas desencontradas que se cruzam no miolo, onde estão os cômodos mais compartimentados (área íntima e serviços). Assim, as duas alas, em direções opostas, ladeiam quatro pátios designados para celebrações, comidas, jogos e trabalho. A conexão sala de estar e pátio é estabelecida sempre através de ampla transparência e mobiliário de aproximação, como a cadeira BKF de Antoni Bonet Castellana. Na Casa de Ipanema, transparência e continuidade se prolongam através da sala de estar interior, organizada em dois ambientes, um voltado à lareira e outro a uma pequena biblioteca, sala de jantar integrada com a cozinha americana, até o pátio dos fundos. Mobiliário de verão, cadeiras com cestos de vime sobre pernas palito e espreguiçadeiras se deslocavam da frente para os fundos, de acordo com a hora do dia e da confraternização (Fig.82). A integração visual da cozinha com a sequência espacial desencadeada pela conexão pátios e salas de estar, determinante na casa de Ipanema, revela outra condição funcional explorada nas Case study houses e, de certa maneira, fetichizada pela classe média norte e sul-americana dos anos 1950-1960. A ideia de modernização, qualidade de vida para todos e disponibilidade de novos recursos tecnológicos embutida no Movimento Moderno, além dos novos atributos espaciais de planta livre, transparência e indistinção, trazia também conceitos modernos da forma de viver e habitar repletos de novos significados sociais: a extinção da cozinha como espaço de serviço segregado e de menor valor funcional e formal na estrutura arquitetônica da residência (herança de relações sociais entre patrão e serviçais), também em desaparição – ou assim desejado – e as mudanças de relacionamento e valores Fonte: Acervo FAM Fig. 86 - Casa de Ipanema, Moacyr Moojen, 1958-1961, Porto Alegre-RS. da própria estrutura familiar, o câmbio no papel da mulher, normalmente gerente das lides domésticas, e do homem como agente promotor da 92 sustentação econômica familiar (Fig.85). Com as mudanças sociais e econômicas, relações entre personagens familiares e espaço de habitação se alteraram. A cozinha e dependências de serviço, normalmente confinadas em compartimentos de retaguarda, integraram-se à espacialidade fluida da casa moderna, exibindo a estética das máquinas e novos eletrodomésticos como artefatos de carga simbólica. As imagens de Le Corbusier nas casas vanguardistas do Movimento Moderno, como na Villa Stein ou nos desenhos emblemáticos dos projetos imbuídos de investigação permanente sobre novos modos de vida moderna, como nas maisons montées à séc, são reveladores das novas relações e valores espaciais da casa. Craig Ellwood, na casa na Bel-Air Road, em Los Angeles, explora o jogo de transparências e continuidade entre pátios, áreas de estar e cozinha, favorecido pelo sistema construtivo extremamente delgado obtido pela estrutura metálica de secção tubular e amplos painéis envidraçados. A racionalidade construtiva e sinteticidade da construção, regida normalmente por estrutura independente, painéis leves de fechamento e paredes divisórias com função de mobiliário, com filiação no movimento De Stjil, fazem parte de um corolário intensamente explorado nas casas norteamericanas e usado com habilidade na Casa de Ipanema. O projeto previa os costados de divisa com alvenaria de tijolos, conforme exigido pelas normas, e Comas, com certo tom irônico, analisa a inserção deste modelo dentro de contexto mais amplo da influência norte-americana na estrutura familiar, na estrutura urbana e nas casas manifesto latinoamericanas. Ver: COMAS, Carlos Eduardo Dias. Livre pensar é só pensar: casa, cidade e pax americana 1. Projetodesign, São Paulo, Arco Editorial, n. 281, jul. 2003. p. 38. Projetodesign, . 92 250 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I um núcleo central, também de alvenaria, abrigando banho, cozinha e área de serviço externa. Os fechamentos de fachada de frente (sul) e fundos (norte) obedecem a uma estrutura modulada em um metro e meio, determinada por caibros de seção oito por oito centímetros com madeira de fechamento posta na 93 horizontal, na face externa, e na vertical na interna (Fig.86) . As demais divisões internas, entre a sala e o quarto de casal e entre os quartos, são na verdade armários, prateleiras e gavetas que oferecem acesso para ambos os lados. Essa parede funcional, executada com peças de madeira de construção por carpinteiros e não marceneiros, evidencia outra faceta da racionalidade construtiva e pensamento racional das casas modernas especialmente praticados por Moojen e Araújo em diversos de seus projetos. O mobiliário incorporado à construção, como na casa Schoreder de Ritveld, ou as experiências de paredes funcionais do milanês Gio Ponti, perfaz um raciocínio de economia associado a uma ideia espacial que dá continuidade ao esquema de planta livre e espaço contínuo. A dissolução de paredes stricto sensu em painéis leves ou mobiliário incorporado, mesmo no caso da lareira incorporada à parede de tijolos da Casa de Ipanema, como protuberância, torna o espaço menos configurado por seus limites e dota as superfícies de fechamento com função ativa. Moojen explorou fartamente esse recurso, em diversos projetos ao longo de sua carreira. O exemplo mais emblemático é o edifício FAM, com Fayet e Araújo, onde balcões de cozinha, armários, roupeiros, mesas e prateleiras são incorporados à própria construção e, em alguns casos, à estrutura da edificação. Tal roupagem das paredes com utilitários remete, em determinada medida, ao realismo biológico de Neutra, onde a atenção a cada função e características fisiológicas de cada indivíduo são matéria-prima para as especificidades do projeto. A casa de Ipanema, finalmente, serviu de moradia permanente para a família durante os anos de construção do Edifício FAM (1966-1968) e seguiu sendo usada como segunda casa durante muitos anos. O Projeto original da casa de Ipanema, em sua índole de simplicidade e singeleza, revela um espírito que transcende os parâmetros da funcionalidade e economia e vai além, no território da sensibilidade prática e da calidez da moradia familiar. Legislativa: Concurso para a Assembleia Legislativa Fratura ou sutura? (1958) Fonte: Originais do concurso, Acervo FAM Fig. 87 - Concurso Assembleia Legislativa, Menção Honrosa, vista geral da Praça da Matriz, Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luís Carlos Cunha, 1958, Porto Alegre-RS. A Casa de Ipanema foi projetada no mesmo ano do Auditório Araújo Vianna e do concurso para a Assembleia Legislativa, do qual Moojen participou em equipe com Marcos David Hekman e Luís Carlos da Cunha. Com o fim da II Guerra Mundial, do Estado Novo e do arrefecimento da democracia no país, dada a importância do Poder Legislativo no Estado, havia necessidade de equilibrar a representatividade dos três poderes, com a consolidação das respectivas sedes (Executivo, Legislativo e Judiciário) junto à Praça da Matriz. Em 1955, o presidente da Assembleia Legislativa, Deputado Victor Graeff, instituiu comissão para realizar estudos sobre a construção do Palácio Legislativo, da qual colaborou Edvaldo Paiva, da Divisão de Urbanismo da PMPA, que definiu a área ocupada pelo antigo Auditório Araújo Vianna como local para o novo Palácio. Outra comissão, denominada Comissão Executiva Permanente de Construção do Palácio Legislativo – CEPCPL, constituída por Oswaldo Goidanich (funcionário da Assembleia), Engenheiro Horácio Cauduro e Arquiteto Edgar Graeff, representando o IAB-RS, foi criada para definir o 93 O sistema de encaixe entre as tábuas horizontais favorece o escoamento d´água, criando uma pingadeira entre cada tábua. A madeira na horizontal, favorece também a manutenção e substituição, em caso de apodrecimento, que normalmente ocorre de baixo para cima. Doutorado Sergio MMarques 251 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Desenho Caroline Valicente, Sergio Marques, Acervo FAM Fig. 88 - Concurso Assembleia Legislativa, Menção Honrosa, vista geral desde a Praça da Matriz, Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luís Carlos Cunha, 1958, Porto Alegre-RS. programa de necessidades e coordenar a realização de concurso público 94 nacional de arquitetura, lançado em 11 de abril de 1958 . No final dos anos 1950, o Palácio da Justiça já estava com a construção em marcha, próximo ao Palácio Piratini e à Catedral Metropolitana de Porto Alegre, junto à Praça da Matriz. Era natural que o Palácio Farroupilha, sucedâneo do velho casarão da Duque de Caxias, sede da Assembleia Legislativa desde sua constituição em 1835, viesse a consolidar a configuração da praça e a representatividade desta, mesmo que em terreno compacto, onde estava o Auditório Araújo Vianna, cuja nova localização, projeto e construção, dada a construção da nova Assembleia, foi coordenada justamente por Moojen, 95 conjuntamente com Fayet, através da PMPA . O edital do concurso foi publicado simultaneamente em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Recife, com duzentos e vinte inscritos, dos quais foram apresentados trinta e seis anteprojetos, sendo que dezenove foram desclassificados por não atenderem as condições do edital e programa. O julgamento foi realizado pela comissão julgadora constituída de Acácio Gil Borsói, Alcides da Rocha Miranda, Rino Levi, Sylvio de Vasconcellos e Manoel de Carvalho Meira, que selecionou oito concorrentes que foram reavaliados em uma segunda etapa, na qual alguns projetos, como o da equipe de Moojen, tiveram a oportunidade de ser revisados de acordo com determinados itens de edital, conforme consta na ata, sendo o projeto da equipe do arquiteto paulista Gregório Zolko classificado em primeiro lugar. Ver: PALÁCIO Legislativo. Revista Arquitetura, Espaço Arquitetura Porto Alegre, ano 1, n. 2. p. 3. 95 A evolução urbana do espaço cívico da Matriz pode ser vista na mesma publicação dos projetos participantes do concurso para o Palácio Farroupilha. Ver: MACEDO. Francisco Rio Pardense; 94 252 Fonte: Desenho Caroline Valicente Sergio Marques, Acervo FAM Fig. Fig. 89 - Concurso Assembleia Legislativa, Menção Honrosa, vista fachada posterior, Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luís Carlos Cunha, 1958, Porto Alegre-RS. O concurso do Palácio Legislativo em Porto Alegre de fato emblematiza um momento representativo, de aparente inflexão na arquitetura moderna no sul do Brasil, ainda que os câmbios acusados já estivessem em marcha pela própria natureza da arquitetura gaúcha. O período protagonizava mudanças importantes tanto no cenário nacional como internacional. Desde o final da década de 1940, com a Guerra Fria acentuada pelo aumento de influência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS no leste europeu, a constituição da República Popular da China (1949), e a Guerra da Coreia no início dos anos 1950, os Estados Unidos da América adotavam planos de reação anticomunista tanto interna – iniciados no governo Truman – como externamente, como o programa "Aliança para o Progresso", na América Latina, cujas implicações no campo cultural, em relação ao Brasil, exemplificadas pelas exposições no MoMA (1943) e a publicação do Brazil Builds, têm sido 96 abordadas por certos autores . XAVIER, Paulo. Antecedentes da praça do Palácio Legislativo. In: Revista Espaço Arquitetura Arquitetura, Porto Alegre, ano 1, n. 2. p. 12-19. Uma análise mais consolidada da morfologia urbana do espaço público e da arquitetura de seus palácios pode ser vista em MACHADO, Andréa Solér. Dois praça: palácios e uma praça a inserção do Palácio da Justiça e do Palácio Farroupilha na Praça da Matriz em Porto Alegre. [Dissertação de mestrado]. COMAS, Carlos Eduardo Dias (Orient.). Porto Alegre: PROPAR, UFRGS, 1997. 96 Em especial o texto: COMAS. Carlos Eduardo Dias. Brazil Builds e a bossa barroca: notas sobre a singularização da arquitetura moderna brasileira. VI Sem inário Docomomo: Brasil, Moderno e Seminário Nacional, Niterói-RJ, 2005 Disponível em: . Acesso em 10 dez. 2011, as 18h47min. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: Fonte: Acervo FAM. XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p. 172 1950/1970 Capitulo I Fig. 90 - À esquerda, Sede Metropolitana da Associação Médica do Rio Grande do Sul – AMRGS, Moacyr Moojen e Nestor Nadruz, 1959, Porto Alegre-RS. À direita, Residência Harri Graeff, Edgar Graeff, 1961, Porto Alegre-RS. No final dos anos 1950, a Revolução Cubana agregava acento latino à crise, ideologizando substancialmente os movimentos artísticos com conteúdos progressistas, assim, acompanhando o processo histórico, o meio político e cultural sul-americano inter-relacionados efervesciam no ambiente do pósguerra. A cultura e modelos norte-americanos, por outro lado, eram exportados com mais sistematicidade, muitas vezes contaminando com temas políticos e interesses econômicos a dimensão artística e social do Movimento Moderno e sua universalidade formal, consolidada na América do Norte com a migração dos arquitetos europeus durante a década de 1940. Os arquitetos das vertentes construtivas, principalmente Mies e seus seguidores norte-americanos, como Gordon Bunshaft (1909-1990), do grupo Skidmore, Owings & Merril – S.O.M. e Philip Johnson (1906-2005), produziam a arquitetura denominada International Style por Johnson na emblemática exposição do MoMA (1932), cuja disseminação rapidamente foi, de maneira simplificada, vinculada, por seus detratores, ao capitalismo norte-americano e à dominação imperialista, o que de certa forma não aconteceu com a mesma magnitude em relação à arquitetura de Richard Neutra e Rudolf Schindler, com os arquitetos da Costa Oeste, o Case Study House Program e os programas do governo Norte97 Americano junto à América Central . Um panorama conciso do cenário cultural e arquitetônico do final dos anos 1950, a crescente influência de Mies e dos norte-americanos na cultura e arquitetura brasileira, assim como a gradativa perda de influência da arquitetura carioca e incremento da arquitetura paulista como referencial, através das vertentes abstratas e brutalistas, nas quais o autor caracteriza o concurso da Assembleia Legislativa como o momento gaúcho de fratura entre estas influências, deve ser visto em: LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do "gênio artístico nacional". [Tese de doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura]. OLIVEIRA, Rogério da Castro (Orient.). Porto Alegre: FA-UFRGS, 2004. p. 185-207. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 97 Fonte: Foto Sergio Marques, 2010. Fig. 91 - À esquerda, Concurso Banco de la Republica Oriental del Uruguay, 1° Lugar, Idelfonso , Arozteguy 1946-57, Montevidéu. À direita, Conjunto Nacional, David Libeskind, 1952-1955, São Paulo-SP. O Brasil, em pleno Governo JK, trocava as vertentes nacionalistas do governo Vargas para o espírito desenvolvimentista do programa "Crescer Cinquenta Anos em Cinco", de Juscelino, com maior investimento de capital estrangeiro. A arquitetura de Oscar Niemeyer, em desenvolvimento para os palácios da capital federal, já evidenciava os debates sobre as mudanças de paradigmas corbusianos da até então hegemônica escola carioca, para os movimentos artísticos emergentes, em particular em São Paulo, como o concretismo e o brutalismo, mas também a inluência crescente da arquitetura abstrata de Mies. Por outro lado, em que pese a variedade e riqueza da arquitetura carioca vanguardista, a esteriotipação desta em termos exclusivos na obra de Niemeyer e ainda de determinada produção icônica de sua heterogênea trajetória, crescia acompanhando o consequente incremento no debate crítico aos valores canônicos da modernidade, no qual Brasília, de certa 98 forma, também passa a ser classificada como ponto de inflexão . No panorama internacional, com algumas simplificações, a reação aos extremos do racionalismo, desde os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAMs) e as aportações do Team X, a emergência de grupos como o 99 italiano anucleado na revista Casabella-Continuittá e as mudanças culturais Um consistente panorama sobre a arquitetura moderna brasileira exemplar, com o deslocamento das hegemonias referenciais da arquitetura carioca para a arquitetura paulista, em termos de continuidades e descontinuidades entre os anos 1945 e 1955, pode ser visto na publicação fundamental de BASTOS e ZEIN. Ver: BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN. Ruth Verde. Brasil: arquiteturas após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010. 99 Abordei o tema dos debates críticos ao Movimento Moderno e sua repercussão em termos brasileiros e regionais em dissertação de mestrado. Ver: MARQUES. Sergio Moacir. A revisão do movimento moderno? Arquitetura no Rio Grande do Sul dos anos 1980. [Dissertação de mestrado]. SILVA, Elvan (Orient.). Porto Alegre: PROPAR, UFRGS, 1999. Sergio MMarques 253 98 Fonte: . Desenho Caroline Valicente, Sergio Marques, Acervo FAM Fonte: Originais do concurso, Acervo FAM Fig. 93 - À esquerda, Hospital Sul América, Oscar Niemeyer e Hélio Uchoa, 1952-58, Rio de Janeiro-RJ. À direita, Concurso Assembleia Legislativa, Menção Honrosa, vista geral desde a Praça da Matriz, Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luís Carlos Cunha, 1958, Porto AlegreRS. Fig. 92 - Concurso Assembleia Legislativa, Menção Honrosa, vista desde a Rua Riachuelo, no eixo da Rua Caldas Junior, Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luís Carlos Cunha, 1958, Porto Alegre-RS. dos anos 1950, em termos brasileiros, alimentavam a emergência da arquitetura produzida em São Paulo, centro econômico e industrial em desenvolvimento exponencial, principalmente da vertente que, ao gosto de determinados realismos, como o brutalismo inglês ou a obra tardia de Le Corbusier, "engajada em um discurso social e com a identificação do lugar", foi "buscar inspiração na 100 ética dos materiais" . Por outro lado, as críticas ao livre-formismo da arquitetura brasileira feitas por Max Bill e Walter Gropius alimentavam a sustentação de uma arquitetura mais abstrata e universal, cuja filiação tanto em termos de outra vertente paulista, concomitante ao brutalismo, quanto de certa forma gaúcha, dadas suas idiossincrasias locais, estava em gestação e manifestava-se no concurso para a Assembleia. Mesmo assim, a escolha de projeto elaborado por equipe paulista, explicitamente formalizado com 100 Expressão de: LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: brasileira sob o mito do "gênio artístico nacional". [Tese de doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura]. OLIVEIRA, Rogério da Castro (Orient.). Porto Alegre: FA-UFRGS, 2004. p. 187. Para aprofundar a caracterização do movimento chamado de brutalismo paulista, ver: ZEIN, Ruth Verde. Arquitetura da escola paulista brutalista – 1953- 1973. [Tese de doutorado]. 1953COMAS, Carlos Eduardo Dias (Orient.). Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2005. elementos formais e sistemas espaciais próprios do International Style e da arquitetura abstrata protagonizada por Mies, causou grande desconforto e 101 reação no meio cultural local . Na verdade, a jovem arquitetura moderna gaúcha erudita, para o bem ou para o mal, sempre parcimoniosa com extremismos formais, mudanças bruscas de referenciais ou mesmo ditames da moda, tanto seguia com certa afinidade a determinados critérios de projeto, adotados pela escola carioca, quanto observava as mesmas fontes da arquitetura paulista, equilibrando manifestações formais cujas referências podiam estar a poucos quilômetros, em 102 território brasileiro, ou a muitos, no estrangeiro . Ou seja, em termos de mudanças de paradigmas, o projeto escolhido para o concurso da Assembleia Legislativa impactou negativamente os arquitetos locais, muito mais por sua apropriação literal de determinados esquemas formais da arquitetura internacional do que pelo insurgimento da universalidade e abstração desta Segundo Moojen, um dos participantes do concurso, a reação surgiu, em parte, em face da parcimônia da arquitetura gaúcha em relação a literalidades formais induzidas por tendências alheias às especificidades do projeto e também pelos debates em busca de uma identidade arquitetônica regional, liderados principalmente por Graeff, que mesmo sem significarem uma ortodoxia, caracterizavam certa unidade de pensamento local, do grupo engajado na afirmação da arquitetura moderna no Estado, para o qual a escolha do projeto vencedor para a Assembleia Legislativa pareceu uma "traição" ideológica. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Entrevista. Gravação digital. 19 dez. 2001. 102 Como no estudo (não construído) de Moojen e Nadruz para a Sede Metropolitana da Associação Médica do Rio Grande do Sul – AMRGS (Fig.90), realizado para o terreno na Ipiranga, para o qual posteriormente Oscar Niemeyer realizou projeto, igualmente não construído, para a mesma entidade. Ou ainda, com Vallandro e Ferreira, o projeto (não construído) para a Associação dos Profissionais Liberiais Universitários do Brasil – APLUB, no largo Zumbi dos Palmares, junto à I Perimetral (1976) (Fig.70,Cap.IV,MFVHN). 101 254 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Originais do concurso, Acervo FAM Fig. 94 - Concurso Assembleia Legislativa, Menção Honrosa, vista geral desde o Palácio da Justiça, Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luís Carlos Cunha, 1958, Porto Alegre-RS. Fonte: Originais do concurso, Acervo FAM Figs Figs. 95, 96 e 96.1 - Concurso Assembleia Legislativa, Menção Honrosa. À esquerda, vista desde a Av. Duque de Caxias, direção bairro centro. No meio vista desde a Rua Gal. Auto. À direita, vista do Hall dos deputados, Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luís Carlos Cunha, 1958, Porto Alegre-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 255 Fonte: Originais do concurso, Acervo FAM Fonte: Originais do concurso, Acervo FAM Fonte: Originais do concurso, Acervo FAM Fonte: Desenho Caroline Marques, Acervo FAM Valicente Sergio Fig. 98 - Concurso Assembleia Legislativa, Menção Honrosa, vista desde a Praça da Matriz, Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luís Carlos Cunha, 1958, Porto Alegre-RS. Fig. 97 - Concurso Assembleia Legislativa, Menção Honrosa, vista do Hall Nobre (Fayet e Coroninha caricaturizados a esquerda), Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luís Carlos Cunha, 1958, Porto Alegre-RS. arquitetura, já presente tanto na região meridional da América Latina, na segunda e terceira geração de arquitetos modernos em Porto Alegre, inclusive Fayet Araújo & Moojen, quanto no projeto da equipe Moojen, Hekman e 103 Cunha . Em Montevidéu, o concurso para o Banco de la Republica Oriental del Uruguay, organizado em 1946, que premiou o projeto de Idelfonso Arozteguy (1916-1988), realizado em 1957, cuja solução de barra sobre caixa transparente (Fig.91), em frente a Plaza de los Treinta y Tres, na Avenida 18 de Julio, com arquitetura eminentemente miesiana, é indicativo disto. Graeff, por sua vez, uma das principais lideranças na defesa da arquitetura moderna adaptada ao contexto regional e cultural, muitas vezes criticado pela ortodoxia com que rechaçava os ditames internacionais, na época do concurso inclinava-se à arquitetura de maior abstração, referendada por Mies e propugnada pelos Hekman afirma que havia o desejo de incorporar a tendência miesiana relacionando a ideia de transparência à de democracia. Ver: HEKMAN Marcos. Depoimento, 22 jan 2003. In: LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do "gênio artístico nacional". [Tese de doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura]. OLIVEIRA, Rogério da Castro (Orient.). Porto Alegre: FA-UFRGS, 2004. p. 206. Moojen, por outro lado, critica a literalidade do projeto vencedor: "as pessoas estavam descobrindo Mies por aqui [...]. Esse projeto que ganhou é bem miesiano. Nos sentimos traídos porque ganhou uma arquitetura que não era a nossa. Houve muito debate, porque o nosso projeto tentava contextualizar o Palácio Legislativo e pousou uma borboleta miesiana no centro cívico que achávamos inadequada [...]". Ver: MARQUES, Moacyr Moojen. Refinaria Alberto Pasqualini – entrevista com os autores. Reis, Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis Porto Alegre: UniRitter, n. 2. p. 111. 103 paulistas, como se constata no seu projeto para a Casa Harri Graeff, projetada 104 logo após o concurso da Assembleia (construída em 1961) (Fig.90) . O projeto de Moojen, Hekman e Cunha, na verdade, mesclava elementos de ambas as escolas, além de particularidades nitidamente adaptadas ao contexto local. O partido adotado com base e torre monovolumétricos, como a Lever House de S.O.M (1952) ou o Conjunto Nacional, de David Libeskind, em São Paulo (1952-1955) (Fig.91), apropriado para o programa, no caso, buscava nitidamente estabelecer diálogo simultâneo com o Palácio da Justiça, principalmente através do corpo superior, onde o volume de costados cegos, fachada cortina interrompida pelo topo das lajes e brises na fachada oeste se evidenciam nos desenhos que põem em destaque as mesmas estereotomias dos revestimentos em pedra (Fig.92). A estratégia de agrupar as funções repetitivas em um volume elementar e as especiais em um corpo diferenciado também faz paralelo com um dos princípios de estruturação básica de partidos arquitetônicos utilizado por Le Corbusier e adotado pelos arquitetos brasileiros desde o MES, assim como no Hospital Sul América (1959) de Niemeyer e Uchoa, cuja formalidade da torre está no mesmo universo formal 105 do proposto pelos gaúchos para a Assembleia (Fig.93) . Os elementos especiais, no entanto, auditório e plenário, são envolvidos em caixa abstrata, que com aproximadamente quatro pés-direitos, definida por planos opacos texturizados, como no Palácio da Justiça, e transparências generosas, Ver: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, Alegre 1987. p. 172-173. 105 Princípios para a estruturação de partidos arquitetônicos, recorrente na obra de Oscar Niemeyer, conectados com postulados do Movimento Moderno e a arquitetura de Le Corbusier, ao contrário de sua própria alegação de originalidade predominante em cada projeto, de certa forma ilustram a continuidade de esquemas compositivos da arquitetura moderna a partir de determinadas obras arquetípicas. No caso, é fundamental o texto: MAHFUZ, Edson. O clássico, o poético e o erótico. Porto Alegre: Ritter dos Reis, 2002. 104 256 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 99 - Concurso Assembleia Legislativa, Menção Honrosa, pavto. térreo, Nível 2,00, Projeto Original, Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luís Carlos Cunha, 1958, Porto Alegre-RS. Fig. 100 - Concurso Assembleia Legislativa, Menção Honrosa, vista Duque de Caxias, sentido Centro-Bairro, Praça da Matriz, Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luís Carlos Cunha, 1958, Porto Alegre-RS. estruturadas por elementos leves, ocupando praticamente toda a testada do terreno em face da Praça da Matriz, colocavam em destaque a articulação com o espaço público e o lugar urbano. A entrada principal seria configurada por extensão direta da praça, através da transformação do Largo da Legalidade (rua fronteriça à Assembleia) também em praça, conectando diretamente o espaço público ao espaço semipúblico do hall monumental. O conceito é semelhante ao do projeto vencedor, que não logrou a mesma franqueza de relação, já que dá acesso a este vestíbulo lateralmente, através da Rua Duque de Caxias, e obscurece a relação com a praça pelo balanço criado, lateral a esta, para a entrada de deputados, no nível inferior ao vestíbulo. No projeto gaúcho, este vestíbulo de proporções colossais, ligado à Praça da Matriz por escada monumental, em franca e concreta manifestação urbana moderna, porém caracterizado pela imaterialidade do vidro e as proporções diáfanas dos perfis estruturais metálicos em cruz, não deixa de fazer paralelo ao passeio entre a abstração De Stijl e a corporalidade clássica schinkelschüler de Mies, ainda que os gigantescos painéis colocados ao fundo, visíveis desde a praça, através da transparência, deem o tom palaciano da arquitetura carioca no melhor estilo da síntese das artes (Fig.97 e 98). A torre, na verdade uma barra de sete pavimentos, separa-se da base por sutil negativo envidraçado, que desconecta o corpo elevado do baixo, rompendo com a continuidade do plano lateral, que a barra colocada de forma excêntrica sobre a base, alinhada na fachada lateral da Rua Duque de Caxias, formaria com a base. A solução é semelhante à adotada pela outra equipe paulista classificada, liderada por Pawel Martyn Liberman e resolvida de maneira menos clara no projeto de Bered. Idêntico a todos os demais e diferente do trabalho vencedor, no corpo do edifício alto é adotado o esquema de costados cegos, de filiação corbuseriana, deixando de lado o conceito miesiano de fachadas curtain-wall para todas as orientações – utilizado pela equipe vencedora –, assim como a interrupção do plano das fachadas principais, leste-oeste, com as lajes do entrepiso. O projeto da equipe gaúcha determinava ainda solução formal para o coroamento, onde estaria o restaurante, na forma de um muro com todo o pédireito do pavimento da cobertura e grandes aberturas compostas por caixilharia ou janelas virtuais comunicando terraços-jardim, solução adotada por Moojen anteriormente no hotel Guaibinha (1956), análoga ao coroamento do Pavilhão Suíço de Le Corbusier (1932). O projeto distribuía as funções da seguinte forma: no pavimento do subsolo inferior, nível seis metros e cinquenta centímetros negativo (-6,50), algumas vagas de estacionamento com entrada pelo nível mais baixo da Praça da Matriz, próximo ao Teatro São Pedro, atividades de apoio, serviço e infraestrutura. O primeiro pavimento, no nível dois metros e cinquenta centímetros negativo (-2,50), equivalente aproximadamente à cota de nível Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 257 Fonte: Originais do concurso, Acervo FAM principais lideranças teóricas, quanto não aderia apaixonadamente à arquitetura despojada soprada pelos ventos paulistas. Pelo contrário, visitava interessadamente ambas as vertentes, focando fundamentalmente o lugar urbano e as especificidades do tema. Portanto, se um certo distanciamento, tanto geográfico quanto temporal, das lideranças modernas do centro do país significava, por um lado, certo retraso à apropriação de valores contemporâneos, proporcionava, por outro, maior ponderação na aplicação destes, muitas vezes suscetíveis aos ditames da moda e da consequente banalização. Um olhar atento aos projetos classificados evidencia que principalmente os realizados pelas equipes de Moojen e Bered, bastante afinados entre si, na verdade colocavam-se fora ou em paralelo do debate entre arquitetura carioca ou paulista, corbusiana ou miesiana, que de certa maneira era travado no país e que neste momento significava mudanças mecânicas de pensamento na intelectualidade local, como no próprio mestre Edgar Graeff. Na publicação do resultado do concurso na Revista Contemporânea Espaço, o texto explicativo denota essa posição: Fig. 101 - Concurso Assembleia Legislativa, Hall dos Deputados (Graeff caricaturizado a direita), Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luís Carlos Cunha, 1958, Porto Alegre-RS. intermediário da Praça da Matriz, abriga o nível inferior do plenário e do auditório: dois volumes relativamente autônomos dentro da edificação, um com planta elíptica, apropriada à função, outro com o clássico formato trapezoidal, próprio dos auditórios (Fig.99). Ambos os volumes, relativamente soltos dentre circulações periféricas, eram envolvidos por salas de apoio, reuniões e gabinetes no perímetro que, por sua vez, dado o desnível do terreno, possuía aberturas para a parte das fachadas leste e oeste e para norte (Fig.94). O segundo pavimento, situado na cota dois positivo (+2,00), principal nível de acesso da Assembleia, basicamente era ocupado pelo mezanino do plenário, envolvido por volume semelhante ao auditório, neste pavimento, e do próprio auditório, assim como pelos acessos tratados de forma majestosa. O hall, em forma de “T”, por sua vez, é configurado pelas paredes laterais do plenário e auditório que, com painéis artísticos comemorativos, convergem inclinados em direção ao eixo principal de ingresso, visto desde a praça, através da fachada envidraçada, armando o espaço de forma clássica e conformando eixo estruturador de conexão com o exterior. Junto à fachada oeste, oposta à da praça, bateria de elevadores e circulação vertical, sob a estrutura do edifício superior, armada por colunata colossal, à moda carioca (Fig.94). O projeto, portanto, em linhas gerais, tanto não defendia tenzamente a arquitetura nativista de orientação carioca teorizada até aquele momento pelas A maioria dos projetos apresentados pelos arquitetos locais – e muito especialmente o que foi elaborado por Moacyr Moojen Marques, Luis Carlos da Cunha e Marcos Hekman, revelam certos valores que se identificam com o modo de ser, o comportamento e o espírito da gente deste Estado. A solidez do assentamento dos blocos sobre o solo; certo vigor na disposição e no tratamento das matérias; uma compostura algo solene, intencional e meditada, na estruturação e na sequência dos espaços, são qualidades que, de certo modo, refletem a personalidade do povo 106 gaúcho, tradicionalmente comedido, um pouco formalizado, altivo e meio orgulhoso de si próprio. LUCCAS descreve o projeto de Moojen, Hekman e Cunha como "uma composição equilibrada e elegante, que transmitia o necessário caráter de um 107 Palácio Legislativo" . Portanto, neste episódio representativo, há que se ponderar se houve de fato uma ruptura com determinada produção arquitetônica local ou, ao contrário, prevaleceu a confirmação de um direcionamento já em andamento, afetado porém, mais uma vez, pela espetacularização do contemporâneo, que talvez tenha alterado a ordem dos 108 fatores . PALÁCIO Legislativo. Revista Espaço Arquitetura Porto Alegre, ano 1, n. 2. p. 5. Arquitetura, LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do "gênio artístico nacional". [Tese de doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura]. OLIVEIRA, Rogério da Castro (Orient.). Porto Alegre: FA-UFRGS, 2004. p. 204. 108 Moojen expõe que, em sua opinião, o projeto da Assembleia deveria ter o caráter de palácio com certo peso, como o Palácio da Justiça, através da relação de planos texturizados, transparências e relação de volumes proporcionados com densidade construtiva. No caso do concurso, segundo Moojen, Graeff tinha grande responsabilidade e ascendência sobre o júri, como representante do promotor. Lembra que, além de ser um bom arquiteto, era um teórico respeitado, e junto com 107 106 258 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Serviço Social do Comércio – SESC: SESC: Escritório definitivo, clientes duradouros, arquitetura bruta, sólidos resultados (1955-20??) Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 103 - Cantegril Club, Moacyr Moojen, Joaquim M. Warchavsky, 1959, Viamão RS. Maquete de Suzy Fayet. Fig. 102 - Sede Campestre do SESC, Moacyr Moojen, Joaquim M. Warchavsky (estudos iniciais), João J. Vallandro e Leo F. da Silva (etapas posteriores), 1956-1975, Porto Alegre-RS. Legenda: 1.Portaria; 2. Zeladoria; 3.Bandeirantes; 4.Restaurante; 5.Escoteiros; 6.Ginásio; 7.CTG; 8.Estádio; 9.Piscinas; 10.Quadras polivalentes; 11.Playground; 12.Centro de Atividades; 13Restaurante/Alojamento; 14. Sanitários; 15. Oficinas; 16. Churrasqueiras; 17. Estacionamento. Demétrio, uma liderança intelectual daquela geração, em sua opinião com mais talento literário. Na sua interpretação, dado o teor dos debates na época, a arquitetura miesiana estava em alta em São Paulo, com divulgação feita por Luis Saia na Revista Habitat, o convite para Mies integrar o júri da Bienal de 1957, o projeto para o Consulado dos E.U.A em São Paulo (1957-1962), a exposição realizada na Bienal de 1959, logo a seguir, e Graeff estava justamente despertando interesse tanto teórico quanto projetual nesse âmbito. Houve também, por parte do mestre e do júri, preocupações no sentido de que o concurso fosse vencido por equipe excessivamente jovem e que o projeto vencedor apresentasse qualquer desacordo com o edital, rigorosamente determinado pela Assembleia. Segundo notícias de "bastidores" da época, o projeto da equipe gaúcha, que estava cotado para ser o vencedor, mas que havia sido notificado por apresentar alguns desajustes com o edital, que foram corrigidos, acabou sendo, em último momento, preterido pelo da equipe paulista, que parecia, aos olhos do júri, o projeto esquemático de arquiteto renomado e experiente, ao contrário do que de fato era. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Entrevista. Gravação digital. 25 nov. 2011. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado No escritório da Sede do Banco Nacional do Comércio, Moojen foi contratado para reformar o andar inteiro, para uso administrativo e instalação da diretoria do Banco, o que ocasionava, consequentemente, a saída de todos. Transferiram-se para sala de propriedade do pai de Marcos Hekman, no edifício Hermon, onde entrou na parceria João José Vallandro, que colaborava com Fayet. Naquela época, havia poucos desenhistas, e os projetos eram desenhados pelos próprios arquitetos. O lugar, com arquitetura de interiores moderna projetada pelos novos inquilinos, adquiriu certa identidade e transformou-se em outro ponto de convergência entre os colegas, estudantes, arquitetos e ex-professores, que se reuniam nos finais de tarde para debates, 109 confraternizações, festas e futebol com bolas de durex . O grupo ficou no Edifício Hermon até o momento em que a incorporação do edifício sede do Instituto de Arquitetos do Brasil, na gestão de Irineu Breitman, já em estágio adiantado de construção, enfrentou problemas de recursos financeiros para a finalização da obra. Respondendo ao chamamento de Breitman para a venda das últimas unidades, o grupo que negociava com o pai de Hekman a compra das salas que ocupava, encontrou no IAB alternativa mais atraente e adquiriu, 110 meio pavimento (três conjuntos) no quarto andar . Entre o período no escritório Posteriormente, nos tempos duros de repressão militar que estavam por vir, esses encontros reapareceram na forma de acusação de constituição de “aparelho” para reuniões políticas nos inquéritos militares a que Moojen respondeu. Na verdade, naquela época, sua participação nas reuniões do partido já não eram frequentes, dado o envolvimento com a profissão e os compromissos familiares, de maneira que as acusações, faziam jus a pantomima orquestrada pelo governo militar. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. 25 Entrevista. nov. 2011. 110 Com o passar dos anos, Nadruz saiu, vendendo sua parte aos demais. Posteriormente saiu também Marcos Hekman e, finalmente, João José Vallandro, que assumiu a chefia do Sergio MMarques 259 109 Fonte: Desenho de Moacyr Moojen. Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 105 - Concurso Iate Clube, Menção Honrosa, Moacyr Moojen, Luiz C. Cunha, Fernando Gonzáles, Marcos Hekman, 1959, Londrina-PR. Fig. 104 - Sede Campestre da Associação dos Médicos do Rio Grande do Sul – AMRGS, Moacyr Moojen, Nestor Nadruz, 1959, Porto Alegre-RS. do Edifício Hermon e no IAB, atendia uma clientela ampla, muitos patrícios trazidos por Vallandro e trabalhos que aumentavam para o SESC, tanto que alguns encargos foram recusados. No auge desta fase, todos os projetos para o SESC eram realizados no escritório por Moojen e Vallandro, com a eventual 111 participação dos demais . A rotina consistia em três turnos de trabalho, com exceção da sexta e sábado à noite e de alguns domingos. Logo após a construção do refeitório, o SESC adquiriu área de aproximadamente cinco mil metros quadrados, na Vila Jardim, no extremo nordeste de Porto Alegre, com frente para a rua Ernesto Pellanda, próximo à Protásio Alves, com objetivo de realizar aí sua sede campestre (1956) (Fig.102 área 1). Inicialmente, o programa consistia em um estádio de futebol e edificação para escoteiros, área de lazer e tratamento paisagístico da área com importante vegetação natural existente e topografia acidentada. Moojen e Warchavsky realizaram os estudos iniciais. Posteriormente o projeto prosseguiu com Vallandro e mais tarde com Léo Ferreira. Moojen realizou, em paralelo aos projetos para o SESC, com Warshavski, os projetos para o Cantegril Clube, em Viamão-RS (1959), onde o tema da arquitetura moderna solta na paisagem se introduziu. O estudo original do pavilhão social do Cantegril evidencia ainda certa sintonia com a arquiteura carioca, com abundância de espaços abertos, pilotis com colunas regulares e elementos vazados e, simultaneamente, a ideia miesiana de arquitetura Departamento de Engenharia do SESC. Léo Ferreira, no período em que os filhos de Moojen, formados, já trabalhavam conjuntamente, vendeu sua parte mas permaneceu até falecer em 2002. 111 Posteriormente Vallandro, foi para a chefia do Departamento de Engenharia do SESC, levou consigo Carlos Hubner, técnico do Parobé, colaborador do escritório durante muitos anos, mais tarde formado em arquitetura. Nesta nova fase, os encargos para o SESC passaram a ser designados através de licitações, das quais o escritório participou de algumas até recentemente. pavilhonar, com saduíche de lâminas de concreto e recheio de caxilharia de vidro, flutuando sobre o solo, adotados posteriormente no restaurante da 112 REFAP (Fig.103) . Nas décadas seguintes, o SESC adquiriu duas novas áreas: a primeira ao norte, com aproximadamente sete mil metros quadrados, para o programa de ginásio esportivo, canchas e restaurante (Fig.102 - área 2), e finalmente uma gleba ao sul, com frente para a Avenida Protásio Alves, que praticamente duplicou a área anterior, perfazendo uma gleba total de aproximadamente vinte e cinco mil metros quadrados, com quatrocentos e vinte metros de frente para a Protásio Alves e em torno de seiscentos metros de profundidade, no sentido norte-sul (Fig.103 - área 3). Esta última parcela orientou a entrada principal do clube para esta face, com a construção de pórtico de acesso, piscinas, sede 113 social e áreas esportivas (Fig.106). Com esta progressão de áreas, o projeto geral foi sendo adaptado, entre 1956 e a década de 1970, com a construção O projeto original do Cantegril, para um Clube Campestre, foi posteriormente transformado em condomínio residencial. Do projeto original, foi construído o pórtico e as piscinas. A maquete do pavilhão social, foi executada por Suzy Fayet. Moojen, em 1958, também realizou o projeto para a Sede Campestre do tradicional Clube Recreio da Juventude, em área rural de Caxias do Sul-RS, primeiro lugar na Categoria "Edifícios de Recreação e Esporte", e Medalha de Prata do I Salão de Arquitetura IAB-RS. No entanto, não foi localizada documentação deste projeto, não construído. Igualmente, no final dos anos 1950, realizou estudo (não construído), com Nestor Nadruz, para a Sede Campestre da Associação dos Médicos do Rio Grande do Sul – AMRGS, com sistema modular, estruturas de concreto aparente e fechamento lateral com caixilharia, cobertura estruturada por vigas e lajes curvas, sobrepostas com balanços nas extremidades e paredes de arrimos de pedras, elementos ora afinados com o brutalismo paulista visitado na sede campestre do SESC, ora com o racionalismo abstrato adotado na REFAP e Clube do Professor Gaúcho (Fig.104) Por fim, com Luiz Carlos Cunha, ganhou menção honrosa no concurso de ideias para o Iate Clube de Londrina-PR (1959), vencido pela equipe de Walter Toscano, Júlio Katinsky e Abrahão Sanovicz, cujos pavilhões se associam com a abstração dos projetos para a Petrobras e sede do Cantegril (não construído) (Fig.105). 113 Ver: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, Alegre 1987. p. 136-137. 112 260 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Fonte: . Foto Sergio Marques, 2008. Capitulo I Fig. 107 - À esquerda, Urnário del Cementerio del norte, Nelson Bayardo, 1960, Montevidéu. À direita, Cementerio Park Mar del Plata, Horácio Baliero, 1962, Mar del Plata - Argentina. 114 Brasil , teve ampla repercursão entre paulistas como Joaquim Guedes, Paulo Mendes da Rocha, Vilanova Artigas, Carlos Millan, Sérgio Ferro, Rino Levi, Décio Tozzi, Ruy Ohtake e outros, além de disseminar-se por outras regiões com suas próprias interpretações, como afirma Zein: As arquiteturas de tendência brutalista de cada país ou região guardam proximidades entre si e assumem em cada caso características peculiares, seja trabalhando outras influências, seja enfatizando diferentes aspectos tecnológicos e construtivos, e distintos debates éticos e conceituais, conforme seus marcos culturais.115 Fonte: Google Earth Fig. 106 - Sede Campestre do SESC, Moacyr Moojen, Joaquim M. Warchavsky (estudos iniciais), João J. Vallandro e Leo F. da Silva (etapas posteriores), 1956-1975, Porto Alegre-RS. paulatina das edificações programadas. O traçado geral, desde os primeiros estudos, primava pela distribuição orgânica dos equipamentos na gleba, respeitando principalmente a vegetação farta preservada e a topografia, estabelecendo conexões de traçado sinuoso e áreas abertas de superfícies irregulares (Fig.102). As edificações, no entanto, principalmente restaurante e ginásio, projetadas ao longo dos anos 1960, em paralelo com a Petrobras, e o pórtico, no final da década, adquiriram a formalidade incidente do brutalismo paulista em Porto Alegre daqueles anos, como Moojen de certa forma também adotou no Clube do Professor Gaúcho (1966). A arquitetura brutalista paulista, centrada, segundo Zein, fundamentalmente entre o período de 1953 a 1973, a partir principalmente das obras corbusianas, como a Unité d´Habitation (1945-1949), Monastério SaintMarie de la Tourette (1953) e as Maisons Jaoul (1954-1956), a obra do casal Smithson, Marcel Breuer e também o MAM (1953) de Affonso Eduardo Reidy no Em Porto Alegre, a tendência que teve certa penetração entre arquitetos de vcárias gerações, como David Léo Bondard, Marcos David Hekman, Jorge D. Debiage, César Dorfman, Ivan Mizoguchi e Cairo Albuquerque da Silva tem nas obras da Sede Campestre do SESC, iniciadas em 1956 e realizadas durante a década de 1960, e no Centro Evangélico de Fayet, de 1959, algumas das precursoras. No panorama meridional latinoamericano, é evidente a relação de influências da escola no projeto do Urnário Municipal (1960), de Nélson Bayardo, em Montevidéu (Fig.107), sua semelhança 116 visual com a FAUSP e os projetos de Horácio Baliero para o Cemitério Parque de Mar del Plata (1962) (Fig.107), em parte aparentado com obras brutalistas de Oscar Niemeyer. 114 Por sua vez, sucessor do sistema espacial utilizado por Reidy no Colegio Experimental ParaguayBrasil (1952-1965). Ver: DIARTE, Julio. Reconstrucción del proyecto. Colegio Experimental proyecto Paraguay-Brasil. Affonso Eduardo Reidy. 1952-65. Asunción: Facultad de Arquitectura Diseño y Arte – UNA, 1999. Ver: ZEIN, Ruth Verde. Arquitetura da escola paulista brutalista – 1953- 1973. [Tese de 1953doutorado]. COMAS, Carlos Eduardo Dias (Orient.). Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2005. 116 Ainda que haja polêmicas, em alguns âmbitos sobre a cronologia e sucessão de ambas obras. 115 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 261 Fonte: Acervo FAM Fig. 108 - Sede Campestre do SESC, Ginásio de Esportes, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1968, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM Os projetos em Porto Alegre, no entanto, têm um sentido de acomodação na escala do contexto urbano ou da paisagem que favorece sua incorporação ao tecido ou meio ambiente. O ginásio da Sede Campestre do SESC se acomoda na topografia determinando uma cota média em relação à pendente, onde se organizam acessos de pedestre na fachada oeste, de cota externa mais alta, e arquibancadas para as canchas externas, na fachada leste, onde está a cota mais baixa. A sul, neste mesmo nível, está o estacionamento e acesso principal (Fig.108). Com isso, o edifício é formado por uma base que age como terreno artificial, resolvendo a transição topográfica e criando uma espécie de plataforma, onde visualmente se apoia a estrutura da cobertura (Fig.109). Esta, por sua vez, é desenhada com o espírito de fazer "cantar o ponto de apoio", rezado pelos paulistas, como Artigas na Escola de Guarulhos 117 (1960) . Uma placa esbelta de concreto aparente, em forma de trapézio, bifurcada nas bordas de maneira a parecer duas lâminas, abraça a viga que, em forma de mão francesa, se projeta em balanço suspendendo a robusta calha de concreto (Fig.110). Além de conduzir a interseccção entre pilar e viga para onde o ponto de apoio apresenta menos dimensão, como Artigas fez na FAU-USP e Moojen de certa maneira radicalizou no Clube do Professor Gaúcho, o uso de 117 Fig. 109 - Sede Campestre do SESC, Ginásio de Esportes, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1968, Porto Alegre-RS. Escola Estadual Conselheiro Crispiano, Guarulhos-SP – João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (1960) (Fig.111). calhas pronunciadas na composição formal do edifício, com gárgulas de concreto, balanços e água em queda livre, era outro traço frequente neste sistema formal, assim como paredes rebocadas, pintadas de branco, caixilharia de metalon e telhas Brasilit, igualmente empregados neste projeto. Mais uma vez o elemento visual dominante, como na REFAP, é o restaurante: localizado na parte alta do promontório, domina a paisagem do lugar (Fig.112). O partido, de certa maneira, obedece a diretrizes semelhantes: um sanduíche de concreto recheado de vidro, balançado sobre a paisagem. A introdução, no entanto, de critérios mais permissivos em relação à expressão formal de parâmetros como sistema construtivo, funcionalidade do programa e explicitude de elementos técnicos afasta o edifício da categoria visual de leveza e abstração miesiana do restaurante da REFAP e o aproximam da tectonicidade embrutecida dos ingleses e paulistas, ainda que a REFAP possa oferecer paralelo à Casa de Vidro de Lina. O pavilhão do restaurante do SESC tem aceitação passiva das dimensões estruturais de vigas, com sua robustez à vista sem nenhum artifício, pilares externos e salientes explicam a estrutura, a cobertura denuncia o telhado escondido e as gárgulas visíveis exteriorizam a função das calhas (Fig.112.1). Recurso técnico e visual frequente em obras brutalistas, como a Casa Andrade (1955-1964), de Emilio Duhart, no Chile 262 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte< http://ideiasdamary.blogspot.com.br/2010/03/ginasiode-guarulhos-de-vilanova.html|>. Fig. 111 - À esquerda, Escola Estadual Conselheiro Crispiano, João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, 1960, Guarulhos-SP. À direita, FAUUSP, João Batista Vilanova Artigas, 1961-1969, São Paulo - SP Fig. 110 - Sede Campestre do SESC, Ginásio de Esportes, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1968, Porto Alegre-RS. (Fig.112.2). Não há pudor em explicitar a construção, em obras que normalmente após a concretagem falta muito pouco para a conclusão. Neste caso, no entanto, a modelagem do terreno em taludes e arrimos de pedra, a delicada posição na paisagem, conectada pelo franco envidraçamento da fachada leste, como um mirante, e a natureza exuberante fazem com que a relação entre construção e paisagem seja tão amigável quanto na REFAP. O pórtico, construído na última parte do terreno adquirida, constituindo a entrada principal da Sede Campestre, também tanto faz referência à estratégia formal adotada na REFAP e TEDUT, com peças de concreto em balanço importante, quanto faz jus ao brutalismo construtivo seguido nos demais edifícios da sede, com estrutura à vista, sem disfarces, gárgulas e materiais rusticados, como pedra, nos complementos (Fig.113). O pórtico, na verdade, constitui um plano horizontal quadrado de dezesseis metros de lado, com apoio central que suspende vigas com balanços de sete metros nas quatro direções e laje com declividade superior em quatro águas, eliminando frontões na platibanda, semelhante, formalmente à peça estrutural que cobre o pátio do Museu Nacional de Antropologia (1964), de Rafael Mijares Alcerréca, no Mexico D.F. (Fig.113). Esta, por sua vez, é viga callha, em balanço, contornando todo o perímetro com gárgulas em diagonal nos vértices. A sede Campestre do SESC, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado como a maioria dos clubes, com o passar dos anos e trocas de diretorias, foi sofrendo muitas alterações de programa e arquiteturas, algumas sob supervisão dos arquitetos até um determinado momento. Mesmo com a estrutura arquitetônica projetada originalmente bastante alterada, o lugar segue com uso intenso pelos frequentadores. Os demais edifícios projetados por Moojen e Valandro para o SESC, na década de 1970, diferentemente da Sede Campestre, mantiveram-se dentro das linhas arquitetônicas adotadas no projeto do restaurante, o primeiro da série. O Centro de Atividades São Pedro (1973), em Porto Alegre, na Avenida Brasil, um edifício de cinco pavimentos com volumetria básica e ocupação alta do terreno, dá sequência ao sistema formal austero definido pela textura da fachada, que articula elementos estuturais verticais e aberturas moduladas, justapostos à barras horizontais de peitoris e vergas, alternados com superficies distintas que fatiam o edifício verticalmente, como no Phenix (Fig.115). O Centro de Atividades de Bagé-RS (1977), mantém sistema parecido no corpo principal do edifício (Fig.116), porém com outra configuração volumétrica. O edifício de quatro pavimentos eleva uma caixa horizontal mais abstrata, com fachada texturizada ocupando o terceiro e quarto pavimentos, e ordena os dois primeiros com critérios de estrutura aparente e fechamentos de caixilharia de metalon, próximos aos da Sede Campestre, porém mais convecional. Nas fachadas de ambos os edifícios, algumas aberturas têm seus peitoris e/ou vergas transformados em superfície inclinada, recurso formal utilizado em diversas oportunidades por Moojen, assim como a janela rasgada na vertical próxima ao limite da caixa, recurso utilizado posteriormente no SESC Fonte: Acervo FAM Sergio MMarques 263 Fonte: Acervo FAM Fig. 112 - Sede Campestre do SESC, Restaurante, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1968, Porto Alegre-RS. Fonte LLOBERA, Teresa Rovira (org.). Documentos de Arquitectura Moderna en América Latina 1950-1965. Ediciones UPC, Barcelona. Tomo 3 (2006), p.102. Acervo FAM Fonte Acervo FAM,. Google Earth Fig. 112.2 - À esquerda, Casa Andrade, Emilio Duhart, 1955-64, Santiago do Chile. À direita, . Sede Campestre do SESC, Restaurante, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1968, Porto AlegreRS. 264 Fonte: Acervo FAM Fig. 112.1 - Sede Campestre do SESC, Restaurante, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1968, Porto Alegre-RS. Fig. 112.3 - Sede Campestre do SESC, Restaurante, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1968, Porto Alegre-RS. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte Acervo FAM, Fonte: Acervo FAM Fig. 115 - SESC São Pedro, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1972, Porto Alegre-RS. Fig. 113 - Sede Campestre do SESC, Pórtico de Entrada, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, Leo Ferreira da Silva, 1966, Porto Alegre-RS. Fonte: . Google Earth Fonte Acervo FAM,. Google Earth Fig. 116 - SESC Bagé-RS, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1977, Porto Alegre-RS. Iguaçu (1985-1992) de Hector Vigliecca e Buno Padovano, até o declínio desta 118 política, nos anos 2000 . Fig. 114 - À esquerda, Museu Nacional de Antropologia, Rafael Mijares Alcerréca, 1964, Cidade do México. À direita, Sede Campestre do SESC, Pórtico de Entrada, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, Leo Ferreira da Silva, 1966, Porto Alegre-RS. Caxias. Os projetos para o SESC, portanto, significaram um importante capítulo na trajetória de Moojen, assim como a instituição, no Rio Grande do Sul, fez jus a sua tradição de promotora qualificada de arquitetura, cuja expressão é evidente na realização do SESC Pompéia de Lina Bardi (1977) e SESC Nova Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Os projetos para o SESC prosseguiram e, durante muitos anos, essa instituição foi um dos principais clientes da agenda de Moojen e equipe. Além dos citados aqui, foram realizados os projetos para o Centro de Atividades de Caxias do Sul-RS, de Moojen e Vallandro (1956); Centro de Atividades de Pelotas-RS, de Moojen e Vallandro (196?); Centro Administrativo Regional em Porto Alegre, de Moojen e Vallandro (1980), Centro de Atividades em Caxias do Sul-RS, de Moojen e Vallandro (1986), Centro Cultural e Esportivo de Ijuí-RS, de Moojen, José Carlos Marques e Sergio Marques (1993) (Medalha de Prata na IV Bienal de Arquitetura do IAB-RS); Ampliação da Sede Administrativa Regional em Porto Alegre (não construído), de Moojen, José Carlos Marques e Sergio Marques (2000), Centro de Atividades de Santo Ângelo, de Moojen, José Carlos Marques e Sergio Marques, (2006). Sergio MMarques 265 118 O gosto neoplástico, arquitetura norte-americana e a Casa Maurício Sirotsky Sobrinho (1963) Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 118 - Residência Salomão Furer, Moacyr Moojen, Marcos D. Hekman, 1962, Avenida Ganzo Porto Alegre-RS. Fig. 117 - Residência Maurício Sirotsky Sobrinho, Moacyr Moojen, Marcos D. Hekman, 1963, Porto Alegre-RS. As casas projetadas por Moojen, no final da década de 1950 e primeiros anos da década de 1960, com características próprias da arquitetura moderna de filiação carioca daqueles tempos, como a Casa Mello Pedreira, apresentavam inclinações gradativas em direção a uma maior abstração formal e racionalidade construtiva, experimentada na Casa de Ipanema, que de certa maneira evidencia critérios de projeto adotados não só na Casa Sirotsky (Fig.117), em 1963, mas também nos projetos para a Petrobras e nos Clubes projetados ao longo da década de 1960, como o Clube do Professor Gaúcho (1966). Em residência projetada com Marcos D. Hekman, na Avenida Ganzo, no em 1962 – uma casa standard, com fachada regular e telhas de barro à vista (Fig.118) – propõem sobreposição frontal de marquise de intermediação com o espaço público, apoiada na garagem e em linha de pilares metálicos, literalmente filiada ao esquema formal das casas norte-americanas. O conceito de pátio de transição, obtido pela marquise e fachada da própria casa, como na Residência Maria e Oscar Americano (1950), de Oswaldo Bratke, altera completamente a relação da residência relativamente convencional com a rua e define outro sistema de articulção espacial, mesmo na pequena e compacta 266 Fonte PIÑON, Hélio. Mario Roberto Alvarez, ETSAB/UPC, Barcelona, 2002, p. 48. GAETA, Julio (Org.). Luis Garcia Pardo - monografias elarqa 6. Editorial dos Puntos, Montevidéu, 2000 , p.53 Fig. 119 - À esquerda, Casa d´Abrollo, Mario Roberto Alvarez, 1947-48, Buenos Aires. À direita, Vivienda Dr. García Pardo, Luis Garcia Pardo, 1955, Montevidéu. casa entre medianeiras. O uso de espaços de transição e pátios inervalados por delgadas marquises era recurso frequente na organização espacial da arquitetura moderna tendente à abstração dos anos 1950, como na fachada sul da Casa d´Abrollo (1947-1948), de Mário Roberto Alvarez, em Buenos Aires (Fig.119), ou na Vivienda Dr. Garcia Pardo (1955), de Luis García Pardo (Fig.119). O acento abstrato, além da incorporação da marquise delgada com pilares metálicos esbeltos, é definitivo com o painel de figuras geométricas, FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo FAM Fig. 120 - Residência Salomão Furer, Moacyr Moojen, Marcos D. Hekman, painel de Saulo Gomes, 1962, Avenida Ganzo, Porto Alegre-RS. Fonte: Fonte: Fotos Sergio Marques, 2009 Fig. 122 - Croquis de Richard Neutra, Heller House, hidrocor e lápis de cor sobre papel, 1950, Beverly Hills-U.S.A. Fig. 121 - Casa do Comandante Binz, Marcos D. Hekman, Moacyr Moojen 1967, Porto AlegreRS. construído de pastilhas no pátio de intermediação, composto por Saulo Gomes (desenhista e artista plástico) (Fig.120). No início dos anos 1960, no projeto para a Casa do Comandante Binz 119 (1964, coord. por Hekman) , na Vila Assunção, em frente ao Clube Veleiros do Sul, a ideia de telhado generoso ainda está presente, associado à estratégia de pavilhão regular, com os cômodos ordenados em fita, erguido do solo, de maneira que todos os compartimentos possam usufruir a vista, através da varanda linear (Fig.121). Este espaço de intermediação entre as alas da casa e a paisagem é resolvido pelo prolongamento do telhado que, igualmente, se apoia em pilares metálicos esbeltos, articulados, por sua vez, com o topo das vigas 119 em balanço (Fig.121). No entanto, o projeto de uma casa de fazenda (não construído), feito logo após a mudança para o Edifício Hermon, em 1960, para o fazendeiro Sr. Rubem Vasconcellos, em Rosário do Sul-RS, sinaliza um ingresso intencional no universo estético da arquitetura neoplástica, a partir do especial e consciente apreço de Moojen pela arquitetura norte-americana: Frank Lloyd Wright por um lado e Richard Neutra por outro, que de certa maneira 120 acompanhava na arquitetura dos paulistas , e que ganhou acento, a partir das Casas Mello Pedreira e Ipanema, com a conferência de Richard Neutra em Porto Alegre. Moojen se recorda da forte impressão que teve na apresentação As relações entre a arquitetura de Wright e Artigas, não tão abordadas na historiografia da arquitetura moderna no Brasil, por serem de certa maneira laterais na corrente corbusieriana dominante, podem ser vistas em: IRIGOYEN, Adriana. Wright e Artigas duas viagens. São Paulo: Artigas: Ateliê Editorial, 2002. Oswaldo Bratke e sua conexão com a arquitetura moderna da Califórnia, através da revista Arts & Archiecture, na qual publicou a Casa/Ateliê da Rua Avanhandava (1945) em 1948, estão tratadas no livro: SEGAWA, Hugo; DOURADO, Gulherrme Mazza. Oswaldo Arthur Bratke. Bratke São Paulo: Projeto, 1997. Miguel Forte, ex-colaborador de Rino Levi, talvez o mais tenaz adepto de Frank Lloyd Wright, retratou, em seu diário de viagem aos Estados Unidos, o contato com a arquitetura norte-americana e o encontro com Frank Lloyd Wright na Taliesen de Wisconsin. Ver: FORTE, Miguel. Diário de um jovem arquiteto: minha viagem aos Estados Unidos em 1947. São Paulo: Mackenzie, 2001. . Sergio MMarques 267 120 Pioneiro aviador da VARIG, comandante do primeiro voo internacional da companhia (Rio-Paris). Doutorado Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Acervo FAM Fig. 123 - Croquis de Moojen para residências não construídas, década de 1960, hidrocor e lápis de cor sobre papel, Porto Alegre-RS. do arquiteto austríaco, no auditório da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, tanto pelo projeto de suas casas, quanto por seus desenhos feitos com hidrocor e lápis de cor, usados seguidamente como referência gráfica (Fig.122,123). Sua influência é relativamente frequente no sul latino americano, como a Casa Couzier (1951), de Hilarión Hernández Larguia (1892-1978), em 121 Rosário, Argentina, visitada em sua passagem por Rosário em 1957 . 122 O projeto da casa para o Sr. Rubem (Fig.124) – não executado, dado os receios deste, em relação à política de desapropriações de latifúndios do então Governador Leonel de Moura Brizola, entre 1958 e 1961 – do qual restou pouca documentação, com exceção das imagens de uma maquete, feita por Moojen, evidencia a experiência formal com o universo estético das casas californianas experimentado por latino-americanos como Raúl Sichero na Casa Dr. Luis Sichero (1951) (Fig.125). A organização do volume térreo se dá em faixas ortogonais que se dobram criando pátios, semipátios e áreas de transição, definidas por planos soltos que se descolam do volume principal, balanços da cobertura plana e pérgolas que se prolongam desde a casa (Fig.126). Igualmente, a implantação e o paisagismo, já explorado na Casa Mello Pedreira, arma os elementos de área aberta, como piscinas, caminhos, pisos, floreiras e deques, com configuração geométrica e ortogonal, constituída de planos e polígonos regulares, que compõem com a própria casa um todo de figuração abstrata, que tanto reverenciam o sentido de abstração geométrica perseguida por Theo Van Doesburg no De Stijl e os pintores neoplásticos, como Piet Mondrian, Georges Vantongerloo e Vilmos Huszár, quanto a arquitetura da racionalização construtiva e o gosto pela industrialização, de Richard Neutra e Ver: YAQÜINTO, Ernesto. Los Tiempos que corren... in Los Años ´50. [041] Revista de Arquitectura y Urbanismo, n.3. Rosário: Colégio de Arquitectos de la Província de Santa Fé. 122 Menção Honrosa na Categoria de "Habitação Individual", II Salão de Arquitetura da IAB/RS, 1962. 121 Fonte: PIÑON, Hélio. Raul Sichero, ETSAB/UPC, Barcelona, 2002, p.24, 25 268 Fonte: Acervo FAM Fig. 124 - Casa Rubem Vasconcellos, Moacyr Moojen, 1960, Rosário do Sul-RS. Fig. 125 - Casa Dr. Luis Sichero, Raúl Sichero, 1951, Montevidéu. os californianos, como Pierre Koenig, Whitney R. Smith e Craig Ellwood, assim como no projeto de Casa Unifamiliar de Eduardo Corona (1956) e mesmo no projeto para uma fábrica de fósforos (1955-1957), de Luis Villanueva Sáenz, em La Paz, na Bolívia, igualmente não construídos (Fig.127). Nas imagens da maquete, se observa claramente o manejo de planos na composição, que ora delimitam as partes da fachada, ora se desgarram para intermediar espaços, e a marcação de moldura escura, sobre os panos brancos, em evidente ênfase da autonomia visual destes elementos. Tal recurso, já prenunciado pelos arquitetos da secessão vienense, como Otto FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Fonte: . Capitulo I Fonte: LLOBERA, Teresa Rovira (org.). Documentos de Arquitectura Moderna en América Latina 1950-1965. Ediciones UPC, Barcelona. Tomo 3 (2006), p.32 Fonte: Acervo FAM Fig. 126 - Casa Rubem Vasconcellos, Moacyr Moojen, 1960, Rosário do Sul-RS. Fig. 128 - À esquerda Casa Eames, Charles e Ray Eames, 1945-49, Califórnia. À direita, Café Aubette, Theo Van Doesbourg, 1926-28, Estrasburgo. Fig. 127 - À esquerda, Estação Metropolitana, Otto Wagner, 1894-97, Viena. À direita, Casa Unifamiliar, Eduardo Corona, 1956, São Paulo-SP. Wagner, na estação metropolitana de Vienna (1894-1997) (Fig.126), e pelo próprio Van Doesburg, em sua desmaterialização do espaço em elementos abstratos, como também no célebre projeto para o Café Aubette, em Strasbourg (1926-1928) (Fig.128), é bastante pronunciado nas Casa Eames de 123 Charles e Ray Eames (1945-1949), em Pacific Palisades (Fig.128). A Casa Eames evidencia essa literalidade compositiva evidenciando a constituição do conjunto por planos como peças autônomas, em um jogo de armar muito adequado esteticamente ao sentido da racionalidade construtiva que imperava nos Estados Unidos no período do pós-guerra, em especial em termos de industrialização da construção, usando sistemas metálicos ou mesmo madeira, pré-fabricação em concreto e componentes industrializados, sentido utilizado na casa de Ipanema. Em termos formais, outro ponto de culminância dos sistemas investigados por Moojen, conjuntamente com Hekman, neste período coincidente com o início dos trabalhos para a Petrobras, é o encargo para a 124 (Fig.117), cujo projeto Casa de Maurício Sirotsky Sobrinho (1925-1986) oportunizou condições especiais de elaboração. O esquema geral do projeto obedece a um partido significativamente armado pela organização da planta baixa, resolução criteriosa do programa e articulação formal entre as partes, cuja exploração volumétrica é realizada com intensidade, como nas casas de Wright. O terreno, de esquina, na Rua General Ildefonso Simões Lopes, bairro Três Figueiras, com formato retangular e divisas internas irregulares, é ocupado pela construção desdobrada de alas em "L", de maneira a formar pátio interno e, como um hotel particulier, arrematar a irregularidade do terreno com dependências de serviço (Figs.129). Assim, o vestíbulo de entrada, na esquina e vértice do "L", articula a intersecção das alas. Na sequência linear do ingresso, estão salas de estar e jantar, que delimitam o pátio nesta testada. Na direção perpendicular, copa, cozinha, áreas de serviço, com entrada própria e garagens, delimitam a outra testada. A circulação para as alas, desde o vestíbulo, pode ser feita diretamente entre as salas ou através de portas a partir deste (Figs.129 - planta térreo). O segundo pavimento, com ala íntima, acessada desde o vestíbulo, de onde arranca escada e elevador domiciliar, é uma planta em "L" com bateria de As conexões entre a arquitetura produzida por arquitetos pioneiros do Movimento Moderno, como Hans Poelzig, Hendrik Petrus Berlage, Charles Rennie Makintosh, Otto Wagner, Josef Hoffmann e alguns da escola de Amsterdam, entre final do Século XIX e primeiras décadas do XX, com os princípios da abstração e do movimento holandês De Stjil, passando por Walter Gropuis, Hannes Mayer e Frank Lloyd Wright, até a produção emblemática de Theo Van Doesburg, Gerrit Rietveld e Jacobus Johannes Pieter Oud, em um determinado momento dos anos 1920 e 1930, podem ser vistas, em especial de maneira visual, na última parte da publicação: ZEVI, Bruno. Poética de la arquitectura neo-plástica . Buenos Aires: Editorial Victor Lerú S.R.L, 1960. neoPrograma de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 123 Fundador do Grupo RBS, nasceu em Erebango, próximo a Erechim. Empresário da área de comunicações, criou a TV Gaúcha em 1962 e o Grupo RBS em em 1965, reunindo a TV, o jornal Zero Hora, as rádios Gaúcha e Farroupilha. Posteriormente, a rede foi ampliada com a TV Caxias, Rádio Atlântida, Cidade, Itapema e redes de televisão e jornais em Santa Catarina. Sergio MMarques 269 124 Fonte: Desenho Acad. Valentina M. Marques, B.I.C. FAU UniRitter, Acervo FAM Fonte: Desenho Acad. Valentina M. Marques B.I.C. FAU UniRitter,, Acervo FAM 270 Fonte: Desenho Acad. Carolina Bonfada, B.I.C., FAU UniRitter. Acervo FAM Fonte: Desenho Valentina M. Marques, B.I.C. FAU UniRitter, Acervo FAM Figs Figs. 129 - Residência Maurício Sirotsky Sobrinho, Moacyr Moojen, Marcos D. Hekman, 1963, Porto Alegre-RS. Acima, à esquerda, planta baixa pavto. térreo. Abaixo, à esquerda, planta baixa, 2° pavto. Acima, à direita, fachadas principal e lateral. Abaixo, à direita, modelo em 3D. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 130 - Residência Maurício Sirotsky Sobrinho, Moacyr Moojen, Marcos D. Hekman, 1963, Porto Alegre-RS. Fig. 130.2 - Residência Maurício Sirotsky Sobrinho, paisagismo, Moacyr Moojen, Marcos D. Hekman, 1963, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 130.1 - Residência Maurício Sirotsky Sobrinho, paisagismo, Moacyr Moojen, Marcos D. Hekman, 1963, Porto Alegre-RS. Doutorado Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Desenhos Acad. Carolina Bonfada, Sergio Marques. Acervo FAM Sergio MMarques Fonte: Desenho Acad. Carolina Bonfada, Sergio Marques. Acervo FAM Fig. 130.3 - Residência Maurício Sirotsky Sobrinho, vistas do exterior, Moacyr Moojen, Marcos D. Hekman, 1963, Porto Alegre-RS. Fig. 130.4 - Residência Maurício Sirotsky Sobrinho, vistas do pátio desde o exterior e da sala de jantar, Moacyr Moojen, Marcos D. Hekman, 1963, Porto Alegre-RS. 271 Fonte: LLOBERA, Teresa Rovira (org.). Documentos de Arquitectura Moderna en América Latina : 25 Arquitectos. Ediciones UPC, Barcelona , 2007. CD-ROM Fig. 131 - À esquerda, Casa Alto Pinheiros, Eduardo Corona, 1957, São Paulo-SP. À direita, Residência Ibirapuera, David Libeskind, 1957, São Paulo-SP. quatro dormitórios e sanitários na "perna" principal e estar íntimo na "perna" menor (Figs.129 - planta 2° pavto.). Na composição volumétrica, caracterização das partes e relações entre áreas externas e internas, assim como tratamentos de áreas abertas, intermediações, desníveis e elementos de paisagismo, está o potencial compositivo e visual deste projeto (Figs.130). O pavimento térreo é organizado de forma a definir núcleos funcionais mais compartimentados como o vestíbulo, cozinha, área de serviço e espaços de permanência, em diversas salas que se abrem ao exterior através de pátios e espaços de intermediação densamente configurados por paredes que se prolongam, pisos contínuos, planos de cobertura estendidos ao exterior, floreiras e mobiliário externo, acessados por aberturas generosas (Fig.130.4). De certa forma, há cinco pátios distintos: o que caracteriza o recuo de jardim, onde estão os acessos sociais para cada frente do lote; o pátio de acesso à zona de serviço, com entrada de automóveis; um pátio social mais íntimo, comunicado à copa, situado à frente da casa, delimitado por planos de madeira e alvenaria; o pátio interno principal, com piscina e área de lazer (Fig.130.4), conectado a todas as alas; e o pátio de serviço, junto à borda irregular do terreno, separado da casa por plano que virtualmente regulariza o lote nesta direção. Todos os pátios se relacionam com a casa através de áreas de intermediação claramente configuradas por elementos que se "desgarram" da casa, como paredes, pisos e planos de cobertura, recurso espacial wrightiano, frequentemente explorado por Moojen em outros projetos (Figs.129). A organização formal do segundo pavimento obedece, no entanto, outra categoria visual. Definida formalmente como uma caixa abstrata – como na Casa Altos Pinheiros (1957), de Eduardo Corona (1921-2001), ou a Residência Ibirapuera I (1957), de David Libeskind (1923), ambas em São Paulo (Fig.131) – que contém grandes rasgos contenedores de esquadrias, 272 Fonte: Desenhos Acad. Carolina Bonfada, B.I.C. FAU UniRitter, 2011. Acervo FAM. Sergio Marques., Fig. 132 - Residência Maurício Sirotsky Sobrinho, vistas da entrada principal, Moacyr Moojen, Marcos D. Hekman, 1963, Porto Alegre-RS. venezianas deslizantes e planos de fechamento lateral de textura e nível distintos da caixa, como os combogós da circulação vertical, o volume superior pousa sobre os planos soltos que definem o pavimento térreo (fig.130.3). Assim, o conjunto de elementos que configuram o projeto como um todo denota um território, áreas abertas e fechadas, integralmente ordenado por relações geométricas de linearidade, ortogonalidade e formas puras, que se concentram em determinado setor configurando a parte inferior da construção, base de volume abstrato que flutua sobre tudo (Fig.130). Esse recurso formal é dramatizado na esquina, junto à entrada principal, com o descolamento da caixa superior do plano de fechamento do vestíbulo inferior, por janelas altas, com pilares regulares à mostra, cuja ordem e tratamento das aberturas novamente seguem Frank Lloyd Wright (Fig.132). O balanço do balcão de intermediação da entrada, sobre o jardim, em perspectiva com a caixa, acentuando a regra da flutuação, tanto diz respeito a Wright quanto a Neutra. No entanto, a investigação artística, tanto neste caso quanto no restaurante da REFAP, feito simultaneamente, estava na relação da abstração com o território 125 e na contravenção da lei da gravidade com o jogo estrutural . 125 A Casa Sirotsky, talvez um dos melhores projetos residenciais dos arquitetos, relevante exemplar da arquitetura moderna brasileira no sul, infelizmente não resistiu às mudanças havidas com as alterações familiares e pessoais do proprietário. Nos anos 1980, a casa foi inteiramente reformulada por outro arquiteto, com tal profundidade que, se fosse automóvel, a seguradora daria perda total. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Brutalismo na Pradaria Clube do Professor Gaúcho – CPG (1966) Fonte: Acervo FAM Fonte: Google Earth Fig. 133 - Clube do Professor Gaúcho - CPG, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1966, Porto Alegre - RS. Fig. 134 - Clube do Professor Gaúcho - CPG, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1966, Porto Alegre - RS. O Clube do Professor Gaúcho (Fig.133), fruto de esforço hercúleo dos professores da rede estadual em viabilizar sede campestre para seus associados, oportunizou projeto próximo à Casa de Ipanema, no mesmo ano dos projetos para a SMOV, algumas edificações da Sede Campestre do SESC e do FAM. Trabalho realizado com Vallandro, o projeto é aparentado com o sistema formal utilizado no SESC Campestre, mas de certa forma, pelo maior grau de refinamento, ordem e relação com a paisagem, também com edificações da Petrobras, de certa monumentalidade. Em terreno plano, regular, de dimensões monumentais, aproximadamente setenta metros de frente e quinhentos metros de fundos, de frente para o rio, natureza e paisagem mais uma vez foram determinantes (Fig.134). O edifício principal, como os palácios de Brasília (Fig.135), foi posicionado transversalmente ao terreno, com recuo de cento e sessenta metros, mantendo ao alcance visual, desde o espaço público, figueiras centenárias existentes no sítio (Fig.136). O tratamento paisagístico deste jardim grandioso, além de cerca, portaria de controle, projetados como peças de concreto "desgarradas" da construção principal, acessos de veículos e pedestres, muito pouco interfere na paisagem natural, caracterizando visual generoso, como do pampa gaúcho, com linhas horizontais predominantes e 126 alguns capões de árvores (Fig.136) . O edifício principal, de sessenta e cinco metros de largura, e trinta de profundidade, divide a gleba em dois terços e posiciona-se como um pavilhão de dimensões generosas e horizontalidade dominante, como o Palácio da Alvorada (1958). A referência palaciana moderna, com origens clássicas, fazendo paralelo à Neue Nationalgalerie (1968) de Mies, segue na ideia da caixa horizontal acristalada, intermediada com o exterior através de peristilo (Fig.135). No caso do Alvorada e demais palácios de Brasília, Niemeyer introduz potência visual na forma dos pilares e seu singular sistema de apoio. Moojen e Vallandro, 126 Este jardim, como é tendência em clubes e instituições com troca regular de diretorias, foi sendo alterado, assim como a Sede Campestre do SESC. No caso do CPG as modificações foram mais graves. Além da destruição do paisagismo, com aumento das áreas de estacionamento e circulação de veículos, eliminação dos elementos escultóricos de concreto junto à cerca e "contribuições" singelas, não menos hediondas, como anões de jardim, foi construído conjunto de pavilhões, junto à divisa sul, com tentativa "caricata" de "interpretar" a arquitetura original, à revelia dos autores. Só vendo no local. Sergio MMarques 273 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Fotos Sergio Marques, 2012, 1987 Fig. 135 - À esquerda, Palácio da Alvorada, Oscar Niemeyer, 1957-58, Brasíli-DF. À direita, Nova Galeria Nacional, Mies van der Rohe, 1968, Berlim. de certa maneira, repetem a operação, no entanto com elementos formais do universo paulista e do brutalismo de Artigas, assim como no ginásio da Sede Campestre do SESC. Lâminas de concreto delgadas, de formato trapezoidal, apoiam robusta viga calha de concreto, através de peça de ferro fundido, especialmente moldada para o caso, com duas pirâmides invertidas, onde finalmente o ponto de apoio não ultrapassa seção de dez centímetros de lado (Fig.137). A "pele" da fachada também cede a expressão da estrutura de concreto, intervalando a caixilharia de metalon com pilares, vigas de concreto e paredes revestidas com pastilha, assim como a viga calha de arremate da cobertura, que culmina em gárgulas de concreto, igualmente incorporadas à estrutura formal do edifício (Fig.137), como no SESC Campestre. O pavilhão é erguido do nível natural do terreno um metro e trinta centímetros, favorecendo desníveis internos, mudanças de pés-direitos e subsolo para áreas de serviço, assim como isolamento do terreno úmido (Fig.138.1,2). Desta forma, a planta é organizada basicamente em um "E" invertido, onde na cota mais alta, desde o vestíbulo, estão a administração a sul, sanitários e salas de jogos a norte, com pista de dança e piscina térmica nas cotas mais baixas, consequentemente com maior pé-direito, envolvidas por circulação "panorâmica" e atividades específicas de apoio (Fig.138). No eixo central do pavilhão, na cota alta, estão o bar e o restaurante, com vista privilegiada para o salão de festas e piscina térmica, assim como para a área interna do clube e piscinas ao ar livre, através de terraço elevado que se prolonga ao exterior (Fig.139). Com esta organização, o pavilhão tem esquema funcional bastante simples e claro, com predominância de espaços livres e transparentes, voltados francamente à área interna e à natureza dominante. Inteiramente modulada, a estrutura da cobertura apoia-se nos pilares externos da colunata de lâminas de concreto, nos pilares incorporados à fachada e em linha de apoio interna, onde se dá a troca de nível (Fig. 138,1.2), liberando o interior de elementos estruturais. A engenhosa solução estrutural consiste em vigas calhas longitudinais e vigas de concreto transversais, a cada 274 Fonte: Acervo FAM Fonte: Google Earth Fig. 136 - Clube do Professor Gaúcho - CPG, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1966, Porto Alegre - RS. Fig. 137 - Clube do Professor Gaúcho - CPG, apoio da platibanda e vigas calhas. Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1966, Porto Alegre - RS. quatro metros, moduladas com os pilares, que se transformam em sanduíche 127 de vigas de concreto, onde encaixa viga laminada de madeira , vencendo dezoito metros de vão sobre as áreas de maior pé-direito e o bar restaurante (Fig.140). A linha de luz zenital incorporada à cobertura demarca essa transição. O paisagismo da área interna, grosso modo, segue os critérios da Casa Sirotsky: observando a mesma malha modular de quatro metros que ordena o pavilhão principal, os espaços de estar ao ar livre, caminhos, piscinas, play127 Fabricada pela Esmara Estruturas de Madeira Ltda., tradicional indústria localizada em ViamãoRS, ainda em atividade. A construção do CPG foi realizada pela Construtora Mello Pedreira S.A. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo FAM Fig. 138 - Clube do Professor Gaúcho - CPG, planta geral da Sede Social, Área de piscinas, Recreação infantil e Creche. Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1966, Porto Alegre - RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 138.1 - Clube do Professor Gaúcho - CPG, corte Sede Social, salão de festas. Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1966, Porto Alegre - RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM Fig. 138.2 - Clube do Professor Gaúcho - CPG, corte Sede Social, área da piscina térmica. Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1966, Porto Alegre - RS. Sergio MMarques 275 Fonte: Acervo FAM Fig. 139 - Clube do Professor Gaúcho - CPG, terraço do bar/restaurante, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1966, Porto Alegre - RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 141 - Clube do Professor Gaúcho - CPG, zenital e desnível, Salão de festas, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1966, Porto Alegre - RS. Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 142 - Clube do Professor Gaúcho - CPG. Acima à esquerda, Creche. Acima à diretita, Quiosque. Abaixo, Portaria. Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1966, Porto Alegre - RS. Fig. 140 - Clube do Professor Gaúcho - CPG, zenital e vigas de madeira laminada, salão de festas, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1966, Porto Alegre - RS. 276 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Fig. 143 - A esquerda, Tela Brodway Boogie Woogie, Mondrian (1942). A Direita, Beinecke Library, Skidmore, Owings & Merril - S.O.M., 1960-63, Yale, New Haven, Connectict, E.U.A., . grounds, e construções complementares são desenhados como figuras geométricas associadas irregularmente e sobrepostas a áreas gramadas, como o Brodway Boogie Woogie (1942), de Mondrian (Fig.143). Da mesma maneira que o sentido estrutural persegue o confronto do bruto contra a delicadeza da abstração, como na Beinecke Library (1960-63) de Skidmore, Owings & Merril S.O.M., em Yale (Fig.143) No eixo de circulação aberta principal, que liga o pavilhão sede do clube com o interior da gleba, Moojen e Vallandro projetaram outra edificação, destinada à creche e biblioteca (Fig.142): um pequeno pavilhão retangular, com sistema formal abstrato, composto de planta livre e compartimentação ordenada por planos soltos (Fig.138), estrutura da cobertura constituída por empilhamentos de vigas longitudinais à vista e transversais em balanço apoiando vigas calhas nas extermidades, em esquema semelhante aos pavilhões de serviços da REFAP e TEDUT. Os fechamentos laterais mantêm a ideia de abstração, com planos cegos e transparentes de dimensões variáveis dispostos alternadamente. O esquema formal do pequeno pavilhão dá continuidade à série de recursos visuais, utilizados por Moojen em projetos anteriores, principalmente residenciais, com o descolamento dos planos de fechamento lateral da cobertura por vigas em balanço para fora dos limites e esquadrias no intervalo destas. As paredes das extremidades igualmente se prolongam para fora do volume, acentuando a composição de planos, princípio wrightiano utilizado na casa Mello Pedreira e posteriormente na casa em Atlântida, nos anos 1970 (Fig.75, Cap.IV, MFVHN). O sistema é o mesmo adotado na guarita de entrada e em pequeno quiosque construído mais ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Correio do Povo, 21 ago., 1966, p. 9. Acervo FAM Fig. 144 - Clube do Professor Gaúcho - CPG. Perspectiva de João J. Vallandro, nanquim sobre vegetal, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1966, Porto Alegre - RS. fundo da área (Fig.142), evidenciando o universo estético que, antes e durante os projetos para a Petrobras, acompanhava a obra de Moojen (Fig.144). Também a casa projetada por Moojen e Vallandro para o Dr. Jaime Milnitsky (1968) aponta resolutamente nesta direção de formalidade abstrata e planos (Fig.145), cobertura descolada da base e vigas de transição formal que se prolongam na caracterização de espaços de intermediação (Fig.145.3). Construída na rua Dario Perdeneiras, em Petrópolis, no entanto, a casa tem organização interna condicionada pela funcionalidade, e o jogo de planos é substituido por paredes reentrantes com mobiliário embutido, nichos, pequenas aberturas, circulações e espaços articulados visando ordenar os setores funcionalmente. Visivelmente bem programado, o espaço é explorado tendo em vista distribuir eficientemente todas as funções e acomodar confortavelmente equipamentos (Fig.145.1), denotando outro atributo perseguido por Moojen e os demais de sua geração na observação rigorosa do programa funcional embutido no projeto. A conexão formal entre espaço exterior, expresso pela fachada dominada pelo jogo de superfícies texturizadas (Figs. 145.2,3), e o espaço interno é maior na conexão entre o estar íntimo e o pátio interno, cuja configuração é determinada pelo prolongamento das paredes internas, das vigas de cobertura conformando pérgolas e o muro de divisa, descolado do ortogonal por pequenos rasgos, que avança em direção à frente. A casa Milnitsky, desta maneira, exemplifica certa condição de equilíbrio, entre desenho formal apurado e atendimento criterioso do programa, além de detalhamento rigoroso (Fig.145.1), por sua vez proporcionado a uma burguesia relativamente conservadora, cujo paralelo com a conexão paulista evidencia maior comedimento e parcimônia. Sergio MMarques 277 Fonte: Acervo FAM Fig. 145 - Residência Jaime Milnitsky, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1968, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM Fonte Acervo FAM Fig. 145.2 - Residência Jaime Milnitsky, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1968, Porto Alegre-RS. Fonte Acervo FAM Fig. 145.3 - Residência Jaime Milnitsky, fachada fundos, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1968, Porto Alegre-RS. Fig. 145.1 - Residência Jaime Milnitsky, planta e detalhe de esquadria, Moacyr Moojen, João J. Vallandro, 1968, Porto Alegre-RS. 278 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Ainda Convites, a Universidade, Urbanismo Moderno e as Crises de 1964 e 1968 (1958-1968) Em paralelo aos trabalhos em urbanismo na Prefeitura, Paiva, que havia participado da criação do Curso de Urbanismo no IBA, criou um novo na Faculdade de Arquitetura, deslocando-se ele próprio e Fayet para a pósgraduação e convidando Moojen para substituí-lo, junto com Veronese, no ensino de urbanismo da graduação. Moojen, parcialmente relutante com a sobrecarga de trabalho, aceitou, conjuntamente com Araújo, que foi atuar em Composição Decorativa, constatando que o compromisso com a universidade era inicialmente limitado a três horas semanais. Logo a seguir, Hekman foi convidado por Paiva para integrar a equipe e, posteriormente, Cyrilo Crestani. O urbanismo estava no quarto e quinto anos do Curso de Arquitetura. Com o início da docência em marcha, a armadilha revelou-se com o crescente aumento de compromissos e envolvimento com a universidade. Primeiramente com a indicação – agora não mais convite –de Paiva para cursar a PósGraduação em Urbanismo, uma necessidade, segundo ele, para quem atuava no meio acadêmico. Moojen ingressou na Pós-Graduação em 1960, classificado no 128 processo de seleção em primeiro lugar . Conjuntamente, ingressaram Marcos Hekman, Nadruz, Fernando Gonzáles, entre outros. O Curso de Urbanismo funcionava no Departamento de Urbanismo, no Prédio da Faculdade, em salas especiais, montadas e equipadas pessoalmente por Paiva e os professores de urbanismo, com biblioteca de livros doados pelo mestre. Era constituído de diversas disciplinas teóricas e ateliê, supervisionado por Paiva, com trabalho prático, onde grupos de estudantes recebiam expediente urbano elaborado pelo Estado, de cidades do interior, e produziam projetos de diretrizes urbanas. Nas aulas de evolução urbana de Demétrio Ribeiro, realizavam estudo analítico de morfologia e configuração urbana entre cidades exemplares, através da graficação de plantas esquemáticas, desenhadas na mesma escala, conjuntamente com dados populacionais e econômicos comparativos. Em Paisagismo, com Rio Pardense de Macedo, era realizado tema de desenho urbano. Nessa disciplina Moojen produziu projeto paisagístico para a Lomba do Cemitério. O curso como um todo, segundo Moojen, estava inserido integralmente no Movimento Moderno, em particular do urbanismo inglês. A presença do O ingresso no Curso de Urbanismo se dava através de novo vestibular, específico para a área de conhecimento da arquitetura e urbanismo. O curso tinha duração de dois anos, com aulas de Derli Peixoto Martins – Estatística; Demétrio Ribeiro – Evolução Urbana; Rio Pardense de Macedo Paisagismo e Planejamento Urbano, com Paiva e Fayet. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 128 verde, a cidade jardim, na tradição do planejamento urbano de Porto Alegre, advém mais do jardim inglês que dos conceitos corbuserianos de cidade moderna, apesar de outras influências, exemplificadas pelo projeto de Demétrio Ribeiro para a entrada do Brasil em Uruguaiana, da qual Moojen fez a perspectiva, de viés clássico influenciado pelo academicismo francês. O teor urbanistíco que grassava no Curso de Urbanismo neste momento não era, portanto, engajado exclusivamente nos sistemas espaciais de Le Corbusier, mas, por influência do ensino da área no Uruguai e Maurício Cravotto, conectado a certa tradição acadêmica, de vertente francesa, menos vanguardista e monumental no sentido moderno da palavra. O ateliê de urbanismo da graduação funcionava no pavilhão de madeira contíguo à Universidade (brizoleta, construído originalmente para o Colégio Aplicação), e a equipe trabalhava neste espaço. Moojen gradativamente aumentou seu envolvimento com comissões de ensino e atividades didáticas, que demandavam cada vez mais participação. Conjuntamente com Araújo, na reforma de ensino de 1962, veio a terceira armadilha: foram designados pelo conselho da escola para produzir uma proposta de reestruturação do ensino de 129 projeto de arquitetura da FA-UFRGS. O trabalho, sintetizado em documento , propunha: um Ciclo de Formação Básica, com concentração de cadeiras técnicas e conhecimentos instrumentais preparatórios para o aluno enfrentar os problemas de arquitetura; um Ciclo Profissional, a seguir, para o aprendizado dos conhecimentos específicos da arquitetura e do projeto, no qual as cadeiras técnicas compareceriam na medida do necessário; e o Ciclo de Diplomação, para demonstração de domínio do conhecimento acumulado, tendo em vista o exercício da profissão. O Ciclo da Diplomação, proposto nos moldes, em linhas gerais, de como é formulado até hoje, não era adotado pela maioria das escolas 130 brasileiras. Sua proposta amparou-se na sistemática da carpeta da UDELAR onde os projetos de diplomação eram desenvolvidos em etapas semelhantes à Ver: ARAÚJO, Claudio L. G.; MARQUES, Moacyr Moojen; MENTZ, Luiz Frederico. Programa de ensino. Ciclo de preparação básica – Ciclo de preparação profissional. Porto Alegre: FA-UFRGS, 1966. Cópia datilografada. 130 Em Porto Alegre, surgiu certa insegurança se o sistema da Diplomação, uma versão simplificada da carpeta, daria certo. Na primeira turma com o novo formato, o estudante Edson Krebs, posteriormente diretor da Faculdade de Arquitetura, com a proposta de projeto de aeroporto, produziu trabalho com demonstração e desenvolvimento exemplares da proposta implantada, atestando o sucesso da proposta defendida no meio acadêmico por Moojen e Araújo. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 14 jun. 2010. Entrevista. Moojen lembra de outro estudante, Delói Becker, que realizou um trabalho exemplar nesse sentido e posteriormente, a convite, colaborou durante muitos anos em seu escritório. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. 25 nov. 2011 Sergio MMarques 279 129 Fig. 146 - I Concurso Nacional de Escolas de Arquitetura, equipe de estudantes, 1° Lugar. Da esquerda para direita, Rogério Malinsky, Ana Luiza Petrik, Salma Cafruni, Antônio Bertolozzo, Sérgio Magalhães, Joy Hui Peng e Nélson Saraiva da Silva. Prof. Orientador Moacyr Moojen, Consultores Carlos Fayet, Miguel Pereira e Fernando Campos. IX Bienal de Artes de São Paulo,1967, São Paulo. da produção profissional, constituídos de anteprojeto, projeto básico (para aprovação nos órgãos reguladores), projeto executivo com compatibilização de estrutura, instalações e detalhamento, em pranchas padrão que formavam um bloco. Na UFRGS, no período anterior à reforma, na visão de Moojen, o curso era desestruturado, com disciplinas discrepantes. Com as mudanças, o urbanismo passou a dar assessoria a todos os ateliês, sob a visão unificadora da cidade como cenário para todos os exercícios do projeto, o que na época o sobrecarregou ainda mais conjuntamente com Veronese. Com o golpe militar de 1964, a docência transformou-se em tarefa extraordinariamente complexa. Os primeiros expurgos, nos quais Demétrio, Paiva, Enilda e muitos outros foram sumariamente excluídos da vida acadêmica, atingiram substancialmente o meio cultural da arquitetura e do urbanismo. Diversos professores, entre eles Fayet e Moojen, responderam a inquéritos militares sob as mais diversas acusações, das quais inicialmente foram isentados. Nos anos seguintes, o clima na universidade perdeu significativamente a energia contagiante dos tempos de graduação e início de docência. O ambiente deixou-se contaminar pelas hostilidades advindas do cenário político, com denúncias, patrulhamentos e drástica diminuição da efervescência cultural de outrora. Os estudantes, naturalmente refratários à opressão, reagiam proporcionalmente, no plano político. O debate de arquitetura foi substituído pelos temas da conjuntura e da emergência, dadas as Fonte: SILVA, Nélson Saraiva da. IX Bienal de São Paulo – 1967. In: LICHT, Flávia Boni; CAFRUNI, Salma. Arquitetura UFRGS, 50 anos de histórias. Porto Alegre: UFRGS, 2002. p. 108. MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura Moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987, p. 133 Fonte: SILVA, Nélson Saraiva da. IX Bienal de São Paulo – 1967. In: LICHT, Flávia Boni; CAFRUNI, Salma. Arquitetura UFRGS, 50 anos de histórias. Porto Alegre: UFRGS, 2002. p. 104 Fig. 147 - I Concurso Nacional de Escolas de Arquitetura, Maquete da proposta, 1° Lugar. Acads. Rogério Malinsky Ana Luiza Petrik, Salma Cafruni, Antônio Bertolozzo, Sérgio Magalhães, Joy Hui Peng e Nelson Saraiva da Silva. Prof. Orientador Moacyr Moojen, Consultores Carlos Fayet, Miguel Pereira e Fernando Campos. IX Bienal de Artes de São Paulo,1967, São Paulo. circunstâncias, da sociologia, antropologia e economia; tempos, segundo 131 Sant’ana, de “substituir o lápis por instrumentos mais contundentes” . Com frequência, a produção arquitetônica dos ateliês era substituída por textos e relatórios discursivos. Moojen, pessoalmente ligado à esquerda e igualmente contrário aos desmandos políticos, mas que defendia a necessidade de manter sólida a formação dos estudantes nas especificidades da arquitetura, entendimento compartilhado por alguns professores como Veronese e Araújo, começou a enfrentar dificuldades, principalmente no ensino do urbanismo. A disciplina, naturalmente mais embricada com outras áreas do conhecimento, não deixava de ter, na visão desses professores, conhecimentos próprios da técnica e do 131 Ver SANT'ANA, Antonio Carlos. Projeto. São Paulo, n. 129, p.144, jan. fev.1990. 280 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 132 Capitulo I fazer, indispensáveis ao aprendizado do projeto urbano e planejamento . A resistência progressiva de alguns setores do meio acadêmico em defender tais práticas, no seu entender, andava na contramão do perfil de arquiteto e urbanista que, além da consciência de suas obrigações sociais e políticas, deveria exercer o ofício, fazer projetos de edificação e espaços urbanos com excelência. Agravava o panorama o fato de, quer pela tradição do urbanismo no Estado, quer pela participação de personagens expressivos como Demétrio Ribeiro, Edvaldo Paiva e Rio Pardense de Macedo, na área, quer pelo ensino do urbanismo ser núcleo de excelência do ensino na FA-UFRGS, esse meio passou a ser o alvo principal das críticas e contestações. Para Moojen, a culminância desse processo veio com a IX Bienal de Artes de São Paulo (1967) e o I Concurso Nacional de Escolas de Arquitetura, 133 patrocinado pelo BNH , oportunidade em que foi organizado concurso interno da FA-UFRGS para escolha de equipe representante. Formaram-se grupos de estudantes orientados por professores para desenvolver "projeto local de conjunto residencial integrado a plano de desenvolvimento urbano do 134 município" . Os debates e antagonismos adentraram este evento. Moojen e 135 Fayet foram convidados por uma equipe (Fig.146), Udo Mohr e Paganelli por outra. O enfrentamento de ideias entre grupos ficou emblemático na proposta para trocarem seus projetos por manifesto comum contra a política do Banco Nacional de Habitação e as oligarquias governamentais, rechaçada pelos estudantes orientados por Moojen. A proposta arquitetônica desta equipe – baseada em ideias simples, como o parcelamento de áreas da gleba destinada ao concurso, providas de certa infraestrutura, para vendas objetivando a viabilização do empreendimento social no restante e decomposição de edifícios destinados a conjuntos habitacionais em células distribuídas organicamente Moojen expõe que, assim como o projeto de edificação, o de urbanismo detém especificidades em termos de elementos, dimensões, gabaritos, técnicas de desenho e construção, topografia, instalações, infraestrutura e todo o universo relacionado à construção do espaço urbano, culminando com o planejamento territorial, que por sua vez também observa padrões urbanísticos e conteúdos de uma área específica do conhecimento, ciência necessária ao desempenho do ofício em desamparo pela contaminação política. “Tenho nítido o objetivo que tínhamos de formar um profissional capaz de fazer projetos de urbanismo”. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. 20 abr. 2008. 133 Júri composto pelos arquitetos Roberto Cláudio Aflalo, Jerônimo Bonilha Esteves, Henrique Mindlin, Rubens Amaral Portela e Francisco Bolonha. 134 Ver: SILVA, Nélson Saraiva da. IX Bienal de São Paulo – 1967. In: LICHT, Flávia Boni; CAFRUNI, Salma. Arquitetura UFRGS, 50 anos de histórias Porto Alegre: UFRGS, 2002. p. 103-108. histórias. 135 A equipe era constituída pelos estudantes Ana Luiza Petrik, Antônio Bertolozzo, Joy Hui Peng, Nelson Saraiva da Silva, Rogério Malinsky, Salma Cafruni e Sérgio Magalhães. Fayet, com pouca disponibilidade, permaneceu como consultor, conjuntamente com Miguel Pereira e Fernando Campos. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 132 pelo terreno de topografia acentuada – foi escolhida pela comissão designada para a Bienal (Fig.146). O projeto, aparentemente influenciado pelos sistemas espaciais modulares de Aldo Van Eick e/ou metabolistas japoneses, finalmente recebeu o primeiro prêmio do certame, repercurtindo no meio acadêmico 136 nacional (Fig.147) . Na opinião de Moojen, este episódio, ao invés de neutralizar os ataques, acirrou-os ainda mais, quando o movimento "Nosso Ensino é uma Farsa", que grassava na escola, e documento assinado por diversos estudantes e alguns professores, criticando o ensino de urbanismo e atacando pessoalmente determinados professores, fez com que Veronese, desgostoso, 137 se afastasse para atividades burocráticas na Reitoria . Ato contínuo, em 1968, ano em que revoluções estudantis sacudiam o mundo clamando por mais liberdade e revoluções locais andavam na contramão, Moojen – nove anos e oito meses depois de ter ingressado na docência, quatro meses antes de ser efetivado no quadro funcional, conjuntamente com Araújo e Cyrillo Crestani, 138 solidários na visão de ensino – afastou-se definitivamente da Universidade . Em segundo lugar, ficou a FAU-Mackenzie-SP e, em terceiro, a FAU-UFPR-PR. Imagem do projeto vencedor ilustra o texto de Edgar Graeff sobre o ensino da arquitetura moderna no Brasil e no sul. Ver: GRAEFF, Edgar. A luta por um ensino autônomo. In: LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do "gênio artístico nacional". [Tese de doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura]. OLIVEIRA, Rogério da Castro (Orient.). Porto Alegre: FA-UFRGS, 2004. p. 33. Para depoimento de um dos integrantes da equipe, ver: SILVA, Nélson Saraiva da. IX Bienal de São Paulo – 1967. In: LICHT, Flávia Boni; CAFRUNI, Salma. Arquitetura UFRGS, 50 anos de histórias Porto Alegre: UFRGS, histórias. 2002. p. 103-108. 137 Ver documento: A cadeira de urbanismo se fosse lisa em mãos incapazes. Cópia xerografada. Acervo Moojen 138 Moojen hoje avalia que, naquele momento, havia uma conjugação de fatores que alimentaram o processo: o espírito rebelde da década de 1960, emblematizado nos movimentos estudantis de Paris; uma reação violenta dos estudantes às cassações e ao regime militar e o ingresso de teses ligadas à teoria da informação e à semiótica, no meio estudantil, que repercutiam em uma visão subversiva aos meios tradicionais do ensino do projeto. Lembra de grupo de estudantes, como Pedro Mohr, Cláudio Ferlauto, Getúlio Picada e outros, que em tema de urbanismo para uma cidade satélite entregaram trabalho de cunho futurista, amparado em conceitos da semiótica e da poesia concreta, com certo afrontamento ao solicitado pelos professores. Portanto, além do cenário internacional, e as inquietações com o momento político discricionário, os estudantes lideravam um movimento sectário, no qual discursos serviam de escudo para as questões da arquitetura e urbanismo, atacando principalmente os setores nos quais o ensino das especificidades profissionais era exigido. Neste ataque, um dos principais ambientes criticados era o ensino de urbanismo, e em especial Veronese. Araújo, mais conectado com o meio da semiótica e do design, igualmente se desgostou profundamente com o contexto adverso, também se retirou e afirma que, durante muito tempo, não passava na frente da escola. Fayet, envolvido com a pós-graduação, não participou diretamente deste processo, mas após a saída dos professores do urbanismo, posicionou-se com certa neutralidade em seminário de ensino realizado logo a seguir. No ano seguinte, porém, em nova rodada de cassações, Fayet – junto com Udo Mohr, Ari Mazzini Canarim, Paganelli e outros – Sergio MMarques 281 136 Escala Urbana, vocação ascendente: A Gerência do Planejamento de POA e outros Projetos (1962-1979) foi igualmente vitimado pela história. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Entrevista. Gravação digital. 20 abr. 2008. FERLAUTO, em depoimento sobre o período, expõe que, desde o ponto de vista dos estudantes, o movimento em si era uma espécie de experiência de comunicação de massa, já que sua eficiência estava na exercitação dos cartazes, adesivos e slogans "visualmente diferenciados e incomuns". Ver: FERLAUTO, Cláudio. Faculdade de Arquitetura – Anos 60. In: LICHT, Flávia Boni; CAFRUNI, Salma. Arquitetura UFRGS: 50 anos de histórias. Porto Alegre: UFRGS, 2002. p. 109-112. 139 MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 09 Entrevista jan. 2011. 140 Abordado no capítulo I - "FM". Fonte: Porto Alegre. Planejar para viver melhor. Prefeitura Municipal de Portoa Alegre, 1979, p.9 Moojen sempre esteve, de alguma maneira, ligado ao urbanismo e a projetos urbanísticos, com atenção à escala da cidade e da paisagem, mesmo quando projetava edificações. Além de ter cursado a pós-graduação em urbanismo e efetivamente se dedicado ao ofício de urbanista, desde o início de sua carreira, conjuntamente com a de arquiteto, tanto na atividade pública como privada, e também no ensino do urbanismo, manteve o entendimento de que esta era a escala de culminância do trabalho profissional, na qual, de alguma maneira, todos os níveis de ação do arquiteto deveriam se articular para que o esforço coletivo fizesse sentido. Classifica que este foi o verdadeiro teor de seu trabalho e empenho pessoal, para o qual imagina ter realizado sua 139 principal contribuição . Cedo realizou, em equipe, o projeto de Urbanização e arquitetura para o Núcleo Ferroviário – CAPFESP, de Santa Maria-RS (1957), e classificou-se, conjuntamente com Paiva, Fayet e Veronese, em primeiro lugar no Concurso Público da Secretaria de Obras Públicas do Rio Grande do Sul para a 140 elaboração do Plano Piloto para o Delta do Jacuí (1958) . Realizou e coordenou, para a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional – METROPLAN, o Projeto Urbanístico e Paisagístico para o Parque Estadual de Itapuã (1966). Participou com Fayet, através da empresa Urbasul, da elaboração do Plano Diretor de Esteio-RS (1971), realizou com Araújo e Ferraro o traçado para a Via Sul de Florianópolis e elaborou o projeto do Parque Saint-Hilaire, entre dezenas de projetos de loteamentos privados realizados no escritório e outros planos e projetos urbanísticos de envergadura, realizados a partir de 1970. Em seu discernimento, no entanto, nada comparado com o trabalho realizado na PMPA, iniciado na Divisão de Urbanismo da Secretaria de Obras, em 1956, com os trabalhos conjuntos do Plano Paiva, os estudos para a organização espacial da Região Metropolitana, em 1967 e a culminância deste processo no I PDDU em 1979. Fig. 148 - Extensões A, B, C e D, Plano Diretor de Porto Alegre (Plano Paiva, 1959), Divisão de Urbanismo da PMPA, 1964, 1967, 1972, 1975. Porto Alegre-RS. 282 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fig. 149 - Estudos sobre a criação da Região Metropolitana de Porto Alegre, Divisão de Urbanismo da PMPA, 1967, Porto Alegre-RS. 141 Segundo Moojen , o chamado Plano Paiva, do qual Fayet e ele participaram, foi concluído em 1959 (L.C. nº 2.046/69) e confirmado em 1961 (L.C.A. Nº 2.330/61), com tempo de vigência de vinte anos. Esse plano foi o primeiro a tornar-se lei, sendo mais abrangente que os anteriores, visto que a partir das experiências trazidas de Montevidéu, para além do desenho urbano, baseou-se em pesquisa (survey) para ampliar os aspectos a tratar em matéria de desenvolvimento integrado ao desenho também presente. Os levantamentos e pesquisas abrangeram a parte mais densa do território, tendo seus limites representados pela Avenida Terceira Perimetral, também parte do próprio plano. Mesmo com a preocupação do enfoque científico, o plano original resultou acentuadamente físico, com dispositivos de zoneamento e de controle das edificações baseados em princípios da Carta de Atenas e do plano de Nova York. A lei possuía noventa e um artigos, sendo que o nº 24 autorizava o Executivo, ouvido o Conselho do Plano Diretor, a estender a abrangência dos seus dispositivos, mediante decreto, a outras áreas do município, à medida que novas pesquisas autorizassem extensões territoriais a serem acrescidas ao plano original. O período de 1959 a meados da década de 1970, portanto, caracterizou-se pelo detalhamento do plano original e elaboração dos planos 142 das extensões (Fig.148), bem como avaliação de toda a produção urbanística do período com vistas à análise e execução de um novo projeto. As últimas extensões abrangiam partes do território limítrofe com municípios vizinhos da região metropolitana em franco processo de conurbação, carentes de plano regional. Essa carência era expressiva e fazia-se sentir de forma inconveniente, visto que as regras existentes em Porto Alegre projetavam o crescimento urbano dos municípios nos seus limites geográficos a norte e a leste, criando verdadeiras cidades dormitórios. Menores exigências de urbanização tornavam os terrenos mais baratos e, em consequência, propiciavam aumento de população, ou seja, crescimento da capital em territórios vizinhos após hiatos não urbanizados onde ocorriam transportes e expansões de serviços ociosos. Há muito se debatia a urgência de um organismo metropolitano de planejamento. Le Corbusier e Hilberseimer, duas importantes refêrencias na 143 época, já tratavam da matéria desde o final da década de 1940 . Enquanto isso, com as modificações ocorridas na Divisão de Urbanismo da Secretaria de Obras do Município, com a eleição do prefeito Leonel Brizola para governador do Estado, coube a Moojen assumir o planejamento na qualidade de chefe de sessão, posteriormente assessor do supervisor e assessor municipal ligado ao prefeito, ou seja, planejar as extensões e a reavaliação do Plano Diretor. Naquele momento inicial, um projeto de via metropolitana federal paralela à antiga BR-2, hoje BR-116, elaborado por empresa dinamarquesa foi encaminhado ao planejamento municipal para análise. Essa questão motivou a retomada do tema metropolitano, visto que o impacto da obra traria reflexos importantes na região, principalmente na chegada em Porto Alegre. Paralelamente, implantava-se a Free- way, BR 290, construída no limite norte da área urbanizada da capital (extensões “B” e “C”), criando diques em vastas áreas inundáveis, permitindo, assim, sua ocupação urbana. Essa obra estruturou uma área propícia ao desenvolvimento industrial no centro estratégico da região metropolitana. Motivada por essas ocorrências determinantes, a Seção de Planejamento da Prefeitura, com a coordenação de Fonte: PORTO ALEGRE. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Secretaria de Obras e Viação/Divisão de Urbanismo. Região metropolitana – estudos. Porto Alegre, 1967, Capa. 142 143 141 MARQUES, Moacyr Moojen. I PDDU. Depoimento ao autor por escrito. Fev. 2012. PDDU Doutorado “A”: Decreto 2.872/64, “B”: Decreto 3.487/67, “C”: Decreto 4.552/72, “D”: Decreto 5.162/75. Ver: LE CORBUSIER. Le trois établissements humains. Forces Vives: Les Editions de Minuit, 1997 (primeira edição em 1945) e HILBERSEIMER, Ludwig. The new regional pattern: industries and gardens, workshops and farms. Wiscosin: P. Thoebald, 1949. . Sergio MMarques 283 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Ver: PORTO ALEGRE. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Secretaria de Obras e Viação/Divisão de Urbanismo. Região metropolitana – estudos. Porto Alegre, 1967. O Logotipo adotado pela METROPLAN foi o criado por Cyrillo Crestani para a capa do parecer sobre a matéria produzido pela PMPA . 145 144 Fonte PORTO ALEGRE. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Secretaria de Obras e Viação/Divisão de Urbanismo. Região metropolitana – estudos. Porto Alegre, 1967, Mapa 5. Moojen, produziu o trabalho intitulado “Região Metropolitana Estudos” (Fig.149), tendo como principal objetivo enfatizar a necessidade de criar mecanismo regional de planejamento metropolitano capaz de integrar as ações no espaço comum com a maior coerência possível nos seus efeitos territoriais. Simultaneamente, o Estado, através de sua Secretaria de Planejamento, produziu trabalho de pesquisa com subsídios para determinar a abrangência da região a partir das suas relações estruturais, econômicas e sociais. O resultado do trabalho da Prefeitura foi um ensaio para a organização espacial da região a partir dos elementos considerados na época. Era de fato uma proposta de modelo fundamentado em três eixos de crescimento, no qual se procurou estabelecer zoneamento regional e áreas de contenção urbana dos municípios, nos seus limites, constituídos por parques e vias estruturantes. Para contrapor a influência da via longitudinal (norte-sul) anteriormente proposta, a qual atrairia a urbanização de áreas inundáveis, foi imaginado implantar outra via de igual porte, paralela e do lado oposto da primeira, lado leste, cujo percurso se daria por terras altas, e seu poder de atração levaria ao crescimento nesta direção, com a urbanização de extensas áreas ainda vazias com vocações locacionais para implantar moradias e trabalho (Fig.150). O prefeito da época – Célio Marques Fernandes – enviou Moojen ao Ministério dos Transportes para dar conta da posição da Prefeitura. No âmbito estadual, o DAER aceitou a tese da 3ª via e elaborou seu projeto definitivo. A 3ª via propiciaria orientar o tráfego do eixo norte de tal forma que os movimentos regionais e extrarregionais poderiam ser desviados da BR-102 (116), coincidente com principal via das cidades, e evitar a cisão das áreas urbanizadas, fator que ficou agravado com a implantação do TRENSURB, na mesma direção, aumentando o fatiamento. Com a lei federal que propiciou a criação dos órgãos metropolitanos de planejamento, no Rio Grande do Sul foi criado o GERM – Grupo Executivo de Planejamento Metropolitano, posteriormente METROPLAN – Fundação Metropolitana de Planejamento. O corpo técnico e administrativo foi montado com pessoal do Estado e da Prefeitura, posteriormente integrado por grupo alemão para a realização das pesquisas e elaboração do PDM – Plano Diretor Metropolitano. Levaram da Prefeitura de Porto Alegre, além de técnicos, 145 estudos existentes, inclusive o logotipo (Fig.149) . As extensões "C" e "D" do plano de Porto Alegre foram compatibilizadas com os estudos do PDM, já que elas aguardavam diretrizes por serem limítrofes com municípios vizinhos. O 144 Fig. 150 - Estudos sobre a criação da Região Metropolitana de Porto Alegre, Vias Estruturadoras, Divisão de Urbanismo da PMPA, 1967, Porto Alegre-RS. 284 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte PORTO ALEGRE. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Secretaria de Obras e Viação/Divisão de Urbanismo. Região metropolitana – estudos. Porto Alegre, 1967, Mapa 6. PDM foi concluído com semelhanças estruturais em relação à organização espacial da hipótese da Prefeitura, muitas das quais hoje implantadas, como os distritos industriais ao longo dos eixos leste e norte. Desta forma, foi concluído o Plano Paiva (1959), o qual, passados 20 anos da vigência, carecia de revisão geral. O acúmulo por tanto tempo de reavaliações parciais, interpretações do Conselho do Plano Diretor, com suas resoluções, tinha reunido contradições insanáveis na avaliação da lei que se tornou, em alguns aspectos, incompleta, complexa e ineficaz. Face a este quadro, com a criação da Secretaria do Planejamento Municipal e por iniciativa do corpo técnico, o prefeito Guilherme Socias Vilella e seu secretário da SPM, Prof. Carlos Veríssimo do Amaral, determinaram a elaboração de revisão geral de toda a matéria, o que certamente daria origem a um novo plano (I PDDU 1979). A estratégia da equipe designada, na qual Moojen era gerente, no entanto, manteve a concepção, principalmente das propostas feitas anteriormente, cujos efeitos se refletiam positivamente no tecido urbano, dentro da ideia de aprimorar, atualizar e manter aquilo que era história positiva. Fig. 151 - Estudos sobre a criação da Região Metropolitana de Porto Alegre, hipótese para o Planejamento Territorial, Divisão de Urbanismo da PMPA, 1967, Porto Alegre-RS. Sergio MMarques 285 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Rigorosa, Rigorosa porém suave presença Moojen, dentre uma infância e junventude polvilhada de privações familiares e materiais, e uma preparação profissional adquirida sob o esforço da independencia prematura, incorporou em sua natureza despojamentos e desapegos a ganhos pessoais, cuja compensação foi a dedicação espartana as causas da arquitetura e do urbanismo, perseguidas com esforço e rigor, ainda que muitas vezes a severidade de seu empenho e auto-exigência o tenha levado a posições de liderança, sucesso e poder decisório que não eram necessriamente seu objetivo. Potencializada pela formação humanista, doutrinária das ideologias progressistas e a crença no coletivo, esta natureza frugal, acabou por constituir uma personalidade de extrema generosidade, canalizada a sociabilidade de suas ações e simultaneamente de vigorosa resistência a relativismos éticos e morais. No campo da arquitetura e urbanismo, esta natureza impregnpu-se em uma produção prolífera e abundante, feita sempre com obstinação pelo melhor e pelo abrangente, com espirito realista e sensível capaz de viabilizar junto a interlocutores de todas as categorias e segmentos, a realização do seu fazer. Igualmente o altruísmo associado a um talento artístico nato, conduziu em diversas oportunidades de trabalho, tanto na esfera pública quanto privada, e em todas as escalas, uma produção virtuosa, repleta de material intelectual e documental, oferecido em abundância, muitas vezes sem esperar nada em troca. Ainda que esta condição, em algumas ocasiões, tenha cobrado o seu preço, tanto pelas batalhas enfrentadas, algumas de certa envergadura, onde a inflexibilidade profissional e a ética inoxidável chocaram-se com agentes poderosos, quanto pela vida excessivamente franciscana que escolheu levar, Moojen logrou obter o melhor que se poderia imaginar em suas despretensões: uma contribuição social e coletiva efetiva e significativa através da arquitetura e principalmente do urbanismo, para sua cidade de escolha, assim como uma legião de familiares, amigos, admiradores, colaboradores, clientes, contratantes, colegas, estudantes, políticos e empresários que reconhecem sua indissociável excelência profissional e humana. Fonte: Foto Sergio Marques, 2009 Fig. 152 - Moacyr Moojen Marques, inauguração da Av. Carlos Maximiliano Fayet, 2009, Porto Alegre-RS. 286 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I FM Fonte: Foto Sergio Marques, Fig. 1 - Moacyr Moojen Marques e Carlos Maximiliano Fayet, I Encontro de Arquitetura - UNISC, 2005, Santa Cruz do Sul-RS. Fayet e Moojen estiveram bastantante próximos como estudantes de arquitetura e nos primeiros anos de profissão. Foram contemporâneos nos tempos do Curso de Arquitetura do IBA, conviveram em todos os movimentos de criação da Faculdade e integraram as duas comissões de projeto para a nova escola. Fayet, formado um ano antes, colaborou com Paiva na docência do Curso de Urbanismo, quando Moojen ainda era estudante, e logo ambos eram colegas, professores de Urbanismo da FA-UFRGS. Da mesma forma, por intermédio de Paiva ingressaram na equipe da Divisão de Urbanismo da Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Delta do Jacuí – Plano Piloto – 1958. Porto Alegre: Globo, 1958. p. 19, 20 Ainda o Urbanismo: mais um concurso, uma vitória sem continuidade: Plano Piloto para o Delta do Jacuí (1957-1958) Fig. 2 - Concurso Delta do Jacuí, 1° Lugar, À esquerda, sistema rodoferroviário e a região de influência de Porto Alegre, na década de 1950. À direita, novo sistema rodoferroviário proposto. Edvaldo Pereira Paiva, Carlos M. Fayet, Roberto Veronese e Moacyr Moojen Marques, 1958. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, onde atuaram conjuntamente na equipe de detalhamento do Plano de 1959 e em uma série de projetos urbanísticos para a PMPA. No urbanismo, ainda integraram juntos a equipe vencedora do concurso 146 para o Delta do Jacuí . No final de 1957, a Secretaria de Obras Públicas do Estado do Rio Grande do Sul lançou concurso aberto para o Plano Piloto do Delta do Jacuí, vencido pela equipe composta por Edvaldo Pereira Paiva, Carlos M. Fayet, 147 Roberto Veronese e Moacyr Moojen Marques . Tendo em vista a aprovação do 146 A mesma equipe, conjuntamente com Demétrio Ribeiro, esteve inscrita no “Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil” , o concurso de Brasília vencida por Lúcio Costa um ano antes, mas não desenvolveu o projeto. 147 A comissão julgadora era integrada pelo Engenheiro Nelly Peixoto Martins (Secretaria de Obras Públicas), Arquiteto Carlos Gomes Gavasso (UDELAR/IAB-RS), Engenheiro Walter Haetinger (DAER), Engenheiro José Leite de Souza (DEPREC), Engenheiro Júlio Alfredo Crespo Lorenzoni (VFRGS), Engenheiro Mozart Pinto Cordeiro (5ª Zona Aérea), Engenheiro Augusto Francisco de Sergio MMarques 287 Fonte: Delta do Jacuí – Plano Piloto – 1958. Porto Alegre: Globo, 1958. p. 53 Fonte: Delta do Jacuí – Plano Piloto – 1958. Porto Alegre: Globo, 1958. p. 49 Fig. 4 - Concurso Delta do Jacuí, 1° Lugar, Centro da Cidade Satélite de Porto Alegre. Edvaldo Pereira Paiva, Carlos M. Fayet, Roberto Veronese e Moacyr Moojen Marques, 1958. Fig. 3 - Concurso Delta do Jacuí, 1° Lugar, Plano Geral. Edvaldo Pereira Paiva, Carlos M. Fayet, Roberto Veronese e Moacyr Moojen Marques, 1958. traçado e construção da ligação rodoviária de Porto Alegre com o sul e oeste do Estado (1953), durante o Governo do General Dornelles e de Getúlio Vargas, através de sistema de pontes e aterros sobre o Delta, bem como com a consequente transformação de vinte dois mil hectares, incluindo as ilhas e parte de cidade de Guaiba em área de utilidade pública, através do projeto de lei apresentado pelo Secretário de Obras Públicas, Engenheiro Leonel de Moura Brizola, era necessário o planejamento do provável desenvolvimento da capital nesta direção. O crescimento vertiginoso e pouco ordenado da região metropolitana, na direção de São Léopoldo e Gravataí, a norte e a nordeste, e o Castro (PMPA), Ney Britto (PMG). Ficou classificada em segundo lugar a equipe de Demétrio e Enilda Ribeiro; terceiro, a de Francisco Danilo Menezes Landó, Antonil Carlos Oliveira, Larry Hubner e Castelar Peña; quarto, a de Geraldo César; e quinto a de Flávio Soares e Lincon Ganso de Castro. O periódico que publicou os resultados na época, com algum estardalhaço, informava que o certame, dada a área envolvida e o montante de prêmios, era um dos maiores concursos já realizados no Brasil até aquele momento, perdendo apenas para o de Brasília. Ver: CINCO equipes no concurso de urbanismo do Delta do Jacuí. Diário de Notícias 04 fev. 1958. p.10. Notícias, processo acelerado de conurbação naquelas direções já indicavam a necessidade de planejamento urbano conjunto da capital e região, constatação que posteriormente induziu as extensões do Plano de 1959 e o planejamento em âmbito metropolitano, com a criação da Metroplan, expostos no capítulo anterior, assim como o conceito de sistema de planejamento estabelecido pelo I PDDU (1979). Brizola, então prefeito de Porto Alegre, na publicação do projeto vencedor, chama a atenção sobre a pertinência de determinados aspectos específicos do contexto, considerados pela proposta vencedora, expondo no Prefácio: Nota-se principalmente a dedicada atenção de seus autores às características específicas de nossa formação urbana, seu preponderante interesse em se manter sempre ligados à nossa realidade. Este trabalho é, em suma, além de uma colaboração efetiva e inestimável à análise e solução dos problemas dessa extensão de Porto Alegre, uma contribuição valiosa no campo teórico e no terreno 148 da aplicação dos princípios da ciência urbanística à realidade socioeconômica brasileira. 148 BRIZOLA, Leonel de Moura (Prefácio). Delta do Jacuí – Plano Piloto – 1958. Porto Alegre: Globo, 1958. p. 8. 288 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Delta do Jacuí – Plano Piloto – 1958. Porto Alegre: Globo, 1958. p. 50 Fig. 5 - Concurso Delta do Jacuí, 1° Lugar, Centro da Cidade Satélite de Porto Alegre. Edvaldo Pereira Paiva, Carlos M. Fayet, Roberto Veronese e Moacyr Moojen Marques, 1958. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 289 Na primeira parte do trabalho, dedicada à análise do problema, os urbanistas enfatizam a necessidade de abordar o tema desde uma visão condicionada pela realidade específica: Consideramos como critério realista aquele que analisa especificamente os problemas urbanos característicos de nosso país [...]. Esta diretriz é exatamente ao contrário àquela seguida comumente que faz tábula rasa dos caracteres específicos de nossa formação urbana e procura solucionar seus problemas pela adoção mecânica de soluções padronizadas, oriundas da aplicação 149 da ciência urbanística em países de estágio evolutivo mais adiantado. Também induzem a consideração de questões amplas do planejamento regional de Porto Alegre e suas implicações com o caso: Uma análise objetiva de todos os ângulos do problema em foco, não o considerando de forma isolada, porém em sua integralidade dentro do conjunto da estruturação da cidade, de todas suas 150 extensões e ainda de suas relações com o Estado [...]. Essa atitude, reticente com a adoção acrítica de teorias urbanísticas contemporâneas, simultânea a uma ideia de compreensão ampla das especificidades do problema, parece expressar os modos de relação com vertentes referenciais adotados pelos arquitetos modernos gaúchos. No caso do Plano para o Delta, significou uma análise ampla das questões sociais, econômicas e principalmente produtivas, envolvendo a estrutura de Porto Alegre como um todo e sua região metropolitana, em termos principalmente de estruturas de transporte, através da malha rodo-ferro-hidroviária existente e proposta, bem como a distribuição adequada da população convergente (Fig.2). Por outro lado, as características ecológicas do Delta, diferentemente do ocorrido na ocupação indiscriminada da região metropolitana em direção norte e nordeste da capital, sugeriam ocupação criteriosa e parcimoniosa, evidenciando a sensibilidade ambiental adotada posteriormente no projeto para a REFAP e a emergência do tema ecológico que estava por vir. Considerando os estudos sobre as condições ambientais da área, realizado pela empresa francesa Neyrpic, contratada pelo governo do Estado, o plano, em síntese, propunha a criação de porto para navios de grande calado na Ilha da Pintada, aeroporto internacional no município de Guaiba, zonas industriais nas cotas mais altas das ilhas do Delta, junto à rodovia (Fig,3), e criação de cidade satélite com estação de trem (Figs.3 e 4). A partir dos dados de análise mesológicos fornecidos pela Neyrpic, o projeto definia algumas poucas áreas isoladas, onde as condições topográficas permitiam a ocupação, reservadas para localização de áreas industriais e núcleos de habitação, comércio e serviços correspondentes (ver manchas em negro no plano geral). 149 150 Assim, a estratégia espacial propunha, paradoxalmente, “ilhas” urbanizadas dentro de uma área predominantemente destinada à preservação do meio ambiente (ver manchas achuradas no plano geral). O conjunto de “ilhas” urbanas, distribuídas sobre as ilhas naturais do Delta, interligadas por sistema viário secundário estruturado a partir da estrada, teria como nova centralidade, entre Porto Alegre e Guaiba, a criação de “cidade satélite”, análoga às propostas para a nova capital federal do país, em concurso realizado um ano antes, distribuída ao longo da rodovia. O novo núcleo urbano centralizador, por sua vez, obedecia aos princípios urbanísticos adotados, em linhas gerais, da Carta de Atenas, com zoneamento de usos definido por parcelamento do solo apropriado à zona industrial, ao longo do lado nordeste da estrada, a partir da rótula com o acesso à Guaiba (ver quarteirões em negro, Fig.3), quarteirões residenciais, como “superquadras”, com áreas verdes de uso comum no interior (ver quarteirões em cinza com formas irregulares em negro no interior, Fig.3), parque urbano (quarteirão achurado com linhas em diagonal, Fig.3) e centro cívico-comercial desenhado com certa monumentalidade (Fig.4 e 5), como em Brasília. Em detalhe do projeto, o centro da cidade satélite seria estruturado por eixo monumental semelhante ao do Plano Piloto da Capital Federal, porém com mais diversidade de usos, articulando o novo aeroporto internacional em uma das extremidades, a sudoeste, e a estação de passageiros a nordeste, dentro da área industrial. Ao longo do eixo, blocos de habitação insinuados como barras ortogonais soltas no parque, área cultural, junto à rótula monumental criada entre o eixo e avenida paralela à rodovia, composta de teatro, cinemas, museu e biblioteca, configurado por esplanada seca, com objetos isolados, novamente com a mesma referência de Brasília, integrados com igreja, palácio municipal, mercado e área comercial, dispostos lado a lado do eixo. A transposição da rodovia, agora chamada de Estrada da Produção, com passagem de nível, conectaria áreas de hotéis e escritórios, terminais de cargas, estação rodoviária e ferroviára, dentro da área industrial (Fig.5). O sistema espacial moderno adotado, como em parte o do bairro Praia de Belas, revela, portanto, princípios de um urbanismo que, assim como na capital federal, abrangia escalas distintas do planejamento, desde relações regionais e metropolitanas, até o desenho espacial de áreas estruturadoras, cuja lógica formal moderna, ainda que não dotasse o projeto de conjuntos urbanos tradicionais e figurativos, segundo a crítica dominante a esses modelos, criava espaços formalmente pertinentes, segundo outra lógica, a da cidade moderna, cujos princípios os arquitetos almejaram perseguir. Idem. p. 11. DELTA do Jacuí – Plano Piloto – 1958. Porto Alegre: Globo, 1958. p. 13. 290 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I O ANFITEATRO a FOICE e o MARTELO o O.V.N.I e o GUARDA-CHUVA ANFITEATRO, MARTELO, GUARDAAuditório Araújo Vianna (1958-1964) O ANFITEATRO – Auditórios e Bastidores da Ribalta Fonte: Fonte: Acervo FAM Fig. 7 - Antigo Auditório Araújo Vianna, no terreno da atual Assembleia Legislativa, José Wiederspahn e Arnaldo Boni, 1927-1960, Porto Alegre-RS. Na trajetória de ambos, somente em uma oportunidade realizaram projeto de arquitetura em coautoria, além dos trabalhos em equipe com outros integrantes, como a própria REFAP e o FAM. O Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, portanto, além de ser obra pública de grande representatividade, exemplar expressivo da arquitetura moderna brasileira no sul, e de certa maneira símbolo das lutas a que Fayet e Moojen se dedicavam na época, é também marco de uma relação de amizade e colaboração que resistiu alguns anos. Junto à Praça da Matriz, na “ágora” de Porto Alegre, esteve, de 1927 a 151 1960, projeto de José Wiederspahn e Arnaldo Boni , o antigo auditório Araújo Vianna, no local onde está a Assembleia Legislativa do Estado. Formava a céu 151 Fig. 6 - Auditório Araujo Vianna no Parque Farroupilha, Carlos Maximiliano Fayet e Moacyr Moojen Marques, 1959-64, Porto Alegre-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado CARNEIRO, Luíz Carlos. Porto Alegre: de aldeia a metrópole. Porto Alegre: Marsiaj Oliveira, . , 1992. p. 20. Sergio MMarques 291 Fonte: Correio do Povo, 02 nov. 1958, p.30 Fig. 8 - Primeiro estudo do Auditório Araújo Vianna no Parque Farroupilha. Anfiteatro e teatro para 400 pessoas, Carlos M. Fayet e Moacyr Moojen, 1958, Porto Alegre-RS. aberto um espaço retangular delimitado por pérgolas, em cuja diagonal estava a concha acústica em forma de um quarto de esfera (Fig.7). Os assentos, oblíquos ao palco, eram na verdade bancos de praça, e de fato continuam até hoje espalhados em várias áreas públicas de Porto Alegre. No entanto, a mesma dinâmica urbana que fez desaparecer a vista do Guaiba, possível do antigo auditório e da Praça da Matriz, bem como o irmão gêmeo do Teatro São 152 153 Pedro , levou o Auditório Araújo Vianna para o Parque Farroupilha (Fig.7) . Com a definição da Assembleia Legislativa do Estado, presidida por 154 Cândido Norberto , pela construção de sua nova sede junto à praça da Matriz, examinadas as alternativas, entre o lote do Solar dos Câmara e outras escassas hipóteses, o terreno ocupado pelo auditório oferecia uma possibilidade favorável. A comissão formada pela Assembleia para conduzir o assunto, 155 coordenada pelo Sr. Oswaldo Goidanich (1917) , entrou em negociação com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, na então administração do Prefeito Edifício destinado ao Poder Judiciário. Depois de incêndio, foi substituído pelo Palácio da Justiça, na década de 1950. Ver: TOMASI, Elisabeth; DEROSSO, Simone Graciela. Auditório Araújo Vianna – 30 anos. Porto Alegre: Unidade Editorial, 1994. 154 A sede da Assembleia localizava-se em antigo casarão situado na Rua Duque de Caxias , atualmente tombado pelo Patrimônio Histórico, e encontrava-se subdimensionada. Cândido Norberto posteriormente contratou Fayet para o projeto de sua casa na Av. Praia de Belas (Fig.15, cap. F) 155 Jornalista ligado às artes plásticas, ao patrimônio histórico, à música e às artes em geral. 153 152 Loureiro da Silva, para permuta da área. A negociação, através de convênio, transcorreu com tranquilidade, definindo-se pela cedência da área junto à Praça da Matriz, ocupada pelo Auditório, de propriedade da PMPA, para a construção da sede da Assembleia, em troca da construção de um novo auditório e um teatro para 400 pessoas, consolidando o Araújo Vianna como a sede da Banda Municipal de Porto Alegre, sua função original principal. O convênio determinava a responsabilidade de administração dos projetos e execução da obra pela Prefeitura e provimentos de recursos pela Assembleia Legislativa. A PMPA encarregou os arquitetos Carlos M. Fayet e Moacyr Moojen Marques, ambos funcionários da Divisão de Urbanismo da Secretaria de 156 Obras do Município na oportunidade, para colaborarem na escolha do novo local e desenvolverem projeto arquitetônico e administração da obra. A análise realizada na ocasião, segundo Fayet e Moojen, levava em consideração a vocação urbana e pública do auditório junto à Matriz, principalmente por sua relação com a praça e a utilização intensa dos usuários do espaço público e centro cívico. O Araújo Vianna tinha como principal função a realização de retretas da Banda Municipal de Porto Alegre e apresentação de concertos acústicos, o que justificava a existência da concha, assim como a dispensa de elementos de isolamento da propagação do som. O conceito original, de Auditório como O Engenheiro Edvaldo Pereira Paiva era o Diretor da Divisão de Urbanismo da Secretaria de Obras, Carlos M. Fayet era Chefe de Seção e Moacyr Moojen Marques, Chefe de Setor. A equipe teve o auxílio do estagiário acadêmico Sagunto (equatoriano) e do funcionário Mílton Bernardes. 156 292 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Correio do Povo, 02 nov. 1958, p.30 Fig. 9 - Primeiro estudo do Auditório Araújo Vianna no Parque Farroupilha. Carlos Maximiliano Fayet e Moacyr Moojen Marques (desenho de Fayet), 1958, Porto Alegre-RS. extensão da área pública, ao ar livre, levou a proposta de sua implantação junto 157 ao Parque Farroupilha , no setor próximo à Avenida Osvaldo Aranha, zona baixa e alagadiça, sem incidência de árvores, em local ocupado periodicamente pelos circos que visitavam a cidade. A Redenção, com a inexistência do Parque Moinhos de Vento e o Marinha do Brasil, construídos posteriormente, era a principal alternativa de lazer de boa parte da população e tinha boas condições de acesso. A localização específica, segundo a percepção dos autores, ainda apresentava a virtude de oferecer articulação geométrica com o eixo do Chafariz das Águas dançantes, em cuja extremidade oposta estava o monumento a Bento Gonçalves, posteriormente transferido para a Avenida João Pessoa, ortogonal ao eixo monumental da Avenida das Nações, construído na ocasião da exposição comemorativa da Revolução Farroupilha, em 1935 (Fig.6). Estabelecido o local, imediatamente iniciaram considerações de projeto referente à necessidade de declividade na área destinada à plateia, atendendo parâmetros de visibilidade presentes na topografia da área anterior, próxima à Matriz, e ausentes no terreno plano dos campos da várzea. O entendimento inicial de partido para o projeto advém, portanto, da ideia de estabelecer uma Segundo Moojen, o projeto original do Parque Farroupilha, de Alfredo Agache, vinha, com modificações, sendo implantado gradativamente, com a criação de vários “recantos” (europeu, chinês, etc.) sendo que a área escolhida ainda não havia sido urbanizada e frequentemente estava em más condições. A implantação do auditório promoveu, portanto, também uma ação de urbanização do setor. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação Entrevista. digital. Edifício FAM, 09 jan. 2011 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 157 Fonte: Acervo FAM Fig. 10 - O Auditório logo após a construção. Imagem impressa no convite para a inauguração, Carlos M. Fayet e Moacyr Moojen, 1964, Porto Alegre-RS. operação sobre o terreno, criando, a partir de uma topografia artificial, condições internas para a organização de um anfiteatro e externas para a desejável integração com o ambiente natural (Fig.8). Face ao considerável volume de terra necessário para esse conceito, e o fato do projeto vencedor para a Assembleia Legislativa propor níveis de subsolo que exigiram escavações expressivas no terreno da Duque de Caxias, ambas as comissões, da Prefeitura e da Assembleia, acordaram na retirada de terra da Matriz para a Redenção, com custo zero, casando conceito e matéria-prima de ambas as praças, além da conjugação de dois momentos da história de um mesmo equipamento. O auditório veio da Praça da Matriz para o Parque Farroupilha junto com o terreno. Dada a inexistência de um programa de necessidades oficial, ou uma demanda específica estabelecida pelo “contratante”, o programa foi definido tendo como ponto de partida as funções exercidas pela banda municipal da cidade, na Praça da Matriz, agregado de outras funções que incrementaram significativamente o programa original, cuja repercussão no volume da obra foi endossada pela Assembleia: aumento de capacidade de público proporcional ao aumento populacional urbano, sanitários decorrentes, concha acústica, Sergio MMarques 293 Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU UniRitter Fig. 11 - Auditório Araújo Vianna, Carlos Maximiliano Fayet e Moacyr Moojen Marques, 1959-1964, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU UniRitter Fig. 12 - Auditório Araújo Vianna, Carlos Maximiliano Fayet e Moacyr Moojen Marques e, 19591964, Porto Alegre-RS. 158 retroárea para a concha, administração, sala de ensaios e camarins com sanitários, além da hipótese de um teatro para 400 pessoas. A equipe de arquitetos recebeu do Secretário de Obras do município uma certa autonomia para determinação dos parâmetros de projeto que foi desenvolvido na Prefeitura. Além do aterro para a formação de um “terreno” no parque, outro fato determinante nas formulações iniciais, segundo Fayet, foi a questão acústica. Através de relações anteriores com representante da EUCATEX em Porto Alegre, foi veiculado estudo do engenheiro Roberto Paulo Richter, especialista em acústica, diretor do Instituto de Acústica de São Paulo, sem ônus para a PMPA . Em uma análise mais precisa da localização do auditório, foram feitas medições do alto nível de ruído, junto a Osvaldo Aranha, na época trafegada por bondes, sugerindo o afastamento do edifício do logradouro e a construção de painéis de fechamento lateral para contenção das ondas sonoras, já que, desde sempre, a premissa do auditório era a de tipologia correspondente ao anfiteatro a céu aberto, como o da Matriz. As paredes como painel de controle do som, no entanto, não deveriam obstaculizar a conexão visual com o 158 Fayet e Moojen viajaram a São Paulo para discutir com o Engenheiro Ritcher as diretrizes para o projeto, provenientes do estudo acústico, e os parâmetros para o projeto da concha acústica. 294 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fonte: Acervo FAM Fig. 13 - Auditório Araújo Vianna, projeto definitivo, implantação geral, Carlos Maximiliano Fayet e Moacyr Moojen Marques, 1959-1964, Porto Alegre-RS. , Doutorado Sergio MMarques 295 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Acervo FAM Fig. 14 - Auditório Araújo Vianna, Carlos Maximiliano Fayet e Moacyr Moojen Marques, 1959-1064, Porto Alegre-RS. 296 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fig. 15 - Auditório Araújo Vianna, acessos laterais e elemento vazado da fachada posterior, Moacyr Carlos Maximiliano Fayet e Moojen Marques, 1959-1964, Porto Alegre-RS. ambiente, sugerindo a configuração de planos soltos, com permeabilidade ao exterior. Fayet chama a atenção que o sistema de paredes soltas sob a marquise favorecia a evacuação do auditório, após o término dos espetáculos, 159 permitindo a saída de uma plateia lotada em menos de cinco minutos . O mesmo engenheiro projetou a concha acústica com forma invulgar de planos fracionados. Na análise realizada pelo engenheiro, a limitação que as conchas acústicas esféricas trazem é o excesso de concentração do som refletido em um mesmo ponto de convergência. A proposta para a nova concha apresentava, portanto, o conceito de planos difusores estabelecendo faces de reflexão em várias direções, configurando a solução de maior complexidade 160 geométrica lá construída . O primeiro estudo, portanto, regrava o espaço do auditório como uma modelagem do terreno circundado por alguns planos, configurando um espaço mais caracterizado como parque e prolongamento da área aberta do que como espaço construído. O estudo assinala a organização geral do auditório, ordenado linearmente sobre o eixo determinado e o terreno artificial criado, circundado pelos “planos acústicos” e encabeçado na face oposta à Avenida Osvaldo Aranha, pela previsão do teatro de 400 lugares usando o palco e a sala de ensaios na retaguarda como elementos comuns (Fig. 8 e 9). Segundo Fayet, surgiu de Moojen a concepção de reunir o conjunto de planos com um elemento horizontal unificador, através de uma laje em forma de 161 anel . Essa marquise, além de configurar o espaço do anfiteatro, unificando as paredes posicionadas segundo o estudo de Richter, foi imaginada também para abrigar o público emergencialmente em momentos de chuva. A marquise adquiriu um formato ovoide em sua projeção horizontal (Fig.10 e 13). Definidos esses elementos, topografia, planos de fechamento, marquise e concha acústica, e estabelecida a capacidade de público julgada conveniente (4.500 lugares), o estudo inicial recebeu ainda o acréscimo de um elemento vertical, na forma de torre de marcação visual para sinalização de eventos. A torre de iluminação, por sua vez, angular à entrada, traça com o Chafariz das Águas Dançantes um outro eixo perpendicular à Avenida das Nações, espinha dorsal do Parque Farroupilha (Fig. 6, 11 e 12). Deveria possuir um sistema de iluminação semelhante ao utilizado pela Marinha brasileira para sinalização, que projeta ao céu fachos de luz ascendentes, a partir de um conjunto de projetores que giram sobre seu próprio eixo, fazendo os cruzamentos dos fachos subirem. A ideia era que o sistema de iluminação anunciasse à cidade os grandes eventos com um certo glamour. O sistema nunca foi instalado. Para o projeto luminotécnico, foi chamado o Engenheiro Sachs Perrone, cuja equipe produziu uma maquete do auditório para estudos. Além da torre, um sistema de iluminação incorporado à marquise criava no bordo interno e externo, preparado para encaixar uma luminária através de uma reentrância em forma de calha lateral, um sistema de iluminação fluorescente em forma de anel, circundando todo o perímetro interno e externo da marquise (Fig.14). Fonte: Acervo FAM 159 MARQUES, Sergio Moacir. Fayet Entrevista_Obra. Entrevista. Gravação digital DVD. Cópia Digitada. Porto Alegre, 2005 Doutorado Entre os testes realizados com a concha acústica, posteriormente, o mais prosaico, realizado seguidamente pelos arquitetos, era a audição de um radinho de pilha colocado junto a concha em qualquer ponto do auditório. 161 MARQUES, Sergio Moacir. Fayet Entrevista_Obra. Entrevista. Gravação digital DVD. Cópia Digitada. Porto Alegre, 2005 Sergio MMarques 297 160 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS O cálculo estrutural da marquise e torre foi realizado por outra funcionária da Prefeitura, Engenheira Elis Ferreira. Mas o problema mais crítico era o da concha que configurava um balanço transversal a partir de uma viga 162 que vencia um vão importante . Neste caso, foi consultado o Engenheiro Prof. Wolf, que calculou e desenhou, com um sistema de coordenadas, cada face da concha para execução de suas formas, bem como informou as coordenadas de cada vértice em um sistema de coordenadas tridimensional, para que a forma pudesse ser montada, já que trazia um problema considerável de geometria descritiva, além do estrutural. Mesmo assim, segundo Moojen, durante a execução, um mestre de obras, chamado “Seu Oto Arrué”, deu importante contribuição na montagem. Realizados os projetos, a coordenação da obra ficou a cargo dos arquitetos, que programaram a realização de licitações por partes. Inicialmente, a obra foi marcada pelo topógrafo da Prefeitura, José da Luz, que locou a posição das estacas. A construção da estrutura ficou a cargo da Construtora Enalco, vencedora da licitação. A inauguração se deu em 1964, na gestão do Prefeito Sereno Chase, cassado durante o golpe militar logo a seguir. Na memória de FAYET e MOOJEN, a inauguração foi comovente, ao som do concerto Abertura 1812 de Piotr Ilitvh Tchaikovski, orquestrado pela OSPA, dirigida pelo maestro Pablo Kolmos, com estampidos de canhões levados ao parque para a efeméride e a presença dos Dragões de Rio Pardo perfilados ao longo da passarela de acesso. O Araújo, ao longo dos anos, foi palco de muitos outros eventos: óperas nos anos 1960, Música Popular Brasileira nos 1970, e Rock and Roll em parte dos 1980 (Fig.21). Durante a Revolução, estabeleceram-se comissões de inquérito militares. Na Prefeitura, a comissão foi dirigida por um coronel da Brigada Militar. Fayet foi chamado e interrogado sobre sua viagem a Cuba, se tinha ligações com o Partido Comunista, e finalmente foi indagado, pelo próprio Coronel o que havia sido a “inspiração” para o projeto do auditório. Fayet, diante desta indagação, expôs questões e definições de arquitetura. Posteriormente, soube-se através de pessoa que integrava a comissão que a questão que incomodava o Coronel era o fato de o Auditório lembrar a foice e o 163 martelo visto de cima (Fig.16). A FOICE E O MARTELO – Comunistas, Militares e Astronautas Fonte: Google Earth Fig. 16 - Auditório Araújo Vianna, Carlos Maximiliano Fayet e Moacyr Moojen Marques, 1959-1964, Porto Alegre-RS. Quando Arthur Drexler escreveu sobre a exposição intitulada Five Architects, realizada no MoMa de Nova York164, a assertiva: [...] para quem realmente tem talento para a arquitetura, ser arquiteto exclui toda a novela política. [...] seu trabalho propõe uma modesta reivindicação: trata-se só de arquitetura, não da salvação do homem, e a redenção da terra. Para aqueles que amam a arquitetura isso não é pouco.165” Tais palavras deixavam exposta, de maneira emblemática, a crítica praticada ao Movimento Moderno, a partir dos anos 1950, a um dos de seus fundamentos: a dimensão revolucionária e utópica da arquitetura e urbanismo modernos, a crença na capacidade de superação das injustiças sociais através Exposição reunindo a obras dos cinco arquitetos nova-iorquinos, Richard Meier, Peter Eisenman, Michael Graves, Paul Gwathmey e John Hedjuk, em 1969. 165 Ver: ROWE, Collin et al. Five architects. Barcelona: Gustavo Gili, 1975. 164 162 163 A concha apresenta vinte e dois metros de boca, doze de profundidade e oito de altura. MARQUES, Sergio Moacir. Fayet Entrevista_Obra. Entrevista. Gravação digital DVD. Cópia Digitada. Porto Alegre, 2005 298 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I Fig. 17 - Auditório Araújo Vianna, retreta da Banda Municipal, Carlos Maximiliano Fayet e Moacyr , Moojen Marques, 1959-1064, Porto Alegre-RS. das mudanças urbanas, do aporte das novas tecnologias, da nova organização espacial das edificações e dos novos usos. A ideologização da arquitetura como uma ferramenta de ação política revelava um espirito intrínseco ao Movimento Moderno: a ação arquitetônica e urbana entendida como instrumento de ação social, objetivando a construção não apenas de um espaço moderno, mas de uma sociedade e de um homem moderno, de natureza mais justa, saudável e ética. Esse fenômeno – e sua correspondência com a própria natureza da arquitetura – é objeto de outras considerações, porém frequentes simplificações dessa relação limitam o entendimento de determinadas circunstâncias históricas e, por outro lado, provocam acontecimentos canhestros. O espírito progressista, a arquitetura como uma causa e a visão revolucionária de fato alimentaram a índole e a vitalidade de ação da jovem vanguarda da arquitetura moderna, além do combustível advindo de sua formação profissional. Fayet e Moojen, durante suas vidas discentes e mais tarde como professores da FA-UFRGS, estiveram sempre dedicados às militâncias políticas, quer como simpatizantes do Partido Comunista, quer como artífices da política acadêmica, essa confundida com o próprio debate de tendências arquitetônicas, entre uma engenharia conservadora e ligada à tradição acadêmica e uma arquitetura renovadora filiada ao Movimento Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Moderno. A produção apaixonada da arquitetura e do urbanismo dedicava-se a estes ideais: afirmação da arquitetura moderna como novo paradigma coletivo e renovação social através das mudanças espaciais. No entanto, como afirmou Antonio Toca Fernandez em relação aos próprios arquitetos modernos, “nem estão todos os que são, nem são todos os 166 que estão” . Assim nem todos os arquitetos modernos eram exatamente de esquerda, nem todos os de esquerda eram exatamente arquitetos. Muitos, sem o desempenho desejado na profissão, esconderam-se atrás do discurso político. Outros usavam o discurso político para obter as oportunidades profissionais desejadas. Mas alguns, como em parte Drexler afirmou, nunca deixaram de fazer arquitetura com competência em detrimento de suas responsabilidades políticas e sociais, mas também, vice-versa, nunca deixaram de pensar coletivamente ao fazer arquitetura, como em parte Drexler e os New York’s Five deixavam antever. Fayet e Moojen projetaram e realizaram a coordenação técnica das obras do Araújo Vianna cada um com um pouco mais de 25 anos de idade. Ambos realizaram o trabalho como funcionários públicos do Município, dentre outros importantes projetos em andamento naquele momento, como o Plano Diretor de Porto Alegre, na equipe coordenada por Edvaldo Paiva, além de suas atividades dedicadas à Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A dedicação à coisa pública, feita com desembaraço e generosidade, resultava em obras públicas representativas de ideais de qualidade urbana e social e de afirmação da nova arquitetura. O desaparecimento do Estado como promotor de obras públicas de qualidade, a partir dos anos 1970, é um fato reconhecido, não obstante, nem sempre é lembrada, com a mesma percepção, a desaparição de técnicos capazes na realização dos serviços de arquitetura e urbanismo nas equipes que compõem o poder público. Ainda algumas simplificações, que confundiam toda ação arquitetônica como um ato comunista, levaram um Coronel da Brigada a intimar Fayet para interrogatório nos inquéritos militares realizados durante a revolução de 1964. Moojen respondeu a dois, um na Prefeitura, outro na universidade. Fayet igualmente a dois, sendo que na Prefeitura, a pretexto de ter projetado o auditório em um partido, cuja implantação emblematizaria a foice e o martelo da bandeira soviética, respondeu de forma inocente as razões arquitetônicas do projeto realizado, desconhecendo a acusação. Mais tarde, soube das suspeitas do Coronel e do absurdo do simplório imaginado: fazer política, através da vista superior de um anfiteatro em meio a um parque, talvez para comover astronautas. Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU UniRitter 166 TOCA, Antonio (org.). Nueva arquitectura en América Latina: Presente y Futuro. México: Gustavo Gili, 1990. p.222. Sergio MMarques 299 O O.V.N.I . – Geometria, Topografia e Território O.V.N.I. Fonte: Acervo FAM Fonte: Projeto original, Acervo FAM Fig. 18 - Auditório Araujo Vianna visto do céu, Carlos Maximiliano Fayet e Moacyr Moojen Marques Marques, 1959-64, Porto Alegre-RS, Porto Alegre-RS. , Fig. 19 - Auditório Araújo Vianna, de cima para baixo: fachada sul (retaguarda, voltada para o Parque Farroupilha), fachada oeste (lateral), fachada norte (Av. Osvaldo Aranha), corte longitudinal no sentido norte-sul, Moacyr Moojen Marques e Carlos Maximiliano Fayet, 1959-1964, Porto AlegreRS. Joseph Rykwert, na aula inaugural do semestre letivo de 2005/1 da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do UniRitter, realizada no novo auditório, 167 ainda em construção , a título de inauguração do espaço, citou seu livro A 168 Sedução do Lugar , onde narra o ritual de marcação do território realizado pelas legiões romanas na tomada de posse e início da construção de acampamentos militares que ocasionaram o surgimento de novas cidades. Como em Brasília, a marcação de eixos sobre o território assinala uma tomada de posse territorial como quem faz um xis no mapa. Nos campos da Redenção, os eixos conectam o traçado beaux-arts do parque, realizado por Agache na década de 1930, com o boulevard da Osvaldo Aranha, em uma ação que se afasta da ideia de objeto voador pousado e se aproxima do conceito de espaço gerado pelas pressões existentes no lugar (Fig.16). A edificação circular, espécie 167 168 Projeto de Cláudio L. G. Araújo e equipe no final da década de 1990. RYKWERT, Joseph. A sedução do lugar. São Paulo: Martins Fontes, 2004. de carrefour ou round-point da geometria implícita, em que pese a força centrípeta ocasionada pela individualidade das formas circulares em relação ao espaço adjacente, nasce da operação suave efetuada sobre a topografia no encontro geométrico dos eixos. Auditório e relevo fundem-se em uma mesma superfície, tornando a construção mais elemento geográfico da terra que objeto voador não identificado do céu. Coroada pela marquise, a topografia operativa faz das lâminas que delimitam o espaço de espetáculos uma pequena faixa horizontal, como um sanduíche prensado pela paisagem e céu (Fig.19). A aguda horizontalidade do edifício é tencionada pela torre de sinalização vertical, oblíqua ao eixo principal de ingresso de quem acessa pela Osvaldo Aranha e perpendicular ao eixo do parque, no sutil jogo geométrico sugerido pelo projeto do auditório. Outro vetor geométrico importante é o próprio eixo de acesso, ladrilhado com peças brancas, que determina potência visual para o acesso em leve aclive, vencendo a topografia artificial e conduzindo o espectador às cotas mais altas da plateia. No percurso, espaços assimétricos com bancos, espelhos 300 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I d´água e canteiros de forma irregular ladeiam o caminho à maneira moderna de ordenar o espaço aberto, como Burle Marx no entorno imediato do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. No meio do trajeto, onde a declividade se acentua, um pórtico em forma de dólmen constituído de planos reafirma a linearidade do trajeto e a autoridade do eixo, conduzindo ao ingresso frontal do auditório, ruptura dos planos de fechamento sob a marquise. Neste ponto, o trajeto assume a ortodoxia do ingresso em casas de espetáculos ou templos. Inflete para as laterais, em ambiente cálido pela sombra da marquise, acentua a aclividade, para emergir sobre a plateia com dramaticidade no impacto visual. Da plateia, descortinavam-se, além do visual desconcertante da concha acústica em forma de fractal, visuais em diagonal, pelos espaços vazios gerados pelos planos de fechamento girados, trazendo para os olhos da plateia, já encharcados com o azul do céu, a natureza circundante (Fig 12 e 17). Externamente, a fachada da retaguarda do palco, apesar de contar com dois pés-direitos, ocasionados pela altura da plateia e o aterro na fachada principal, desmaterializa-se pela predominância do vazio, sublinhado pela porosidade dos elementos vazados que faceiam a sala de ensaios (Fig. 15). Internamente, entre plateia e palco, que se coloca em nível próximo ao do ingresso, abre-se o fosso da orquestra, que além de acentuar a leveza predominante no conjunto, evidencia, associado com a concha, a natureza acústica do espaço, despreparado para som eletrônico, como equivocadamente foi utilizado posteriormente. Em que pesem as limitações de utilização e o desconforto ocasionado periodicamente pelas características climáticas de Porto Alegre, as excelentes condições visuais e acústicas para a plateia do anfiteatro em uso ganhavam singularidade com a presença subliminar do céu na cena do espetáculo. Nem em todos os dias do ano é possível banhar-se no mar ou sentar-se à frente do fogo. Mas assistir a um espetáculo, em uma noite de verão, com o ar fresco no rosto e as estrelas no olhar, era uma qualidade que fazia outras limitações fazerem sentido. O anfiteatro era ato contínuo do território do parque e de sua natureza. O GUARDA CHUVA – a Praça e o Coreto Fonte: Fig. 20 - Auditório Araújo Vianna, Maquete com cobertura, 1976, Carlos Maximiliano Fayet e , Moacyr Moojen Marques, Porto Alegre-RS. A ideia de cobrir o Auditório Araújo Vianna vem desde 1976, quando foi cogitada pela primeira vez a execução de uma cobertura. Entre doze alternativas estudadas na época (Fig.20 e 21), optou-se por uma solução constituída de treliça espacial de alumínio que sustentava um grande assoalho de madeira revestido externamente por chapas planas de alumínio pré-pintadas de branco, com a mesma forma adotada pela solução de hoje. Esta proposta chegou a ter a obra licitada e julgada, no entanto não foi realizada. Ao longo da existência do auditório, a alternativa de cobri-lo sempre gerou muitas polêmicas. No final da década de 1980, surgiram novas 169 propostas de cobertura e novo debate a respeito do uso do espaço, Jovens arquitetos integrados pela equipe do arquiteto Luís Roberto Marques, ensaiaram um estudo de coberturas leves, sob o conceito de abrir um “guarda -chuva” sobre o auditório, publicado nos periódicos locais. 169 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 301 Fonte: Fonte: Fig. 22 - Show da Banda Cheiro de Vida, Auditório Araújo Vianna, 1982, Porto Alegre-RS. Fig. 21 - Auditório Araújo Vianna, Maquete com cobertura, 1976, Carlos Maximiliano Fayet e , Moacyr Moojen Marques, Porto Alegre-RS. motivando a Prefeitura Municipal de Porto Alegre para que, em 1994, fosse elaborado o projeto definitivo de cobertura e recuperação do auditório pelos autores do projeto original. A solução ficou por conta da adaptação da forma concebida originalmente a um sistema de membrana tracionada, resultado da adequação das concepções iniciais aos recursos disponíveis do poder público. A obra, além da cobertura, recuperou a plateia com novas poltronas, os sanitários e as áreas de apoio do auditório, bem como pinturas e recondicionamento geral. A cobertura foi armada com uma estrutura espacial em forma de pórtico, apoiada ao solo em quatro pontos mínimos, dispostos assimetricamente para compensar o desnível interno, sustentando um cilindro treliçado onde se dava o travamento da lona. Sobre a marquise, um novo anel, também treliçado, trouxe a fixação da lona na outra extremidade e vinculou-a ao solo através de discretos cabos que externamente evitam o arrancamento. O novo elemento de cobertura, visto a partir de seus visuais principais, atribuía ao auditório um perfil distinto, com mudança na volumetria, altura da edificação e diminuição da horizontalidade anterior. No entanto, a continuidade do conjunto era garantida pela suavidade da curva da membrana da cobertura que, de certa maneira, era prolongamento dos planos criados pelos taludes (Fig. 21). Passados os dez anos de durabilidade da lona, garantida pelo fabricante, o requisito da cobertura novamente retornou à prancheta. Uma renovação, ora em andamento, e um novo momento certamente recolocarão o Auditório Araújo Vianna como um importante símbolo da cidade e um exemplar singular da arquitetura moderna brasileira ainda sem o devido reconhecimento. 302 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I F, A & M Fayet, Araújo e Moojen mais além da contemporaneidade, afinidades ideológicas e pessoais, assim como coincidências cronológicas em suas biografias, mantiveram como principal elo comum em suas trajetórias, a prática do urbanismo e arquitetura modernos, dentro de certos preceitos metodológicos, conceituais e formais que gradativamente fortaleceu suas relações, ainda que as personalidades e identidades individuais sejam distintas e marcantes. A proximidade arquitetônica, conexão através da qual se abriram outras relações (que como as relações humanas, não perduraram da mesma maneira que as arquitetônicas), assim como abriu caminho para a história comum dos três arquitetos, manteve-se acima de qualquer tema, como um patrimônio coletivo inoxidável, o qual, os três defenderam ao longo de suas carreiras. A restauração do Palácio da Justiça, realizada por Fayet, a recuperação do Auditório Araújo Vianna, por Moojen e a evolução das obras da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, por Araújo, de certa maneira são projetos emblemáticos, desta dedicação perene aos ideais arquitetônicos e urbanísticos perseguidos ao longo de toda a vida. A rearquitetura de obras modernas já consagradas como patrimônio histórico, ou em vias de ser, realizadas pelos próprios autores, ainda atuantes, reflete esta trajetória linear, fundamentada pelo exercicio profissional, que mesmo desviada em determinados momentos por fatores supervenientes ou por experiências paralelas, consolida um lastro que ao longo e ao largo de suas trajetórias, mantém o rumo com segurança. Assim a palavra coincidência, explica apenas em parte a união destes três arquitetos em seu tempo e lugar, já que o encontro de todos nos projetos para a Petrobrás, para o bairro Praia de Belas e o Edifício FAM, dadas as relações arquitetônicas expostas era praticamente inevitável. Acervo Fayet, Acervo Luciane Kinsel, Foto Sergio Marques Fig. 23 - Carlos M. Fayet, restauração Palácio da Justiça e a Deusa Themis, 2005. Cláudio Araújo, visita a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, com alunos da UNIVATES, 2012. Moacyr Moojen Marques, revitalização do Auditório Araújo Vianna, 2012. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 303 Resenhas Biográficas CORONA, LUÍS FERNANDO CORONA formou-se na segunda turma do Curso de Arquitetura do IBA, em 1950, e no de Urbanismo em 1955. Ingressou como professor assistente voluntário de Josef Lutzemberg, catedrático na disciplina Sombras, Perspectivas, Estereotomia, em 1951 (assumindo a cátedra, através de concurso, com a tese “O ensino da perspectiva e o artista plástico”, em 1958), seguindo logo para as cadeiras de Composição de Arquitetura do quarto e quinto anos, sendo portanto professor de Fayet. No mesmo ano, venceu o concurso para a Sociedade dos Amigos da Praia de Imbé, com projeto visivelmente influenciado por Oscar Niemeyer, o qual Luís recebeu em Porto Alegre na casa de seu pai. Durante o golpe militar, foi exonerado da universidade, dedicando-se exclusivamente ao escritório, realizando projetos com Battistino Anelle, Emil Bered e Roberto Félix Veroneze. Arquiteto talentoso, reconhecido por seus colegas e professores, de notória virtuosidade, projetava habilmente, com padrões formais vigentes adotados da cena contemporânea. Ver: SZEKUT, Alessandra Rambo. Vertentes da modernidade no Rio Grande do Sul. A obra do arquiteto Luís Fernando Corona. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura – PROPAR, UFRGS]. Porto Alegre: PROPAR, UFRGS, 2008. SUZY THERESINHA BRÜCKER FAYET (1933) é filha de Lindolpho Brücker e Lola Sehn Brücker. Seu pai cursou Belas Artes junto com Fharion e trabalhava com desenho e retoque de fotografias. Aficcionado por música clássica, iniciou Suzy na música erudita. Suzy ingressou no Curso de Artes no I.B.A. (1949), com dezesseis anos de idade, um ano depois de Fayet, com o objetivo de ser professora de desenho. Aluna do Belas Artes, era muito interessada nas artes e cultura em geral, em particular na música. Lembra que, além das aulas do seu curso, assistia como aluna voluntária aulas de história da música com Paulo Guedes. No quarto ano, se decidiu por arquitetura e resolveu fazer o científico, no colégio Júlio de Castilhos, para prestar vestibular para arquitetura. Ingressou na Arquitetura, em 1954, na turma de Pedro Simch e Edgar do Vale, no mesmo ano em que Fayet se formou (já que cursou simultaneamente artes e científico). No mesmo ano, Fayet ganhou o concurso do Palácio da Justiça, casaram em maio, com Edgar Graeff de padrinho, logo após o início das aulas do primeiro ano de Suzy. Compraram um apartamento na Avenida Protásio Alves, de propriedade de Pinheiro Machado, casado com a filha do engenheiro Ophyr Barcelos, ex-patrão de Fayet na Barcelos e Cia. Posteriormente, foram morar na rua Garibaldi. Suzy, quando se formou, em 1959, integrou o escritório com Fayet e Corona, onde começou o primeiro projeto, a casa para o Sr. Krolikowski. Naquela época, “Coroninha” era namorado de Enilda Ribeiro e os casais se frequentavam. LEÓN JAUSSELY (1875-1933), natural de Toulouse, frequentou a Ecole de Beaux Arts de Toulouse de 1895 a 1897, ganhou o Grand Prix dês Beaux Arts de Toulouse em 1897, continuando seus estudos em Paris com Daumet Esquié, e o Prêmio de Roma em 1903. Em 1905, venceu o prêmio internacional para o plano de enlaces suburbanos de Barcelona, e em 1910, com Charles Micod, o segundo lugar para o plano de Berlim. Em 1919, ganhou o concurso para a extensão de Paris, com Roger-Henri Expert e Luis Sollier. Em 1926, esteve em Montevidéu e proferiu nove conferências sobre urbanismo. Jaussely, nos anos após a Primeira Guerra Mundial, presidiu a Societé Française dês Architectes et Urbanistes, com Alfred Agache de secretário, que buscava, além de políticas de reconsrução de cidades europeias devastadas pela guerra, vincular sua atuação com associações estrangeiras buscando disseminar o urbanismo frances ainda condicionado por importante viés acadêmico, do qual Agache também compartilhava. “Em coincidência com o pensamento arquitetônico da École de Beaux Arts, se via a cidade como um objeto capaz de ser abordado em termos de composição, de um plano de assemblagem em seu desenho, que permitiria, segundo Agache, modelar a cidade e induzir seu desenvolvimento”. Na década de 1920 trabalhou ainda na ampliação de Carcassone, Pau, Grenoble e Toulouse. Foi também diretor de Arquitetura da Exposição Colonial de 1931. Ver: GUTIÉRREZ, Ramon. O PRINCÍPIO do urbanismo na Argentina – parte 1. Arquitextos 087.01, ano Arquitextos, 08, ago 2007. Disponível em: . Acesso em 14 abr. 2011, às 20h 05min. ALBERTO SARTORIS nasceu em Torino, estudou arquitetura na Escola de Belas Artes de Genebra, aderiu ao movimento futurista italiano em 1928 e foi um dos membros fundadores do CIAM conjuntamente com Le Corbusier. Foi também um dos membros fundadores da Escola de Arquitetura Athenaaeum, em Lucerna (1945). Como crítico, escreveu Elementi dell’Architettura Razionale (1932), uma das bases teóricas do racionalismo italiano e, através da crítica, projetou internacionalmente o trabalho dos artistas Manlio Rho e Mario Radice do Astrasttisti Comaschi, primeira experiência artistíca racionalista e abstrata italiana, influenciada pelas vanguardas do suprematismo russo e do De Stijl, aportadas pela obra e pensamento de Sant’elia e Terragni e pela primeira mostra italiana de Kandinsky. Colaborou com Giuseppe Terragni no projeto da cidade satélite operária de Via Anzani, em Omo (1938-1939). Ver: GLUBER, Jacques; ABRIANI, Alberto. Alberto Sartoris. Dalla autobiografia allá critica. Mondadori: Electa, 1990. WERNERWERNER-HEGEMANN nasecu em Mannheim, viveu em Berlim, estudou história e economia em Paris, Pensilvânia e Estrasburgo, doutorando-se em Munique. Trabalhou na exposição de Bostom (1915), foi secretário da primeira exibição inernacional de planejamento urbano em Berlim (1910), realizou conferências em diversas universidades norte-americanas, à convite do People’s Institute de Nova Iorque (1913), foi consultor de planejamento urbano de Oakland e Berkeley e, conjuntamente com Elbert Peets, fundou empresa especializada em planejamento de áreas suburbanas. De volta à Europa em 1921, dedicou-se à história e crítica da arquitetura e urbanismo e às publicações como editor do Wasmuth Monatshefte für Baukunst, e igualmente de diversos artigos e alguns livros. Retornou à América como professor da New School for Social Research de Nova Iorque, e da Architecture School da Columbia University, estabelecendo uma ponte entre os dois continentes, divulgando reciprocamente a arquitetura e urnbanismo entre Alemnaha e E.U.A. Hegemann, no entanto, não compartilhava das ideias formais nem acompanhou o desenvolvimento do Movimento Moderno do meio centro europeu, e seguidamente se opunha às ideias de Le Corbusier. Ver: OECHSLIN, Werner. Between America and Germany: Werner-Hegemann’s approach to urban planning. In: KLEIHUES, Josef Paul; : RATHGEBER, Christina (Eds.). Berlin/New York: Like and unlike: Essays on architecture and art York from 1870 to the present. Nova York: Rizoli, 1993. p. 281-295. ERNESTO DORNELLES nasceu em São Borja (RS) no dia 20 de setembro de 1897, filho do general Ernesto Francisco Dornelles e de Amélia Rodrigues Dornelles. Era primo de Getúlio Dornelles Vargas. Em setembro de 1943, Vargas nomeou Ernesto Dornelles interventor no Rio Grande do Sul. Durante sua interventoria procurou desenvolver uma atuação que amenizasse as dificuldades sociais, agravadas com o aumento do custo de vida decorrente da Segunda Guerra Mundial. Em julho de 1950, convidado por Getúlio Vargas para concorrer ao governo do Rio Grande do Sul, Dornelles aceitou e foi eleito. Durante sua gestão, enfatizou o prosseguimento das obras no campo da energia elétrica. Em fins 304 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I de 1955, com a eleição de Juscelino Kubitschek e João Goulart, respectivamente para a presidência e a vice-presidência da República, Ernesto Dornelles foi convidado a ocupar o Ministério da Agricultura, tomando posse no cargo em 31 de janeiro de 1956. Logo a seguir, Kubitschek decidiu dar nova orientação ao Ministério da Agricultura. Para isso, tornava-se necessária a substituição de Dornelles por alguém mais capaz de promover a reestruturação do setor agrícola. Deste modo, o presidente lhe ofereceu o cargo de membro do conselho administrativo da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), criada a 22 de setembro de 1956 e encarregada da construção de Brasília. Ver: CENTRO de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. A trajetória política de João Goularte: Ernesto Donelles. Disponível em: Acesso em: 18 jan. 2011, às 14h 04min. MICHAEL ARNOULT nasceu na França, formou-se em arquitetura no Rio de Janeiro e trabalhou com Oscar Niemeyer. Conjuntamente com o arquiteto escocês Norman Westwater, formou a indústria dedicada à ideia de levar o design ao grande público, adotando conceitos do início da industrialização, como eficiência da produção em série, modulação e redução no número de peças. Iniciou a produção em Curitiba e depois São Paulo e Rio de Janeiro, até 1973, quando encerrou as atividades. Ver: DENIS, Rafael Cardoso. Uma história introdução à história do design, São Paulo: Edgard Blücher, 2000. Araújo, em relação à produção e o desenho dos dois arquitetos, afirma que "parece ser a tentativa mais séria de industrialização dum móvel de custo médio em nosso país [...], sendo o resultado de dez anos de pesquisa nas séries de móveis modulados de madeira cujo projeto leva em conta a automatização de diversas operações industriais". Ver: ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Relatório de viagem a São Paulo Werner encaminhado ao diretor Werne r Grundig. Cópia datilografada. Porto Alegre, 05 mar. 1967. p. 5. SILVA, JOÃO ALBERTO FONSECA DA SILVA fotógrafo autodidata que de maneira privilegiada documentou a arquitetura e o urbanismo de Porto Alegre, desde os anos 1940 até a década de 1980 quando se aposentou. Assim como o fotógrafo catalão Catalá Roca em Barcelona, foi o fotógrafo preferido e recorrente entre arquitetos como Carlos Alberto de Holanda Mendonça, Ari Mazzini Canarim, Irineu Breitman, Edgar Albuquerque Graeff, Moacyr Moojen Marques, Carlos Luís Gomes Araújo e Carlos Maximiliano Fayet, utilizando recursos sofisticados para a época, como a fotomontagem, distorção da perspectiva, separação de tons, solarização e retícula aplicada. Durante os anos 1950, dedicou-se basicamente à fotografia de arquitetura a partir de trabalhos realizados para Carlos Alberto de Holanda Mendonça, ao qual João Alberto credita seu aprendizado em olhar a arquitetura. da FAU UniRitter. Ver: MAGLIA, Viviane. Acervo João Alberto Fonseca da Silva: Imagens da Modernidade. Disponível em: . Acesso em 14 dez. 2008 às 12h46min. Quando se aposentou, nos anos 1980, Araújo, seu amigo, propôs à coordenação da FAU UniRitter, na época constituída por Cairo A. da Silva, Julio R. Collares e Sergio M. Marques, a estruturação de acervo institucional com seu material, que ocasionou a criação do atual Laboratório de História e Teroria da Arquitetura da FAU UniRitter. Para alguns estudiosos da Arquitetura Moderna, o papel dos fotógrafos na construção do sistema formal consistente e recorrente praticado nos anos 1950 foi tão importante quanto o dos historiadores e críticos de arquitetura. Ver: PIÑON, Hélio; ROCA, Catalá. Arquitectura moderna na Cataluña (1951-1976). Barcelona: Edicions UPC, 1996. JOSÉ CARLOS MÁRIO BORNANCINI (1923-2008), Engenheiro Civil pela UFRGS (1946), professor do Curso de Arquitetura da Escola de Engenharia da UFRGS e NÉLSON PETZOLD (1931), Arquiteto pela FA-UFRGS (1956), seu aluno conjuntamente com o contemporâneo Araújo, iniciaram, nos anos 1960, sociedade na área do projeto do produto – na década de 1970, compartilhada com Henrique Orlandi Jr. E, nos anos 1990, com Paulo de Tarso Silveira Muller (1951) – encerrada em 2007. Petzold, na década de 1960, abandonou a área da arquitetura para dedicar-se ao ensino, na Escola de Engenharia da UFRGS, a convite de Bornancini, e ao desenho do objeto. Bornancini e Petzold desenvolveram mais de quinhentos produtos em diversos segmentos da indústria, de computadores a tratores, passando por tesouras, garrafas térmicas, móveis, fogões, elevadores e brinquedos. Receberam diversos prêmios e destaques, no Brasil e exterior, entre eles, o Prêmio Desenho Industrial do IV Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul (1968), seleção para a Exposição Internacional de Desenho Industrial do Rio de Janeiro (1969), seleção para o MOMA Design, loja do Museu de Arte Moderna de Nova York (1976). Ver. ELLWANGER, Danielle Dickow; LIMA, Guilherme da Cunha. Resgatando uma parceria: Bornancini, Petzold e Müller. Anais do XVIII Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, Associação de Ensino e Pesquisa de Nível Superior de Design do Brasil (AEND/Brasil), São Paulo, 2008. GÜNTER WEIMER (1939), formado em Arquitetura na FA-UFRGS (1963), especializou-se em desenho Industrial pela Hochschule für Gestaltung de Ulm (1967). Posteriormente, dedicou-se à pesquisa e docência de história da arquitetura na UFRGS e PUC-RS, em particular da arquitetura de imigração alemã erudita no Rio Grande do Sul. Günter foi desenhista da PMPA, tendo colaborado com Moojen no projeto da primeira cobertura do mercado Público de Porto Alegre, executada nos anos 1960 e substituída na reforma geral do Mercado Público dos anos 1990. Posteriormente, foi convidado a integrar a equipe de desenhistas para a REFAP, trabalhando com Fayet, Araújo e Moojen. Weimer, nas últimas décadas, passou a criticar severamente a arquitetura moderna assim como a formação oferecida pela escola de Ulm. ECO, UMBERTO ECO nascido em Alexandria, é escritor, filósofo, linguista e bibliófilo italiano. Foi titular da cadeira de Semiótica e diretor da Escola de Ciências Humanas na Universidade de Bolonha, além de professor visitante em Yale, Columbia, Harvard, Collége de France e Universidade de Toronto. Eco, tradicionalmente dedicado a estudos de estética em períodos passados, em especial a Idade Média, ganhou notoriedade internacional com sua investigação sobre as relações da poética contemporânea e a pluralidade de significados, cuja coletânea de ensaios foi publicada sob o título "Obra aberta", em 1962, e a seguir, ainda dentro do campo da semiótica, os estudos acerca da cultura de massa publicados no livro "Apocalípticos e integrados", de 1964. Filiado às vertentes anglosaxônicas da semiótica lideradas por Immanuel Kant e Charles Sanders Peirce, Eco e sua linha de pensamento tiveram grande repercussão e influência no meio acadêmico brasileiro, em especial através de Décio Pignatari, da FAU-USP, e entre interessados no tema, em geral, em especial por via da publicação do livro "Estrutura Ausente", de 1968. Ver: FEDELI, Orlando. Nos labirintos do Eco. São Paulo: Veritas, 2007. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 305 DÉCIO PIGNATARI paulista de Jundiaí, é poeta e ensaísta, tradutor e exprofessor da FAU-USP, foi um dos fundadores do Concretismo, conjuntamente com os irmãos Augusto de Campos e Haroldo de Campos, movimento estético da década de 1950, irradiado pela música, poesia e artes plásticas, cujos fundamentos rejeitavam o expressionismo e defendiam a racionalidade e a abstração. O principal veículo de propagação do movimento era a revista "Noigrandes", editada pelos irmãos Campos, Pignatari e José Lino Grunewaldt (1952-1962). Pignatari, em 1966, recém havia publicado seu livro "Teoria da Poesia Concreta", sendo que, em 1968, publicou sua obra mais conhecida: "Informação, Linguagem e Comunicação". Essa publicação foi livro texto de diversas disciplinas brasileiras dedicadas ao tema, principalmente nos cursos de arquitetura e design, durante os anos 1960 e 1970, tendo tido certa revalorização nos anos 1980, durante as discussões de forma e linguagem, dentro dos debates do Pósmodernismo. Ver: PIGNATARI, Décio. Informação, linguagem e comunicação. São Paulo: Perspectiva, 1968. CARLOS EDUARDO DIAS COMAS natural de Livramento-RS, formou-se arquiteto na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1966). É mestre em Planejamento Urbano e mestre em Arquitetura pela University of Pennsylvania (1977) e doutor em Projet Architectural et Urbain -pela Université de Paris VIII (2002). É professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde atua em projeto e em teoria, história e crítica de arquitetura. Foi coordenador de 2005 a 2008 do Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, PROPAR-UFRGS, assumindo em 2009 a coordenação editorial. Foi coordenador do DOCOMOMO Núcleo-RS de 2005 a 2007 e coordenador geral do DOCOMOMO Brasil de 2008 a 2011, voltando a coordenar o DOCOMOMO Núcleo-RS em 2012. Membro do comité assessor da área no CNPq em duas ocasiões. Representante adjunto da área na CAPES no triênio 2005-2007. Integra o conselho editorial das revistas Arqtexto (UFRGS), Arcos (ESDI/UERJ), Arquitextos- Vitruvius e Architectural Research Quarterly (Cambridge University). Membro do CICA (Comité Internacional dos Críticos de Arquitetura) da União Internacional de Arquitetos. Publicou extensamente sobre a arquitetura e o urbanismo modernos brasileiros e elaborado um número significativo de projetos de arquitetura e urbanismo. Colaborou com Araújo em inúmeros projetos e com quem manteve sempre uma forte relação de afinidade. CORRÊA, ERNANI DIAS CORRÊA natural de Uruguaiana, era engenheiro arquiteto pela Escola Nacional de Belas Artes-RJ, contemporâneo e formado com Atílio Correia Lima e Lúcio Costa em 1924. Professor de Arquitetura Analítica (catedrático a partir de 1946), nesta instituição estudavam os estilos históricos e os elementos de arquitetura, nos cursos de arquitetura da Escola de Engenharia e do IBA. Estabeleceu-se em Porto Alegre em 1926, com firma própria denominada Architectura – Construção, e posteriormente trabalhou na Secretaria de Obras do Estado no urbanismo, intervindo em Iraí, Arroio do Meio e Vila Floresta, em Porto Alegre. Em 1939, participu da Criação do Curso Técnico de Arquitetura e foi quem indicou a criação efetiva do Curso Superior de Arquitetura do IBA no Conselho Técnico Administrativo, em 1944. Reconhecido por sua erudição, construiu uma ponte entre as artes plásticas, a engenharia e a arquitetura no Estado, eleito como o primeiro presidente do Departamento do Rio Grande do Sul do Instituto de Arquitetos do Brasil, em 1948, no mesmo ano em que, convocado pelo Reitor da UFRGS, Armando Câmara, para integrar comissão formada com o intuito de dirimir os conflitos entre os cursos de arquitetura, propôs a unificação de ambos e a formação da Faculdade de Arquitetura. Era um ano mais novo que seu irmão, Tasso Bolivar Dias Correa, que esteve na direção do IBA e da Faculdade de Arquitetura em diversas oportunidades entre 1936 e 1958. Ver: SIMON, Cirio. Origens do Instituto de Artes da UFRGS. Etapas entre 1908-1962 e contribuições na constituição de expressões de autonomia no sistema de artes visuais do Rio Grande do Sul. [Tese de doutorado].Porto Alegre: FFCH - PUCRS, 2008. Cópia digital. ÂNGELO GUIDO GNOCCHI nasceu em Cremona, Itália. Filho de pedreiro, ornamentador de frontespícios, migrado da Itália, era pintor, escultor, gravador e crítico. Destacou-se pela sua literatura crítica e foi um dos primeiros a abordar o tema da arte moderna no Estado. Iniciou seus estudos no Liceu de Artes e Ofícios em São Paulo. Mudou-se para Porto Alegre em 1925, onde realizou no mesmo ano conferência sobre a arte moderna e posteriormente participou da exposição do Centenário Farroupilha em 1935. Foi diretor do IBA de 1959 a 1962. Era professor de História da Arte e Estética. Ver: ROSA DA SILVA, Ursula. em A fundamentação estética da critica de arte em Angelo Guido – a crítica de arte sob o enfoque de uma história de ideias. [Tese de doutorado]. Porto Alegre: IFCH, PUCRS, 2002. Cópia digital. Lembra de exercícios de desenhos abstratos, aos moldes dos realizados na Bauhaus, com modulações e gradiente de cores, além de desenho de observação. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. NÉLSON NÉLSON SOUZA autor do projeto da Estação de Passageiros do Aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre, projetado na Secretaria de Obras Públicas (1950), com várias conexões arquitetônicas com o aeroporto Santos Dumont, projeto de concurso dos Irmãos Roberto no Rio De Janeiro (1937). Posteriotrmente, Moojen realizou o projeto de aumento e readequação dos interiores do terminal Salgado Filho, em 1970. NélsonNélson Souza é autor de publicação que relaciona a arquitetura moderna com os movimentos políticos do país. Ver: SOUZA, NélsonNélson. A questão da democracia e a arquitetura moderna no Brasil. Porto Alegre: Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento RS, 1979. CARLOS GÓMEZ GAVASSO egresso da Udelar, por conta do grande prêmio da escola trabalhou com Le Corbusier em 1933. Posteriormente, dedicou-se intensamente à docência e à investigação, participando da criação do Instituto de Teoria da Arquitetura e Urbanismo (ITU), em 1936, e dedicando-se ao planejamento urbano. Projetou a extensão territorial do balneário La Paloma, no Uruguai, e obteve o 2° lugar no concurso do Palácio Legislativo de Quito, em 1946. Foi um dos impulsores do fortalecimento da arquitetura moderna no meio acadêmico no Uruguai, com as reformas da década de 1950. Com a ditadura, exilou-se do país de 1973 a 1984. Ver: MARGENAT, Juan Pedro. Tiempos modernos – arquitectura uruguaya afím a las vanguardias 1925-1940. Montevidéu: Tradinco, 2009. ISIDORO SINGER argentino naturalizado Uruguaio. Com a crise política e econômica do Uruguai nos anos 1970, veio ao Brasil em busca de trabalho e, por indicação de Paiva, recebeu apoio e assitência de Moojen, cultivando uma sólida amizade. Singer, neste período, através da Construtora Ivo A. Rizzo e outros contatos, realizou inúmeros projetos no Rio Grande do Sul, como as casas Lauro Rabello (1974), Dr. João Carlos Biernate (1978) e Telmo Tavarez (1980), em Porto Alegre; os edifícios Teresópolis (1975), Ilha Terceira (1976) e Passárgada (1980), em Porto Alegre; Torre da Prata (1977), Morada das Torres (1978) e Morada da Praça (1979), em Torres-RS; além da Sociedade Amigos Praia de Torres. Também os escritórios Gethal Persiplast (1974), além de inúmeros projetos realizados em Porto Alegre, Bagé, Gramado, Torres, Florianopólis, São Luis do Maranhão, 306 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capitulo I realizados nos anos 1980 e 1990, em paralelo com prolífera produção no Uruguai, nos mesmos Portfólio. anos, como o Complexo Teatral S.O.D.R.E. (1986) em Montevidéu. Ver: SINGER, Isidoro. Portfólio. Cópia Impressa. NELSON INDA Natural de Montevidéu, formado em 1972 na UDELAR. De 1969 a 1973 e de 1985 a 1991 foi professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade da República, estando no último período como professor de Projetos de Arquitetura com responsabilidade dos cursos Desenho Urbano e Planejamento. Do final de 1976 a início de 1979, em Porto Alegre trabalhou com o Pedro Simch, com Carlos M. Fayet na Aqua-Rodoviária de Vitória-ES e com Sclowsky & Saltz em Jurerê Internacional - SC. Desde a sua fundação em 1980 participou como membro do Grupo de Estudos Urbanos, liderado por Mariano Arana. Entre 1981 e 1985, foi vice-presidente da Sociedade de Arquitetos do Uruguai. De 1990 a 1998 se juntou à equipe do Governo Municipal de Montevidéu, onde ocupou sucessivamente os cargos de Diretor Consultivo da Comissão do Plano, Projetos e Obras, e desde 1992 o primeiro Diretor de Planejamento. Nesta função, ele foi responsável por todas as fases de elaboração do Plano de Ordenamento aprovado em Montevidéu, em 1998 e atualmente em vigor. Como arquiteto, ganhou, em 1968, a Menção no Concurso Internacional de Ideias no Lago Como, na Itália, e 2004 na IV Bienal Ibero Americana de Arquitetura e Urbanismo com o trabalho "Cuareim comum" com a melhor atuação em Habitação Social na América Latina no período 1994-2004. Além disto tem sido Delegado Nacional, jurado, membro do Conselho Consultivo e assessor da Bienal de Arquitetura e Urbanismo. (BIAU). Atualmente atua no Gabinete do Patrimônio Cultural da Comissão e, é o gerente do plano de Colonia del Sacramento inscrito na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. Integra Equipa de Gestão do Plano de Gestão e Gestão de Colonia del Sacramento entregue ao Centro do Patrimônio Mundial em janeiro de 2012. NESTOR IBRAHIM NADRUZ, nasceu em 1928. Formado em Arquitetura e NADRUZ Urbanismo, UFRGS, em 1957 e 1961, respectivamente. Ingressou no serviço público a convite de Paiva, em 1956, inicialmente como fotógrafo, para elaborar a documentação gráfica da Lei 2046/59. Posteriormente transferido para a Secretaria Municipal de Educação, após a aposentadoria de Paiva projetou algumas escolas. Depois de alguns anos, na Divisão de Urbanismo assumiu a chefia de seção da Divisão de Urbanização, onde se especializou em parcelamento do solo, na SMOV. Com Moojen, Leo, Vallandro e Hekman, no IAB. realizou vários projetos residenciais, paisagísticos e interiores, assim como conjunto residencial, na zona Norte da Cidade, com o arq. Walmor Fortes e outros construídos pelo BNH. A partir 1996 já aposentado participou por seis anos no CMDUA. LÉO FERREIRA DA SILVA nasceu em Jauguarão-RS e formou-se em Arquitetura (1957) e Urbanismo (1960) na FAUFRGS. Ingressou, como estudante, na PMPA em 1957, onde foi chefe da Seção de Planejamento. Começou a trabalhar com Moojen como desenhista do concurso do CEPA e permaneceu como sócio em diversos trabalhos até seu falecimento em 2002. JOÃO JOSÉ VALLANDRO nasceu em Santa Maria e formou-se em arquitetura em 1953, juntamente com Fayet. Chegaram a trabalhar juntos, um tempo curto, logo a seguir, ingressou na PMPA na Divisão de Urbanismo, a convite de Paiva e foi professor de desenho da FAUFRGS até sua aposentadoria. Manteve como Moojen, atividade privada paralela durante toda sua carreira, tendo sido o associado mais longo de Moojen. Foi também Diretor de obras do SESC-RS. Faleceu em 1996. MARCOS DAVID HEKMAN nasceu em Porto Alegre, em 1931. Entrou com Moojen na arquitetura do I.B.A. em 1950 e formaram-se juntos na FA/UFRGS em 1954. Ambos ingressaram no Curso de Urbanismo da FA/UFRGS em 1960, sendo que logo a seguir Marcos, a convite de Paiva entrou para a equipe de ensino de urbanismo da graduação na escola, conjuntamente com Veronese e Moojen. Posteriormente migrou para o ensino de paisagismo onde permaneceu até sua aoposentadoria, tendo sido vice-diretor nos anos 1980. Em 1961, com o deslocamento da equipe do planejamento do Município para o Estado (Paiva e Moojen) acompanhando Brizola, mas com o retorno de Moojen para a Prefeitura, coube a Hekman acompanhar Paiva no Gabinete de Planejamento do Estado de onde posteriormente se deslocou para a Secretaria de Obras Públicas. Projetou, para o Estado, o Pavilhão de divulgação de obras do Governo, em 1961, o célebre "Mata-Borrão". Na atividade privada, compartilhou escritório com Moojen, desde a localização no Banco Nacional do Comércio até o Edifício do IAB, de onde saiu nos anos 1970, para montar escritório próprio dedicado a projetos e construção. Participu e realizou inúmerops projetos. Mais recentemente classificou-se em 2° lugar, com Milton Campos e Morganti, no Concurso do Porto dos Casais em 1996. Sobre o pavilhão, ver LUCCAS, Luís Henrique Haas. Quando o efêmro se perpetua: um pavilhão em Porto Alegre no começo dos anos sessenta. Disponível em: < http://www.vitruvius .com. br/revistas/ read/arquitextos/ 12.135/4001>. Acesso em 22 jul. às 12h53min. Lista de figuras das Resenhas Biográficas Biográficas: LUÍS FERNANDO CORONA - Fonte: Acervo FAM SUZY THERESINHA BRÜCKER FAYET - Fonte: Acervo FAM LEÓN JAUSSELY - Fonte: ALBERTO SARTORIS - Fonte: WERNER-HEGEMANN - Fonte: < http://www.ushmm.org/museum/exhibit/online/bookburning/author_detail.php?content=bbhegema.xml> ERNESTO DORNELLES - Fonte: < http://saofranciscodepaula.blogspot.com.br/2011_03_24_archive.html> MICHAEL ARNOULT - Fonte: JOÃO ALBERTO FONSECA DA SILVA - Fonte: < http://www.uniritter.edu.br/biblioteca/blog/2011/11/porto-alegre-perde-seu-grandefotografo/> JOSÉ CARLOS MÁRIO BORNANCINI e NÉLSON PETZOLD - Fonte: http://www.esdi.uerj.br/noticias/p_nov11.shtml CARLOS EDUARDO DIAS COMAS - Fonte: ERNANI DIAS CORREA - Fonte: ÂNGELO GUIDO GNOCCHI - Fonte: NÉLSON SOUZA - Fonte: CARLOS GÓMEZ GAVASSO - Fonte: < http://www.farq.edu.uy/estructura/talleres/t+/Historia.html> ISIDORO SINGER - Fonte: UMBERTO ECO - Fonte: DECIO PIGNATARI - Fonte: CARLOS EDUARDO DIAS COMAS - < http://www.arcoweb.com.br/artigos/arquitetura-brasileira-criticos-respondem-25-032011.html> ERNANI DIAS CORRÊA - Acervo FAM ÂNGELO GUIDO GNOCCHI - Acervo FAM NÉLSON SOUZA - < http://www.ufrgs.br/comunicacaosocial/jornaldauniversidade/114/pagina8e9.htm> CARLOS GÓMEZ GAVASSO - Acervo FAM ISIDORO SINGER - < http://www.arquitectosinger.com/portada.html> NELSON INDA - Curriculum vitae Nelson Inda NESTOR IBRAHIM NADRUZ < http://poavive.wordpress.com/page/37/?archives-list=1> LÉO FERREIRA DA SILVA - Desenho de "Pedruka", Acervo FAM. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 307 Figura da Capa: Detalhe do trecho B da I Perimetral de Porto Alegre,1956-1959. Perspectiva de Moacyr Moojen Marques. Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954 - 1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964, p. 61. Contracapa: Figuras da Contracapa : De cima para baixo: Concurso Assembleia Legislativa, Menção Honrosa, Vista geral desde a Praça da Matriz, Moacyr Moojen, Marcos David Hekman, Luis Carlos Cunha, 1958, Porto Alegre-RS. Desenho Caroline Valicente, Sergio Marques, Acervo FAM. Residência Maurício Sirotsky Sobrinho, Moacyr Moojen, Marcos D. Hekman, 1963, Porto Alegre-RS. Desenhos Acad. Carolina Bonfada, B.I.C. FAU UniRitter, Sergio Marques., 2011. Acervo FAM. Secretaria Municipal de Obras e Viação S.M.O.V., Fachada Norte, Moacyr Moojen, João J. Vallandro e Léo F. da Silva, 1966, Porto AlegreRS. Fonte: Desenho Acad. Valentina M. Marques, B.I.C. FAU UniRitter, Sergio Marques 2008. Acervo FAM. 308 Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior - PDSE - CAPES FAYET, ARAÚJO & MOOJEN ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL - 1950/1970 Volume 5 Capítulo II - FAMP_EA REFAP e TEDUT FAMP_EA Faculdade de Arquitetura - UFRGS Rua Sarmento Leite, 320 /201 90050-170 Porto Alegre/RS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Fone/Fax: 55 51 3316-3485 FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA - PROPAR ppgarq@vortex.ufrgs.br TESE DE DOUTORADO Orient. Carlos E. D. Comas/ Co-Orient. Hélio Piñon Sergio Moacir Marques CAPÍTULO II MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II CAPITULO II Petróleo, Petrobras e a Equipe de Arquitetos FAMP_EA REFAP e TEDUT (1962-1968) Fonte: Fonte: Acervo FAM Fig. 2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira. 1962-1968, Canoas-RS. A ligação de Fayet, Araújo, Moojen e Pereira com a Petrobras iniciou por intermédio do Engenheiro José Carlos Wellausen, colega de Araújo dos tempos da engenharia (Fig.3), e pelas afinidades políticas deste com o meio da 1 arquitetura, sintonizadas com o movimento nacionalista arraigado na Petrobras . A campanha “O Petróleo é nosso”, encampada por políticos e intelectuais do 2 calibre de Monteiro Lobato , revelava a face progressista disseminada na Com o final da II Guerra e o fim da ditadura getulista, entre militares e intelectuais de esquerda recrudesceu o entendimento sobre a importância estratégica do petróleo e o risco da exploração pela iniciativa privada, já que fatalmente cairia nas mãos de trustes internacionais. Essa posição, substanciada no movimento “O petróleo é nosso”, ganhou a opinião pública, encampada pela UNE, sindicalistas e o PCB, legal até 1947, combatidos pela UDN, pelos partidos privatistas e pela imprensa, já em clima de guerra fria. Confundido com o fervoroso debate anti-imperialismo versus anticomunismo, o monopólio nacional do petróleo prevaleceu com o surgimento da Petrobras em 1953 no governo de Getúlio Vargas e o Estado Novo. Ver: COHN, Gabriel. Nacionalismo e petróleo. petróleo São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1968. 2 Monteiro Lobato, desde a década de 1930, manifestava-se publicamente pela importância estratégica da exploração do Petróleo no Brasil, convicção adquirida em sua estadia nos E.U.A de Sergio M. Marques 309 1 Fig. 1 - Portaria, detalhe da caixilharia e laje de cobertura. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira. Coordenação Miguel Pereira, 1963, Canoas-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM Fig. 3 - Sede da Mercedes Benz, viagem de formatura. Da esquerda para a direita, José C. Wellausen (2° fila), Flávio Pasquali, não identificados, Gemma, Julio Rubbo, Cláudio Araújo, Rolf Young, Paulo Lafayet, Livone (1° fila), 1954, Stuttgart-Alemanha (identificação de memória de Araújo). instituição desde os governos Getúlio Vargas até João Goulart, passando pelo empenho do governador Engenheiro Leonel de Moura Brizola em trazer a 3 Refinaria Alberto Pasqualini – REFAP para o Estado (Figs. 4 e 5). 1927 a 1931, e atacava de forma contundente políticos, militares e técnicos que em sua opinião prestavam serviços aos interesses internacionais, chegando a ser preso em 1940 por acusar injustamente o General Horta Barbosa. Criou o personagem Jeca Tatu, protótipo da lerdeza, safadeza e incompetência, como crítica à burocracia brasileira no tema da exploração de energia. Após a sua morte em 1948, o movimento “O petróleo é nosso” pegou fogo. Idem. 3 A Refinaria foi construída na Região Metropolitana de Porto Alegre, no Município de Canoas, com acesso pela BR-116. A pedra fundamental foi colocada em 21 de dezembro de 1961 e as obras, realizadas em duas etapas, iniciaram no ano seguinte, durante os governos do Presidente João Goulart e do Governador Leonel de Moura Brizola. Os projetos foram sendo realizados durante a execução da obra. A inauguração ocorreu em 16 de setembro de 1968, nos governos do Presidente Costa e Silva e do Governador Perachi Barcellos. Em 1973, a área inicial, antiga fazenda desapropriada da família Cirne e Lima, de 217 hectares, foi ampliada para 500 hectares. O nome é em homenagem ao senador gaúcho, Alberto Pasqualini, que relatou o projeto de criação da Petrobras e um dos grandes defensores do monopólio do petróleo pela estatal brasileira. Para ver 310 Fonte: Fig. 4 - Campanha e mobilização nacional, "O Petróleo é nosso", iniciada na A.B.I. em 1948. Reunião do Sindicato de Petroleiros, inicio da década de 1950, Rio de Janeiro-RJ. O gênio nacionalista e progressista encontrava eco nas pretensões renovadoras da arquitetura moderna, em particular aquela que consubstanciava certo caráter nacional, com o qual a região sul manteve algum retardo e reticência. Wellausen, alto funcionário da Petrobras, foi encarregado de selecionar os arquitetos para a realização do projeto da refinaria que, além da envergadura e complexidade, trazia em seu bojo a vocação de obra basilar da arquitetura contemporânea representativa na região. Escolheu aqueles que, em seu discernimento, tinham competência e afinidade à causa subjacente ao 4 trabalho . Assim como o Ministro Capanema no Rio de Janeiro, no episódio do mais sobre a importância histórica, política e social da exploração do petróleo no Brasil, ver: VICTOR, Mário. A batalha do petróleo brasileiro. São Paulo: Civilização Brasileira, 1991; e também para maior compreensão sobre a exploração do petróleo e produção de combustíveis desde o ponto de vista estratégico, ver: SHAH, Sonia. A História do Petróleo. Porto Alegre: L&PM, 2007. 4 Posteriormente, durante a execução das obras, Wellausen assumiu o posto de subchefe da Petrobras. O Chefe de Obras era o Engenheiro Fernando Ribeiro e o Supervisor Técnico o Engenheiro Percy Lousada de Abreu. Mais tarde, com a revolução, a chefia foi assumida pelo interventor Oriovaldo de Souza (militar) e a Supervisão Técnica pelo Engenheiro Fernando Guidão de MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: MESP, Wellausen focou o contexto das novas gerações filiadas à vanguarda moderna que se insurgia no Estado, vinculadas ao meio intelectualizado e engajadas politicamente na profissão, normalmente nucleadas na universidade, no IAB, no serviço público e/ou em escritórios que a grande maioria mantinha com dedicação religiosa. Na carona do espírito desenvolvimentista e da independência energética, a Petrobras enxergava na construção de suas instalações a oportunidade de constituir uma imagem pública de modernidade signatária da identidade nacional almejada. A partir destes critérios e relações para as instalações no Rio Grande do Sul, indicou os três jovens arquitetos, Fayet, Araújo e Moojen primeiramente, simpáticos à tendência progressista e profissionais emergentes da arquitetura moderna na região, e Miguel Alves 5 Pereira (1932) , ainda mais jovem, logo a seguir, com a orientação de atenderem o complexo rol de atividades e exigências técnicas do urbanismo, arquitetura, paisagismo e direção de obras da refinaria e terminal, mas 6 principalmente com o intuito de inovar formal e tecnologicamente . 7 A Equipe de Arquitetos – EA , como denominado inicialmente o grupo pela Petrobras, se organizou no escritório de Cláudio Araújo, no Edifício Comendador Azevedo, em frente ao Paço Municipal, sem constituir figura Souza. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. 20 abr. 2008. 5 Ver resenha biográfica comentada no final do capítulo 6 Fayet, neste momento dividia parceria com Luis Fernando Corona e Suzy Fayet, e, além de trabalhar como professor da UFRGS, integrava a equipe de planejamento do município; Moojen, sócio de Marcos David Hekman (1931), João José Vallandro e Léo Ferreira da Silva, era igualmente professor e da equipe municipal; Cláudio Araújo, naquela oportunidade, trabalhava com Carlos Antônio Mancuso; e, por fim, Miguel Pereira dividia sociedade com João Carlos Paiva. 7 Para efeitos do contrato, foi criada a sigla “EA”, Equipe de Arquitetos, adotada mais tarde como entidade jurídica na sociedade de Fayet e Araújo, iniciada com os projetos para a CEASA, em 1970, e extinta somente com o falecimento de Fayet em 2007. No projeto da Refinaria, além dos quatro arquitetos, colaboraram em momentos diversos Vinicius Dani, Valério Azanello, Félix Marcon, Darcy João Gobbi, Francisco José da Silva, Gunter Weimer, Paulo Franke, Cláudio Mann, Raul Pinheiro Machado, João Lunardi, Deloy Becker (posteriormente colaborou com o escritório de Moojen por muitos anos), José Efrain Sandoval, Nelson Gaidzinski, Caio Tácito Rauber, Jorge Derenji, Alberto Adomili, Cláudio Casacia, Gládis Kier, Inês D’Ávila, Ivan Mizoguchi, Oneide Gobbi, Eron Tadeu Feijó, Newton Burrmeister, Vera Maria Bieri, Joaquim da Rosa Brum, Herma Olchowski. As maquetes foram feitas por Olívio Bergmann. O cálculo estrutural foi realizado pelo Arquiteto Benno Sperhacke, e pelos Engenheiros Dicran Gureguian, Eugênio Carlos Knorr e Erwino Fritsche. As instalações pela Engenharia Bojunga Dias Ltda., com especificações dos Engenheiros Raul Rego Faillace e Fernando Campos de Souza. O ar condicionado por Otto Hofmeister Celibrasil, com o Engenheiro Carlos de Medeiros. Projeto rodoviário do Eng. Cloraldino Severo. Paisagismo do Arquiteto Cláudio Ferraro. Projetos especiais: sonorização do Engenheiro Paulo Renato de Souza, Acústica dos Engenheiros Ennio Cruz da Costa, Pontes Rolantes de Otto Koh. Alguns fornecedores foram os Elevadores Sûr (maquinas e elevadores), Wallig S.A. (cozinhas) e Comercial Luce Ltda. (postos de serviço). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fig. 5 - Comédia cinematográfica "O petróleo é nosso!", produzido pela Produtora Unida, dirigida por Watson Macedo, estrelada por Emilinha Borba, 1954, Rio de Janeiro-RJ. jurídica, mantendo, portanto, o conceito de arquitetos autônomos reunidos, 8 encarregados dos trabalhos . O desenvolvimento do plano diretor para a gleba, tão estratégico tanto para o resultado espacial do conjunto quanto para a arquitetura dos pavilhões propriamente ditos, partiu de premissas determinadas conjuntamente pela equipe, e duas diretrizes fundamentais estruturam a lógica do partido urbanístico adotado: aproveitamento dos valores da paisagem local, tanto pela manutenção máxima possível do relevo – evolvendo um conjunto O encargo contratual era considerável para quatro jovens arquitetos (Fayet e Moojen com trinta e dois anos, Araújo com trinta e um e Pereira com trinta), dada a responsabilidade técnica pelos projetos de arquitetura e engenharia, acompanhamento e fiscalização da execução. Um episódio exemplifica essa responsabilidade: durante a execução de um dos pavilhões, a flecha de uma viga em balanço, mesmo comprovadamente dentro das normas, não foi aceita pela Petrobras. Arquitetos, calculistas e empresa executora, pagaram os custos de demolição e nova execução. Os honorários dos arquitetos para aquele edifício não foram suficientes para o custeio. MARQUES, . Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. Petrobras, jun. 2008. Entrevista. 8 Sergio M. Marques 311 Fonte: Fonte: Google Earth Fig. 7 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira, 1962-1968, Canoas-RS. Fig. 6 - Capivara próxima ao espelho d´água do Centro de Treinamentos, REFAP, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira, 1963, Canoas-RS. considerável de vegetação nativa e concentração natural de água preservados, mantendo boa parte da topografia original e açude existente, originários da Fazenda da Brigadeira (Bairro São Luís – Canoas-RS), sede do local, cuja construção principal também foi preservada – quanto pela implantação das edificações novas e área industrial em articulação respeitosa com o ambiente (Fig.6); organização geral das edificações e zoneamento da área industrial de forma a constituir espaço urbano ordenado por objetos autônomos, inseridos na paisagem, relacionados entre si, tanto através de sistema espacial abstrato e fluido – onde perspectivas visuais relacionam formalmente as unidades, formando uma espécie de jogo entre peças distintas de um mesmo sistema – quanto pelas relações tipológicas estabelecidas entre as edificações. O princípio de organização espacial e formal dos diversos pavilhões evidencia a utilização de critérios modernos de projeto, com certa universalidade, porém adequados às variáveis de programa e sítio, fortemente condicionados por parâmetros técnicos e construtivos, estabelecendo um conjunto de relações topológicas entre eles, desde o ponto de vista urbano e sistêmico/tipológico até o ponto de vista formal das arquiteturas (Fig.7). Na escala urbana, portanto, a estratégia de projeto foi conceber, em equipe, partido geral para a implantação do conjunto, com ênfase em sistema espacial controlado funcionalmente mas qualificado formalmente, observando parâmetros ambientais, através de desenho abstrato ordenado e relações visuais consequentes. O conjunto conforma espaço urbano moderno controlado espacialmente, mesmo que desenhado a partir de parâmetros de funcionalidade, circulação e segurança determinantes no caso: a organização geral do complexo obedece ordenamento cartesiano de quadras ortogonais regulares para a área industrial – que ocupa a metade norte da gleba, dividida em duas longitudinalmente, com ocupação da perna do “L” a norte de forma a “encaixar” a perna do “L” da área do refeitório, configurando dois “Ls” associados, como convém às exigências programáticas – e um traçado mais irregular à garden city, conectando pavilhões horizontalizados e valorizando a paisagem natural nas áreas coletivas, com Refeitório, Administração, 9 Superintendência, Serviços Médicos, etc. (Fig.8) . A área urbana industrial foi projetada pela estatal italiana especializada em instalações industriais Hydrocarbure, vencedora da licitação, bem como o projeto das instalações industriais que, em determinados momentos, interagiram com a arquitetura dos pavilhões projetados pela Equipe de Arquitetos. Idem. 9 312 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ Fonte: XVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura Moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987, p. 183. Acervo FAM, Google Earth 1950/1970 Capitulo II Fig. 8 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras. À esquerda, planta parcial do complexo: 1 - Armazenagem de Produtos; 2 - Unidade de Solventes; unidade de Processo; 4 - Separador de água e óleo; 5 - Bacia de aeração. A - Administração; B - Recepção; C - Serviços médicos; D Garagem e Oficinas; E - Refeitório; F - Segurança; G - Laboratório; H - Superintendência de Produção; I - Centro de Treinamento; J - Superintendência; L - Oficinas; M - Almoxarifado; N Casa de Transferência. À direita, acima, imagem do entroncamento viário. À direita abaixo, primeiro estudo de implantação do acesso, área dos almoxarifados e restaurante. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira. 1962-1968, Canoas-RS. A estratégia do projeto, subvertendo a prática de tabula rasa de nivelar o terreno integralmente – critério comum nas instalações industriais, igualmente intencionada inicialmente pela Petrobras para o caso – preservou as condições topográficas naturais e a mata nativa e condicionou substantivamente os princípios de organização urbana e ocupação espacial adotados, localizando nas partes mais altas os edifícios administrativos e serviços, em quatro conjuntos, de forma a estabelecer relações arquitetônicas entre si, com a paisagem e restringindo o terrapleno à área industrial propriamente dita, onde o sistema espacial é rigorosamente subordinado à infraestrutura. A ideia de constituição de conjuntos urbanos modernos revela sensibilidade incomum em Fonte: Google Earth Fig. 9 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras. Área do Refeitório, Centro de Treinamentos (antiga Superintendência e Administração) e antiga sede da fazenda. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira, 1962-1968, Canoas-RS. complexos industriais, com poucos antecedentes no relativamente recente 10 processo de industrialização do país . 10 Dentre antecedentes da Arquitetura Moderna Brasileira de edifícios industriais com sistemas arquitetônicos transcendentes às exigências estritamente funcionais do process industrial, são Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 313 Fonte: . Fig. 10 - À esquerda, Fábrica de Biscoitos Duchen, Oscar Niemeyer e Hélio Uchoa, 1950-51, Guarulhos-SP. À direita, galpão "Gaivolta" da Tecelagem Parahyba, Rino Levi, 1957, São José dos Campos-SP. referenciais: a Fábrica de Biscoitos Duchen, de Oscar Niemeyer e Hélio Uchoa, em Guarulhos-SP (1950-1951), com estrutura de Joaquim Cardoso, premiada na Bienal de São Paulo (o edifício tem determinante esquema formal típico do livreformismo de Oscar Niemeyer, anteposto às exigências funcionais) (Fig.10); a Ericsson, em São José dos Campos-SP (1954) (de esquema formal mais regular que a Duchen, tem no pórtico de entrada o gesto formal mais importante); o Complexo de Tecelagem Parahyba, de Rino Levi, em São José dos Campos-SP (1953), igualmente, como a REFAP, em uma antiga fazenda; a Usina de Leite Parahyba, na mesma cidade (1963); a Indústria Farmacêutica, em São Paulo (1956-1959) (Fig.10), todas de Rino Levi; e a Fábrica Olivetti, de Marcos Zanuso, em Guarulhos-SP (1959-1963); no entanto, nenhuma delas com a mesma dimensão urbana e articulação com a paisagem e meio ambiente que a REFAP. Sobre as obras em São José dos Campos, se encontra alguma informação em OTTA, Tatiana Macedo. Arquitetura moderna em São José dos Campos: A representação de uma identidade. Disponível em: . Acesso em: 19 jul. 2011, às 18h. Fonte: Google Earth O primeiro estudo para a implantação geral do complexo já definia, a partir de rótula viária, desde a BR-116, eixo central de acesso sinuoso, acomodando-se nas cotas baixas da topografia natural da área, destinando as cotas de nível altas – onde estava a fazenda, sede da gleba, em área densamente arborizada – para a localização do Refeitório, relacionando-o visualmente com açude existente, retificado na forma singular de dois hexágonos contíguos por uma das faces, sobre os quais se pronunciava o volume do pavilhão (Fig.8). Esse esquema é mantido na versão definitiva, sendo a rótula substituída por anel viário externo ao perímetro industrial, com ingresso controlado pela Portaria, edificação caracterizada por certa monumentalidade, e o açude desenhado de maneira mais irregular. Logo após o controle da portaria (Fig.8), foi mantida a derivação a sul, para a área do refeitório, onde inicialmente estava prevista também a Superintendência e a Administração, agrupadas posteriormente no edifício da Superintendência de Produção. O acesso ao refeitório se dá, portanto, através de suave aclive entre vegetação densa, até Fig. 11 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras. Área da Portaria, Almoxarifados, Centro Médico e antigo Centro de Treinamentos. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira, 1962-1968, Canoas-RS. anel viário que envolve este conjunto de edificações, Refeitório, Área de Treinamento e antiga sede da fazenda, onde as visuais para o açude e refeitório, assim como para todo o complexo, são apreciáveis, e a área como um todo convidativa para passeios e descanso após as refeições (Fig.8). Seguindo pelo eixo sinuoso principal de acesso, no sentido oeste-leste, logo após o desvio para a área do Refeitório, à direita, está o edifício de Serviços Médicos (Fig.81), também composto com espelho de água existente, 314 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fonte: Google Earth Fig. 13 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras. Casa de Controle. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. por Miguel A. Pereira),1965, Canoas-RS. Fig. 12 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras. Área da Superintendência Geral de Produção, Laboratório e Segurança. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira. 1962-1968, Canoas-RS. Fonte: Fotos João Alberto da Fonseca, Acervo FAM e, à esquerda, os Almoxarifados, primeiros pavilhões construídos (Fig.23). Estas duas edificações, conjuntamente com a Portaria e o antigo Centro de 11 Treinamentos , perfazem um primeiro grupo de objetos relacionados entre si visualmente, que de alguma maneira conformam a recepção do complexo Na sequência do eixo principal de ingresso, ainda à esquerda, o plano diretor previa o centro de treinamentos, projetado posteriormente pelo arquiteto José Antônio Vieira, que hoje está desativado, atualmente funcionando no pavilhão da administração próximo ao refeitório. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 11 Fig. 14 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras. Sanitários Área Industrial, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. por Carlos M. Fayet), 1965, Canoas-RS propriamente dito e estruturam urbanisticamente o ingresso, com atividades mais pendentes de contato com o exterior (Fig.11). No encontro do eixo principal com a primeira via transversal, que faz o perímetro da área industrial, aproximadamente no centro de gravidade do complexo, está o prédio da Segurança, no mesmo quarteirão do Laboratório e Sergio M. Marques 315 Fonte: Fotos João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fig. 15 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Casa de Etilação, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira. 1962-1968, Canoas-RS. Superintendência Geral de Produção, que perfazem um terceiro conjunto de elementos, dispostos na paisagem de forma mais regular e configurada, criando uma espécie de praça de chegada para visitantes e funcionários administrativos (Fig.12). A partir deste ponto, a norte, todo o traçado é ocupado pela estrutura industrial da refinaria, de complexo sistema de produção. A paisagem dos maquinários de grande porte ocupando o terrapleno de traçado cartesiano é de filmes de ficção científica. Dentro desta infraestrutura e a partir da segunda via transversal da área industrial, a equipe projetou edifícios complexos relacionados diretamente com o processo de refino, como a Casa de Controle (Fig.13), Casa de Etilação (Fig.15) e os Sanitários Industriais (Fig.14), onde a engenharia condicionou significativamente a arquitetura em exigências rigorosas de compatibilização com condições técnicas e instalações. Mais ao sul da área industrial, novo conjunto de pavilhões de construção industrializada, evoluídos da tipologia adotada no projeto dos primeiros almoxarifados, construídos junto à portaria, abrigam as oficinas, almoxarifados deste setor e o vestiário geral do complexo, formando interessante coleção, ordenada pela repetição regular de pavilhões modulados (Fig.16). A permeabilidade e generosidade do espaço fluido em paisagem contínua – pontuado pela vegetação preservada e proposta por espelhos d’água e pela arquitetura pavilhonar de sistema formal tendente à abstração e à horizontalidade, dispostos plasticamente no terreno, assim como a topografia mantida junto a frente oeste – conforma conjunto apreciável de espaço urbano Fonte: Google Earth Fig. 16 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras. Oficinas e Almoxarifados da área Industrial, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira, 1962-1968, CanoasRS moderno, ordenado segundo critérios funcionais determinantes, mas com estabilidade visual considerável, ainda que se tratasse de uma refinaria com 316 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Fonte: Fotos João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fig. 18 - Illinois Institute of Technollogy, Mies van der Rohe, 1940, Chicago. Fig. 17 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Área Industrial, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira. 1962-1968, Canoas-RS. elementos fabris e obras de engenharia importantes, dignas de thrillers como “O 12 exterminador do futuro” (Fig.17). O projeto de Oscar Niemeyer para a fábrica Duchen e Telefones Ericsson, assim como a Olivetti de Marcos Zanuso, são antecedentes formais respeitáveis de arquitetura moderna brasileira na área industrial, desde o início do processo de industrialização no final do século XIX, porém são referentes centrados quase que exclusivamente na edificação como elemento formal dominante, enquanto que a REFAP, além de arquiteturas formalmente expressivas, parece apresentar nas relações urbanas entre as unidades, conjunto e paisagem as principais relações de ordem moderna, ainda pouco examinadas e valorizadas. Neste sentido, portanto, antecedentes paralelos aos fundamentos de projeto da REFAP parecem estar, além da arquitetura referencial dos pavilhões, em outros programas urbanos igualmente organizados segundo critérios modernos, como os utilizados no Illinois Institute of Technology (1939-1958) (Fig.18), em Chicago, e no Lafayette Park (195512 1963) (Fig.19), em Detroit, de Mies Van der Rhoe, tendo como raiz o pensamento urbanístico expresso em modelos teóricos como os de Frank Lloyd 13 Wright (1867-1958) para Broadcare City (1932-1958) , sintonizado nas teorias de Frederic Law Olmsted (1822-1903) e Ebenezer Howard (1850-1928), assim como em determinados preceitos urbanísticos de Ludwig Karl Hilberseimer (1885-1967) exemplificados em paralelos latino-americanos como a Ciudad Universitária de México – UNAM (1952) e a Universidad Central de Venezuela (1950-1953). Montaner expõe raízes conceituais para a composição abstrata entre objetos autônomos, a partir da crise do sistema beaux-arts, associadas tanto aos fundamentos artísticos surrealistas identificados na obra de Alberto Giacometti (1901-1960) (Fig.20) ou no projeto para uma zona de jogos (Nova York), de Isamu Nogushi (1904-1988), ilustrando este sistema de relações abstratas entre objetos autônomos em conjuntos pioneiros, ainda que influenciados por composição acadêmica, como o Instituto Técnico Superior de 14 15 Lisboa (1927-1937) e a Universidad Laboral de Gijón (1945-1954) . Piñon, em defesa da cidade moderna e dos princípios estruturadores do espaço moderno, Ver: WRIGHT, Frank Lloyd. The living city. New York: Horizon Press, 1958. Ver também: DELLA MANA Eduardo. Broadacre City: meio ambiente, desenvolvimento sustentável e ecologia social. . Vitruvius, Vitruvius Arqtexto 095-02, ano 08, abril 2008. Disponível em: . Acesso em: 20 jun 2011, às 16h 20min. 14 Fundado em 1911, o IST é uma instituição de Engenharia, Arquitetura, Ciência e Tecnologia integrante da Universidade Técnica de Lisboa; projeto do Arquiteto Porfírio Pardal Monteiro (198971957) construído pelo Engenheiro Duarte Pacheco (1900-1943) arma o projeto urbanístico a partir de conceitos de flexibilidade, funcionalidade e relações entra as massas edificadas. 15 Construída a partir de um orfanato criado para receber órfãos de mineiros, vitimas de acidentes fatais na região de Astúrias-Espanha, com formação técnica, a instituição logo se consolidou como universidade a cargo da direção dos Jesuítas. As instalações foram projetadas pelos arquitetos Luis Moya Blanco, Ramiro Moya Blanco, José Marcelino Díez Canteli e Pedro Rodríguez de la Puente com paisagismo de Javier Winthuysen Losada. Ver: MONTANER, Josep Maria. Sistemas Arquitectónicos Contemporáneos. Barcelona: Gustavo Gilli, 2008. Sergio M. Marques 317 13 Terminator (1984), dirigido por James Cameron, com Arnold Schwarzenegger, Linda Hamilton, Michael Biehn e Paul Winfield, é o primeiro de uma sequência de filmes de ficção que aborda de forma aventureira a luta do homem contra a máquina, fruto de sua própria criação e razão de sua destruição. Os cenários, estetizam a máquina como arquétipo do ambiente futuro e a fotografia expressa espaços idênticos a área industrial da refinaria. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Fonte: . . Fig. 20 - À esquerda, The Couple, Alberto Giacometti, Bronze, 1927. No centro, Crown Hall, Mies van der Rohe, 1950-1956, Illinois Institute of Technollogy, Chicago. À direita, Farnsworth House, Mies van der Rohe, 1946-1951, Plano-Illinois. 17 Fig. 19 - Lafayette Park, Mies van der Rohe e Ludwig Hilberseimer, 1955-1963, Detroit - Michigan. em parte oriundos da racionalidade e de critérios formais neoplásticos, como a ortogonalidade, repetição e deslizamento, afirma: Não. A arquitetura moderna não só não fracassou ante a cidade, assim como é precisamente no âmbito urbano onde encontra o marco idôneo para suas construções: a noção de forma, baseada nas relações de posição entre os objetos – não nos atributos figurativos dos mesmos – se acumula na cidade, enquanto que a variedade dos elementos e a escala de intervenção propiciam a culminação dos valores em que se embasa. A repetição, o deslocamento e a variação – que são as operações construtivas básicas, tanto no desenvolvimento musical como do projeto de arquitetura, 16 encontram, no âmbito urbano, o lugar idôneo para evoluir. a colaboração dos demais, de acordo com a ordem de ingresso do trabalho . No conjunto dos projetos, além de certo repertório formal e tipológico adotado consensualmente, a unidade se articulou em uma linha onde tectônico e materialidade foram fios condutores importantes, tendo, de certa maneira, os critérios formais consequentes, conjuntamente com a tecnologia, criado um sistema. Além da adesão a uma arquitetura racionalizada, com partes constitutivas igualmente autônomas, mas principalmente pelo citado pressuposto de inovar através da técnica, criaram um sistema construtivo padronizado técnica e formalmente, que conjugado aos conceitos definidos em linhas gerais no partido (tipologia pavilhonar e horizontalidade), estabeleceu determinado léxico de elementos que tectônica e visualmente expressam suas 18 funções, cujas regras de associação regem a arquitetura . Da mesma forma, a arquitetura dos pavilhões da REFAP associa-se formalmente à ideia de abstração dominante no projeto urbanístico. Os projetos das edificações foram divididos entre os membros da equipe, na forma de rodízio, na medida em que o cronograma da obra demandava, e cada um dos arquitetos coordenava o projeto de determinada edificação, a seu encargo, com 16 PIÑON, Hélio. Arquitectura de la ciudad moderna. Barcelona: Ediciones UPC, 2010, p. 23. Fayet e Araújo coordenaram os primeiros projetos, almoxarifados, oficinas e garagens; Fayet, Serviços Médicos e Laboratório; Araújo, Administração e Superintendência; Moojen, Casa de Etilação, Refeitório (colaboração de Araújo na arquitetura de interiores), Casa de Força, Vestiários e Reservatório; Pereira, Centro de Treinamento, Oficina de Segurança e Portaria, sendo que Fayet dirigiu o projeto do sistema de pré-moldagem (pilares e vigas) dos primeiros pavilhões e Araújo e Moojen, posteriormente, desenvolveram o sistema de fechamentos laterais pré-moldados colocados como gavetas nos pilares (o sistema foi estudado pormenorizadamente com elaboração de maquete do Prof. Olívio da UFRGS), utilizado também na TEDUT em Osório-RS. 18 “Os pré-moldados eram um sistema construtivo a partir de um conjunto de peças que armavam um esqueleto de sustentação de vedações fixas e móveis com flexibilidade suficiente, para com um mínimo de peças, atender mais de uma situação, prevendo alternativas posteriores dentro de regras compositivas básicas estabelecidas. Um jogo de armar de poucas peças aberto a novos arranjos não previstos. Peças se encaixavam sem ligações rígidas, possibilitando supressões ou inclusões para atender novas possibilidades supervenientes, mantendo a linguagem e o repertório da proposta arquitetônica”. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Cópia manuscrita, Petrobras, jun. 2008. 17 318 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ Fonte: 1950/1970 Fonte: XVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura Moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987, p. 170 Capitulo II Fig. 22 - Residência Hélio Dourado, Miguel Pereira e João Carlos Paiva, 1961, Porto Alegre-RS. Fig. 21 - Casa Oscar Americano, Oswaldo Bratke, 1952, São Paulo-SP. Se é que houve ausência de debates teóricos preliminares no sentido de garantir a unidade formal dos projetos realizados, a construção de um sistema arquitetônico, através do desenho apurado da coleção de pilares, vigas, vigas-calhas, coberturas e painéis de fechamento lateral, associados a panos de alumínio, fibrocimento, fórmica, elementos vazados, tijolos à vista, caixilharia de vidro, como um “lego” organizado dentro de tipologia dominante, foi constante. O esquema geral compositivo seguiu a concepção de edifícios “sanduíche”, com antecedentes tanto no sistema Dom-inó quanto na Casa Farnsworth, com cobertura plana, base sobre-elevada do terreno e fachadas constituídas de planos transparentes, translúcidos, porosos e opacos, alternados conforme a circunstância. A planta é predominantemente organizada com núcleos centralizados de funções de apoio e áreas livres periféricas, distribuídas em grandes vãos (de até vinte metros), algumas vezes polvilhadas por pátios e vazios internos e/ou zenitais para iluminação e ventilação cruzada natural. O sistema arquitetônico, perfilhado aos esquemas abstratos do neoplasticismo dos anos 1930, em particular às teorias artísticas de Theo Van Doesburg e a obra de Gerrit Rietveld, assim como a radicalização abstrata desta vertente formal na arquitetura miesiana, em particular os projetos para o I.T.I (Figs.18), obedece fundamentalmente a lógica construtiva de racionalidade e modulação ordenada pela estrutura, que progressivamente passou a ser de concreto pré-moldado também nos fechamentos laterais. Portanto, a unidade tipológica que rege a organização das edificações, mesmo as excepcionais, como Portaria e Refeitório – com filiações evidentes, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado em especial ao sistema estético desenvolvido pela arquitetura de Mies nos E.U.A, no Crown Hall (1950-1956) (Fig.20), ou na casa Farnsworth (1951-56) (Fig.19), metabolizados, em termos brasileiros, pela arquitetura paulista, como a de Oswaldo Bratke (Fig.21), e utilizado explicitamente em diversos projetos de 19 Miguel Pereira (Fig.22) – é determinante na estrutura formal do conjunto. Cabe observar, no entanto, que em um nível mais profundo, mais relacionado com a lógica de projeto disseminada por todas as unidades, o jogo criado pelo sistema construtivo, a tectonicidade da concepção, as peças e elementos de construção são o principal elo do sistema espacial dos projetos, superando qualquer formalidade apriorística. Igualmente importante observar que os edifícios não foram projetados simultaneamente, e sim em sequência cronológica, conforme analisado a seguir, e todos discutiam as linhas gerais dos projetos e relações conjuntas, mas cada um “coordenava” a concepção e desenvolvimento arquitetônico da unidade que lhe tocava, em uma distribuição de trabalho aleatória, interna da equipe, de acordo com o ingresso de cada encargo. Assim, evidentemente, o desenvolvimento dos projetos das edificações estabeleceu relações de influência entre si e aprimoramento de critérios para os projetos subsequentes, que todos de alguma maneira usufruíram. A filiação de Miguel Pereira à Mies Van der Rohe lhe valeu a alcunha de “Miesguel”. Como mais jovem da equipe, sua contemporaneidade provavelmente teve certa influência no sistema formal utilizado pelo grupo predisposto à inovação e por certa tendência à abstração, porém sem tanta literalidade, evidenciada anteriormente nas casas de Araújo e Moojen e no CEPA de Fayet e Suzy. Sergio M. Marques 319 19 FA O princípio do princípio: Almoxarifados e Oficinas (26/07/1962) 20 Fonte: Desenho, Sergio Marques, 2009. Acervo FAM Fonte: Desenho Sergio Marques, 2009. Acervo FAM Fig. 24 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Almoxarifados, planta e parte da fachada, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. Fig. 23 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Almoxarifados, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. As datas designam o período de finalização do projeto e revisão final por parte dos arquitetos da equipe, constantes nos originais consultados nos arquivos da Petrobras. Empresa vencedora da licitação para a construção dos primeiros pavilhões. Produziu uma maquete das vigas para a análise de execução e adaptou caminhões do porto de Porto Alegre para movimentar as peças. Posteriormente, não voltou a vencer licitações seguintes, amargando certo prejuízo pelo investimento feito. Cada pavilhão foi licitado independentemente, portanto a execução posterior envolveu outras construtoras, como a Azevedo, Moura & Gertun, Cristiane Nielsen e Tedesco (refeitório). MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. Entrevista. Petrobras, jun. 2008. 21 20 Fonte: Fotografia João Alberto da Fonseca. Acervo FAM A decisão de adoção de sistemas pré-moldados antecedeu a concepção arquitetônica como resposta ao anseio de pioneirismo dos arquitetos e promotor. Os primeiros pavilhões projetados foram os Almoxarifados e as Oficinas (coordenados por Fayet e Araújo, desenhados no final de 1962), com vigas e pilares pré-moldados no canteiro de obras e 21 (Fig.23). Os pavilhões de execução da Construtora Mello Pedreira Almoxarifado previstos inicialmente em quatro e construídos dois, e as garagens, com pilares e vigas pré-moldados, pintados de branco, organizam-se em plantas retangulares, com vãos de vinte metros no sentido transversal, vencidos por vigas-calhas e módulos de cinco metros no longitudinal, vencido Fig. 25 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Oficinas, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. 320 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Foto Sergio Marques, 2011, Acervo FAM Fonte: Foto João Alberto da Fonseca. Acervo FAM. Foto Sergio Marques, 2012 Fig. 26 - À esquerda, Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA, Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet, Porto Alegre, 1959-1969. À direita, Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Almoxarifados, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. Fig. 27 - À esquerda, Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Oficinas Área Industrial, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen e Araújo), 196268, Canoas-RS. À direita, CEPLAN, Oscar Niemeyer, 1962, UNB, Brasília-DF. por vigas longitudinais, pintadas de azul (Figs.23 e 24). Na cobertura, vigotas de concreto vencem o vão entre as vigas-calhas, apoiando assoalhado de compensado naval, revestido na face superior com placas de alumínio zipadas à mão. O fechamento lateral é determinado por vigas de bordo pré-moldadas, 22 baldrame e panos de tijolos à vista descolados dos pilares por caixilharia de alumínio, com evidente paralelo compositivo à fachada lateral da igreja do Centro Evangélico, de Fayet e Suzy (Fig.25 e 26). 23 Posteriormente, com os projetos iniciados para a TEDUT concomitantemente com a refinaria, Araújo e Moojen desenvolveram um sistema de fechamento lateral pré-moldado em concreto, com placas horizontais moduladas e encaixe de gaveta, de forma a permitir aberturas e portões com a supressão de elementos, igualmente utilizado nos pavilhões das oficinas da REFAP, construídos mais tarde (Fig.27). Neste sentido, o desenvolvimento do sistema e a ampliação do uso da pré-moldagem para “Uma vez me perguntaram a razão do uso do tijolo à vista. Especulavam a razão deste pequeno pré-moldado cerâmico como sendo uma proposta conceitual!!! Quando respondi que a escolha havia sido feita por ter na vizinhança da obra uma olaria de excelente qualidade (Pauluzzi), senti certo descontentamento. Propusemos à Petrobras que seu uso seria também um incentivo a uma indústria local. Até hoje esse material se mantém em boas condições, envelheceu com dignidade sem necessidade de manutenção dispendiosa.” ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista Entrevista. Depoimento ao autor. Cópia manuscrita, Petrobras, jun. 2008. 23 Terminal Almirante Soares Dutra em Tramandaí-RS, projetado para a Petrobras e construído simultaneamente com a Refinaria, com projetos de Fayet, Araújo e Moojen e maior envolvimento de Araújo e Moojen. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 22 outros componentes, como fechamentos laterais, coberturas, platibandas, etc. – aperfeiçoando tanto a tecnologia de produção e vinculação entre as peças quanto os mecanismos de transporte e montagem – de certa maneira refletiam o processo em marcha em obras contemporâneas, determinadas pela mesma investigação, como os projetos de Oscar Niemeyer e o CEPLAN (Fig.27) para a Universidade de Brasília (1962). Tanto no caso da UnB, como na REFAP, dada a envergadura do projeto e a representatividade do programa, também pela coincidência cronológica, conjuntamente, ambas as obras caracterizam as primeiras experiências sistêmicas expressivas do uso da pré-fabricação em 24 concreto executadas integralmente na arquitetura moderna brasileira . Na REFAP, toda a lógica do sistema considerava vínculos articulados (encaixes, parafusos, apoio simples) entre as peças pré-moldadas, consequente, além da inexistência de experiência tecnológica para vínculos monolíticos (insertes, soldas, concretagem in loco posterior), também da necessidade de flexibilidade para substituições ou adaptações posteriores. No Com a criação do Centro de Planejamento da Universidade de Brasília – CEPLAN, dirigido por Oscar Niemeyer, com o objetivo de desenvolver o plano urbanístico de Lúcio Costa para a UnB e elaborar os projetos de todos os edifícios e também orientar e dirigir a Faculdade de Arquitetura (para onde Miguel Pereira se dirigiu, em 1968, assumindo também a direção da FAU UnB, posteriormente), o projeto da própria instalação da CEPLAN (1962), com tipologia pavilhonar semelhante aos almoxarifados da REFAP, utiliza um sistema inédito de fechamento lateral estrutural, em concreto pré-moldado. (Fig.27). A constituição do programa para a UnB, assim como a estratégia organizada para o planejamento e projetos e a adoção da industrialização na construção são abordadas em ALBERTO, Klaus Chaves. O Concreto na Pré-fabricação: a construção da Universidade de Brasília. In: COMAS, Carlos Eduardo; MAHFUZ, Edson; CATTANI, Aírton. II Sul, Seminário DOCOMOMO Sul Concreto – Plasticidade e Industrialização na Arquitetura do Cone Sul Americano 1930/1970. Docomomo Núcleo RS/PROPAR, Porto Alegre, 2008. CD-ROM. . Sergio M. Marques 321 24 Fonte: Acervo FAM/Petrobras Fig. 28 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Almoxarifados, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. transcurso dos projetos, a cobertura plana foi substituída por telhas de cimentoamianto, apoiadas em vigotas com calhas, que, por sua vez, se apoiavam nas vigas-calhas de vinte metros, configurando uma construção integralmente industrializada. As peças de concreto foram pintadas com uma tinta à base de 25 resina acrílica que surgia no mercado naquela oportunidade . Com os painéis de fachada pré-moldados, um jogo de aberturas se estabelecia, dentro da modulação, sendo que o deslocamento do painel inferior e superior para a face interna do pilar criava condições de ventilação natural controlada por convecção. Outros pavilhões, como a Casa de Controle, seguem como variantes do sistema geral (Figs.13). Os Almoxarifados foram, portanto, um laboratório inicial de protótipos para o desenho dos elementos construtivos e tipologia edilícia. Projetados para associarem-se aos pares (Fig.28), com duas plantas de cinquenta por vinte metros e quarenta centímetros cada, com cotas de eixo, dez módulos de cinco O azul da tinta Mulsofix, das vigas calhas, feito especialmente para obra pelo fabricante, acabou denominado como “Azul Petrobras”, inclusive por outras indústrias. “Pintamos o concreto em situações que nos pareceram adequadas sem nenhuma preocupação ou preconceito”. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Cópia manuscrita, Petrobras, jun. 2008. 25 Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 322 Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 29 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Oficinas Área Industrial, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962-68, Canoas-RS. Fig. 30 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Oficinas Área Industrial, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962 Canoas-RS. metros longitudinais e três módulos transversais, dois de sete metros e oitenta centímetros e um de quatro metros e oitenta centímetros, que faz o portão de acesso, os pavilhões são unidos formalmente por vigas comuns e volume de MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fig. 31 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, projeto estrutural dos pilares prémoldados, Arq. Benno Sperhacke, Eng. Dicran Gureghian, Eng. Eugênio Carlos Knorr, 1962, Canoas-RS. Fig. 32 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, sistema de encaixe dos pilares prémoldados na fundação, Almoxarifados, 1962, Canoas-RS. sanitário localizado na área de transição entre cada planta, proporcionando a ideia de permeabilidade e fluidez do espaço aberto (Fig.29). Pousados sobre uma plataforma com nível de um metro e vinte e dois centímetros acima do sistema viário adjacente – desnível que cria docas de carga e descarga externas, para dois pátios de manobra localizados a leste e oeste do conjunto – os Almoxarifados criam um subconjunto dentro do complexo. A associação de dois pares prevista no projeto original criaria uma sequência de três áreas de transição entre os pavilhões, em um sistema ABABABABA, entre espaço edificado e espaço aberto, bastante calibrado no proporcionamento das áreas de circulação e armazenagem, assim como de qualificação face à aspereza da função, com jardins nas áreas de transição (Fig.29). A sequência de construção e montagem dos pavilhões seguiu a seguinte ordem: construção de sapatas individuais, para cada pilar pré-moldado em concreto, vigas de baldrame e castiçal, em concreto in loco, com espera para passagem do cano pluvial e chumbadores rosqueados, para fixação nos insertes metálicos incorporados na base de cada 26 pilar (Figs.31 e 32). Os pilares têm seção em “H” de quarenta e cinco centímetros, com quinze centímetros cada perna, e intervalo igualmente de quinze centímetros na parte central, voltada no sentido interior-exterior do pavilhão, por onde passam os pluviais (Figs. 31, 32 e 33); colocação das vigas longitudinais, pré-moldadas em concreto, de secção vinte e três centímetros por sessenta centímetros (pintadas de azul), encaixadas no recorte do topo dos pilares, vencendo o vão de cinco metros e com balanços de três metros nas extremidades leste-oeste (Fig.33.2); sobre as vigas longitudinais, vigas-calha transversais, pré-moldadas em concreto, com seção em “H” de noventa e dois centímetros de altura e quinze centímetros, cada perna do “H” com quinze centímetros no intervalo, vinte metros de luz, postas sobre o eixo dos pilares e na extremidade dos balanços das vigas longitudinais, com balanços de dois metros no sentido norte-sul (Fig.33.2); vigotas de concreto pré-moldado, com quinze por quinze centímetros de seção, apoiados nas vigas-calhas, no sentido longitudinal, a cada dois metros (Fig.33.3); panos de tijolos à vista nos fechamentos laterais, descolados sessenta e nove centímetros dos pilares, para vãos das caixilharias, sublinham a estratégia neoplástica de decomposição do volume em planos (Fig.33.3); sobre as vigotas de concreto, placas de madeira criam assoalhado base para o teto plano, recebendo placas de isolante térmico e cobertura de chapas planas de alumínio, dobradas a mão, já que ainda não existiam equipamentos para zipagem (Fig.33.4); Fonte: Foto Sergio Marques, 2011 Fonte: Acervo FAM/Petrobras Sistema posteriormente desenvolvido pelos arquitetos conjuntamente com a construtora Azevedo Moura e Gertun. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. Entrevista. Petrobras, jun. 2008. Sergio M. Marques 323 26 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 33 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, sistema construtivo dos almoxarifados e oficinas. Sapatas e pilares pré-moldados. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. Fig. 33.3 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, sistema construtivo dos almoxarifados e oficinas. Vigotas da cobertura pré-moldadas e alvenarias de tijolos à vista. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 33.1 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, sistema construtivo dos almoxarifados e oficinas. Sapatas e pilares pré-moldados. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. Fig. Fig. 33.4 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, sistema construtivo dos almoxarifados e oficinas. Cobertura com compensado naval, Eucatex e chapas planas de alumínio zipadas. esquadrias dos fechamentos laterais em metalon. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 33.2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, sistema construtivo dos almoxarifados e oficinas. Vigas longitudinais e vigas calhas transversais, pré-moldadas. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. Fig. 33.5 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Almoxarifados, módulo pronto. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. 324 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 33.6 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Almoxarifados, dois módulos associados. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 33.7 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Almoxarifados, conjunto de dois módulos associados, coforme previsto no projeto. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fig. 33.7.1 - Almoxarifados, elevação. Doutorado Sergio M. Marques 325 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 33.8 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Almoxarifados, espaço interno. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, CanoasRS. Fig. 33.9 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Almoxarifados. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. Fig. 33.10 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Oficinas. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962, Canoas-RS. Fonte: PIÑON, Hélio. Mario Roberto Alvarez, ETSAB/UPC, Barcelona, 2002, CD-ROM MA Flutuando sobre o lago – Refeitório (26/09/1962) Fig. 34 - Centro de Investigaciones Científicas y Técnicas de las Fuerzas Armadas, Mario Roberto Álvarez, 1963-65, Vicente Lopez- Buenos Aires. portões de ferro e esquadrias de alumínio fecham os vãos entre pilares, pilares e panos de tijolos à vista, e viga longitudinal e teto plano (Figs.33.4 e 33.5). Os almoxarifados, portanto, assim como deram o start no espírito de racionalidade construtiva e coordenação modular, adotado em todo o complexo, análogo aos pavilhões do CEPLAN na UnB (1962), de Oscar Niemeyer, deflagraram a estratégia de arquitetura pavilhonar integrada por jardins, cujo esquema urbano compartilha o espírito dos campi norteamericanos, adotado em paralelo à REFAP por Mario Roberto Alvarez no Centro de Investigaciones Científicas y Técnicas de las Fuerzas Armadas (19631965) (Fig.34), em Vicente López, Província de Buenos Aires, cuja sincronia e harmonia entre a ordem formal e geométrica que rege tanto as edificações quanto as relações entre as edificações dão consistência ao conjunto. Os edifícios construídos com estrutura convencional concretada in-loco – como a Superintendência de Produção (Fig.62), Serviços Médicos (Fig.81), Segurança Industrial (Fig. 80), Laboratório (Fig.74), Centro de Treinamentos (Fig.49) e Refeitório – seguem a tipologia básica pavilhonar miesiana, modulação e sistema formal derivados desta matriz de pré-moldados e elementos autônomos utilizados nos Almoxarifados, incrementados com sistemas de fechamento lateral mais sofisticados, de acordo com o caráter da cada edificação. Combogós desenhados por Fayet (utilizados no Centro Evangélico), peitoris de Fórmica, paredes de concreto e caixilharia de alumínio detalhada se alternam, assim como a sofisticação da implantação dos pavilhões na paisagem. Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 35 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Os edifícios da Portaria (Fig.59) e Refeitório (Figs.35 e 36), como peças excepcionais do tabuleiro e caráter mais público, exploram formalmente a transparência e descolamento do plano do solo como diferencial. Projetados quase simultaneamente (desenhos datados com um mês de diferença), provavelmente um influenciou o outro. Ambos os edifícios sobrevoam a área adjacente, sendo que a Portaria o faz com arrojo estrutural de balanço sobre apoio único e o Refeitório aproveitando a topografia natural do terreno. Este último tem na relação com o açude e a paisagem seu principal ingrediente, através da superelevação do pavilhão “sanduíche” de faces acristaladas, onde está o salão de refeições, sobre a água, usufruindo cena natural. Ideia de pavilhão "sanduíche" com "recheio" transparente flutuando sobre a natureza como a Casa de Vidro (1951), de Lina Bardi (1914-1992), à qual o restaurante presta tributo tipológico, assim como de outros projetos análogos, como a Casa Gómez (1953), de Francisco Artigas (1916-1999) em Col. Pedregal de San Ángel no México (Figs.37). Os pilotis criados propiciam área de descanso 27 integrada ao bar criteriosamente mobiliado e área ajardinada do entorno imediato, da mesma forma projetada (Fig.38). A compensação de nível é amparada por parede arrimo construída com pedras irregulares de basalto que O projeto do refeitório, coordenado por Moojen, teve colaboração de Araújo na arquitetura de interiores, sendo que uma parte do mobiliário foi desenhada especificamente para a Petrobras, como as cadeiras do salão principal, produzidas pela a empresa de Heinz Agte (Fig. 83, Cap. A). 27 326 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Acervo FAM Fig. 36, 36.1 e 36.2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM Sergio M. Marques 327 Fonte: Acervo Lina Bardi-SP, LLOBERA, Teresa Rovira (org.). Documentos de Arquitectura Moderna en América Latina: 25 Arquitectos. Ediciones UPC, Barcelona, 2007, CD-ROM Fig. 37 - À esquerda, Casa de Vidro, Lina Bo Bardi, 1951, São Paulo-SP. À direita, Casa Gómez, Francisco Artigas, 1953, Col. Pedregal de San Ángel, México. articula o interior ao exterior como nos pavilhões miesianos (Fig.37). Nos interiores, a rigorosa modulação do forro, afinada com pisos e caixilharia, dá o espírito de coordenação modular marcante do espaço, revisitado pelos quatro arquitetos em obras posteriores (Fig.39). O Refeitório (projeto coordenado por Moojen) tem como elemento dominante de sua organização formal, de partes elementares, o salão de refeições propriamente dito e parte da cozinha, na forma de uma “placa” horizontal com aproximadamente cinquenta metros longitudinais no sentido leste-oeste e trinta e seis metros de largura no sentido norte sul, e em torno de cinco metros de altura no total, o que configura objeto de bela proporção visual e forma horizontalizada condizente com a paisagem. Dividida em três crujias de aproximadamente doze metros cada, de forma a organizar todas as funções de serviço no vão central e acomodar o salão de refeições de maneira perimetral, em planta livre, faceando três fachadas transparentes integradas visualmente à paisagem (Fig.40), esta placa é interceptada na retaguarda por volume mais baixo, mais estreito e opaco, que abriga o restante das funções de serviço e a intersecciona, deixando na diferença de largura, de ambos os lados, os espaços generosos para o ingresso. Este volume cego, “morde” o vão central da cozinha e avança a oeste em direção ao estacionamento e à orientação principal de chegada, para quem vem do complexo ao refeitório de automóvel, inscrevendo um pátio de serviços, com acesso desde o estacionamento, onde são efetuadas carga e descarga e localizadas as funções de infraestrutura, assim como aberturas de iluminação e ventilação. De certa maneira, a fachada de chegada ao refeitório é sua face mais operativa, que, além de intermediar todas as funções de serviços, condiciona o acesso ao salão principal através destes caminhos laterais, que, organizando o ingresso linear tangente aos toilletes e buffet, através dos costados do volume cego, definido por planos de tijolos à vista que penetram do exterior ao interior, culminam o visual da paisagem (Fig.42). Fonte: Acervo FAM Fig. 38 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório, interiores do bar (Araújo), paisagismo (Cláudio Ferraro), Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. A fachada leste, oposta à chegada, principal formalmente, faz a interface de quem vê a paisagem e é visto desde ela, com jogo sereno porém agudo de 328 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 40 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório, planta 2° pavto.,Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Fig. 41 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório, planta pavto. inferior,Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM 39 Fig. 39 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório, interiores do bar (Araújo),Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 42 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório, interiores restaurante (Araújo),Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962. Sergio M. Marques 329 Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fonte: Acervo FAM. Desenho Sergio Marques, 2010 Fonte: Desenhos Sergio Marques, 2010 Fig. 43 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. Acima, fachada sul, abaixo, fachadas sul e leste. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Fig. 44 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. Acima, à esquerda, croquis de funcionamento da iluminação/ventilação zenital. À direita, planta de cobertura da zenital. Abaixo, corte transversal perspectivado. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. flutuação do pavilhão moderno sobre a natureza (Fig.43). O volume transparente avança na direção do desnível do terreno, recortado por muro de arrimo, de maneira a soltar a placa transparente do solo e do açude logo à frente, criando pilotis, onde se organizam espaços de estar abertos, compartimentos de infraestrutura e área de lazer com bar e churrasqueira a norte (Figs.38 e 41). Na parte fronteiriça dos pilotis, deque de madeira põe-se sobre o espelho d’água, sob o balanço da placa, criando remanso em relação à área de ligação entre espaços abertos sob os pilotis. Essa circulação une área de estar ao ar livre, na forma de praça contígua ao bar, escada externa e caminho que cruza o lago a norte, com área gramada e escada externa de ligação com o estacionamento a sul (Figs.38 e 41). Internamente, o salão do refeitório, com planta livre generosa e pé direito alto, usufrui luz e paisagem que entram pela fachada cortina, complementada por iluminação zenital, provida de engenhoso sistema de lanternins rebaixados na laje, que propiciam iluminação e ventilação natural tanto nas zonas de serviço quanto de público no miolo da placa (Fig.43). Sob os pilotis, a relação interior e exterior também se sofistica: o bar originalmente mobiliado com cadeiras Bertoia, igualmente faceado por caixilharia de vidro, é limitado a leste pelo arrimo de alvenaria de pedras irregulares com junta seca – cuja execução foi criteriosamente acompanhada pelos arquitetos, inclusive com preparação de protótipo anterior – que se prolonga do interior para o exterior, conectando jardim, praça e espaço interno no melhor estilo Pavilhão de Barcelona (Fig.38). 330 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 45 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 O sistema construtivo do Refeitório e organização geral do edifício pode ser descrito da seguinte forma: a placa principal do Refeitório, dividida em três vãos longitudinais de doze metros cada, é apoiada por quatro linhas de pilares no sentido transversal, perfazendo uma modulação de quatro metros de balanço para cada lado, complementados por dois vãos de oito metros, na periferia da placa, que completam os doze metros das crujias externas, onde está o salão de refeições em “U”, um vão central de doze metros, que corresponde as áreas de serviço internas à placa principal, e cinco no longitudinal, com vãos de oito metros (Fig.47.3). Os pilares, com seção em “H” de cinquenta por quarenta e cinco centímetros de lado, obedecem o mesmo desenho do Almoxarifado, apoiam vigas-calhas transversais ao volume, com seção de quarenta e cinco centímetros de largura e um metro de altura, sendo que, nas extremidades, a partir dos planos de fachada, projetam-se visualmente com seção idêntica aos pilares, formando cinco fileiras de pórticos no sentido leste-oeste (Fig.47.1); a primeira linha de pórtico, desde o leste em direção a oeste, nasce dentro do espelho d’água. Desta linha sobre a água, a placa projetase igualmente quatro metros, em balanço. O primeiro e segundo módulos de oito metros cada, entre o primeiro e o terceiro pórtico, no nível inferior, é livre, dando continuidade ao jardim que contorna o lago, com exceção de um volume central que dá acesso à parte fechada dos pilotis. A partir do terceiro pórtico, os pilotis são Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fig. 46 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. preenchidos, com exceção dos balanços laterais, por áreas de infraestrutura, na crujia central e sul, e pelo bar, que se abre para a praça, na crujia norte. A última linha de pórtico, portanto, coincide com o arrimo a partir do qual, a “placa” principal pousa sobre o terreno, por mais um módulo de oito metros, dentro do qual se dá a intersecção com a placa cega (Figs.41, 47,47.1 e 47.2); sobre os pórticos, um sistema de vigas principais de vinte e cinco centímetros de largura por cinquenta centímetros de altura estruturam o bordo, os eixos dos pilares e, dividindo os vãos longitudinais de oito metros em dois de quatro, criam uma “malha” de quatro por quatro metros. Por fim, vigas longitudinais, de doze centímetros de largura por cinquenta centímetros de altura, dispostas longitudinalmente a cada metro, perfazem uma espécie de laje nervurada que estrutura o entrepiso (Fig.47.2); sobre a laje nervurada do entrepiso, a estrutura de apoio da cobertura da “placa” acristalada é feita com uma linha de pilares, a cada quatro metros, em todo o perímetro da caixa, e cinco linhas de dois pilares, a cada oito metros, com vão de doze metros na crujia central, até a face oeste da placa, ocupada por funções de serviço, deixando livre doze metros de vão nas crujias laterais e frontal, junto às faces sul, leste e norte (Fig.47.3). sobre estas linhas de pilares centrais e perimetrais correm longitudinal e perimetralmente, separando as três crujias, vigascalhas com setenta centímetros de altura e quarenta e cinco Sergio M. Marques 331 Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 47 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. pavto. inferior, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 47.3 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. estrutura 2° pavto., Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 47.1 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. estrutura pavto. inferior, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, CanoasRS. Fig. 47.4 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. estrutura da cobertura, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas- Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 47.2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. estrutura entrepiso, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Fig. 47.5 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório, vista da estrutura, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. 332 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 47.6 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório, corte transversal, projeto original, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 47.7 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, estrutura da cobertura, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 47.8 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, acabamento da cobertura, sistema de "zipagem" a mão, utilizado em todos os pavilhões, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Doutorado Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 47.9 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório, detalhamento da cobertura, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, CanoasRS. Sergio M. Marques 333 Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 48 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório, corte longitudinal, projeto original, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Fig. 48.1 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Detalhe das esquadrias, fachada principal, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. 334 Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010 Fig. 48.2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório, fachada norte, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. Fig. 48.3 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório, fachada norte, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moojen), 1962, Canoas-RS. MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II centímetros de largura, que apoiam transversalmente terças em forma de treliças com seção espacial, feitas na obra com cantoneiras e tubos de ferro, a cada um metro e trinta e três centímetros. No sentido longitudinal, caibros de madeira aparafusados e nivelados pelo dorso das treliças, a cada um metro e vinte cinco centímetros, armam a “malha” sobre a qual, com a mesma solução do Almoxarifado, é resolvida a cobertura, com placas de compensado naval sobrepostas por isolante térmico, e placas de alumínio intervaladas por domos de iluminação zenital (Fig.47.4, 47.5 e 47.6). o vão da crujia central, sobre a cozinha, por sua vez, é estruturado por uma subestrutura de vigas de concreto a cada quatro metros, com laje impermeabilizada, criando uma espécie de lanternim ao contrário, que provê iluminação e ventilação tanto na cozinha quanto no salão de refeições (Fig.44); a placa menor, que abriga as dependências de serviço, na área exposta ao exterior, é coberta com laje impermeabilizada (Fig.45,46). Os acabamentos e ambientação do salão de refeições, de um modo geral, são simples, porém sofisticados para um refeitório de trabalhadores, e extremamente relacionados com o sistema formal utilizado nos interiores do Edifício FAM, descrito logo a seguir: piso vinílico, então em voga na época pela inovação industrial, forro modulado com placas de Eucatex acústico, luminárias de vidro leitoso “mini-boreal” moduladas com o forro, intercalando iluminação natural e artificial, vãos, portas e aberturas internas configurando planos sem vergas, golas ou sócolos, fachada curtain-wall com desenho intervalado por caixilhos fixos e móveis (Figs.48), painéis divisórios em madeira perfazendo planos de separação virtual de ambientes na planta livre do salão. Os espaços internos do refeitório são caracterizados por esses ambientes, de maiores proporções – para turnos de 350 refeições aproximadamente, porém organizados em mesas redondas pequenas, com mobiliário de madeira desenhado por Araújo, para cinco pessoas em cada conjunto, tornando o ambiente mais doméstico – intervalados por ambientes menores, definidos pelos planos de madeira, com lounges mobiliados por poltronas e mobiliário de estar junto à vista para o lago (Figs. 39, 40 e 42). Com esses diversos graus de intermediação entre exterior e interior, espaços servidores e servidos, livres e configurados na parte mais alta e verde de toda Refinaria, a organização formal do Refeitório pode ser descrita simplesmente por esta interpenetração de dois volumes horizontais. Um transparente e flutuante Figs.48), de uso público, e outro cego e pousado sobre o terreno, de serviços, com francos gestos de conexão à paisagem, em uma das melhores experiências formais da arquitetura moderna brasileira no sul. P O Centro de Treinamentos e o “sanduíche” (28/02/1963) Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fig. 49 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Centro de Treinamento, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1963, Canoas-RS. O Centro de Treinamentos, originalmente utilizado como Superintendência, projetado no ano seguinte (projeto coordenado por Miguel Pereira, desenhado em março de 1963), denota determinada codificação do sistema arquitetônico de Mies Van der Rohe, basicamente estruturado na casa Farnsworth (Fig.20 e 49) (1951), cuja adoção em diversos edifícios da REFAP, provavelmente são catalisada por este. O pavilhão longitudinal, com sessenta metros de comprimento e vinte e dois metros e cinquenta centímetros de profundidade, implantado no alto do promontório, junto à sede original da fazenda, no sentido norte-sul, próximo ao perímetro do anel viário que circunda toda a área do açude e do Refeitório, desfruta a leste da vista de toda a Refinaria (Fig.Capa). Colocado praticamente no eixo do Refeitório, do outro lado do lago, a aproximadamente cento e setenta metros de distância, o Centro de Treinamento tem pouca relação visual com este, dada a densidade da vegetação nesta área (Fig.50). Mantém, no entanto, contato privilegiado através de caminho para pedestres que se aproxima do Refeitório, através do lago, em perspectiva visualmente favorável. Portanto, este conjunto – Refeitório, Centro de Treinamentos, antiga Administração (localizada na casa sede da fazenda, preservada de acordo com o projeto) e Caixa d´água – perfaz conjuntamente Sergio M. Marques 335 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: PIÑON, Hélio. Mario Roberto Alvarez, ETSAB/UPC, Barcelona, 2002, p.208. PEREZ, Fabián Gabriel in FONTANA, Pia Maria, MAYORGA, Miguel Y., ARIS, Carlos Martí, PIÑON, Hélio. [Re] visión Colombia Arquitectura Moderna. Ediciones ETSAB, Barcelona, 2006, segunda edición, CD-ROM Fonte: Google Earth Fig. 51 - À esquerda, Casa Espacio, Raúl Sichero e Mario Roberto Alvarez, 1982, Punta del Este. À direita, Casa Dorronsoro, Fernando Borrero, Alfredo Aamorano e Renato Giovanelli, 1953-54, Cali Colômbia. Fig. 50 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Centro de Treinamento, relação com o Refeitório, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1963, Canoas-RS. com a topografia, vegetação nativa preservada e as capivaras que hoje frequentam o local conjunto apreciável de arquitetura moderna integrada à paisagem e ao meio ambiente, pioneiro como estratégia arquitetônica em áreas industriais, quiçá em termos internacionais, neste período. Projetado sobre malha modular coordenada em um metro e sessenta centímetros por um metro e quarenta centímetros de módulo (posteriormente substituída por módulos de um metro e vinte e cinco centímetros, nos projetos seguintes), o edifício foi pensado integralmente como o encontro de planos horizontais e verticais de concreto, novamente dentro de certa condição conceitual e estrutural neoplástica explorada emblematicamente por Mies. Espacialmente, o Centro de Treinamentos é simples: a sucessão de planos de concreto, dispostos transversalmente, a cada sete metros e oitenta centímetros, no sentido longitudinal do edifício, divididos em duas alas por uma circulação central, ou seja, uma fita dupla, não cria situações de ortogonalidade ou deslocamento de planos, mas mantém a ordem da repetição. Assim, o pavilhão é basicamente organizado pelos espaços obtidos entre os planos em sequência, que estruturam a edificação espacialmente e construtivamente. Os planos de concreto, por sua vez, são os apoios do edifício no solo, elevando o piso do térreo, na forma de laje estruturada, noventa e cinco centímetros acima do terreno natural (Fig.52). Essa laje, assim como a de cobertura, recebe vigas de apoio, paralelas às paredes estruturais, a cada dois metros e sessenta centímetros, dividindo o vão entre estas em três partes. No outro sentido, vigas longitudinais ao prédio e ortogonais às paredes estruturais, a cada metro e sessenta, perfazem uma espécie de laje nervurada, de piso e cobertura, balanceada em toda a volta, permitindo a construção de subsolo, para infraestrutura, sobrepiso e perfurações para zenitais na cobertura (Fig.52.1). O fechamento lateral do edifício finalmente é feito integralmente com caixilharia de alumínio, peitoris de fórmica (Figs. 52.3,4) com paredes de concreto nas extremidades (Fig.52.2), cuja lógica moderna de costados cegos e fachadas porosas é explorada no conjunto da Superintendência (Figs.52.9). Como citado anteriormente, a estratégia formal de nivelar a obra pelo plano de cobertura, acomodando todas as diferenças de topografia e eventuais subsolos abaixo do plano do piso, igualmente descolado do solo e normalmente projeção da cobertura – formando o "sanduíche" adotado por Miguel Pereira no projeto da Casa Hélio Dourado, dois anos antes (1961) 28 (Fig.22) e persistente em arquitetos que se mantiveram fiéis a estes princípios, como evidencia o projeto da Casa Espacio (1982), de Raul Sicheiro Bouret e Mario Roberto Álvarez, em Punta del Este, nos anos 1980 (Fig.51), ou em paralelo, na Casa Dorronsoro (1953-54), de Fernando Borrero, Alfredo Zamorano e Renato Giovanelli, em Cali na Colômbia (Fig.51) – revela o diapasão cuja frequência miesiana estava em sintonia na Equipe de Arquitetos e em Pereira em particular, antes, durante e depois. 28 Projeto premiado com Medalha de Prata no II Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul (1962), explicitava sua filiação miesiana, neste caso com maior utilização de planos ortogonais e pilares metálicos de secção cruciforme. Ver: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Alegre. Porto Alegre São Paulo: Pini, 1987, p. 170-171. 336 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 52 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Centro de Treinamento, corte longitudinal, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1963, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 52.1 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Centro de Treinamento, corte transversal, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1963, Canoas-RS. Fig. 52.2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Centro de Treinamento, fachada sul, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1963, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 52.4 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Centro de Treinamento, fachadas, sul e leste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1963, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 52.3 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Centro de Treinamento, fachada leste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1963, Canoas-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 337 Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 52.5 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Centro de Treinamento, planta, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1963, CanoasRS. Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 52.7 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Centro de Treinamento, estrutura do piso, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1963, Canoas-RS. Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 52.6 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Centro de Treinamento, paredes estruturais de concreto, pintadas de azul Petrobras (em escuro), Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1963, Canoas-RS. Fig. 52.8 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Centro de Treinamento, estrutura da cobertura, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1963, Canoas-RS. Fig. 52.9 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Centro de Treinamento com o Refeitório ao fundo, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1963, Canoas-RS. Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 338 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II P Flutuando sobre a rua – Portaria (19/03/1963) Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 53 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. A Portaria (Fig.53) está implantada em franca articulação com o desenho viário proposto para o acesso do complexo desde a BR-116. O anel viário em forma de “gota” criou rótula de acesso ao complexo, a partir de ramal da estrada federal, com vias de entrada, saída e estacionamento de espera anterior ao controle, sendo a construção o ponto de culminância do traçado afunilado (Fig.54). Nesta condição, o esquema geral do projeto, placas horizontais de concreto em “sanduíche” com recheio de vidro, análogo ao tipo pavilhonar adotado nas unidades e no refeitório em particular, flutuando sobre o nível de ingresso, cria pórtico de acesso de certa monumentalidade, distinto da estratégia recorrente utilizada na Refinaria de Manguinhos (Fig.55), por exemplo, ou mesmo da estação de Serviços de Brasília (Fig.56), e normalmente em 29 complexos industrias, portificados por estruturas especiais . No caso da Na Refinaria de Manguinhos, na ilha do Governador no Rio de Janeiro (1954), de José Bina Fonyat Filho (1918-1977), Firmino Saldanha (1905-1985) e Humberto de Barros Kaulino, a portaria é composta de um pequeno volume coberto por uma água, cujo plano se prolonga sobre o acesso apoiado por outro plano vertical na extremidade. As proporções do conjunto e as aberturas, no entanto, não conferem à solução a mesma clareza de partido da portaria da REFAP. O posto de serviços de Brasília (1959-1960), composto de serviços, motel e restaurante, adota como elemento principal uma estrutura de cobertura, em forma de cogumelo, onde engenhosamente se implanta a Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 29 Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fig. 54 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, implantação e anel viário, projeto original, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. REFAP, o próprio edifício e seu esquema estrutural são os elementos de portificação, ordenando funcionalmente e formalmente, de maneira pertinente à circunstancia, a entrada do complexo e caracterizando sua representação exterior. O projeto original da Portaria (coordenado por Pereira, desenhado em outubro de 1962) previa uma organização dos dispositivos de controle em cruz: no sentido do ingresso, separando as vias de entrada e saída, dois taludes caixa d’água. No entanto, em nenhum destes casos, como em outros da arquitetura industrial do período, edifícios modernos, tipologicamente aparentados, associam-se de forma a configurar relações formais urbanas. Para saber mais sobre o Posto de Serviços de Brasília, ver: BRUAND, Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1997, p.220. Sergio M. Marques 339 Fonte: BRUAND, Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1997, p.220. PIÑON, Hélio. Mario Roberto Alvarez, ETSAB/UPC, Barcelona, 2002, p.128 Fonte: Acervo Petrobrás Fig. 56 - À esquerda, Posto de Serviços Petrobras, José Bina Fonyat Filho, 1959-60, Brasília-DF. À direita, Planta de Equipos Electrónicos "Ken Brown", Mario Roberto Alvarez, 1966-68, Buenos Aires. Fig. 55 - Refinaria de Manguinhos, Petrobras. À esquerda, Portaria. À direita, Superintendência e administração, José Bina Fonyat Filho, Firmino Saldanha e Humberto de Barros Kaulino, 1954, Ilha do Governador - RJ. contidos por arrimos de concreto criavam, além do separador de vias e resguardo da cabine de controle, a ideia de base do volume superior flutuante, quase uma inversão de geometrias, com um ponto central exíguo, tornando mais dramático o balanço (Fig.57). A ideia de corpo acristalado flutuante apoiado sobre base centralizada adotada tanto na Portaria quanto no Refeitório da REFAP, faz paralelo à Fábrica de Equipamentos Eletrônicos Ken Brown (1966-1968) de Mario Roberto Alvarez em Buenos Aires, ainda que esta utilize outro sistema construtivo (treliça espacial) (Fig.56). No outro sentido, volumes de concreto de dimensões avantajadas embutiam os portões de fechamento, servindo de anteparo para a identificação da Refinaria. Tanto os volumes dos portões quanto dos arrimos permitiam acesso ao seu interior, para manutenção ou usos de serviço. No topo do arrimo 30 oeste, localizado no exterior e posteriormente demolido , estava a Recepção, chamada de “Sala do Mestre”, onde era feita a identificação dos ingressantes, mais tarde incorporada na nova base da Portaria, feita na reforma. No centro do conjunto, como base estrutural central do balanço simétrico, três pilares Fonte: Acervo FAM/ Petrobras8 Fig. 57 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, Fachada Principal (oeste), projeto original, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. A portaria foi objeto de reforma posterior, nos anos 1980, com projeto de Araújo e Fayet, onde os taludes da base foram eliminados e substituídos por ampliação da Sala do Inspetor, com escritórios, sala de espera e balcão de informações. A ampliação no nível do solo foi feita com materiais leves e sistema industrializado de construção pertinente à circunstância, pouco elegante, no entanto, no sentido formal, já que de certa forma enfraqueceu este acento de flutuação do volume superior aportado pelos taludes. 30 laminares, criando duas crujias, abrigavam pequena “sala do inspetor”, que supervisionava cargas, em um dos intervalos dos pilares, e escada de acesso ao segundo pavimento – com degraus em concreto em balanço, engastados nos pilares – bem como unidade condensadora do sistema de condicionamento artificial na outra (Fig.58). Finalmente, no topo do talude interno, estavam vestiários, copa e sanitários de funcionários, perfazendo um sentido de articulação entre as funções da Portaria, a estrutura e os elementos da paisagem, no melhor estilo da arquitetura paulista e mesmo das contemporâneas “topografias operativas”(Fig.59.4). O segundo pavimento mantém a mesma lógica de organização do Refeitório: circulação e serviços no miolo do pavimento e planta livre na periferia, esquema sintetizado por Mies em obras paradigmáticas, como os edifícios de Lake Shore Drive Apartments (Chicago, Illinois, 1948-1951) ou o Seagram Building (Nova York, 1954-1958). O esquema estrutural segue basicamente a mesma regra: um miolo rígido, normalmente com estrutura de concreto, no caso da Portaria, com o prolongamento dos três pilares laminares de cinco 340 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente B.I.C UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fonte: Acervo FAM/ Petrobras8 Fig. 58.2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, corte transversal. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. Fig. 58 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, planta pavto. térreo: 1 Vestiário, Sanitários e Copa; 2 - Inspeção; 3 - Escada; 4 - Sala do Mestre; 5 - Entrada e saída de veículos; 6 - Portões. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente B.I.C UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 58.1 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, planta 2° pavto.: 1 - Auditório; 2 Exposições; 3 - Escada; 4 - Estar; 5 - A.C., Sanitários, Copa. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente B.I.C UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 58.3 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, Estrutura. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. Fig. 58.4 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, fachada interna (Leste). Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, CanoasRS. Sergio M. Marques 341 Fonte: Acervo FAM Fig. 59 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, vista desde os Almoxarifados, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fig. 59.1 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, vista desde os Serviços Médicos, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. Fig. 59.3 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, entrada principal, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. Fig. 59.4 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, fachada sul, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente B.I.C UniRitter, Sergio Marques, 2012 342 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente B.I.C,, UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 60 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, fachadas norte e oeste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, CanoasRS. Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C,, UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 61 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, fachadas oeste e sul, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. metros por trinta e cinco centímetros cada, dispostos a dois metros e sessenta e cinco centímetros um do outro (Figs.58). Normalmente, entre este miolo central e a periferia do edifício, a ideia de planta livre configura-se pela ausência de fechamentos laterais permanentes e de estrutura que volta a aparecer no perímetro da edificação, muitas vezes com sistemas leves, como estrutura metálica (Fig.58.1). Na Portaria, a estratégia estrutural se repete, com estrutura metálica leve incorporada à caixilharia da esquadria, aos pares, a cada três metros, de acordo com a modulação de um metro e meio do projeto, porém com incremento da estrutura do entrepiso e cobertura, já que, com partido em balanço das lâminas horizontais, a estrutura do perímetro é parcial e de transição. O miolo com pilares, portanto, é reforçado no entrepiso por uma viga em anel de um metro e vinte centímetros de altura, incluindo a laje, de onde arranca o balanço de sete metros e meio no sentido norte-sul, sobre o ingresso, e quatro metros e meio no sentido leste-oeste, com vigas de concreto em mão francesa, que afunilam até vinte e cinco centímetros de altura no topo (Fig.58.2 e 58.3). As vigas em balanço, no maior vão, ainda ancoram vigas secundárias perimetrais, que gradativamente diminuem de altura, formando uma espécie de grelha onde se apoia a laje. O esquema se repete na laje de cobertura, em peças de menores dimensões, dada a ausência da carga acidental do entrepiso, com uma viga em anel central de sessenta e dois centímetros e meio de altura e trinta centímetros no topo (mais alta cinco centímetros que a do entrepiso, para resguardar a impermeabilização da laje de Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado cobertura). O espaço central com serviços é coberto por uma laje com iluminação e ventilação natural feita por domos de acrílico, criando eficiente sistema de convecção entre as fachadas e o espaço central do edifício (Fig.58.2), fachadas que, nas quatro faces envidraçadas, tanto por proteção solar quanto por critérios formais, são sobrepostas por brises de alumínio verticais (não executados) que cobrem a caixilharia modulada em metro e meio, com panos móveis para ventilação natural. Igualmente ao Refeitório, a Portaria manipula elementos de paisagem associados a uma arquitetura abstrata como definição formal de elementos universais e locais. Finalmente descortina, talvez com explicitude em demasia, a adesão a esta arquitetura de vertente abstrata, feita com certo olho na monumentalidade, explorada especialmente pela arquitetura paulista a partir dos anos 1960, que com mais contenção, de um modo geral, disseminou-se ora com temperos cariocas, ora platinos, ou simplesmente bebendo diretamente das fontes internacionais, pela região meridional brasileira e sulamericana. Sergio M. Marques 343 A O Sistema em Marcha – Superintendência (27/02/1964) Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 O edifício da Superintendência Geral, originalmente Superintendência Executiva de Produção (projeto desenhado em fevereiro de 1964, coordenado por Araújo), um quadrado de sessenta metros de lado, está implantado na área do terrapleno, próxima à área industrial, de forma a – conjuntamente com o edifício de Segurança, o Laboratório, originalmente destinado a Inspeção, e Inspeção de Equipamentos – constituir um agrupamento de administração e controle geral do complexo. Formando uma espécie de praça, com as edificações dispostas perimetralmente ao vazio do estacionamento e jardins, o conjunto atualmente é o principal centro de recepção, administração, inspeção, controle e engenharia da REFAP. A Superintendência, como edifício administrativo principal, foi projetada de maneira a, dando continuidade à tipologia pavilhonar, horizontalidade e organização formal dentro do sistema modular de elementos construtivos autônomos, caracterizar edifício representativo de sua condição em relação aos demais, mas simultaneamente, pelo sistema formal e construtivo, constituir conjunto urbano com os vizinhos. Explora com mais variedade os elementos de fechamento lateral, de acordo com as funções que abriga, esquemas de circulação racionalizados, pátios com espaços de estar protegidos internamente Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 62 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, fachada oeste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, CanoasRS. Fig. 63 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, planta, projeto original, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. e valorização dos acessos com certa sofisticação. De certa maneira, a Superintendência, intermedeia os espaços internos e externos com mais filtros e controle que o Refeitório e a Portaria, assim como obedece com mais passividade os requerimentos programáticos das atividades funcionais. Projetado sobre malha modular de um metro e vinte e cinco centímetros, a caixa quadrangular é subtraída de dois volumes paralelepipédicos longitudinais no sentido leste-oeste, criando hiatos no volume geral, na forma de pátios com oito metros e setenta e cinco centímetros de largura por trinta e dois metros e cinquenta centímetros de comprimento, posteriormente subdivididos para abrigar equipamentos de infraestrutura e circulação direta entre a ala externa e central. Assim, a planta foi dividida em três alas longitudinais, duas perimetrais de doze módulos ou quinze metros de 344 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ Fonte: MONTANER, Josep Maria, Después del Movimiento Moderno, Barcelona: Gustavo Gilli, 1993, p.55. Mat-Building, DPA n.27/28, Departament de Projects, d' Arquitectura, UPC, Barcelona, dez. 2011, p.46 1950/1970 Capitulo II Fig. 64 - A esquerda, Orfanato Burgerweeshuis, 1960, Aldo van Eick, Amsterdam. À direita, Universidade Livre, Candilins, Josic e Woods, 1969, Berlim. largura, uma central de oito módulos ou dez metros, e duas alas transversais perimetrais de oito módulos, contígua à fachada principal oeste, e doze módulos a leste. Em cada vértice dos pátios, estão os núcleos de sanitários, em um total de quatro (Fig.63 e 67). O edifício de planta quadrada e pátios internos, esquema revisitado por Araújo em diversos projetos posteriores, como a Câmara de Vereadores de Porto Alegre (Fig.60, Cap. Praia de Belas), introduz também a ideia de MatBuilding31, igualmente perseguida por Araújo em edifícios como a fábrica Memphis (Fig.59, Cap.IV, FA_EA), a partir de esquemas alinhados com o sistema de coordenação modular de Aldo van Eick para o orfanato de Amsterdam (1957-1960) (Fig.64) e o sistema de expansão adotado por Candilis, Josic e Woods para a Universidade Livre de Berlim (1969) (Fig.64). A organização da planta, a partir deste esquema básico, é ordenada pela estrutura, com eixos de pilares dispostos a cada quatro módulos ou cinco metros, em uma linha externa perimetral, associada à modulação da fachada, outra interna, solta dentro dos pátios, e duas no meio de cada ala perimetral longitudinal e transversal, com doze módulos, dividindo-as em três: um espaço linear junto às fachadas norte, leste e sul, com cinco módulos de largura, formando um “U” externo de planta livre perimetral, para as salas, um central, 31 Fonte: PIÑON, Hélio. Mario Roberto Alvarez, ETSAB/UPC, Barcelona, 2002, p.48 Fig. 65 - Casa d´Abrollo, Mario Roberto Alvarez, 1947-1948, Pargamino - Buenos Aires. Conceito enunciado por Alison Smitthson, sem definição clara, que se reporta às edificações cujo projeto se estrutura através de uma espécie de "reprodução" de uma das partes, dentro de algum princípio, muitas vezes modular. Artigo original: SMITHSON, Alison. How to reconize and read matbuilding. Architectural-Design n. 9, Londres, 1974, p.577-590. O texto está traduzido e Architectural-Design, acompanhado de textos críticos em publicação recente da ETSAB/UPC. Ver: Mat-Building, DPA Mat n.27/28, Departament de Projects, d' Arquitectura, UPC, Barcelona, dez. 2011, p.6-24 . Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado no intercolúnio, criando uma circulação de dois metros e cinquenta centímetros de largura, e novo “U” interno, igualmente de cinco módulos de largura, com as mesmas características do externo, abrindo-se para os pátios (Fig.66) – esquema semelhante ao utilizado por Moojen posteriormente no projeto para a SMOV (Fig.47, Cap. Praia de Belas). A ala central, posicionada entre os dois pátios, abriga a Biblioteca, atual centro de documentação da REFAP. A ala frontal, junto à fachada principal oeste, de menor largura, possui igualmente espaço linear de cinco módulos junto ao perímetro e, sem o anel interno, possui circulação mais larga, de três módulos ou três metros e setenta e cinco centímetros. A estrutura de pilares, com seção de cinquenta centímetros de comprimento por vinte e cinco centímetros de largura no perímetro externo, solta um metro da esquadria na face externa e um metro em relação às paredes dos pátios internamente. É ordenada perpendicularmente em relação aos quatro planos de fachada externos e paralela às fachadas no vão central de cada ala, junto à circulação e transversais, no sentido norte-sul, nos anéis internos dos pátios. Assim, a estrutura pronuncia-se em relação às superfícies de fechamento lateral não como um exoesqueleto completo em relação ao volume, já que se articula com os elementos vazados na fachada principal e com base e cobertura, que se projetam para o exterior nas demais, mas como elemento ordenador formal e construtivo. Internamente, os pilares junto à Sergio M. Marques 345 Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 66.3 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, corte perspectivado, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. Fig. 66.1 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, estrutura, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. F onte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 66 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, planta, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 66.4 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, corte, projeto original, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 66.2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, corte leste - oeste, projeto original, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. 346 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU UniRitter Fig. 67 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, fachada oeste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 67.3 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, À esquerda: Sistema de forro modular (igual ao Refeitório). À direita, em cima: Mural no hall de entrada. À direita, embaixo: Pátio com parede de concreto ao fundo. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. Fig. 67.1 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, fachada sul, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. Fig. 67.2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 347 Fig. 68 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, elemento vazado, fachada oeste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fonte: Foto Sergio Marques, 2011. Acervo FAM circulação (Fig.66.2) são internalizados por paredes de alvenaria de tijolos à vista, que configuram planos onde se concentram instalações, nos quais se articulam divisórias, de boa translucidez, de acordo com a necessidade, criando um sistema neoplástico de planos alternados, dentro da mesma cadência visual do edifício. O pavilhão está solto do solo com desnível de um metro e dez centímetros, entre piso interno e externo, cuja contenção é feita por viga de baldrame de um metro e vinte centímetros de altura, sendo que a laje de piso se projeta um metro para fora, com nova viga perimetral de bordo, de setenta centímetros de altura, descolando, portanto, visualmente o edifício cinquenta centímetros do plano do solo exterior (Fig.66.4). Igualmente, a laje de cobertura cria balanço externo de um metro com platibanda invertida de setenta centímetros, formando com a verga, no plano da esquadria, um metro recuada, e com a laje de forro rebaixada, um caixão perdido, que, com a mesma dimensão de altura frontal do piso, cria visualmente a ideia de “sanduíche”, com o plano de caixilharia de três metros de altura. Engenhosamente, a linha externa de pilares que suporta a cobertura, soltos externamente em relação aos planos de fachada, apoiam-se no topo de vigas perpendiculares, em balanço, que funcionam como vigas de transição, evitando a chegada aparente do pilar no solo externo (Figs.62 e 66.1). A mesma solução do caixão perdido na cobertura é utilizada nos pátios internos, encabeçando os pilares soltos. A cobertura, por sua vez, é resolvida em módulos, de cinco por doze metros que cobrem as alas perimetrais do “U”, cinco por dez metros que cobrem a ala central e cinco por oito metros que Fig. 69 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Superintendência, fachada norte, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. Fig. 70 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, Fachada Norte e Oeste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. cobrem a ala frontal. Os módulos de cobertura são lajes apoiadas longitudinalmente em vigas calhas, de seção e desenho semelhantes às prémoldadas dos Almoxarifados, com leves inclinações em duas águas, formando um conjunto de “cúpulas” de seção retangular, normalmente escondidas, internamente pelo forro rebaixado e externamente pelas platibandas (Fig.66.2). A platibanda e a viga correspondente no piso, que conformam o sanduíche, não são contínuas. São interrompidas a cada módulo de cinco metros pelo pequeno vão correspondente ao intervalo da viga calha que projeta 348 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II para o exterior suas duas abas laterais. O mesmo esquema é repetido na laje de piso projetada para o exterior, acentuando portanto a modulação da fachada e o intercolúnio. A caixilharia de alumínio é dividida racionalmente em três faixas horizontais: bandeiras móveis, favoráveis à ventilação higiênica; junto ao forro, aberturas basculantes na altura do plano de trabalho, para ventilação de conforto; e peitoris de fórmica branca, na faixa inferior. Obedecendo à modulação geral do edifício, ordenam-se em quatro por intervalo de pilares, criando essa ideia de conjunto de conjuntos que se repetem montando finalmente o conjunto geral (Fig.66.3). As fachadas sul e leste são desprovidas de qualquer proteção, além da platibanda que se projeta para fora (Fig.67.1). A fachada norte recebe brises verticais de alumínio (não foram executados) (Fig.69) e a principal, oeste, é resolvida com combogós pré-moldados de concreto, iguais aos desenhados por Fayet para o Centro Evangélico de Porto Alegre (Fig.68). A mesma solução é utilizada para a fachada norte do Laboratório, acentuando a definição formal dos planos configuradores da praça de estacionamentos. A entrada é caracterizada com elegante ajuste estrutural. A supressão de um módulo de cinco metros de fachada a oeste é ocupada por marquise, que não chega aos pilares, suspensa por viga de um metro e trinta centímetros de altura, vinculada a paredes de concreto à vista que completam o vão do módulo (Fig.66.4). De um lado, este plano de concreto articula-se com floreira que ladeia a escada de acesso; de outro, se resguarda por trás de um tramo de elementos vazados (Fig.67). A marquise de concreto projeta-se quatro metros para o exterior e três para o interior, contrabalançando o balanço e dando continuidade ao pé-direito baixo de ingresso, de dois metros e trinta centímetros, configurado por forro de madeira, visível desde o exterior pela transparência das portas acristaladas (Fig.66.4 e 67 ). O esquema, de certa maneira, faz paralelo à solução formal adotada por Mário Roberto Alvarez na fachada leste da Casa d'Abrollo (1947-48), em Buenos Aires (Fig.65). Internamente mural neoplástico, elaborado por Araújo (Fig.67.3), assim como o da Casa Salomão Furer, de Moojen e Hekman (Fig.120, Cap. M), sinaliza o senso artístico associado a racionalidade eminente na abstração adotada neste trabalho. O rigor dimensional e a exploração de refino formal dos detalhes construtivos irá acompanhar outras experiências dos arquitetos, em especial Araújo e Moojen, mas também a ideia de sistema espacial em um esquema formal tão conectado aos projetos miesianos para o I.I.T, quanto com a arquitetura dos templos clássicos, ordenados de acordo com o dimensionamento construtivo, será revisitada implícita ou explicitamente por todos. FAP A Praça das Três Funções Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 71 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, Laboratório e Segurança, "Praça das Três Funções", Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira, 1962-1968, Canoas-RS. A "praça" formada pela Superintendência, Segurança (Coordenado por Pereira - 25/03/1964) e Laboratório (Coordenado por Fayet -16/04/1964) (Fig.12) constitui, além de uma espécie de "centro" de comando da Refinaria, um espaço expressivo – com bonita proporção da área aberta e sua configuração por limites porosos das fachadas – da condicionante funcional mais determinante do programa em relação aos usuários: proteção e garantia de fuga rápida em caso de acidentes. A praça fronteiriça aos edifícios de comando e controle é, portanto, antes de tudo, um espaço de conexão rápida ao sistema viário principal da Refinaria, pensado para facilitar o escoamento em automóvel com velocidade. Na forma de um estacionamento convencional, que cria uma bolsa com entrada e saída de oitenta e um automóveis condiciona que estes sejam dispostos em "espinha de peixe" com colocação obrigatória do carro em marcha ré em relação ao canteiro central, posicionando todos em direção à saída, conforme normas (Fig.72). A praça, acessada principalmente de automóvel, conecta-se, portanto, com o eixo principal do complexo, que conduz à Portaria e à rodovia pública através de duas vias, tendo ao fundo o pavilhão do Laboratório, formando neste sentido (norte-sul) espaço de aproximadamente cento e vinte e cinco metros, sendo noventa de estacionamentos e canteiros. No outro sentido (leste-oeste), é delimitada pelos edifícios da Superintendência e Segurança, conectados através de eixo de Sergio M. Marques 349 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 73 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Segurança vista desde a Superintendência (leste - oeste), Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1964, Canoas-RS. Fig. 72 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, Laboratório e Segurança, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira, Canoas-RS. simetria (Fig.72 e 73), materializado por caminho de pedestre, afastados noventa metros um do outro, de forma a definir um espaço central visual aquadradado (Fig.71), portanto eixo visual longitudinal e canteiros largos desde o automóvel, com fachada porosa ao fundo (Fig.74), e eixo transversal desde o pedestre, conectando acessos principais dos edifícios através da praça de noventa por noventa metros (Fig.73). O prédio do Laboratório, antigo Edifício de Inspeção, funciona atualmente como espaço de controle de qualidade do produto, assim como de supervisão da segurança "química" de toda a operação (Fig.74). Ocupado por equipamentos sofisticados e complexa infraestrutura de instalações, se organiza espacialmente de maneira muito simples: um pavilhão de sessenta por vinte metros, modulado em um metro e vinte e cinco centímetros, estruturado a cada cinco metros, é dividido longitudinalmente por circulação que separa a planta em duas fatias de um terço a norte e dois terços a sul. Nas extremidades da circulação, a leste e a oeste, entradas de pedestres que conectam o circuito com a Superintendência por um lado, Segurança por outro, assim como dois Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 74 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Laboratório visto desde a Superintendência (norte-sul), Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), 1964, Canoas-RS. 350 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 75.1 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Laboratório, planta, projeto original, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), 1964, Canoas-RS. Obs: O problema de encaixe entre uma planta e outra provém do desenho original. Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fonte: Acervo Petrobras FAM/ Fig. 75.2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Laboratório, corte transversal. Subsolo para equipamentos de Infraestrutura. Shaft para passagem de tubulações. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), 1964, CanoasRS. Fig. 75.4 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Laboratório, trecho de corte longitudinal, ventilação do subsolo. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), 1964, Canoas-RS. Fig. 75.2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Laboratório, fachada principal, norte. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), 1964, Canoas-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 351 Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 76 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Laboratório, fachada oeste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), 1964, Canoas-RS. pequenos estacionamentos exclusivos. Nessas extremidades, o projeto original resolveu formalmente a finalização da fita, de forma distinta à da Superintendência e mais próxima à solução utilizada nos Centro de Treinamento e Serviços Médicos, com a supressão de todas as aberturas, com exceção do acesso à circulação, dividindo a fachada em dois panos cegos (Fig.76). Esta solução, adotada nos pavilhões de proporção mais longitudinal da REFAP, não deixa de refletir o sistema formal do edifício moderno de costados cegos e fachadas porosas, como uma televisão, com menos acento nos casos do Serviços Médicos e Centro de Treinamento que, diferentemente dos Laboratório, estende a base e a cobertura do "sanduíche", em balanço, também nestas faces. O Laboratório, com o mesmo fechamento por planos de concreto pintados de azul, sem o "sanduíche”, no entanto, reforça o esquema da fita de extremidades cegas, assim como a ideia de que o edifício é 32 interseccionado transversalmente por planos azuis (Fig.75.3) . Na fachada principal, a entrada excêntrica em relação ao eixo de simetria, no terceiro módulo a oeste, em direção à Segurança, alinha-se com os canteiros do estacionamento (Fig.75.3). A regularidade organizacional da fita dupla, formada por circulação longitudinal e salas a norte e a sul, novamente, assim como a Superintendência, é expressa formalmente pelo evidenciamento do sistema modular e construtivo. O esquema formal da fachada norte, de sessenta metros de comprimento, alinhada com a largura do estacionamento, é resolvido de forma idêntica à fachada oeste da Superintendência, igualmente com sessenta metros, já que ambos os edifícios compartilham também o mesmo sistema construtivo, ou seja: estrutura de pilares, com seção de cinquenta centímetros de comprimento por vinte e cinco centímetros de largura, Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fonte: Google Earth, Acervo FAM/ Petrobras Fig. 77 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Laboratório, fachada norte, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), 1964, Canoas-RS. Fig. 78 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Laboratório, fachada oeste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), 1964, Canoas-RS. 32 Intervenções posteriores, sem a participação dos arquitetos, alteraram esta lógica formal, acrescentando outros elementos nas extremidades do Laboratório (Fig.75). solta da esquadria, na face externa articulada com os elementos vazados da fachada, com base e cobertura que se projetam para o exterior, descolados do solo pela ventilação do subsolo (onde está infraestrutura - Fig.75.2) e laje de cobertura balanceada com platibanda invertida formando um caixão perdido. Visualmente, a ideia do “sanduíche”, segmentado pela modulação da estrutura e os artifícios formais de baldrame e platibanda, recheado pelo elemento vazado, revelador do sistema dimensional e construtivo, de certa maneira é o recurso formal mais determinante das relações entre os edifícios do conjunto, que desde o ponto de vista urbano adotam certa tradição na configuração da praça, ainda que por razões eminentemente funcionais. O terceiro edifício que compõe a praça, o mais singelo dos três em termos programáticos, deriva da mesma relação formal-construtiva que os demais aplicada com simplicidade, para abrigar sistemas de combate a incêndios e atividades de apoio (Fig.79). Planta retangular, próxima do 352 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 1950/1970 Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Capitulo II Fig. 79.2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Segurança, corte, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1964, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 79.3 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Segurança, fachada norte, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1964, Canoas-RS. Fig. 79 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Segurança, planta e fachada leste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1964, CanoasRS. Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 79.1 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Segurança e a Praça, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1964, Canoas-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 353 Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 79.4 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, Laboratório e Segurança, "Praça das Três Funções" Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira, CanoasRS. Fig. 79.5 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Laboratório e a Praça, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), 1964, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM 354 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II FMMA O sistema em metástase: Serviços Médicos, Vestiário , Vestiário, : Industriais Edifícios I ndustriais e outros Fonte: Acervo FAM Fig. 80 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Segurança, fachada sul, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1964, Canoas-RS. quadrado, ordenada pela mesma modulação de um metro e vinte e cinco centímetros, perfaz seis vãos de cinco metros no sentido leste-oeste e cinco, no norte-sul, com o vão central eixado ao da Superintendência (Fig.72). O edifício (projeto desenhado em fevereiro de 1964), gerando desnível do terreno em relação ao terrapleno da praça, faz com que haja mudança de altura e consequente pés-direitos da construção (Fig.79.2). Com isso, o prédio, que abrigava originalmente algumas funções de conveniência, como um posto do Banco do Brasil e atividades de apoio, organizadas em um espaço em forma de "U", tem planta livre e divisórias, perimetral ao núcleo de banheiros, sanitários, vestiários e serviços, na cota mais alta, ocupando três vãos dos cinco longitudinais, garagem para caminhões de bombeiros e infraestrutura para extinção de incêndios na cota mais baixa, com pé-direito maior. Assim este edifício-garagem apresenta uma face mais administrativa para a praça, a leste, com fachada semelhante à fachada sul da Superintendência, composta de caixilharia de alumínio e peitoris de fórmica, porém com platibanda superior mais avançada, conjuntamente com estrutura de pilares (Fig.79), e outra integralmente aberta, para entrada e saída de veículos desde a rua que delimita o quarteirão a oeste (Fig.79.1). As fachadas norte e sul mantêm a ideia de planos contidos dentro da modulação visual determinada pela estrutura, demarcada pelos pilares a cada cinco metros, porém, neste caso como uma "pele" definida pelos pilares e combogós, que envolvem espaços compartimentados pelas esquadrias de alumínio, próximas ou afastadas, dependendo do caso, ou do espaço dos veículos, simplesmente coberto e aberto (Figs. 79 e 79.3). Por fim a ideia de "sanduíche" permanece, com menos vigor, considerando que a base se altera transformando o baldrame em balanço que propicia o descolamento dos demais pavilhões do solo, em planos de acomodação do desnível de terreno gerado (Fig.80). Fonte: Acervo FAM Fig. 81 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Serviços Médicos, fachada norte e Oeste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), CanoasRS. A associação dinâmica dos elementos de arquitetura (conforme 33 definição de Corona Martínez ), integrantes do repertório formulado no projeto para a REFAP, como pilares, vigas, planos de fechamento, etc., constitui diferentes elementos de composição, como placas, módulos, volumes, etc., cujas variações, tanto de um como de outro, formam o sistema espacial e tipológico adaptável às diversas funções e condições da família de edifícios projetados, sem perder unidade formal. Assim o conjunto de edificações, preservando a identidade de cada unidade, mantém relações tipológicas e formais entre si. Da mesma forma construções de serviços complementares, como os vestiários e edifícios relacionados diretamente com o processo industrial, mantêm a lógica geral do conjunto em termos de organização espacial, ordem formal e sistema construtivo. Por outro lado, elementos de composição e determinadas relações espaciais experimentadas nos diversos projetos foram sedimentando critérios nos quais, durante os seis anos que 33 Ver: CORONA MARTÍNEZ, Alfonso. Ensayo sobre el Proyecto. Buenos Aires: CP67, 1990 355 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 82 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Serviços Médicos, planta, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 83 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Serviços Médicos, fachada oeste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), Canoas-RS. Fig. 84 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Serviços Médicos, corte longitudinal, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), CanoasRS. duraram os projetos para a Petrobras, relações de influência entre as propostas realizadas por cada um dos quatro arquitetos, de acordo com a sequência cronológica de produção, geraram um acúmulo de soluções formais e construtivas, que constituem a base do sistema arquitetônico usado por todos. O pavilhão projetado para os Serviços Médicos (coordenado por Fayet) obedece, de certa maneira a junção de esquemas e soluções adotadas em projetos anteriores (Fig.81). Tipologicamente, é composto por edifício pavilhonar alongado longitudinalmente, de doze metros e dez centímetros de largura e sessenta e sete metros e noventa centímetros de comprimento, organizado por fita dupla de compartimentos ao longo de circulação central, como o Laboratório e de certa maneira o Centro de Treinamentos. Mantém a ideia de Fig. 85 - Laboratorio de Enfermidades virosicas y Laboratorio de carnes INTA, Mario Roberto Alvarez, 1965-1967, Castelar, Província de Buenos Aires. modulação, iniciada nos Almoxarifados, com pilares a cada três metros e sessenta centímetros no sentido longitudinal e dois vãos assimétricos no transversal: um de cinco metros e cinquenta centímetros, correspondente a uma ala de salas, e outro de seis metros e cinquenta centímetros, correspondente à outra, incluindo a circulação (Fig.82). Os pilares recuam do plano de fachada, substituídos na pauta modular da caixilharia por negativo com mesmas dimensões. As fachadas norte e sul adotam o sistema de caixilharia modular com peitoril de fórmica e aberturas no plano de trabalho e superior, utilizados na Superintendência e Centro de Treinamentos, 356 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 1950/1970 Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Capitulo II Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 86 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Serviços Médicos, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), Canoas-RS. Fig. 86.3 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, entrada no complexo e conjunto de edificações. A esquerda, Serviços Médicos. Acima, Portaria. À direita, Oficinas. Abaixo, Almoxarifados (dois conjuntos, conforme projeto original). Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira, Canoas-RS. Fig. 86.1 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Serviços Médicos, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), Canoas-RS. Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 86.4 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, entrada no complexo e conjunto de edificações. À esquerda, Portaria. Acima, Oficinas e Almoxarifados (dois conjuntos, conforme projeto original), À direita, Serviços Médicos. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira, Canoas-RS. Doutorado Sergio M. Marques 357 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Foto Sergio Marques, 2010 Fonte: Foto Sergio Marques, 2010 Fig. 87 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Vestiários, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moacyr Moojen), 1964, Canoas-RS. Fig. 88 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Vestiários, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moacyr Moojen), 1964, Canoas-RS. remanescendo para as fachadas leste e oeste o esquema de plano cego adotado no Laboratório, sendo que a oeste, da mesma maneira, uma abertura em forma de fenda exterioriza a circulação central (Fig.83). A entrada principal, a norte, é marcada por marquise solta da cobertura, como a Superintendência. O edifício, de maneira mais modesta, insinua o jogo de flutuação sobre o lago, como o Refeitório. Aproveitando o desnível do terreno, apoia parte de sua extremidade oeste sobre estrutura laminar que mergulha na água (Fig.83 e 84). Desta maneira, oferece visual qualificado formalmente ao ingressante, desde a Portaria, com a qual forma conjunto (Figs.86.1,2,3 e 4). O descolamento do edifício do plano do solo, conjugado com a organização formal modular e a ideia miesiana de "edifício sanduíche" faz paralelo ao projeto dos Laboratórios de Enfermidades Viróticas e Laboratórios de Carnes INTA (1965-1967), de Mario Roberto Alvarez em Castelar, na Província de Buenos Aires (Fig.85) O Vestiário (coordenado por Moojen - desenhos finalizados em 23/11/1964), mais determinado pelos elementos de arquitetura, em linhas gerais é projetado com critérios semelhantes aos da Superintendência, Laboratório, Segurança e Serviços Médicos e sistema formal da Casa de Controle (Fig.13): modulação geral pautada pela estrutura, volume solto do plano do solo e cobertura projetada pelo balanço de vigas-calhas. De certa maneira, o intercolúnio de pilares delgados pintados de azul-Petrobras, como na Superintendência, ordena a pauta modular da organização interna e externa do pavilhão em fita dupla (Fig.87). Internamente, os módulos organizam, em cada lado da circulação central, conjuntos de sanitários, chuveiros e área de vestir, repetidos modularmente, evitando o desagradável arranjo de áreas de Fonte: Foto Sergio Marques, 2010 Fig. 89 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Vestiários, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moacyr Moojen), 1964, Canoas-RS. banho excessivamente espaçosas (Fig.88). No exterior, a modulação coincide com as vigas calhas e sistema de cobertura idêntico ao dos Almoxarifados e Casa de Controle, armado com peças pré-moldadas e cobertura de 358 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 90.3 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Vestiários, planta, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moacyr Moojen), 1964, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 90.1 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Vestiários, corte, módulos, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moacyr Moojen), 1964, Canoas-RS. Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010 Fig. 90.2 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Vestiários, corte, módulos, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moacyr Moojen), 1964, Canoas-RS. Fonte: Acervo FAM Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 90 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Vestiários, planta de cobertura, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moacyr Moojen), 1964, Canoas-RS. Fig. 90.4 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Vestiários. Detalhe da viga calha. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moacyr Moojen), 1964, CanoasRS. Sergio M. Marques 359 360 Fonte: Acervo FAM telhas de fibrocimento, propiciando caixilharia com ventilação higiênica no espaço entre vigas (Fig.89). Junto ao solo, a solução é igualmente semelhante, com viga de baldrame apoiando fechamento lateral de tijolos à vista, sendo que, neste caso, na ausência da plataforma dos Almoxarifados, a viga de fundação se descola do solo soltando todo o conjunto (Fig.90.1). Por fim, a abertura vertical única, centralizada em cada plano de alvenaria, acentua visualmente o rigor formal determinado pelo controle modular do sistema (Fig.90.2). O esquema é mantido nas construções industriais com todo o repertório, como na Casa de Controle (coord. por Miguel Pereira) que mantém a ordem formal, controle modular e sistema construtivo, no entanto apoiado no solo, como se fosse uma das fitas dos Almoxarifados (Fig.13). Igualmente, a Unidade de Processos de construção mais simples: pauta dimensional determinada pelos pilares azuis, fechamento lateral de alvenaria rebocada descolada da cobertura por aberturas em fita, e costados cegos que, neste caso, superam a altura do volume, construídos em tijolos à vista. Mesmo em funções tão distintas, como a Casa de Etilação (coord. por Moojen), onde a variação de alturas e armazenagem de equipamentos complexos já não permite a ordem modular nem favorece a pré-fabricação, o esquema formal configurado por planos autônomos de alguma maneira permanece. Cobertura plana, fechamentos de tijolos à vista descolados dos planos ortogonais por aberturas e estrutura dão sequência ao sistema arquitetônico que estrutura formalmente todo o conjunto, da escala urbana ao edifício (Fig.15). Ainda um elemento especial, pela sua natureza vertical, o reservatório de água para consumo (coord. por Moojen - Fig.91), construído junto ao Centro de Treinamentos, na parte alta do terreno, impõe excepcionalidade visual por suas proporções e ratifica a lógica compositiva geral, decompondo os elementos de arquitetura em partes visuais autônomas. Pilares delgados, dispostos em arranjo circular suspendem o recipiente cilíndrico, formando outro maior, uma redução formal aos elementos mínimos da construção. A simplicidade do reservatório e sua coerência estrutural incitaram a construção de outros idênticos, em diversas obras da região, realizadas por terceiros. O sistema entrou em metástase. Nesta linha evolutiva, ainda o capítulo da TEDUT agregaria alguns novos elementos, bem como o desenvolvimento de outros, principalmente as oficinas (coordenadas por Araújo e Moojen), cujo desenvolvimento do sistema construtivo e a pré-moldagem, ainda no projeto da REFAP, levaram o esquema formal dos pavilhões industriais a outro patamar. Fig. 91 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Reservatório d´Água, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Moacyr Moojen), Canoas-RS. MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II AM TEDUT O Clímax (1965-1968) Fonte: Fonte: Acervo João Alberto da Fonseca, FAU UniRitter Fig. 93 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras, sistema de monobóias, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Osório-RS. Fig. 92 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Osório-RS. O sistema geral adotado para o refino do petróleo bruto no Rio Grande do Sul tinha como diretriz a implantação das instalações industriais no município de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, por questões estratégicas. Dada a proximidade com a capital do Estado, que desde o ponto de vista tanto da existência de infraestrutura quanto administrativo, oferecia conveniências, como a conexão com as rotas de escoamento dos derivados do refino através do sistema hidrorrodoferroviário, vizinhança com a base aérea de Canoas, proximidade a fornecedores e mão de obra. A chegada da matéria-prima, por outro lado, foi planejada através de engenhoso e complexo sistema de abastecimento de petróleo cru, evitando o transporte por caminhões-tanque, dado o risco da carga inflamável e sobrecarga do sistema rodoviário. O abastecimento foi estruturado por via marítima, no município de Tramandaí, no litoral gaúcho, a aproximadamente cento e treze quilômetros de Canoas, através de monoboias oceânicas flutuantes, a aproximadamente duas milhas da costa, uma para abastecimento de óleo bruto, a duas milhas e meia, outra para carregamento e Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 361 Fonte: Acervo FAM Fonte: Google |Earth Fig. 95 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras, Área Administrativa, Serviços Médicos, Segurança, Refeitório, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, (Coord. por Moojen), 1966, Osório-RS. Fig. 94 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Osório-RS. 34 descarregamento de derivados, como nafta e diesel (Fig.93) . Desde as monoboias, o abastecimento é feito por via submarina até o Terminal Marítimo Todo o processo construtivo do emissário submarino, de quatro quilômetros de extensão, bem como o oleoduto de mais de cem quilômetros, o início de funcionamento do TEDUT, com o primeiro abastecimento realizado através de navio-petroleiro de bandeira africana (1968), assim como imagens de época, tanto da REFAP quanto do TEDUT, podem ser vistos no extraordinário registro cinematográfico denominado Petróleo Brasileiro – Novos Caminhos. ROSSI, Itacir; ROSSI, Álvaro. Petróleo Brasileiro – Novos Caminhos. Documentário. Produção: InterFilmes – Ltda. Narração: Cid Moreira. Porto Alegre, 1969. Formato Digital. Disponível em: 34 Almirante Soares Dutra – TEDUT, em Osório–RS (Fig.92), e através de 35 oleodutos, por mais de cem quilômetros, até a REFAP . O TEDUT, portanto, é uma subsidiária da REFAP, inaugurada em 1968, cuja operação integra o mesmo sistema industrial, cumprindo a função de armazenamento da matéria bruta que chega ou dos derivados que saem via marítima. Consequentemente, o planejamento urbanístico e arquitetônico deu sequência ao iniciado na Refinaria. Os projetos da parte civil do Terminal iniciaram em meados de 1965, portanto com os trabalhos da REFAP bastante adiantados em termos de projeto e execução. O projeto e fiscalização da construção do Terminal foram . Acesso em 26 nov. 2011, às 12h 24min. Da REFAP, o oleoduto segue até a TENIT (Terminal de Niterói), em Canoas, às margens do Rio Gravataí, onde os derivados são transportados para o Polo Petroquímico em Triunfo-RS, via fluvial. Para informações técnicas sobre o sistema e descrição detalhada da operação, bem como dos equipamentos envolvidos, Ver: ENGEP MARINE. Condições gerais de serviço terminal Tedut Tedut. Disponível em: . Acesso em 26 nov. 2011, às 11h . 35 362 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 96 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras, Segurança e Reservatório, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen (Coord. por Araújo), 1966, Osório-RS. Neste momento, Fayet estava envolvido com outros encargos da REFAP e Miguel Pereira já se preparava para morar em Brasília. ARAÚJO, Cláudio Luis Gomes; MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Porto Alegre, 25 nov. 2011. 37 No projeto do TEDUT, colaboraram com a Equipe de Arquitetos, Vinícius Dani, Valério Anzanello e Félix Marcon enquanto que as equipes de engenharia se mantiveram as mesmas. A fiscalização da obra foi feita através de visitas semanais nas quais se revezavam Araújo e Moojen. Idem. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 36 Fonte: Acervo FAM contratados por aditivo ao contrato da REFAP, e nesta etapa, dados os critérios de distribuição de trabalhos entre a Equipe de Arquitetos, ficaram encarregados 36 do TEDUT Araújo e Moojen . O programa, análogo ao da Refinaria em termos operacionais, se constituía em Área Administrativa, Serviços Médicos, Segurança, Refeitório, Portaria, pavilhões de Almoxarifados e Oficinas. Diferente da REFAP, Área Administrativa, Serviços Médicos e Refeitório foram agrupados em uma única edificação, cujo projeto foi coordenado por Moojen (Fig.95). Segurança (Fig.96), Caixa d´água (Fig.96) e Portaria (Fig.97), edificações que se mantiveram independentes, foram coordenadas por Araújo. Almoxarifados por ambos, que desenvolveram o protótipo de pavilhão integralmente pré-fabricado 37 a partir do sistema iniciado por Fayet e Araújo na REFAP (Fig.98) . A ideia geral de implantação do conjunto, definida em equipe, tinha como pressuposto estruturar espaço urbano moderno, com premissas igualmente análogas às utilizadas na REFAP, tais como criação de espaços abertos através da relação formal entre as edificações e integração do complexo em ambiente natural expressivo. Com essas diretrizes iniciais, os arquitetos realizaram pesquisa das condições de fauna e flora locais, com o Fonte: Acervo FAM Fig. 97 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras, Portaria, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, (Coord. por Araújo), 1966, Osório-RS. Fig. 98 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras, Almoxarifados, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, (Coord. por Araújo e Moojen), 1966, Osório-RS. Sergio M. Marques 363 Fonte: Acervo FAM Fig. 99 - REFAP – TEDUT, Petrobras, Almoxarifados, vigas calha pré-mloldadas em concreto recebendo impermeabilização. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira, Canoas RS, Osório-RS. Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 99.3 - REFAP – TEDUT, Petrobras, Almoxarifados, fechamento lateral. Peça de concreto prémoldado tipo "gaveta". Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira (Coord. por Araújo e Moojen), Canoas RS, Osório-RS. Fig. 99.1 Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Oficina de Instrumentação Ferramentaria Geral, corte longitudinal, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira (Coord. Carlos M. Fayet), 1965, Canoas - RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 99.2 - REFAP – TEDUT, Petrobras, Almoxarifados, montagem de pilares e fechamento lateral. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira, Canoas RS, Osório-RS. Fig. 99.4 - REFAP – TEDUT, Petrobras, Almoxarifados, montagem fechamento lateral. Peça de concreto pré-moldado tipo "gaveta". Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira, Canoas RS, Osório-RS. 364 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Acervo FAM Fig. 99.5 - REFAP – TEDUT, Petrobras, montagem fechamento lateral. Peça de concreto prémoldado tipo "gaveta". Peça inferior colocada pela face interna do pilar para ventilação natural. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira, Canoas RS, Osório-RS. Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 99.7 - REFAP – TEDUT, Petrobras, montagem vigas calhas transversais da cobertura. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira, Canoas RS, Osório-RS. Fig. 99.6 - REFAP – TEDUT, Petrobras, Montagem vigas calhas transversais da cobertura. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira, Canoas RS, Osório-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fig. 99.8 - REFAP _TEDUT, Petrobras, Almoxarifados e Oficinas, vigas calhas Azul Petrobras. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira, Canoas RS, Osório-RS. Sergio M. Marques 365 apoio da unidade da Secretaria da Agricultura local, determinando espécimes vegetais e criação de animais adequadas às condições do contexto, relativamente hostil, dada a salinidade e a frequência de ventos. Portanto, a implantação geral manteve a ideia de pavilhões dispostos em parque verde criado, ao estilo cidade jardim (Fig.94). A parte fronteiriça do TEDUT, face à Estrada Tramandaí-Osório (RS030), em uma testada de aproximadamente quinhentos metros, assim como a REFAP, é ocupada integralmente por vegetação importante e áreas verdes, armando o ingresso desde anel viário de onde arranca eixo de acesso, no sentido sudoeste-nordeste, a partir de estacionamento de espera para controle e pórtico de acesso. Esse eixo prolonga-se por toda a área do Terminal, no sentido longitudinal, em uma extensão de aproximadamente mil metros, dividindo a gleba em área de armazenagem da matéria-prima, com tanques metálicos, a noroeste, ocupando aproximadamente dois terços do total, e outra mais a sudeste, com os Almoxarifados, ocupando aproximadamente um terço (Fig.94). O primeiro cruzamento transversal do acesso conduz, a noroeste, à praça configurada pelo edifício que originalmente concentrava Administração, Serviços Médicos e Refeitório, como edificação principal e cabeça de quarteirão que culmina toda a sequência de lotes industriais onde estão os tanques de armazenagem. Assim como na REFAP, a concentração de atividades administrativas cria espaço de certa centralidade no conjunto. Na outra extremidade da praça, ortogonal à edificação principal, o prédio da Segurança e caixa d´água, com ingresso por trás, configuram a figuratividade insinuada no espaço aberto. Posteriormente, com o aumento das atividades administrativas, 38 o Refeitório foi transferido para edificação nova construída sobre a praça (Figs.103.4). À direita do eixo principal, alinhado à praça, inicia-se a sequência de pavilhões de serviço, que ritmados acompanham toda a área industrial. Essas edificações em parte adotaram o ponto de culminância do sistema de préfabricação para os Almoxarifados e Oficinas, inteiramente construídos com processos industrializados, assim como os últimos da REFAP, com estrutura de concreto pré-moldada in-situ e painéis de fechamento lateral, com encaixe de gaveta, igualmente pré-moldados, com sofisticado sistema de pré-moldagem e 39 montagem (Figs.99) . A sequência de construção e montagem das Oficinas e Projeto de Fayet, Araújo e Moojen (1990-1991). Ver: FAYET, Carlos Maximiliano. Refeitório do TEDUT. Projeto, n. 163, São Paulo, 1995. p. 61-63. Projeto 39 Foram projetados e construídos, com este sistema construtivo, a Oficina de Instrumentação Ferramentaria Geral - A4 (REFAP, Coord. por Carlos M. Fayet, 1965) (Fig.99.1), Oficina de Turno A1 (REFAP, Coord. Carlos M. Fayet, 1965), Oficina Mecânica A2 (REFAP, Coord. Carlos M. Fayet, 38 Almoxarifados, das áreas industriais, da REFAP e TEDUT, pode ser descrita da seguinte maneira: fundações semelhantes as dos primeiros almoxarifados: construção de sapatas individuais, para cada pilar pré-moldado em concreto, vigas de baldrame e castiçal, em concreto in loco. Os pilares com seção retangular, em "T" ou "H", dependendo do caso, de quarenta e cinco por vinte e cinco centímetros na parte principal, dispostos a cada cinco metros, de eixo a eixo, servem de estrutura para o encaixe dos fechamentos laterais (Figs. 99.2 e 100). O pluvial desce externamente na junta entre as placas de fechamento lateral (Fig.100.6); após colocação dos pilares, a montagem do fechamento lateral com placas de concreto pré-moldado, encaixe tipo "gaveta" (Fig.100.1) nas extremidades vencendo o vão, entre pilares, com um metro e três centímetros de altura (Fig.99.3), começa com a primeira placa invertida, alinhada com a face interna do pilar. Assim no espaço entre a primeira e a segunda placa, cria-se uma defasagem, utilizada para ventilação natural, além do negativo visual externo (Fig.99.5 99.8). Não há vigas longitudinais sobre o topo dos pilares, como nos primeiros Almoxarifados da REFAP. Na última fiada das placas de fechamento lateral, há uma placa dupla (interna e externa), para apoio da abertura superior e saída de ar (Fig. 99.6 e 100.3), que igualmente se projeta em balanço nas extremidades acentuando o efeito neoplástico (Fig.99.8); sobre os pilares, vigas-calha transversais, pré-moldadas em concreto, com seção em “H” de oitenta centímetros de altura e quinze centímetros, cada perna do “H” com quinze centímetros no intervalo, doze a quinze metros de luz, postas sobre o eixo dos pilares, com balanços de dois metros (Fig.99.7); vigotas de concreto pré-moldado, com quarenta por doze centímetros de seção, apoiados nas vigas-calhas, no sentido longitudinal, a cada, aproximadamente, dois metros e setenta centímetros, apoiam terça de madeira para fixação da telha de fibrocimento (Fig.100.6). No meio e nas extremidades, peças prémoldadas de concreto, fazem as vezes de cumeeira e calhaplatibanda (Fig. 100.3 e 100.7); 1965), Depósito de Soda (REFAP, Coord. por Miguel A. Pereira, 1966) e os Almoxarifados (TEDUT, Coord. por Araújo e Moojen, 1965). 366 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 100 - REFAP – TEDUT, Petrobras, família de pilares pré-moldados, projeto estrutural, Dicran Gureghian, Eugenio Knorr, Benno Sperhacke, Canoas RS/ Osório-RS. Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 100.1 - REFAP – TEDUT, Petrobras. À esquerda, tipos de painéis de concreto pré-moldado de fechamento lateral. À direita, exemplos de encaixes dos países com pilares. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira (Coord. Araújo e Moojen), Canoas RS, Osório-RS. Fig. 100.3 - REFAP – TEDUT, Petrobras. "Cortes de pele " ilustrando a colocação dos painéis de fechamento lateral e vigas pré-moldadas de cobertura. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira (Coord. Araújo e Moojen), Canoas RS, Osório-RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 100.2 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras, Almoxarifados, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira (Coord. por Araújo e Moojen), 1966, Osório-RS. Doutorado Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Sergio M. Marques Fonte: Acervo FAM Fig. 100.4 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Oficina de Turma, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira(Coord. por Carlos M. Fayet), 1966, Osório-RS. 367 Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 100.5 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Oficina Mecânica, fachada leste/oeste. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira (Coord. por Carlos M. Fayet), 1965, Osório-RS. Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fonte: Acervo FAM/ Petrobras Fig. 100.6 - REFAP _ TEDUT, Petrobras. À esquerda, detalhe de fixação da telha. No meio e à direita, detalhe da conexão do pluvial com as vigas calhas. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira, Canoas/RS, Osório-RS. Fig. 100.7 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Oficina Mecânica, trecho da cobertura, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira (Coord. por Carlos M. Fayet), 1966, Osório-RS. Fig. 100.8 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Oficina Mecânica, Fachada Leste. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira (Coord. por Carlos M. Fayet), 1965, Osório-RS. Fonte: Foto João Alberto da Fonseca/ Acervo FAM 368 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: Fotos Sergio Marques 2011 Fig. 101 - Red and Blue Chair. À direita, sistema de encaixe desenvolvido por Rietveld, Gerrit Rietveld, 1917. Aberturas, normalmente metálicas, ocupam estritamente os vãos de supressão das placas de fechamento lateral (Fig.100.5,8); Os almoxarifados, portanto, deram o start e desfecho no espírito de racionalidade construtiva e coordenação modular, adotado em todo o complexo, assim como o desenvolvimento de sistemas construtivos, como um Lego, que igualmente são base de exploração formal desde as vanguardas construtivas (Fig.101). Os demais edifícios, no entanto, seguiram esquemas de construção mais tradicionais, com paredes de alvenaria de pedra grés – comum na região, substituindo os tijolos à vista utilizados na REFAP, igualmente por conveniência de fornecimento – estruturas de concreto marcadas por vigas aparentes ritmadas em módulos de três metros, pintadas de azul-Petrobras e esquadrias de madeira envernizada, mantidos nas construção do novo refeitório, trinta anos 40 depois . Mesmo assim, com construção mais simples, o sistema formal e determinados critérios de projeto igualmente se mantiveram, ou melhor, evoluíram ao ponto de se simplificarem e se sintetizarem, como um sistema espacial mais ou menos flexível adotado em outros projetos paralelos realizados pelos arquitetos, como no próprio Edifício FAM, projetado no mesmo ano. Horizontalidade, independização de elementos construtivos, coordenação modular, ordem visual, decomposição do volume em planos, vertebração do espaço através da estrutura, fechamentos laterais externos e internos como No texto publicado na revista Projeto sobre o novo refeitório do TEDUT, redigido por Fayet, há a noticia de que a contratação dos arquitetos para o novo refeitório devia-se em parte à reivindicação dos próprios funcionários do Terminal pela manutenção da arquitetura realizada originalmente, em especial o sistema construtivo (Figs.103.4). Op cit. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 40 Fonte: Acervo FAM Fig. 102 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras, Portaria, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, (Coord. por Araújo), 1966, Osório-RS. planos independentes e algumas vezes flexíveis, plantas livres e adaptáveis são critérios que se consolidam e se explicitam no TEDUT. O projeto da Portaria (coordenado por Araújo) mantém a ideia de flutuação desenvolvida na REFAP, desta vez com o plano de cobertura balanceado sobre os acessos, com um apoio central onde estão as funções de portaria, recepção e controle (Fig.102). O balanço, de nove metros para cada lado, é realizado por uma placa de concreto que se dobra nas laterais formando vigas de altura variável com aproximadamente um metro no cume. A delicada concordância entre plano horizontal e vertical da cobertura estabelece o critério visual de placa delgada dobrada, que atribui leveza a todo o conjunto. Na base, dois planos cegos às orientações de chegada e saída dão abrigo à sustentação estrutural da cobertura, oferecendo faces transparentes aos espaços inferiores, no outro sentido, onde estão as atividades de controle cobertas. Dentro desta volumetria simples e elementar, a sofisticação prossegue no negativo negro entre base e cobertura, que dá sequência à estrutura da caixilharia, ao peitoril de madeira do entrepiso e à gárgula metálica vermelha na extremidade da laje branca abstrata, com iluminação artificial embutida na forma de rasgos. A articulação entre a Portaria e o cercamento de toda área, como na Sergio M. Marques 369 Fonte: Acervo FAM Fig. 103 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras. À esquerda, Portaria (Coord. por Araújo). À direita, em primeiro plano, Edifício Administrativo (Coord. por Moojen). Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira, 1966, Osório-RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 103.3 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras. Segurança (Coord. por Araújo). Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira, 1966, Osório-RS. Fig. 103.4 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras. Novo Refeitório (Coord. por Moojen e Araújo). Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, 1990-1991, Osório-RS. Fonte: Fotos Sergio Marques 2011 Fonte: Acervo FAM Fig. 103.1 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras. À esquerda, Edifício Administrativo (Coord. por Moojen). À direita, Segurança (Coord. por Araújo). Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira, 1966, Osório-RS. Fig. 103.2 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras. Segurança (Coord. por Araújo). Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, Miguel A. Pereira, 1966, Osório-RS. 370 Fonte: Acervo FAM MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fig. 104 - Bodegas Garvey, Miguel Fisac, 1968, Jerez de la Frontera- Espanha . REFAP, igualmente se dá por planos de transição – lá de concreto, aqui de pedra grés, um paralelo, outro ortogonal ao plano de chegada – construídos com requintada paginação de fiadas de pedra de dimensão variável. A arquitetura essencial do projeto da Portaria, constituída de planos e elementos de construção filiados às vanguardas construtivas, em especial ao neoplasticismo, com requinte no detalhamento, caracteriza não só o sistema formal em marcha na obra dos três arquitetos, mas principalmente na de Araújo, em particular. O edifício principal (coordenado por Moojen), um pavilhão de vinte por oitenta metros, acentua o critério de planos construtivos autônomos (Fig.95). A cobertura plana, encabeçada por platibanda de altura reduzida (viga longitudinal invertida) pintada de branco, apoia-se no sistema de vigas transversais dispostas a cada três metros, com todos os fechamentos laterais (sejam paredes de alvenaria de pedra grés, à vista ou rebocadas e pintadas de branco, esquadrias moduladas com montantes verticais de madeira à vista e peitoris de fórmica branca, ou painéis de madeira com portões) nivelados pela face inferior das vigas, que se balanceiam para o exterior, além da cobertura. Concorrem ainda, como elemento formal, planos de pedra que se projetam para a frente, criando pátios de serviço onde o prolongamento das vigas fazem pérgulas (Fig.104). Assim, o espaço compreendido entre as vigas, em toda sua altura, remanesce livre de estrutura, com aberturas de iluminação e ventilação higiênica, importante recurso formal de descolamento da cobertura e independização de planos, como o adotado entre a base e o corpo do Edifício FAM, assim como os pavilhões de Almoxarifados, aparentado além dos esquemas adotado por Richard Neutra nos Centros Sociais em Porto Rico (1944-1945), ao sistema formal utilizado por Miguel Fisac Serna (1913-2006) na 41 Fábrica Colomers-Munmany, das Bodegas Garvey, em Jerez (1968) (Fig.104) . 41 Na verdade, a ideia de estrutura independente, com pilares e vigas de mesma seção, utilizadas por Araújo e Moojen no TEDUT, formando uma espécie de sequência de pórticos transversais à edificação, contraventados por vigas longitudinais recuadas dos planos da fachada, já havia começado a ensaiar-se na casa Telmo Ferreira (1960), de Araújo. Liberando os fechamentos laterais do contato com a laje em balanço, deixa, assim, tanto espaço entre vigas transversais livre para aberturas e percepção visual da planaridade das lajes, quanto para a borda destas, livre de vigas, junto ao plano de fachada, tal como no projeto do Edifício FAM. O critério mantém-se no edifício da Segurança (coordenado por Araújo), com a diferença deste elevar-se do chão aproximadamente um metro e meio, gerando pé-direito, sob a cobertura, para o abrigo dos caminhões de bombeiros (Fig.103.1). A criação desta base, construída de pedra grés, com degraus de concreto como planos soltos, alinha-se com os edifícios sanduíche da REFAP, mas também traz a ideia de que o sistema espacial destes pavilhões, por sua universalidade formal e sistematicidade funcional/construtiva, podem se adaptar à variação de dimensões e altura tanto quanto de programa. O pavilhão da Segurança se configura igualmente pela grande laje de cobertura, apoiada no sistema de vigas transversais, com espaços vazios nas extremidades para estacionamento dos veículos de serviço e funções de apoio no meio, sobre a base elevada (Fig.103.3). A flexibilidade e universalidade do sistema formal e construtivo adotado para estes dois pavilhões do TEDUT – com a versatilidade funcional experimentada por Moojen no projeto de conjugação da Administração, Serviços Médicos e Refeitório em um mesmo sistema espacial, o requinte e valorização do detalhe em soluções simples de Araújo na Portaria, e a maturação da racionalidade construtiva nos pavilhões desenvolvidos por Araújo e Moojen – focam finalmente atributos arquitetônicos e procedimentos de projeto que refletem além da arquitetura produzida no FAM, os parâmetros adotados em obras produzidas pelos três arquitetos até o final dos anos 1970. Denominam produção arquitetônica e universo formal que, pelos seus diversos graus de abstração e atemporalidade, assim como impessoalidade e sistematicidade, se revelaram, em termos contemporâneos, mais perenes e apreensíveis como prática corrente de qualidade notável. Estavam tocando de ouvido, mas já era uma orquestra sinfônica. Fonte: Fisac, nascido em Castilla, Espanha, dedicou sua carreira ao estudo do emprego da préfabricação na construção, em particular do concreto protendido em peças ocas que ele chamava de “ossos”. Ver: FISAC, Miguel. Huesos vários. Madrid: Fundación COAM, 2007. (Fig. p.183). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 371 O Concreto e os três Arquitetos Fig. 105 - À esquerda, Edifício na 29b Rue Franklin, Auguste Perret, 1903, Paris. À Direita, Sistema Dom-ino, Le Corbusier, M. Dubois e I. Scheneider, 1914 . A Refinaria Alberto Pasqualini (1962) iniciou expediente pioneiro no uso do concreto com uma das primeiras construções brasileiras em concreto prémoldado no canteiro de obras e a primeira no Rio Grande do Sul, já que ainda não existiam indústrias e equipamentos de pré-fabricação nem tecnologia de protensão no sul do país. O pioneirismo dos projetos e sistema construtivo da Refinaria, vinculado aos anseios desenvolvimentistas de estruturação de uma imagem contemporânea associada ao nacionalismo predominante na Petrobras, conduziu a todos, promotores, arquitetos e construtores, ao desenvolvimento de soluções criativas e superação de problemas de industrialização da construção, pré-moldagem no canteiro de obras, no caso, até então inéditos no Estado. Mas também o ideal da técnica como sistema lógico de organização espacial e formal e uma clara confiança nas implicações organizativas, em termos de modulação dos projetos, controle dimensional, construtivo e formal de uma construção racionalizada, eram a base da forma moderna de projetar que se formava entre estes jovens. Dentre os rigores no exercício do ofício, autoimpostos pela necessidade de afirmação da profissão, da arquitetura moderna e do progresso urbano e social desejado, a convicção pela autoridade do conhecimento e da ciência, como ferramenta poderosa da ação arquitetônica, ocupava lugar central. As conexões entre Movimento Moderno, progressismo social e crença na técnica, conjugadas na historiografia da arquitetura moderna, permeiam princípios e valores arquitetônicos de larga repercussão espacial e estética. A verdade dos materiais, a liberdade da planta livre, o espaço urbano fluido dos pilotis, a transparência das fachadas, o terraço jardim coletivo e utilizável são conceitos carregados de conteúdos e formas modernas intimamente associadas às novas possibilidades construtivas, em particular, o concreto. O concreto armado, em especial, coleciona em seu processo de desenvolvimento histórico a sedimentação de experiências estruturais, plásticas, geológicas e químicas que, desde a arquitetura romana, mas principalmente no século XIX, sustentaram a tecnologia utilizada fundamentalmente em obras de engenharia que, através das experiências de engenheiros como as de Jose 42 Monier, Louis Lambot e Françoise Hennebique , descortinaram novos valores arquitetônicos uníssonos ao ideário formal do Movimento Moderno, na percepção inicial de arquitetos como Auguste Perret. A obra inaugural na rue Franklin (1903) (Fig.105) predispôs o uso do concreto como sistema espacial de malha abstrata, fechamento lateral diáfano e estrutura como elemento compositivo autônomo, assim como nos prédios industriais construídos por engenheiros na América e o impacto dessas construções sobre os europeus, 43 em particular Gropius e Le Corbusier . Significativa também é a coincidência do sistema Dom-ino (Fig.105) concebido por Le Corbusier conjuntamente com os engenheiros M. Dubois e I. Scheneider (1914), à luz dos cinco pontos, com o domínio do concreto armado na construção civil. ZEIN comenta que a "industrialização da construção, principalmente através da pré-fabricação dos elementos construtivos, com vistas à sua realização de maneira sistemática, racional e fabril era – e continua sendo – uma das ideias-chave da modernidade, um horizonte utópico perseguido desde 44 muito antes que tais metas fossem, ou se tornassem, uma realidade factível" . No campo brasileiro, este espírito coincidia com a utilização do próprio concreto como material expressivo e sua fetichização, como matéria bruta, nas arquiteturas modernas emergentes logo após a Segunda Guerra Mundial e o Fonte: Foto Sergio Marques, 1987, 2011 Ver: GRINDA, Efrén G. El hormigón armado. In: TECTÔNICA – hormigon (I) “in-situ” n. 3, ATC, armado. Madrid, 1996. p. 5. 43 Gropius, antes do Le Corbusier de Vers une Architecture e da I Guerra, publicou um artigo denominado Die Entwicklung moderner industriebaukunst (O desenvolvimentos dos modernos edifícios industriais), conclamando os arquitetos a observarem a arquitetura industrial americana como modelo a ser seguido. Idem, p.10. 44 ZEIN, Ruth Verde. A Miragem da industrialização – abrindo a mata virgem a facão: alguns casos do brutalismo paulista. In: COMAS, Carlos Eduardo; MAHFUZ, Edson; CATTANI, Aírton. II Sul, Seminário DOCOMOMO Sul Concreto - Plasticidade e Industrialização na Arquitetura do Cone Sul Americano 1930/1970. Docomomo Núcleo RS/PROPAR, Porto Alegre, 2008, CD-ROM, p.3. 42 372 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fig. 106 - À esquerda, Edifício de Aulas, Escola de Engenharia, USP, Hélio de Queiroz Duarte e Ernest Robert de Carvalho Mange, 1953, São Carlos - SP. À direita, Casa Bóris Fausto, Sérgio Ferro, 1961, São Paulo - SP. Parece contraditório constatar o quão frequentemente se depositavam nessas obras de concreto aparente rústico, a esperança de que, apesar de sua fatura artesanal, estas estariam também colaborando, de uma ou outra maneira, para a viabilização da industrialização da construção e préfabricação dos elementos construtivos. Se hoje essa equação parece ser ingênua e não fechar, naquele momento o emprego de importantes estruturas de concreto aparente, embora moldadas in loco e com não-acabamentos rústicos, eram considerados por seus autores e comentadores como marcos em um caminho que todos acreditavam, mesmo se para ele não estivessem concretamente 45 contribuindo: a viabilização da pretendida industrialização do setor construtivo . Pequenas experiências com a industrialização da construção, em particular com o uso do concreto, associadas à arquitetura moderna brasileira, em qualquer caso iniciaram de maneira tímida e episódica. Como na concepção estrutural e partes do processo construtivo do Edifício de Aulas (B-1) da Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo, em São Carlos, de Hélio de Queiroz Duarte e Ernest Robert de Carvalho Mange (1953) (Fig.106), na casa de Bóris Fausto, de Sérgio Ferro (1961) (Fig.106), e nas casas de Paulo Mendes da 46 Rocha e sua irmã, Lina Cruz Mendes da Rocha (1964) (Fig.107). No entanto, a experiência, parcialmente executada, incorporando sistemas de pré-moldagem em concreto como sistema de projeto e construção, provavelmente os pioneiros, em escala mais expressiva, na área da habitação, em termos brasileiros, foram os projetos dos arquitetos Eduardo Kneese de Mello, Joel Ramalho Jr. e Sidney de Oliveira para o Setor Residencial 45 46 Fonte: recrudescimento do brutalismo no cenário internacional e brasileiro, entre os paulistas em particular. ZEIN, em relação a esta questão, observa que: idem, p.3. Estas obras, suas conexões arquitetônicas com o contexto da escola paulista e o brutalismo, assim como a relação da solução estrutural com a concepção arquitetônica estão abordadas em ZEIN. Ruth Verde. A Miragem da industrialização – abrindo a mata virgem a facão: alguns casos do brutalismo paulista. Idem. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: ZEIN, Ruth Verde. A Miragem da industrialização – abrindo a mata virgem a facão: alguns casos do brutalismo paulista. In: COMAS, Carlos Eduardo; MAHFUZ, Edson; CATTANI, Aírton. II Seminário DOCOMOMO Sul, Concreto Plasticidade e Industrialização na Arquitetura do Cone Sul Americano 1930/1970. Docomomo Núcleo RS/PROPAR, Porto Alegre, 2008, CD-ROM, p.10 Fonte: . Fig. 107 - Casas Paulo Mendes da Rocha e Lina Cruz Mendes da Rocha, 1964, São Paulo. Fig. 108 - Conjunto Residencial da USP - CRUSP, Eduardo Kneese de Mello, Joel Ramalho Jr. e Sidney de Oliveira, 1963, São Paulo-SP. da Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira (CUASO), da Universidade de São Paulo, chamado também de Conjunto Residencial da USP (CRUSP). O projeto de doze barras de seis pavimentos mais pilotis, com setecentos e vinte apartamentos no total, indicava a circunstância construtiva e exigência programática para a racionalização repetitiva da execução e economia de escala. Mesmo com uma série de dificuldades de cronograma e com processos 47 de licitação das obras , seis barras foram executadas com estrutura pré47 Seis barras tiveram seu processo de construção acelerado para servir de alojamento para os atletas do Pan-americano de 1963. Sergio M. Marques 373 Fig. 109 - Conjunto Residencial da USP - CRUSP, Eduardo Kneese de Mello, Joel Ramalho Jr. e Sidney de Oliveira, 1963, São Paulo-SP. moldada em concreto (Fig.108) e todas as doze, de acordo com a racionalidade e sistematicidade do projeto, incorporando tanto os princípios de produção das partes, preferencialmente de maneira industrializada e padronizada, quanto o espírito brutalista de evidenciar os processos construtivos, mesmo as instalações. Assim, todas as compartimentações foram feitas com painéis leves e armários, canalizações e instalações à vista, acessíveis para manutenção e modificações, pisos de massa plástica assentados diretamente nas lajes, fachadas com caixilhos de alumínio e painéis de Formiplac, paredes externas de chapa corrugada Eternit, aparafusadas, etc. Não foram utilizados tijolos internamente, nem nenhum tipo de pintura. Todos os materiais permaneceram 48 com sua textura e acabamento original (Fig.109) . O CRUSP, como muitas obras do gênero, acabou por não manter o rigor na realização dos aspectos conceituais ligados ao projeto e técnicos, a construção até as últimas consequências, por fatores supervenientes, mas, por outro lado, deu o pontapé inicial na dimensão social pretendida pela arquitetura moderna, através do desenvolvimento de tecnologia de disseminação de sua arquitetura em larga escala e da representatividade do moderno enquanto progresso coletivo, dimensões às quais as experiências quase contemporâneas 49 da UnB e REFAP de alguma maneira estavam engajadas . Em paralelo, as obras que, assim como muitas produzidas pela Escola Carioca, repercutiram nacionalmente foram os projetos para a Universidade de Brasília, tanto pelo pioneirismo dos sistemas de construção quanto pelos conceitos do projeto arquitetônico, mas fundamentalmente pela representatividade da nova capital federal. A Universidade de Brasília, criada em 50 1962, tendo como uma das metas formar uma instituição modelo , era coordenada por uma comissão a qual integravam Darcy Ribeiro (1922-1997), Cyro Versiani dos Anjos (1906-1994) e Oscar Niemeyer, este com o encargo de desenvolver o plano urbanístico, já traçado por Lúcio Costa, e projetar os edifícios, através do recém-criado Centro de Planejamento da Universidade de 51 Brasília (CEPLAN) , assim como coordenar academicamente o Instituto de Arquitetura da UnB. Os planos para Universidade de Brasília, como os para a REFAP, também se confundiam com metas políticas, e a arquitetura pretendida deveria, tanto em um como em outro caso, representar ideais que disputavam a construção da imagem da própria nação brasileira dentro de determinadas visões ideológicas. A ideia da industrialização e fabricação em série dos elementos construtivos, a partir de concepção arquitetônica otimizada para sistemas de materialização racionalizados – herança da visão moderna da A dimensão política do CRUSP logo se fez presente, com a invasão de trinta apartamentos pelos estudantes após o Pan-Americano de 1963 (na gestão do reitor Luiz Antônio da Gama e Silva, que impediu os estudantes de ocuparem o local, e que posteriormente foi o redator do AI-5, no Ministério da Justiça, durante o Governo Costa e Silva) e, a partir daí, transformou-se no centro do movimento estudantil de São Paulo e dos movimentos contra a ditadura militar, até a invasão do conjunto pelo exército em 1968. Sobre a importância política do CRUSP na formação de estudantes e no meio político dos anos 1960, ver: COUTO, Nilson Queiróz. A Experiência Cruspiana. Vídeo documentário. São Paulo, 1986. Disponível em: Acesso em 16 out. 2011, às 20h 33min. 50 A UnB, criada durante o governo de João Goulart, sob a liderança de Darcy Ribeiro, havia sido concebida e desenvolvida desde o Governo de Juscelino Kubitschek, com a participação de Anísio Teixeira (responsável pela criação da Universidade do Distrito Federal em 1935), e o apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A organização geral da Universidade de Brasília, no final dos anos 1960, assim como o Plano Piloto de Lúcio Costa, podem ser vistos em: DIAS, Caio Benjamim. A estrutura da Universidade de Brasília. In: Acrópole Edição Especial da Acrópole, Universidade de Brasília, ano 31, n. 369/70, São Paulo, jan./fev. 1970. p. 3-7. 51 Neste período, Niemeyer mudou-se definitivamente para Brasília, e com a equipe formada por João Filgueiras Lima, Alcides da Rocha Miranda, Glauco Campelo, Ítalo Campofiorito, Carlos Machado Bittencourt, Virgílio Sosa, Abel Carnaúba, Oscar Kneipp, Evandro Pinto e outros, realizava tanto os projetos de arquitetura quanto coordenava a estruturação acadêmica da faculdade de arquitetura, através também de professores da faculdade que cursavam a pós-graduação, como Fernando Burmeister, Mayumi Watanabe, Sérgio Souza Lima, Armando Holanda, Geraldo Batista e Geraldo de Pernambuco. 49 Fonte: http://www.flickr.com/photos/gaf/4257899840/sizes/l/in/photostream/> Ver: ZEIN, Ruth Verde. A Miragem da industrialização – abrindo a mata virgem a facão: alguns casos do brutalismo paulista. In: COMAS, Carlos Eduardo; MAHFUZ, Edson; CATTANI, Aírton. II Sul, Seminário DOCOMOMO Sul Concreto - Plasticidade e Industrialização na Arquitetura do Cone Sul Americano 1930/1970. Docomomo Núcleo RS/PROPAR, Porto Alegre, 2008, CD-ROM. 48 374 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Esse objetivo era compartilhado pela direção da Universidade entendendo-o como uma solução de esquerda para os problemas da construção no país. Essa questão era tão significativa que após constatar que a construção industrializada estava mais desenvolvida no Leste Europeu, de domínio soviético, a universidade enviou João Filgueiras Lima e Sabino Barroso, também da equipe de Oscar, para passarem mais de dois meses pesquisando essa nova técnica na Rússia, Alemanha, 53 Polônia e na antiga Tchecoslováquia. Evidentemente, a coincidência destes ingredientes ideológicos, tecnológicos, projetuais e mesmo estéticos, em uma determinada medida, entre os projetos para a UnB e para REFAP, no mesmo ano, assim como a visita de Moojen à Europa do Leste, em 1955, e a de Lelé, em 1962, para visitar os programas de reconstrução do pós-guerra, não são casuais. ALBERTO chama a atenção que: A construção pré-fabricada tornou-se um dos motes principais da Universidade de Brasília, praticamente todos os seus primeiros edifícios foram projetados e construídos segundo essa técnica. O próprio CEPLAN foi um esforço importante neste sentido. O desejo de se criar uma nova João Filgueiras Lima (1932), o Lelé, cuja carreira, a partir da experiência na Universidade de Brasília (trabalhou na UnB de 1962 a 1965), foi dedicada integralmente ao desenvolvimento de tecnologias de racionalização da construção e industrialização, aplicando os resultados em diversos programas de infraestrutura no país, em especial na rede de hospitais Sarah, foi encarregado diretamente por Darcy Ribeiro de criar o Centro: "Ele me estimulou a criar lá um grande centro de construção industrializada, um centro de tecnologia que seria utilizado pela universidade, e Darcy logo se tornou um entusiasta da ideia" Lelé apud ALBERTO, Klaus Chaves. O Concreto na PréFabricação: a construção da Universidade de Brasília, In: COMAS, Carlos Eduardo, MAHFUZ, Edson, CATTANI, Aírton. II Seminário DOCOMOMO Sul Concreto - Plasticidade e Industrialização Sul, na Arquitetura do Cone Sul Americano 1930/1970. Docomomo Núcleo RS/PROPAR, Porto Alegre, 2008, CD-ROM. 53 52 Idem. Doutorado Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Módulo, mar.1963, p.27 in ALBERTO, Klaus Chaves. O Concreto na Pré-Fabricação: a construção da Universidade de Brasília, In: COMAS, Carlos Eduardo, MAHFUZ, Edson, CATTANI, Aírton. II Seminário DOCOMOMO Sul, Concreto - Plasticidade e Industrialização na Arquitetura do Cone Sul Americano 1930/1970. Docomomo Núcleo RS/PROPAR, Porto Alegre, 2008. CD-ROM tecnologia a serviço de todos e crença na técnica como ferramenta fundamental na disseminação do desenvolvimento social e progresso coletivo – era um fundamento central nessas experiências. Coincidiam visões de progresso social, filiadas a doutrinas de esquerda, e a construção de uma nação desenvolvida, na qual a arquitetura e o urbanismo moderno representavam formalmente e espacialmente sua melhor fisionomia. Neste contexto, também, o desenvolvimento tecnológico e a disseminação da arquitetura moderna, através de técnicas de produção em larga escala, eram, aparentemente, as ferramentas mais poderosas. Portanto, um dos objetivos do CEPLAN, além dos demais, era também criar um centro de tecnologia dedicado ao desenvolvimento da 52 construção industrializada . ALBERTO, em seu texto sobre os projetos para a UnB, destaca esta questão: Fig. 110 - Centro de Planejamento da Universidade de Brasília - CEPLAN, sistema construtivo, Oscar Niemeyer, 1962, Brasília - DF. possibilidade para o panorama da arquitetura no país era tão enfático que todo o processo de 54 construção da UnB foi documentado. 54 ALBERTO, Klaus Chaves. O Concreto na Pré-Fabricação: a construção da Universidade de Brasília, In: COMAS, Carlos Eduardo, MAHFUZ, Edson, CATTANI, Aírton. II Seminário Sul, DOCOMOMO Sul Concreto - Plasticidade e Industrialização na Arquitetura do Cone Sul Americano 1930/1970. Docomomo Núcleo RS/PROPAR, Porto Alegre, 2008, CD-ROM. A construção da UnB, assim como os ideais comentados aqui, estão retratados em excelente documentário cinematográfico, realizado por Heinz Forthmann (1915-1978), cineasta que já havia trabalhado com 375 Sergio M. Marques Fonte: > Fonte: Redesenho de Klaus Chaves Alberto . > Fig. 112 - Instituto de Teologia da Universidade de Brasília - ITT, esquema da planta e obra inacabada, Oscar Niemeyer, 1963, Brasília - DF. Fig. 111 - Instituto de Teologia da Universidade de Brasília - ITT, Oscar Niemeyer, 1963, Brasília DF. Além da própria construção da sede do CEPLAN pela Construtora Rabello S. A., realizada basicamente com os fechamentos laterais estruturais e vigas de concreto pré-moldadas protendidas na cobertura (Fig.110) e nos edifícios da universidade, Oscar Niemeyer, com a colaboração de Lelé, desenvolveu também sistemas de módulos habitacionais pré-fabricados, como o UnB-caixinha (1962), galpões para serviços (1963), apartamentos para professores (1963) e um sistema de escolas primárias para serem montadas em 55 todas as partes do país (1963) . Os demais colaboradores da equipe também passaram a realizar projetos utilizando a pré-fabricação como princípio: Glauco Campelo (1934), por exemplo, no edifício de apartamentos para a Embaixada 56 da França (1963) . No entanto, o projeto para o Instituto de Teologia foi uma das obras mais impactantes, já que, neste caso, tanto a iniciativa acadêmica do Instituto como a investigação formal e construtiva de Oscar Niemeyer representavam o Darcy Ribeiro, com assessoria técnica de João Filgueiras Lima. Ver: FORTHMANN, Heinz; LIMA, João Filgueiras. Universidade de Brasília: primeira experiência em pré-moldado 1962-1970. Documentário, UnB, Brasília, 1970. Disponível em: . Acesso em 16 nov, 2011, às 21h 10min. 55 Ver: MÓDULO. Rio de Janeiro, Editora Módulo Ltda., ano VIII, n. 3, mar. 1963. 56 Ver: idem. p.43. exame de questões transcendentes. Desde o ponto de vista institucional, significava colocar em marcha um pensamento universitário estatal, presente na política pública desde os anos 1930, que tratava a relação do ensino com a igreja de maneira independente e, por outro lado, categorizava a religião como 57 tema acadêmico . Desde o ponto de vista arquitetônico, o uso da préfabricação, neste caso, não era menos inovador, na medida em que Niemeyer levava à racionalidade implícita do sistema investigação formal própria de seu discurso formal, averbando formas de certa maneira barrocas aos elementos industrializados (Fig.111). Para tal inquietação, ele próprio expõe que: Razões econômicas fazem preponderar a pré-fabricação de concreto armado que, já constituindo rotina no exterior, assumiu, entre nós, características próprias e, a meu ver, mais flexíveis e inovadoras [...]. Não sou favorável aos conjuntos pré-fabricados que visitei na Europa, apesar do A proposta, tendo diversas conotações ideológicas que representavam correntes de pensamento da igreja e do poder central, acabou envolvendo o presidente da República, Juscelino Kubitschek, representantes da Companhia de Jesus, da Ordem Dominicana e do próprio Papa João XXIII. Darcy Ribeiro, o principal mentor intelectual da UnB e um dos proponentes do Instituto de Teologia, afirmou: "[...] ninguém poderia negar à teologia categoria acadêmica. [...] o relevante é que ela não voltava à universidade como dona – que fora o inaceitável no passado – mesmo porque a Universidade de Brasília seria regida pelo princípio da não duplicação. Quer dizer, o Instituto de Teologia Católica não poderia criar nenhum curso que a universidade ministrasse e vice-versa, isto é, seria monopólio dele a teologia, a teodiceia apenas". RIBEIRO, Darcy. Carta: falas, reflexões, memórias. Brasília, n. 1, 1991, p. 128. Apud: ALBERTO, Klaus Chaves. O Concreto na PréFabricação: a construção da Universidade de Brasília, In: COMAS, Carlos Eduardo, MAHFUZ, Edson, CATTANI, Aírton. II Seminário DOCOMOMO Sul Concreto - Plasticidade e Industrialização Sul, na Arquitetura do Cone Sul Americano 1930/1970. Docomomo Núcleo RS/PROPAR, Porto Alegre, 2008, CD-ROM. 57 376 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: > Fonte: > Fig. 114 - Instituto Central de Ciências da Universidade de Brasília - ICC, Oscar Niemeyer, 1963, Brasília - DF. Fig. 113 - Instituto Central de Ciências da Universidade de Brasília - ICC, Oscar Niemeyer, 1963, Brasília - DF. avanço técnico que apresentam. Seus objetivos são de total economia, o que explica os aspectos 58 monótonos e repetidos . O projeto do Instituto mantinha de certa forma o esquema espacial usado diversas vezes nos palácios de Brasília, com esqueleto estrutural externo abrigando um "recheio" constituído do corpo do edifício propriamente dito. Neste caso, uma estrutura externa pré-moldada, composta de pilares delgados e arcos abatidos, na parte superior, e um miolo, de estrutura independente, com painéis de fechamento lateral estruturais, igualmente pré-moldados, que apoiam lajes planas encaixadas em ranhuras de apoio destes. As lajes planas sem vigas permitiam a organização de planta livre, esquematizada por Niemeyer, na forma de uma circulação longitudinal, com salas de aula de um lado e salas especiais, Laboratório, etc., do outro (esquema funcional semelhante ao adotado no Instituto Central de Ciências logo a seguir). Conectados a este corpo principal vertebrado, dois plugs: um dividindo o 58 edifício em dois terços e um terço, abrigava volume perpendicular, contendo rampa externa, como uma espécie de promenade, igual ao proposto no Palácio 59 da Indústria (1951), no Parque Ibirapuera em São Paulo . Na extremidade de todo o conjunto, o projeto da Igreja, nunca construído, previa um espaço barroco de placas irregulares contornando um espaço a céu aberto (Fig.112). A proposta para o Instituto Central de Ciências – ICC (1962-1975), o principal edifício da universidade, também concentrava importante carga de investigação conceitual, relacionado tanto ao exame de novas estruturas de ensino quanto a suas correspondências espaciais. As ideias de integração interdisciplinar e o conhecimento universitário como um todo único, abordado por diversas disciplinas, conduziram, assim como em outros países, à adoção de um modelo espacial para o campus da UnB distinto do imaginado por Lúcio 60 Costa . O projeto original propunha diferentes edificações para abrigar as O conceito de promenade architecturale, teorizado por Le Corbusier desde a década de 1920 em suas observações sobre a arquitetura árabe, foi fartamente utilizado na arquitetura moderna brasileira por Niemeyer em particular, principalmente na adoção de rampas, escadas e circulações horizontais, sempre preparadas para o espetáculo. Le Corbusier, no projeto para o Carpenter Center (1961), de certa maneira, investiga a mesma relação espacial, monumentalizada em Brasília e iniciada no pavilhão do Parque Ibirapuera, projeto de Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Hélio Uchoa e Eduardo Kneese de Mello. Ver: XAVIER, Alberto; LEMOS, Carlos; CORONA, Eduardo. Paulistana. Arquitetura moderna Paulistana São Paulo: Pini, 1983. p. 25. 60 A visão de integração interdisciplinar defendida por Darcy Ribeiro, para a UnB refletia o debate internacional no meio, que ocupava, na época, igualmente as publicações de arquitetura, tanto sob o ponto de vista da programação de espaços flexíveis para posterior adaptação, quanto de sistemas construtivos racionalizados, para rápida expansão. No Brasil, este debate não teve tanta adesão, tanto pela referida ausência de textos críticos de arquitetura nesta época, quanto pela repressão militar que se estabeleceu logo a seguir. Na década de 1960, a norte-americana Architectural Record dedicou várias publicações neste sentido, como, por exemplo, a publicação 59 Ver NIEMEYER, Oscar in GOROVITZ, Matheus. Sobre uma obra interrompida. O Instituto de Teologia de Oscar Niemeyer. São Paulo: Vitruvius, set. 2008. Disponível em: . Acesso em 17 nov, 2011, às 15h 14min. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 377 Fonte: Acrópole, Edição Especial da Universidade de Brasília. São Paulo, ano 31, n. 369/70, jan./fev. 1970. p. 13 diversas faculdades com suas infraestruturas específicas, resultando em aproximadamente quarenta edifícios distintos. A comissão encarregada dos projetos e diretrizes, com Niemeyer e Darcy Ribeiro à frente, propôs agrupá-los em uma edificação única, radicalizando o conceito da integração e inovando, em paralelo com propostas semelhantes, na organização espacial dos campi 61 universitários, realizadas em outros países logo a seguir (Fig.113) . O ICC, construído pela Construtora Rabello S. A., é resolvido com duas fitas paralelas, uma de vinte e seis metros de largura aproximadamente, com as salas de aulas e auditórios, e outra, de vinte e nove metros com os laboratórios. Entre ambas, um jardim linear com dezesseis metros e meio de largura, onde, segundo o projeto original, poderiam ser construídas algumas estruturas especiais e/ou ampliação dos laboratórios, com até dois pavimentos, em um total de setecentos e vinte metros de extensão (Fig.114). Para favorecer a circulação, uma rua de serviço em subsolo foi criada, permitindo, além de circulação de veículos para serviços, (estavam previstos sistemas de circulação auxiliares como esteiras rolantes e carros elétricos), outra possibilidade de expansão dos laboratórios. Portanto, dentro do conceito de flexibilidade e expansão programada, o conceito da modulação e pré-fabricação era a solução mais lógica. O edifício foi integralmente projetado e construído com vigas protendidas de vinte e seis metros de comprimento, apoiados em planos na forma de quadros de concreto. A cobertura foi estruturada também com vigas planas protendidas. Assim, o sistema estrutural e construtivo do ICC pode ser descrito como uma ossatura constituída de pilares pré-moldados, modulados em três metros de eixo a eixo, com seção retangular e espessura delgada (vinte centímetros), cujas proporções são quase idênticas às das vigas de cobertura à vista no pátio interno (relação formal entre vigas e pilares semelhante à utilizada no Edifício FAM posteriormente). Os pilares internos, no entrepiso do subsolo e térreo, diminuem de espessura de forma a apoiar duas linhas de vigas de bordo paralelas, para apoio de lajes-vigas de piso, criando uma espécie de shaft vertical, dando acesso a subidas e baixadas que se podem colocar horizontalmente dentro das vigas/lajes de entrepiso, preparadas para isto. As vigas do térreo e mezanino, com uma seção em "V", foram concebidas para permitir a passagem de tubulações e instalações, no vale de Fig. 115 - Instituto Central de Ciências da Universidade de Brasília - ICC, Sistema Construtivo, Oscar Niemeyer, 1963, Brasília - DF. sobre a Universidade East Anglia. Ver: ARCHITECTURAL RECORD. New Hampshire, F. W. Dodge Corporation, jul. 1969. p. 105. Segundo ALBERTO, em paralelo com a proposta de Niemeyer, outros projetos de universidades adotavam estratégias espaciais semelhantes, como a Universidade de Essex (1964-1965), Projeto de Keneth Capon, a East Angli (1963), de Dennys Lasdun, na Inglaterra, e o Sacrborough College (1963-1965), de Jonh Andrews em Toronto. Ver: ALBERTO, Klaus Chaves. A pré-fabricação e outros temas projetuais para campi universitários na década de 1960: o caso da UnB. Risco São Risco, Paulo. Disponível em: . Acesso em 25 out. 2011, às 16h. 61 378 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte : Fotos Sergio Marques, 2012 Fig. 116 - Galpão de Serviços Gerais (CEPLAN), Universidade de Brasília - Oscar Niemeyer, 1962, Brasília-DF. seu perfil, com espessura de parede igualmente delgada: dezoito centímetro. As de cobertura, com perfil em "T" vencem um vão de trinta metros, com altura de 62 um metro e vinte centímetros (Fig.115) . O ICC teve sua obra iniciada em 1963; no entanto, ainda em 1970, mesmo com a estrutura construída, o que neste caso é quase tudo, ainda não estava pronto. Portanto, apesar do paralelismo de projetos, pode-se afirmar que esta obra não teve influências diretas significativas, nem formais nem construtivas, sobre a REFAP, mas, possivelmente, o Galpão para Serviços 63 Gerais , de Oscar Niemeyer, construído em 1962, tem sua relação tipológica e construtiva com o Almoxarifado da REFAP do mesmo ano (Fig.116). Há uma boa sequência de imagens com textos explicativos sobre a estrutura e montagem do ICC Acrópole, em: ZIMBRES, Paulo de Melo. O planejamento físico da UnB. In: Acrópole Edição Especial da Universidade de Brasília. São Paulo, ano 31, n. 369/70, jan./fev. 1970. p. 8-18. 63 Os galpões, como as primeiras obras da UnB (assim como os almoxarifados da REFAP), tiveram diversas ocupações durante a instalação de todo o complexo: foram ocupados pelo Instituto Central de Artes e a Faculdade de Arquitetura, a administração do ICA/FAU no bloco maior, e o CEPLAN, ateliês de Projeto, Departamento de Música, Fotografia e Cinema nos médios. Ver: ZIMBRES, Paulo de Melo. O planejamento físico da UnB. In: Acrópole Edição Especial da Universidade de Brasília. Acrópole, São Paulo, ano 31, n. 369/70, jan./fev. 1970. p. 32- 33. Durante a ditadura militar, a UnB, assim Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 62 Fonte: Google Earth. Sergio Marques, 2012 Fig. 117 - Alojamento de Professores, Universidade de Brasília - João Filgueras Lima, 1963, Brasília-DF. Por fim, é importante citar, tanto pelos seus princípios neoplásticos de repetição e visualidade construtiva, quanto pelo sofisticado sistema de préfabricação no panorama nacional, o Alojamento de Professores, projeto de João Filgueras Lima, construído em 1963 pela construtora Christiani Nielsen S. A. (1963). Projetado para formar grupos de quatro unidades, implantados com deslocamento de um volume em relação ao outro (Fig.117), as unidades de habitação coletiva, por sua vez, são constituídas de quatro volumes proeminentes, articuladas pelos recessos dos três volumes de circulação vertical. Com pilotis para estacionamento e áreas de sombra de uso comum mais três pavimentos, o esquema formal evidencia a organização do esqueleto estrutural à vista nas extremidades, e os recessos de circulação que suportam as quatro "caixas" contenedoras dos apartamentos (Fig.117). Os blocos das circulações verticais na verdade são âncoras estruturais de concreto in loco que garantem o monolitismo e rigidez destes volumes de contraventamento, onde se apoiam, através de sofisticados sistemas de vigas-calhas e lajes nervuradas pré-moldadas, que estruturam plantas com fechamento lateral externo e divisões internas, igualmente pré-fabricadas, garantindo flexibilidade ao 64 sistema . A exploração visual do sistema construtivo, assim como as proporções utilizadas, em cada um dos segmentos da barra, por paralelismo formal e não por nenhuma conexão direta, podem se relacionar à organização como outras obras emblemáticas do pensamento progressista no país, sofreram invasões e intervenções do regime militar (como o CRUSP em São Paulo e a própria REFAP). A UnB foi invadida por policiais em 1964, por ser considerada foco de subversão; a partir daí, demissões e intervenções sistemáticas paralisaram as obras até 1969. 64 Ver: ZIMBRES, Paulo de Melo. O planejamento físico da UnB. In: Acrópole, Edição Especial da Acrópole Universidade de Brasília. São Paulo, ano 31, n. 369/70, jan./fev. 1970. p. 22-23. Sergio M. Marques 379 Fonte: Fig. 118 - Conjunto Habitacional CECAP-CUMBICA, Vilanova Artigas, Fabio Penteado e Paulo Mendes da Rocha, 1967, Guarulhos - SP. formal e visual do Edifício FAM, já que em um e outro caso o jogo neoplástico das peças que compõem o conjunto coincide com sua constituição tectônica em geral e o uso racional do concreto em particular. Neste sentido, o rigor construtivo da obra e comedimento formal da obra inicial de Lelé, adotados no Alojamento dos Professores, parece ser, se não uma referência, um paralelismo profícuo. Também é importante citar como paralelo contemporâneo, mais para o final da década, o Conjunto Habitacional CECAP-CUMBICA (1967), de Vilanova Artigas, Fabio Penteado e Paulo Mendes da Rocha, um mega projeto residencial com mais de onze mil unidades habitacionais previstas, em uma área de aproximadamente cento e trinta hectares, com processos de industrialização e economia de escala que, no entanto, não chegaram a ser implementados 65 (Fig.118) . Tanto no Rio Grande do Sul quanto no resto do país, o concreto foi quase uma constante, mas, em contrapartida, a justeza da racionalidade técnica, assim como a tradição conservadora da engenharia no Rio Grande do Sul e as limitações tecnológicas e econômicas da província contribuíram para a tradição de comedimento e economicidade de uma arquitetura moderna moderada, de parcos gestos formais grandiosos e aposta na consistência das partes. O constante racionalismo das obras de Fayet, Araújo & Moojen diversas vezes revisitou o concreto, como no Centro Evangélico (Fig.26, Cap.F) (Fayet e 66 67 Suzy, 1959) , Sede campestre do SESC (Fig.112, Cap.M) (Moojen e Vallandro, Ver: ISAAC, Solimar Mendes. Parque CECAP Guarulhos: transformação urbana. [Dissertação de Mestrado]. MACEDO, Adilson Costa (orient.). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007. 66 Projeto escolhido em concurso nacional. A fachada da igreja para a praça (sul) obedece ao mesmo sistema compositivo de pilares de secção em “U”, soltos por esquadrias verticais e panos de tijolos à vista, intervalados, prognóstico do utilizado por Fayet nos almoxarifados da Petrobras. O combogó, o mesmo também utilizado na Petrobras, foi desenhado por Fayet. Ver: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre São Paulo: Pini, 1987. p.156-157. Alegre. 65 1956-1972), Clube do Professor Gaúcho (Fig.133, Cap.M) (Moojen e Vallandro, 68 69 1966) , FAM (Fayet, Araújo e Moojen, 1966-1969) e Câmara de Vereadores (Fig.60, Cap. Praia de Belas) (Araújo e Cláudia Frota, 1975), obras em que os princípios conceptivos, metodológicos e compositivos, associados a outras influências estéticas, por vezes menos importantes que o princípio, são os da racionalidade e do exercício idealizado do ofício, como os praticados nos trabalhos para a Petrobras. A decodificação dos sistemas espaciais e construtivos preconizados por Le Corbusier, Gropius, Frank Lloyd Wright e Mies passava também, igualmente, como em outras partes do país, pelo prestigiamento do trabalho dos engenheiros e a organização de equipes interdisciplinares. Engenheiros como Bruno Contarini, Joaquim Cardoso, Julio 70 Kassoy (1922) e Mário Franco (1929) estiveram intimamente associados às obras de Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha. Fayet, Araújo e Moojen desenvolveram laços profissionais importantes com engenheiros como Raul 71 72 73 Rego Faillace , Werner Laub , Joaquim Mello Pedreira , Antônio Carlos Xavier Este projeto, diferentemente da data publicada, foi sendo projetado ao longo de mais de uma década: início com Moojen e Warchavski (1956), através da Construtora Melo Pedreira, implantação geral e canchas; pórtico com Moojen e Vallandro (1966), posterior, portanto, ao Posto de Serviços de Brasília, projeto de José Bina Fonyat (1959-1960) para a Petrobras. Ver: BRUAND. Yves. Brasil. Arquitetura contemporânea no Brasil São Paulo: Perspectiva, 1997. E do projeto para o Pórtico da TEDUT, também com apenas um apoio; Sede do Ginásio com Moojen e Vallandro (1968); Restaurante com Moojen e Vallandro (1968); Piscinas com Moojen, Vallandro e Ferreira (1972) (datas extraídas do Acervo Moojen & Marques AA). Ver projetos em: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre São Paulo: Pini, 1987. p.136-137. Alegre. 68 Ver idem, p. 216-217. 69 Ver: MARQUES, Sergio Moacir. The Fountainhead, El Manantial. Revista Summa +, n. 58, Editora Summa, Buenos Aires, 2003. p. 26-29. 70 Contarini foi responsável pelo cálculo e participou ativamente da concepção estrutural de obras significativas de Oscar Niemeyer, como a Mentouri University Constantine (1968), a Editora Mondadori em Milão (1968) e o Museu de Arte Contemporânea em Niterói (1991). Kassoy e Franco fizeram o projeto estrutural do MUBE (1987). Ver: SABBAG, Haifa Yazigi. JKMF Julio Kassoy e Mario Franco. São Paulo: Cris Correa, 2007. 71 Teve trajetória reconhecida na formulação das Normas Técnicas Brasileiras e realizava a especificação dos projetos realizados por Fayet, Araújo e Moojen, chegando a trabalhar no mesmo escritório de Fayet e Araújo. Coordenou as especificações da Petrobras. Moojen depõe “Faillace não me deixava errar. Fiscalizou grande parte dos meus projetos. Sabia projetar, mas deixou de fazê-lo em respeito aos arquitetos que surgiram”. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Cópia Entrevista. manuscrita, jun. 2008. 72 Engenheiro da Empresa Andrade Peixoto, que prestou serviços à Petrobras, projetista de instalações de diversas obras de Araújo e Fayet, além de amigo pessoal de Araújo, com quem incorporou o Edifício Politécnico. 73 Diretor da Construtora Mello Pedreira, para a qual Moojen, realizou diversos projetos até a falência da empresa nos anos 1970. 67 380 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 74 75 76 77 1950/1970 Capitulo II Pires , Ivo Wolf , Dicran Gureghian , Ênio Cruz da Costa , Joaquim 78 79 80 Blessman , Cláudio Herman Bojunga , Benno Sperhacke, Eugênio Knorr , 81 Fernando Campos de Souza e outros, parceiros de diversos trabalhos ou contratantes. Assim, além da interdisciplinaridade atualmente cada vez menos dispensável no exercício do ofício, a prática do trabalho em equipe e a capacidade de articulação entre promotores, órgãos públicos, especialistas, fornecedores e construtores, além dos arquitetos, em prol de certa qualidade do projeto e da construção, caracterizavam um cenário dos anos 1950 e 1960, no qual o exercício da profissão e seu produto, além de respeito, gozavam de ampla sustentação por entre agentes e segmentos correlatos, cenário cuja degeneração posterior é concorrente na gradativa perda de qualidade da arquitetura moderna brasileira, não só na produção de obras públicas exponenciais, mas também na arquitetura ordinária. O decréscimo cultural advindo de políticas públicas cada vez mais contaminadas por outros interesses, coincidente em termos latino-americanos com as mudanças econômicas e políticas do pós-guerra e o recrudescimento das ditaduras militares, sob tutela da influência norte-americana, contribuiu com a retirada, não só da arquitetura e do urbanismo como ferramentas eficazes de construção de novas estruturas espaciais e sociais, mas também das próprias condições do fazer. Arquitetura Industrial e os três arquitetos Fonte: Foto Sergio Marques, 2011 Fig. 119 - Fábrica Van Nelle, Johanes Brinkman e Leedert van der Vlugt, 1925-1931, Róterdam. Professor e Prefeito da UFRGS, calculista, realizou diversos projetos estruturais para o escritório de Moojen. 75 Professor de Estruturas de Fayet, Araújo e Moojen na UFGRS. Calculista, fez o projeto estrutural para o Palácio da Justiça e realizou diversos projetos estruturais para o escritório de Moojen. 76 Calculista, um dos integrantes da equipe de cálculo da Petrobras, realizou diversos projetos estruturais para o escritório de Fayet e Araújo, sendo que Araújo projetou a arquitetura de interiores de seu apartamento no Edifício Armênia e se fizeram amigos pessoais. 77 Professor da UFRGS. Especializado em conforto térmico e lumínico, assessorou diversos projetos para os escritórios de Fayet e Araújo, e Moojen. 78 Professor da UFRGS, apelidado de “Dr. Ventania”, especialista em ação de ventos nas edificações, assessorou projetos de Fayet e Moojen, como o Auditório Araújo Vianna. 79 Diretor da Empresa Bojunga Dias – Projetos de Instalações e Execução de Obras, realizou o projeto de instalações para a Petrobras e outros para Fayet e Araújo. 80 Calculista, um dos integrantes da equipe de cálculo da Petrobras. 81 Professor de Materiais e Técnicas de Construção da UFRGS. Trabalhou na equipe de especificações da Petrobras e fez o cálculo estrutural do Edifício FAM. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 74 É recorrente a denominação dos processos de industrialização como uma das causas e fundamentos do Movimento Moderno. No Brasil, também é conhecido o entendimento que, sem a industrialização correspondente, o Movimento Moderno era uma das próprias causas que estimulou o 82 desenvolvimento industrial . Assim, a relação ancestral entre o moderno, a tecnologia, a ciência e a industrialização, se no restante do país, pela inversão na ordem dos fatores, não produziu edifícios industriais canônicos e fundacionais como a fábrica Van Nelle de Johanes Brinkman e Leedert van der Vlugt (1925-1931) (Fig.119), em Rotterdam, no Rio Grande do Sul, pela cronologia, a Refinaria e seus pavilhões podem ser categorizados como paradigma não só por seus atributos formais e técnico-construtivos, mas também pelos tipológicos, com determinada universalidade de tipos, como o pavilhão longitudinal e a caixa aquadradada em forma de "sanduíche", de filiação miesiana, que comprovam suas pertinências. Ao estabelecer a análise de um edifício, considerando suas relações tipológicas dentro do Movimento Moderno, normalmente é indissociável a ideia de considerar o programa de necessidades, a função e as razões utilitárias como determinantes na verificação de seu tipo. Esse aspecto compõe, em 82 Texto usual, neste sentido é o de KOPP, Anatole. Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa. São Paulo: Estúdio Nobel, 1995. 381 Sergio M. Marques Fonte: FERRIER, Jacques . Usines - Tome 1, Paris, Moniteur, 1989, p.10. Fonte: . Fig. 120 - À esquerda, Fábrica Albion Mill, Engenheiro William Strutt, 1792, Derby-UK. À direita, Fábrica Benyons & Co Mill, Engenheiro Charles Bage, 1796, Shrewsbury-UK. Fig. 121 - À esquerda, Cité Industrielle, Tony Garnier, 1904-1917. À direita, Allegemeine Electricitätsgesechaft, Peter Behrens, 1908, Henningsdorf-Alemanha. parte, a essência da organização compositiva da arquitetura moderna, com o esquema abstrato do funcionamento, no qual o tema da circulação é fundamental como base para a organização do projeto. A partir do conceito de transposição do programa de necessidades, da condição básica de escolha de um tipo para a condição de matriz de determinação tipológica, o tema industrial oferece programa imbuído do próprio espírito e valores da Arquitetura Moderna, na qual a relação tipo/programa apresenta-se com todos seus critérios de racionalidade, tecnologia e funcionalidade. Desde a transição havida entre os séculos XVIII e XIX, com o desenvolvimento do pensamento racionalista no meio acadêmico, a ciência e a presença da tecnologia como formadores de paradigmas e referenciais estéticos têm sido uma constante. Programas relacionados ao contexto científico-tecnológico adquiriram um importante significado cultural, assumindo com frequência a simbologia das catedrais do passado. As fábricas e prédios industriais ocuparam um lugar central nesta temática, desde o ponto de vista do homem moderno que buscou na revolução industrial, na máquina e na obra dos engenheiros referenciais estéticos e conceituais, e onde se deram boa parte das primeiras experiências da Arquitetura Moderna. O tema da arquitetura industrial é significativo na compreensão dos processos projetuais, bem como indicativo exemplar das relações entre o programa/tipo/projeto no Movimento Moderno. Portanto, dentro das importantes mudanças culturais, técnicas, e territoriais havidas nos séculos XVIII, XIX e princípios do XX, a racionalidade se 83 desenvolveu como uma tendência manifesta em todas as ações da sociedade . Keneth Frampton sintetiza as origens da arquitetura moderna em três aspectos fundamentais de transformações que formaram a substância sobre a qual ela evoluiu: Transformações culturais: Arquitetura Neoclássica, 1750-1900; Transformações territoriais: evolução urbana, 1800-1909 e Transformações técnicas: engenharia estrutural, 1775-1939. Ver: FRAMPTON, Kenneth. História crítica de la arquitetctura moderna . Barcelona: Gustavo Gili, 1993. p. 11-29. 83 No campo das artes e da arquitetura, uma gradativa aproximação à funcionalidade, à essencialidade e ao racional como padrão comportamental, como parâmetro estético e como conceito de abordagem do projeto arquitetônico, passou a ser a lógica dominante. O uso da razão como vetor do pensamento científico e artístico adquiriu atributos suficientes para, em seguida, ganhar status de estilo e, por assim dizer, trazer em si um valor. Dentro deste contexto e fundamentalmente a partir do processo de industrialização, o surgimento de novos usos, e dentre eles a própria indústria, acabou por reunir em torno de novos tipos de edifícios, que gradativamente perdiam suas relações com o passado e a tradição, valores estéticos correspondentes às mudanças culturais. Argan define que “o tipo se configura assim como um esquema, deduzido através de processo de redução de um 84 conjunto de variáveis formais a uma base comum” que significa a geração de um conhecimento arquitetônico repertorizável e aplicável, cujas variações formais têm, em essência, a presença de uma ideia central. Assim, a noção de tipo que na tradição acadêmica significava buscar no passado, por associação, modelos de base para o projeto, passou à noção de tomada de partido por 85 uma ideia que atendesse substancialmente as necessidades do problema . Desde Durrand, com quem uma inflexão entre formalismo e funcionalismo passa a acontecer em busca de formas mais puras e econômicas, o programa de necessidades passa gradativamente à hegemonia na determinação formal, a ARGAN, Giulio Carlo apud MARTINEZ, Corona. Ensayo sobre el proyecto – Buenos Aires. Buenos Aires: CP67, 1991. p. 123. 85 No Renascimento, havia uma forma básica, e o território inventivo do arquiteto era agregar ou moldar elementos de arquitetura. No século XX, a invenção está no partido como um todo, e os elementos são feitos como subprojetos. Há uma independização das partes. Para uma reflexão mais profunda sobre os processos de projeto da modernidade. Ver: PIÑON, Hélio. Teoria do Projeto. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto, 2006. 84 382 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II Fonte: . Fig. 122 - À esquerda, Fagus Factory, Walter Gropius e Adolf Meyer, 1911, Alfeld - Alemanha. À direita, La Città Nuova, Antonio Sant´Elia, 1914. Fonte BANHAM, Reyner. Teoria e projeto na primeira era da máquina. São Paulo: Perspectiva, 1979. p. 157. Le CORBUSIER. Por uma arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 1994, p.10. partir de um esquema abstrato no qual circulação e funções desempenham papel central. A contribuição do pitoresquismo em estabelecer uma nova liberdade assimétrica na composição, a liberdade conquistada pela independência estrutural e as novas tecnologias colaboraram na independização das partes, assumindo, estas, um valor distinto na composição geral. A decomposição neoplástica do volume em planos e elementos construtivos passou a ser a ordem formal natural. A arquitetura industrial andou no cerne deste processo e talvez, pela intensidade em que as questões funcionais e as exigências programáticas estão presentes no problema, acabou gerando algumas constantes formais que podem ter sido a base para relações tipológicas de racionalização funcional e qualificação formal moderna estendidas a outros temas. A gênese deste casamento está junto ao nascimento da própria indústria mecanizada no fim do século XVIII (indústria têxtil), em escala bastante distinta da indústria da Idade Média. Também do emergente capitalismo moderno na Inglaterra, que gerou encargos a engenheiros para a construção de prédios que deveriam, antes de tudo, atender as exigências técnicas e funcionais. Necessidade de iluminação natural abundante, livre disposição das máquinas e diminuição de riscos de incêndio condicionaram os primeiros tipos de prédios industriais, estreitos e compridos (para favorecer a entrada de luz) com estrutura pilar-viga metálica e lajes de tijolos abobadados (incombustíveis), como a Albion Mill, em Derby (1792), do Engenheiro William Strutt, ou a Benyons & Co Mill, em Shrewsbury (1796), do Engenheiro Charles Bage (fig.120). Ao longo do séc. XIX, no entanto, a arquitetura industrial acabou influenciada pelo ecletismo. A partir do desejo dos ricos empresários industriais Fig. 123 - À esquerda, Cartaz para lâmpadas elétricas, AEG, Peter Behrens, 1910. À direita, Ilustração de Le Corbusier em Vers une Architecture, Silos na América do Norte, 1923. de “confirmar sua posição dominante na estrutura social e política, conduzindo86 os a convidar arquitetos a ornamentar estes edifícios funcionais” , estabeleceuse uma “roupagem” aos brutos edifícios industriais com a qual todos os estilos do passado contribuíram. Essa condição foi reforçada nos prédios industriais construídos em áreas urbanas. Mas o crescimento vertiginoso da produção industrializada logo colocou o prédio industrial em xeque com a cidade tradicional, rompendo com a escala e relação usual da rua, e induziu a ideia de separação do edifício industrial do tecido urbano, ideia que, mais tarde, consolidada pelo avanço nas possibilidades de comunicação, condução de energia e transporte, levou ao desejo de organização do território industrial e às bases das propostas da Cité Industrielle, de Tony Garnier, em 1904 e 1917, na época em que o tipo fábrica adquiria escala e caráter de monumento (Fig.121). Em 1907, quando Peter Behrens foi designado consultor artístico da AEG (Allegemeine Electricitätsgesechaft), fazendo em seguida (1908) a seção de 87 montagem pesada de turbinas em Berlim (Fig.121), e Multhesius fundou a Deutscher Werkbund, a arquitetura das indústrias adquiriu finalmente seu status de monumento e emblema da forma moderna. “Os dois eventos estão “[...] confirmer leur position dominante dans la structure sociale et politique les conduisent en effet à inviter des architectes à orner ces édificies fonctionnels [...].” FERRIER, Jacques. Usines. Tome 2. Paris: Moniteur, 1991. p. 7. 87 ”Kathedrale der Arbeit (catedral do trabalho) – O edifício de Behrens é dignificado pela sua ênfase 86 nas funções estruturais de carga e apoio e sua fachada semelhante a um templo. “Essa monumentalização arquitetônica reforçou a imagem da indústria como uma potência econômica crescente”. Tal comparação é coerente com a visão do próprio Beherens de que as fábricas têm o mesmo significado que as igrejas tiveram para a Idade Média (espírito de nossa era). DROSTE, Magdalena. Bauhaus 1919- 1933 Berlim: Taschen, 1994. p. 14. 1919-1933. . Sergio M. Marques 383 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: . Foto Sergio Marques, 1987. Fonte: . 124 Fig. 124 - À esquerda, Cervejaria Bopp, Theodor Alexander Josef Wiedersphan, 1913, Porto Alegre. À direita, Fiateci, João Luis e Eduardo Pufal, 1925, Porto Alegre. Fig. 125 - Moinho Chaves, Theodor Alexander Josef Wiedersphan, 1913, Porto Alegre. relacionados entre si, se é que não estão ligados, e constituem os dois lados de uma mesma moeda – uma aproximação entre designers criativos e a indústria 88 de produção” . O núcleo central “werkbundiano” era unificar arquitetura como arte e desenho à produção mecânica em todas as suas fases, desde a construção da fábrica até a publicidade dos produtos terminados, produzindo cultura, “na medida em que produz em massa objetos com valores mais elevados de 89 intelectualidade a círculos sociais mais amplos” (Fig.123). A defesa de Muthesius à standartização, apesar da oposição de arquitetos importantes como Henry van de Velde, levou a cabo conceitos que acabaram por se incorporar à estética fabril. A fábrica Fagus, em Alfeld, projetada em 1911 por Walter Gropius e Adolf Meyer (Fig.122), deu continuidade ao pensamento da Werkbund, transcendendo como um dos marcos do modernismo enquanto movimento consolidado e uma das primeiras Curtain Wall da Europa (com as quinas de vidro). Gropius defendeu a ideia de uma arquitetura praticada em cima das formas básicas, do volume, considerando uma medida menor, a decoração aplicada. Fagus trouxe a marca moderna da simplificação geral do esquema espacial e do detalhe resolvido como um projeto à parte. Introduziu também a ideia de ritmo, cadenciado pela frequência dos elementos estruturais que subdividem a extensão monolítica de edifícios, que muitas vezes possuem cem a duzentos e poucos metros. A tônica da reunião de conceitos artísticos à prática industrial foi a base da experiência da Bauhaus e da apreciação pela estética da máquina e a arquitetura funcionalista, um dos seus principais legados, apreço fin-de-siècle patente desde o ideológico manifesto futurista 88 publicado em 1909 , no qual “a sensação de ultrapassagem de uma tecnologia velha, orientada para a tradição, inalterada desde o Renascimento, por uma 91 nova, sem tradições” , reunia o desejo de uma formulação estética de imagem mecanicista: Cantaremos sobre a agitação de grandes massas – trabalhadores, pessoas em busca do prazer, desordeiros – e sobre o confuso mar de cores e sons enquanto a revolução varre uma metrópole moderna. Cantaremos o fervor noturno de arsenais e estaleiros inflamados por luas elétricas; estações insaciáveis engolindo as serpentes fumarentas de seus trens; fábricas penduradas das nuvens pelos fios torcidos de suas fumaças; pontes brilhando como facas ao sol, ginastas gigantescos que saltam sobre os rios; vapores arrojados que perfumam o horizonte; locomotivas de vasto peito que escavam o solo com suas rodas, como garanhões com bridas de tubo de aço; o voo fácil dos aeroplanos, suas hélices batendo no vento como bandeiras, com um som semelhante ao aplauso de uma multidão poderosa92. 90 Imagem convertida em desenho por Antônio Sant’Elia, porta-voz da Arquitetura Futurista (Fig.122); imagem, mais tarde, também idealizada por Le Corbusier, após a 1° Guerra Mundial, em Vers une Architecture, em que, acima da presença do espírito fabril de produção standard e do conceito mecanicista que estão presentes nas machine à habiter, maison-type, maison-outil, maison fabriquée en série do L’Esprit Noveau, está o semblante explícito da estética das obras de engenharia e fábricas como paradigma da arquitetura moderna: “Por fim podemos falar de arquitetura depois de tantos silos, fábricas, máquinas 93 e arranha-céus” . “Os engenheiros fazem arquitetura porque empregam o 94 cálculo surgido das leis da natureza” (pureza estética). Ao valorizar a estética MARINETTI, Tomaso Fillipo. Manifesto de fundação Le Fígaro, Paris, 20 fev. 1909. p.18. fundação. máquina. BANHAM, Reyner. Teoria e projeto na primeira era da máquina São Paulo: Perspectiva, 1979. p. 157. 92 idem 93 LE CORBUSIER. Por uma arquitetura São Paulo: Perspectiva, 1994, p.10. arquitetura. 94 LE CORBUSIER, Hacia una Arquitectura, Buenos Aires: Poseidon, 1977, p. 7. 91 90 89 BANHAM, Reyner. Teoria e Projeto na primeira era da máquina. São Paulo: Perspectiva, 1979. máquina p. 95. CANAL, José Luiz de Mello. Origens de la arquitectura industrial moderna . [Tese de doutorado]. PIÑON, Helio (orient.). Barcelona: Universidad Politécnica de Catalunya, 1992. p. 107. 384 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 99 Capitulo II do engenheiro, chama a atenção sobre a importância de utilizar formas simples e primárias: o cubo, a pirâmide, os cilindros, fazendo referência direta às chaminés, aos silos, aos pavilhões industriais, ilustrados por fábricas norteamericanas de montagem que, pela monumentalidade, impressionavam os 95 europeus (Fig.123). De fato, nos E.U.A., as inovações foram ainda mais radicais que na Europa, com franca definição dos aspectos tipológicos da indústria contemporânea, como a consolidação da superestrutura em concreto armado em prédios de vários andares, normalmente dispostos ao longo de vias férreas (sobreposição de andares incombustíveis, lineares e indiferentes, com fachadas fornecendo farta iluminação natural, tal como o tipo da revolução industrial inglesa), ou o grande pavilhão térreo com um número limitado de elementos de arquitetura, justapostos em um envelope homogêneo (estrutura, sheds, panos opacos ou transparentes repetidos ao infinito). Importantes fábricas foram construídas no período entreguerras, influenciadas pelas tipologias norteamericanas, como a Fiat, em Turim, do Engenheiro Matte Trucco (1920) (visitada por Araújo em 1955), ou a manufatura Van Nelle, em Rotterdam, de Brinkman e Van der Flugt (1927). Após a 2° Guerra Mundial, excepcionais 96 avanços tecnológicos determinam uma espécie de 2ª Revolução Industrial (na qual se insere a REFAP), que estabeleceu uma produção e, consequentemente, uma economia em escala mundial, multiplicando e alterando a escala e gênero 97 do tipo industrial . Em construções, agora de altíssima complexidade, normalmente 98 concebidas por equipes multidisciplinares, evoluiu a ideia da boîte close , caixas integralmentes fechadas ao exterior, com controle artificial total dos parâmetros de iluminação e condicionamento ambiental. O edifício industrial chegou no auge funcionalista de atendimento ao process racionalizando ao máximo o espaço produtivo e otimizando as relações técnico-econômicas em 100 um universo criado artificialmente . No panorama da arquitetura moderna no Rio Grande do Sul, assim como no resto do mundo, apesar de com algum retardo, os prédios industriais tiveram um expressivo papel na construção dos paradigmas modernos, na experimentação e pioneirismo na utilização de tecnologias novas e na consolidação do tipo funcional alternativo à tradição figurativa, representada por prédios industriais projetados sobre modelos do passado, como a Cervejaria Bopp, de Theodor Alexander Josef Wiedersphan (1913) (Fig.124), ou a Fiatece, dos construtores João Luis e Eduardo Pufal (1925) (Fig.124). Na verdade, o 101 próprio Wiedersphan , em 1919, com o projeto do Moinho Chaves, na Rua Voluntários da Pátria (Fig. 125), já anunciava, com a adoção de uma forma monolítica, despojada de ornamentação, com vários pavimentos em uma barra estreita e fartas aberturas à rua, o que estava por vir. Também na história do planejamento urbano da cidade, a ideia do zoneamento, organização do território industrial e sua relação com o tecido urbano e a habitação está presente. Em 1961, foi elaborado o projeto “Cidade 102 Industrial de Porto Alegre” , de Paiva, Veronese e Marcos David Heckman (nesta época era sócio de Moojen), com preceitos partilhados da cidade industrial de Tony Garnier, de 1917. Na Zona Norte de Porto Alegre, próximo à REFAP (articulada ao sistema viário e de transportes que liga a capital com o resto do Estado e o norte do país, bem como a principal saída em direção ao Uruguai e Argentina), foi proposto um distrito industrial com parcelamento do solo e infraestrutura adequada, ligada a um tecido urbano na forma de Em 1913, Gropius publicava estas mesmas fotos observando: “A impressionante monumentalidade dos silos de grãos canadenses ou americanos, [...] os vastos pavilhões de montagem das grandes companhias industriais podem quase estabelecer uma comparação com os construtores do Antigo Egito [...]. Nossos arquitetos deveriam considerar este exemplo, e não mais se inspirar em uma nostalgia historicista e em outras fantasias intelectuais sempre em voga na Europa, e que paralisam nossa verdadeira ingenuidade artística”. GROPIUS apud FERRIER, Jacques. Usines Tome 2. Paris: Moniteur, 1991. p. 10. Usines. 96 Ferrier denomina como 2ª Revolução Industrial os desenvolvimentos, por exemplo, na química de síntese, na eletrônica e principalmente na produção em massa de bens de consumo. Idem. p. 12. 97 Um dos vetores do “International Style” foi de fato uma internacionalização cultural, tendo a América do Norte como epicentro, onde uma certa homogeneização do mercado favoreceu a internacionalização de produtos e práticas arquitetônicas. 98 Ver: D. Claysen, P.A. Michel. Genèse d’un prototype: la boîte close , in Sur l’architecture des espaces industriels, Recherche exploratoire, D. A. F. U, Ministère de l’Environnement et du Cadre de vie, Paris, 1979. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 95 ”Process é uma palavra inglesa empregada frequentemente na indústria para designar um procedimento de fabricação e seu princípio tecnológico. FERRIER, Jacques . Usines. Tome 1. Paris: Moniteur, 1989. p. 4. 100 Este conceito será levado aos Shoppings Centers, nos quais o tipo “caixa fechada” se adapta ao esquema de consumo, mesmo em áreas urbanas. 101 Arquiteto de origem alemã, chegou a Porto Alegre em 1908 e foi responsável pelos principais prédios públicos construídos desde então com a “arquitetura dos estilos”, como o prédio da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional (hoje Margs), de 1912, e o edifício dos Correios e Telégrafos, de 1909. De considerável importância, acrescenta-se ainda o Hotel Majestic (hoje Casa de Cultura Mário Quintana), de 1915, e o edifício comercial Nicolau Ely, de 1921. Ver: WEIMER, Günter. O Wiedersphan. arquiteto Theo Wiedersphan Porto Alegre: FAUFRGS [texto digitado], 1985. p. 4-8. 102 PAIVA, Edvaldo Pereira; VERONESE, Roberto E.; HEKMAN, Marcos David. Cidade industrial de Porto Alegre – plano de urbanização. Porto Alegre: Governo do Estado do Rio Grande do Sul, 1961. 99 Sergio M. Marques 385 Fonte: PAIVA, Edvaldo. VERONESE, Roberto. HEKMAN, Marcos. Cidade Industrial de Porto Alegre - Plano de Urbanização, . Porto Alegre: Imprensa Oficial, 1961, Capa e p.69. À guisa de uma pequena conclusão Fig. 126 - Cidade Industrial de Porto Alegre, Edvaldo Pereira Paiva, Roberto Felix Veronese, Marcos D. Hekman, 1961, Porto Alegre. superquadras, com edifícios habitacionais organizados à maneira moderna (Fig. 126). Esse projeto, que não chegou a ser implantado, deixou algumas ideias, principalmente em termos de localização da zona industrial, que se incorporaram ao desenvolvimento da cidade e seu planejamento (ver cap. III Praia de Belas - A Cidade Moderna e os três arquitetos (1914-1979). O edifício industrial no Movimento Moderno, acima de configurar um novo tipo arquitetônico em relação ao passado e à tradição, consubstancia-se em um protótipo do espaço moderno evidenciando relações modernas típicas com a cidade, entre o espaço construído e o espaço público, entre o espaço de morar e o espaço de produzir. A indústria, como base econômica fundamental da cidade e da sociedade contemporânea, também foi uma das bases privilegiadas na qual se alicerçou a experiência da organização espacial moderna, urbana, arquitetônica e de certa maneira formal no caso dos três arquitetos. 103 103 A implantação de prédios em barra, soltos em quadras avantajadas, lembra a organização do bairro Toulouse-Le-Mirail de Georges Candilis, Alexis Josic e Shadrach Woods, construído na cidade francesa de Toulouse de 1962 a 1977. Na Refinaria, além de sistemas construtivos relacionados ao concreto que articularam forma, função, sistemas espaciais, lógicas de projeto e vanguardismo tecnológico, com pioneirismo no uso da pré-moldagem in situ, a investigação tipológica e as relações urbanas entre as unidades determinaram igualmente certo vanguardismo na Arquitetura Moderna no sul, cuja essencialidade visual e espacial comprova, através de sua consistência, a universalidade eficiente dos tipos adotados, a pertinência formal consequente e matriz de uma maneira de organizar ordenadamente o espaço urbano. Sistemas frequentados nos projetos urbanísticos feitos por Moojen e Fayet na PMPA, em especial no aterro da Praia de Belas, valorizado pelos três quando resolveram aí morar. Também o movimento nacionalista “O petróleo é nosso” procurou e encontrou arquitetos simpáticos à corrente social da qual a Arquitetura Moderna Brasileira era uma causa. A rede de alianças estabelecidas, neste caso, acima das particularidades pessoais e estilísticas de cada arquiteto, encontrava entre promotor e profissional coincidência ideológica e correspondência arquitetônica, suficientes para a associação de quatro escritórios distintos, engajados na realização de uma obra referencial comum para esses objetivos. De certa maneira, processo semelhante se dava na Universidade Federal, na Prefeitura Municipal, na formação do IAB e em diversos segmentos em que se estruturavam setores de arquitetura. A propagação de uma prática de arquitetura moderna, como objeto de contribuição social, desenvolvimento econômico coletivo e evolução cultural, assim como certo consenso formal, arregimentavam equipes que aderiam à causa, portanto à arquitetura moderna, tanto como produção coletiva quanto produção autoral. A crítica posterior atribui a essa dimensão o fato de que o discurso do coletivo gerou cultura de certa maneira inibidora formalmente, perfilando visões éticas e padrões de comportamento reticentes ao descomprometimento formal dos cariocas ou à grandiloquência dos paulistas. Uma parte do comedimento arquitetônico gaúcho talvez possa, de fato, ser debitada nessa conta, no entanto, a abstenção formal da arquitetura moderna no sul, muitas vezes classificada de medíocre, poderia assim ser classificada se a palavra medíocre atribuísse significado a algo parcimonioso e comedido, em busca de uma noção de ordem rigorosa. Projetados com grande atenção à racionalidade e economia a partir de estratégia formal com expressivo sentido de ordem, os exemplos da Petrobras analisados são efetivamente mais contritos que seus pares do centro do país, mas não com menos rigor e sofisticação. A rede de afinidades arquitetônicas, ditadas pela contemporaneidade dos três arquitetos, com a 386 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo II afirmação da arquitetura moderna, em marcha no sul do Brasil, mesmo com importantes paralelos e filiações aos episódios cariocas e paulistas, apoiou-se, pelas razões sociais e outras, de natureza cultural/geográfica citadas, em sistemas espaciais e critérios de projeto predominantemente mais controlados sob o ponto de vista formal e mais proporcionados sob o ponto de vista construtivo. As carreiras de arquitetura, no Rio Grande do Sul, na produção de arquitetura moderna em obras públicas, realizadas tanto por escritórios privados quanto pelo próprio serviço público, desnudam uma tradição de ofício enraizada na atenção à coletividade, na arquitetura moderna como causa e no controle construtivo como critério, que resistiu mesmo quando os nichos de poder já não eram simpáticos a esse pensamento. A tradição em planejamento regional e urbano de Porto Alegre, bem como a reconhecida qualidade no ensino de arquitetura, igualmente, advêm, em parte, dessa visão do serviço e da obra pública tecnicamente qualificada, desempenhados com devotamento. Entre episódios de cassação política e inquéritos militares, que tanto Fayet quanto Moojen enfrentaram a partir de 1964, a arquitetura moderna perpetuou-se no panorama nacional e regional como imagem de nação desenvolvimentista, e a Petrobras seguiu com seus preceitos arquitetônicos até a conclusão em 1968 (Atualmente o Refeitório está tombado pela Prefeitura Municipal de Canoas-RS). O exercício do ofício resistiu por uns tempos. Fonte: Foto Acervo FAM Fig. Fig. 127 - Fayet e Miguel Pereira em visita a REFAP. Da direita para a esquerda, Carlos M. Fayet, Jorge Wilheim (SP), Miguel Pereira e não identificada. Ao fundo Refeitório, coord. por Moojen com interiores de Araújo, 1968, Canoas-RS. Fonte: Foto Sergio Marques, 2009 Fig. 127 - Araújo e Moojen em visita a REFAP. Ao fundo Laboratório, coord. por Fayet, 2009, Canoas-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 387 Resenha Biográfica MIGUEL ALVES PEREIRA nasceu em Alegrete, passou a infância em ambiente rural na casa da família, nas margens do rio Ibirapuitã, ajudando o pai na construção de galpões e galinheiros e os irmãos na manutenção de caminhões de transporte. Estudou o primário com professores da família e, contra o desejo desta, trocou o trabalho na fazenda pelos estudos do curso ginasial e científico no Instituto Osvaldo Aranha – Alegrete. Também a contragosto da família, ingressou no Partido Comunista Brasileiro e ajudou a fundar o Comitê Horta Barbosa, filiado à campanha o “Petróleo é nosso”. Neste período, integrou o grupo “Livres-pensadores”, adepto ao intelectual e professor Ênio Guimarães Campos. Através do Partido, teve conhecimento da obra de Oscar Niemeyer e rumou em direção ao Curso de Arquitetura graças a esta influência. Durante o curso, dividiu seu tempo entre a intensa militância político-partidária, no meio estudantil e no da arquitetura, sofrendo com o conflito entre a carga destes compromissos. Representando o Centro Acadêmico, participou da discussão do novo currículo em 1955 e acompanhou, participando de grupos de estudos, os debates a respeito do realismo socialista. Manteve frequente intercâmbio com arquitetos de São Paulo, como Abrão Sanovics e Júlio Katinsky, e frequentou os escritórios de Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Miguel Juliano e outros. No meio acadêmico, convivia com Carlos M. Fayet, Irineu Breitman, João José Vallandro, Radomsky e mais alguns colegas. Formou-se em 1957, orador da turma cujo paraninfo era Jorge Machado Moreria. Participou de projetos junto ao escritório de João José Vallandro e posteriormente montou sociedade com João Carlos Paiva. Participou do concurso do Palácio Legislativo do Estado do Rio Grande do Sul (1958) em equipe com Armênio Wendhausen e João José Vallandro, e de vários concursos com Paiva, tais como para o Centro Evangélico de Porto Alegre (1959 – 3° Lugar), Associação Atlética do Banco do Brasil (1960 – Menção Honrosa), Palácio Legislativo do Estado de São Paulo (1961 – 3° Lugar), Museu Monumento a Pedro Toledo – Parque Ibirapuera, São Paulo (1961 – 1° Lugar), Educandário Instituto Concórdia (1961 – 1° Lugar), Palácio Legislativo do Estado de Minas Gerais (Menção especial – 1962). Posteriormente, em sociedade com Ivan Mizoguchi, realizou os concursos Sede Esportiva e Recreativa do Tênis Clube de Presidente Prudente, SP (1966), Concurso Nacional de Anteprojetos para Sede do Departamento Federal de Segurança Pública (1967 – 3° Lugar), Concurso Nacional de Anteprojetos para o Edifício Sede da Petrobras Guanabara (1967 – 3° lugar), Biblioteca Central da Bahia, Salvador (1969 – 4° lugar). Entre 1961 e 1962. trabalhou na Diretoria de Urbanismo da Secretaria de Obras Públicas do Estado do Rio Grande do Sul. Miguel Pereira ingressou na docência, na FAUFRGS, a convite de Demétrio Ribeiro, como assistente na cadeira de Composição de Arquitetura. Em 1962, associou-se à Equipe de Arquitetos para os projetos da Petrobras o momento em que deixou Porto Alegre e, a convite de Fábio Penteado, participou do Grupo de trabalho para a reabertura do IC-FAU (Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília), fechado pelo regime militar, inicialmente integrado, entre outros, por Paulo Mendes da Rocha. Posteriormente, dirigiu a FAU-UNB por oito anos, enquanto era arquiteto do CEPLAN (Cetro de Planejamento da UnB), criado por Oscar Niemeyer, que servia de centro de projetos e investigações da Universidade, onde, em equipe com José Galbinski, Jodete Rios Sócrates e Walmir Santos Aguiar, elaborou o projeto da Biblioteca Central da UnB. Foi presidente do IAB-DN, nas gestões de 1972, 1974, e 1989. Foi membro do Conselho Superior da UIA durante doze anos e vice-presidente de 1999 a 2002. Em 1977, iniciou doutorado nos E.U.A. concluído na Sheffield University – School of Architecture, em Londres, em 1988. Posteriormente, nos anos 1980, colaborou com Nestor Goulart Reis Filho em programas habitacionais, e com Joaquim Guedes no projeto da cidade nova de Caraíba, na Bahia. Nos anos 1990, associou-se ao escritório G. Beleza, M. Pereira & M.C. Batalha Arquitetos Associados, participando de nova rodada de concursos. Ver: CAMPAGNER, Larissa Garcia. Panorama da obra do arquiteto Miguel Alves Pereira. [Dissertação de mestrado]. São Pulo: FAU-USP, 2007. Ver também: WOLF, José. Disponível em: Querência Arquitetônica. . Acesso em 19 jul. 2011, às 11h 20min. Lista de figuras da Resenha Biográfica: MIGUEL ALVES PEREIRA - Fonte: Acervo FAM Figura da Capa: Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira. 1962-1968, Canoas-RS. Foto João Alberto da Fonseca. Acervo FAM. Contracapa: Figuras da Contracapa : De cima para baixo: Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Almoxarifados. Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Fayet e Araújo), 1962 Canoas-RS. Fonte: Desenho Sergio Marques, 2010. Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Portaria, Fachadas Oeste e Sul, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Miguel Pereira), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C., UniRitter, Sergio Marques, 2012. Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Superintendência, Fachada Norte e Oeste, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen e Miguel Pereira (Coord. Cláudio Araújo), 1962, Canoas-RS. Fonte: Desenho Caroline, R. Valicente, B.I.C. UniRitter, Sergio Marques, 2012. 388 Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior - PDSE - CAPES FAYET, ARAÚJO & MOOJEN: ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL - 1950/1970 Volume 6 Capítulo III PRAIA DE BELAS A CIDADE MODERNA E OS TRÊS ARQUITETOS Faculdade de Arquitetura - UFRGS Rua Sarmento Leite, 320 /201 90050-170 Porto Alegre/RS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Fone/Fax: 55 51 3316-3485 FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA - PROPAR ppgarq@vortex.ufrgs.br TESE DE DOUTORADO Orient. Carlos E. D. Comas/ Co-Orient. Hélio Piñon Sergio Moacir Marques CAPÍTULO III MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III CAPÍTULO III PRAIA DE BELAS A CIDADE MODERNA E OS TRÊS ARQUITETOS (1914-1979) Fig. 1 - Aterro da Praia de Belas, 1959, Porto Alegre-RS. Cidades americanas concentram heranças urbanísticas plurais de passado colonial, eclético, protomoderno e moderno – entre outras vertentes – em arranjos distintos nos quais prevalece a circunstância histórica. Este collage, 1 definido por Rowe e Koetter , designa os processos de hibridização entre marcha histórica, ações urbanísticas, tradição cultural, fatores mesológicos, restrições econômicas, vontades coletivas e consequências políticas muitas vezes conflituosos, dos quais o espaço urbano é resultante. A cidade moderna, com exceção de exemplos canônicos e realizações episódicas, inexoravelmente não logrou se impor como projeto uníssono e unívoco, concebido e executado integralmente a partir de critérios contínuos, desde a escala urbana até as edificações e espaços coletivos consequentes. Portanto, não evidenciou com plenitude suas possibilidades formais e funcionais. Ao contrário, remanesceu como conjunto de ações limitadas em seu tempo, condicionadas por agentes de todas as categorias, cujas interações confundiram-se. Em Porto Alegre, no entanto, dentre as cidades brasileiras, perseveraram ciclos de urbanização em que pragmatismo, objetividade no fazer e militância de abnegados planejadores vinculados ao poder público e adeptos do coletivo – que exerceram o ofício de urbanistas em níveis decisórios e tempos distintos da construção da cidade – granjearam certa continuidade de evolução urbana e planejamento, em que o moderno, se manifestou como critério regulador e como gerador de espaços e arquiteturas formalizados, onde projetos urbanos, episódica e parcialmente, se materializassem com qualidade. Como em suas outras expressões culturais, a capital gaúcha, margem dos grandes centros de irradiação econômica, política e cultural, apresentou urbanismo moderno pouco espetacular no sentido de paisagem e escala, porém com especial sentido de realismo, adequação e factibilidade, assim como senso civilizatório, através da modernização urbana ordenadora e qualificadora do espaço, no qual qualidade média compõe conjunto apreciável, apesar dos malogros e insucessos supervenientes, característicos da condição sul-americana. A cidade moderna, assim pensada como plano de organização territorial e intervenções modernas, formalizados com princípios de ordem, sobre tessitura histórica, tem na Praia de Belas seu principal mostruário. Ao longo de sua história e evolução, descortinam-se ações, projetos de urbanização, obras de arquitetura e arte, nos quais o gênio de modernização encobre ânsia de progresso e anseio de espaços modernos. Fayet, Araújo e Moojen, além de terem realizado projetos urbanos modernos, determinantes na evolução do bairro Praia de Belas, que antecedem e sucedem a experiência da 1 Fonte: Arquivo Palácio Piratini ROWE, Collins; KOETTER, Fred. Ciudad collage. Barcelona: Gustavo Gili, 1981 389 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques O Plano Paiva Antecedentes, continuidades e variantes (1914-1951) Fonte: Acervo Museu de Cominuicação Social Hipólito José da Costa A estrutura do pré-plano realizado por Paiva, Ubatuba e Demétrio, em um primeiro momento (1951-1954), era, de certa forma, a continuação do trabalho iniciado no Uruguai, dez anos antes, por Paiva e Ubatuba, com o 2 “Expediente Urbano para Porto Alegre” , junto ao Instituto de Urbanismo da FARQ-UDELAR e a orientação de Cravotto, quando ambos especializaram-se em Urbanismo, em Montevidéu, com bolsa da Prefeitura Municipal de Porto 3 Alegre – PMPA (1940-1943) . No mesmo ano, Demétrio Ribeiro concluía sua graduação em arquitetura no Uruguai, onde travou contatos pessoais que evoluíram para sua participação nas discussões sobre o urbanismo da capital 4 gaúcha, além de outros trabalhos . Segundo Moojen, a ideia da especialização Fig. 2 - Baía da Praia de Belas vista desde a Rua Fernando Machado, Centro, 1910, Porto AlegreRS. REFAP, com relações formais comuns, realizaram igualmente projetos de espaços abertos e edificações representativas que, em seu conjunto, perfazem material tão ou mais significativo – enquanto representação de determinados critérios modernos de projeto que caracterizam a produção arquitetônica dos três, nas diversas escalas – quanto a realização e arquitetura adotada no Edifício FAM, construído neste contexto. Portanto, a Porto Alegre moderna, pautada – em que pesem diferenças qualitativas – tanto em espírito de modernização comum quanto em atributos espaciais ou estéticos coletivos, pré-determinados por projetos parcialmente implantados, teve no desenvolvimento da Praia de Belas seus projetos urbanos mais expressivos dos critérios de organização espacial modernos, resultados da ação histórica de alguns urbanistas, em especial os planos iniciados por Edvaldo Pereira Paiva e demais colaboradores, a principal referência. Ver: SILVA, José Loureiro da; PAIVA, Edvaldo Pereira. Um plano de urbanização Porto Alegre: urbanização. Globo, 1943. p. 57-59. 3 Não havia cursos de urbanismo no Brasil. O primeiro foi criado justamente em Porto Alegre, em 1945, efetivando-se em 1947, com a participação dos três urbanistas, como professores, com a primeira turma formada em 1949, cujo paraninfo foi Oscar Niemeyer. Ver: RIOPARDENSE DE MACEDO, Francisco; HEKMAN, Marcos David; SILVA, Leo Ferreira da. Curso de urbanismo urbanismo. Faculdade de Arquitetura - UFRGS, Departamento de Urbanismo, 1961. 4 Demétrio Ribeiro, concluinte do curso de arquitetura no mesmo ano em que Paiva e Ubatuba concluíam o curso de urbanismo (1943), em agosto do ano seguinte, instalou-se em Porto Alegre, após validar seu diploma no Rio de Janeiro, para, a seguir, integrar-se também na equipe de professores do Curso de Arquitetura do IBA-RS (1946). "Existia na época um desnível considerável entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai em matéria de ensino e prática de arquitetura. No Uruguai o ensino universitário da arquitetura contava com meio século de existência, sendo que a faculdade de arquitetura tinha existência autônoma desde 1917. As tarefas próprias da profissão de arquiteto eram em quase sua totalidade exercidas por arquitetos. No Rio Grande do Sul, não existia curso de arquitetura de tipo algum. Havia no Rio Grande do Sul apenas seis arquitetos brasileiros, dos quais dois formados no Brasil". Ver: RIBEIRO, Demetrio. La influencia uruguaya en la formación de los arquitectos riograndenses. In: MARQUES, Sergio Moacir (org.). Porto Alegre. Dos Puntos, Montevidéu, Elarqa n. 33, 2000, p. 6. Em 1946, também começou a trabalhar com Paiva, no plano diretor de Uruguaiana e em equipe, além de Paiva, Francisco Riopardense de Macedo, Edgar Graeff, Enilda Ribeiro e outros, nos planos diretores de Lajeado (1948), Caxias do Sul (1951 e 19701972), Florianópolis (1952), Passo Fundo (1953), Gramado (1956), Tapera (1957), Espumoso (1957), Panambi (1958 e 1976) – objeto de concurso no qual o 2º Lugar ficou com Fayet em equipe com Corona (1957) –, Rondinha (1968), Boa Vista do Buricá (1970), Esteio (1970), Criciúma (1972), Chapecó (1973), Erechim (1974), Canela (1976-1977) e Medianeira – Paraná (1987). Em relação a sua participação no Pré-Plano de Porto Alegre, Demétrio relata: “Participei da redação do que ele chamava de ideias para Porto Alegre, um esquema, uma concepção do que seria a cidade, as perimetrais, radiais, aquilo que alimentou todo o trabalho, com base na Carta de Atenas, era um urbanismo baseado num conceito generalizado no mundo e, principalmente na América Latina, das unidades vicinais. Uma rede de artérias que reservam unidades vicinais”. Ver: MOHR, Udo. Demétrio Ribeiro 1916-2003. Vitruvius São Paulo, Arquitextos 041.00, ano 4, out. 2003. Disponível em: Vitruvius, 2 390 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 9 Capitulo III realizada por ambos em Montevidéu era fortalecer a estrutura do corpo técnico próprio da Prefeitura de Porto Alegre, consubstanciando sua capacidade de 5 produzir e gerenciar o planejamento urbano da cidade . Paiva – que 6 sistematicamente vinha estudando o urbanismo da capital – era engenheiro civil, estudioso e autodidata em urbanismo, bastante influenciado pelo urbanismo francês, pelas lideranças da Sociedade Francesa de Urbanismo – S. 7 F. U e pelo trabalho desenvolvido por Agache no Brasil . Foi um dos mentores 8 da contratação de Arnaldo Gladosch (1903-1954) , através do Prefeito José . Acesso em 08 out. 2010, às 12h 15min. 5 MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento oral ao autor. Gravação digital. 13 set. 2011. Entrevista 6 Com Ubatuba, como integrantes do quadro da Diretoria do Cadastro de Porto Alegre, já havia produzido o trabalho "Contribuição ao Estudo da Urbanização de Porto Alegre” (1936-1938) e participou da produção técnica do trabalho "Um Plano de Urbanização", com o prefeito Loureiro da Silva, publicado em 1943, tratando das ações urbanísticas em Porto Alegre, onde o "Expediente Urbano", produzido no Uruguai, com Ubatuba, foi publicado. Ver: SILVA, José Loureiro da; PAIVA, Edvaldo Pereira. Um plano de urbanização Porto Alegre: Globo, 1943. urbanização. 7 É notória a influência da Sociedade Francesa de Urbanismo – S.F.U e do urbanismo francês no desenvolvimento do urbanismo na América. De acordo com Gutierrez, "em 1911 tinha-se formado em Paris a Societé Française des Urbanistes (SFU), da qual faziam parte, entre outros, os arquitetos Alfred Agache, Marcel Auburtin (1872-1926), André Berard, León Jaussely (1875-1932, foi mestre e a principal influência urbanística de Maurício Cravotto), Henri Prost (1874-1959) e os paisagistas Jean Nicolas Forestier (1861-1930) e Edouard Redont (1862-1942). [...] Alguns destes profissionais integraram em 1914 a Societé Française des Architectes Urbanistes, que seria presidida por Eugéne Hénard com Alfred Agache de secretário, e que buscaria justamente vincular sua atuação com as de grupos similares de outros países e organizar congressos e reuniões para difundir e aperfeiçoar a disciplina. Depois dos duros anos da Primeira Guerra Mundial, a Associação conduzida por León Jaussely, sempre com Agache como secretário, realizaria uma importante atividade que incluía as propostas de “Reconstrução de cidades devastadas. [...] Bouvard, Agache, Jaussely, Lambert, Rotival e Forestier foram alguns dos propulsores desta presença ativa dos urbanistas franceses nos países da periferia europeia e americana. Assim, Bouvard realizará projetos para Istambul, São Paulo ou Buenos Aires (1910); Agache para Camberra (1911), Chicago, Dunkerke (1912), Istambul (1933), Rio de Janeiro ou Curitiba (1941); Lambert nos Estados Unidos (1922-1929), Turquia (1933), Chile (1929), México (1931), Venezuela (1937); Rotival na Venezuela (1939) e Madagascar (1952); e Forestier para Havana (1925), Buenos Aires (1924), Sevilha (1929) ou Barcelona". Ver: GUTIERREZ, Ramon. Arquitectura y urbanismo en Ibero América . Madrid: Catedra, 1992. 8 Arnaldo Gladosch, engenheiro arquiteto paulista, formado pela Technische Hoschscule em Dresden, viveu na Europa de 1914 a 1926, passando pelo Lar Educacional Kefikon e pela Escola do Cantão, de Thurgau, na Suíça. Essa escola recebeu impulso com a contribuição de Gottfried Semper (1803-1879) e Hans Poelzig (1869-1936). Provavelmente, Gladosch, na área do urbanismo, teve influências em sua formação de Joseph Stübben (1845-1936, teórico de maior destaque antes da Primeira Guerra Mundial), antes de sua conexão com Agache e as teorias urbanísticas da Sociedade Francesa de Urbanismo, a partir de 1927, quando voltou ao Rio de Janeiro e integrou-se a este escritório. Na arquitetura produzida por Gladosch, há influências que vão do expressionismo alemão até Peter Behrens e os alemães que integraram a Escola de Chicago. Para saber mais sobre Gladosch, ver: CANEZ, Anna Paula. Arnaldo Gladosch, o edifício e a metrópole Porto Alegre: metrópole. UniRitter, 2008. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Loureiro da Silva (1902-1964) , para a realização dos estudos urbanísticos realizados por este em Porto Alegre, entre 1938 e 1943, prestigiado como urbanista da equipe do escritório Agache no Rio de Janeiro, que, por sua vez, havia projetado o Parque Farroupilha em Porto Alegre, em 1929. Igualmente, Gladosch era partidário da capacitação do quadro técnico de urbanistas da capital gaúcha e apoiava a ideia de investir em qualificação, que concomitantemente com a realização dos seus trabalhos na capital gaúcha, 10 conduziram Paiva e Ubatuba ao Uruguai . No Instituto de Urbanismo de Montevidéu, o entrosamento de Paiva com Maurício Cravotto foi intenso, sendo que foi adotada Porto Alegre como tema de exercício de Técnica Urbanística (1942), disciplina na qual eram realizados pelos alunos Plano Regulador, Reformador e a Extensão de cidades sugeridas. O curso, no qual Paiva atuou como docente conjuntamente com Cravotto, visava a um diagnóstico dos fatores físicos, econômicos, político-militares, evolução urbana e uma proposta 11 de "estruturação da cidade por diferenciação de localizações funcionais" (Fig.3). O Expediente Urbano, iniciado no Uruguai, dentro da metodologia preconizada pelo urbanismo inglês, determinava a realização de diagnóstico – o survey12 – da realidade tratada como base de informações científicas e Prefeito de Porto Alegre em duas oportunidades (1937-1943 e 1960-1964), correligionário de Leonel de Moura Brizola nos primeiros tempos do Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, era descendente de Jerônimo de Ornelas, o primeiro donatário da sesmaria onde está localizada Porto Alegre. De índole desenvolvimentista, na primeira gestão implantou a rede elétrica na cidade e promoveu a urbanização da área central da capital. Ver: GRANDI, Celito de. Loureiro da Silva o Silva: charrua. Porto Alegre: Literalis, 2002. 10 Segundo Moojen, portanto, apesar da resistência de determinados setores, pela presença de um "forasteiro" no planejamento do município, não havia a priori indisposições técnicas ou pessoais entre Paiva e Gladosch, pelo contrário. Durante o desenvolvimento dos estudos e propostas deste para Porto Alegre e os novos aportes urbanísticos sorvidos por Paiva em Montevidéu, houve certa colaboração e troca. Posteriormente, dado o teor das propostas de Gladosch para a capital, iniciaram gradativamente diferenças de pensamento urbanístico que se acentuaram e se disseminaram entre a equipe de urbanismo da prefeitura e os arquitetos destas primeiras gerações do Movimento Moderno na cidade, principalmente em relação ao excesso de formalismo acadêmico desacompanhado de instrumentos de viabilização das diretrizes urbanas propostas, igualmente, das obras de arquitetura, em particular o Sulacap (1938), criticado por sua extemporaneidade formal em relação mesmo a outras obras do próprio autor, como os projetos para a loja de departamentos MESBLA (1944). MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento Entrevista. oral ao autor. Gravação digital. 13 set. 2011. 11 O trabalho desenvolvido no curso, realizado pelos alunos J. Balás, H. Duarte, R. Lenoble, R. Maya e A. Olaso, foi publicado na Revista do Instituto. Ver: CRAVOTTO, Maurício. Un ejercicio de tecnica urbanistica. Instituto de Urbanismo n. 8, Universidad de la Republica, Facultad de Arquitectura, Urbanismo, Montevideo, 1943. p. 118-224. 12 A expressão survey, de acordo com o dicionário, está relacionada à ideia de pesquisa quantitativa, levantamento, cadastro, estatística de dados, levantamento municipal, vistoria, escrutínio, inspeção. Sergio M. Marques 391 9 Fig. 3 - "Proposta de estruturação da cidade por diferenciação de localizações funcionais - Porto Alegre", exercício de Técnica Urbanística, Profs. Maurício Cravotto, Edvaldo P. Paiva, Instituto de Urbanismo de Montevidéu, 1942. multidisciplinares para a ação planejadora . Esta análise mais ampla dos aspectos envolvidos no planejamento da cidade de certa maneira significava um incremento nas considerações, em termos de legislação urbana, das condicionantes e agentes envolvidos na evolução de Porto Alegre a partir do A expressão Town Planning Survey é adotada frequentemente para os dados ("programa") que embasam as diretrizes urbanísticas de um master plan (projeto urbano ou plano diretor). 13 O ensino de urbanismo no Uruguai era condicionado formalmente pelo urbanismo francês e a influência de Léon Jaussely, da S.F.U, na formação de Cravotto. "No campo do urbanismo, a contribuição trazida do Uruguai foi proporcionalmente ainda maior. [...] O planejamento urbano, concebido integralmente a partir da tradição urbanística francesa, foi realmente introduzido no ensino, nas instituições e na prática profissional rio-grandenses pelos ex-alunos da UDELAR e de Maurício Cravotto". Ver: RIBEIRO, Demetrio. La influencia uruguaya en la formación de los arquitectos riograndenses. In: MARQUES, Sergio Moacir (org.). Porto Alegre. Dos Puntos, Montevidéu, Elarqa n. 33, 2000. p. 6. No entanto, as ideias de liberdade morfológica, de pensamento e crença na ciência, igualmente intensas em Cravotto, sofriam influências do pensamento inglês (Town Planing), dos estudos para a cidade jardim de Ebenese Howard e do Taylorismo, cuja multidisciplinaridade é descrita por FONT: "El urbanismo inglés presenta ciertas 13 plano realizado pelo engenheiro arquiteto João Moreira Maciel (1877-1944), em 1914, na gestão do Prefeito José Montaury (1858-1939), mesmo que este basicamente tenha documentado o sistema viário onde hoje é o centro histórico da cidade, organizando principalmente as ligações entre este setor e as áreas de expansão para além dos limites outrora definidos pela barreira de proteção 14 da cidade inicial (Fig.4). As propostas de Moreira Maciel e da Comissão de Melhoramentos da cidade, a qual ele integrava, constituída de representantes de outros segmentos técnicos da gestão urbana, na verdade, estudavam e estruturavam diretrizes urbanísticas mais amplas que as viárias, retratadas no Plano de Melhoramentos, sendo este apenas uma parte dessas diretrizes. O conjunto de ações, em parte filiadas às ações higienistas do urbanismo francês e à referencial ação urbanística de Georges Éugène Haussman, em Paris, entre as décadas de 1850 e 1870, de fato representam a matriz inicial de um urbanismo multidisciplinar, intuindo a modernização desejada por amplos setores da sociedade, mais tarde 15 sistematizada e aprofundada no Expediente Urbano . O survey, por sua vez, abrangia desde aspectos históricos regionais e locais, até questões de caráter demográfico e econômico, evolução urbana, meio físico, condições sanitárias, serviços públicos e comunitários, uso do solo, cadastro imobiliário e outros, inclusive a avaliação dos planos e projetos anteriores, em clara atenção aos aspectos técnicos e de certa forma ao "programa" da cidade, preconizados pelo Movimento Moderno, assim como as ações precedentes. Fonte: Instituto de Urbanismo, n. 8, Universidad de la Republica, Facultad de Arquitectura, Montevideo, 1943. p. 224 peculiaridades que condicionan suficientemente el enfoque de la disciplina. Efectivamente, en el país occidental con mayor tradición en planificación urbanística y regional, el urbanismo es concebido –y, en buena lógica, estudiado en las facultades– como una materia multidisciplinar embebida de conceptualizaciones arquitectónicas, sociológicas, geográficas, económicas y jurídicas". Ver: FONT, Judith Gifreu i. Problemas actuales del derecho urbanístico en Inglaterra, especial referencia al derecho a la vivienda, la cohésion social y el medio ambiente. Revista Catalana del Dret Publico, Barcelona, n. 38, 2009. p. 3. Ver também: BENÉVOLO, Leonardo. História da cidade São Paulo: cidade. Perspectiva, 1999. Ver ainda: ESCOBAR, Luiz Fernando González. Del higienismo al taylorismo: de los modelos a la realidad urbanística de Medellín 1970-1932. Universidad Nacional de Colombia, 2004. Disponível em: . Acesso em: 25 set, 2011, às 15h 05min. João Moreira Maciel, formado pela Politécnica de São Paulo, que assim como Pereira Passos no Rio de Janeiro e em outras cidades brasileiras realizou o plano chamado Plano Geral de Melhoramentos de Porto Alegre, preconizou obras que tiveram importante repercussão futura no desenvolvimento da cidade, como as Avenidas Júlio de Castilhos, Otávio Rocha, Borges de Medeiros, Beira-Rio e Salgado Filho, influenciado pelas ações urbanísticas higienistas do século XIX. A política do "conservar melhorando", influenciada também pelo positivismo que vicejava no sul, com objetividade, pragmatismo e confiança no progresso, fez com que as propostas fossem acompanhadas de planos de execução e orçamentação das diretrizes urbanísticas, para que fossem realizadas. “Outras capitais como Salvador, Recife, Fortaleza e Porto Alegre seguiriam caminhos similares ao do Rio, procurando adequar suas antigas estruturas coloniais às premissas da modernidade, marcadas pelo ecletismo e pela implantação de sistemas de infraestrutura urbana". Ver: SIMÕES JÚNIOR, José Geraldo. O ideário dos engenheiros e os planos realizados para as capitais brasileiras ao longo da primeira república. Vitruvius, São Paulo, arqtextos, 090.03, Vitruvius ano 08, nov. 2007. Disponível em: . Acesso em: 12 set. 2011, às 14h 40min. 15 Para este tema, é fundamental a pesquisa de Célia Ferraz. Ver: SOUZA, Célia Ferraz de. Plano Alegre: geral de melhoramentos de Porto Alegre o plano que orientou a modernização da cidade. Porto Alegre: Armazém Digital, 2010. 14 392 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: As ideias traçadas no "Contribuição ao Estudo da Urbanização de Porto Alegre" (1936-1938) – que de certa forma davam continuidade ao Plano de Melhoramentos de Moreira Maciel (1914), ajustado e redenominado de “Plano Geral de Melhoramentos” por Paiva e Ubatuba (1937) (Fig.5 e 6), que subsidiam a metodologia utilizada no expediente urbano, realizado no Uruguai (1940-1943) – seriam uma das bases dos planos realizados a partir daí, tanto das propostas de Gladosch logo a seguir (1938-1943), o "Ideias para Porto Alegre", de Paiva e Demétrio (1951), o Pré-Plano de Paiva (1954), o Plano de Paiva e equipe, (1959) e o I° Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – I° P.D.D.U (1979), dirigido por Moojen e equipe – portanto, a base do Urbanismo Moderno desenvolvido em Porto Alegre. Na introdução da publicação do "Contribuição ao Estudo da Urbanização de Porto Alegre", os autores expõem esta ideia de continuidade com os projetos de desenvolvimento urbano realizados até então, assim como do objetivo de gerar cultura adepta aos princípios do urbanismo moderno: Fig. 4 - Plano de Melhoramentos, Moreira Maciel, 1914, Porto Alegre. Esta despretensiosa obra, produto de um labor de três anos consecutivos, é um balanço de ideias, uma síntese de todos os trabalhos e estudos atinentes à remodelação de Porto Alegre. Ela sai à publicidade no momento em que algumas de suas partes principais, estão em vias de serem concretizadas pelo atual prefeito, Dr. José Loureiro da Silva, digno continuador da obra do inolvidável Otávio Rocha. O alto descortino do Dr. Loureiro da Silva fez com que trouxesse e, como parte do programa de seu governo, muitos dos projetos de remodelação que representam necessidade inadiável para a nossa cidade e que são vitais para ela, e os pusesse imediatamente em prática [...]. Em face de todas essas obras de remodelação que irão dar novo surto de progresso à nossa capital, achamos oportuna a publicação deste trabalho, que virá colaborar com o Poder Público para incutir no povo os princípios do urbanismo moderno e torná-lo consciente das vantagens, para todos, dos trabalhos atuais e das necessidades de prossegui-los de acordo com um Plano Diretor19. O Expediente Urbano e as propostas de Gladosch (1938-1943), realizadas concomitantemente, por sua vez, sucederam o trabalho 16 "Contribuição ao Estudo da Urbanização de Porto Alegre” , realizado anteriormente por Paiva e Ubatuba, entre 1936-1938, no qual um conjunto de diretrizes urbanísticas foi inicialmente formulado – igualmente estruturado a partir do sistema viário, porém adotando modelos conceituais referenciados, além da análise conjuntural dos problemas urbanos – e desenvolvendo uma série de projetos de desenho urbano, alinhados às experiências realizadas no centro do país, filiados ao pensamento racionalista europeu, como o Plano 17 Agache para o Rio de Janeiro , no final da década de 1920, e o Prestes Maia 18 para São Paulo , nas décadas de 1920 e 1930. Trabalho realizado quando Paiva e Ubatuba eram funcionários da Diretoria de Cadastro do município. Ver: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da Alegre. urbanização de Porto Alegre Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada. "Vale ressaltar que o trabalho representou o esforço isolado de alguns técnicos do município, sem apoio oficial, infraestrutura administrativa ou pesquisa urbana que fundamentasse cientificamente as preposições." SALENGUE, Lais Guimarães de Pinho; MARQUES, Moacyr Moojen. Reavaliação de Planos Diretores: o caso de Porto Alegre. In: PANIZZI, Wrana M.; ROVATTI, João F. (Orgs). Estudos urbanos: urbanos Porto Alegre e seu planejamento. Porto Alegre: Ed. Universidade, 1993. p. 156. 17 O "Plano de Extensão, Remodelação e Embelezamento do Rio de Janeiro", realizado por Donat Alfred Agache (1875-1959), por solicitação do prefeito Antônio Prado Júnior, foi realizado entre 1927 e 1930 e minimamente implantado na cidade do Rio de Janeiro a partir da década de 1930. A proposta – que legislava sobre o sistema viário e regulamentava a organização do sistema de transportes metropolitanos – estabeleceu diretrizes para atividades urbanas, como os palácios e Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 16 ministérios da então capital federal, o centro de negócios e comércio, portos, indústrias, zonas residenciais e bairros universitários. Ver: BERDOULAY, Vincent. Modernismo e espaço público: o plano Agache do Rio de Janeiro. Revista Território Rio de Janeiro, ano VII, n. 11, 12 e 13, set./out. Território, 2003. p. 123-132. 18 O Plano de Avenidas, de Francisco Prestes Maia (1896-1965) e Ulhôa Cintra, introduziu a ideia de esquemas urbanísticos e sistemas de mobilidade incorporados a partir de modelos teóricos ou experiências antecessoras, principalmente o modelo de sistemas de radiais de Stübben, o conceito de perímetro de irradiação de Eugène Hénard, igualmente adotado em Porto Alegre, e também a proposta de Otto Wagner, de anéis concêntricos de expansão horizontal ilimitada, para Viena. Ver: ANELLI, Luiz Sobral. Redes de mobilidade e urbanismo em São Paulo: das radiais/perimetrais do plano de avenidas à malha direcional. Vitruvius São Paulo, Arquitextos, 082.00, ano 07, mar. 2007. Vitruvius, Disponível em: . Acesso em 13 set. 2011, às 16h 50min. 19 FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Alegre Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada. Sergio M. Marques 393 Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.38 Fig. 5 - Plano Geral de Melhoramentos, Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. A ideia de urbanismo moderno, de acordo com a visão de Paiva e Ubatuba, coincide com a própria ideia de gestão da cidade através do planejamento urbano, tendo como instrumento principal um Plano Diretor, condicionado a uma visão ampla e estrutural dos fatores supervenientes, além das ações pontuais e projetos específicos, igualmente importantes e praticados por ambos. Para os autores, o desenvolvimento deste Plano devia nascer de um profundo conhecimento da história e geografia da capital gaúcha, ponderando os dados estatísticos de seus fenômenos urbanos, assim como sua origem e desenvolvimento, e também uma "análise completa das condições de vida da cidade, de suas tendências de crescimento, da separação de seus diferentes elementos". O trabalho igualmente dava impulso na ideia de modernização do cadastro municipal e na criação de instrumentos para levar a cultura urbanística à população. Na introdução do trabalho, os autores chamam a atenção sobre a exposição de urbanismo realizada em Porto Alegre, naquele 20 período (Fig.7) . O documento apresenta, na Parte I, a evolução da cidade através da caracterização sucinta dos aspectos antropogeográficos (geografia e história) e da análise da situação urbana a partir dos aspectos topográficos, distribuição dos bairros, economia, demografia, aspecto geral (morfologia) e dados gerais. Após a análise, em parte aprofundada, em parte superficial dos aspectos citados, na Parte II o documento expõe a formulação de uma espécie de Exposição realizada em 1936, visitada por aproximadamente cinquenta mil pessoas em quinze dias. Ver: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Alegre. Porto Alegre Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada. p. 3. Ver também: EXPOSIÇÃO de Urbanismo. Boletim da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul Porto Alegre, n.19-20, Sul, jan.-abr., 1937. 20 394 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.42 Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.217 Fig. 6 - Plano Geral de Melhoramentos, maquete geral dos Projetos, Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. diagnóstico dos principais problemas urbanos, bem como as diretrizes que um Plano Diretor deveria seguir a partir destes temas: a realidade políticoeconômica, a industrialização, o centro de negócios, o sistema viário, centralização e crescimento, higienização. As orientações para o Plano Diretor da cidade deviam, portanto, observar: preparação de um centro administrativo; zoning; sistemas de transporte público; condições de habitabilidade; criação de espaços livres; caracterização de monumentalidade à capital; descentralização; densificação e diminuição do crescimento territorial; remodelação do sistema viário; e melhoria nas condições do porto. O capítulo é curiosamente ilustrado 21 com imagem do Edifício Imperial, de Egon Weindorfer . 21 A seguir, na Parte III, formulava um conjunto de propostas, denominado "Plano de Avenidas" (Fig.8), organizado em cinco capítulos: o primeiro dedicado ao centro da cidade, formulando diretrizes de descentralização. O segundo, chamado "Perímetro de Irradiação", introduzia o conceito de Eugène Hénard 22 (1849-1923) , que fundamentou o traçado da Primeira, Segunda, Terceira e Quarta Perimetrais de Porto Alegre, parcialmente implantadas, e as consequentes ligações interbairros (Fig.9). Neste capítulo, surgem propostas para o Túnel da Conceição (Fig.31, Cap.M) e o Centro Ferroviário como peças do Perímetro de Irradiação, e a criação de um bairro modelo, conectado a este perímetro, na Praia de Belas, ocupando o aterro projetado ao sul do centro. O terceiro capítulo é dedicado a melhoramentos do "Núcleo Central". Inicia com uma proposta bastante discutível, porém revestida da ideia de desenho urbano, de remodelação da Praça XV de Novembro, com supressão dos edifícios históricos e reconfiguração da morfologia, através de geometria um tanto figurativa e edifícios de volumetria gabaritada (Fig.10), tendo como clímax novo complexo administrativo para a Prefeitura Municipal, configurado por edifício monumental de arquitetura modernista, aparentada com o art-decó norte-americano (Fig.10). A seguir, propõe a criação de uma nova avenida entre a Voluntários da Pátria e a atual Avenida Otávio Rocha, denominada "Avenida Mista" que iniciaria elevada desde a praça XV de Novembro até a Senhor dos Passos (Fig.10.1 e 10.2), como forma de desafogo do tráfego nesta área. Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Alegre Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada. p. 33. 22 Urbanista Francês, formado pela Ècóle des Beaux-Arts em 1880, trabalhou no urbanismo de Paris a partir de 1882. Em 1903, publicou trabalho no qual estuda o uso de novos instrumentos urbanos para a transformação da cidade histórica, comparando os casos de Paris, Londres, Moscou e Berlim. Ver: HÉNARD, Eugéne. Etudes sur les transformations de Paris. E.U.A: Kessinger Etudes Publishing, 2009. Sergio M. Marques 395 Fig. 7 - Exposição com as propostas do "Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre", Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1936, Instituto de Educação, Porto Alegre-RS . A imagem do edifício (onde vivia Maria Ivone, esposa de Moojen) está posta após a fase de conclusão da exposição de diretrizes para Porto Alegre e da explanação das propostas dispostas a seguir. "Nos capítulos seguintes, baseados nessa orientação, procuramos apresentar algumas soluções para os diferentes problemas urbanos, sempre tendo em vista as soluções econômicas, a estética e as condições de vida de nossos habitantes". Presume-se, portanto, que a imagem do edifício de Weindorfer (1929), edificado nove anos antes, com a urbanização da Praça da Alfândega em primeiro plano, ilustrava bem os valores almejados registrados no último parágrafo. FARIA, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.44 Fig. 8 - Plano Geral de Melhoramentos, Plano de Novas Avenidas, Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. Finalmente, propõe a continuidade da abertura da Avenida Borges de Medeiros, proposta vinte e dois anos antes e ainda inconclusa, e o alargamento da 23 Riachuelo . O capítulo quarto, dedicado às Avenidas Radiais, propunha uma série de alargamentos e novos gabaritos para as atuais avenidas João Pessoa, Getúlio Vargas, Farrapos (Fig.10.2), Benjamin Constant, Independência, Vasco da Gama, Oswaldo Aranha (Caminho do Meio), Nilo Peçanha, Bento Gonçalves, Teresópolis e Glória, e a criação de uma avenida de quarenta metros de largura cruzando os bairros Navegantes e São João, denominada Minas Gerais. O capítulo quinto é dedicado às perimetrais, que a partir do conceito de perímetro de irradiação junto ao centro, definido anteriormente, estabelece novas ligações perimetrais, conectando os bairros através de trajetos topograficamente favoráveis. Descreve a Segunda Perimetral, que inicia no novo bairro da Praia de Belas até o novo bairro industrial no Navegantes, passando pelo Moinhos de Vento, como uma Parkway, principalmente no trecho da atual 24 Avenida Goethe (Fig.10.3) . Igualmente, propõe o traçado da Terceira Perimetral ligando o novo bairro operário proposto na parte norte da cidade A abertura da Avenida Borges de Medeiros foi prevista no plano Moreira Maciel e as obras começaram em 1927 com o viaduto, projeto de Manoel Barbosa Assumpção Itaqui e Duilio Bernardi, concluído em 1932. 24 A Segunda Perimetral atualmente inicia na Avenida Praia de Belas, através da Avenida José de Alencar e Azenha. Já está alargada a partir da Avenida Princesa Isabel, Silva Só e Avenida Goethe, com elevada sobre a avenida Protásio Alves e nova ponte sobre o Dilúvio. O trecho entre a Avenida Ipiranga e a Avenida Mostardeiro foi desenvolvido e detalhado pela Equipe de Arquitetos, composta por Araújo e Fayet com a colaboração da Arquiteta Myna Grohs (1970). O Parcão foi criado em 1972, por decreto do Prefeito Telmo Thompson Flores, com projeto paisagístico do arquiteto José Morbini da PMPA e diretriz urbanística de compatibilização com a Segunda Perimetral de Moojen. 23 Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.46 Fig. 9 - Plano Geral de Melhoramentos, "Esquema Teórico do Plano de Avenidas", Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. 25 com o Bairro Tristeza no sul . Propõe ainda a "Perimetral de Estradas" no 26 extremo leste da cidade e, por fim, a criação da "Avenida Marginal", a leste, ligando o extremo norte da cidade até os balneários ao sul, margeando o Guaíba, já estando previsto o aterro do Cristal e a transferência do Hipódromo 27 do Moinhos de Vento para este local . Na Parte IV, dedicada aos Planos de Extensão, expõe diretrizes para as áreas de desenvolvimento futuro da cidade, iniciando pela exposição do Traçado incorporado no Plano de 1959 e implantado cinquenta anos depois, com sérios problemas de desenho e mobiliário urbano, iniciando junto ao aeroporto de Porto Alegre e estendendo-se por doze quilômetros até a Av. Bairro Juca Batista na zona sul. 26 Traçado parcialmente existente, batizado de Via do Trabalhador na Administração do Prefeito Alceu Collares (1986-1989). 27 Sendo que o estudo da implantação do hipódromo no aterro do Cristal foi desenvolvido por Gladosch, na década de 1940, a partir da diretriz de Paiva e Ubatuba desde os anos 1930. A proposta de criação de parque urbano público, na área do Jockey no Moinhos de Vento, no final dos anos 1960, partiu da iniciativa dos técnicos da prefeitura, coordenados por Moojen, encaminhando proposta ao Prefeito Célio Marques Fernandes (prefeito de Porto Alegre de 19641965 e 1965-1969), já que a ideia original, durante a permuta, era loteamento do atual Parque Moinhos de Vento. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento oral ao autor. Gravação digital. 30 set. 2011. 25 396 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.60,61 1950/1970 Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.86 Capitulo III Fig. 10 - Plano Geral de Melhoramentos, Melhoramentos do Núcleo Central, Remodelação da Praça XV, Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.64, 66 Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.71 Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.83 Fig. 10.2 - Plano Geral de Melhoramentos, chegada da Avenida Mista na Avenida Farrapos, Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. Fig. 10.3 - Plano Geral de Melhoramentos, perfil transversal da Av. Goethe, Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. Fig. 10.1 - Plano Geral de Melhoramentos, Melhoramentos do Núcleo Central, Avenida Mista. À esquerda, início na Av. Otávio Rocha. À direita, passagem pela Rua Dr. Flores. Abaixo perfil da Av. Farrapos, Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 397 Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada, p.494,103 Fig. 11 - À esquerda, Av. Borges de Medeiros e a Praia de Belas ao fundo. À direita, a Ponta da Cadeia e a Praia de Belas, antes do aterro, 1937, Porto Alegre - RS. 28 conceito de zoning e, em seguida, apresenta três importantes projetos: o novo Bairro Residencial e a Entrada da Cidade a serem edificados em área a ser conquistada do rio (Figs.11 e 12), ao sul do centro (Praia de Belas), e o projeto para o Novo Bairro Industrial e Operário, ao norte da cidade. O projeto para o aterro da Praia de Belas basicamente propunha um centro cívico, chamado de "Parque da Confluência", aos moldes do plano Agache para o Rio, em uma estrutura radioconcêntrica para onde convergiriam a Avenida Borges de Medeiros, Rua da República – que por sua vez seria a extensão do Túnel da Conceição –, Avenida do Riacho (atual Avenida Ipiranga) e a Rua Marcílio Dias, Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.99 Fig. 12 - Batimetria da Baía da Praia de Belas antes do aterro, 1937, Porto Alegre - RS. 28 cada una de ellas normas diferenciadas según la actividad constructora; consiste en una normativa de edificación que contiene las distintas partes del territorio municipal (zonen), y de un mapa que define tales zonas en el suelo municipal (Bauzonenplan). Las normas atañen a la densidad de edificación, definida mediante parámetros de altura de los edificios y de la superficie cubierta de cada parcela edificable, y a las asignaciones de uso de los suelos, diferenciados en industriales, residenciales y para actividades mixtas”. Para MANCUSO, no entanto, foi no período dos anos 1920 e 1930 que o zoning se converteu no principal instrumento de organização urbana, para ser posteriormente duramente criticado. “[...] el zoning entra oficialmente en el debate acerca de la Segundo determinados autores, como MANCUSO, o conceito de zoning em planejamento urbano surgiu na Alemanha, desde o final do século XIX, para disseminar-se nas leis urbanísticas da Suécia, Holanda e Inglaterra com a adoção do Town Planning Act, a partir das primeiras décadas do século XX. "Dicho instrumento subdivide la ciudad en zonas dispuestas en franjas concéntricas y asigna a no Menino Deus (Fig.13) . Justaposto a este traçado figurativo e monumental, um "ensanche" de quarteirões celulares de duzentos por sessenta metros, com áreas verdes e equipamentos públicos em seu interior, acessados por vias locais e peatonais, recheadas por lotes de doze por trinta metros, recuo de jardim e residências unifamiliares, predominantemente com dois pavimentos. Na "Ponta da Cadeia", a proposta da nova entrada da cidade, na forma de duas edificações monumentais (Assembleia de Representantes e Feira de Amostras, articuladas a um obelisco-farol (Fig.13.2) em meio a jardins de traçado barroco, separados da cidade pela projetada Avenida Beira-Rio (Fig.15), denotando ainda conexões importantes com a tradição acadêmica de Agache e as arquiteturas "protomodernistas" dos uruguaios. O espaço visava à recepção de passageiros e viajantes transportados por lanchas desde navios ou hidroaviões, articulando esta relação com o estuário de forma enfaticamente simbólica. O Bairro Industrial, situado às margens do Rio Gravataí na várzea e obedecia ao mesmo princípio do Centro Cívico e do Bairro Residencial: zoning Também, de certa forma estava presente a ideia de ruptura com a tradição do traçado xadrez e quarteirões de cem por cem metros, introduzindo traçados orgânicos e sinuosos do urbanismo inglês e o conceito da cidade jardim de Ebenezer Howard. Ubatuba de Farias vinha aplicando estes princípios em seus projetos urbanísticos para as praias no litoral norte do estado, como no balneário de Imbé – RS, projetado para a Sociedade Territorial Praia do Imbé, no final dos anos 1930. Ver: COSTA, José Geraldo Vieira. Imbé, o adeus à cidade jardim? Vitruvius São Paulo, Minha Cidade, n. Vitruvius, 087.01, ano 08, out 2007. Disponível em: . Acesso em 30 set. 2011, às 10h 30min. 29 29 arquitectura contemporánea después de las experimentaciones teóricas y las comprobaciones proyectuales que, basadas en el princípio de la subdivisión zonal, van llevando a cabo arquitectos como Tony Garnier, y el propio Le Corbusier: en la declaración de Sarraz de 1928, com motivo de la constituición del CIAM, no vacila en declarar que ‘en urbanismo el primer puesto está reservado para la clasificación de las funciones: a) la vivienda; b) el trabajo; c) la recreación...’ y que ‘los medios para el cumplimiento de estas funciones son: a) la zonificación; b) la regulación del tráfico; c) la legislación..." Ver: MANCUSO, Franco. Las experiencias del zoning. Barcelona: Gustavo Gilli, 1980. 398 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.101 1950/1970 Capitulo III Fig. 13 - Plano Geral de Melhoramentos, anteprojeto de urbanização da Ponta da Cadeia e da Praia de Belas, Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada, p.107 Fig. 13.1 - Plano Geral de Melhoramentos, estudo do Parque de Confluência, Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.99, 112 Fig. 13.2 - Plano Geral de Melhoramentos, estudo da Entrada da Cidade (Ponta da Cadeia) e Monumento Casais Açorianos, Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. Sergio M. Marques 399 definindo usos predominantes, no caso delimitando uma área industrial portuária junto ao rio e outra residencial, protegidas as glebas alagáveis, como 30 na enchente de 1936, com um sistema de aterro e drenagem (Fig.14). A área industrial, separada da área residencial pela ferrovia, seria constituída de lotes industriais em um sistema de ruas entra e sai. A parte residencial foi organizada de forma semelhante ao Bairro Residencial, com um Centro Cívico caracterizado por traçado radioconcêntrico do arruamento e quarteirões de lotes menores, agrupados em torno de pequenos centros de áreas verdes e serviços vicinais. Por fim, junto ao estuário, um grande parque de lazer. A Parte V dedica-se a estudar os "Espaços Livres" existentes na cidade, articulando-os à nova rede proposta com as Áreas de Extensão e outros parques novos, como o Parque Lacustre, no Bairro Santana, criado também para contribuir no sistema de drenagem da cidade, como é descrito na Parte VII. A Parte VI, de certa forma extensão da anterior, dedica-se a detalhar proposta para criação do "Parque Náutico", em zona a ser aterrada em frente à Igreja dos Navegantes, no Bairro de mesmo nome, criando na verdade um complexo esportivo, com atividades náuticas, atletismo e áreas de lazer incorporadas ao programa, assim como nova sede do Clube Veleiros do Sul . A Parte VII é dedicada a estudar o problema das enchentes em Porto Alegre, dando sequência aos aspectos abordados na parte anterior e na Parte IV. A relevância do problema é salientada, assim como a necessidade de estudar alternativas técnicas, que neste trabalho se resumem a um conjunto de ações distintas de acordo com ao setor da região metropolitana. A Parte VIII, no entanto dedica-se especificamente ao projeto de Canalização do Riacho, formado pelos arroios Dilúvio e Cascata, responsável por diversos problemas, principalmente na região da "Ilhota". O projeto previa a Os estudos em relação ao problema das enchentes e das áreas alagáveis de Porto Alegre antecedem a repercussão causada pela célebre enchente de 1941. Enchentes importantes vêm sendo registradas nos últimos 180 anos, sendo que, apenas no período entre as propostas do Engenheiro Moreira Maciel para a cidade, em 1914, e os estudos de Gladosch concluídos em 1943, aconteceram cinco episódios importantes, incluindo o de 1941: em 1914, o Guaíba subiu 2,6 metros; em 1928, 3,2 metros; em 1936, 3,22 metros; e em 1941, 4,75 metros. Ver: ENCHENTES Históricas nos últimos 180 anos – Porto Alegre. Disponível em: . Acesso em 19 set. 2011, às 12h. O projeto de prevenção contra cheias adotado, criando o sistema de diques de aproximadamente sessenta quilômetros, na forma de avenidas-diques, desde a várzea do Rio Gravataí até o bairro Cristal, incluindo o Muro da Mauá, foi desenvolvido em colaboração com o Departamento Nacional de Obras de Saneamento, do Governo Federal, através do Engenheiro Hidelbrando de Araújo Góis, cujas propostas foram apresentadas na Sociedade de Engenharia, em 1943. Ver: SILVA, José Loureiro da; PAIVA, Edvaldo Pereira. Um plano de urbanização Porto urbanização. Alegre: Globo, 1943. p. 46. 30 Fonte: Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada , p.99 Fig. 14 - Plano Geral de Melhoramentos, Bairro Industrial, Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. canalização, no trecho final do Riacho, e retificação do Dilúvio através de Avenida Dique. A parte IX é dedicada aos problemas de tráfego da cidade, já notórios nos anos 1930, dado o excesso de centralidade do sistema viário, com um apêndice alusivo exclusivamente à Praça XV de Novembro (terminal dos bondes). O trabalho é concluído por uma curiosa consulta de opiniões sobre os 31 projetos apresentados . Opiniões colhidas em periódicos ou diretamente, como do Engenheiro urbanista Dr. Armando Godói, da Prefeitura do Distrito Federal, publicado no "O Jornal" (sem data), ou diretamente de professores da UFRGS, industriais e funcionários públicos. Ver: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia Alegre datilografada. p. 214-218. 31 400 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada, p.494,105 Fig. 15 - Plano Geral de Melhoramentos, perfil transversal da Av. Beira Rio, Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias, 1937, Porto Alegre - RS. O "Contribuição ao Estudo da Urbanização de Porto Alegre" é, portanto, o primeiro documento relativo ao urbanismo de Porto Alegre, onde questões interdisciplinares condicionadoras da evolução urbana são abordadas de maneira mais ampla, com evidente atenção aos aspectos técnicos e observância de dados científicos e estatísticos, incorporando diversos conceitos do urbanismo moderno preconizados por Ebenezer Howard, Camilo Site, Tony Garnier, Le Corbusier e as ideias propagadas pelos CIAMs, como o perímetro de irradiação, o zoning, as Parkways, os centros cívicos e centros de negócios, as unidades de vizinhança, os padrões de habitabilidade, a eficiência do sistema viário e o impacto do automóvel, a modernização do transporte público, as áreas livres e de lazer, a presença da natureza no espaço urbano e os espaços para os pedestres. No entanto, a racionalidade e interdisciplinaridade incorporada não excluíam determinadas visões morfológicas, inerentes à ação urbanística, expressas no significativo conjunto de projetos e desenhos urbanos desenvolvidos, ainda que substancialmente contaminados pela tradição acadêmica e lógicas espaciais modernas filiadas ao expressionismo, chamadas de "arquiteturas renovadoras" pelos uruguaios, frequentes nos anos 1930 e 32 1940 . Expressões espaciais modernas, formalmente vinculadas à urbanística No caso do Uruguai, bastante influenciadas pela Escola de Amsterdam e pelas obras de M. de Klerk e P. L. Krame (Fig.16) e, posteriormente, W. M. Dudok (Fig.2, Cap.FAM) e Frank Lloyd Wright. Ver: ARANA Mariano; GARBELLI, Lourenzo. Arquitectura renovadora em Montevideo: 1915-1940. Montevidéu: Fundación de Cultura Universitária, 1991. Em Porto Alegre, além do Uruguai e do expressionismo alemão, talvez se possa citar também Auguste Perret, a exposição de Artes Decorativas de Paris (1925) e seus reflexos na Exposição do Centenário da Revolução Farroupilha em 1935. Ver: FROTA, José Artur D’Aló. A Permanência do Transitório Preservação, Permanência Transitório. e Transitoriedade: algumas reflexões sobre a arquitetura da Exposição Comemorativa do Centenário Farroupilha de 1935 em Porto Alegre. ARQtexto ZERO, Porto Alegre, 1º semestre 2000. p.13-21. ESKINAZI, David. A arquitetura da Exposição Comem orativa do Centenário Farroupilha de 1935 Comemorativa e as bases do projeto moderno no Rio Grande do Sul. [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2003. Igualmente, se podem citar influências do próprio Uruguai e da arquitetura Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 32 Fonte: Fotos Sergio Marques, 2011 Fig. 16 - Escola de Amsterdam, De-Dageraad, Michel De Klerk, 1920. do Movimento Moderno canônico, em especial à dos CIAMs e da carta de Atenas, assim como a morfologia influenciada pelas vanguardas construtivas, irão se fundamentar efetivamente após os estudos de Gladosch, e em parte em oposição a este – em que pese a importância dos seus dos trabalhos para 33 Porto Alegre e sua contribuição em continuidade aos temas de urbanismo – nos planos de 1959 e 1979. moderna produzida por Mendelson. Ver: BROWNE, Enrique. Otra arquitectura en América Latina, México: Gustavo Gili, 1988. 33 "Incorporando princípios dos planos anteriores, o plano Gladosch acrescenta-lhes conteúdo morfológico, calcado nos conceitos do paisagismo barroco. Formaliza a proposta de perímetro de irradiação, de avenidas radiais e de localização de terminais rodoferroviários junto à perimetral. Ao esquema viário, superpõe uma rede de áreas verdes que valoriza as qualidades urbanísticas da concepção. Propõe ainda a criação do Centro Cívico na Praça da Matriz, da cidade universitária e de um local de exposições permanente. Projeta o aterro da Praia de Belas, para o qual recomenda uma política de reloteamento inédita na época, e esboça as primeiras ideias para a travessia a seco do Guaíba. O plano influencia muitas decisões futuras e a execução progressiva de numerosas obras ali preconizadas afirma seus méritos. Talvez a medida mais inovadora da época, no entanto, tenha sido a constituição do Conselho do Plano Diretor. [...] À elaboração do plano deveria seguir-se o seu detalhamento operacional. Mas a concepção da estrutura física desvinculada da capacidade técnica e financeira do município, a carência de instrumental básico para o planejamento (levantamento planialtimétrico e cadastral por exemplo) e outras razões constituíram entraves à implantação do plano e contribuíram para o seu paulatino descrédito". O primeiro levantamento aerofotogramétrico do município iniciou somente em 1941. Ver: SALENGUE, Lais Guimarães de Pinho; MARQUES, Moacyr Moojen. Reavaliação de Planos Diretores: o caso de Porto Alegre. In: PANIZZI, Wrana M.; ROVATTI, João F. (Orgs.). Estudos urbanos Porto Alegre e seu planejamento. urbanos: Porto Alegre: Ed. Universidade, 1993. p. 157. Sergio M. Marques 401 Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954-1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964. Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954-1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964. p.24 O Plano Paiva e seus Projetos (1951-1961) Fig. 18 - Ideias para Porto Alegre, Anteprojeto de Planificação, Edvaldo Pereira Paiva, Demétrio Ribeiro, 1951, Porto Alegre-RS. entraram em marcha as condições que conduziram estes trabalhos à realização 35 do pré-plano de desenvolvimento da cidade , em 1951, coordenado por Paiva e Demétrio, em sequência do "Contribuição ao Estudo da Urbanização de Porto Alegre" e do "Expediente Urbano" realizado com o aporte dos 36 uruguaios (Fig.18). O desenvolvimento deste trabalho, chamado inicialmente de insuficientemente preparadas para a tarefa e sufocadas pela rotina burocrática”. As propostas de Gladosch, apesar de trazerem significativos avanços em termos de planejamento, esbarravam, segundo a visão de Moojen, no citado desenho urbano formal desconectado de análise das condições gerais locais e instrumentos de implementação. "O plano se reduz, aos poucos, a uma lei de recuos e alinhamentos em detrimento da concepção geral. Em face dos generalizados protestos, a Câmara de Vereadores cria a Comissão Revisora do Plano Diretor, encarregada de coordenar as ações esparsas, viabilizar a Lei do Plano da Cidade e equacionar os casos mais agudos, todos decorrentes da falta de recursos para viabilizar as desapropriações exigidas pelo traçado viário. Nos trabalhos da comissão que perduram até o início da década de 50, são perdidas todas as concepções teóricas dos estudos de Gladosch e suas diretrizes jamais regulamentadas por lei". SALENGUE, Lais Guimarães de Pinho; MARQUES, Moacyr Moojen. Reavaliação de Planos Diretores: o caso de Porto Alegre. In: PANIZZI, Wrana M.; ROVATTI, João F. (Orgs.). Estudos urbanos: urbanos Porto Alegre e seu planejamento. Porto Alegre: Ed. Universidade, 1993. p. 157. 35 Ver síntese histórica deste período, de acordo com a visão de Paiva e sua equipe. PORTO 1954- 1964 ALEGRE. Plano Diretor 1954-1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964. p.1927. 36 “Participei da redação do que ele chamava de ideias para Porto Alegre, um esquema, uma concepção do que seria a cidade, as perimetrais, radiais, aquilo que alimentou todo o trabalho com base na Carta de Atenas, era um urbanismo baseado num conceito generalizado no mundo, e principalmente na América Latina, das unidades vicinais. Uma rede de artérias que reservam unidades vicinais. Esquematizamos num desenho que foi publicado (1951) (Fig.18).” Ver: RIBEIRO, Fig. 17 - Plano Paiva, Projeto para a Praia de Belas, 1954-1959, Porto Alegre-RS. Após os estudos de Gladosch, entre 1938 e 1943, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre criou a Comissão Revisora do Plano Diretor, encarregada de conduzir e viabilizar sua implantação. Os trabalhos da 34 Comissão perduraram até o início dos anos 1950, sem muito sucesso , quando 34 "O período de 1943 a 1951 caracteriza-se por uma espécie de hiato do planejamento. Gladosch não concluiu seu trabalho, cuja complementação fica "a cargo de repartições municipais 402 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III "Ideias para Porto Alegre", com a colaboração progressiva de outros técnicos 37 através da reorganização da Divisão de Urbanismo do Município, em 1954 , tem culminância no plano de 1959, revisado e reaprovado em 1961. O préplano, iniciado por Demétrio e Paiva, explicita sua observância aos princípios da Carta de Atenas, em particular o de zonage (zoning ou zoneamento), referente ao uso do solo urbano com áreas residenciais divididas em unidades de habitação, áreas destinadas ao comércio, à indústria e aos principais órgãos 38 culturais . O esquema radioconcêntrico é mantido e desenvolvido, com a proposta das perimetrais, radiais e reorganização do transporte coletivo. Demétrio. In: MOHR, Udo. Demétrio Ribeiro 1916-2003. Arquitextos Vitruvius, São Paulo, 041.00, Arquitextos, ano 04, out. 2003. Disponível em: . Acesso em 08 out. 2010, às 12h 15min. 37 Os primeiros técnicos a ingressar na Divisão de Urbanismo da Secretaria de Obras do Município (a Secretaria de Urbanismo foi criada posteriormente) foram Roberto Félix Veronese, Carlos Maximiliano Fayet, Moacyr Moojen Marques e Leo Ferreira da Silva (ingressou ainda estudante). Posteriormente, outros foram se incorporando a essa estrutura, como Militão de Moraes Ricardo, Roberto Py Gomes da Silveira, Robert Levy, João José Vallandro e Cláudio Ferraro. 38 A Carta de Atenas, manifesto produzido no IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – CIAM, realizado em Atenas em novembro de 1933, três anos antes, portanto, da produção do "Contribuição ao Estudo da Urbanização de Porto Alegre", iniciado em 1936, no qual já aparecem preposições referentes ao zoning, recomenda enfaticamente o uso do zoneamento como elemento de controle da qualidade urbana. "O zoneamento é a operação feita sobre um plano de cidade com o objetivo de atribuir a cada função e a cada indivíduo seu justo lugar. Ele tem por base a discriminação necessária entre as diversas atividades humanas, cada uma das quais reclama seu espaço particular: locais de habitação, centros industriais ou comerciais, salas ou terrenos destinados ao lazer. Mas se a força das coisas diferencia a habitação rica da habitação modesta, não se tem o direito de transgredir regras que deveriam ser sagradas, reservando só para alguns favorecidos da sorte o benefício das condições necessárias para uma vida sadia e ordenada. É urgente e necessário modificar certos usos. É preciso tornar acessível para todos, por meio de uma legislação implacável, uma certa qualidade de bem-estar, independente de qualquer questão de dinheiro. É preciso impedir, para sempre, por uma rigorosa regulamentação urbana, que famílias inteiras sejam privadas de luz, de ar e de espaço". Ver: LE CORBUSIER. Carta de Atenas São Atenas. Paulo: EDUSP, 1993. A Carta de Atenas foi publicada originalmente em 1938. Ver: GIRADOUX, Jean. La Charte d´Atenhès avec un discours liminaire. Paris: Plon, 1938. No entanto, vale a pena lembrar que, em 1929, Le Corbusier já havia passado por Montevidéu, sendo que as conexões modernas deste contexto eram com outras vertentes. Como depõe Demétrio, suas ideias, que já circulavam, causavam distensões e polêmicas. A resistência à adoção acrítica de novas ideias dava indícios da parcimônia existente no sul em relação ao moderno de primeira de mão ou mesmo de certo conservadorismo, aqui igualmente presente: "Nessas circunstâncias radicou a firmeza da contribuição trazida do Uruguai à construção do ensino da arquitetura e do urbanismo em nosso Estado, num momento em que reinava aqui uma contenda preconceituosa e emocional entre partidários e adversários de Le Corbusier [...]. Pode-se dizer que a influência uruguaia foi elemento essencial da superação dos modismos exacerbados na prática profissional dos arquitetos riograndenses das primeiras gerações”. Ver: RIBEIRO, Demetrio. La influencia uruguaya en la formación de los arquitectos riograndenses. In: MARQUES, Sergio Moacir (Org.). Porto Alegre. Dos Puntos, Montevidéu, Elarqa n. 33, 2000. p. 10. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Simultaneamente às propostas urbanísticas, em face das dificuldades recentes, foram também propostas medidas administrativas para o desenvolvimento de um plano definitivo, como reforma tributária, mecanismos para a obtenção de recursos, estruturação de uma lei de zoneamento e a planificação das obras 39 municipais . A partir deste trabalho e da consolidação de um novo pré-plano, revisado por Edvaldo Paiva, em 1954 (Fig.19), o "Plano Paiva" é desenvolvido – com a colaboração da equipe de planejamento de Porto Alegre, que começava a se estruturar, inicialmente com Fayet, e com Veronese e Moojen logo a seguir – para, em 1957, ser apresentado à Câmara, com detalhamentos, e em 1959 40 transformado em lei, revisada em 1961 (Fig.20). O modelo urbanístico, 41 bastante influenciado pelo Plan of New York and its Environs , mantinha o "É de se registrar que, neste estágio do processo de planejamento urbano, inexistiam regulamentos sobre volume das construções, consubstanciados nos futuros planos, nos índices de aproveitamento." SALENGUE, Lais Guimarães de Pinho; MARQUES, Moacyr Moojen. Reavaliação de Planos Diretores: o caso de Porto Alegre. In: PANIZZI, Wrana M.; ROVATTI, João F. (Orgs). urbanos: Estudos urbanos Porto Alegre e seu planejamento. Porto Alegre: Ed. Universidade, 1993. p. 158. 40 Medalha de prata (1º Lugar) na categoria Urbanismo Correção Urbana, no I Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul, com o trabalho “Plano Diretor de Porto Alegre", 1960. 41 O plano Diretor de Nova Iorque, concluído em 1930, coordenado pelo urbanista Thomas Adams (1871-1940) – atingindo uma área de cem mil quilômetros quadrados e vinte e dois condados, projetando uma população futura para dali a vinte anos (1960) de vinte milhões de habitantes, realizado após sete anos de pesquisa – além de ter sido importante referência desde o ponto de vista da abrangência da região metropolitana como foco da metodologia de utilização extensa do survey, serviu de base para a adoção dos critérios de índice de aproveitamento, taxa de ocupação e altura, um tanto verticalizados, no plano de 1959, influenciados por este. Do plano de Nova Iorque ainda se referenciou a ideia de unidades de vizinhança e a própria criação do órgão técnico dedicado ao planejamento urbano, assim como em outras cidades brasileiras do pós-guerra, que não eram os grandes centros, como no Plano Diretor de Ribeirão Preto, feito pelo Engenheiro José de Oliveira Reis (1903-1994), em 1945, e no plano para a cidade de Santos, por Prestes Maia, em 1947 (Prestes Maia, em particular, vai desenvolvendo seu pensamento urbanístico e aproximandose intensamente dos ideários da cidade jardim e unidades de vizinhança, nos anos 1940 e 1950). "Interessa remeter inicialmente para como a partir da Segunda Guerra, nas discussões urbanísticas internacionais, as formas de estabelecer planos regionais, em utilizar o zoneamento como instrumento de controle e o ideário das Neighborhood-Units ganham relevo. Este último, se já estava presente em trabalhos mais antigos, como a Cité Indistrielle de Tony Garnier, é efetivado na construção de Radburn, projeto de Clarence Stein e Henry Wright para uma cidade de 25.000 habitantes, em New Jersey, em 1929, e teorizada por Clarence Perry no volume 7 do Regional Survey of New York and Environs. OLIVEIRA, Fabiano Lemes. Modelos urbanísticos modernos e urbanos: parques urbanos as relações entre urbanismo e paisagismo em São Paulo na primeira metade do século XX. [Tese de doutorado]. MONTANER, Josep Maria (Orient.). Barcelona: ETSAB/UPC, 2008. p. 318. Para ver mais sobre o urbanismo norte-americano e suas relações com as cidades brasileiras, ver em especial o capítulo: O urbanismo americano, planos regionais e sistemas de urbanismo parques, parques p. 331-351. Paiva ganhou do Engenheiro Augusto Pestana (1868-1934, carioca, positivista, intendente de Ijuí e diretor do Porto de Porto Alegre em 1932), provavelmente logo após Sergio M. Marques 403 39 Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954-1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964. p.27 Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954-1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964., p.49 Fig. 20 - Plano Diretor de Porto Alegre, Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Edvaldo P. Paiva), 1959, Porto Alegre-RS. Fig. 19 - Pré-Plano de Porto Alegre, anteprojeto do Plano Diretor, Edvaldo Pereira Paiva, 1954, Porto Alegre-RS. zoneamento das áreas industrial e comercial, com o tecido residencial organizado em unidades habitacionais, estruturadas por equipamentos integrados e centros de bairros. Foram definidas as regras de zoneamento do uso do solo, o aproveitamento, percentual de ocupação dos terrenos e alturas, com dispositivos de controle formal e ambiental, assim como desenvolvidos vários projetos de urbanização e desenho urbano, seja por demandas técnicas, funcionais, ou morfológicas, dada a representatividade dos temas: a reurbanização da ilhota, em face do problema das frequentes enchentes causadas pelo Arroio Dilúvio e dos assentamentos irregulares localizados neste local; a urbanização da Praia de Belas, como área de expansão do centro histórico, conectada à Primeira Perimetral e às radiais Avenidas Beira-Rio (projetada), Borges de Medeiros e Praia de Belas, proposta como bairro habitacional modelo do urbanismo moderno vigente; a criação do Centro Administrativo do Estado, dado o exponencial crescimento da estrutura administrativa; o Teatro Municipal (nunca realizado); o Paço Municipal; e terminais rodoferroviários. Ainda em relação à configuração da cidade, convém salientar que, na década de 1950, o fenômeno da metropolização pressionava o aumento da área urbanizada de Porto Alegre e cidades vizinhas, iniciando o processo de 42 conurbação intenso das próximas décadas . Portanto, o plano previa, a partir de uma hipótese de estruturação física da área metropolitana, diretrizes para o urbanismo da capital. Com essas diretrizes, o plano tomou forma, organizando, em seu texto publicado posteriormente na forma de lei, introdução denominada "Esboço histórico da evolução de Porto Alegre e das tentativas de sua planificação", no Moojen atribui, como parte do fenômeno, a aprovação da Lei 1.233, de 1954, que regulamentava os loteamentos urbanos, que aumentou consideravelmente o preço do lote urbano na capital, dado o valor urbanístico agregado, e induziu a realização de urbanizações em áreas limítrofes, onde a as exigências legais eram mais amenas ou inexistiam, provocando o incremento no desenvolvimento urbano de Gravataí e Canoas e o surgimento de Cachoeirinha e Alvorada. Esse crescimento, posteriormente, leva à institucionalização da Região Metropolitana de Porto Alegre, definição pioneira em termos brasileiros mais tarde adotada na legislação federal. Ver: SALENGUE, Lais Guimarães de Pinho; MARQUES, Moacyr Moojen. Reavaliação de Planos Diretores: o caso de Porto Alegre. In: PANIZZI, Wrana M.; ROVATTI, João F. (Orgs). Estudos urbanos Porto Alegre e seu urbanos: planejamento. Porto Alegre: Ed. Universidade, 1993. p. 158. 42 sua edição, entre 1930 e 1932, cópia do plano de Nova Iorque. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento oral ao autor. Gravação digital. 30 set. 2011. 404 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: Desenho Acad. Caroline Valicente, B.I. C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012, Acervo FAM Belas: Praia de Belas TOPOS [LOGIA], GEOS [GRAFIA] & ACQUA A gênese da Cidade Moderna Fonte: FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada, p.98 Fig. 21 - Plano Paiva, Projeto da Praia de Belas, 1954-1959, Porto Alegre-RS. qual síntese histórica, desde o surgimento da cidade, propostas de Moreira Maciel em 1914, Gladosch entre 1938 e 1943, Paiva e Demétrio em 1951 e Paiva em 1954 são retratadas objetivando expor a linha de desenvolvimento de pensamento e ações urbanísticas em Porto Alegre. O primeiro capítulo, "Pesquisa Urbana", relata a história da sistematização dos dados cadastrais e o levantamento das condições de funcionamento da cidade, condensadas no "Expediente Urbano de Porto Alegre", de 1943, que culminariam com a criação da "Seção de Estudos Econômicos e Pesquisas", em 1961, sendo que, durante o processo de elaboração do plano, entre 1954 e 1959, foram estudados aspectos físicos, econômicos, sociais e urbanos. O segundo capítulo, "Planificação", expõe as ideias de urbanismo adotadas, dissertando sobre o conceito de zoneamento, o modelo de esquema viário adotado em face dos aspectos identificados, e a estratégia de áreas verdes para a cidade, no espírito da cidade jardim, sublinhando a atenção com o tema ambiental, significativamente presente no urbanismo da capital. O capítulo dois desdobra-se nos projetos específicos: "Ilhota", "Perimetral" e "Praia de Belas". A terceira parte dedica-se à "Lei do Plano Diretor", sistematizada em noventa e um artigos, acompanhados de mapas de uso do solo, aproveitamento, ocupação, alturas e recuos para jardins. Fica evidente, em uma leitura geral do plano, que o projeto para a Praia de Belas (Fig.21) ocupa, entre outros, um papel central, por ser de certa maneira a proposta emblemática dos princípios modernos de planejamento adotados e revela, em sua espacialidade, a estrutura ordenada pelos critérios morfológicos de certa maneira universalizados pelo urbanismo moderno e arquitetura moderna das vanguardas construtivas. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fig. 22 - Baía da Praia de Belas, 1936, Porto Alegre-RS. Visão panorâmica sobre transformações da Praia de Belas, mesmo superficial, descortina processo menos pré-determinado em projetos autorais perfilhados e mais resultante de somatório de ações coletivas e históricas, que não esconde o sentido de modernização social nem a imagem de espaço moderno pretendidos pelas lideranças, em seu tempo, resultantes. Com intuito de colonizar o território nacional, o poder central intentou o povoamento da atual Porto Alegre, trazendo sessenta casais açorianos (1752), que acessaram a região pela foz do Arroio Dilúvio, na extensa baía formada pelo 43 promontório da península e Ponta do Dionísio . A cidade passou a chamar-se Porto dos Casais, povoação iniciada com ranchos primitivos, cobertos de palha, nessa área, hoje chamada Cidade Baixa. Em 1773, o administrador da Província, autorizado pelo vice-rei, transferiu a capital de Viamão para a região do Porto dos Casais, iniciando o traçado feito pelo Capitão Alexandre 43 Local onde estão as instalações do antigo Estaleiro Só, hoje chamado Pontal do Estaleiro. 405 Sergio M. Marques Antiga área alagadiça, formada por uma curva acentuada do arroio, nas proximidades de onde é hoje a Praça Garibaldi, transformada em pequena ilha em 1905, pelo intendente José Montaury, no intuito de aumentar a vazão do fluxo d’água. Toda a área mudou suas características com a canalização do arroio, na década de 1940, e a execução do Projeto Renascença, que abriu a Avenida Érico Veríssimo, na década de 1980. Ver: FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre guia Alegre: histórico. Porto Alegre: UFRGS, 1988. 45 Luís Alves de Lima e Silva, nascido em Vila de Porto Estrela (RJ), militar de família tradicional, acompanhou a independência do país, participou da Campanha Cisplatina, do combate ao Movimento revoltoso da Balaiada em Recife, onde ganhou o título de Barão de Caxias (1841), em referência à cidade onde se deu a batalha vitoriosa. Foi nomeado, pelo imperador Dom Pedro II, presidente da Província do Rio Grande do Sul, em 1842, fazendo frente à Revolução Farroupilha, conduzindo a assinatura da "Paz de Ponche Verde", que deu fim à Guerra dos Farrapos (1845); em 1847, era senador do Império pela província e, em 1852, Comandante em Chefe das forças no sul, combatendo os ditadores Rosas, da Argentina, e Oribe, do Uruguai. Finalmente, em 1866, comandou tropas e estratégias militares na guerra do Paraguai, quando ganhou o título de Duque (1841). Ver: O HOMEM por trás do monumento. História Viva Ed. 06, Editora Duetto. São Paulo, Viva, 2004. p. 28-48. 46 Atividades localizadas na Ponta do Asseio, Ponta do Dionísio e Ponta do Melo. 47 Loteamentos realizados batizados com o nome das famílias proprietárias das terras, como Ganzo, Bastian, etc., hoje nomes de ruas e avenidas do bairro Menino Deus. 44 406 Fonte: Acervo Maturino Luz. Montanha, que escolheu os altos da Rua Formosa, atual Avenida Duque de Caxias, para implantar a nova administração, na chamada Cidade Alta. No espaço natural, o Arroio Dilúvio, em seu traçado original na direção 44 ao estuário Guaíba, próximo à ilhota , percorria os fundos da atual Rua João Alfredo, antiga Rua da Margem, e seguia no sentido leste-oeste até a foz, próxima à Rua Espírito Santo, junto ao centro histórico de Porto Alegre. Constituía obstáculo físico importante entre península e terras situadas ao sul, e tentativas de ligação por pontes de madeira, a maioria com insucesso, procuravam integrar os dois lados da área, entre a cidade que se formava no centro, arraiais e chácaras na parte sul. Em 1848, Duque de Caxias (180345 1880) mandou construir a Ponte de Pedra sobre o Dilúvio, próxima ao centro. Iniciadas as ligações, a ocupação paulatina das terras ao sul do trecho final do arroio, em direção às margens da outra parte, possibilitaram a expansão urbana através de caminhos radiais. O caminho do sul tornou-se estrada, chamada Caminho9 de Belas e, a seguir, a mais importante ligação com a zona sul da cidade, dedicada aos produtos primários, matadouros municipais e local de 46 expurgo de dejetos (Fig.23, item 13). As propriedades fronteiras a esta margem deixaram com o tempo as atividades rurais para tornarem-se extensões urbanas, tendo como geratrizes a Estrada Praia de Belas e o Caminho Santa Teresa, atual Avenida Getúlio Vargas, que, ligados entre si por 47 novas vias, permitiram loteamentos urbanos sucessivos . Dadas as dificuldades de transposição da topografia, pelos meios rudimentares de transporte e elevações existentes, os vales como os da Agronomia, Glória e Teresópolis Fig. 23 - Planta da Cidade de Porto Alegre por L. P. Dias-RS, 1839, Porto Alegre-RS. foram os principais locais de implantação destes caminhos. Na Praia de Belas, a orla tornou-se a possibilidade mais viável de ligação, tendo sido implantada, nos anos 1930, linha de ferrocarril, desde o atual final da Avenida Borges de Medeiros, junto ao porto, até a Ponta da Serraria, onde havia o matadouro, com traçado que buscava seguir terrenos planos. Na foz do Arroio Dilúvio, por exemplo, havia estação de trem no prolongamento da Ponte de Pedra, juntamente com uma pequena nucleação de construções precárias. Por outro lado, o crescimento de importância da cidade-capital propiciou, na parte norte, sucessivos aterros para implantação do porto definitivo e acréscimo de alguns quarteirões, cuja ocupação, ao longo do tempo, reforçou a vocação comercial dessa área, criando a centralidade da futura região metropolitana e do Estado, em razão das funções acumuladas pela cidade-polo. Não tardou o aparecimento de interesse para ocupação da parte sul, então para produzir áreas habitáveis e bons negócios imobiliários: MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954-1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964, p.20, 21 Fig. 24 - À esquerda, Primeiro Plano realizado por Arnaldo Gladosch, 1938. À direita, segundo Plano realizado por Gladosch, 1939 -1940. Porto Alegre-RS. área de interesse e expansão, área de urbanização e modernização, área de projetos. Região sedimentária, cujo aterramento se processava lenta e 48 naturalmente , o Plano Diretor urbano de 1914, coordenado pelo Engenheiro Moreira Maciel, previu a conquista de terra sobre o estuário para estruturação de avenida-parque ligando o porto, desde a “Ponta da Cadeia”, até a “Ponta do 49 Dionísio”, ao sul (Fig.4), formando contorno da cidade junto ao rio, nos lados oeste e sul da península e oeste no desenho da baía. Os projetos urbanos no Rio de Janeiro, com aumentos de áreas à custa dos desmontes dos morros Santo Antônio e Castelo, repercutiam por aqui, em estratégias de acréscimos de terras a partir do desmonte do Morro Santa Tereza. A necessidade de saneamento de apreciáveis áreas da Cidade Baixa, como a Ilhota, parte do Menino Deus e Rua da Margem, somada aos cíclicos alagamentos causados pelo Arroio Dilúvio, responsável pela drenagem dos vales da Agronomia e da Glória, induziram as retificações e contenção do seu geocurso, entre diques, até a foz. A retificação ocasionou deslocamento do ponto de deságue do arroio canalizado, mais ao sul que o original, criando a atual Avenida Ipiranga (década de 1940), com pistas elevadas sobre diques laterais de contenção. A Avenida constituiu-se em obra crucial para a cidade, em razão da estruturação urbana, saneamento da região e consequente deslocamento do arroio na sua parte final, permitindo: desaparecimento do Fisicamente, a baía era constituída por águas rasas, sujeitas, como nas ilhas do delta, a assoreamento permanente. Há quem afirme que se não fossem os aterros provocados, ela seria naturalmente aterrada por sedimentos ao longo dos anos (Fig.12). 49 Ponta da cadeia é o nome popular da extremidade da península onde se encontra o centro histórico, ocupada hoje pela Usina do Gasômetro. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 48 Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954-1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964, p.20, 22 Fig. 25 - Terceiro Plano de Arnaldo Gladosch, 1940-45, Porto Alegre-RS. obstáculo das ligações urbanas na direção sul, recuperação de áreas do antigo leito, reloteamento da Ilhota e, principalmente, construção do trecho da Avenida Primeira Perimetral e obras resultantes, entre elas, o Largo dos Açorianos, posteriormente. O “Plano Gladosch”, na década de 1940, traçou para o aterro projeto de “Bairro Residencial Modelo” com conjunto expressivo de bulevares arranjados figurativamente, a partir do centro histórico, em pata de ganso axial à Avenida Borges de Medeiros. O arruamento intersticial acomodaria a geometria radioconcêntrica, modelando quarteirões de edifícios perimetrais gabaritados à maneira de Haussmann. Na borda do rio, houve a configuração de parque linear, retificando o water-front gerado pelo aterro proposto, já conceito de área pública ajardinada, como posteriormente se realizou, neste caso, porém, com traçado francês insinuado. A visão urbana de Gladosch, no entanto, como em suas arquiteturas, ao contrário da ideia de permanência e consolidação da tradição Beaux-Arts, revelava-se moderna no sentido de expansão e Sergio M. Marques 407 Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954-1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre. Fig. 26 - Plano Diretor de Porto Alegre, projeto da Praia de Belas, Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS. substituição, sob a luz da cidade visionária, desenhada segundo imagem repleta de signos da tradição acadêmica (Figs. 24, 25). O sistema formal dava continuidade à ideia de desenho figurativo sugerida pelo plano carioca de Agache e gaúcho de Paiva e Ubatuba, realizado em 1936, acentuada pela formação acadêmica do arquiteto, integrante da 50 equipe de Agache, formado na escola de Dresden . Gladosch propunha o deslocamento da centralidade proposta no projeto de 1936 para a articulação da Avenida Borges de Medeiros entre centro histórico e aterro, espaço onde Ver: CANEZ, Anna Paula. Arnaldo Gladosch, o edifício e a metrópole Porto Alegre: UniRitter, metrópole. 2008. 50 hoje se encontra o Largo dos Açorianos. Deste ponto, abriam-se eixos estruturadores da geometria urbana, a sudeste, onde posteriormente seria traçada a I Perimetral, a sul, através da própria Avenida Borges de Medeiros, e a sudoeste culminando em espaço público monumental junto ao rio, análogo ao portal da cidade do projeto anterior, agora transformado em eixo urbano de perspectivas acentuadas. O programa de habitação coletiva extensionista do estoque imobiliário do centro tradicional manteve-se com o projeto do “Bairro Residencial Modelo”, organizado em quadras estruturadas por arruamento vicinal, perpendiculares aos eixos estruturadores e intervaladas por áreas públicas dispostas a gerar pequenas áreas verdes e equipamentos a cada conjunto de quarteirões, esquema funcional de certa forma mantido no plano de 1959, de Paiva. Também a borda era configurada com a ideia de parque linear, desta vez avantajado em relação aos traçados anteriores, dispondo largura semelhante a 408 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: Desenho Acad. Caroline Valicente, B.I. C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012, Acervo FAM Fig. 27 - Plano Diretor de Porto Alegre, projeto da Praia de Belas, Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS um quarteirão, entre a Borges de Medeiros e o rio, ao longo de toda baía, retificando, como desenhado para o arroio Dilúvio e Avenida Ipiranga, a borda com o Lago Guaíba, ideia que de certa forma antecipa o traçado finalmente adotado, em projeto elaborado por Moojen e Fayet, em 1961, com área verde pública junto ao rio (Fig.35). 51 No plano de 1959, o “Plano Paiva” , se elaboraram diretrizes urbanísticas e aproveitamento da área, pela primeira vez recomendando aterro mediante dragagem de material do leito do estuário . A enchente de 1941 tornou aguda a necessidade de proteção das áreas baixas da cidade, sujeitas a alagamentos, que resultou no plano de proteção urbana, através de diques de terra na cota seis metros (em relação ao mar) e muro de concreto na Avenida Mauá. Sobre a região da baía, o dique foi projetado longe da Avenida Praia de Belas; oportunizando ganho de terras urbanizáveis. Áreas de propriedade do Estado, que cedeu direitos ao Município, que, por sua vez, negociou com o Entre os planos de 1945 e 1954, ainda a empresa de urbanização Dane & Conceição – um dos sócios da empresa era o engenheiro Ildo Menegheti, que foi Prefeito de Porto Alegre e Governador do Estado – havia proposto o aterro e loteamento dos baixios da baía fronteira à Praia de Belas, pretendendo usufruir os lotes resultantes – com um parcelamento na forma de loteamento comum, em xadrez – que empreenderia um parcelamento privado com compensação financeira para o poder público. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento oral ao autor. Gravação digital. 30 set. 2011. Sergio M. Marques 409 52 52 Plano Diretor de Porto Alegre – Lei n. 2.046 de 1959, substituída pela Lei n. 2.330, de 1961. Plano geral de desenvolvimento urbano, coordenado pelo Eng. Edvaldo Pereira Paiva, do qual fizeram parte Roberto Felix Veroneze, Carlos M. Fayet e Moacyr Moojen Marques, entre outros. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 51 Fonte: Desenho Acad. Caroline Valicente, B.I. C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012, Acervo FAM Fig. 28 - Plano Diretor de Porto Alegre, projeto da Praia de Belas, avenidas ortogonais a Av. BeiraRio. Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS Governo Federal a execução do aterro pelo DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento). O projeto urbanístico foi, então, realizado, na oportunidade da elaboração do Plano Diretor de 1959 (L. C. n° 2.040) e 1961 (L. C. n° 2.330), participando Paiva, Fayet, Veronese e Moojen. O projeto para a Praia de Belas, coordenado em determinado momento por Fayet, propunha ali o bairro para duzentas mil pessoas, tendo também como objetivo a criação de território comercializável, gerando recursos públicos a serem investidos em obras previstas no Plano Diretor (Fig.26). Desde a área da atual Primeira Perimetral, junto ao Largo dos Açorianos, o arroio retificado, incluindo a porção hoje ocupada pelo Parque Marinha do Brasil até as imediações do Esporte Clube Internacional, conjuntos de habitação coletiva densos – configurados por uma sequência de ruas entra e sai, intervaladas por praças vicinais e serviços locais, compostos de prédios de habitação coletiva – determinavam o sentido de ordem do espaço urbano, cujos fundamentos funcionais e formais explicitam a ideia de cidade moderna vigente (Fig.27). O traçado original do projeto tinha como estrutura principal avenidas ortogonais à Borges de Medeiros e à Beira Rio (Fig.28), mostrando filiação ao ideário da cidade moderna propugnada por Le Corbusier, com rejeição do xadrez sistemático e continuidade de áreas verdes, além de sistemas circulatórios exclusivos e hierarquizados. Dessas avenidas, partiam ruas secundárias, tipo entra e sai (como a onde está o Ed. FAM) (Fig.29), propiciando caminhos de pedestres paralelos às avenidas ortogonais, sem cruzamento com veículos (Fig.30). Tais caminhos levavam às escolas e praças das unidades do 53 bairro (Fig.30.1). 53 Posteriormente, com a redução dos aterros e, em consequência dos loteamentos das unidades, desapareceu o esquema de circulação de pedestres, já que as escolas não mais existiram. No caso 410 Fonte: Desenho Acad. Caroline Valicente, B.I. C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012, Acervo FAM Fig. 29 - Plano Diretor de Porto Alegre, projeto da Praia de Belas, ruas entra e sai. Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS A ligação entre a fronteira da cidade histórica e cidade moderna, a partir do ponto de culminância da Avenida Borges de Medeiros e a borda do rio, adotada nos projetos anteriores, é mantida através de diagonal sentido nordeste-sudoeste, insinuada, com menos hierarquia espacial que nos estudos de Paiva e Ubatuba de1936 e no projeto de Gladosch, através de área verde disposta junto à Borges e outra junto ao rio. Na verdade, o eixo traçado articula a troca de geometria entre tecido habitacional organizado ao longo da Avenida Borges de Medeiros, no sentido norte-sul, e outro no sentido leste-oeste, onde hoje se encontra o Parque Mauricio Sirotsky Sobrinho (Fig.30.2). A borda mantinha-se fiel à ideia de avenida associada à generosa área pública na forma de parque linear, mantendo o limite ao rio retificado, agora desenhado por sequência de marinas que culminam em baía artificial criada por prolongamento da foz do Dilúvio e braço gerado a partir da ponta da cadeia, semelhante ao que posteriormente foi executado (Fig.30.3). O modelo urbanístico, desenvolvido a partir dos trabalhos anteriores, mantinha o zoneamento das áreas residenciais e comerciais, sendo que as Unidades de Habitação (quarteirões) eram limitadas pelas vias de tráfego geral, acolhendo no seu interior o trânsito local, unidades escolares, praça com área verde e de recreação (Fig.31). A adoção da expressão "Unidades de Habitação", certamente advém das ideias urbanísticas do Movimento Moderno, senão diretamente, do sentido com o qual Le Corbusier denominou las Unités. Os conceitos de autonomia e suficiência celular da habitação coletiva acompanham – associados ao conceito de zoning e igualmente às teorias representativas do manifesto vers une da rua Dr. Vicente de Paula Dutra, onde está o edifício FAM, um dos poucos quarteirões parcialmente executados de acordo com o modelo original, a passagem de pedestres foi substituída por uma pequena praça, projeto de Moacyr Moojen Marques (Fig.30.1). Fonte: Desenho Acad. Caroline Valicente, B.I. C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012, Acervo FAM Fonte: Desenho Acad. Caroline Valicente, B.I. C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012, Acervo FAM MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fig. 30 - Plano Diretor de Porto Alegre, projeto da Praia de Belas, passagens para pedestres, paralelas às avenidas ortogonais, Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS. Fig. 30.2 - Plano Diretor de Porto Alegre, projeto da Praia de Belas, avenida diagonal nordestesudoeste. Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS. Fonte: Desenho Acad. Caroline Valicente, B.I. C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012, Acervo FAM. Google Earth Fig. 30.1 - Acima, Praça Eng. Guilherme Gaudenzi, Moacyr Moojen, década de 1970. Abaixo, Plano Diretor de Porto Alegre, projeto da Praia de Belas, área de escola das Unidades, Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Desenho Acad. Caroline Valicente, B.I. C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012, Acervo FAM Fig. 30.3 - Plano Diretor de Porto Alegre, projeto da Praia de Belas, Avenida Beira-Rio (atual Av. Edvaldo Pereira Paiva). Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS. Sergio M. Marques 411 Fonte: . Fonte: Desenho Carolina Valicente, B.I.C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012 Fig. 32 - À esquerda, Unité d´Habitation, Le Corbusier, 1947-53, Marselha. À direita, Ville Radieuse, Le Corbusier, 1924. (Fig.32), assim como as da habitação coletiva em meio aos jardins o são, nas 54 imagens da Ville Radieuse (Fig.32) . No Uruguai, onde Paiva consolidou sua formação urbanística, a noção moderna de habitação coletiva, influenciada pelas ideias de Le Corbusier e dos CIAMs, foi abordada inicialmente por C. Gómez Gavazzo e E. Leborgne, alunos de Cravotto, no projeto acadêmico Un barrio para empleados, de 1931 55 (Fig.33) . Demétrio Ribeiro tomou contato direto com essas ideias, além do Uruguai, quando acompanhou Fernando Corona e grupo de formados do IBA na viagem de formatura à Europa, em 1952, por quase seis meses, quando visitaram o escritório do mestre, onde este, entre outros projetos, explicou a Unité d`Habitation de Marseil realizada entre 1947 e 1953, visitada pelo grupo 56 logo a seguir . As unidades propostas desde a "Contribuição ao Estudo da Urbanização de Porto Alegre" e o "Expediente Urbano" e "Ideias para Porto Alegre", no Bairro Residencial da Praia de Belas, eram uma adequação das A primeira edição de Vers une Architecture, de 1923, com uma compilação de artigos publicados anteriormente na Esprit Noveau, tem a imagem de um navio na capa (Fig.33). Ver: LE CORBUSIER. Vers une architecture. Paris: Les Editions G. Grés et Cie, 1923. O conceito já havia sido explorado nas propostas para a Ville Contemporaine, em 1922, e na Ville Contemporaine, em 1924, incorporado posteriormente em seu livro La Charte d´Athenas, de 1940. 55 “Havia apenas um professor vinculado ao CIAM, ao moderno, a Le Corbusier, de quem era amigo, Gomes Gavazzo. Professor de uma só disciplina, dirigia atelier que chamava Composição Decorativa. Muito conhecido, talentoso e, neste sentido, em constante conflito teórico com o resto da escola. Era realmente um adepto e um homem que compreendia bem a arquitetura de Le Corbusier, os outros não. Na verdade eu estudei, e, digamos, eu estava lá nos anos 40, 42, assim que, quando um colega meu, por sinal um paraguaio, um camarada muito culto, disse: mas tu sabes que no Brasil tem um arquiteto importante, Niemeyer, do qual eu nunca tinha ouvido falar?”. Ver: RIBEIRO, Demétrio. In: MOHR, Udo. Demétrio Ribeiro 1916-2003. Vitruvius São Paulo, Vitruvius, Arquitextos 041.00, ano 4, out. 2003. Disponível em: . Acesso em 08 out. 2010, às 12h 15min. 56 Ver: JORNAL DA UNIVERSIDADE. Nelson Souza, das glórias juvenis à arte da maturidade. maturidade Disponível em: . Acesso em 20 set. 2011, às 11h 30min. 54 Fig. 31 - Plano Diretor de Porto Alegre, projeto da Praia de Belas, Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS. archietcture – as propostas de organização funcional da habitação moderna. As célebres comparações de navios transatlânticos a unidades habitacionais autônomas são também metáforas de Unites d´habitation, como a de Marselha 412 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ Fonte: ARANA Mariano; GARBELLI, Lourenzo. Arquitectura renovadora em Montevideo: 1915 – 1940. Montevidéu: Fundación de Cultura Universitária, 1991, p.27. LE CORBUSIER. Vers une architecture. Paris: Les Editions G. Grés et Cie, 1923, Capa. 1950/1970 Fonte: Desenho Acad. Caroline Valicente, B.I. C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012, Acervo FAM. Foto Sergio Marques, 2012 Capitulo III Fig. 34 - À esquerda, Plano Diretor de Porto Alegre, projeto da Praia de Belas, uma quadra (Unidade Habitacional) com mercado em primeiro plano. Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS. À direita, Rua Comercial, Superquadra, Lúcio Costa, 1956-60, Brasília-DF. Fig. 33 - À esquerda, Un barrio para empleados, trabalho acadêmico, C. Gómez Gavazzo e E. Leborgne, 1931, UDELAR, Montevidéu. À direita, Capa de Vers une Architecture, com a imagem da circulação de um Transatlântico, Le Corbusier, 1923. teorias modernas ao modelo espacial urbano proposto, procurando, através de regulação fundiária, dispositivos de controle urbanístico das edificações e regramento do uso do solo, assim como distribuição celular de áreas públicas e serviços, configurar estruturas urbanas análogas a unidades de habitação, com certa autonomia nas funções básicas, articulação proporcionada e eficiente com os usos urbanos de maior amplitude e as centralidades da cidade. Dando sequência à organização das unidades habitacionais, o esquema previa mercados de abastecimento e centros de bairro na confluência de diversas unidades, de certa maneira semelhante ao esquema adotado nas superquadras de Brasília (Fig.34). Dentro deste arranjo, de unidades de vizinhança, são definidas regras de zoneamento de uso do solo, aproveitamento e percentagens de ocupação dos terrenos e altura das edificações, influenciados pelo plano de Nova Iorque, até então pouco instrumentalizadas. A matriz genética do Movimento Moderno, portanto, expressa desde o “Expediente Urbano para Porto Alegre”, de Paiva e Ubatuba, consubstanciou-se no projeto Praia de Belas, desdobrando pequenas unités d´habitation e cidade jardim em blocos de escala proporcionada a espaços públicos celulares distribuídos ao longo do aterro, em ruas locais armadas entre as avenidas radiais, na forma de redents. Os grandes bairros de habitação coletiva do 57 Movimento Moderno, como Toulouse le Mirail , particularizavam-se e adequavam-se ao contexto, através de instrução normativa, junto ao centro de Porto Alegre. A partir deste plano urbanístico, no projeto Praia de Belas e no aterro, portanto, com mais evidência, se descortinou o corolário da arquitetura e urbanismo modernos, com critérios conformes aos de Le Corbusier e Hilberseimer, qualificados na Carta de Atenas, gerando posteriormente, no novo território urbano, o Centro Administrativo de escala monumental, grandes parques urbanos, avenidas-parque e perimetrais estruturais, bairros residenciais ordenados pelo senso da cidade jardim e distribuição espacial ordenada pelo zoning. Neste contexto, validando suas crenças, os arquitetos Fayet, Araújo e Moojen construíram o Edifício FAM, pequena unidade habitacional para suas famílias. 57 Le Mirail é exemplo análogo de bairro moderno projetado integralmente como área de expansão urbana em sítio desocupado (ZUP – Zone à Urbaniser en Priorité – 680 ha) dentro dos princípios preconizados pelas vanguardas e discutidos nos CIAMs. No início dos anos 1960, o projeto vencedor do concurso promovido pela municipalidade de Toulouse, na Gasconha, região sudoeste da França, produzido pela equipe Shandrach Woods, P. Dony, Alexis Josic e Georges Candilis (excolaborador de Le Corbusier e integrante do Team X), de bairro para 100.00 habitantes, com comércio, serviços e habitação coletiva, radicalizava conceito igualmente utilizado no projeto para a Praia de Belas, separando a circulação de pedestres e veículos em dois níveis distintos. Ver: MARFAING, Jean Lup. Architecture et urbanisme – TOULOUSE 45-75, La ville mise à jour. CAUE 31. Laubatiéres: Portet-su-Garonne, 2009. 413 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques O aterro mudanças de rumo e alguns projetos (1961-1989) aterro, Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954-1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre-RS. Fig. 35 - Plano Diretor de Porto Alegre, nova versão para o projeto da Praia de Belas, Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet e Moacyr Moojen), 1961, Porto Alegre-RS Com diretriz urbanística determinada, o início da execução do aterro foi realizado pelo Departamento Nacional de Obras de Saneamento - DNOS, de competência federal, a partir da administração do Governador do Estado, Engenheiro Leonel de Moura Brizola (1956-1958), até o segundo mandato do Prefeito Loureiro da Silva (1964-1969) na Prefeitura Municipal de Porto Alegre, através de convênio que destinava partes da área a ser criada para as esferas federal, estadual e municipal . Iniciados os aterros, foi possível prolongar a Avenida Borges de Medeiros. Os primeiros lotes provenientes, situados próximos ao centro histórico, atuais ruas Ritalo Gobato, Celeste Gobato e Vicente de Paula Dutra, onde foi construído o FAM, começaram a ser comercializados com grande propaganda. 58 Em síntese, as principais ideias defendidas na época eram: criar uma área de habitação adjacente à área central, que demonstrava saturamento e problemas de crescimento; captar recursos (venda dos lotes) para implantar as obras previstas pelo Plano Diretor e, com isso, evitar o seu fracasso, como o do Plano Gladosch, que previu grandes cirurgias urbanas, as quais, sem recursos, foram aos poucos sendo modificadas e finalmente eliminadas; complementar a Primeira Avenida Perimetral e criar áreas para expansão de algumas funções da área central, em especial do comércio e equipamentos públicos com suas respectivas áreas administrativas. 58 414 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fig. 36 - Plano Diretor de Porto Alegre, nova versão para o projeto da Praia de Belas, área de aterro executada, Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet e Moacyr Moojen), 1975, Porto Alegre-RS. Os recursos gerados, no entanto, como frequentemente ocorre na administração pública, foram destinados para outras demandas administrativas, distintas dos investimentos programados pelo Plano Diretor, razão econômica fundamental para a realização do aterro. Os órgãos técnicos da Prefeitura, principalmente a Divisão de Urbanismo, dirigida por Paiva e equipe, em face dessa circunstância, propuseram mudanças no projeto do aterro, considerando duas diretrizes fundamentais: diminuição da área a ser conquistada ao rio, já que o projeto e instrumentos urbanísticos definidos estavam em modificação, encolhendo a expansão urbana pretendida; diminuição das áreas loteadas e consequente aumento das áreas públicas, considerando que a previsão de densidade populacional projetada para a nova gleba (200.000 habitantes), sem a contrapartida de obras públicas previstas pelo planejamento urbano junto ao centro, principalmente as obras da Primeira Perimetral, agravaria os problemas de tráfego e infraestrutura já existentes, ao invés de solucioná-los, como pretendido. Durante o segundo mandato do Prefeito Loureiro da Silva, a Secretaria de Obras enviou à Câmara Municipal de Porto Alegre o Projeto de Lei substitutivo ao projeto Praia de Belas, que já estava regulamentado, diminuindo a área de aterro e criando um grande parque linear, com o objetivo de desagravar a área central com área verde adjacente . O parque, suprindo a densidade demográfica dos bairros Centro, Cidade Baixa, Praia de Belas e Menino Deus, integraria uma rede mais ou menos equidistante do centro histórico, conjuntamente com o Parque Farroupilha e o Moinhos de Vento. Com o apoio do Prefeito, a mudança da lei foi procedida rapidamente, incorporando sua solicitação de que o novo traçado devolvesse à borda a forma de baía perdida nos projetos de aterros anteriores, sugestão atendida pelo Planejamento Urbano, em desenho elaborado à mão (Fayet e Moojen), às vésperas de encaminhamento à Câmara Municipal, incorporando à lei de 1959, atualizada em 1961, o novo traçado da Praia de Belas, conjuntamente com outras mudanças, como a previsão de quarenta hectares para o novo Campus da UFRGS junto à orla, onde hoje se encontra o parque Mauricio Sirotsky 60 Sobrinho , a criação do Centro Administrativo Estadual, onde hoje se encontra o C.A.E.R.G.S - Fernando Ferrari, o Parque Esportivo Municipal, onde está o Anfiteatro Por do Sol, a área doada ao Sport Club Internacional, onde está o Gigante da Beira Rio e a previsão de ocupação intensiva nos quarteirões entre a 59 Com o malogro das intenções de venda dos lotes para implantar o Plano Diretor, os técnicos da Divisão do Planejamento, Fayet e Moojen, resolveram propor ao prefeito deter os aterros no ponto em que estavam e, a oeste do prolongamento da Avenida Borges de Medeiros, entre a Avenida Ipiranga e o Asilo Padre Cacique, destinar área para um grande parque junto ao rio. O Prefeito José Loureiro da Silva, no seu segundo mandato, prontamente abraçou a ideia. Era o prefeito das obras, principalmente das praças e parques. MARQUES, Moacyr Moojen, Depoimento Cópia Digitada. Depoimento. 2009. 60 A instalação do novo campus da UFRGS na área foi posteriormente rejeitada pelo Reitor da Universidade, Eliseu Paglioli. Sergio M. Marques 415 59 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Av. Borges de Medeiros e Av. Praia de Belas, onde hoje está o Shopping Praia de Bela (Fig.35). Após a eleição do Prefeito Sereno Chaise e sua cassação três meses depois, com o golpe de 1964, o governo militar prosseguiu com os aterros, principalmente através da ação do ex-governador Thelmo Tompson Flores, então diretor do DNOS. A administração Guilherme Socias Vilella (1975–1983) iniciou a urbanização do Parque. A então Secretaria do Planejamento Municipal, dirigida por Carlos Veríssimo de Amaral, através da Supervisão de Planejamento Urbano, coordenada por Cláudio Ferraro, com a participação de Moojen, urbanista da Secretaria, definiu a realização de concurso de projetos, do qual 61 surgiu o Parque Marinha do Brasil , inaugurado em 1978 (Fig.36). O Parque recebeu a denominação Marinha do Brasil como maneira de favorecer a obtenção de recursos junto à União. Dessa forma, a realização do Marinha do Brasil se inseriu dentro de ação do governo Federal, denominada Plano Cura, que tinha como objetivo a recuperação dos bairros através de obras de infraestrutura. O secretario Veríssimo de Amaral habilmente incluiu o Parque Marinha do Brasil no programa como uma obra de recuperação do Bairro Menino Deus, conjuntamente com obras de ampliação de redes e 62 infraestrutura que também foram realizadas . Definida a modalidade de concurso, através da coordenação do “Projeto Final de Urbanização do Parque Marinha do Brasil” com carta convite, pela PMPA, foram chamadas equipes que de alguma forma, vinham já desenvolvendo estudos para a Prefeitura e/ou para a área da Praia de Belas. Com um júri composto por arquitetos da comissão encarregada, dirigida por José Morbini e composta por Bruno Carlos Franke, Newton Baggio, Walmor Fortes e Wilhem R. Vaz, foram convidados para concorrer os arquitetos, Carlos 63 M. Fayet em parceria com Jorge D. Debiagi ; Ivan Mizoguchi em equipe com Os recursos foram aproveitados dos planos C.U.R.A., com financiamento federal dentro do Projeto Renascença, que abrangeu o Menino Deus e parte da Cidade Baixa. Para uma visão histórica detalhada do desenvolvimento do Parque Marinha do Brasil e sua inserção no Bairro Praia de Belas, ver: KERPEN, Karina dos Reis. A cidade e o elemento natural o Parque Marinha do elemento natural: Brasil e as políticas públicas do verde em Porto Alegre (1960-1970). [Dissertação]. Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – PUCRS. Orientador: Ruth Maria Chittó Gauer. Porto Alegre: PUC RS, 2011. 62 O Plano previa, também, que a mais valia no valor dos imóveis do bairro, representada pelas benfeitorias urbanísticas, teria contrapartida nos impostos de forma a financiar as obras planejadas. No entanto, esse instrumento não chegou a ser aplicado plenamente, caracterizando os investimentos como fundo perdido. 63 Fayet e Debiagi estavam desenvolvendo projetos nos quarteirões, em face ao Parque Marinha do Brasil, compreendidos entre a Avenida Borges de Medeiros, Avenida Praia de Belas, a oeste e a leste, e a Avenida Ipiranga e José de Alencar, a norte e a sul, para a empresa Maguefa, que posteriormente faliu conjuntamente com a quebra do banco Sulbrasileiro, no “Projeto Praia de 61 Fonte: Porto Alegre. Planejar para viver melhor, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1979, p.14 Fig. 37 - Parque Marinha do Brasil, projeto classificado em 1° Lugar, Ivan Mizoguchi e Rogério Malinsky, 1976-1978, Porto Alegre-RS. Rogério Malinsky, cujo projeto foi indicado como o vencedor (Fig.37), e a equipe 64 de Cláudio Araújo constituída pelos arquitetos Arlete S. Sauer, Carlos E. D. Comas, Claudia O. C. Frota, José A. D. Frota e Martin Suffert, com assessoria do Engenheiro Agrônomo Ronald Jamieson para os espécimes vegetais, Lenea Gaelzer, Engenheiro Werner Laub para as redes, Engenheiro João B. M. Rosa para estruturas, Paulo G. de Freitas e Engenheiro Ênio C. da Costa para as questões ambientais. Três equipes, três projetos, três concepções. Belas: o nascimento de uma unidade urbanística” (1975). Ver: FAYET, Carlos Maximiliano; DEBIAGI, Jorge Decken. Projeto Praia de Belas: o nascimento de uma unidade urbanística. Porto Alegre: Maguefa Empreendimentos Imobiliários Ltda., 1975. 64 Cláudio L. G. Araújo, conjuntamente com a Arquiteta Cláudia Obino, vinha desenvolvendo estudos para a PMPA. Chegou a propor a hipótese de envolver Burle Marx para desenvolver o projeto do parque, possibilidade existente através de contatos da Arquiteta Silvia Moreira (sobrinha de Jorge Machado Moreira), colaboradora do escritório na oportunidade. 416 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 65 Capitulo III Parque Marinha do Brasil – Um dos Projetos (1976) Fonte: Google Earth, Acervo FAM, Fotomontagem, Sergio Marques, 2006 Fig. 38 - Concurso Parque Marinha do Brasil, Cláudio Araújo, Arlete S. Sauer, Carlos E. D. Comas, Claudia O. C. Frota, José A. D. Frota e Martin Suffert, 1976, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM A Praia de Belas e seu projeto moderno seguiram sua evolução urbana natural repleta de episódios, mudanças, ajustes e adaptações consequentes da dinâmica urbana sul-americana e das condições sociopolíticas e culturais locais. Fayet, Araújo e Moojen de alguma maneira prosseguiram acompanhando este processo, contribuindo ainda com outros projetos arquitetônicos e urbanísticos para este contexto, construídos ou não, cujas realidades concretas ou possíveis descortinam suas atitudes arquitetônicas e pensamento, em face dos novos tempos e circunstâncias. O conceito do projeto proposto pela equipe de Araújo para o Parque Marinha do Brasil apoiava-se no fundamento de reestabelecer na margem do Guaíba aquilo que o aterro havia suplantado, perfazendo uma espécie de 65 Fig. 39 - Projeto para o Concurso do Parque Marinha do Brasil, Prancha 01, Condicionantes, Diversidade Funcional, Cláudio Araújo, Arlete S. Sauer, Carlos E. D. Comas, Claudia O. C. Frota, José A. D. Frota e Martin Suffert, 1976, Porto Alegre-RS. O projeto vencedor foi parcialmente implantado, inaugurado em 1978. A proposta de Fayet e Debiage até o presente momento não foi localizada. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado espelhamento das margens situadas na face oposta, entre as ilhas e Guaíba (Fig.38). A continuidade paisagística da borda do estuário sugeria resistência a qualquer tipo de edificação proeminente. A partir da análise de fotos de época (Callegari – meados de 1890), as margens da Praia de Belas continham alguns trapiches, a presença de barcos e hidroaviões e a planaridade de terreno típica das várzeas que bordejam as baías fluviais do estuário Guaíba e da Lagoa dos Patos. Para o projeto, foi imaginada a recomposição da baía por modelagem da topografia como forma de acomodar as diversas atividades programadas em meio a “coxilhas”, onde se amalgamavam equipamentos e construções configuradas por cascas integradas às curvas de nível do terreno. Esses taludes, em determinados momentos, substituíam a barreira imposta às cheias Sergio M. Marques 417 Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 40 - Projeto para o Concurso do Parque Marinha do Brasil, Prancha 02, Condicionantes, Cláudio Araújo, Arlete S. Sauer, Carlos E. D. Comas, Claudia O. C. Frota, José A. D. Frota e Martin Suffert, 1976, Porto Alegre-RS. Fig. 41 - Projeto para o Concurso do Parque Marinha do Brasil, Prancha 04, Diretrizes, três setores de usos diferenciados por intensidade e tipo de animação, Prancha 04, Diretrizes, Cláudio Araújo, Arlete S. Sauer, Carlos E. D. Comas, Claudia O. C. Frota, José A. D. Frota e Martin Suffert, 1976, Porto Alegre-RS. pela Avenida Dique (atual Edvaldo Pereira Paiva), com sinuosidade plástica, definindo anfiteatro e área cívica, canchas de futebol, e mesmo um espaço alagável para criação de lago para pedalinhos, pesca e ilha dos macacos. Com espírito “recriacionista”, as ideias propostas estruturavam-se de farto material simbólico e senso poético. Preliminarmente, em uma espécie de check-list analógica, o material gráfico apresentava em linguagem HQ, imagens ícones de atividades, práticas, objetos e paisagens significantes dos conceitos e valor cultural imaginados, acompanhadas de legendas repletas de metáforas. Gente disputando futebol, jogando bocha, velejando, caminhando, pegando sol na praia ou vendo o poente, dançando músicas típicas, tocando guitarra, vendo apresentações, exposições, crianças brincando entre árvores, entre pneus, entre bicicletas, entre carrinhos de lomba, imagens de trapiches, mastros de barcos, árvores frondosas e águas serenas ilustram a descrição que valoriza a diversidade (Fig.39). Como rol de condicionantes para o projeto, o “reconhecimento da diversidade inexorável” das formas, das preferências pessoais, dos diferentes locais para a recreação, as legendas discriminam as variáveis de uma pluralidade social, cultural e etária imaginada para o uso do parque, insinuando a “polifuncionalidade das formas físicas” ou antevendo a multiplicidade formal do relevo operativo proposto para a simultaneidade funcional prospectada na futura área pública. A área do Parque Marinha do Brasil destinada ao concurso perfaz aproximadamente setenta hectares, distribuídos longitudinalmente (dois quilômetros e meio) no sentido norte-sul (Fig.36), a norte delimitada pelo Arroio Dilúvio e Avenida Ipiranga, a leste pela Avenida Borges de Medeiros, a sul pela área destinada ao Esporte Clube Internacional e a oeste pelo rio, lago ou 66 estuário Guaíba . No início da década de 1970, na época do concurso, registrado no esquema de implantação e condicionantes da documentação proposta de Araújo, ao norte, intitulados como “a moradia”, os quarteirões compreendidos entre a Avenida Ipiranga e a atual Avenida Érico Veríssimo já estavam estruturados e densamente povoados pelas unidades de habitação coletivas de térreo mais três pavimentos, dispostas em ruas entra e sai, 67 estabelecidas no projeto da Praia de Belas pelo “Plano Paiva” . Faceando ainda a Avenida Ipiranga, na borda do Marinha e ao longo da Avenida Borges de Medeiros, o estudo proposto pela equipe assinalava “o escritório”, designando a futura ocupação prevista, confirmada com a construção dos edifícios 68 institucionais e comerciais realizados desde a década de 1980 . A leste, linearmente ao longo da Avenida Borges de Medeiros e Avenida Praia de Belas, a prospecção de época previa densa ocupação habitacional, proposta desde o Há controvérsias quanto à denominação adequada a classificação hidrográfica do Guaíba. Segundo o Atlas Ambiental de Porto Alegre, a versão mais aceita recentemente é a de lago. Ver MENEGAT, Rualdo (org.). Atlas Ambiental de Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1998. 67 Onde também está localizado o Edifício FAM (Fayet, Araújo & Moojen), que na verdade representa o padrão urbanístico proposto para o aterro pela lei de 1959, em toda a extensão posteriormente reservada ao parque. 68 Já beneficiados com os aumentos de índice realizados durante a administração do Prefeito Alceu Collares (1986-1989). 66 418 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: Acervo FAM Fig. 42 - Projeto para o Concurso do Parque Marinha do Brasil, estrutura geral da proposta, Cláudio Araújo, Arlete S. Sauer, Carlos E. D. Comas, Claudia O. C. Frota, José A. D. Frota e Martin Suffert, 1976, Porto Alegre-RS. Plano Gladosch e o bairro para 200.00 habitantes da lei de 1959, até os empreendimentos projetados pela empresa Maguefa no início da década de 69 1980 (Fig.40). Ao sul, a limitação com o estádio Beira-Rio já era identificada como de continuidade paisagística, de visuais e espaços abertos. O esquema gráfico ainda reconhece a barreira da Avenida Dique, atual Edvaldo Pereira Paiva, para o estuário, e Avenida Borges de Medeiros para a cidade, avenidas expressas de 70 vocação veicular , e denomina a área como um todo de “alagadiço, descampado, seccionado e ilhado”. Os esquemas finalmente defendem o descompromisso do parque com determinados itens programáticos, tais como museu oceanográfico, jardim zoológico, jardim botânico e parque ecológico, pois esses já estavam atendidos de forma especializada no estoque de parques da região. A memória que encena o espírito do projeto é apresentada em texto de inspiração poética, no qual os atos de fazer território, moldar topografia e água, resgatar imagens de natureza precoce, forjar paisagem, operar com os elementos brutos, combater a monumentalidade edilícia e reunir diversidade se expressam no desejo de criar natureza, de fazer geografia e depois descansar no “tempo dito livre”. Minha cidade, Porto Alegre, nasceu numa península promontório na convergência de cinco rios. No lado norte se fez a porto. No lado sul, um enorme aterro. Para que foi, não se sabe muito ao certo, que até hoje não foi de todo ocupado. Mas nos idos de 70 (e lá se vai um quarto de século!) houve um concurso para nele implantar um parque e os versos feitos como memória do projeto falam de uma ambição imodesta. Fazer de um descampado uma paisagem nova, Moldar a terra bruta, o líquido sem forma, e Retomar, Para uso no presente, A imagem antiga do verde junto à água, Com a quebra da Maguefa e Sulbrasileiro, a área, borderline ao parque, potencial urbanístico de um green-front, como a Avenida Osvaldo Aranha ou João Pessoa em face ao Parque Farroupilha, análoga a Fifth Avenue e o Central Park em Nova Iorque (Fig. 72), sofreu processo de erosão com a perda de controle urbanístico dos anos 1980, shopping, torres e recentemente a perspectiva sombria de hipermercado ao lado da Fundação de Recursos Humanos entre a Avenida Borges de Medeiros e a Avenida Praia de Belas. 70 Posteriormente, essa tendência também não se confirmou, já que o apelo das visuais do rio, mesmo sem a realização de tratamento urbanístico adequado, garante intenso uso de pedestres nos finais de semana, e a Borges configurou-se importante artéria de transporte público e de pedestres que acessam o shopping, Praça Itália, Hotéis e o Complexo Esportivo do Beira-Rio em dias de eventos. 69 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 419 Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 44 - Projeto para o Concurso do Parque Marinha do Brasil, imagens townscape, Cláudio Araújo, Arlete S. Sauer, Carlos E. D. Comas, Claudia O. C. Frota, José A. D. Frota e Martin Suffert, 1976, Porto Alegre-RS. Fig. 43 - Projeto para o Concurso do Parque Marinha do Brasil, imagens townscape, Cláudio Araújo, Arlete S. Sauer, Carlos E. D. Comas, Claudia O. C. Frota, José A. D. Frota e Martin Suffert, 1976, Porto Alegre-RS. A cúpula que abriga e é topo de colina. Montar o quadro sugestivo e deixar que pouco a pouco O espaço se complete e se povoe, No exercício pleno do tempo dito livre71. Do caminho vagaroso entrelaçando o vale e a Coxilha. Não parar o ponteiro do relógio; mas retardá-lo, Para que surja, por força da vontade, A miniatura de natureza idealizada Mais rica e mais diversas que a própria natureza. Contrastar a mineralidade do entorno com o Espaço aberto e vivo Sem esquecer que a cidade se faz com um e Outro E que é preciso, absolutamente é preciso, Amarrar o jogo e o trabalho, o grupo e o Indivíduo, A ação e o repouso, o som e o silêncio, Verso e reverso, contradição suspensa por momento: Unir o secionado, A ponte sobre o ilhado. Não cair em tentação: refutar a fácil Monumentalidade Da proposta descabida, do edifício pretensioso E ancorar a imaginação à realidade Que carece e é sofrida. Mas insistir na monumentalidade mais sutil e despojada Que se compõe com progressão de elementos Poucos, Definidos, repetidos, relatados e reunidos Para encurtar distância entre intenção e gesto. Ousar o símbolo banal, a transferência inusitada: 71 A criação proposta divide o novo território em três setores de uso diferenciados por intensidade e tipo de animação predominante (Fig.41). Os “setores de animação intensa” estão distribuídos na extremidade sul do parque, encabeçando-o, e no centro de gravidade, ladeando a Avenida Dique. Na transição com a área do Esporte Clube Internacional, um grande estacionamento atende ambas as áreas e abastece o circo, o aeromodelismo, a feira de diversões, os cavalos de aluguel e os esportes sobre rodas da ponta do parque. Neste setor, uma operação de “desaterro” traria a água do rio, por sob a Avenida Dique, para um lago interno com área de pesca, nautimodelismo, atracadouro para pequenas embarcações e ilha de macacos (Fig.42a). No centro, novos estacionamentos belvederes, voltados ao rio, são amigados com o espaço para o Centro de Tradições, Exposições e Feiras e uma nova subtração do terreno sob a avenida, dessa vez criando Anfiteatro, Praça Cívica e ligação terrestre em nível com a beira do rio, onde estão três trapiches desalinhados: o navio transformado em Museu da Marinha e Restaurante; a barcaça transformada em bar; e o barco de passeios turísticos, cada qual em seu píer (Fig.42b). No início da metade norte do parque, fazendo transição para o setor de animação média, está a Cúpula Maior, para jogos cobertos e espetáculos, caracterizada pelo conceito de construção que não é edifício sobre o solo, mas paisagem sob os pés, casca de concreto moldada e integrada à modelagem do terreno, no melhor estilo das atuais “topografias operativas” (Fig.42c). O texto poético foi publicado na íntegra em revista Argentina. Ver: COMAS, Carlos Eduardo. Aqueles versos de um projeto. Ambiente Fundación CEPA, La Plata, n. 86. p. 198Ambiente, O navio tornando casa 420 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: Acervo FAM Fig. 45 - Projeto para o Concurso do Parque Marinha do Brasil, imagens townscape, Cláudio Araújo, Arlete S. Sauer, Carlos E. D. Comas, Claudia O. C. Frota, José A. D. Frota e Martin Suffert, 1976, Porto Alegre-RS. A face norte reúne os equipamentos e quadras esportivas distribuídas em recintos planos criados por entre o terreno dobrado artificialmente. Este “setor de animação média” ainda se espraia pela orla, propondo áreas de praia, futebol de areia e belvederes (Fig.42d). Na “margem” oposta, a leste, a face urbana é pensada como um “setor de animação reduzida” reservada ao repouso, ao brinquedo, à recreação infantil e juvenil, portanto uma face menos povoada, mais verde, com hiatos-praças para receber os visitantes recorrentes (Fig.42e). Os setores são topologicamente compostos por espaços celulares que se interligam entre si através de uma trama orgânica de caminhos onde se pressupõem percursos repletos de perspectivas sinuosas, surpresas, paisagens de curvas definidas por desníveis, taludes, passagens, pontes, etc. A paisagem angulosa, emergente de um sentido mais afeto ao jardim inglês, anticlássico, com suaves incorporações pitorescas programáticas, estéticas e poéticas, revela-se em apropriadas imagens desenhadas a townscape (Figs.43,44,45,46). A estrutura geral do parque imaginado escapa da imagem orgânica de traçado aleatório sugerida pelo primeiro olhar, e imbrica em operações complexas de modelagem topográfica e relevo artificial, cuja lógica é topológica e não cartesiana, mede a percepção e apropriação do espaço pelo apelo ao olho e aos sentidos, não pelo intelecto e pela razão. Intuição e espontaneidade fazem mais sentido em um lugar onde a ordem espacial se esvai por entre lugares de definição passageira, onde o todo e as partes se misturam como ingredientes de diferentes níveis de adesão. A dimensão analógica oferecida pelas relações topográficas dota o projeto de resultados espaciais vastíssimos, talvez imprevisíveis. A geografia criada, como no Gênese, pressupõe “natureza idealizada”, recriando a ecologia existente, mas indo além, superando-a. A pretensão de criar natureza na borda da cidade remete a objetivo análogo ao divino. Não criar tudo (cidade) do nada (natureza), mas recriar a natureza na cidade. Antecipando inocentemente as exigências ambientais contemporâneas, o projeto embalado Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM Fig. 46 - Projeto para o Concurso do Parque Marinha do Brasil, imagens townscape, Cláudio Araújo, Arlete S. Sauer, Carlos E. D. Comas, Claudia O. C. Frota, José A. D. Frota e Martin Suffert, 1976, Porto Alegre-RS. pelo pensamento urbanístico vigente no momento se opõe à ação arquitetônica intervencionista, estruturadora, intrusiva do espaço natural, mas intervém, estrutura e adentra o território operando com os mesmos instrumentos da natureza: cria terreno, lugares e paisagens; mistura pessoas, atividades, fruição; conecta a cidade, a natureza e a água do estuário. O Guaíba aceita passivo a todos os planos, aterros, projetos, intervenções e operações; a água do estuário, substância disforme, se molda de acordo com o espaço que lhe roubam ou lhe oferecem. Elemento onipresente, mas central em todas as dimensões do espaço urbano de Porto Alegre, é razão, tema, nome, conceito, história e principal agente da paisagem do parque e da cidade. Água de rio abundante, já estava aí antes de nada, e permanece, desde os primeiros que chegaram através dela, para os que vão vê-la através do parque; água maltratada e nem sempre lembrada. Um rio, uma cidade, o parque. Sergio M. Marques 421 Modernistas na Repartição? S.M.O .V. (1966) 72 Fonte: Foto Moacyr Moojen Marques, 1966, Acervo FAM Fonte: Foto Moacyr Moojen Marques, 1966, Acervo FAM Fig. 48 - Secretaria Municipal de Obras e Viação - S.M.O.V., Moacyr Moojen, João J. Vallandro e Léo F. da Silva, 1966, Porto Alegre-RS. Fig. 47 - Secretaria Municipal de Obras e Viação - S.M.O.V., Moacyr Moojen, João J. Vallandro e Léo F. da Silva, 1966, Porto Alegre-RS. 72 Trocadilho com o título do livro organizado por Lauro Cavalcanti que trata da presença de intelectuais modernos – como Rodrigo Melo Franco Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Joaquim Cardoso, Sérgio Buarque de Holanda, Lúcio Costa, Gilberto Freire, Carlos Drummond de Andrade, Antônio Cândido e outros – junto ao serviço público, em especial na Secretaria do Patrimônio Histórico Artístico Nacional – SPHAN, sob a égide do ministro Capanema, do Ministério de Educação, no Governo Getúlio Vargas durante o Estado Novo. Apesar da orientação fascista do escritor Gustavo Barroso, diretor do Museu Nacional, que cuidava dos monumentos nacionais anteriormente, os intelectuais de filiação moderna lograram criar uma especial consciência de preservação da arquitetura histórica brasileira. Ver: CAVALCANTI, Lauro (Org.). Modernistas na repartição. repartição Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1993. Moojen, pelo lado do poder público, além das ações urbanísticas que se seguiram ao longo de toda sua carreira até sua aposentadoria da PMPA – que de certa maneira ainda induziriam oportunidades de projeto das quais tanto Araújo com o projeto para a Câmara de Vereadores de Porto Alegre (1975), parcialmente construída, e Fayet com os projetos para a Maguefa (1978), não realizados, projetaram na área da Praia de Belas – igualmente realizou projetos de arquitetura no aterro, em especial na Secretaria Municipal de Obras e Viação – SMOV (Moojen, Vallandro e Ferreira, 1966) (Fig.47,48). 422 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Fonte: Desenho Arq. Valentina Marques, Acervo FAM Capitulo III Fonte: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987, p.213 Fig. 50 - Secretaria Municipal de Obras e Viação - S.M.O.V., fachadas norte e oeste, Moacyr Moojen, João J. Vallandro e Léo F. da Silva, 1966, Porto Alegre-RS. Fig. 49 - Secretaria Municipal de Obras e Viação - S.M.O.V., plantas pavtos. tipo e cobertura, Moacyr Moojen, João J. Vallandro e Léo F. da Silva, 1966, Porto Alegre-RS. Neste projeto, os meios arquitetônicos racionalizados, a ideia de arquitetura e urbanismo modernos como ferramentas sociais renovadoras e o exercício do ofício público competente encontraram uma das sedes, apesar do 73 momento político discricionário e das restrições democráticas . Projetado no aterro da Praia de Belas para abrigar a SMOV, graças ao crescimento do planejamento consequente da realização e implantação do plano de 1959, a ideia de um edifício próprio para a Secretaria foi uma iniciativa dos funcionários públicos. A necessidade funcional e o caráter simbólico implícito sustentaram postulados de racionalidade conceptiva semelhantes aos da REFAP, neste caso determinado tanto pelo axioma da flexibilidade espacial e possibilidade de apropriação pelos usuários, como nas investigações modulares de Aldo van 73 Fonte: Fig. 51 - Consulado dos E.U.A., Mies van der Rohe, 1957-1962, São Paulo-SP. O projeto para a SMOV foi selecionado como destaque, conjuntamente com outras obras modernas construídas no período, na I Premiação IAB-RS (1971). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Eick (Fig.64, Cap. FAMP_EA), quanto pela horizontalidade e vazio da planta livre disposta pelo vão miesiano (Figs.49,51). Composição acadêmica de base, piano nobile e ático, modulação severa, exus-esqueletus racionalizado, planta livre, integração de sistemas e instalações à arquitetura, pré-fabricação em concreto e uso de elementos industrializados prestam tributo a Frank Lloyd Wright, Mies ou Le Corbusier, como consequência. Projetos para prédios públicos emblematizaram a arquitetura moderna brasileira como imagem denotativa da identidade desejada pelas representações do governo. Palácios, centros administrativos, prefeituras, secretarias e ministérios compreendem boa parte da historiografia da arquitetura moderna no Brasil e, em circunstâncias extraordinárias, foram o ato inaugural do Movimento Moderno nacional e local, bem como a propulsão Sergio M. Marques 423 Fonte: Foto Sergio Marques, 2011, Fig. 52 - À esquerda, Municipalidad de Córdoba, Sanches Elias, Peralta Ramos e Agostini – SEPRA, 1953-1961, Córdoba-Argentina. À direita, Edificio de la Municipalidad, Sergio Larraín G. M., Ignacio Covarrubias S. e Jorge Swinburn P., 1967-1969, Concepción-Chile. mediante a opinião pública. O Ministério de Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, é o protótipo transcendental dessa relação e, em Porto Alegre, senão por questões cronológicas, por monumentalidade tipológica, o Palácio da Justiça, de Fernando Corona e Fayet, reúne a carga simbólica e genética em questão. A Secretaria Municipal de Obras e Viação, assim como a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, de Araújo, seguem as vias laterais desse caminho, em uma circunstância mais comezinha por um lado, mais próxima à frequência emanada pelo diapasão local por outro. O Planejamento Urbano em Porto Alegre teve certa relevância na evolução urbana da capital desde as primeiras décadas do Século XX. A política pública municipal creditava ao planejamento técnico a ideia de ferramenta administrativa estrutural como princípio. O fortalecimento do planejamento nos anos 1950 como importante agente gestor da cidade e a reunião de nomes como Paiva, Ubatuba, Demétrio e a seguir, Veronese, Fayet e Moojen, alinhamse, de maneira ainda pouco reconhecida, à formação da Faculdade de Arquitetura, do IAB e das obras inaugurais como um dos expedientes de afirmação do Movimento Moderno no sul e, em termos urbanos, no Brasil. Na Prefeitura Municipal de Porto Alegre, o planejamento urbano tradicionalmente era tratado na Secretaria Municipal de Obras e Viação. Administrativamente, era uma divisão, entre outras, como a Execução de Obras, Loteamentos, Aprovação e Fiscalização, todas subordinadas à SMOV. Com o Plano Diretor de 1959 e os conceitos de interdisciplinaridade do 424 Fonte: Google Earth Fig. 53 - Secretaria Municipal de Obras e Viação - S.M.O.V., fachadas sul e oeste, Moacyr Moojen, João J. Vallandro e Léo F. da Silva, 1966, Porto Alegre-RS. planejamento urbano moderno, a atividade ganhou complexidade, volume, expressão administrativa e passou, por sua vez, a se subdividir em seções dedicadas ao planejamento, loteamentos, etc. Por outro lado, a valorização da cidade moderna como imagem idealizada pelos prefeitos e pela própria sociedade e o incremento do planejamento urbano técnico como ação política davam ao corpo da área do Planejamento um status que não cabia mais dentro da Secretaria de Obras de caráter executivo. O espaço destinado às secretarias no quinto andar do edifício chamado de Prefeitura Nova, junto ao Paço Municipal, não comportava a infraestrutura necessária. Primeiramente, o corpo técnico e, a seguir, a Secretaria passaram, através dos funcionários e do secretário Moses Ribeiro do Carmo, a reivindicar ao então prefeito, Célio Marques Fernandez (1965-1969), a construção de sede nova destinada às secretarias do planejamento e obras, designando as condições, importância e representatividade devidas. A estratégia do corpo técnico foi a de tomar a iniciativa na realização de um projeto para a sede e convencer o secretário a realizar pelo menos as fundações e parte da estrutura, como forma de garantir a continuidade do projeto em administrações futuras. Moojen, João José Vallandro e Leo Ferreira da Silva, os três arquitetos envolvidos na iniciativa e designados para a tarefa, escolheram um terreno "próprio municipal", na Avenida Borges de Medeiros, próximo à Avenida Ipiranga, no tecido urbano mais representativo do ideário associado à tradição moderna do planejamento urbano em Porto Alegre. A construção de edifícios modernos, nos anos 1950-1960, para abrigar o aumento exponencial da estrutura burocrática do poder público, a partir dos anos 1950, acompanhando a progressão geométrica do desenvolvimento das cidades latino-americanas, é recorrente, como na Municipalidad de Córdoba MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: Acervo FAM Fig. 53 - Secretaria Municipal de Obras e Viação - S.M.O.V., modulação 1,25 x 1,25, planta tipo, projeto original, Moacyr Moojen, João J. Vallandro e Léo F. da Silva, 1966, Porto Alegre-RS. (1953-1961), de Sanches Elias, Peralta Ramos e Agostini – SEPRA (Fig.52), ou no Edifício de la Municipalidad (1967-1969), de Sergio Larraín G. M., Ignacio Covarrubias S. e Jorge Swinburn P., em Concepción, no Chile (Fig.52). Segundo Moojen, naquele momento a área do Centro Administrativo Estadual, Municipal e Federal, prevista pelo plano de 1959 junto à Primeira Perimetral, onde está hoje a Câmara de Vereadores, ainda não estava aterrada, senão a 74 nova sede, com certeza estaria ali . O projeto realizado (1966) para um terreno de setenta metros de frente foi desenvolvido e licitado para a primeira fase da construção, já que não havia recursos para toda a obra. Neste ínterim, assumiu o Prefeito Telmo Thompson Flores (1969-1975), e na SMOV o Secretário Arquiteto Plínio Almeida, que deram continuidade às obras, cuja conclusão se deu na mesma administração. O Planejamento ocupou o edifício conjuntamente com a SMOV, SMIC e o 75 GERM . Gradativamente, o Planejamento e a SMOV cresceram e ocuparam integralmente o edifício, fazendo com que SMIC e GERM assumissem outras localizações, sendo que na década de 1970, no governo do Prefeito Guilherme Socias Vilella (1975-1983), foi criada a Secretaria do Planejamento Urbano de Porto Alegre – SPMPA. Moojen participou do projeto da Secretaria, concomitantemente com a finalização dos projetos da Petrobras. Como encarregado de coordenar os projetos da SMOV, adotou os princípios conceituais dos quais estava imbuído, como a modulação, racionalidade construtiva e pré-fabricação. Expõe que: Fonte: Acervo FAM Fig. 54 - Secretaria Municipal de Obras e Viação - S.M.O.V., corte transversal e fachadas norte/sul, projeto original, Moacyr Moojen, João J. Vallandro e Léo F. da Silva, 1966, Porto Alegre-RS. Na antiga sede da Secretaria, os salões já não tinham divisórias de alvenaria e sim tabiques de madeira que viviam tendo adaptações, com muitos problemas em termos de vigas, pilares, pontos de luz e infraestrutura. Como também não havia clareza na futura composição das secretarias, a concepção geral era de pavimentos, térreo, mais salões livres, dentro do gabarito da legislação, retirando a estrutura de dentro do edifício para não condicionar a planta, com exceção de quatro pilares, que por razões estruturais não puderam ser evitados76. (Fig. 53) O projeto também dá vazão e seguimento ao uso do concreto como determinante de estratégias espaciais, utilizado ad referendum a partir da Petrobras, dentro dos princípios reticulares. Todo o projeto é rigorosamente modulado em 1,25m x 1,25m: forros, luminárias, fachadas, esquadrias, vidros e peitoris obedecem ao sistema modular (o forro, possuía luminárias de acrílico com desenho idêntico aos peitoris de fachada, mais tarde substituídas) (Fig.50,53). 74 MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento oral ao autor. Gravação digital. Porto Alegre, Entrevista fev. 2008. 75 Gabinete de Estudos da Região Metropolitana, mais tarde transformado em METROPLAN. 76 Idem. 425 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques Fonte: Foto Moacyr Moojen Marques, 1966, Acervo FAM Fig. 55 - Secretaria Municipal de Obras e Viação - S.M.O.V., fachada norte, Moacyr Moojen, João J. Vallandro e Léo F. da Silva, 1966, Porto Alegre-RS. O arranjo geral em planta compreende, nos pavimentos-tipo, circulação vertical e dois blocos de sanitários no centro, permitindo a ocupação com salas, na periferia, em uma faixa de cinco metros de largura (4m x 1,25m), junto às aberturas no perímetro de cada pavimento, e espaços maiores nas cabeceiras do edifício (5m x 1,25m), o que permitiu a colocação de pequenos auditórios e uma faixa de circulação interna. Toda a rede elétrica e telefônica estava instalada na periferia, junto à fachada, em um rodapé tubular, sendo que o sistema de divisórias permitia um duto para as redes a partir do perímetro, cinco 426 Fonte: ZEVI, Bruno. A Linguagem Moderna da Arquitectura, Lisboa, Dom Quixote, 1984, p. 50 Fig. 56 - Desenhos de Bruno Zevi em "A Linguagem Moderna da Arquitetura", ilustrando citação de Frank Lloyd Wright. metros para dentro de cada pavimento. Desta forma, as instalações continham a flexibilidade necessária. Os interruptores, por sua vez, estavam localizados todos no núcleo central, fora das salas, permitindo flexibilidade na modificação dos layouts. Durante a construção, com a definição da divisão das secretarias, foi determinada a distribuição espacial dos pavimentos, ficando ao cargo do Arquiteto Bruno Franke, funcionário da Secretaria, o projeto das divisórias. Franke desenvolveu um sistema modular, com estrutura de madeira aparente e painéis de fórmica, dentro da regra dimensional geral (1,25m), que permitia a colocação de fechamentos, balcões de apoio, armários, balcões de atendimento, portas, aberturas e outros elementos no sistema. As divisórias completavam o ambiente modulado tridimensionalmente, bem como a boa qualidade do desenho e a execução do sistema atribuía ao espaço a noção de leveza e versatilidade pretendidas pela planta livre dos pavimentos. Os painéis leves e a composição neoplasticista determinada pelos planos das divisórias, conjuntamente com a expressão modular da estrutura, dos elementos de forro e dos painéis de fachada, dotaram o projeto de um sistema integrador, de elementos industrializados articulados dimensional, espacial, funcional e plasticamente, como em obras do De Stjil, visão que casava com a imagem moderna e técnica pretendida, bem como com a flexibilidade pretendida para a evolução da Secretaria de Planejamento no município. Por razão de custos em relação aos disponíveis no mercado, o sistema de divisórias foi fabricado no MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ Fonte: Desenho Acad. Valentina M. Marques, B.I.C. FAU UniRitter, Sergio Marques 2008. Acervo FAM. 1950/1970 Fonte: Desenho Acad. Valentina M. Marques, B.I.C. FAU UniRitter, Sergio Marques 2008. Acervo FAM. Capitulo III Fig. 58 - Solução formal de base e coroamento. Secretaria Municipal de Obras e Viação S.M.O.V., fachada norte, Moacyr Moojen, João J. Vallandro e Léo F. da Silva, 1966, Porto AlegreRS. Fig. 57 - À esquerda, modelo da estrutura. À direita, peças pré-fabricadas em concreto das fachadas, corte transversal. Secretaria Municipal de Obras e Viação - S.M.O.V., fachada norte, Moacyr Moojen, João J. Vallandro e Léo F. da Silva, 1966, Porto Alegre-RS. Paraná e resistiu bravamente durante muitos anos, apesar da falta de manutenção. A estrutura fora do corpo do edifício favorecia a integridade interna da modulação. Os pilares, de concreto armado à vista, de dimensão considerável para a expectativa dos arquitetos, receberam sulcos para torná-los de aparência mais leve, como na Petrobras, e para permitir formalmente a expressão externa das vigas que os cruzam em balanço no vazio (Fig.57). Com o esqueleto exteriorizado da epiderme do edifício, como prenunciava Perret, a caixa sustentada, solta no térreo e na cobertura por recessos, organiza-se formalmente em bandas horizontais, ora caixilharia, ora placas pré-fabricadas em concreto, estritamente moduladas pela malha tridimensional que rege o edifício. Essa caixa, suspensa por estruturas distantes dos ângulos da caixa, articuladas a planos superiores e inferiores, bem como a horizontalidade da caixilharia e a superfície ornamentada pela textura dos elementos de fachada, remete à expressão wrigthiana da arquitetura moderna de viés classicizante 77 (Fig.56) . “Agora demonstrar-vos-ei por que razão a arquitetura orgânica é a arquitetura da liberdade democrática... Eis, digamos, a vossa caixa da construção: podeis fazer uma grande abertura, ou melhor, uma série de aberturas menores, se vos aprouver; subsiste sempre a envoltura dum embrulho algo estranho a uma sociedade democrática... Estudei suficiente engenharia para saber que os ângulos da caixa não constituem os pontos mais econômicos para os pontos de apoio: tais pontos encontram-se colocados a certa distância dos extremos, porque aí se criam uns pequenos ressaltos laterais que reduzem a luz das vigas. Além disso, pode-se dar espaço à caixa substituindo o velho sistema de apoio e de viga por um novo sentido da construção, qualificado pelos ressaltos e Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 77 Os painéis de concreto pré-fabricado, pintados de branco, foram ajustados em sua textura acentuando os ângulos da forma e introduzindo uma figura quadrangular no centro da pirâmide rasa original, já que, segundo Moojen, os primeiros painéis colocados criaram uma sombra desagradável ao olhar (Fig.57). A organização formal do edifício, com composição tripartite, remete à tradição clássica, e assim como nos palácios em Brasília, em escala reduzida, com gestos discretos, sem grandes espaços de transição e acessos monumentais, faz jus ao teor representativo da obra pública, congregando composição acadêmica, simetria e preceitos modernos. O último pavimento e o térreo foram recuados para criar a composição de base, corpo e cobertura, sendo que todo o conjunto está pousado sobre um entablamento mais alto que o passeio (Fig.58). Originalmente, para a biblioteca, restaurante, auditório e salão de exposições, a cobertura, permitia o recesso com adequação, já que as condições de proteção solar e uso das varandas eram favoráveis. Planos de alvenaria, revestidos com pastilha cerâmica escura, tanto no térreo como na cobertura, otimizam a noção de profundidade do recuo em relação ao plano de fachadas, acentuado dramaticamente pela sombra. O plano superior, de concreto aparente, dessa maneira sobrevoa o conjunto, 78 coroando e arrematando a composição (Fig.55) . pela continuidade. É um processo de radical libertação do espaço, cuja manifestação se vê unicamente nas janelas angulares; em contrapartida, é nele que se encontra a substância da passagem da caixa à planta livre, da matéria ao espaço...” WRIGHT, Frank Lloyd. An american architecture . New York: Horizon Press, 1955. 78 A solução geral do projeto, tanto do ponto de vista formal quanto de organização de planta, relação estrutural e coordenação modular foram adotados, de maneira similar, em projeto de menor altura para a sede do Instituto Nacional da Previdência Social – INPS, realizado por Moojen e Hekman (1971). Sergio M. Marques 427 A construção da Secretaria transcorreu com serenidade. A racionalidade do projeto e a concatenação da concepção arquitetônica com a modulação e o sistema construtivo propiciaram um projeto arquitetônico com poucos detalhes e uma obra com baixos imprevistos. A sequência da construção teve primeiramente o esqueleto com vigas, pilares e lajes. Em seguida, perfis metálicos, como no FAM, chumbados no topo das lajes, de cima a baixo, onde os peitoris de concreto pré-fabricado e esquadrias eram fixados, sistema de fixação de fachadas de concreto ainda inédito em Porto Alegre (Fig.57,58). MOOJEN expõe que: Fonte: Desenho Sergio Marques, 1990, Acervo FAM Modernistas sem Repartição! Câmara de Vereadores (1975 - 20??) Sob o ponto de vista estético, naquela oportunidade, havia a influência de projetos publicados na revista norte-americana Progressive Architecture, com soluções de coroamento interessantes escapando do modelo adotado por edifícios modernos que terminavam abruptamente79. Manifesta também que, durante os projetos da Petrobras, nos projetos em que se envolveu diretamente, como o Refeitório, ao contrário do interpretado por outros autores, a filiação com Mies van der Rohe não era deliberada nem intencional, mas provavelmente intuitiva, pela arquitetura que estava no “ar”. Chama a atenção que o sistema de pilares e vigas aparentes com gárgulas também não era algo eminentemente miesiano. Naquela época, identificava-se mais com Richard Neutra e Frank Lloyd Wright, que acredita estarem mais presentes na Secretaria do que Mies, apesar da solução da planta. Em qualquer hipótese, estava o desejo pelo público e coletivo, a razão como determinantes da composição e a arquitetura moderna como produto do ofício, concepção, em essência, tão voltada à natureza e conteúdo construtivo, no qual o concreto era a pedra-chave quanto à imagem formal, nestes casos consequente. Em administrações públicas posteriores, nos anos 1990, apesar do protesto formal dos autores, foram trocadas as esquadrias pivotantes de ferro originais por basculantes de alumínio, fora da modulação, e a base do edifício cercada por grade metálica com moirões de concreto. A Arquitetura resistiu por uns tempos. Fig. 59 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS Na época do projeto para a Câmara de Vereadores (1975), o Prefeito era Thelmo Tompson Flores e o Secretário de Obras era Plínio Almeida. A Câmara de Vereadores, assim como a SMOV anteriormente, funcionava precariamente no último pavimento do prédio chamado de Prefeitura Nova. O prefeito havia se comprometido com os vereadores, em especial Aloiso Filho, em relação à ideia de construir novo edifício. Naquele momento, a prefeitura, dada a quantidade de obras, não viabilizava realizar projetos com seu corpo técnico e, portanto, contava com cadastro de arquitetos que eram convidados para desenvolver trabalhos ou participar de concursos fechados, como no caso do Parque Marinha do Brasil. Com apoio da Secretaria de Planejamento, dirigida por Cláudio Ferraro, a equipe do planejamento urbano gerenciada por Moojen escolheu Araújo para realizar o projeto. Segundo depoimento de Araújo, seu nome surgiu em parte pela expectativa do projeto ser desenvolvido por profissional sem filiações políticas notórias, mas com compromisso público com 80 o ofício . 80 79 Ibidem. Ao longo dos anos, colaboraram no projeto os arquitetos Claudia O. Correa, Sandra M. Boeira, Daniel Fischmann, Marcel Trescastro e Agrônoma Elaine L. Nunes. ARAÚJO, Cláudio Luis Gomes. Entrevista. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 28 jul. 2009. 428 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: Acervo FAM. Fig. 60 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. O encargo significava inicialmente interagir diretamente com os vereadores e seus representantes, para definir programa, dimensionamentos e estudo preliminar para aprovação. Com Aloiso Filho, Araújo visitou edifícios análogos em Florianópolis, Curitiba e São Paulo. Desenvolveu o projeto, no escritório que mantinha neste momento, em casa alugada na rua Barão do Santo Ângelo, que dividia com Obino, Comas, os estudantes José Artur Frota, Cláudia Obino e Silvia Moreira, compartilhado com Werner Laub, que realizou 81 os projetos de instalações da Câmara . Após a aprovação preliminar, o presidente da Câmara, Mesquita Filho, acompanhava o desenvolvimento do trabalho neste escritório. A estrutura foi calculada por Haroldo Azambuja, indicado pela Câmara de Vereadores, e a construção, selecionada por concorrência, pela Scorza Engenharia. O partido adotado, uma placa de planta quadrada e pouca altura, de certa forma seguia a tendência de Araújo formulada em situações anteriores, Fonte: Acervo FAM. 81 Na fase de projeto da Câmara, este escritório foi visitado por Jorge Machado Moreira, que conheceu o projeto em desenvolvimento. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte. KLENNER, Alberto Montealegre. Emilio Duhart Arquitecto. Santiaho: Ediciones ARQ, 1994, p.84 Fig. 61 - À esquerda Monastère Saint-Mary de La Tourette, Le Corbusier, 1953, Eveuxsur_Arbresle. À direita, Edificio Naciones Unidas para America Latina, Emilio Duhart, 1960, Santiago do Chile. Fig. 62 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. como na Superintendência da REFAP anteriormente, ou na TASA posteriormente (Fig.59,60), de organizar, a partir de um sistema de coordenação modular rigoroso, edifícios “quarteirão”, mat-buildings com pátios internos generosos (Fig.68.3) e circulações de caráter “urbano”, dentro de esquema recorrente na obra brutalista de Le Corbusier, como o Monastério Saint-Marie de La Tourette (Fig.61), os projetos para a Índia, por sua vez referencial do Edificio Naciones Unidas para América Latina (1960), de Emilio Duhart, no Chile (Fig.61). Sergio M. Marques 429 Fonte: Acervo FAM Fig. 63 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, planta 2° pavto., acesso principal. Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. O edifício, um prisma quadrangular de três pavimentos – ordenado por malha modular explicitada na organização espacial interna e externa – intervalado por subtrações na forma de pátios ou de atividades especiais, como o plenário, de acordo com o projeto original, tinha uma “avenida” interna (Fig.63,66) que ligaria a Avenida Loureiro da Silva, desde a fachada principal ao Centro Administrativo Municipal de Porto Alegre – CAMPA, previsto para o interior do quarteirão, a partir de plano diretor realizado na Secretaria do Planejamento. Esse plano, desenvolvido pelos técnicos da SP-PMPA, previa em toda área do CAMPA, situada no atual parque Maurício Sirotsky Sobrinho, entre a Câmara e a Avenida Edvaldo Pereira Paiva, plataforma que elevava a circulação pública para o nível da avenida dique, que abrigaria, sob ela, infraestrutura e estacionamentos, conceito, segundo Araújo, influenciado pela arquitetura de Brasília. De acordo com Moojen, o esquema determinava, como no Congresso Nacional, uma base sobre-elevada do chão, criando um terreno artificial sobre o qual estariam um conjunto de barras paralelas, com as secretarias municipais e a Câmara como edifício singular. O projeto da Câmara, Fonte: Acervo FAM. Fonte: Acervo FAM. Fig. 64 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, primeira versão, com a plataforma programada pela SPM-PMPA. Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. Fig. 65 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, segunda versão, fachada oeste, projeto original. Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. cuja localização foi determinada neste plano diretor, incorporou a diretriz da plataforma, em seu entorno (Figs.62,64), localizando no térreo infraestrutura, restaurante, lanchonete, estacionamentos, vestiários e administração, ficando o ingresso principal, com as áreas nobres do plenário, plenarinho, mesa diretora, vereadores e assessorias mais importantes no segundo pavimento, cujo acesso se daria por rampa e escadarias monumentais, realizadas através da plataforma. No terceiro pavimento, gabinetes com assessorias da Câmara, 430 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: Fotos Sergio M. Marques, 2012 Fonte: Fotos Sergio M. Marques, 2012 Fig. 67 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, malha modular, trecho da planta próximo a fachada leste, projeto original, Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. Fig. 66 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, "avenida interna". Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. biblioteca, atendimento médico, área de comunicação com imprensa e rádio. A avenida interna, com pé-direito triplo, previa a realização de atividades culturais (Fig.66). De forma previdente, o projeto se descolou da plataforma prevista, propondo uma espécie de hiato de onde o edifício brotaria desde o solo. Assim, além de criar uma condição formal extraordinária em relação ao conjunto proposto, ganhou mais autonomia em relação à execução deste, que de fato não aconteceu (Fig.64). A estrutura do edifício de quatorze mil metros quadrados foi executada conforme o projeto, com os recursos disponíveis. A ideia era construir toda a estrutura e promover a ocupação parcial do edifício até haver condições de conclusão da obra. No entanto, a construção inconclusa e desocupada ficou parada durante muitos anos e se deteriorou significativamente, chegando a se cogitar sua venda para compra de edifício pronto. Uma hipótese era o edifício do Banco da Província, próximo à Prefeitura Velha, que estava desocupado. Por circunstâncias, prevaleceu a tese da ocupação parcial da ruína contemporânea. Um incêndio no pavimento da antiga Câmara precipitou a mudança para a obra, ocupando inicialmente mais ou menos a metade da área disponível. Assim, as obras seguiram simultaneamente à sua ocupação, com muitas adaptações e improvisos. O projeto é integralmente modulado por uma malha de vinte centímetros de largura, correspondente à largura do pilar, que subdivide módulos de noventa e dois centímetros, que por sua vez coordenam divisórias, pisos, alvenarias, instalações, estabelecendo como modulação básica da estrutura quatro metros e quarenta e oito centímetros de eixo a eixo. Essa modulação conseguiu manter alguma ordem nas alterações de projeto que foram sendo introduzidas exponencialmente, garantindo, em parte, o sistema dimensional do edifício (Fig.67). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 431 Fonte: Foto Paulo Pfützenreuter, Acervo FAM. Fonte: Foto Sergio Marques, 2010 Fig. 68 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, peças pré-fabricadas de fachada, fachada leste, Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM, Fotos Sergio M. Marques, 2010 Fig. 68.2 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, peças pré-fabricadas de fachada, fachada leste, Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM. Fig. 68.1 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, peças pré-fabricadas de fachada, fachada norte, principal, projeto original. Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. 432 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: Foto Paulo Pfützenreuter, Sergio M. Marques, 2012, Acervo FAM. Fig. 68.3 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, espaço intermediário entre fachadas, peças pré-fabricadas de fachada, Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM. Fig. 68.4 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, fachada norte, principal. Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Fotos Sergio M. Marques, 2012, Acervo FAM. Fig. 68.5 - Câmara de Vereadores de Porto Alegre, pátios internos, mobiliário incorporado na fachada, Cláudio Araújo e Cláudia Obino Correa, 1975, Porto Alegre-RS. Sergio M. Marques 433 Cidade mutante: objetos diretos e indiretos A concepção original, bastante influenciada pelo brutalismo paulista dos anos 1960 e 1970, previa estrutura com concreto à vista, paredes de alvenaria rebocadas e pintadas, forro rebaixado para instalações de Luxalon, que posteriormente se mostrou frágil para a intensidade de manuseio do caso e foi substituído. As divisórias moduladas foram desenhadas especialmente de forma a fazer desaparecer o perfil de estrutura, deixando o painel contínuo à vista. Para as fachadas, dado o desejo de Araújo de uma solução uniforme para as quatro orientações, a proposta foi usar placas de concreto vertical préfabricadas, pintadas com poliuretano, justapostas às fachadas, afastadas dois metros do plano envidraçado, o que foi realizado quase duas décadas depois do início da construção (Figs.68,1,2), por empenho de Clóvis Ilgenfritz da Silva em sua gestão de presidente da Câmara. O projeto previa ainda um carro móvel suspenso, para a limpeza dos vidros. A solução de “segunda pele” para a envolvente do edifício (Fig.68.3) de certa forma tem também antecedente no edifício da Superintendência da REFAP, onde as quatro fachadas envidraçadas são sobrepostas por sistemas de proteção distintos, como combogós ou brises. O plenário, cujo volume se insinua discretamente na volumetria geral do edifício, foi estruturado com estrutura espacial Mero, cuja cobertura de cobre foi roubada durante o período de abandono. Com a ocupação inicial, o plenarinho de aproximadamente sessenta lugares foi ocupado como plenário principal. Gradativamente, o edifício foi sendo integralmente utilizado, com muitos improvisos e adaptações em face da falta de recursos, por um lado, e das constantes mudanças no programa, por outro, fruto da descontinuidade na administração da Câmara. Atualmente, os gabinetes de vereadores, programados inicialmente para dois funcionários, se expandiram de forma a ocupar integralmente o terceiro pavimento; já com escassez de espaço, o projeto segue recebendo sucessivas modificações. De certa maneira, no entanto, as ideias de flexibilidade espacial, coordenação modular e sistema estrutural como malha espacial ocupável em um edifício de organização interna urbana, advindas da experiência na REFAP, garantiram ao programa mutante continuidade arquitetônica, cuja fisionomia atual é bastante confortadora (Figs66 e 68.5). Fonte: Foto Cairo A. da Silva, 11984 Fig. 69 - Centro Administrativo do Estado - CAERGS, Charles René Hugaud, Ivânio Fontoura, Leopoldo Constanzo, Luis Carlos Macchi da Silva e Cairo A. da Silva, 1972-87, Porto Alegre-RS. Por fim, o Bairro Praia de Belas, o aterro e a borda do rio, com o anacronismo sufocante entre a realização de projetos urbanos, sua viabilização e construção, dominante nas políticas públicas latino-americanas e gaúchas, acabou por classificar o território entre a categoria morfológica usual da construção da cidade contemporânea: tecido híbrido entre partes construídas, partes adaptadas e partes ainda por construir, segundo outras lógicas. Desta maneira, a dimensão ordenadora do projeto urbano moderno não chegou a ser configurada plenamente e, portanto, apreciada formalmente, oferecendo a seus objetores fragilidades espaciais oriundas deste processo. Face a esse argumento, alguém ainda poderia protestar que sobre esta lógica paira uma ideia autoritária e tecnocrática, já que, segundo essa visão, a cidade moderna só teria sua lógica garantida desde que construída integralmente de acordo com um projeto. Esta crítica poderia ser verdade. O espaço urbano oriundo de 434 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ Fonte: . Foto Cairo A. da Silva, 1984 1950/1970 Capitulo III Fonte:. 82 Fig. 70 - À esquerda, Gigante da Beira Rio em construção, Ruy e João Batista Tedesco, 1959, Porto Alegre-RS. À direita, PROCERGS, Cairo A. da Silva, 1972, Porto Alegre-RS um projeto pode parecer ou mesmo ser uma determinação apriorística, portanto ocultar a dimensão coletiva e as aspirações dos agentes envolvidos. No entanto, sem usar a retórica tecnicista de que o urbanismo é uma ciência e assim como as demais detém um saber próprio e específico, é legítimo dizer que um projeto não é capaz de esgotar e resolver todos os problemas sociais, econômicos e culturais de parcela de uma sociedade, mesmo porque tal condição não é possível em nenhuma área do conhecimento humano, sempre em evolução, mas a ausência de um projeto e o crescimento desordenado de um espaço, sem dúvida, também não é o caminho. A cidade e o urbanismo moderno das últimas décadas gradativamente se posicionou na condição de agente regulador dos agentes interativos e obsequiou-se de meio ordenador da resolução formal do espaço urbano, aceitando a tese defensável da colagem de diversas lógicas, em parte como definiu Collin Rowe. No entanto, a medida correta de escala e ordenamento ainda está por se definir, já que a ausência de um espaço urbano ordenado formalmente dentro dos critérios consolidados pelo Movimento Moderno é lacuna apreciável para qualquer afirmação crítica categórica. Ocupar um projeto urbano inacabado é como habitar um edifício incompleto ou terminado em desacordo com sua concepção, paralelo que caberia às experiências de projetos ad-hoc com a participação de múltiplos agentes no processo de concepção, ou em parte na visão onírica que muitos críticos têm da organização espacial de favelas. Ainda assim, a qualidade de um espaço também pode ser medida a partir da comparação do quanto este se aproximou do imaginado, o que em termos urbanos se renova continuamente. No caso da Praia de Belas, as intervenções e mudanças, construção de tecidos e peças urbanas, algumas de relevo significativo, cuja resultante híbrida perpetua certa matriz moderna, perfaz organismo que se altera em seu crescimento mas mantém a genética inicial da qualidade imaginada. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fig. 71 - À esquerda, Viaduto Dom Pedro I, Aflalo, Croce & Gasperini, inicio da década de 1970, Porto Alegre-RS. À direita, Foro Central da Comarca de Porto Alegre, Ronaldo de A. Stroher, J.J Larruscahim, A. M. M. Padilha, 1980, Rua Dr. Vicente de Paula Dutra, Porto Alegre-RS. A área destinada ao estádio José Pinheiro Borda, chamado Gigante da Beira Rio, por exemplo, na extremidade sul do projeto do Bairro Praia de Belas, era para ser pública. No entanto, foi doada ao Esporte Clube Internacional, 82 quando ainda era água, em 1956 . O aterro foi rapidamente conseguido junto ao diretor do DNOS, Dr. Thelmo Thompson Flores, torcedor dedicado, e a construção, realizada boa parte com doações, favorecida pelos construtores Engenheiros Ruy e João Batista Tedesco, igualmente colorados, com empresa de engenharia do mesmo nome, uma das maiores na época. A obra iniciou em 1959 e foi inaugurada dez anos depois, em 1969. Marco na paisagem, se não agrega valor pela ausência de arquitetura, não subtrai, pela crueza da engenharia e generosidade da natureza, já que a urbanização do parque rodeia a construção com massa vegetal mimetizadora (Fig.70). Em relação ao Centro Administrativo, o novo plano de urbanização do aterro voltou-se à ideia original de trazer junto à Primeira Perimetral, inspirada na Ringstrasse de Viena, um anel circundante da área central, permitindo sua penetração em vários pontos sem utilizar o já deficiente traçado de origem colonial, abrigando funções polarizadoras, concentrando órgãos administrativos do Município, Estado e Federação. Previu destinação final da ocupação das áreas alagáveis junto à Avenida Washington Luiz e Largo dos Açorianos, 83 espécie de fronteira entre centro histórico e cidade moderna . A ideia urbanística para o Centro Administrativo era a obtenção de projeto conjunto de A campanha do Clube para angariar recursos era ironizada pelos rivais com a assertiva de que se estavam oferecendo não cadeiras, mas “boias cativas”. 83 A situação urbana é análoga à paisagem do Aterro do Flamengo (RJ), borda do centro histórico na Rua do Passeio e Cinelândia, onde também o edifício de Arnaldo Gladosch (Mesbla) marca o skyline, como em Porto Alegre (Edifício Sulacap). Sergio M. Marques 435 Fonte: Desenhos Moacyr Moojen Marques Fonte: ROWE, Collin, KOETTER, Fred. Ciudad Collage, Barcelona. 1998, p.148. Fig. 73 - Fifth Avenue e Central Park, Nova York- E.U.A Fig. 72 - Diretriz Urbanística para os quarteirões entre a Av. Borges de Medeiros e Av. Praia de Belas, SPM/PMPA, Moacyr Moojen Marques, década de 1970, Porto Alegre-RS órgãos envolvidos, razão pela qual não foi atribuído regime urbanístico, mas 84 qualificação como área funcional . As diretrizes gerais contidas na lei, no entanto, condicionavam os futuros projetos à concepção paisagística de parque, com predominância de áreas verdes, eminentemente filiadas à imagem moderna de cidade pretendida para o aterro, desde sua realização. Constatada a impossibilidade de obtenção do projeto geral, a área inteira foi dividida em cotas proporcionais entre os três poderes e, à medida do interesse de cada um, foram sendo atribuídos alinhamentos aos prédios a serem construídos, sempre 85 fiéis à ideia de cidade jardim . Dispositivo previsto em lei, na qual áreas com peculiar interesse público recebem regime urbanístico através de projeto realizado na forma de Estudo de Viabilidade Urbanística – EVU, em que, através de tratativas entre proponente e poder público, por meio do projeto, são fixadas as diretrizes urbanísticas. 85 Projetos construídos ilustram esse processo: Câmara de Vereadores, Arquitetos Cláudio L. G. Araújo e Cláudia Obino; SMOV, Arquitetos Moacyr M. Marques, João J. Vallandro e Leo F. da Silva; DAER, Arquiteto Batistino Anele; IPERGS, Newton Burmeister; CAERGS, Charles R. Hugaud, Ivanio Fontoura, Leopoldo Constanzo, Luis C. Macchi e Cairo A. da Silva. Nos anos 1980, houve, por 84 Em 1971, o Governador do Estado, Euclides Triches, aprovou o projeto para a criação do Centro Administrativo do Estado (Fig.69), posteriormente chamado Fernando Ferrari, iniciado em 1976 e inaugurado, embora inconcluso, em 1987, demarcando em Porto Alegre o maior espasmo de verve moderna 86 estereotipada no emblematismo de Brasília , em que pese o rigor construtivo, apuro técnico e detalhamento apurado, em especial da PROCEGS (Fig.70). O Viaduto Dom Pedro I (Fig.71), construído pelo “Prefeito dos Viadutos”, Telmo Thompson Flores (1969-1975), no encontro da Avenida Borges de Medeiros com a Segunda Perimetral, Avenida José de Alencar, obra, na época considerada perfunctória, teve projeto arquitetônico e paisagístico realizado pelo escritório paulistano Aflalo & Gasperini. Plátanos existentes tiveram de ser cortados para a implantação e, a pedido, repostos na paisagem parte de alguns técnicos da Secretaria do Planejamento, a tentativa fracassada de projetar um plano de massas com diversificação de usos, praça diagonal, influenciado pelos debates de revisão e do pós-modernismo. Na UFRGS, exercícios acadêmicos da graduação e pós-graduação simulavam ocupações figurativas da área, críticos ao espírito cidade moderna, cidade jardim e edifícios no parque. Um importante evento foi a oficina internacional realizada com Jonh Barnett (consultor de Desenho Urbano de Nova Iorque) e Philip Panerai (Comissão de Desenho Urbano de Paris), organizada no PROPAR, por Carlos E. D. Comas, Benamy Turckenicz e Ligia Botta. 86 Em que pese o processo cíclico dos ditames da moda, este conjunto, duramente criticado nos anos 1980, está contemporaneamente associado a universos estéticos “avant-garde”, como os projetos do escritório dinamarquês Big, para a China, ou, como observa Araújo, a própria ideia de sky-line adotada em cidades como Nova Iorque ou Dubai. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, jan. 2012. 436 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Fonte: Acervo FAM, Acervo João Alberto da Fonseca - FAU UniRitter Fonte: Acervo FAM Fig. 75 - Projeto de Urbanização da Área da Praia de Belas, Carlos M. Fayet e Jorge D. Debiage, 1978, Porto Alegre-RS. Fig. 74 - Projeto de Urbanização da Área da Praia de Belas, Carlos M. Fayet e Jorge D. Debiage, 1978, Porto Alegre-RS. em novo alinhamento . Paradoxalmente, o viaduto, criticado como um dos menos funcionais do ponto de vista viário, é “obra de arte”, como designa a engenharia, de boa composição moderna. Posteriormente, alguns projetos foram abandonados e outros sobrepostos, sendo que destes alguns rechaçados pela sociedade, outros realizados sem repercussão, e ainda alguns com certa perda de qualidade urbana. No Centro Esportivo Municipal e a Esquina do Rio Grande, no encontro das linhas diretrizes do aterro, a norte-sul (Avenida Borges de Medeiros) e oeste-leste (Avenida Ipiranga), chamado pelo Urbanista da SPM/PMPA, 87 87 Arquiteto Leo Ferreira da Silva, de “Esquina do Rio Grande”, havia, no projeto original, a destinação de áreas de lazer, materializadas em uma marina pública e centro esportivo municipal. O centro, objeto de concurso público de projetos, foi planejado pelo Arquiteto Ernesto Paganelli (Professor da UFRGS, já falecido), projeto abandonado posteriormente. Mantém-se até hoje a diretriz de construção da Marina Pública. A Estação de Tratamento de Esgoto E.T.E, cogitada na década de 1980, hoje implantada na Serraria, esteve muito próxima de ser construída na baía da Praia de Belas, bem na esquina referida. Houve empenho dos técnicos da SPM/PMPA para abortar o projeto, que passou a ser estudado para as ilhas e acabou implementado na Zona Sul, durante o Governo Collares, o que constituiu hábil mudança, salvaguarda de destino menos nobre para o aterro. Em relação ao Foro Central, com a diminuição do aterro e parcelamentos consequentes, a área já aterrada a oeste da Rua Vicente de Paula Dutra foi cedida para instalação do Foro Central do Estado, em local previsto para escola primária destinada aos moradores daquela unidade de vizinhança, também com oposição de técnicos do planejamento, que defendiam a localização do Foro dentro do Centro Administrativo do Estado, conforme o plano original. O projeto do edifício, em contrapartida, descrente da realização das obras previstas para a urbanização da zona, orientou seu ingresso para as ruas secundárias existentes, onde edificou a entrada principal, Graças a um rendez-vous conhecido nas proximidades, chamado de “Marli”, o viaduto até hoje goza da alcunha de “Viaduto da Marli”, sendo desconhecido como Dom Pedro I. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 437 Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 77 - Projeto de Urbanização da Área da Praia de Belas, Carlos M. Fayet e Jorge D. Debiage, 1978, Porto Alegre-RS. Fig. 76 - Projeto de Urbanização da Área da Praia de Belas, Carlos M. Fayet e Jorge D. Debiage, 1978, Porto Alegre-RS. deixando os fundos para a Avenida Aureliano Figueiredo Pinto, radial executada posteriormente. Parques Mauricio Sirotsky Sobrinho e Harmonia são o produto do acerto de contas entre os governos Federal, Estadual e Municipal para a destinação das áreas de cada competência, realizada na conclusão dos projetos e construção dos aterros. Pelo convênio inicial, as áreas públicas não seriam divididas, ficando para a cidade de Porto Alegre. Nasceram, assim, os Parques Maurício Sirotsky e a Estância da Harmonia, em negociação conduzida pelo Urbanista da SMP/PMPA, Arquiteto Cláudio Ferraro, e Arquiteto Morganti, pelo Patrimônio Federal. Infelizmente, as áreas nunca receberam projeto de paisagismo, urbanização e arquitetura condizentes. O mesmo não se pode dizer em relação às quadras fronteiriças aos Parques. Com o abandono do projeto original para a Praia de Belas, a criação do Parque Marinha do Brasil e os lotes já urbanizados e comercializados nos trechos ao sul da Avenida Ipiranga, restou a área sudoeste, com o traçado original, quadras e lotes desenhados no plano original. Esse trecho constituía uma significativa nesga, em forma de cunha, alongada na direção norte-sul com aproximadamente mil e duzentos metros de extensão, limitada pelas avenidas Borges de Medeiros, Praia de Belas e Ipiranga. A volumetria original prevista, no entanto, desproporcionou-se com o surgimento do parque e as visuais livres até o estuário. A Secretaria do Planejamento, com diretriz de Moojen, mudou radicalmente o traçado existente. A nova proposta vocacionou a área para entrosamento com o parque fronteiro, sobre a qual seriam edificados prédios de maior altura, com alinhamentos variáveis, onde os lotes (sem divisas) determinavam as volumetrias dos prédios (Fig.72). A empresa Martins Geller e Fantoni – MAGUEFA adquiriu a totalidade da área e, com isso, o direito de construir o potencial previsto por lei, aprovando os projetos no prazo legal. O Primeiro Plano de Desenvolvimento Urbano – I PDDU (1979) criou divisão territorial com fundamento urbanístico e estatístico, destinada a cada setor, chamada Unidade Territorial de Planejamento (UTP), e enquadrou o bairro da Praia de Belas nesse sistema. Por coerência metodológica, atribuiu a esses setores o regime urbanístico, cujos valores foram mantidos segundo aqueles 438 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III constituintes do direito adquirido pelos projetos aprovados anteriormente. O projeto do I PDDU, encaminhado à Câmara, foi aprovado praticamente na íntegra, exceto pelas UTPs da Praia de Belas, face a seus índices altos, quanto 88 ao regime urbanístico, comparativamente às demais unidades do plano . Dentro dos parâmetros urbanísticos determinados pela SPM/PMPA, que propunha uma espécie de Fifth Avenue e Central Park (Fig.73), os arquitetos Fayet e Jorge Decken Debiagi, contratados pela Maguefa, elaboraram projeto de superquadras, com complexo comercial e residencial para expressiva área junto à Avenida Ipiranga, a qual foi qualificada no plano como polo comercial (Fig.74). O projeto apostava em potente imagem de desenvolvimento econômico e urbanístico para a orla, creditando à Praia de Belas prospecção urbana de metrópole (Fig.75). Conjunto constituído de torres de escritórios e serviços abrigava centros comerciais (Fig.76) com áreas residenciais e jardins sobre a cobertura (Fig.76), dando continuidade, de certa forma – em outra escala e configuração arquitetônica, de maior inventividade, agora metropolitana – ao sentido de renovação ambiciosa e crença no urbanismo moderno como agente de prosperidade, do projeto para o bairro de duzentos mil habitantes, da década de 1950. Fayet e outros divisavam na Praia de Belas, desde os 89 primeiros planos, a utopia da cidade contemporânea (Fig.77). No mesmo local do projeto das superquadras para a Maguefa, foi construído o Shopping Praia de Belas, que, como medidas compensatórias, executou a ponte da Avenida Praia de Belas sobre o dilúvio, a duplicação desta 90 e a construção da Praça Itália . O projeto não foi realizado aqui, porém foi adequado à legislação local por Fayet. Shopping e Praça fazem jus à discussão 91 dos anos 1980 e ao capítulo pós-moderno da Praia de Belas . Posteriormente, oposto a uma ideia de planejamento técnico integrado, foi realizado o Projeto Praia do Guaíba. Consolidados os aterros, traçado e utilizações das glebas no governo Alceu de Deus Collares (1986-1989), foi contratado o escritório Debiagi Arquitetos para elaborar o projeto da Avenida Beira Rio, atual Edvaldo Pereira Paiva, tendo em vista sua implantação imediata. Simultaneamente, foi produzido novo Plano Diretor para extensas áreas do Segundo o depoimento de Moojen, produto da ação de empresas concorrentes. Nada adiantou, pois a Maguefa seguiu construindo as torres cujos projetos já haviam sido aprovados. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento oral ao autor. Gravação digital. Porto Alegre, fev. 2008. 89 Com a falência do Banco Sulbrasileiro, a empresa Maguefa quebrou conjuntamente, naufragando o projeto, com exceção de três torres iniciadas junto à Avenida José de Alencar, retomadas posteriormente por outra empresa e outro projeto. 90 Projeto de Carlos Maximiliano Fayet, 1990-1992. 91 Ambos foram analisados na dissertação de mestrado realizada por mim entre 1996-1999. Ver: MARQUES, Sergio Moacir. A visão do movimento moderno? Arquitetura no Rio Grande do Sul dos anos 1980. Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 1999. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 88 bairro, destinando locais para postos de serviços da Petrobras, shopping center a ser construído no parque, hotéis categorizados à margem sul da baía e assim por diante. O desenvolvimento do projeto se deu alheio ao conhecimento do corpo técnico da Secretaria do Planejamento e sofreu forte oposição desta, dos órgãos de classe e, posteriormente, de diversas representações sociais. A imagem de modernização cedia à especulação. No cenário da Praia de Belas, o espaço visualmente mais representativo de todo o processo histórico é o Parque e o Monumento aos Açorianos. Para o local onde havia a estação do trem, junto à Praia de Belas, no prolongamento da Ponte de Pedra, foi feito concurso de projetos a fim de implantar o Parque dos Açorianos. O trabalho vencedor da equipe composta pelo arquiteto Jaime Leveton e Acadêmico Udo Mohr, com escultura da artista Maria de Lourdes Sanches, não foi adotado. Em segundo lugar, o Arquiteto Nelson Souza 92 propunha a escultura de Vasco Prado, “Cabeça de Açoriano” . Na gestão do Prefeito Thompson Flores, o cruzamento entre a Borges de Medeiros e a Primeira Perimetral teve seu espaço ampliado a partir de diretriz elaborada pelo arquiteto Roberto Py Gomes da Silveira, com desenho urbano desenvolvido pelo arquiteto Cyrillo Crestani. O espaço generoso e o 93 conjunto das obras, incluindo a escultura de Carlos Tenius , “Monumento aos Açorianos”, de 1973, constituíram o parque definitivo. A ideia era acentuar a Ponte de Pedra, mantida também como monumento, e implantar o viaduto moderno, projeto de Roberto Py Gomes, como contraponto, mantendo água sob duas pontes, agora como lago sobre o antigo leito do Arroio Dilúvio, com desenho da Arquiteta Enilda Ribeiro (Figura 12). A vocação cívica desse carrefour vinha sendo projetada desde o Plano de 1954, quando, no detalhamento da Primeira Perimetral, desenho de Moacyr Moojen Marques ilustrava o round-point da Avenida Borges de Medeiros Posteriormente, foi realizado outro projeto, chamado “cebolão”, que pretendia solucionar todas as conversões à esquerda, originando uma forma complexa e bizarra. Apesar de a solução ser aprovada pelo prefeito, os técnicos do planejamento resistiram a essa proposta, argumentando pela eliminação da chegada de outra avenida no mesmo ponto (Cascatinha), a qual foi desviada para a Aureliano de Figueiredo Pinto. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento oral ao autor. Entrevista. Gravação digital. Porto Alegre, fev. 2008. 93 Carlos Gustavo Tenius (Porto Alegre, 1939) estudou arte com Fernando Corona, formando-se em escultura pela Escola de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em 1965, tornou-se auxiliar de ensino das cadeiras de escultura e modelagem dessa escola. Entre 1972 e 1975, participou de vários concursos de arte, conquistando a primeira colocação no concurso para o monumento comemorativo do centenário da Imigração Italiana, em Farroupilha. Em 1977, obteve vaga de professor assistente no Instituto de Artes da UFRGS, por concurso público. Dois anos depois, desenvolveu o monumento em homenagem ao Marechal Castelo Branco, implantado no Parcão, em Porto Alegre. Sergio M. Marques 439 92 monumentalizado por obelisco, articulado ao eixo de teatro Municipal, projetado para onde está hoje o largo. O espaço atual do Largo dos Açorianos, confluência de sistema viário estrutural, cruzamento de perimetral e radial, confunde-se, para um olhar desatento, em anel rodoviário, trevo determinado por raios de giro de veículos e amplos espaços residuais. No entanto, a escala generosa, a paisagem que se alarga e tende ao horizontal, as distâncias espaçosas, a predominância do jardim, senso comum do espaço moderno, abrem aqui hiato urbano que monumentaliza através do vazio, contrastante com a densidade do centro histórico que finaliza e a presença da cidade moderna que verticaliza. É um espaço configurado pelo alinhamento das edificações ao norte, limite remanescente da cidade tradicional, limitado pelo horizonte intervalado por edifícios soltos no parque, imagem moderna insistentemente perseguida ao sul. Espaço fronteira de épocas e tecidos urbanos distintos, o Largo dos Açorianos reconhece essa vocação na permanência da ponte de pedra, monumento histórico erguido por Duque de Caxias, outrora ligação moderna entre norte e sul para carruagens e charretes, e viaduto moderno, confronto imagético de ligação contemporânea para veículos automotores. O lago, incomparável a espelho d’água decorativo ou elemento de paisagem pitoresca, ratifica a presença das duas pontes, moderna e histórica, e sinaliza o lugar de transição entre as duas cidades. Construído sobre o leito do Arroio Dilúvio retificado, não apenas simboliza, mas também oferece permanência da água, elemento onipresente na história, na paisagem e na simbologia. O contraste do lago de traçado moderno, concordando curvas com segmentos de retas, em desenho orgânico, porém nada casual, bem ao gosto das free-forms brasileiras, com a imagem espelhada da escultura de Tenius, potencializa o significado desse 94 espaço monumental, constituído de poucos e expressivos elementos . Apresenta-se como portal da cidade histórica e início da cidade moderna. A escultura “Monumento aos Açorianos” revela essa história e a apresenta como símbolo da conquista, do desbravamento e da modernização cuja narrativa lhe dá sentido. O Largo dos Açorianos e respectivos monumentos celebram todos esses desejos, na intersecção de centro velho e bairro moderno, ambos cidade histórica. (Fig.78). O monumento de Carlos Tenius, uma das mais perspicazes obras de arte pública de Porto Alegre, sintetiza todas Vale a pena ainda comentar que, em duas oportunidades, Moojen, como urbanista da Prefeitura, foi convocado a auxiliar na resolução de problemas de execução do Largo dos Açorianos: a água do lago que se esvaía, constatado posteriormente que se infiltrava no lençol freático do antigo arroio, e a dificuldade de execução da escultura, composta de personagens multifacéticos em aço patinável. Foi necessário geometria descritiva e um bom mestre de obras. MARQUES, Moacyr Moojen, Depoimento Cópia Digitada, 2009. Depoimento. 94 Fonte: Foto Omar Junior, Fig. 78 - Monumento aos Açorianos, Carlos Tenius, 1973, Largo dos Açorianos, Porto Alegre-RS. as forças presentes no espaço urbano, irradiante desde sua localização epicêntrica no Largo dos Açorianos. Diferente de agrupamentos de personagens em obras referenciais como Les Bourgois de Calais, de Rodin, onde a ideia de esforço coletivo está implícita, porém disseminada nas expressões individuais de cada integrante, nos Açorianos, a forma do anseio coletivo materializa-se na relação icônica que o conjunto de personagens – desenhados em certo grau de abstração que flerta com a desconstrução – traz com a caravela, nau de desbravadores que, liderados por um ideal, narram essa história. A chegada e povoação do território, os casais açorianos navegando pelo Arroio Dilúvio, o início do povoamento, a relação com o estuário; adição e subtração, os planos da cidade, o esforço coletivo, a contribuição de cada momento, o protagonista em forma de vela como resultante do esforço conjunto sobrepujando a adversidade; a vitória do coletivo; o todo constituído pela soma orgânica das partes; a forma do povo assumindo a função do símbolo, o monumento solto no jardim (Figura 14). Nada mais moderno. 440 MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: FAYET, A , ARAÚJO & M _ 1950/1970 Capitulo III Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 441 Figuras da Capa: Plano Paiva, Projeto para a Praia de Belas, 1954-1959, Porto Alegre-RS. Fonte: PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954-1964. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre, 1964, p.65. Contracapa: Figuras da Contracapa: Plano Diretor de Porto Alegre, Projeto da Praia de Belas. Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS. Fonte: Fonte: Desenho Carolina Valicente, B.I.C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012. 442 Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior - PDSE - CAPES FAYET, ARAÚJO & MOOJEN: ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL - 1950/1970 Volume 7 Capítulo IV - FAM - Epílogo Referências FAM Faculdade de Arquitetura - UFRGS Rua Sarmento Leite, 320 /201 90050-170 Porto Alegre/RS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Fone/Fax: 55 51 3316-3485 FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA - PROPAR ppgarq@vortex.ufrgs.br TESE DE DOUTORADO Orient. Carlos E. D. Comas/ Co-Orient. Hélio Piñon Sergio Moacir Marques CAPÍTULO IV FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV CAPÍTULO I V CAPÍ O FAM e a Arquitetura Moderna Brasileira no Sul (1964-1968) FAM FILTRO SOLAR – FATOR PARALELO 30 Pode-se-ria dizer que o Edifício FAM (Fig.1) nasceu da conveniência e da oportunidade. Por um lado, três arquitetos com afinidades profissionais e 1 pessoais, por outro a circunstância do trabalho conjunto . Fayet afirmou que: O FAM é filhote da Petrobras, porque a equipe de arquitetos que estava fazendo o projeto, bem ou mal estava com um excelente contrato, por um lado, e por outro, os arquitetos da equipe precisavam mudar imediatamente. Então eu tinha aquele terreno e propus, e os outros aceitaram, da gente fazer um condomínio de três arquitetos. Que não é novidade, fazer um prédio para três apartamentos. A nossa ideia era de fazer um prédio evidentemente contemporâneo, sendo contemporâneo seria diferente daqueles que estavam sendo feitos, mas que do ponto de vista do plano se enquadrasse na zona sem ser um elemento estranho. Decidiu-se fazer um prédio estruturado, apesar da altura não exigir, quatro andares não precisa ter estrutura. Um prédio muito esbelto, muito bem feito e de forma que cada um pudesse fazer o seu apartamento, mas o resultado não foi esse. O resultado foi que a gente, fazendo o projeto juntos, um achava que a cozinha que o outro estava fazendo ficava boa, então fazia igual. Acabamos fazendo três apartamentos quase que idênticos. O único que era diferente era o do Cláudio, no último andar, porque ele tinha um programa de necessidades diferente. Ele não tinha filhos na época. Eu tinha duas filhas e o Moacyr, teu pai, tinha três, o nosso programa era parecido. Filhos mais a sogra, não é? O Moacyr também. O Cláudio então, o apartamento ficou um pouco diferente na solução dos espaços, e evidentemente que dentro, cada um colocou seu gosto, na arquitetura de interiores. Mas o edifício é uma aula, sabe? Ele foi muito bem feito, com materiais muito simples, muito econômicos. Tem uma qualidade inegavelmente superior a todos os prédios do entorno e foi construído com uns 30% menos do que os prédios iguais.2 Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Poder-se-ia dizer, igualmente, que é uma obra de arquitetura representativa da arquitetura moderna brasileira dos anos 1960, projeto de três arquitetos expressivos da arquitetura moderna no sul do país, feita com critérios e juízo estético apurados, produzindo objeto singular. Porém, face à sucessão cronológica com os projetos urbanos modernos feitos para a Praia de Belas e o paralelismo com as experiências formais e construtivas para a Petrobras, são convenientes ainda outras profundidades de análise. O projeto do Edifício FAM nasceu do casamento entre desejo utópico de modernização social, através da ação renovadora do urbanismo moderno, com o racionalismo tectônico herdado das vanguardas construtivas, praticado com requinte formal. O espírito da cidade funcional, o zonning, o centro administrativo, o centro de negócios, os bairros de habitação coletiva, as Fayet, proprietário do terreno, comprado para investimento, tendo em vista a ideia de cidade moderna prevista para o aterro, a partir do projeto para o bairro Praia de Belas, no plano de 1959, coordenado por Paiva e ele próprio, ponderava a hipótese de viver ali. Moojen, na época, estava considerando fazer algo semelhante com Emil Bered e irmãos, na Rua Comendador Caminha, Moinhos de Vento, onde igualmente os Bered construíram um edifício associados. 2 FAYET, Carlos Maximiliano. Entrevista com o autor. Vídeo digital e cópia digitada. Porto Alegre, set. 2005 Doutorado Sergio M. Marques 441 1 Fig. 1 - Edificio FAM, Fayet, Araújo & M oojen, 1964-1968, Porto Alegre-RS. FAM Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Desenho Acad. Caroline Valicente, B.I. C., FAU UniRitter, Sergio Marques, 2012, Acervo FAM Fig. 2 - Plano Diretor de Porto Alegre (Plano Paiva), projeto da Praia de Belas, ruas entra-e sai das Unidades de Vizinhança, como a Rua Dr. Vicente de Paula Dutra, onde está o FAM Edvaldo FAM. Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS. avenidas largas, os automóveis e o transporte público, a cidade jardim e a tabula rasa como berço fértil da arquitetura moderna são os ancestrais imediatos dessa parte de cidade nova conquistada do rio após sucessivos aterros. Nela, criou-se e cresceu o anseio coletivo pela modernização na forma de espaço planejado e normatizado pelos padrões e ideais de um urbanismo que teve na Carta de Atenas a referência mãe. No objeto, evidencia-se o sentido prático do equacionamento de requerimentos programáticos, funcionais, construtivos, estruturais e climáticos em sistema dimensional no qual os elementos formais são autônomos, dentro de certa ordenação, desde estrutura resistente a fechamentos laterais e aberturas, determinados por planos distintos, cuja paternidade de rigor e ordem neoplasticista vêm do berço. O FAM construído no aterro da Praia de Belas, obedece à morfologia FAM, 3 determinada pelo Plano Diretor de 1959 (Fig. 2). Integra-se àqueles quarteirões construídos segundo o desenho urbano moderno do "Bairro para duzentos mil habitantes": conjuntos de habitação coletiva configurados por uma sequência de ruas entra e sai, intervaladas por praças vicinais com serviços locais, compostos por prédios de apartamentos “cúbicos”, de aproximadamente 12m de lado, com térreo mais três pavimentos, recuos laterais, de frente e fundos, e possibilidade de balanço sobre o recuo de jardim (Fig. 3). Em que pese a baixa qualidade arquitetônica e construtiva das edificações construídas dentro do projeto urbano, conjuntura do mercado, a presença de gabaritos e alinhamentos normatizados por ação urbanística conferiram ao todo certo padrão de regramento suficiente para determinar noções básicas de 3 Plano Diretor de Porto Alegre – Lei nº 2.046, de 1959, substituída pela Lei nº 2.330, de 1961. Ver: PORTO ALEGRE. Plano Diretor de Porto Alegre Lei n. 2.330 de 1961. Prefeitura Municipal de Alegre, Porto Alegre, Porto Alegre, 1961. 442 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Foto Sergio Marques, 1985. Foto Guilherme Werle, 2000 Fig. 3 - Plano Diretor de Porto Alegre, projeto da Praia de Belas, Rua Dr. Vicente de Paula Dutra. Edvaldo Pereira Paiva, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr Moojen Marques e equipe (Coord. Carlos M. Fayet), 1959, Porto Alegre-RS. organização urbana, controle ambiental e civilidade, adequados a um bairro de classe média tradicional, em área central, com fartos atributos de 4 domesticidade e provimento de infraestrutura planejados (Fig.4). O modelo transgeracional da cidade moderna estava também na definição de um programa singular de moradia no qual a ideia gestora da habitação comunitária se configura na opção preferencial de três protagonistas da vanguarda do Movimento Moderno no Rio Grande do Sul, obviamente localizada sobre o aterro. F ayet, A raújo e M oojen armaram para si uma situação 5 particular de residência: três famílias de arquitetos , dispostas em um apartamento por andar em edifício de apartamentos moderno – filiação marcante na estrutura independente de concreto armado, na pureza dos volumes cúbicos, na envolvente de pouca substância da fachada principal; particularização implícita na relação entre solução construtiva e estrutural, Fonte: Foto Moacyr Moojen Marques, 1970, Acervo FAM FAM, Fig. 4 - Edifício FAM Fayet, Araújo & M oojen, 1964-1968, Porto Alegre-RS. Posteriormente, no final década de 1990, com o PDDUA, a relativização de determinados padrões urbanísticos, como a liberação de alturas dentro de unidade de vizinhança e miscigenação apriorística de atividades, sem critérios de adequação, colocaram à prova a identidade morfológica do bairro, suas condições ambientais e, mais recentemente, a excessiva permissividade no controle de usos acabou por impor condições importantes de degradação urbana. 5 Talvez a maior densidade de arquitetos por metro quadrado da cidade: Carlos Maximiliano Fayet, casado com a Arquiteta Suzy B. Fayet, Beatriz e Ângela, uma das filhas que estudou arquitetura. Cláudio L. G. Araújo, casado com Mary Suzana, Fernando e Lúcia, a filha arquiteta. Moacyr Moojen Marques casado com Maria Ivone Bianchi Marques, Nadia Maria, José Carlos e Sergio Moacir, dois filhos arquitetos. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 4 equacionamento criterioso do programa e funções domésticas, na fluidez e decomposição do espaço em planos com critérios formais consequentes do modo de concepção intrínseco ao objeto, dentro de certa universalidade estilística, que grassou a região meridional da América Latina. Poder-se-ia afirmar que o FAM reúne herança própria da arquitetura moderna brasileira, aparentado à escola carioca, aquela inaugurada em 1936 com o projeto do Ministério de Educação e Saúde e manifesta em obras paradigmáticas como o pavilhão do Brasil em Nova Iorque (1939), o hotel de Friburgo (1944) e o Parque Guinle (1948), entre outros, combinando elementos e tecnologias modernas com dispositivos e arranjos ligados à tradição e à condição local (Fig.5). Da mesma forma, há o parentesco com a arquitetura paulista gerada por João Vilanova Artigas e Rino Levi, e consanguinidade com as residências Nadyr de Oliveira (1960) e Antônio D’Elboux (1962), de Carlos 6 Milan (Fig.5), as casas racionalistas de Oswaldo Bratke e sistemas formais como a Casa Cunha Lima (1958), de Joaquim Guedes (Fig.58, Cap.F). De certa 6 Ver: LUZ, Maturino. De Millan ao FAM: a casa vira apartamento. Revista Arquitetura São Arquitetura, Leopoldo, UNISINOS, n. 2, 2001. p. 49-71. Sergio M. Marques 443 Fonte: Foto Sergio Marques, 2009. O manifesto gaúcho: Tecido ou arquétipo arquétipo? Fonte: Acervo FAM Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 FAM, Fig. 6 - Edifício FAM F ayet, Araújo & M oojen, 1964-1968, Porto Alegre-RS. Fig. 5 - À esquerda, Parque Guinle, Lúcio Costa, 1948-50, Rio de Janeiro-RJ. À Direita, Residência Antônio D’Elboux, Carlos Milan, 1962, São Paulo-SP. Abaixo, Edifício FAM, fachadas oeste e sul. F ayet, Araújo & M oojen, 1964-1968, Porto Alegre-RS. forma, no entanto, liberta-se parcialmente destas filiações, na medida em que partido, sistema formal, esquema construtivo e ordem funcional formam um conjunto de soluções próprias dirigidas a desenhar com eficácia e funcionalidade, porém com sofisticação estética, os diversos requerimentos do programa particular, a partir da simplicidade e economia dos materiais e recursos construtivos utilizados com engenhosidade, mirando sistemas espaciais de certa abstração e universalidade desprendidos de uma ou outra escola arquitetônica, muito menos de estilos estetizantes adotados a priori. O edifício FAM, se por um lado insere-se na condição de tecido recorrente – fruto de projeto tanto urbanístico quanto arquitetônico moderno, representativo de certo modo de fazer cidade, muito menos condicionado por olhar presumido de qualquer fantasia formal ou do espetáculo do que de rigor na solução espacial, tanto espaço urbano quanto objeto específico, disseminado pela arquitetura da habitação coletiva moderna do pós-guerra, com auge nos anos 1950 e frequência no Cone Sul americano, nos 1960 – por outro lado, tanto por programa quanto por representatividade das ideias implícitas, pode ser um manifesto excepcional no sentido dos valores universais e regionais que evoca dentro de panorama crítico da arquitetura moderna brasileira (Fig.6). Simultaneamente, pode-se dizer que o conceito de habitação coletiva, cerne da ideia de urbe e baluarte da maneira moderna de organizar o espaço urbano, presente de forma indefectível na opção de vida dos três arquitetos, tanto por suas ideologias progressistas e modernistas, quanto por 444 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 FAM, Fig. 8 - Edifício FAM estrutura de dois pavimentos, com os balcões de cozinha incorporados no concreto. F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. FAM, Fig. 7 - Edifício FAM circulação anelar, F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. suas relações pessoais, dissolve-se na particularidade de um condomínio projetado “à medida” por três arquitetos vocacionados pela modernidade em formação no sul brasileiro. Desta forma, se pode também mirar uma manifestação afirmativa de um modo de viver, de um modo de fazer, de um 7 modo de interpretar o moderno, análogo às casas manifesto da historiografia , porém em meio marginal, que por sua natureza e condição histórica, se até então não se impõe como modelo, em tempos de relativismo, reafirmação de 7 Refiro-me a casas consagradas ou arquétipos de determinada época e cultura, dada a carga contemporânea e investigativa de suas arquiteturas, como a Villa Savoye (1928), Casa Barragán (1947), Casa Puente (1942), Farnsworth House (1951), Casa das Canoas (1951), Casa Gerassi (1989), entre outras. Comas, nos anos 1990, organizou evento abordando este universo, desenvolvido a partir de sua pesquisa acadêmica. Ver: COMAS, Carlos Eduardo Dias. Arquitetura moderna e espaço doméstico – a casa manifesto latino-americana. Porto Alegre: PROPAR, UFRGS, 1989-1993. Este trabalho redundou também em publicação representativa. Ver: COMAS, Carlos Eduardo; ADRIÁ, Miquel. La casa latinoamericana moderna – 20 paradigmas de mediados de siglo XX. v. 1. Barcelona: Gustavo Gili, 2003. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado modernidades e depuração da cultura brasileira atual, pode ser no mínimo referência. A obra revela valores que transcendem debates estilísticos e que formam a sopa primordial dos modos de concepção evidenciados na evolução e consolidação dos critérios da arquitetura moderna no século XX, quando esta conjugou novos procedimentos de projeto e novos sistemas espaciais, efetivamente distintos da tradição clássica, consagrados universalmente como disciplina nos anos 1950 – critérios refratários a sistemas e estilos prévios à concepção, ou à filiação formal apriorística ditada por “estilos” interpretados como um simulacro; critérios partidários da concepção inerente ao objeto e ao problema particular, pautados pelo rigor, precisão e economia, nos quais a pertinência da forma, normalmente sofisticada e austera, prepondera dentro de relações de ordem obtidas interativamente entre demandas do programa e solução construtiva, reverentes à universalidade, tanto pela intelecção visual e abstração quanto pelo desapego à fidelidade estilística de uma ou outra escola. Piñon afirma que: “Não há liberdade sem normas”, repetia uma ou outra vez Le Corbusier [...]. A própria possibilidade de conceber um objeto antes inexistente – dotado de uma finalidade intrínseca, alheia à coação de Sergio M. Marques 445 Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 FAM, Fig. 9 - Edifício FAM pavto. térreo, F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. princípios absolutos – satisfaz o impulso liberal da arquitetura moderna: a condição da ação subjetiva no projeto de arquitetura é a necessária disciplina que assume a forma de sua constituição. É portanto no âmbito do sentido onde se situa a noção de liberdade que aqui se contempla: resulta mais livre eleger entre duas opções, tendo consciência do que se deixa, que 8 optar entre infinitas possibilidades cujas diferenças de sentido não se alcançam a vislumbrar. O Edifício (ou casa) FAM tem no partido preponderâncias de razão normativa que determinam composição volumétrica elementar e solução funcional eficaz, tanto pelo sentido da disposição das funções de maneira articulada a sistema de circulação anelar (Fig.7)– conecta todos os setores da casa em um circuito fechado, análogo à perimetral urbana – quanto pelo esmerado e minucioso desenho dos equipamentos incorporados à construção, organizados dentro de ordem espacial intimamente integrada à solução estrutural do edifício e consequentes sistemas construtivos (Fig.8). A conjunção desses elementos a um sistema formal tendente à abstração, em particular às vertentes neoplasticistas do chamado “Estilo Internacional”, em que pese 8 Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 FAM. Fig. 10 - Edifício FAM Acima, pavto. térreo, projeto original. Abaixo, lay-out com legendas. Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. presença maciça e despudorada de elementos vernaculares, determina, neste caso, além da clássica decomposição do volume em planos, a particularização visual dos elementos que integram a construção: vigas, pilares, lajes, fechamentos, aberturas e componentes obedecem a certa lógica formal, na Ver: PIÑON, Hélio. La forma y la mirada . Buenos Aires: Nobuko, 2005. p. 100. 446 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: Fonte: Foto Sergio Marques, 2011. 1950/1970 Capítulo IV Fig. 11 - Casa Schröder, Gerrit Rietveld, 1924, Utrech - Holanda. qual a autonomia estética e, consequentemente, construtiva de cada item é exercitada com rigor, desde a estrutura formal totalizadora do edifício até detalhes específicos, perfazendo um lego rigoroso de apurado senso dimensional, funcional, formal e construtivo. Piñon, nesse sentido, igualmente contribui com a observação que: Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 A tectonicidade é uma condição da forma arquitetônica que aporta uma ordem ao material – prévia ao arquitetônico – de que a arquitetura se nutre. Garante a verossimilhança física do artefato e se rege por critérios de autenticidade. Não se alcança por mera expressão de procedimento construtivo nem se orienta a uma ideia de verdade como transparência, sim que é a noção de 9 coerência seu horizonte sistemático. O edifício, de volumetria normatizada, implantado em lote de quatorze metros e meio de frente por trinta metros de profundidade, obedece ao recuo de jardim, de seis metros, estabelecido no projeto urbanístico da Praia de Belas, suficiente para automóveis, com balanço das vigas longitudinais de um metro e meio e de lajes de um metro sobre este recuo (Fig.1). O pavimento térreo simula base para o corpo do edifício, projetado em balanço, através de plano de madeira contínuo, configurado pelos portões de madeira das garagens, disposto de divisa a divisa (Fig.9). Os portões de correr, feitos com estrutura de aço e fechamento lateral de tábuas de dez centímetros de largura e dois metros de altura – originalmente aparentes, protegidas com verniz naval, posteriormente pintadas de café escuro – acentuam a ideia de recesso sobre o qual flutua o bloco superior (Fig.4). Este plano, composto de quatro portões de garagem de automóveis – três fechando os pilotis, um o pátio lateral e a porta de acesso ao hall do edifício, são suspensos na parte posterior por viga metálica que dispõe de trilhos para o sistema corrediço (Fig.13.3). A peça metálica, por sua vez, é suspensa pelo balanço das vigas do entrepiso. Com o 9 FAM. Fig. 12 - Edificio FAM Fachada oeste. Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Idem: p. 101. Doutorado espaço entre a viga metálica e a laje, correspondente à altura das vigas longitudinais em balanço, fechado por transparência, se acentua a ideia de planos sobrepostos, como um castelo de cartas (Fig.13.5). O térreo do FAM , FAM, portanto, é composto por uma espécie de pilotis disfarçados, onde se encontra, em toda a extensão para a rua, a garagem de automóveis (Fig.10). Lateralmente, uma pequena laje em balanço assinala e convida, no painel contínuo de madeira, a entrar na casa (Fig.6). Na verdade, a ideia de bloco, recorrente na denominação dos edifícios vizinhos, é rompida pela citada decomposição do volume em planos. A configuração cúbica da volumetria edilícia do prédio é diluída no acento dos elementos que constituem sua natureza designados pelas vigas aparentes, fachada venezianada, alvenarias rebocadas e paredes de concreto, que ora constituem planos independentes, ora se descolam nas intersecções em um jogo visivelmente De Stijl Sergio M. Marques 447 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS FAM, Fig. 13 - Edifício FAM estudo do sistema de venezianas, fachada principal (coord. Cláudio Araújo), F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Fonte: Fotos Sergio M. Marques, 2000, Guilherme Werrle, 2000. Acervo FAM FAM, Fig. 13.1 - Edifício FAM Venezianas, fachada principal, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. 448 Fonte: Guilherme Werle, 2000. Acervo FAM Fonte: Acervo FAM FAM, Fig. 13.2 - Edifício FAM fachada oeste, fachada principal, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fig. 13.3 - Edifício FAM, detalhe dos portões das garagens, fachada principal (coord. Moacyr FAM Moojen), F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. FAM, Fig. 13.5 - Edifício FAM portões das garagens, fachada principal (acima, Suzy Fayet, Abaixo, Mary Suzana e Lúcia Araújo), Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Fonte: Fotos João Alberto da Fonseca, Acervo FAU UniRitter. Fotos Leopoldo Plentz, Acervo FAM FAM, Fig. 13.4 - Edifício FAM relação das venezianas da fachada principal com a sala de estar (apto. Araújo), F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 449 Fonte: Guilherme Werle, 2000. Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 FAM, Fig. 14 - Edifício FAM relação da estrutura com a fachada principal, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. FAM, Fig. 15 - Edifício FAM relação da estrutura com a fachada principal, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. com raiz nas teorias de Theo van Desbourg e nos projetos de Rietveld, em 10 Utrech, na década de 1920 (Fig.11) . A composição volumétrica do térreo do edifício visto do espaço público, então, pode ser descrita assim: na base um plano de madeira entre medianeiras. Entre esta base e o corpo projetado do edifício, o negativo entrecortado por planos (vigas) que se projetam mais além torna leve a caixa superior: além de abandonar o sistema laje pilar do sistema dom-ino corbusieriano, delega à viga papel formalmente protagonista (Fig.8), tanto como peça dimensional quanto compositiva. A organização funcional dos apartamentos, como em uma ringstrasse doméstica, conectando perimetralmente as diferentes zonas de uso, pressiona a envolvente do edifício de maneiras distintas, diferentemente do caráter homogeneizante de obras racionalistas, como na vertente miesiana de Lake Shore Drive. As pressões internas, neste caso, condicionam as interfaces com o 10 Neste sentido, em uma possível conexão com o manifesto produzido pelas casas canônicas do Movimento Moderno, esta teria como origem a Casa Shröeder, de Gerrit Rietveld, via Mies Van der Rhoe, Richard Neutra e os americanos da Costa Oeste, mais que as usuais relações com Le Corbusier, tanto pelo sistema formal sintetizado pioneiramente nesta obra basilar, quanto pelo critério investigativo das possibilidades dos espaços flexíveis, origens da planta livre; da estrutura resistente como agente ativo na solução de equipamentos; da dissolução das circulações e acessos em múltiplas possibilidades e fundamentalmente no sistema formal e funcional de planos e elementos autônomos como elementos de arquitetura. Neste sentido, a análise que Bruno Zevi faz da obra de Mies parece ser a mais pertinente ao caso. Ver: ZEVI, Bruno. La poética de la arquitectura neoplástica. El Linguaje de la descomposición cuatridimensional. Buenos Aires: Editorial Victor Lerú S.R.L, 1960. exterior de formas distintas, correlacionando funções específicas do uso doméstico com as variações do ambiente urbano, o sol, a luz, o reflexo e as sombras. Como uma espécie de engrenagem, a epiderme do FAM oferece um rol de dispositivos ativos no fluxo de trocas entre ambiente interno e externo, permitindo em cada cômodo e orientação propriedades de controle muito sensíveis e composição formal decorrente apurada. Desta maneira, é possível explicar o projeto e suas razões formais de fora para dentro. 11 No plano oeste, face voltada ao aterro, outrora visando ao rio (Fig.12) , o uso do brise-soleil e o ajuste dos planos de fachada às condicionantes climáticas são provenientes de um caráter arquitetônico nacional, valorizado pela elite artística dos anos 30 e 40, que buscava “acomodar a internacionalização moderna à paisagem local [...] combinando avanço 12 tecnológico à materialidade e formas tradicionais” . Lúcio Costa, ao descrever suas propostas para a Universidade do Brasil, em 1936, destacava dentre as características do projeto, “[...] – um caráter local inconfundível, cuja simplicidade, derramada e despretensiosa, muito deve aos bons princípios das Posteriormente, com as citadas mudanças da legislação urbanística, o bairro foi alterado com a inserção de edifícios públicos de maior altura, como o Fórum Central de Porto Alegre, construído entre a Rua Vicente de Paula Dutra, onde está o FAM, e o rio, obstruindo o sol do poente. 12 PEIXOTO, Marta. Sistema de proteção de fachadas da escola carioca de 1935 a 1955. 1955 [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: UFRGS, 1994. p. 11-13. 11 450 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Fotos Sergio Marques, 2011 Fig. 16 - À esquerda, Edifício Lausanne, Franz Heep, 1958. À direita, Edifício Albina, Alberto Botti e Marc e Marc Rubin, 1962, Higienópolis, São Paulo-SP 13 Fonte: Fotos Sergio Marques, 2011 velhas construções que nos são familiares” . No Edifício FAM, a fachada principal (Fig. 13) traz a fisionomia da porosidade, em um prédio cuja verdadeira face é a da transparência, da estrutura de concreto aparente e pele de vidro. A máscara, composta de venezianas que se movimentam verticalmente através de contrapesos (Fig.13.3), combina composição moderna com a tradição do muxarabi mouro aportado no Brasil via arquitetura lusa, e cria em toda a extensão da face principal um espaço poché (Fig.13.1), tradicional nas varandas da casa rural brasileira, que por transparência abre-se ao espaço de estar 14 (Fig.13.4) . A correlação entre o partido arquitetônico adotado, modulação estrutural e sistema construtivo é determinante na geração desse espaço como resultante de interfaces entre espaços externos e internos que se relacionam Fig. 17 - À esquerda, Edifício Louveira, João B. Vilanova Artigas, Carlos Cascaldi,1946-50, Higienópolis, São Paulo-SP. À direita, Edifício Angel Ramirez, Irmãos Roberto, 1954, Copacabana, Rio de Janeiro-RJ. COSTA, Lúcio. Universidade do Brasil. In: CENTRO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DE Costa: ARQUITETURA. Lúcio Costa sobre arquitetura. Porto Alegre: CEUA, 1962. p. 85. 14 Neste sentido, os terraços fronteiriços do FAM podem ser relacionados tanto com os filtros e espaços de intermediação que Lúcio Costa utilizou em diversas oportunidades, como no Parque Guinle (1948-1954), quanto em suas observações em relação à casa colonial brasileira. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 13 em diferentes combinações: elementos estruturais que se prolongam, planos de fechamento que se movimentam. O plano principal de fachada, constituído de superfície rendilhada pelo sistema de venezianas que cobre integralmente a face oeste do edifício na altura, deixa livre o topo das alvenarias das laterais, anunciando a independência destes planos tanto do ponto de vista formal quanto estrutural. Desta superfície tramada pelas peças de madeira, emergem os planos das vigas longitudinais por entre duas aberturas verticais – como um hiato na modulação dos panos de venezianas (Fig.13.1) (dois vãos de três metros e um de quatro no meio, Fig.12), que evidenciam delicadamente a espessura da capa venezianada e sutilmente a ausência dos pilares em recesso – e nas laterais, em continuidade com a separação entre estrutura e fechamentos laterais das fachadas norte e sul. A estrutura é definida pelo balanço das vigas longitudinais, que se projetam para fora tornando-se visíveis no exterior, nas quais estão apoiadas, em três lados, as lajes de entrepiso, com a estrutura metálica vertical dos painéis venezianados fixa nas faces livres (Fig.14). Internamente, com recuo de dois metros, outra pele, esta de vidro, faz o fechamento propriamente dito Sergio M. Marques 451 Fonte: Fotos Sergio Marques, 2009, GAETA, Julio (Org.). Luis Garcia Pardo - monografias elarqa 6. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 2000, p. 83 Fonte: Fotos Sergio Marques, 2010 Fig. 18 - À esquerda, Edifício Panorama, Irmãos Roberto, 1969, Ipanema, Rio de Janeiro-RJ. À direita, Edifício Chiloé, Luiz Garcia Pardo, 1958, Pocitos, Montevidéu. Fig. 19 - À esquerda, Edifício da Calle Johann Sebastian Bach, 1957-1961. À direita, Edifício da Barceloneta, 1952-54, Josep A. Coderch, Barcelona - Catalunha. da fachada, com ampla caixilharia também de madeira e vidros amplos, de 15 partes móveis e montantes leves (Fig.15). Solução semelhante, com sistema de filtros regulando a interface e ordenando a expressão plástica da arquitetura, foi adotada com qualidade em diversos edifícios paulistas contemporâneos. No Bairro Higienópolis, em São Paulo, reincidente em prédios de habitação coletiva de qualidade predominante, 16 realizados entre o final dos anos 1940 e os anos 1960 , destacam-se os 17 edifícios Lausanne (1958), de Adolf Frans Heep (1902-2002) , com sistema de Esquadrias externas de veneziana de madeira pintadas e internas de madeira envernizada, igualmente produzidas pela Esquadrias Sheid Ltda., com grande qualidade na execução dos detalhes. 16 Sobre o Bairro Higienópolis em São Paulo, ver: MACHADO, Lúcio Gomes. Arquitetura do século Higienópolis: XX no bairro Higienópolis identificação, tombamento e proteção urbanística. Disponível em: Acesso em 10 mar. 2012, às 16h 36min. 17 Ver: BARBOSA, Marcelo. Do público ao privado: a habitação coletiva na obra de Franz Heep. Projetodesign odesign, Arco Editorial, São Paulo, n. 272, set. 2002. Disponível em: Projetodesign 15 venezianas de madeira coloridas na fachada norte (Fig.16), e os sistemas de painéis móveis do Edifício Albina (1962), de Alberto Botti e Marc Rubin (Fig.16). Todos, de alguma forma, filiados ao pioneiro Edifício Louveira (1946), de 18 Vilanova Artigas, com venezianas de contrapeso metálicas (Fig.17) e, por outro lado, a recorrência no uso de "filtros", seja na profundidade da fachada, na utilização de elementos vazados, brises ou venezianas, da arquitetura carioca, em especial no campo da habitação, dos Irmãos Roberto. Bastante admirados pelos arquitetos gaúchos, em especial por Moojen, o conceito foi adotado em diversos projetos do período, como no Edifício Angel Ramirez (conhecido como "raiz quadrada") (1954), em Copacabana (Fig.17), ou no Edifício Panorama (1969), em Ipanema (Fig.18). O uruguaio Luis García Pardo adotou o sistema com contrapeso nas fachadas leste e norte no Edifício Chiloé (1958) (Fig.18), . Acesso em 14 de fev. 2010, às 14:36min 18 Ver: GALESI, René; CAMPOS, Cândido Malta. Edifício Louveira: Arquitetura Moderna e qualidade urbana. 5º Seminário DOCOMOMO Brasil – Arquitetura e urbanismo modernos: projeto e preservação. Disponível em: . Acesso em 10 mar. 2012, às 16h28min 452 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: . Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 FAM, Fig. 21 - Edifício FAM fachada norte. F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Fig. 20 - À esquerda, Torre Plaza de Armas, Sérgio Larrain G. M., Emilio Duhart, Jaime Larrain e Osvaldo Larrain 1955, Santiago do Chile. À direita, Setor Residencial da Cidade Universitária Armando Salles, Eduardo A. Kneese de Mello, Joel Ramalho Jr. e Sydney de Oliveira, 1964, São Paulo-SP. assim como Coderch, em Barcelona, o utilizou em diversas oportunidades, como nos edifícios da Barceloneta (1952-54) (Fig.19) e da Calle Johann Sebastian Bach (1957-1961) (Fig.19)19. A ideia de fachada filtrada por elementos venezianados móveis foi também adotada por Sérgio Larrain G. M., Emilio Duhart, Jaime e Osvaldo Larrain, com painéis corrediços na fachada oeste do Edifício Torre Plaza de Armas (1955), em Santiago (Fig.20), e se destaca o paralelismo com a solução de Eduardo A. Kneese de Mello, Joel Ramalho Jr. e Sydney de Oliveira no Setor Residencial da Cidade Universitária Armando Salles (1964) (Fig.20) e o Edifício da Calle Arcos, de Juan Molinos (1965) (Fig.41). Dessa maneira, a intermediação interior e exterior ameniza-se, filtrada à insolação potente do sol que se põe no rio em verões tórridos de forte umidade fluvial, criando um espaço de luz cálida retificada horizontalmente pelos 19 Projetos consagrados de Josep Antoni Coderch i de Sentmenat (1913-1984) e Manuel Valls. Ver: PIZZA, Antonio; ROVIRA, Josep M. Coderch, 1940-1964. A la recerca de la llar. Barcelona: Actar, 1940- 1964 2000. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado pequenos extratos das venezianas – os mesmos que permitem a saída de ar circulante, que desde as áreas íntimas da fachada leste, orientação dos ventos predominantes de verão em Porto Alegre, através da circulação e áreas de serviços, vem desde o oceano, a dezenas de quilômetros, e percorre a varanda, em forma de brisa refrescante, em direção ao rio e ao continente, local pseudotropical de muitos encontros familiares, entre novembro e março, no anoitecer morno do paralelo 30. No inverno, venezianas abertas configuram janela em fita rasgada de lado a lado. Com um metro e vinte centímetros de altura e toda a extensão, o sol da tarde adentra radiante pela transparência do vidro, inundando a sala de estar e jantar de calor bem-vindo (Fig.13.4). Vidros deslizantes na parte inferior e superior da caixilharia de vidro, gabaritada pela altura da viga, permitem aberturas reguláveis para ventilação de conforto, higiênica e alívio da umidade. Espaço intermediário com o exterior como sistema de regulagem de luz e ventilação foi ainda igualmente utilizado por Raul Sichero Bouret no Edificio de Viviendas Champs Elysees (1983), em Montevidéu. No FAM, no entanto, a difícil conservação do calor interno, nas noites longas, frias e úmidas do inverno gaúcho, na face vítrea, é amenizada por cortinas que simultaneamente oferecem privacidade, mas o problema não é resolvido de todo. Os Fayet Sergio M. Marques 453 Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 FAM, Fig. 22 - Edifício FAM relação da estrutura com a fachada norte, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Fonte: Guilherme Werle, 2000. Acervo FAM FAM, Fig. 22.2 - Edifício FAM relação da estrutura com a fachada norte, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Fonte:, Guilherme Werrle, 2000. Helio Piiñon, 2009, Sergio M. Marques, 2009. Acervo FAM FAM, Fig. 22.1 - Edifício FAM Área de Serviço e Cozinha, aptos. Moojen e Araújo, F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. 454 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Acervo FAM Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 FAM, Fig. 23 - Edifício FAM detalhamento balcões da cozinha (Coord. Araújo, Col. Carlos E. D. Comas), F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. FAM, Fig. 24 - Edificio FAM corte transversal perspectivado. Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. incorporaram, mais tarde, uma lareira armando a chaminé pela face externa da fachada sul. A raújo adotou a solução “argentina” de calefação através de sistema central, que pela carga térmica necessária apresenta custo considerável. Moojen criou área de estar de inverno, no quarto de um dos filhos já casado. Nem todo o Brasil é tropical o ano inteiro, como o Rio de Janeiro. A fachada norte (Fig.21), talvez a mais neoplástica de todas, como na Casa Schroeder, mas ao contrário, de um certo formalismo exterior de Rietveld, o jogo de planos habilmente obedece às relações funcionais das cozinhas e áreas de serviço posicionadas nesta orientação. As vigas longitudinais são interrompidas, no avanço do volume que abriga as funções de serviço, pelas vigas transversais, e não tendo continuidade, abrem fenêtres en longueur de iluminação e ventilação de higiene e conforto. Assim, sobre três vigas transversais, em uma espécie de giro visual da estrutura do edifício, como na fachada principal, onde as extremidades se projetam para fora, apoia-se o plano de concreto dos balcões de cozinha e área de serviço, que na verdade é a viga invertida da laje de entrepiso e estrutura do balcão longitudinal que se prolonga em toda a extensão. Esses balcões, externamente, por sua vez, se Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado prolongam levemente nas extremidades se descolando do plano estrutural ortogonal à fachada, que encerra o canto, alterando a ideia de caixa rasgada pela janela horizontal de cantos transparentes para o jogo de planos. Logo acima da janela baixa, com vidros temperados de correr sem caixilhos, sobre o balcão, novo plano de concreto – menor, que compõe a retaguarda da viga em “C” dos armários aéreos, suspensa pela viga transversal, no meio do vão, e apoiada nas extremidades novamente por plano estrutural, ortogonal à fachada, que na verdade é prolongamento do pilar – integra o manejo de superfícies opacas e transparentes, articulado entre planos exteriores, resultantes de equipamentos internos e aberturas, em engenhosa solução estrutural (Fig.22). Fecha a operação formal, como um código de barras, nova abertura entre as vigas transversais, análoga à abertura entre corpo e base da fachada oeste, junto à laje do entrepiso, possível graças à inversão da viga do balcão. Os planos constituem um sistema ABCD (Fig.22.2), que se repete nos três pavimentos, concluído por um pequeno plano no nível da cobertura que encabeça a laje e a impermeabilização. A fachada norte, como a oeste, também se divide em três partes, duas cegas – com vigas de concreto aparente e planos de fechamento lateral de alvenaria, reboco grosso e pintura acrílica branca, com sete metros de Sergio M. Marques 455 Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 FAM, Fig. 25 - Edificio FAM fachada sul. Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. comprimento, correspondente à sala e varanda à frente, e cinco metros, correspondente à ala íntima aos fundos – e a dos serviços, descrita acima, no meio. Vigas de concreto de doze centímetros de largura e sessenta de altura igualmente fazem um pequeno jogo de volumes com as alvenarias externas, de vinte e cinco centímetros de espessura e dois metros e dez de altura, balançando, portanto, seis centímetros e meio para o exterior, em relação à viga. Essa talvez seja a face de mais engenhosa articulação entre a solução estrutural do edifício, o mobiliário como peça de construção e a envolvente como camada espessa ativa no controle ambiental das exigentes funções de serviço da habitação. Examinando essa fachada em corte transversal, temos o balcão da cozinha, área de serviço e os armários aéreos, construídos com a edificação e conjugados à estrutura do edifício, filiados ao conceito de façade epaissse (Fig.22)20. Os balcões integrados à viga invertida são construídos conjuntamente com paredes de concreto dispostas em intervalos regulares para apoiar a bancada e prateleiras internas. Os armários aéreos estruturados pela viga em “C”, a um metro e quarenta centímetros do piso, vencem o vão do intercolúnio transversal do edifício, criando, além de espaço para armazenagem e exaustão do fogão, de certa maneira, proteção horizontal para penetração do sol de verão pelo vão remanescente entre sua base e o balcão inferior e entre o seu dorso e a laje de entrepiso superior (Fig.22.1, 23). Desta maneira, restam à 20 Expressão francesa recorrente utilizada para designar o conceito de “fachada espessa”, na qual a profundidade do plano de fachada abriga diversas funções. 456 Fonte: . LLOBERA, Teresa Rovira. (Org.). Documentos de arquitectura moderna en América Latina – 1950-1965. Tomo 4. Barcelona: Ediciones UPC, 2007, p. 416. Fig. 26 - À esquerda, Residência Antônio Carlos Cunha Lima, Joaquim Guedes, 1958-1963, São Paulo-SP. À direita, Unidad Jonh F. Kennedy, Mario Pani, 1962, Cidade do México. marcenaria apenas prateleiras e fechamento frontal dos armários, resolvido por trilhos de alumínio chumbados no concreto dos balcões, por onde deslizam painéis de fórmica feitos sob medida, solução utilizada por Araújo na arquitetura de interiores de alguns apartamentos. Além da leveza obtida pela “flutuação” do armário aéreo de concreto, as aberturas liberam-se de bastidores, rasgando-se em fitas longitudinalmente ao longo de toda a fachada. A inferior, logo sobre o balcão, projeta luz sobre o plano de trabalho da bancada; a superior, para os níveis laterais mais profundos da cozinha e área de serviço que, como espaço longitudinal, agrega, em forma de pente, a copa, a entrada de serviço, um quarto de empregada e o banho de serviço. Originalmente, essas fenêtre en longueur eram fechadas por elementos mínimos, na forma de um pequeno perfil metálico com duas calhas na face inferior e superior do vão, revestidas de feltro, por onde se movimentavam, a partir de ação mecânica do usuário, panos de vidro sem caixilhos. Posteriormente, esse sistema, por questões de segurança, foi substituído por basculantes de alumínio. Longe, portanto, da ideia de um muro com aberturas, a fachada norte vai mais além, reunindo plasticidade e tectonicidade em uma mesma equação. Fachadas sul e leste mantêm o sistema de vigas e fechamentos intercalado por aberturas consequentes das diversas funções e particularidades dos apartamentos. A fachada sul (Fig.25), a mais abstrata e opaca de todas, faz um jogo de aberturas de certa casualidade formal, determinado aparentemente pelas especificidades de uso de cada cômodo e de cada pavimento que se abre para esta orientação, mas que na verdade coordena jogo formal abstrato análogo tanto ao brutalismo de Le Corbusier na Capela de Notre-Dame-duHaut (1950-1955) e Mosteiro Dominicano La Tourrette (1955/1957), quanto à tradição de frugalidade formal da arquitetura moderna portuguesa, FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 FAM, Fig. 27 - Edifício FAM fachadas sul e leste, F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Fonte:, Fotos Sergio M. Marques, 2009. Acervo FAM FAM, Fig. 27.1 - Edifício FAM Gabinete e Toucador, apto. Moojen, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Doutorado Sergio M. Marques 457 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Foto Guilherme Werle, Acervo FAM FAM, Fig. 27.2 - Edifício FAM Gabinete, apto. Araújo. Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010.http://www.flickr.com/photos/12916475@ N00/219527062/sizes/o/in/photostream/ Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 FAM, Fig. 29 - À esquerda, Edificio FAM fachada leste, balcões dos dormitórios. Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. À direita, Casa em Ouro Preto-MG. FAM, Fig. 28 - Edifício FAM fachada leste, F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. contemporaneamente explorada por Eduardo Souto de Moura . O sistema formal/construtivo de estrutura aparente, alvenarias rebocadas brancas, salientes da espessura da estrutura, e aberturas angulares dispostas de acordo com a função, foi utilizado recorrentemente na arquitetura paulista, em especial 21 Fazendo referência à fachada leste da capela de Ronchamp e ao pátio interno do mosteiro em Eveaux-sur-Arbresle. Por uma via intermediária, ainda se poderia falar na fachada sudoeste da casa Cunha Lima (1958), mas principalmente no paralelo formal com a casa Casa Guglielmo (1968), de Joaquim Guedes, e do brutalismo paulista disseminado, como nos Bloques Alvear y Entre Ríos (1967), de Eduardo Larrán, em Salta (ver Fig.). Em outra direção, na arquitetura lusa, além do edifício onde Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura partilham condomínio, a casa na Avenida Boa Vista e a Casa da Rua Castro, igualmente de Eduardo Souto de Moura, ilustram este caminho miesiano de raiz plasticista na origem, mas sem ortodoxias, sensível às especificidades do problema e às evocações do lugar (ver Fig.). 21 nas obras de Carlos Milan e Joaquim Guedes, mas também em paralelos latinoamericanos, como na Unidad Jonh F. Kennedy (1962), de Mario Pani, na Cidade do México (Fig.26). A face estratificada horizontalmente pelos planos brancos de alvenaria rebocada branca, crua, e vigas de concreto aparente é polvilhada por aberturas de pouca ou nenhuma caixilharia, pautadas pela verga determinada pela face inferior da viga, com diversos tamanhos e formas, como roupa no varal. Horizontais de pouca altura e peitoril alto para os banheiros, verticais e pouco comprimento para os toucadores, retangulares para os gabinetes de Moojen e Fayet, horizontal de peitoril baixo para o gabinete de Araújo, perfazem um jogo compositivo abstrato de elegante relação topológica (Fig.25). Fayet e Moojen compartimentaram o gabinete em relação à sala de estar, e ali armam uma mesa de trabalho com dimensões semelhantes às da janela sul que as ladeia, de forma que mesa e janela formam uma espécie de épura (Fig.27.1). Com a luz difusa do sul, sem aporte solar direto em nenhum momento do ano, entrando à esquerda do plano de trabalho, se estabelecem condições ideais para escrever e desenhar, como ainda faz Moojen, que adaptou prancha de desenho móvel sobre a mesa. No apartamento de A raújo, a opção foi conjugar o gabinete como área de extensão do living, embora ali também haja uma mesa de trabalho. A abertura segue como iluminação da área de trabalho, mas mais horizontal, e permite – com complementação de iluminação artificial, através de luminária de aço projetada em balanço a partir da verga da abertura – maior contemplação da paisagem (Fig.27.2). Os sanitários social e íntimo agrupam-se em uma mesma abertura alta, rasgada junto à viga, com sistema de abrir semelhante ao das cozinhas, com perfis e panos de vidro sem caixilho. Por fim, as pequenas aberturas, em forma de rasgo vertical, dentro dos dormitórios de casal, coincidem com o boudoir, especificamente sobre a penteadeira, ao lado do espelho, de forma a projetar luz difusa no rosto das senhoras (Fig.27.1). A face leste (Fig.28), ao contrário da configuração planar e homogênea obtida na principal, por veneziana e varandas, apresenta seu retrato mais 458 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte:, Fotos Sergio M. Marques, 2009. Acervo FAM. Desenho Sergio M. Marques, 2010. Fonte:, Fotos Sergio M. Marques, 2009. Acervo FAM Fonte:, Fotos Sergio M. Marques, 2009. Acervo FAM FAM, Fig. 30 - Edifício FAM fachada leste, aberturas dos dormitórios, apto. Moojen, F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Doutorado Sergio M. Marques 459 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 Fig. 31 - Edifício FAM, estrutura, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. FAM imediato de escala doméstica e relações de intimidade. A fachada dos dormitórios, com a mesma pauta e mesma estratificação, adota sistema formal distinto, organização tradicional e composição acadêmica. As aberturas são rasgadas verticalmente de viga à viga; moduladas no cento do vão de cada cômodo, por conveniência funcional, ordenam a fachada em sistema dimensional regular, que associadas aos pequenos balcões metálicos – em forma de púlpitos – de cada quarto, fazem explícita relação com a tradição 22 barroca da arquitetura brasileira (Fig.29) . Fayet, por questões de segurança, não seguiu a solução das sacadas, optando por esquadrias de desenho tradicional, o que, de certa maneira prejudicou o desenho geral do conjunto externamente, mas oportunizou mais áreas de mobiliário junto ao peitoril internamente, em seu apartamento. Para os três dormitórios – originalmente para casal, duas filhas e a mãe de Suzy Fayet – janelas com duas folhas de correr e persiana plástica de rolo, mais próxima do convencional, com um metro e vinte centímetros de altura, verga junto à viga de concreto à vista, interna e externamente, propicia peitoril de oitenta centímetros ocupado fartamente por mobiliário de apoio dos dormitórios. Moojen e A raújo mantiveram a ideia conjunta do pequeno balcão de púlpito. Uma estrutura diminuta de ferro tubular chumbada às alvenarias, Julio Nicolau Barros de Curtis, ex-professor de Arquitetura Brasileira da FA-UFRGS e expresidente do IPHAN – Pró-Memória, vizinho do FAM, na época de construção do edifício, faz essa relação. Ver: CURTIS, Julio Nicolau Barros de. Vivências com a Arquitetura Tradicional do Brasil Registros de uma Experiência Técnica e Didática. Porto Alegre, Editora Ritter dos Reis, 2003. 22 460 Fonte: Desenho Sergio M. Marques, 2010 FAM, Fig. 32 - Edifício FAM estrutura, pavto. tipo, F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. com piso de tábuas, como nos sobrados coloniais, criou mais um guarda-corpo externo que uma varanda, apesar de permitir o acesso, oportunizando a abertura integral das folhas móveis das aberturas, desde a viga até o chão, sem peitoril fixo (Fig.30). A opção de troca deste espaço mobiliável interno pela comunicação mais franca dos dormitórios com o exterior, diferente das casas coloniais, ao abrir-se ao pátio interno do lote e não à rua, cria espaço favorável à contemplação introspectiva e à exposição ao sol da manhã, desejável no inverno em dias secos do clima temperado do sul. A caixilharia de correr, com folhas venezianadas e folhas envidraçadas, esconde-se em painel interno dos dormitórios. Um detalhamento criterioso das esquadrias, recorrente na arquitetura moderna brasileira dos anos 1950 e 1960, dota essas aberturas de mecanismos eficazes nas operações de controle de luz, sol, ventilação, sombreamento e privacidade desempenhadas pela aberturas (Figs.30). Externamente, duas folhas de correr venezianadas, com uma espécie de postigo em cada uma, permitem o obscurecimento total ou parcial da entrada de sol pela manhã, com possíveis combinações intermediárias de luz, semelhante ao sistema adotado por Antonio E. Pergoemt no Edifício Copacabana (1961-65), em Rosário, Argentina. Pelo lado interno, duas folhas de correr de vidro oferecem também ampla regulagem do volume de ingresso de ar. Ambas as folhas, vidro e venezianas, podem desaparecer integralmente sob painel de madeira justaposto às alvenarias pelo lado interno (Figs.30). Finalmente, duas cortinas de correr, em trilho fixo no painel de madeira, arrematam as condições de manuseio de luz e calor, possibilitando, matematicamente, sessenta e quatro combinações diferentes entre elementos FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Acervo FAM FAM, Fig. 33 - Edifício FAM corte longitudinal, projeto original, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. abertos ou fechados integralmente, além das muitas graduações intermediárias. Dessa maneira, usuário e aberturas regulam luz, sombra e ar, exteriorização e introversão (Figs.30). Com esse conjunto de atributos, o edifício de Fayet, A raújo & Moojen, como uma engrenagem, dota a envolvente, resultante das pressões internas da vida domiciliar, de peças funcionais operantes na intermediação com o ambiente, mas, também, através destas soluções, de composição arquitetônica singular. O projeto do edifício organiza-se a partir de uma malha determinada pela estrutura de concreto moldado in loco, modulada em três crujias no sentido transversal e quatro no sentido longitudinal (Fig.31,32). O sistema dimensional da estrutura, com vigas à vista (e pilares esbeltos de mesma seção), de altura homogênea em todos os cômodos, estabelece o gabarito de altura para os panos de fechamento externos e internos, ora painéis móveis, ora planos texturizados. A legislação, na década de 1960 em Porto Alegre, sugeria o pé-direito de dois metros e oitenta centímetros, ajustado no projeto do FAM para dois metros e sessenta centímetros, regulando assim a estrutura de vigas Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Foto Guilherme Werle, Acervo FAM. FAM, Fig. 34 - Edifício FAM circulação vertical de uso comum, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. para a altura de cinquenta centímetros, mais dez centímetros de laje, dimensão adotada nos pilares (sessenta por doze centímetros de espessura) (Fig.33). Desta forma, fechamentos e aberturas gabaritados em dois metros e dez centímetros, mais os cinquenta centímetros de estrutura, definem o pé-direito de dois metros e sessenta centímetros adotado atualmente, dispensando 23 vergas sobre os vãos, recurso que, associado às dobradiças pivotantes , dispensou também golas, marcos e alisares para as aberturas, reforçando a composição formal de elementos e planos independentes. Os panos de fechamento, portanto, integram um repertório de materiais tais como alvenarias com reboco grosso pintadas de branco, texturizadas com salpique, desempenadas e pintadas com cor, tijolos à vista rigorosamente paginados na altura, painéis de madeira laminada, painéis móveis para as portas, todos gabaritados pela altura de piso a viga, sempre aparente. Como no funcionalismo dominante das casas paulistas, os apartamentos organizam-se de forma anelar, com a área de uso comum no 23 Fabricadas sob encomenda pela empresa Esquadrias Scheid, de Novo Hamburgo-RS, empresa de grande prestígio no setor. Sergio M. Marques 461 Fonte:, Desenho Sergio M. Marques, 2010, Fotos Helio Piñon, 2009 1 2 3 4 5 Fonte:, Desenho Sergio M. Marques, 2010, Fotos Helio Piñon, 2009 . Foto Guilherme Werle, Acervo FAM. 6 7 8 9 Fonte:, Desenho Sergio M. Marques, 2010, Fotos Guilherme Werle, Acervo FAM. Figs FAM, Figs. 35 - Edifício FAM sistema de circulações. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: 1. Entrada do Edifício; 2. Circulação de entrada de uso comum; 3 - Hall de entrada de uso comum; 4 e 5. Escada de uso comum; 6. Hall de entrada social dos aptos.; 7. Sala de Estar, apto. Moojen; 8. Circulação aptos.; 9. Hall dos quartos, apto. Araújo.; 10 Acesso Serviço dos aptos.; 11 Cozinha apto. Araújo; 12 Escada de 10. 11. 12. acesso a cobertura. Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. 10 11 12 462 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Acervo FAM FAM, Fig. 36 - Edifício FAM planta baixa, apto. Araújo, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. centro, espaço social à frente e ala íntima ao fundo. Ligando-as por um lado, a circulação principal, conectando banho e gabinete, por outro as dependências de serviço lineares permitem circulação perimetral. Moojen descreve a solução simples, da seguinte maneira: Visando propiciar maior flexibilidade na disposição interna dos apartamentos, por tratar-se de três proprietários arquitetos, optou-se pela adoção de estrutura de concreto armado, solução incomum para os demais prédios do setor. Na verdade, este procedimento foi inócuo, visto que os apartamentos, no final, resultaram praticamente iguais. A planta do pavimento tipo foi resolvida segundo um zoneamento muito simples, com a divisão do retângulo em quatro partes: a leste (fundos) os três dormitórios, ao oeste (frente) a ala social, ao norte cozinha e serviço, e ao sul gabinete e banheiros. A circulação vertical foi implantada na parte central, sendo que horizontalmente foi concebida para permitir, internamente, um caminho periférico ao corpo da 24 escada que acesse a todas as dependências do apartamento. Fonte: Foto Guilherme Werle, Acervo FAM. Na verdade o esquema espartano de distribuição das funções obteve resultado eficiente funcionalmente e flexibilidade de usos considerável. Com a centralização da circulação de uso comum (Fig.34), composta de escada e previsão de infraestrutura para elevador, o patamar em cada nível dá acesso a duas entradas com conexão à circulação anelar: a social, através de hall isolado da circulação, gabinete e sala de estar, através de portas, e a diária ou de serviço através de vestíbulo integrado à copa e cozinha. Portanto, sempre é possível entrar ou sair por uma ou outra, evitando os cruzamentos de funções, principalmente desde a ala íntima (Figs.35). As salas, de dimensões generosas, ocupando toda a face oeste do edifício, evidenciam visualmente as três crujias, através da presença formal das vigas longitudinais e pilares na varanda, visíveis através da transparência (Fig.37, 24 FAM, Fig. 37 - Edifício FAM Sala de Estar apto. Araújo, F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. MARQUES, Moacyr Moojen. FAM. Depoimento escrito. Cópia digitada. 20 out. 2010. FAM Doutorado Sergio M. Marques 463 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: . . Fonte: Fotos Helio Piñon, 2009 Fig. 39 - À esquerda, Casa Steiner, Adolf Loos, 1910, Viena. À direita, Casa Müller, Adolf Loos, 1930, Praga. FAM, Fig. 38 - Edifício FAM Sala de Estar, apto. Moojen, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto AlegreRS. 38). Os três apartamentos adotaram lay-out semelhante, com mesa de jantar junto à conexão da cozinha mais dois ambientes de estar correspondentes a 25 cada vão estrutural (Fig.37) . Nos três apartamentos, a face interna da sala, oposta à fachada principal, é conformada por painel contínuo de madeira laminada com jacarandá, interrompido apenas por trecho de parede de tijolos à vista que separa a sala da cozinha (Fig.40.1). O painel, desde o solo até a viga, incorpora as portas para o corredor e gabinete, no caso de Fayet e Moojen, criando uma superfície única que esconde igualmente a porta do bar (Fig.40.2), encaixado atrás do poço dos elevadores, e armário embutido que se abre para o hall (40.3), com uma formalidade semelhante a alguns interiores de Adolf Loos 25 A distribuição dos apartamentos entre os três foi consensual. Fayet, com filhos pequenos e face à presença dos sogros idosos, desejava o primeiro andar, por facilidade de acesso. Araújo, ainda sem filhos, tinha preferência pelo último. Moojen, normalmente avesso aos extremos, estava de acordo com apartamento do meio. (Fig.39). No apartamento de Araújo, o último módulo do painel não existe, integrando o gabinete com a sala, formando um “L” (Fig.27.2). O mobiliário, assim como alguns detalhes para a colocação de obras de arte, é distinto em cada caso. A sala dos Fayet tem aquele já referido despojamento germânico, com mistura de móveis feitos sob medida e aproveitamento sensível de mobiliário, utensílios e objetos de antepassados, outras moradias ou viagens. O resultado é relativamente frugal, mas bastante acolhedor e personalizado (Fig.44). Moojen intermedeia, através de seu senso prático, móveis desenhados sob medida, como os sofás, poltronas e mesas de apoio, com algumas peças de design, como a poltrona mole de Sergio Rodrigues e cadeiras Vassily de Marcel Breuer. Nesse sentido, se destaca o aparador que separa a sala de estar da de jantar, armado com réguas de madeira verticais que se apoiam no piso e se solidarizam com as vigas longitudinais, através de encaixe, suspendendo prateleiras flutuantes de vidro, reguláveis na altura por intermédio de sistema móvel de apoio articulado às réguas de madeira, e volumes suspensos do solo, com previsão de armazenagem de louçaria e faqueiro para o jantar, televisão e aparelhagem de som para o estar (Fig.40.4). Nas paredes do jantar, alguns detalhes previstos especialmente para obras de arte ou decoração, como o nicho para a escultura de Vasco Prado, maquete remanescente do projeto para a Casa de Maurício Sirotsky (Fig.40.5) e engrenagem de moinho, amparada por insert previsto na parede que separa a cozinha. O estar de Araújo, provavelmente o mais sofisticado dos três, mantém o mesmo critério, com coleção de peças de design mais variado, como o conjunto poltrona e puff de Charles e Ray Eames, alternados com peças 464 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte:, Fotos Sergio Marques, 2012 1 2 3 4 Fonte:, Fotos Sergio Marques, 2012 5 6 7 Fonte:, Sergio Marques, 201 Figs FAM, Figs. 40 - Edifício FAM detalhes. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: 1. Painel de madeira no apto. Moojen; 2. Bar ligado a sala através do painel, aptos Fayet, Araújo e Moojen; 3. Armário embutido no hall de entrada; 4. Cristaleira articulada a viga, apto. Moojen 5. Maquete para escultura da Casa Mauricio Sirotsky Sobrinho, Vasco Prado, Apto. Moojen; 6. Nicho para esculturas, apto. Araújo; 7. Cerâmicas de Pierre Prouveau, apto. Moojen; 8 e 9. Volume da cozinha; 10. Forno Embutido; 11. Ventilação dormitório de empregada. Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Doutorado Sergio M. Marques 465 8 6 9 10 11 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: GUTIERREZ, Ramón. Eduardo Larrán - Arquitectura Moderna en el Noroeste Argentino. Cedodal, Buenos Aires, 2007, p. 127. Fotos Sergio Marques, 2010. Fig. 41 - À esquerda, Casa Larrán, Eduardo Larrán, 1967, Salta-Argentina. No meio e á direita, Edificio na Calle Arcos, Juan Molinos, 1965, Belgrano, Buenos Aires. antigas, como a namoradeira barroca (Fig.37 e 43), cujo contraste com a laje de concreto à vista, pintada de branco, texturizada pelas guias de quinze centímetros da forma, as alvenarias gabaritadas de tijolos à vista e o piso de tábuas estreitas, faz forte paralelo à sala de estar da Casa Larrán (1967), de Eduardo Larrán, em Salta (tanto quanto a fachada do edifício da Calle Arcos de Juan Molinos, 1965) (Fig.41). No jantar, igualmente nichos fechados com vidros e iluminação interna expõem profusão de obras de arte, que também se espalham por toda a sala, onde se destacam diversas esculturas de seu amigo Chico Stockinger (40.6) e, mais recentemente, o cavalo suspenso na viga, de Caé Braga, onde Araújo projetou o suporte de fixação (Fig.42). O sentido de equipamentos incorporados à construção permeia todos os ambientes. Na copa/cozinha, que ocupa uma das crujias longitudinais, todos os três adotaram elemento central que abriga diversas funções e ordena o espaço, construído durante a obra. O conjunto, no apartamento de Moojen, formado de parede de alvenaria e de concreto, com alturas de dois metros e dez centímetros, apoia, conjuntamente com a parede próxima à porta de entrada, duas lajes, onde novo armário aéreo com sistema de fechamento idêntico ao da fachada norte é embutido. Na parte baixa, outra laje configura um balcão de apoio simultâneo ao ingresso e à mesa de comer, com gavetas e armários para os dois lados (Fig.40.8). Este elemento abriga ainda a geladeira, voltada para a mesa nos apartamentos de Araújo e Fayet (Fig.35.11 e 40.9) e para a entrada no de Moojen. Este “objeto” articulador também foi utilizado por Araújo em diversas arquiteturas de interiores realizadas anteriormente. Entre o vestíbulo de acesso à copa/cozinha e o quarto de empregada, novo espessamento da parede é realizado para abrigar equipamentos. Uma profundidade de aproximadamente sessenta centímetros é criada para abrigar forno embutido e despensa de um lado e roupeiro do outro (Fig.40.10). As áreas de serviço, lineares às cozinhas, abrigam quarto e banheiro de serviço, que ventilam através do forro e de grelha de ventilação que preenche longitudinalmente o espaço de cinquenta Fonte: Foto Sergio Marques, 2012 FAM, Fig. 42 - Edifício FAM escultura de Caé Braga, desenho do suporte e sistema de fixação na viga de Cláudio Araújo, apto. Araújo, 2010, Porto Alegre-RS. 466 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM FAM, Fig. 43 - Edifício FAM Sala de Estar, apto. Araújo, F ayet, Araújo & Moojen, 1964, Porto Alegre-RS. Fonte: Foto Sergio Marques FAM, Fig. 44 - Edifício FAM Sala de Estar, apto. Fayet, F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. centímetros entre paredes, portas e lajes, na altura das vigas (Fig.40.11). Com isso, a ventilação se dá sobre o plano de trabalho, através das ventilações higiênicas da fachada norte, sendo que todo o ambiente pode ser isolado da cozinha por porta transparente (Fig.22.1), assim como a luz penetra no dormitório e banho de serviço por esquadria idêntica . A ala dos dormitórios obedece a um esquema muito semelhante nos três apartamentos, com exceção das aberturas já retratadas. Abrem-se para um hall íntimo comum, com armário embutido coletivo, e todos incorporam seus próprios armários embutidos reaproveitando móveis existentes (Fig.35.9). Elementos de apoio são resolvidos com peças de marcenaria relativamente simples, para armar mesas de estudo, prateleiras e bancadas de apoio. Tanto Moojen quanto Fayet o fazem com painéis verticais e horizontais de madeira laminada, criando diversas configurações de estantes, balcões e anteparos. Araújo desenvolve sistema de cubos, abertos em uma das faces, igualmente de madeira laminada, com o fundo de cores variáveis, que compõem diversas situações. O dormitório principal é confortavelmente dimensionado, com banho separado do lavatório, de forma a criar um toucador em “L” (Fig.27.1), cujo apoio – parede de tijolos à vista – serve de anteparo visual para quem ingressa no cômodo. O dormitório de casal ocupa toda a crujia sul, com sua largura Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado equivalente à do gabinete e do banheiro social (Fig.45.3) conjugado à circulação, com exceção do Apartamento de Araújo, onde a parede de divisa com o segundo dormitório avança, desalinhando com a viga, para formar um nicho para gaveteiro sob medida (feito por Heinz Agte), no dormitório de casal (Fig.45.1), e uma prateleira alta no segundo dormitório (Fig.45.2). O banheiro íntimo é ladeado pelo closet (Fig.45.5), perfazendo a mesma dimensão, sendo que o box de um encaixa no do outro. Corredor, banhos, parte do dormitório de casal e hall dos quartos fazem um jogo de pés-direitos. Sobre eles há uma laje de forro rebaixada, perfazendo um pé-direito de dois metros e dez centímetros (Fig.45.6). Esse rebaixo, além de distinguir alturas entre áreas de ocupação transitória e permanente, abriga também equipamentos de infraestrutura. O rebaixo do corredor é, na verdade, um duto de condicionamento artificial, previsto para sistema centralizado. Através de shaft, que prevê a ligação vertical de fan coil, encaixado no armário do hall dos quartos (Fig.45.7), com chiller posicionado na cobertura do edifício, abaixo da casa de máquinas do elevador, o insuflamento horizontal de ar previsto era distribuído pelo corredor e hall para todos os cômodos, com exceção das áreas de serviço, com previsão de retorno através de grades na parte inferior das portas dos dormitórios (Fig.45.8). Os difusores de insuflamento, portanto, colocaram-se na linha neutra das vigas Sergio M. Marques 467 Fonte:, Fotos Sergio Marques, 2012 1 2 3 4 Fonte:, Fotos Sergio Marques, 2012, Acervo João Alberto, FAUUniRitter 5 6 7 8 9 10 Fonte:, Sergio Marques, 2012 11 12 13 14 Figs FAM, Figs. 45 - Edifício FAM detalhes. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: 1. Gaveteiro, suíte, apto. Araújo; 2. Prateleira alta, 2° dormitório, apto. Araújo; 3. Banho social, apto. Araújo; 4. Pilheta, banho social, apto. Moojen; 5. Closet, apto. Araújo; 6. Rebaixo de forro, suíte, apto. Araújo; 7. Fan-coil no hall dos quartos, apto. Araújo; 8. Grade das portas, retorno ar-condicionado, aptos Fayet, Araújo e Moojen; 11. 9. Grade de insuflamento do ar condicionado, apto Moojen; 10 e 11 Gabinete, apto. Moojen; 12. Gabinete, apto. Araújo; 13 e 14. Mesa do gabinete, apto. Moojen; F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. 468 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Foto Sergio Marques, 2012 FAM, Fig. 46 - Edifício FAM Hall de entrada do edifício, Fayet, Araújo & Moojen, 1964, Porto Alegre-RS. que bordejam toda a área do rebaixo (Fig.45.9). Essa diferença de altura, ainda, além de permitir luminárias embutidas e posicionamento de boilers elétricos de aquecimento de água, propiciou o rebaixamento do piso do box social, criando uma pilheta encaixada na própria construção (Fig.45.4 e 50). Os gabinetes revisitam intensamente a ideia de Rietveld ou Gio Ponti, de paredes ativas. Estante de alvenaria, executada na obra, na parede comum com o banho social e disposição neoplástica, oferece, no apartamento de Moojen, prateleiras e nichos variados, dimensionados sob medida, para incorporar sonorização, prateleiras para livros e armários para documentos (Fig.45.10). Na face oposta, laje de concreto alinhada à altura da verga configura armário aéreo semelhante ao executado em um dos quartos (Fig.45.11). Araújo e Fayet resolvem da mesma forma, porém adotando elementos de marcenaria (Fig.45.12). Moojen vai mais além, executando também a base de apoio da mesa de trabalho com prisma de concreto à vista, onde se encaixam gavetas de madeira e perfis metálicos horizontais que, chumbados à parede sul, sob a janela, criam o apoio para a superfície horizontal de madeira aparente, solta da parede por negativo (Fig.45.13). Todas as peças deviam ter autonomia formal e construtiva. O pavimento térreo também é organizado de maneira clara: estacionamentos à frente (Fig.48.1), área social ao fundo (Fig.47), área de serviços coletiva a norte, na prumada dos serviços dos apartamentos, e ingresso a sul, sob área lateral à zona de circulação dos pavimentos tipo. O Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Foto Helio Piñon, 2009 FAM, Fig. 47 - Edifício FAM Salão de Festas, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. edifício, implantado aproximadamente no centro do lote, reserva áreas semelhantes à frente, fundos e laterais, com recuo frontal para automóveis e pátio doméstico nos fundos. A entrada, na lateral sul, realizada neste recuo, valoriza visualmente tanto a circulação – realizada sob laje de concreto à vista, pintada, que cobre o percurso, executada a dois metros e dez centímetros de altura – quanto a conexão com o jardim (Fig.35.2). A laje, invertida em relação às vigas transversais apoiadas no edifício e muro de divisa, se descola do prédio, propiciando o ingresso de luz zenital farta até a posição onde o ingressante muda de sentido em direção ao hall do edifício (Fig.46). Acompanhada por floreira linear de dimensões idênticas ao rasgo, como projeção da zenital no solo, a visual da circulação culmina no jardim ao fundo, através de abertura ampla de dimensão integral. Acentua a continuidade espacial o prolongamento do muro de tijolos, na divisa, que se estende ao exterior com toda a altura do pé direito, como na Casa de Ladrillo (1924), de Mies. O trajeto ainda é ilustrado por visuais da garagem nos falsos pilotis, através de pequenas aberturas verticais rasgadas nas alvenarias, que de certa forma mantêm o critério das demais aberturas da fachada sul (Fig.48.2). A Sergio M. Marques 469 Fonte:, Fotos Helio Piñon, 2009, Sergio Marques, 2012 1 2 3 4 Fonte:, Fotos Sergio Marques, 2012 5 6 7 8 9 Fonte:, Sergio Marques, 2012 10 11 12 Figs FAM, Figs. 48 - Edifício FAM detalhes. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: 1. Garagem; 2. Abertura da Garagem para a circulação de entrada; 3. Hall do edifício; 4. Medidores; 5. Armários de uso comum na garagem; 6. Espaço para sonorização, Salão de Festas; 7. Lavatório, Salão de Festas; 8. Churrasqueira, Salão de Festas; 9. Pátio Lateral; 10. Fachada Leste, Térreo; 11 Pátio dos fundos; 12. 11. Lavanderia de uso comum. F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. 470 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Acervo FAM FAM, Fig. 49 - Edificio FAM planta pavto. térreo, 1° versão, Apto. para os pais de Suzy Fayet, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Fonte: Acervo FAM intermediação do acesso ao hall de uso comum, onde estão escada e elevador, é feita por alargamento da circulação, como um pré-vestíbulo, já na projeção do edifício, imaginado para ambiente de espera, onde parede espessa, que separa este espaço da circulação vertical, abriga nicho reservado para obra de arte e novo rasgo permite enxergar lateralmente o salão de festas (Fig.48.3). O hall principal do FAM dá acesso à garagem, provida de armários coletivos (Fig.48.5), à área de serviços, à circulação vertical e ao salão de festas, bem como concentra a reunião de instalações alocadas em shaft vertical que arranca deste nível até a casa de máquinas, na cobertura, por entre estrutura dupla construída na parede de fundo da escada, ligando o painel de medidores de consumo de eletricidade, em armário disposto no final da circulação de acesso ao salão (Fig.48.4), e registros gerais de água, embaixo do primeiro patamar da escada. O salão de festas, originalmente pensado como um apartamento para 26 os pais de Suzy Fayet (Fig.49) , foi construído como área de convivência, equipado com churrasqueira (Fig.48.8), forno à lenha, copa, dois lounges, mesas (desenhadas por Araújo e produzidas por Heinz Agte) e cadeiras para aproximadamente vinte pessoas (Fig.48.2). A bateria de serviço é embutida em nova parede espessa, disposta na face oposta à fachada do salão para o jardim, onde estão encaixados balcão com lavatório (Fig.48.7), armários 26 FAM, Fig. 50 - Edifício FAM fachada leste e corte transversal nos banheiros sociais, Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. Esta previsão não se confirmou, dado o passamento do pai de Suzy, durante as obras; assim, sua mãe, Dona Lola, ocupou um dos dormitórios do apto. de Fayet e as duas filhas, o outro. Doutorado embutidos, estante para utensílios, churrasqueira, forno e previsão de espaço para sonorização (Fig.48.6). O duto de exaustão da churrasqueira segue a prumada do shaft de instalações, prosseguindo até a cobertura. Aberturas espelhadas, nas laterais norte e sul do salão, comunicam visualmente os jardins laterais, bem como marcam o último módulo estrutural transversal do edifício. A fachada leste, no térreo (Fig.50 e 48.10), é definida pela lógica do sistema. Esquadrias de vidro preenchem todo o vão oferecido pelo intercolúnio, já que nesta fachada os pilares têm a sua face menor (12 cm) no plano das vigas com abertura de folhas duplas, integrando o jardim em largura correspondente à parede oposta da churrasqueira. O jardim (Fig.48.9 e 48.11), além de bancos de concreto à vista executados especialmente, possuía caixa de areia, igualmente de concreto, para as crianças. No salão, luz negra dentre a iluminação para festas dos adolescentes e adultos. Na faixa correspondente aos serviços na extremidade oposta da entrada, outra porta conecta o salão com a área de serviços coletiva, propiciando, como nos apartamentos, circulação anelar neste nível. Neste espaço, estão o banheiro social do salão, lavanderia e depósito coletivos, separado da lavanderia por painéis e portas contínuos de fórmica branca, sem qualquer tipo de marco (Fig.48.12). O pátio lateral norte era reservado para secagem de roupa, através de mecanismo de roldanas, suspenso entre o edifício e o muro de divisa, que por sua vez possui diferenças de altura de um Sergio M. Marques 471 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Foto Sergio Marques, 2012 Fig. 51 - Rua Vicente de Paula Dutra, edifícios de habitação coletiva lindeiros ao FAM, construídos posteriormente, de acordo com o Plano Paiva, Porto Alegre-RS Fig. 52 - Rua Vicente de Paula Dutra, edifícios de habitação coletiva, lindeiros ao FAM construídos posteriormente, de acordo com o Plano Paiva, deterioração física e formal, Porto Alegre-RS metro e oitenta centímetros para dois metros e dez, e de espessura de quinze para vinte e cinco centímetros, de acordo com sua relação com o edifício. Sobe de altura, por exemplo, na frente das portas do salão. O acesso aos apartamentos, realizado através da circulação vertical, é criteriosamente detalhado, como uma escada de residência unifamiliar (Fig.34). O piso do pavimento térreo, integralmente revestido com lajotas cerâmicas de cinco centímetros de espessura, feitas sob encomenda pela Olaria Pauluzi para suportar a carga dos automóveis, é substituído por tabuão, com tábuas estreitas, de três polegadas de largura, dispostas transversalmente à escada, a mesma que perfaz os patamares e invade toda a área de estar, circulação e dormitórios dos apartamentos. Estruturada com concreto à vista, cada lance apoia-se em viga que vence o vão transversalmente, moldada com ângulos nas faces para favorecer o pé-direito (Fig.53.5). Os lances com degraus na face superior e face inferior lisa, em concreto à vista, têm as bases revestidas pelo piso de madeira emoldurado por quadro metálico, de maneira a garantir negativos com o concreto e preservar a integridade física das bordas (Fig.53.1). O guarda-corpo, item normalmente difícil de obter bom resultado de desenho, é resolvido elegantemente através de detalhe de Moojen, com apoios de concreto à vista em cada patamar, corrimão e proteções de madeira, aparafusadas com parafusos e porcas propositalmente à vista em cada face. O apoio de concreto, com forma singular, é encabeçado por peça de aço de maneira a apoiar os corrimões no ângulo ajustado de cada um (Fig.53.2). Estes, por sua vez, são executados com uma peça única de madeira oito por oito centímetros, arredondada nas bordas para ajustar-se à mão e frisada nas laterais para correr os dedos. Assim, cada peça do corrimão fica independente da outra, cruzandose nas extremidades, mais um detalhe de autonomia das partes (Fig.53.3). O trabalho rigoroso do tijolo à vista nas paredes laterais segue com paginações e recortes das peças como trabalho de ourives (Fig.53.4). As portas de serviço de cada apartamento, com bandeira translúcida, proveem de luz natural o espaço da escada, assim como acusam, através da luz artificial, a presença dos moradores (Fig.53.6). No último pavimento, a partir do nível de Araújo, a escada segue mais um lance, ladeando o reservatório superior, para prosseguir em uma escada estreita de serviço (Fig.53.7) até a casa de máquinas e acesso ao terraço (através de abertura generosa que igualmente contribui com luz sobre a escada), superfície de laje impermeabilizada, cobertura do apartamento de Araújo, que mesmo sem previsão de uso atendeu a banhos de sol dos moradores em diversas oportunidades (Fig.53.8 e 53.9). O FAM evidentemente reflete sua condição particular em termos de programa, em especial a coincidência de três arquitetos praticantes do ofício, cujas vidas profissionais e pessoais de alguma maneira se sobrepõem. No entanto, o legado referencial desta obra, equidistante de suas razões programáticas, está em uma forma de abordar o projeto onde o todo e as 472 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte:, Fotos Guilherme Werle, Sergio Marques, 2012 1 2 3 4 Fonte:, Fotos Guilherme Werle, Sergio Marques, 2012. Desenho Sergio Marques, 2010. 5 6 7 8 9 Fonte:, Desenhos Sergio Marques, 2010. Foto Sergio Marques, 2012 10 6 11 12 Figs. 53 - Edifício FAM, detalhes. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: 1. Degrau da escada; 2. Apoio para o corrimão; 3. Fixação do corrimão; 4. Colocação dos tijolos à vista; 5. Viga de apoio da Figs FAM escada; 6. Porta de serviço, aptos. Fayet, Araújo e Moojen; 7. Escada para cobertura; 8 e 9. Cobertura; 10, 11 e 12 Pilares e vigas com a mesma dimensão. Fayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. 12. Doutorado Sergio M. Marques 473 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Leopoldo Plentz, 2002 FAM, Fig. 54 - Edifício FAM F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. partes obedecem a rigorosos preceitos de simplicidade conceitual, racionalidade construtiva e sofisticação formal advinda do domínio atento da tectonicidade e estética, recheado de detalhes primorosos. FAM e edificações vizinhas, aparentadas pela filiação urbanística, gozam de similaridade volumétrica, gabarito idêntico e programas análogos, embora o FAM detenha apartamentos mais espaçosos. No entanto, a evidente diferença de qualidade das arquiteturas traduz a já conhecida cultura de vulgarização da arquitetura de habitação coletiva recorrente banalizada maciçamente a partir dos anos 1970 tanto no centro do país quanto no sul (Fig.51). Os edifícios próximos ao FAM, surpreendentemente, construídos em datas posteriores ao próprio, no início dos anos 1970, obedecem à morfologia normativa do Plano Paiva, mas detêm-se qualitativamente na equação planta baixa convencional e fachadas resultantes, com adereços epidérmicos que distinguem cada unidade. Os edifícios possuem quatro apartamentos de dois dormitórios por andar, com salas, áreas de serviço e cozinhas voltadas aos recuos laterais, a norte e a sul, e dormitórios para a frente e fundos, a leste e a Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM FAM, Fig. 55 - Edifício FAM F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. 474 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 27 Capítulo IV FAM, Fig. 56 - Edifício FAM F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. oeste. No térreo, quatro garagens voltadas à via pública, acesso lateral à área de uso comum e escada, disposta ao centro da edificação. A envolvente predominante obedece, de certa maneira, da mesma forma que os mecanismos compositivos recorrentes atualmente no mercado imobiliário, a uma composição determinada por fachada muraria, fenestrada por aberturas reguladas dimensionalmente pelo código vigente. A caracterização do edifício se dá quase que exclusivamente pela introdução de faixas epidérmicas garantidas pela troca de revestimentos, somadas a pequenos ornamentos como frisos, balaustradas, cimalhas, etc. que envelheceram rapidamente, tanto formal como fisicamente (Fig.52). Contrasta com a perenidade do FAM, advinda, além das distintas razões projetuais descritas aqui, pelas opções construtivas e técnicas. Se o caráter arquitetônico do FAM permite certa interpretação de ascendência carioca – nos espaços filiados à tradição e nos elementos de controle da luz, como muitos edifícios feitos pelos arquitetos Emil Bered, a partir dos anos 1950, em Porto Alegre (Faial e Redenção), e Ari Mazzini Canarim (Armênia) – e igualmente da arquitetura paulista dos anos 1960 – na racionalidade construtiva, na expressão do concreto moldado in loco à vista, no reboco grosso texturizado – a perenidade diante dos seus vizinhos e da arquitetura moderna brasileira deposita crédito que transcende essa dupla maternidade (Fig.54, 55 e 56). A filiação menos propagada advém de uma arquitetura que se resigna a sua condição ordinária de tecido, aceitando seus deveres morfológicos dominantes, tal qual a volumetria determinada pelo master plan da cidade, obedecendo à base comum sobre a qual a individualidade pode existir sem restrições ao convívio coletivo que, no caso do FAM, se dá com grande sofisticação e sobriedade. Igualmente, não se limita a uma formalidade vernacular, pelo menos não no sentido de objetivar a obtenção de sistema formal representativo de valores regionais, e sim deixa-se transitar pelas soluções adequadas oferecidas pela tradição da arquitetura moderna brasileira aceita sem restrições ou obediências radicais. Extrai do caso particular sofisticação projetual, detalhamento construtivo rigoroso, interpretação criteriosa do programa, bem como a contribuição ativa dos projetos complementares, mão de obra e, evidentemente, clientes conscientes da relação custo benefício, no caso os próprios autores. No FAM, além da presença dos proprietários autores na tomada de decisões, há a indispensável interação e participação dos profissionais dos projetos de instalações e estrutura, em uma arquitetura predominantemente definida pela estrutura, com o concreto à vista determinante na expressão dos espaços, mais exigente no rigor técnico e formal das instalações e técnicas de construção. A estrutura do FAM, calculada pelo Engenheiro Fernando Campos de Souza, contou com o arrojo e subversão de normas, como o pilar de seção idêntica à das vigas, com doze centímetros de lado (a norma exige no mínimo Fonte: Leopoldo Plentz, 2002 27 A partir dos anos 1990, com a permissividade da legislação recente, o caráter do bairro migrou de quadras habitacionais modernas de morfologia uniforme para área de usos miscigenados e volumetrias híbridas, com novos edifícios públicos de 12 pavimentos. Boa parte dos edifícios de apartamentos foi adaptada para escritórios, garagens transformaram-se em comércio, os revestimentos de fachadas foram substituídos por clichês da arquitetura comercial, como o fulget ou a cerâmica 10 x 10 cm, a rua encheu-se de grades, comerciantes, parquímetros e “flanelinhas” disputando os automóveis. O FAM resiste. Sergio M. Marques 475 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Neste episódio, Fayet, desenhou a seção do pilar em escala 1/1 com as ferragens projetadas para, junto com Fernando, analisar a viabilidade das dimensões exíguas. Para a execução do concreto à vista, de pilares, vigas e lajes, todo gabaritado em guias de madeira impressas na superfície do cimento, a coordenação de mão-de-obra capaz foi decisiva (na obra do FAM, um pedreiro promovido a mestre, durante a execução, chamado Alfredo, foi importante agente). 28 476 Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM 20 centímetros de lado) (Fig.53.10,11,12). O projeto de instalações foi de Cláudio Hermann Bojunga. Nesse sentido, na conjugação da concepção arquitetônica e agenciamento dos meios de execução e construção, no caso do FAM também há singularidade face à pasteurização tendente. Contemporaneamente, cada um desses segmentos decisórios da qualidade do produto arquitetônico, no caso da habitação coletiva, atualmente tende à simplificação. Sob o ponto de vista construtivo, portanto, a tendência é a construção com elementos de execução fácil e rápida, sem exigência de mãode-obra e materiais de construção especializados: estrutura portante com baixa participação na espacialidade, fechamentos em tijolos, revestimentos recobrindo tudo, formalidade espacial definida por faixas superficiais e, quando pior, ornamentação adversa aos requerimentos de funcionamento e conforto, normalmente substrato consistente para a forma. Se a origem da matéria-prima de projeto está na vontade, no plano ideológico e utópico dos arquitetos modernos, que subsidiou as decisões de uma habitação coletiva comunitária aos três no bairro novo conquistado ao rio, na cidade regida por cânones urbanísticos modernos, na construção expressiva da Arquitetura Moderna Brasileira no sul, a matriz está no desenho obsequioso, no trabalho atento e sensato, tanto na exploração dos recursos construtivos quanto nas oportunidades oferecidas pelo programa, como material de projeto, cuja sofisticação formal advém do rigor no exercício do ofício. O FAM teve no Movimento Moderno a nascente, bebeu na fonte da arquitetura brasileira e deu à luz a domesticidade da habitação coletiva moderna em Porto Alegre. No entanto, a relação de hereditariedade ocorre no cuidado em, dentro de seu próprio universo, acertar a resolução formal e técnica do projeto. No paralelo 30, a generosa luz tropical oscila, e filtrada dessa maneira no FAM, obedece caprichosa aos desígnios da arquitetura no sul. Longe da pasteurização que tomou conta da arquitetura praticada no mercado imobiliário, está a contemporaneidade perene conjugada à percepção dos recursos e do local, revelando o trabalho de artistas, em obra que pode ser um manifesto mediano da arquitetura meridional no sul brasileiro (Fig.56,57). 28 FAM, Fig. 57 - Edifício FAM F ayet, Araújo & M oojen, 1964, Porto Alegre-RS. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV F, A e M Arquitetos (1968–1980) Fonte: Acervo FAM. Fonte: Acervo FAM Fig. 51 - Associação Atlética dos Funcionários, SULPETRO, REFAP, Petrobras. Equipe de Arquitetos Ltda., Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, 1988, Canoas-RS Fig. 50 - Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra – TEDUT, Petrobras. Novo Refeitório (Coord. por Moojen e Araújo). Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Moacyr Moojen, 1990-1991, Osório-RS Após os anos 1960 e os projetos para a Petrobras e FAM, que de certa maneira significaram mudanças, definições pessoais, arquitetônicas e profissionais na carreira e vida dos três arquitetos, os anos 1970 se descortinaram com alterações importantes no cenário mundial, diante da crise energética, troca de influências político-econômicas internacionais, recrudescimento do panorama político brasileiro com repercussões significativas no contexto cultural nacional, coincidindo com mudanças na trajetória arquitetônica, principalmente de Fayet e Araújo, cuja análise, igualmente fundamental, deverá ser realizada oportunamente. O caminho entrecruzado percorrido pelos três arquitetos, coincidente em diversos momentos, desde a escola até a fase madura, de alguma maneira se manteve em constante sobreposição, no mínimo pelas relações de vizinhança e convívio entre famílias no Edifício FAM até os dias de hoje. Por outro lado, em relação a encargos e projetos de arquitetura comuns que ainda realizaram juntos, de Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM. Fig. 52 - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP, Petrobras, Refeitório. adaptação no ingresso e brise na fachada leste. Moojen & Marques Arquitetos Associados, Moacyr Moojen, década de 1980, Canoas-RS certa forma relacionados com a Petrobras, com maior participação de Araújo e 29 Moojen, como o restaurante novo do TEDUT (1990) (Fig.50) , não tiveram Segundo Moojen, com a manutenção do mesmo sistema formal adotado no projeto original das instalações do TEDUT, o projeto de restaurante a ser construído separadamente do edifício polivalente foi uma solicitação dos funcionários, o que condicionou a recontratação da Equipe de Arquitetos, e maior envolvimento de Araújo e Moojen, por sua vez coordenadores dos projetos iniciais para o terminal. Ver: MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação Sergio M. Marques 477 29 Fig. 53 - Residência Fernando Campos de Souza. Cláudio Araújo e Moacyr Moojen, 1969, Porto Alegre-RS. novos trabalhos importantes com os três reunidos. Antes disto, Fayet e Araújo projetaram a alteração da Portaria da REFAP (1984), reformulando a base do edifício, com alguma perda da leveza inicial; posteriormente, a Associação 30 Atlética Sulpetro (1988) (Fig.51) e as reformulações do Centro de Treinamentos da REFAP, com introdução de auditório e nova cobertura (1995). Moojen projetou ainda adaptações na entrada do restaurante e um sistema de proteção solar para a fachada leste, nos anos 1980 (Fig.52). Em função do Edifício FAM, Araújo e Moojen igualmente projetaram juntos a casa do Engenheiro Fernando Campos de Souza (1969), em troca do cálculo estrutural do edifício (Fig.53). A casa térrea, de planta quadrada como diversos projetos de Araújo, tem na organização formal esta distinção de planos rebocados e de tijolos à vista, comum na arquitetura moderna de Porto Alegre dos anos 1960-1970, com panos contendo aberturas relativamente convencionais, configurados por superfícies complementares de alvenarias, usados por Araújo em seus primeiros projetos residenciais. O beiral generoso, balanceado em todas as faces, separado do corpo por viga de concreto digital. 20 abr. 2008. Ver: FAYET, Carlos Maximiliano. Refeitório do TEDUT. Projeto São Paulo, n. Projeto, 163, 1995. p. 61-63. 30 Ver: RENZETTI, Paolo. Associação Atlética Sulpetro. T. Sport, 10 - Sinopia Milano, 1990. 478 Fonte: Foto Sergio Marques, 2011. Acervo FAM. Fonte: Acervo FAM Alegre Fig. 54 - Edifício Nações, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo e Moacyr Moojen, 1969, Porto AlegreRS. aparente recuada, como um negativo que acentua o descolamento do plano horizontal, lembra recurso formal wrightiano utilizado com frequência por Moojen, assim como em muitas casas modernas do período na região meridional, como a Casa Castro Valdés (1960), de Horácio Baliero, em San Isidro, Província de Buenos Aires, ou a Casa Clérico (1955), de Eduardo Larrán, na Província de Salta. A arquitetura, relativamente singela, lembra a adotada em outro projeto realizado pelos três conjuntamente, o Edificio Nações, conjunto residencial projetado para a Cooperativa Habitacional dos Bancários de Porto Alegre, na Rua Silveira (1968) (Fig.54). O Projeto nasceu de contato realizado entre a Cooperativa e o IAB-RS, objetivando a organização de cadastro de arquitetos para a realização de projetos de habitação coletiva para baixa renda, 31 financiados pelo órgão . O projeto, com blocos de apartamentos compactos, usa recurso formal semelhante ao da Casa de Fernando Campos, com resultado bastante corriqueiro. O partido, no entanto, arma no terreno apertado a implantação do bloco principal no eixo do lote e dois blocos laterais, 31 Em reunião de diretoria, se definiu de acordo com o interesse, estrutura e disponibilidade, um conjunto de escritórios aptos à realização dos projetos para o programa. Fayet, Araújo e Moojen, com trabalhos comuns em andamento, receberam o primeiro encargo. Após a realização deste conjunto, mais nenhum foi realizado, o que acarretou para este projeto a alcunha de “Rei Momo – o primeiro e único”. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação Entrevista. digital, Edifício FAM, 12 set. 2011. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV FA_EA Les Grands Travaux Fig. 55 - Traçado para a Via Expressa Sul. Moacyr Moojen, Cláudio Ferraro e Cláudio Araújo, 197879, Florianópolis-SC. flanqueando a composição de forma a criar duas ruas internas de acesso que agregam alguma permeabilidade ao conjunto. A obra, no entanto, não apresenta maior interesse. Araújo e Moojen ainda fariam alguns trabalhos de urbanismo, conjuntamente com Cláudio Ferraro, como o traçado para a Via Expressa Sul, em Florianópolis-SC (1978-79) (Fig.55), e com Cláudio Ferraro e José Carlos Marques o Plano Regulador para o Uso do Solo do Litoral Norte do Rio Grande do Sul, contratados pela Secretaria do Interior do Estado, na época coordenada pelo Engenheiro Waldir Maggi (1982), cujas diretrizes não foram implantadas. Portanto, pode-se afirmar que REFAP e FAM foram, sem dúvida, além de obras basilares de suas carreiras, as mais expressivas realizadas conjuntamente. A conjunção de material de projeto gerado por essas experiências seria usada pelos três, em outros arranjos profissionais, nos anos 1970. A sigla EA-Equipe de Arquitetos, para efeitos de contrato, foi criada inicialmente por Fayet, Araújo, Moojen e Miguel Pereira nos projetos para a Petrobras (REFAP e TEDUT). Após o término dos trabalhos, com consentimento de Moojen e Pereira, a denominação foi adotada como entidade jurídica na sociedade de Fayet e Araújo, iniciada com os projetos para a Central de Abastecimento de Porto Alegre – CEASA (1969-1971) e extinta somente com o falecimento de Fayet em 2007. A CEASA (Fig.56) também inaugurou a parceria da EA, de Fayet e Araújo, com os Engenheiros Eládio Dieste e Eugênio Montañez, além de Carlos E. D. Comas e dezenas de arquitetos associados, engenheiros e colaboradores, que no decorrer de mais de trinta anos realizaram projetos em coautoria. Neste trabalho em particular, a retomada da conexão uruguaia, com a participação de Dieste e Montañez, senão pela comunhão de sistemas espaciais e construtivos, mas pelo rigor técnico e pensamento estrutural, na apropriação de formas modernas com técnicas regionalizadas e uso da cerâmica armada, perfazem ingredientes da austeridade profissional comum que descortinam um capítulo fundamental da arquitetura moderna no Rio Grande do Sul a partir dos anos 1970. Em contraposição à expansão e banalização da arquitetura do concreto armado, as experiências formais e construtivas iniciadas na CEASA nos anos 1970 e prosseguidas principalmente por Araújo nos projetos para o Matadouro Frigorífico CRA, Alegrete-RS (1974) (Fig.57) e Memphis S. A. Industrial, com Cláudia Obino Correa, Porto Alegre (1976) (Fig.58), com a colaboração dos uruguaios – que construíram mais de um milhão de metros quadrados em território brasileiro, após a experiência da CEASA – revelam um universo arquitetônico gestado no sul, com ampla repercussão na Arquitetura Moderna 32 33 Brasileira , ainda pouco estudado . Fayet e Araújo revisitariam ainda a Por exemplo o Palácio Petrônio Portela (Assembleia Legislativa), de Acácio Gil Borsói, em Teresina-PI (1984), e as casas projetadas por Comas nos anos 1970, Ver: MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. p. 262, 263, 33 Em relação à CEASA especificamente, há trabalhos que a contextualizam no panorama nacional. Ver: BOHRER, Glenio Vianna. CEASA RS: Espaço e lugar na arquitetura moderna. [Dissertação de Mestrado] Porto Alegre: PROPAR/UFRGS, 1997. O Mercado central de Porto Alegre. In: PEIXOTO, Marta, LIMA, Raquel. Arquitetura, História e Crítica, textos selecionados. Cadernos de Arquitetura Reis, Ritter dos Reis Porto Alegre, UniRitter, n. 2, 2000. p. 144-151. DIAS. Carlos Eduardo et alli. 32 Fonte: Acervo FAM Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 479 Fig. 57 - Central de Abastecimento de Porto Alegre - CEASA, Carlos M. Fayet, Cláudio Araújo, Carlos E. D. Comas, Engs., Eládio Dieste & Montañez, Col. Luiz A. Gaudenzi. 1969-1971, Porto Alegre-RS. tecnologia da cerâmica armada no projeto para o campus da Fundação de Ciências e Tecnologia do Estado – CIENTEC, em Cachoeirinha-RS (1989), com Fernando Bahima (Fig.60.1). A experiência dos projetos para a Petrobras e CEASA, a organização da Equipe de Arquitetos e a natureza expansiva de Fayet conduziram a sociedade com Araújo ao status de grande escritório, à produção arquitetônica empresarial e a obras de complexidade e envergadura expressivas, 34 particularmente as de programa industrial . Projetos como o primeiro lugar no Concurso Privado para Projetos de Urbanização, Arquitetura e Paisagismo da Área Administrativa, Almoxarifados, Oficinas de Manutenção e demais edificações da Central de Matérias Primas do IIIº Polo Petroquímico, para a Arquiteturas Cisplatinas. Roman Fresnedo Siri e Eládio Dieste em Porto Alegre. Porto Alegre: UniRitter, 2004. TORRECILLAS, Antonio Jimenez. Eládio Dieste 1943 – 1996. Sevilha: Dirección General de Arquitectura y Vivienda de la Consejería de Obras públicas y Transportes de la Junta de Andalucía, 1996. Em relação a obras posteriores, tratei da MEMPHIS em artigo publicado pela FAUFRGS. Ver: MARQUES, Sergio Moacir. Memphis. Re vista Arqtexto n. zero, Editora UFRGS, Revista Arqtexto, Porto Alegre, 2000. p. 104-115. 34 Ver: GRANDES Escritórios. Revista Projeto Editora Projeto, São Paulo, n. 171, 1995, p. 74,76. Projeto, Fonte: Foto João Alberto da Fonseca. Acervo FAM. Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM. 58Fig. 58 Matadouro Frigorífico Cooperativa Rural Alegretense, Cláudio Araújo, Eládio Dieste 1974, Alegrete-RS. Fig. 59 - Memphis S.A Industrial, Cláudio Araújo, Cláudia Obino Correa, Eládio Dieste, 1976, Porto Alegre-RS Companhia Petroquímica do Sul – COPESUL (1977-83) (Fig.60) , com Luiz Boeira, foram a deixa para Fayet e Araújo estruturarem o escritório no edifício Caixeiros Viajantes, na Avenida Borges de Medeiros, um dos maiores escritórios de arquitetura do Estado na época, com ampla vista para a Praia de Belas. Com a estrutura, equipe e parcerias, lograram dar continuidade a grandes encargos, como os projetos para a Tramontina: Ferramentas Agrícolas S. A. e Forjasul S. A. Materiais Elétricos, Carlos Barbosa-RS (1986) (Fig.60.2); Tramontina Materiais de Pesca S. A., Distrito Industrial de Gravataí-RS (Fig.60.2) 35 35 Urbanização para área de 34,27ha com Plano Diretor, Sistema Viário, Paisagismo, Comunicação Visual. Edificações com Almoxarifados (10.070m2), Oficinas (13.050m2), Centro de Treinamento (670m2), Centrais Térmicas/Subestação (700m2), Portaria/Balança (100m2), Sanitários e Vestiários (2.750m2), Relações Públicas/Auditório/Agência bancária (1.080m2), Portaria Principal/Posto Centralizado/Vigilância (2.410m2), Segurança Industrial (1.910m2), Posto Médico (1.060m2), Central Telefônica - CRT (540m2), Administração (4.710m2). 480 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM , 19 Fig. 60.3 - À Esquerda, Tramontina TEEC, 1997-98, Carlos Barbosa-RS. À direita, Tramontina Cabos e Cutelaria, 1996, Carlos Barbosa-RS. Equipe de Arquitetos Ltda., Carlos M. Fayet, Claudio Araújo. SulFig. 60 - Central de Matérias Primas, III Polo Petroquímico, Companhia Petroquímica do Sul COPESUL, Equipe de Arquitetos Ltda., Carlos M. Fayet, Claudio Araújo e Luiz I. Boeira, 1977-83, Triunfo-RS. Fonte: Acervo FAM Fig. 60.1 - Pavilhão para o Campus da Fundação de Ciência e Tecnologia - CIENTEC, Equipe de Arquitetos Ltda., Carlos M. Fayet, Claudio Araújo e Eládio Dieste, 1989, Cachoeirinha-RS Fonte: Acervo FAM Fig. 60.4 - Telecomunicações Aeronáuticas S. A. – TASA, Concurso 1° Lugar, Equipe de Arquitetos Ltda., Carlos M. Fayet, Claudio Araújo, Guillermo L. Silva. 1986-87, Rio de Janeriro-RJ. Fonte: Acervo FAM Fig. 60.2 - À Esquerda, Tramontina Ferramentas Agrícolas S. A. e Forjasul S. A. Materiais Elétricos, 1986, Carlos Barbosa-RS. À direita, Tramontina Materiais de Pesca S. A., Distrito Industrial, 198687, Gravataí-RS. Equipe de Arquitetos Ltda., Carlos M. Fayet, Claudio Araújo. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM Fig. 60.5 - À esquerda Concurso Público de Projetos de Habitação Popular - Brás XI, Menção Honrosa, Equipe de Arquitetos Ltda., Carlos M. Fayet, Claudio Araújo, Guillermo L. Silva. 1989, São Paulo-SP. À direita, Concurso Parque Ecológico de Guarapiranga, 1º Lugar, Equipe de Arquitetos Ltda., Carlos M. Fayet, Claudio Araújo, São Paulo-SP. Sergio M. Marques 481 Fig. 61 - Terminal Rodoaquaviário de Passageiros, Carlos Maximiliano Fayet Arquitetos Associados Ltda, Carlos M. F ayet e Nelson Inda, 1977, Vitória-ES. Fonte: Fotos Sergio Marques, 2012, Acervo FAM Fonte: Acervo FAM (1986-87); Tramontina Cutelaria S. A., com Fernando Bahima, Cachoeirinha-RS (1989-90); Forjasul S. A. Materiais Elétricos e Pavilhão Industrial para galvanização, Carlos Barbosa-RS (1990), Tramontina Cabos e Cutelaria (1996) e Tramontina TEEC, 1997-98, em Carlos Barbosa-RS, (Fig.60.3). Também o primeiro lugar no Concurso para a Telecomunicações Aeronáuticas S. A. – TASA, com Guillermo L. Silva, não construído, no aeroporto Galeão, Ilha do Governador, Rio de Janeiro-RJ (1986-1987) (Fig.60.4), e o projeto de depósito de celulose, almoxarifado e escritórios para a Companhia de Celulose Sul – RIOCELL, Guaiba-RS (1979), tendendo sempre a uma espécie de desenho total, com projetos para urbanização do conjunto, sistema viário, edificações, paisagismo, comunicação visual e arquitetura de interiores, envolvendo extensas equipes multidisciplinares e prestigiamento dos profissionais da engenharia, como Raul Rego Faillace (especificações), Werner Laub Fig. 62 - À esquerda, Edificio Província, Carlos Maximiliano Fayet Arquitetos Associados Ltda, Carlos M. Fayet, 1977, Porto Alegre. À direita, Edificio Colina dos Ventos, Carlos Maximiliano Fayet Arquitetos Associados Ltda., Carlos M. Fayet e Suzy Fayet, 1979, Porto Alegre-RS. (instalações), Ivo Wolf (estruturas), Dicran Guregian (estruturas), Ênio Cruz da Costa (conforto), Joaquim Blessman (ação dos ventos), Cláudio Herman Bojunga (instalações), Beno Sperak (estrutura), Eugênio Knorr (estrutura) e Fernando Campos de Souza (estrutura e construção), igualmente parceiros em inúmeros trabalhos. Fayet e A raújo, com a EA, classificaram-se em concursos nacionais, promovidos pelo IAB-DN, com Menção Honrosa no Concurso Público de Projetos para Habitação Popular – Brás XI – (SEHAB/PMSP/COHAB/São Paulo, 1989) (Fig.60.5) e primeiro Lugar no Parque Ecológico do Guarapiranga, com Sandra M. Boeira, Engenheira Agrônoma Elaine L. Nunes e Engenheira Agrônoma Helena W. Schanzer, para a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (1991), que além de desenvolverem os projetos, executaram 482 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Acervo FAM todas as obras de urbanismo e arquitetura, em franca atuação na dimensão empresarial do escritório a partir daquele período (Fig.60.5). Em paralelo com a EA, Fayet desenvolveu trabalhos como Diretor da URBASUL – Equipe de Urbanismo Ltda. (1969-1975), como o Plano Diretor de Taquara-RS (1970); Relatório Preliminar para o Plano de Desenvolvimento de Caxias do Sul (1970); Plano Diretor Urbano de Esteio-RS, com Moojen (1971); Plano Diretor de Criciúma-SC (1972); e mais tarde, com a Carlos Maximiliano Fayet Arquitetos Associados Ltda. (a partir de 1977), projetou o Terminal Rodoaquaviário de Passageiros, com Nelson Inda (Vitória-ES, 1977) (Fig.61), além de trabalhos de urbanismo e consultoria para o planejamento urbano da 36 capital capixaba . Igualmente, prestou serviços de urbanismo à capital 37 38 catarinense e a São Luís do Maranhão . Manteve também como um segmento equidistante, com Suzy Fayet, projetos de residências unifamiliares, nos quais talvez a continuidade formal da Consultoria à comissão de planejamento Integrado da Grande Vitória, Vitória-ES (1969); Contratado pelo Serviço Federal de Habitação e Urbanismo para elaborar a versão preliminar das diretrizes para o Planejamento Integrado Intermunicipal (1970); Consultoria ao Grupo de Planejamento da Área Metropolitana de Vitória (1975); Consultor Técnico para o trabalho Grande Vitória – Uma Proposta de Ordenação da Aglomeração Urbana, Vitória-ES (1976/1977); Projeto de Reurbanização da Praia do Sol, Guarapari-ES (1977). 37 Consultoria à Prefeitura Municipal de Florianópolis para o Planejamento de Ocupação e Uso do Solo da Área Metropolitana de Florianópolis (1976-1977). 38 Consultoria à Secretaria do Planejamento do Estado do Maranhão para a Planificação da Área Metropolitana de São Luiz (1976). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 36 Fonte: Acervo FAM Fig. 63 - À esquerda, Edifício Presidente, Cláudio Araújo, Newton Obino e Carlos E. D. Comas, 1970, Porto Alegre-RS. À direita, Agência da Receita Federal, Ministério da Fazenda, Concurso, 1° Lugar, Cláudio Araújo, Newton Obino, 1973, Bagé-RS. Fig. 64 - À esquerda, Abrigo de Fiscalização do Ministério da Fazenda, Concurso, 1° Lugar, Claudio Araújo, 1974, Porto Lucena-RS. À direita, Companhia Estadual de Desenvolvimento Regional de Obras, Edifício Sede da Sudesul, Concurso, 1° Lugar, Cláudio Araújo, Newton Obino, Castelar Peña, 1975, Porto Alegre-RS. arquitetura dos anos 1960 e a densidade de projeto das partes tenha se mantido com mais rigor. Dentre os diversos projetos realizados neste sentido, na década de 1970, destacam-se: Residência do Sr. Renato Menzel, Rua Maracá, Porto Alegre (1969/1970); Residência Dr. Marcelo Blaya, Rua Fernandes Vieira, Porto Alegre (1970), talvez a mais influenciada pelo Edifício FAM, principalmente no detalhamento; Residência Dr. Marcos Nestrovsky, Rua Langendoc, Porto Alegre (1970); Residência Dr. Zeniro Sanmartin, Rua 14 de Julho, Porto Alegre (1971), igualmente projeto de refinado detalhamento e solução espacial; Residência de praia Dr. Marcelo Blaya, Governador Celso Ramos-SC (1973/1974); Residência Sr. João Carlos Schell, Rua José Sanguinetti, Porto Alegre (1974); Residência Dr. Jaime Paz da Silva, Porto Alegre (1974); Residência de praia Dr. Ary Juchem, Xangrilá-RS (1974); Residência do Sr. Jorge Inda, Jardim Isabel, Pedra Redonda (em equipe com o arquiteto Nelson Inda), Porto Alegre (1974); Residência do Sr. Marco Antônio Fonseca, Belém Novo, Porto Alegre (1976); Residência do Dr. David Zimmermann, Porto Alegre (1977); Residência Dr. Abade Pereira Bulhões, Porto Sergio M. Marques 483 Fonte: Fotomontagem João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fig. 65 - Viaduto e Passagem de Pedestres, Rua dos Andradas esquina Avenida Borges de Medeiros, PMPA, Cláudio Araújo, Col. Newton Obino e Carlos E. D. Comas, 1972, Porto Alegre-RS. Alegre (1977); Residência Dr. Vitor Stumpf, Gravataí-RS (1977); e Residência de veraneio Sr. Ernesto Neuguebauer, Governador Celso Ramos-SC (1981). No campo do mercado imobiliário, projetos para empresas e institucionais, realizou o edifício de escritórios para a empresa PROPART, Sede da firma GEOMAPA – Fotogrametria S. A., na Rua Sete de Setembro, Porto Alegre (1977) (Fig.62); a Sede Social e Esportiva do Sport Club Cruzeiro, Avenida Protásio Alves, Porto Alegre (1972); e a Sede Campestre Antônio Delapieve S. A. – Corretora de Câmbio e Valores Mobiliários, Porto Alegre (1975). Neste ínterim, voltou a realizar empreendimentos próprios, como o Edifício da Rua Vitória, com Suzy Fayet (1977), empreendimento familiar, de aproximadamente quinhentos metros quadrados, realizado sobre terreno que pertencia aos pais de Suzy. Ali o casal projetou e construiu, com recursos próprios, edifício de apartamentos mobiliados para habitação coletiva de estudantes, cuja administração Suzy realizou durante longo tempo. Logo a seguir, projetaram, incorporaram e construíram, em terreno que haviam adquirido para investimento na Rua Topropi, Petrópolis (1979), edifício de apartamentos com aproximadamente mil e quinhentos metros quadrados, de alto padrão, onde Fayet projetou para si, na cobertura, apartamento tríplex, de aproximadamente trezentos metros quadrados, com área social e íntima no 484 Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Fig. 66 - Plano de Renovação e Expansão Física das instalações do Estaleiro Só S. A, Cláudio Araújo e Carlos E. D. Comas, 1976, Porto Alegre-RS. pavimento inferior, escritório no intermediário e ateliê de arte com área de lazer no último, onde viveu os últimos anos de sua vida (Fig.62). Em Porto Alegre, projetou ainda o conjunto integrado de shopping center, apart-hotel, escritórios e garagens para o quarteirão Q1 da urbanização 2 da Praia de Belas, área total de 145.000m , com Jorge D. Debiagi e colaboração inicial de Araújo (1985) (Fig.74, cap. Praia de Belas). Esse megaprojeto (analisado no cap. "Praia de Belas"), não construído, de semblante prospectivo em relação ao desenvolvimento urbano do aterro, abandonava a imagem inocente do traçado em redents do projeto moderno para a Praia de Belas e o Bairro para 200 mil habitantes, do Plano de 1959, por uma efígie metropolitana cosmopolita, como a Nova Iorque de Rem Koolhas. Dessas propostas, remanesceu o projeto básico para o Shopping Praia de Belas (1988) e a Praça Itália (1990) que, em paralelo à Piazza d’Itália, de Charles Moore, retrata a incursão de Fayet, como muitos veteranos de sua geração, sem embaraço para novas experiências, nas releituras pós-modernas a partir do final 39 dos anos 70 (Fig.79) . 39 Em relação às obras de Fayet realizadas no final dos anos 1970 e durante a década de 1980, com clara inserção no período de “revisão da arquitetura moderna” e os debates do pós-modernismo. FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fig. 67 - Edifício Politécnico, Cláudio Araújo e Cláudia Obino Corrêa, 1978, Porto Alegre-RS. Fayet, nestes anos, no entanto, em suas diversas escalas de ação, grandes encargos, com responsabilidades significativas, além dos compromissos com entidades de classe e convites para eventos, muitas vezes não logrou manter a mesma regularidade arquitetônica dos anos 1950-1960. A troca de escala profissional e também de complexidade de trabalhos, como é relativamente comum em carreiras meteóricas, significou um certo incremento na superficialidade formal de alguns projetos, que em determinados momentos redundaram em literalidades estilísticas, simplificações ou simplesmente falta de tempo. Araújo igualmente, em paralelo, deu sequência, nos primeiros anos da década de 1970, aos projetos de interiores, de habitação e a algumas Ver: MARQUES, Sergio Moacir. A revisão do movimento moderno? Arquitetura no Rio Grande do Sul dos anos 80. Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2002. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado parcerias, às quais vinha se dedicando antes de, certa maneira, alterar substancialmente seu perfil de atuação profissional. Realizou os projetos para os Apartamentos Arnaldo Gueller (1970) e Leo Nudelmann, (1970), a Loja Casa das Sedas (1971), todos em Porto Alegre, em parceria com Comas, e as Lojas Belluno, na Avenida Independência (1973), sozinho. Igualmente, algumas residências, como para Joaquim Barboza, Torres-RS (1970), com Obino e Comas; José Hermann Flores, Rua Eurico Lara (1973), sozinho; e o edifício de apartamentos na Nilo Peçanha esquina Avenida Carlos Gomes (1970) (Fig.63), igualmente em Porto Alegre, com Obino e Comas. Com Obino, ainda obteve primeiro lugar no Concurso Público de projetos para o prédio da Agência da Receita Federal, Ministério da Fazenda, em Bagé-RS (1973) (Fig.63), um edifício que, como a APLUB de Moojen, incursiona deliberadamente na arquitetura international style40 e, a partir deste, ganhou o primeiro lugar no Concurso Público para Elaboração dos Projetos de Arquitetura para Abrigos de Fiscalização do Ministério da Fazenda em localidades da Fronteira, com o curioso projeto em Porto Lucena-RS (1974), aparentado formalmente com a Apolo Onze, enviada à Lua em 1969 (Fig.64), no qual também estava previsto o sistema de venezianas adotado no Edifício FAM. No mesmo ano, projetou a Administração do Distrito Industrial de Rio Grande, um volume de quatro águas 41 mais convencional, que também poderia participar da corrida espacial . Com Castelar Peña e Obino, ainda, ganhou o primeiro lugar no Concurso organizado pela Companhia Estadual de Desenvolvimento Regional de Obras para o projeto Edifício Sede da Sudesul, na Avenida Loureiro da Silva (1975) (Fig.64). Em paralelo, Araújo, mesmo não tendo se vinculado à Prefeitura Municipal de Porto Alegre e ao planejamento urbano como Moojen e Fayet, passou a realizar projetos para o poder público municipal, através de cadastro de arquitetos prestadores de serviços, em escala de desenho urbano, que culminariam com o projeto para o Concurso do Marinha do Brasil e a Câmara de Vereadores. Em 1972, foi chamado pela Divisão de Urbanismo da PMPA para projetar novo arranjo para o deflagrado encontro entre Rua dos Andradas e Avenida Borges de Medeiros, a Esquina Democrática, cuja proposta, felizmente não realizada, evoluiu para um incômodo viaduto de automóveis 40 Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM O projeto para a Receita Federal seguiu os mesmos passos do projeto para a Sede del Ministério del Desarollo Social, com torre curtain wall de esquina sobre pilotis, projetado pelo Arquiteto Juan Antônio Rius, em 1956, construído em 1961, em Montevidéu), assim como o Edifício Fiplasto (19711978), de Mario Roberto Alvarez, em Buenos Aires. 41 Em diversos projetos deste período, a documentação era produzida por desenhista uruguaio, veterano, chamado Julio Greco – cujo filho posteriormente formou-se em arquitetura e também trabalhou na Equipe de Arquitetos – o melhor desenhista com nanquim que Araújo conheceu. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Edifício FAM, 12 set. 2011 Sergio M. Marques 485 sobre o cruzamento, com passagem de nível para pedestres, abrigados por 42 estrutura espacial de alumínio (Fig.65) ao longo da Rua da Praia. O projeto, no entanto, mesmo contaminado pelas soluções viárias excessivamente contundentes dos anos 1970, como o minhocão de São Paulo, gozava de certo frescor futurista, como as imagens metropolitanas de Archigran, acompanhado de certa irregularidade geométrica que posteriormente Araújo retomaria no Auditório do UniRitter. Logo a seguir, coordenou o Plano de Renovação e Expansão Física das instalações de montagens de navios do Estaleiro Só S. A. (1976), vinculado ao Programa de Construção Naval do II Plano de 43 Desenvolvimento Nacional – PND do Governo Federal (Fig.66). O plano propunha, fundamentalmente, ampliação da área industrial com a criação de áreas públicas e semipúblicas, áreas verdes e marinas, mediante complementação de aterro da atual área do estaleiro. Dentre outros projetos não construídos, participou do concurso para o Edifício Sede da Eletrosul (1977) e realizou o projeto para o conjunto Mercur (1979). Araújo retomaria o tema do edifício de menor escala como investimento pessoal no projeto para o edifício Politécnico, na Travessa da Saúde, Porto Alegre (1978) (Fig.67), com Cláudia Obino Correa, desta vez um edifício de escritórios incorporado conjuntamente com seu amigo Werner Laub e outros. O edifício Politécnico, se por um lado assinala seu ajuste na arquitetura de larga escala praticada durante os anos 1970, retomando trabalhos de porte recorrente, culminando no projeto da casa para o seu cunhado, a Casa Bayard 44 em Bagé-RS (1988) , por outro, com significativa diferença de Fayet, revela certa constância na obra de Araújo, na qual rigor, consistência e controle foram invariáveis em qualquer estilo ou época. A Casa de Bagé, reformulação da construção feita por Henrique Piaggio, ancestral de sua esposa, sinaliza o ingresso consciente de Araújo na experiência pós-moderna, onde também aí as 45 invariantes permaneceram (Fig.79) . MFVHN Arquitetos Associados Aleatoriamente Fonte:, Acervo FAM Fig. 68 - Candiota II – Usina Termoelétrica Presidente Médici – UTPM, Moacyr Moojen, Léo F. da Silva, Edson Z. Alice, 1965-1974, Candiota-RS. A equipe de colaboradores, coordenada por Cláudio Araújo, era constituída por Obino e Comas, com assessoria dos engenheiros Hugo Meucci Filho, para o traçado viário, Alberto Elnegave, para estruturas, e Werner Laub, para instalações, com desenhos de José Arthur Daló Frota, Cláudia Obino e Arnaldo Hansen Colchete, além de integrantes da equipe da divisão de planejamento para os serviços de topografia. 43 Projeto realizado com Cláudia Frota, Suffert e Comas, e colaboração do Agrônomo Ronald Jamensos e do Engenheiro Enio Cruz da Costa. 44 Ver texto sobre a casa de Bagé: MARQUES, Sergio Moacir. Residência Paulo Bayard Silveira 1880-1989. In: PEIXOTO, Marta; LIMA, Raquel. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis – Arquitetura História e Crítica – Textos Selecionados, n. 2, Editora Ritter dos Reis, Porto Alegre, 2000. p. 153-164. 45 A qualidade de projeto e definições arquitetônicas, neste caso específico, igualmente, foram analisadas na dissertação de mestrado desenvolvida no PROPAR-UFRGS. Ver: MARQUES, Sergio 42 Moojen, durante os projetos para a Petrobras, associado à Equipe de Arquitetos, e o FAM, com Fayet e Araújo, manteve sua associação informal com Ferreira, Vallandro, Hekman e Nadruz em tempos e trabalhos distintos, de acordo com a circunstância e conveniência. O escritório era compartilhado por arquitetos autônomos, como um condomínio, onde as associações ocorriam de acordo com a disponibilidade e interesse de cada um, assim como a natureza arquitetônica e volume de cada trabalho. Essa relação se manteve ativa durante 46 os trabalhos para a Petrobras e prosseguiu durante muitos anos . Moacir. A revisão do movimento moderno? Arquitetura no Rio Grande do Sul dos anos 80. Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2002. 46 Nadruz se retirou ainda nos anos 1970 e Marcus Heckman logo a seguir. Vallandro, nos anos 1980, foi coordenar o setor de projetos do SESC até sua aposentadoria, e Ferreira permaneceu até seu falecimento, em 2002, sendo que Moojen, conjuntamente com seus filhos, José Carlos 486 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Acervo FAM Fig. 69 - À esquerda, Plano Piloto para o Parque Regional de Itapuã, Moacyr Moojen, Viamão-RS. À direita, Plano Piloto Parque Saint-Hilaire, Moacyr Moojen, José Morbini, Ligia Botta, Edison Z. Alice, 1974-75, Viamão-RS. Fonte:, Acervo FAM Em paralelo com a Petrobras, realizaram, assim como Fayet e Araújo, projeto de certa envergadura na área industrial para a Companhia Estadual de Energia Elétrica – CEEE (1965). No sul do Estado, na área rural do Município de Candiota, próximo a Bagé, região de reserva carbonífera mineral abundante e superficial de extração a céu aberto, a Companhia Estadual de Energia Elétrica – CEEE vinha operando com a termoelétrica Candiota I desde a década de 1961. Com o plano de construção da Candiota II – Usina Termoelétrica Presidente Médici – UTPM, o plano era abastecer de energia cidades da região, como Pelotas, Rio Grande, Bagé, Jaguarão, Basílio, Arroio Grande e outras, além de transmitir o excedente para a Subestação "Cidade Industrial" de Canoas e complementar o sistema norte do Estado. A construção da parte civil da unidade, composta de barragem do arroio Candiota, silos de armazenagem de carvão, caldeiras, turboalternadores e sistema de industrialização das cinzas, com edifícios industriais e administrativos, pista de aviões e abrigo para passageiros e vila residencial com cem unidades ficou a cargo da Mello Pedreira S. A., os projetos de arquitetura a cargo de Moojen, Léo Ferreira e Edson Zanckin Alice, os de engenharia mecânica com empresas italianas. As obras Marques e Sergio Marques, formou, em 1987, a sociedade MooMAA-Moojen & Marques Arquitetos Associados. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fig. 70 - Sede da Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil - APLUB, Moacyr Moojen, Léo F. da Silva, João J. Vallandro, 1976, Largo Zumbi dos Palmares, I Perimetral, Porto Alegre-RS. iniciaram em 1965, sendo que a Fase "A" da usina foi inaugurada em 1974 e a "B" em 1986. Antes da inauguração, face a problemas de pagamento e volume de endividamento, a Construtora Mello Pedreira quebrou. O projeto, menos otimizado desde o ponto de vista paisagístico que a REFAP, dadas as diferenças de circunstâncias e programa, impressiona pelo alto nível de complexidade (Fig.68). A atividade profissional de Moojen, realizada também em paralelo com a PMPA e o planejamento urbano, diferente de Fayet e Araújo, manteve estrutura e organização mais corriqueira, no sentido de escritório de arquitetura composto de arquitetos autônomos e desenhistas, com faixa de atuação ampla, de acordo com as associações internas do grupo. Assim, ocupando a metade oeste do quarto andar do edifício do IAB (três salas), como antibiótico de largo espectro, faziam projetos de residências, edifícios de escritórios, prédios institucionais de pequeno e grande porte, concursos e projetos urbanísticos variados, em especial de parcelamento do solo, já que nesta época poucos escritórios se dedicavam a esse segmento, cuja experiência com a legislação de Moojen e Ferreira abria espaço. Sergio M. Marques 487 Fonte: Acervo FAM Fonte: Acervo FAM Fig. 72 - Acima, Sede Social do Jockey Club do Rio Grande do Sul, Moacyr Moojen, Léo F. da Silva, João J. Vallandro, 1980-1983, Porto Alegre-RS. Abaixo Sede Náutica, Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, Moacyr Moojen, Léo F. da Silva, João J. Vallandro, 1973-76, Porto Alegre-RS Fig. 71 - Sede Administrativa Regional do SESC, Moacyr Moojen, João José Vallandro, Léo F. da Silva, 1975, Porto Alegre-RS. Entre mais de uma centena de projetos de todos os pelos, na área do urbanismo se destacam, ao longo dos anos 1970 e 1980, como trabalhos inseridos no mercado e na iniciativa privada, para a Companhia Predial e Agrícola S/A, o loteamento Parque Dr. Ernesto Diprimio Beck, no Bairro Guarujá, Porto Alegre; estudo urbanístico para enquadramento legal de glebas situadas no Bairro da Glória, Chácara Chiott, Porto Alegre; projeto de seis condomínios para habitação coletiva no loteamento "Chácara da Fumaça", Porto Alegre; estudo para loteamento de Marinas junto ao Rio Guaíba, no Bairro da Serraria, Porto Alegre; para a Edel Engenharia Ltda., o Loteamento "Ipanema Garden", Bairro Ipanema, Porto Alegre; para a Solo Empreendimentos Imobiliários Ltda., loteamentos Tapete Verde I e Tapete Verde II, Ipanema, Porto Alegre (1979); Condomínio Conventos de Belém, com conjunto de quarenta residências unifamiliares no Bairro Belém Novo, Porto Alegre (1986) e para Coemi Construção Empreendimentos Imobiliários, o condomínio de habitações coletivas Jardim Humaitá, Bairro Humaitá, Porto Alegre. Com escala urbana se destacam ainda dois projetos realizados por Moojen em seu escritório, para o poder público, que dado o teor ambiental de cada um, dando continuidade à sensibilidade ecológica adotada desde o concurso para o Delta do Jacuí e nos 488 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Acervo FAM Fig. 73 - Ampliação e recuperação do Aeroporto Salgado Filho, Moacyr Moojen, João José Vallandro, Léo F. da Silva, 1969-1971, Porto Alegre-RS. projetos para a REFAP e TEDUT, salienta a atenção ao tema ambiental: Plano Piloto para o Parque Regional de Itapuã (Fig.69), realizado para o Grupo 47 Executivo da Região Metropolitana – GERM (1975) , e Parque Saint-Hilaire, ambos implantados parcialmente (Fig.69). O primeiro, além de propor ampliação da área do parque incluindo a Praia de Fora e a Lagoa Negra, o que foi realizado, propunha a criação das áreas de reserva ambiental, áreas com ingresso controlado para turistas e banhistas nas diversas praias providas de infraestrutura adequada, teleférico de visitação e área com balneário público para loteamentos particulares. Dos projetos institucionais de edificação, se destacam, nos anos 1970, o projeto não construído para a sede da Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil – APLUB, projetado no atual Largo Zumbi dos Palmares, junto à I Perimetral (1976) (Fig.70) e a Sede Administrativa Regional do SESC. A APLUB, uma composição simétrica de torre miesiana e edificações baixas em 47 Projeto realizado com Danilo Landó e equipe multidisciplinar. Ver: PORTO ALEGRE. Conselho Metropolitano de Municípios. Grupo Executivo da Região Metropolitana de Porto Alegre. Plano Piloto – Parque Regional de Itapuã. Porto Alegre, 1975. Doutorado Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Fonte: Acervo FAM Fig. 74 - À esquerda, Complexo Multifuncional Esplanada Center , Moacyr Moojen, Léo F. da Silva, João J. Vallandro, 1977, Porto Alegre-RS. À direita, Edificio Solar da Vitória, Moacyr Moojen, Léo F. da Silva, João J. Vallandro, 1971, Porto Alegre-RS. relação com as áreas abertas e o entorno da Travessa do Carmo, certamente seria referência da arquitetura international style em Porto Alegre, como a Sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE (1972-1974), de Alfred Willer, Ariel Stelle, Joel Ramalho Jr., José Sanchotene, Leonardo Oba, Oscar Mueller e Rubens Sanchotene, no Rio de Janeiro, assim como consolidaria a vocação monumental para o encontro da Primeira Perimetral com a Borges de Medeiros, imaginada por Moojen no Plano Paiva. A Sede Administrativa Regional do SESC, em terreno profundo, junto ao Elevado da Conceição na I Perimetral, configura um volume mais proporcionado a escala da Avenida Alberto Bins, com as atividades culturais e reserva as funções burocráticas, para uma torre disposta no fundo do lote (Fig.71). Também projetos, que de certa forma davam sequência aos realizados para a Sede Campestre do SESC e Clube do Professor Gaúcho, mantinham o caráter paisagístico com dimensões urbanas, como os projetos contíguos para a Sede Náutica do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, em frente ao atual Barra Shopping (1976), e a Sede Social do Jockey Clube do Rio Grande do Sul Sergio M. Marques 489 Fonte: Acervo FAM Fig. 75 - À esquerda, Casa Almir M. Nácul, Moacyr Moojen e Pedro I. Grings, 1973, Porto AlegreRS. À direita, Casa Carlos M. D´Almeida, Moacyr Moojen e João J. Vallandro, 1974, Atlântida-RS. Fonte:, Acervo FAM (1980), no próprio local onde hoje está construído o Shoping, no Bairro Cristal (Fig.72). No plano institucional, no entanto, o projeto realizado mais expressivo foi a ampliação e arquitetura de interiores do Aeroporto Salgado Filho (Fig.73) (1969-71), cujo projeto original de Nelson Souza foi duplicado, mantendo a filiação original com o Aeroporto Santos Dumont (1937), dos Irmãos Roberto, no Rio de Janeiro, em paralelo com uma série de aeroportos latino-americanos construídos nos anos 1950, como o Aeropuerto de la Ciudad de México (195054) de Augusto Alvarez. Dentro do padrão ditado pelo mercado imobiliário, no qual a sociedade MFV atuou significativamente, o edifício Esplanada Center, de apartamentos, salas e galeria comercial na Avenida Cristóvão Colombo esquina com Quintino 48 Bocaiúva (Fig.74) , feito para a Silva Chaves Projetos e Construções Ltda., o Edifício de Apartamentos na Rua Ramiro Barcelos (Fig.74), para a Eimol Empreendimentos Imobiliários Ltda. (1971), assim como o Centro Comercial da 48 Fig. 76 - Complexo Multifuncional GBOEx, Concurso, Participação, Moacyr Moojen, Léo F. da Silva, João J. Vallandro, 1980, Porto Alegre-RS. Edifício misto com torre de apartamentos sobreposta à base comercial, com térreo e sobreloja dedicados ao comércio, recorrente nos empreendimentos imobiliários a partir dos anos 1960, como o Edifício Ovalle (1954), de Walter Pintos Risso (ver Fig.), arquiteto uruguaio atuante no mercado imobiliário de Montevidéu. Tristeza, na Avenida Wenceslau Escobar esq. Dr. Armando Barbedo, Bairro Tristeza, para a Casil Empreendimentos Imobiliários Ltda., marcam um período de produção intensa e qualidade formal mediana, limitados pela conjuntura, ainda que, em cada caso, engenhosidade na solução geral dos projetos garantia certa qualidade. Algumas residências unifamiliares também foram projetadas na década, com destaque para a casa do Dr. Almir Moojen Nacul, Avenida Guaiba, Vila Assunção (1973) (Fig.75), uma casa wrightiana com algum flerte com o colonial, paralela ao sistema formal adotado na casa de Atlântida (74) (Fig.75), cuja filiação ao arquiteto norte-americano prosseguiu em outras residências dos anos 1990 e 2000. Dado o fluxo constante de trabalho e a sobrecarga com a atividade da prefeitura, o grupo participou de poucos concursos. O mais ambicioso, e que talvez, assim como o da Assembleia Legislativa de Porto Alegre, faria frente em relação ao projeto construído, em termos de qualidade de articulação urbana e controle formal, foi o concurso para o atual Centro Comercial Rua da Praia (1980) (Fig.76). 490 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Acervo FAM Fig. 77 - I Plano de Desenvolvimento Urbano de Porto Alegre - PDDU, Lei Complementar no 43/19. À esquerda, Unidades Territoriais de Planejamento. À direita, dispositivos de controle das edificações. Moacyr Moojen, Gerente do I PDDU, 1979, Porto Alegre-RS. Nos anos 1980, o projeto para a Sede Social do SESC de Caxias do Sul, de Moojen, Vallandro e Carlos Hubner, assim como a Praça Itália, de Fayet, e a Casa Bayard, de Araújo, marcam a adesão ao debate pós-moderno, cujo 49 ingresso, de certa maneira, foi feito em grande estilo (Fig.79) . No entanto, segundo a visão de Moojen, o ponto de culminância de sua carreira e principal trabalho foi a coordenação do I PDDU, a partir da revisão do Plano Paiva (Fig.77). Moojen, durante a revisão, não exercia nenhuma cargo de chefia. Era assessor do arquiteto Cláudio Ferraro, Supervisor do Planejamento. Nesta condição, elaborou plano de trabalho com cronograma físico-financeiro junto com escopo de trabalho para revisar e consolidar a matéria urbanística vigente, condensando-a em um documento único para construir a revisão do Plano Diretor. A diretriz administrativa adotada então pelo município consistia – ao invés de aumentar o quadro de funcionários ou contratar fora pessoal técnico para o trabalho – na formação de gerências para cada projeto Fonte: Acervo FAM Fig. 78 - I Plano de Desenvolvimento Urbano de Porto Alegre - PDDU, Lei Complementar no 43/19. À esquerda, Modelo Espacial. À direita, Áreas verdes, praças e parques. Moacyr Moojen, Gerente do I PDDU, 1979, Porto Alegre-RS. 49 Edifício cuja natureza arquitetônica e importância no panorama brasileiro igualmente foi analisado na dissertação de mestrado desenvolvida no PROPAR-UFRGS. Ver: MARQUES, Sergio Moacir. A moderno? revisão do movimento moderno? Arquitetura no Rio Grande do Sul dos anos 80. Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2002. Doutorado importante, sendo Moojen nomeado gerente do Plano Diretor. O projeto foi financiado pelo BNH. A metodologia para a revisão propunha a pesquisa, análise e propostas para a cidade, à luz de seu estudo através de quatorze disciplinas. Para isso, foi reunido corpo técnico composto por funcionários, técnicos contratados segundo especialidades e a UFRGS, perfazendo em torno de quarenta profissionais, além da colaboração eventual das várias secretarias do município, outras esferas do governo e entidades privadas. A segunda etapa do trabalho consistiu na compatibilização das propostas setoriais, a partir de seminários, e relacionamento das equipes para, coordenado pela área de estrutura urbana, produzir o plano final com as seguintes características básicas: sistema SMP – Anos de experiência em aplicação haviam demonstrado a inconveniência dos planos estáticos pelo alto grau de obsolescência ocasionado pela dinâmica da cidade com a produção de fatos econômicos e sociais antes não previstos ou insuficientemente avaliados nas hipóteses do projeto original. Por esta razão, antes do próprio plano, foi estabelecido um sistema de monitoramento do comportamento de desenvolvimento real da cidade em comparação ao Sergio M. Marques 491 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS que foi planejado, para propor as correções de rumo com mecanismos regulamentadores das revisões mediante as instâncias do sistema, orientados pelo Conselho Municipal do Plano Diretor, composto pelas secretarias afins, entidades da sociedade em geral, incluindo participação comunitária e representantes de moradores. Havia também previsão da reavaliação periódica da lei a cada cinco anos; estrutura urbana – Foi adotada a estrutura urbana anteriormente proposta (LC 2.330 e extensões), principalmente no zoneamento de uso do solo e sistema viário implantados, além de algumas correções e inclusões; padrões urbanísticos – Tendo como objetivo final e prioritário do planejamento urbano a qualidade de vida da cidade, foram criados ou aperfeiçoados padrões de conforto a serem perseguidos na criação das condições para obter a maior aproximação possível da realidade com os padrões estabelecidos. Estão neste caso, por exemplo: a localização de escolas com tempo de percursos conforme o grau de ensino; hierarquização das vias com priorização do transporte coletivo, principalmente nas relações de trabalho; controle das densidades conforme as prioridades de uso previstas no plano, segundo dispositivos de controle das edificações pelos instrumentos de uso e controle do solo; equipamentos urbanos, como parques comunitários, garagens e estacionamentos; parcelamento do solo, incluindo o de caráter social; etc.; carências e prioridades/setorização – Para monitorar o crescimento urbano, aferir suas propostas e identificar os pontos críticos em relação aos padrões, a cidade foi dividida em unidades urbanístico-estatísticas, que obedecem em seus contornos à estrutura viária principal e ao zoneamento predominante segundo vários graus de pureza. Essas unidades chamaram-se UTR (Unidades Territoriais), classificadas conforme predominância de uso: UTR, UTC, UTH, UTM, etc. (residencial, comercial, industrial, mista, etc.). Foi possível, então, realizar pesquisa em partes do território e, comparando os padrões, estabelecer graus de prioridades para atender as unidades mais carentes e, com isso, orientar os investimentos públicos com a máxima eficiência, possibilitando o controle das verbas com menor interferência de fatores políticos quando indesejáveis. Os planos de prioridades estariam sob o controle dos moradores ou usuários das unidades. Os gastos públicos seriam feitos segundo as prioridades indicadas pelas maiores carências, sob o controle das pessoas de cada unidade reunidas em associações (era o Orçamento Participativo sem manipulações); transferência do potencial construtivo – O plano determinava o potencial construtivo dos terrenos segundo a previsão de número de usuários para cada unidade (densidades), para daí possibilitar o programa de necessidades da parcela do território (UTP) de tal forma que o potencial era calculado para toda a unidade. O programa era aferido pelos padrões, descontados os elementos já existentes. Isto quer dizer que o potencial construtivo podia ser transferido de um terreno para outro da mesma unidade, sem a alteração da população. Esse instrumento chamou-se Permuta de Índices Construtivos, gerido pela Prefeitura e usado para a aquisição de imóveis necessários para a implantação do Plano Diretor, como equipamentos públicos e comunitários, preservação ambiental e prédios histórico-culturais; biofísico – Foi feito levantamento ambiental do qual resultou plano biofísico que indicava áreas de preservação ambiental em vários graus de integridade e limitações que protegiam os elementos naturais – vegetação significativa, proteção das bacias e encostas íngremes, topos de morros. Ao mesmo tempo, limitava ou proibia a ocupação de áreas de risco, encostas insalubres (sul), criando áreas especiais com regime urbanístico próprio (áreas funcionais); urbano e rural – Foram revistos e oferecidos novos critérios para os limites das áreas urbanas e rurais, a partir dos limites existentes por legislações anteriores, onde já houvesse ocupação. O restante remanesceu como área de ocupação que, em Porto Alegre, tem papel expressivo na produção do setor primário. A área urbana foi dividida em duas partes, urbana intensiva e extensiva. Esta última coincide com lugares especiais, morros e matas, onde se prioriza a paisagem e, por isso, o regime urbanístico e os padrões são extremamente restritivos; ambiência sociocultural – Foi identificado e arrazoado para a preservação um conjunto expressivo de prédios e lugares que possuíam significado histórico-cultural para a cidade. Ao longo dos vinte anos de vigência do plano, foram tombadas e preservadas, total ou parcialmente, inúmeras edificações, fato propiciado pelo instrumento reserva de índices; desenho – O desenho macro que comparece no modelo espacial significa, neste nível, um desejo de organização territorial que contempla o que a cidade conseguiu produzir na sua história, considerados os contextos de cada época. Há, portanto, muitas indefinições que deveriam ser esclarecidas nos momentos de 492 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Capítulo IV Fonte: Acervo FAM Fig. 79 - Da esquerda para à direita: Léo Ferreira da Silva, Moacyr Moojen Marques, João José Vallandro. Desenho de "Pedruka", Escritório Ed. IAB, 1977. Rafael Moneo expõe esta abordagem eclética, de certa forma, em coleção de textos publicados pela PUC do Chile. Ver: MONEO, Rafael. Contra la indiferencia como norma . Santiago: Ediciones ARQ, 1995. 51 Medalha Cidade de Porto Alegre, conferida pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1987. Cidadão Emérito de Porto Alegre – Câmara de Vereadores de Porto Alegre, 1997. Urbanista de destaque no cenário nacional na Galeria Lúcio Costa da Câmara dos Deputados, Brasília, 2005. Medalha de Mérito Urbanístico da Cidade de Porto Alegre, PMPA, 2006. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 50 Fonte:, Acervo FAM, detalhamento, através de projetos públicos e privados, os quais, através de episódios urbanos, produziriam prédios e espaços que iriam completando o projeto. Em definitivo, um processo que nunca acaba. Como foi plano baseado em sistema permanente, admitindo portanto sua atualização contínua com muitas variáveis, afastou-se do puro desenho, embora desejável e possível na sua fase de projeto. Chamou-se I Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – I PDDU – na expectativa que outros o continuassem aprimorando. Moojen, como sempre declarou, manteve certo desapego a fidelidades 50 formais, e em discurso análogo ao de Rafael Moneo , defendeu e praticou investigações diversas, antes durante e depois da REFAP e FAM. Diferentemente de Fayet e Araújo, centrou sua energia e objetivos principais no trabalho urbano, dedicado ao planejamento de Porto Alegre, que tem, de certa forma, como ponto de culminância o I Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – I PDDU (1979), cujo trabalho lhe valeu títulos honoríficos 51 significativos . No entanto, a ação arquitetônica se manteve constante e igualmente com algumas invariáveis, como o esmero, a doação e a dedicação no fazer de cada projeto, não importando sua escala, estilo ou compensação. Fig. 80 - Acima, Praça Itália, Carlos M. Fayet, 1990, Porto Alegre-RS. No meio, Residência Paulo Bayard, Cláudio Araújo, 1988, Bagé-RS. Abaixo, Centro Cultural, Esportivo e Lazer - SESC, Moacyr M oojen, João J. Vallandro, Carlos Hubner, 1984, Caxias-RS. Sergio M. Marques 493 494 EPÍLOGO FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950 a 1970 Epílogo EPÍLOGO Transversais ibero-americanas: por uma arquitetura hereditária Fig. Fig. 1 - Casa Berlingieri, Antoni Bonet Castellana, 1947, Punta Ballena-Uruguai. Se as realizações de obras e relações pessoais fossem o agente determinante na migração e sincretismo de culturas, poder-se-ia dizer, simplificando, que Antoni Bonet Castellano e sua obra na Argentina e Uruguai foram o principal elo da arquitetura moderna meridional sul-americana com o contexto europeu, em particular o catalão. De alguma maneira, através do jovem Eládio Dieste, admirador de Bonet e calculista das abóbadas catalanas da Casa Berlingieri (1947) em Punta Ballena (Fig.1), seu primeiro trabalho, o raciocínio estenderia esta ligação ao Rio Grande do Sul, além dos já explicitados paralelos com o Uruguai. Porém, muito menos que conexões diretas e muito mais por comparações transversais, a arquitetura moderna tardia da Catalunha oferece ótimo material conclusivo das relações de centro e margem, representatividade e anonimato, monumento e tecido, tanto por sua condição periférica em relação aos centros europeus de disseminação do Movimento Moderno, por sua acentuada identidade cultural, por vezes xenofóbica e excessivamente regionalista, mas principalmente por sua arquitetura moderna Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado de caráter menos monumental, no sentido da pretensão vanguardista, consequentemente mais sensível às especificidades de escala, contexto, clima e sentido comum, produzidas com sofisticação formal por arquitetos 1 praticantes do ofício . O teor desta arquitetura, de ocorrência internacional, inclusive nas aglomerações urbanas de porte, nos anos 1950 e 1960, relativamente anônima, ainda nos tempos atuais oferece, para a esmagadora maioria dos estudantes, jovens arquitetos e mesmo para os experientes, material referencial tão ou mais importante que as obras de exceção produzidas por arquitetos e escritórios excepcionais. No sentido de geração de massa crítica capaz de produzir arquitetura estruturadora do tecido predominante nas cidades contemporâneas, através do exercício do ofício praticado pela maioria, porém munido de certa consistência cultural e qualidade formal, essas arquiteturas têm sido, já há pelo menos sessenta anos, exemplares de qualidade e didatismo na construção da cidade. Barcelona, na Espanha, assim como Porto, em Portugal, são cidades europeias de certo cosmopolitismo e efervescência cultural, compartilhadas com forte regionalismo e, em determinado sentido, provincianismo. Barcelona, capital política da Catalunha, goza de identidade cultural expressiva acompanhada de sentimentos nacionalistas regionais que por vezes se opõem à ideia de nação configurada da forma como politicamente hoje se constitui a Espanha. Condições mesológicas, históricas, variação de dialetos e tradição cultural contribuíram em movimentos artísticos e sociais próprios, cujo sentido acompanha a ideia de distinção cultural e, eventualmente, autonomia. Simultaneamente, como diversas metrópoles europeias e americanas, a cidade foi signatária dos movimentos artísticos abstratos da vanguarda moderna das primeiras décadas do século XX, cuja propagação a partir dos principais centros de irradiação europeus, em particular Holanda, Alemanha e França, conduziu, em contextos diversos e/ou periféricos, manifestações distintas. Cronológica e processualmente, a Catalunha em muitos aspectos oferece paralelos às manifestações da Arquitetura Moderna no sul latino americano e seu confrontamento com os centros de propagação, bem como, ainda que indiretamente, influências laterais através da arquitetura da região do Prata, em particular do catalão Antoni Bonet Castellana, suas obras no Uruguai e a filiação às ideias organicistas de Alvar Aalto. Neste sentido, assim como na introdução e nos diversos exemplos sul-americanos citados no decorrer da investigação, defendo a ideia de examinar contextos comparativos menos associados aos tradicionais grandes centros, como Paris, Londres e Amsterdã, na Europa, com escalas e manifestações proporcionais e análogas aos fenômenos urbanos das cidades como Porto Alegre, Rosário e Córdoba, equidistantes das capitais políticas e econômicas. Sergio MMarques 495 1 Fonte: Foto Sergio M. Marques, 2008 Fig. 2 - Casa Catasús, Josep Antoni Coderch, 1956-57, Sitges - Catalunha. Os anos do final da década de 1940 até a década de 1970 são o tempo de definição de uma arquitetura moderna catalã, à margem dos grandes centros da arquitetura mundial, que emerge como interpretação regional da abstração internacional, expressando sua singularidade e continuidade histórica. Aderindo inicialmente às interpretações organicistas, fazendo certa oposição ao funcionalismo e à racionalidade dogmática, arquitetos reunidos sob a alcunha de Grupo R, em particular Antonio Coderch e Manoel Valls, incorporaram sistemas formais autóctones, por vezes pitorescos, de ascendência mediterrânea e critérios compositivos e tipológicos abstratos. Conforme Piñon: Nestas condições a incorporação dos postulados estéticos da arquitetura internacional adquire em Barcelona um duplo sentido: por um lado existe uma evidente vontade de assumir parâmetros de produção e crítica habituais dos centros nevrálgicos da arquitetura mundial, por outro, tende a recorrer e expressar a singularidade nacional através da arquitetura e estabelecer, assim, 2 continuidade histórica com o próprio passado. Tal assertiva serve para descrever a arquitetura moderna brasileira em relação ao Movimento Moderno internacional e, em outro plano, em parte, a arquitetura da região sul brasileira em relação ao centro do país. Ainda o rasgo de comedimento e o compromisso com o fazer “sem originalidade nem extravagâncias”, como Oriol Bohigas classifica a arquitetura moderna barcelonesa inicial, oferece novas pontes de comparação e paralelismos entre uma região brasileira maculada por distanciamentos históricos e culturais do centro, acentuados por diferenças climáticas e culturais daquelas emblematizadas como representativas da imagem nacional, refletidas na apropriação particularizada da arquitetura moderna no sul, centrada na prática. “Consciência de superação do funcionalismo, restauração da ideia de modernidade e referência ao vernáculo são as ideias mais generalizadas no âmbito das arquiteturas barcelonesas que assumem a dimensão cultural da 3 prática como aspecto essencial de sua atividade” . Esse sentido de continuidade histórica, busca de identidade regional e valores particulares no amparo do fazer, com instrumentos de renovação moderna, novas tecnologias e abstração, aliados a certo conservadorismo, comedimento e apego à tradição, são senso comum na arquitetura catalã, platina e gaúcha, e o contexto espanhol, pelo desenvolvimento da arquitetura como agente qualificador urbano e disseminação de uma arquitetura contemporânea de alta qualidade média, parece ser referência eficaz na compreensão dos valores da arquitetura no sul. Sem o virtuosismo da arquitetura moderna vanguardista produzida no Rio de Janeiro a partir dos anos 1930 e o arrojo da arquitetura paulista dos anos 1960, a parcimônia de uma produção moderna moderada centrada no ofício de forte ascendência na cidade, espaço urbano e visão do coletivo, marcantes no sul, pode ser ingrediente útil para a recuperação de cultura regeneradora da arquitetura recorrente brasileira. Na medida em que avança a década de 1950, as obras dos arquitetos ligados ao Grupo R, protagonizadas principalmente por Coderch e Sostres, progridem em termos de aproximações com os ideais de precisão e abstração das correntes neoplasticistas, migrando de interpretações por vezes expressionistas, como a casa Ugalde (Coderch, Barcelona, 1951-1952) (Fig.88, Cap. I, "A") e o edifício de apartamentos da Barceloneta (Coderch, Barcelona, 1951-1954) (Fig.19, Cap.FAM), coerentes pela modernidade simultaneamente conectada à tradição construtiva e formal mediterrânea no primeiro e à cidade tradicional no segundo. As casas Augustí (Sostres, Barcelona, 1953-1955), Moratiel (Sostres, Barcelona, 1955-1958), Catasús (Coderch, Sitges, 19563 Fonte: PIÑON, Helio; ROCA, Catalá F. Arquitectura moderna em Barcelona (1951-1976). Barcelona: Ediciones UPC, 1996. p. 60 2 PIÑON, Helio; ROCA, Catalá F. Arquitectura moderna en Barcelona (1951-1976). Barcelona: Ediciones UPC, 1996. p. 19. Idem, p. 24. 496 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950 a 1970 Epílogo Fonte: Fotos Sergio M. Marques, 2011, 2012 Fonte: Fotos Sergio M. Marques, 2010 Fig. 4 - À esquerda, Edifício na Ronda General Mitre, Francisco J. Barba Corsini, 1960-64. À direita, Edifício Cidade de Seida, Francesc Mitjans, 1955-67. Barcelona-Catalunha. Fig. 3 - À esquerda, Edifício na Calle Escorial, Alemany, Bohigas, Martorell, Mitjans, Ribas Casas, Ribas Piera, 1955-1962. À direita, Edifício na Via Augusta, Francesc Mitjans, 1959-1960. Barcelona-Catalunha. 1957) (Fig.2) e fundamentalmente o edifício de apartamentos da Rua Johan Sebastian Bach (Coderch, Barcelona, 1958-1960) (Fig.19, Cap.FAM) dão um passo na direção de certa universalidade moderna sem caráter normativo, aproximando-se da arquitetura produzida na Costa Oeste norte-americana e Marcel Breuer, assim como a arquitetura brasileira no sul, que se afastou dos trejeitos vernaculares iniciais defendidos pelo realismo socialista e as influências do nativismo carioca e se aproximou das vanguardas construtivas, do pensamento miesiano e de Richard Neutra, com mesma índole de arquitetura reservada, reticente a grandes gestos e livreformismo da arquitetura tropical, e em outro sentido mais frugal e econômica, embora racionalizada e tectônica, como a produzida em São Paulo. Obras como as casas Valdez (Fayet, Porto Alegre, 1951) (Fig.17.1, Cap.I "F"), Samuel Madureira Coelho (Corona e Fayet, Porto Alegre, 1952) (Fig.18.2, Cap.I "F"), Torelly (Araújo, Torres, 1955) (Fig.32, Cap.I "A"), Casa Mello Pedreira (Moojen, Porto Alegre, 1958-1963) (Fig.76, Cap.I "M"), Maurício Sirotsky Sobrinho (Moojen e Heckman, Porto Alegre, 1963) (Fig.117, Cap.I "M"), Kopstein (Araújo, Porto Alegre, 1966) (Fig.109, Cap.I "A") e a seguir o Edifício FAM (Fayet, Araújo e Moojen, Porto Alegre, 1966-1968), como os exemplos barceloneses, seguiram o caminho de um fazer adequado às contingências do contexto urbano e do ofício. Em especial, o edifício da Rua Johan Sebastian Bach oferece termos de comparação promissores com o Edifício FAM, pelo rigor organizativo, a disposição da estrutura versus composição espacial, expressão dos fechamentos laterais, os espaços de intermediação e os elementos porosos das fachadas e também pela obediência às contingências do tecido. Ambos os projetos reúnem noções exemplares de escala, modernidade e domesticidade que oferecem material referencial a um exame de produção arquitetônica apropriada de movimento cultural e estético universal, Sergio MMarques 497 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Acervo FAM Fig. 6 - Urbanização de Portozuelo, Antoni Bonet Castellana, 1944, Punta Ballena- Uruguai. Fig. 5 - Edifício Guayaqui, Raul Sichero, 1952, Montevidéu. particularizado em circunstâncias específicas. Diversos edifícios de apartamentos catalães oferecem o mesmo paralelo de proximidade tipológica e formal a edifícios gaúchos, como o edifício de habitação coletiva da rua P. de Antoni M. Claret (Moragas, Barcelona, 1957-1958) e o Edifício Ganzo (Ganzo de Castro, Porto Alegre, 196_); Edifício na rua Escorial (Alemany, Bohigas, Martorell, Mitjans, Ribas Casas, Ribas Piera, Barcelona, 1955-1962) (Fig.3) e o Edifício Marquês do Herval (Pilon, Porto Alegre, 1957); Edifício da rua Pau Casals (Corsini, Barcelona, 1953-1955) e o Edifício Esplanada (Fresnedo Siri, Porto Alegre, 1952); Edifício na Via Augusta (Mitjans, Barcelona, 1959-1960) (Fig.3) e Edifício Redenção (Bered e Kruchin, Porto Alegre, 1955); Edifício da Ronda General Mitre (Corsini, Barcelona, 1960-1964) (Fig.4) e o Edifício Christofell (Bered, Porto Alegre, 1962), assim como, além dos projetos de Luis García Pardo, o Edifício Guayaquí (Raúl Sichero, Montevidéu, 1952) (Fig.5) ou o Edifício Cidade de Seida (Francesc Mitjans, Barcelona, 1955-67) (Fig.4); Edifício na rua Escoles Pies (Barba Corsini, Barcelona, 1960-1962) e o Edifício Floragê (Libeskind, Porto Alegre, 1963), todos fundamentalmente integrados de maneira qualificada ao tecido e contexto. Antoni Bonet Castellana (Barcelona, 1913-1989), arquiteto barcelonês, discípulo de Josep Lluis Sert e integrante do grupo que participou do IV CIAM em Atenas e do GATPAC, ramo catalão do GATEPAC (Grupo de Arquitectos e Técnicos Españoles para el Progresso de la Arquitectura Contemporanea), trabalhou no estúdio de Le Corbusier, onde desenvolveu forte amizade com Jorge Ferrrari Hardoy e Juan Kurchan, arquitetos argentinos que participavam do desenvolvimento do plano de Buenos Aires. Bonet, entre outros projetos, colaborou na Maison de Week-end. Em 1938, Bonet migrou para Buenos Aires onde, com os colegas conhecidos no estúdio de Le Corbusier, fundou o grupo Austral com bases semelhantes ao GATPAC. De 1938 a 1945, Bonet desenvolveu trabalhos e concursos em parceria com arquitetos deste grupo Austral, alguns para a Espanha, quando finalmente se estabeleceu em Punta Ballena, Uruguai, para realizar o projeto urbanístico de Solana Del Mar (Fig.6), as casas Berlingieri, Cuatrecasas, Booth (Fig.7) e Riconada, bem como sua própria residência. Manteve relações de proximidade com Julio Vilamajó, liderança Uruguaia do Movimento Moderno e arquiteto cuja formulação teórica, alinhada com alguns conceitos nacionalistas de Lúcio Costa, teve certa influência em arquitetos gaúchos, em especial Demétrio Ribeiro, formado no Uruguai. No projeto da Casa Berlingieri, influenciado pela tradição das abóbadas catalanas e por ideias artesanais de Le Corbusier do pós-guerra, que culminaram na Casa Jaoul (Le Corbusier, Neuilly-sur-Seine, 1955), projetou sistema de abóbadas, construídas pelo jovem engenheiro Eládio Dieste, utilizado posteriormente na Casa Ricarda (Bonet, Barcelona, 1953-1960). Além dessa relação de consequência e todo o capítulo da cerâmica armada desenvolvido por Dieste e sua repercussão no Brasil, os projetos de Bonet para Solana Del Mar, em especial o Paradouro, tiveram certo impacto entre uma burguesia sul-brasileira abastada que circulava no meio seleto da orla uruguaia. Araújo, natural de Pelotas, cidade próxima à fronteira com o Uruguai, sempre sensível à arquitetura platina, afirma que teve em Bonet, nos projetos para Solana Del Mar (Fig.8) e na arquitetura moderna uruguaia uma referência paralela à da arquitetura moderna brasileira produzida no centro do país, em termos de propriedade regional, comedimento construtivo e austeridade formal. Os critérios de projeto e forma, praticados pelos arquitetos de ofício como Mitjans, Moragas e Barba Corsini, além de Coderch e Sostres, nos anos 1950 e 1960, muito mais dirigidos às particularidades dos problemas funcionais e construtivos, dentro de certa abstração formal despretensiosa no sentido de Fonte: Foto Sergio M. Marques, 2009 498 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950 a 1970 Epílogo Fonte: Fotos Sergio M. Marques 2009 Fig. 7 - Casa Booth, Antoni Bonet Castellana, 1948, Punta Ballena- Uruguai. reivindicar identidade estilística, seguem a mesma linha. O fenômeno da produção qualificada da arquitetura moderna recorrente nos anos 1950 e 1960, portanto, não é um privilégio local, mas um extrato do Movimento Moderno, significativamente eclipsado pelos protagonistas, cuja exacerbação midiática atual só faz por agravar a ausência deste referencial, presente em diversos contextos e segmentos, cuja oferta de material de projeto para as novas gerações apresenta igual consistência, maior factibilidade e está mais disponível. Mesmo em redutos relativamente específicos do meio intelectual gaúcho, sem se impor como um movimento cultural distinto, expressivo em termos nacionais, nem escola arquitetônica demarcada formalmente, a ideia de adequação e fundamentação de uma cultura contextualizada da arquitetura moderna perpassou sua evolução nativa, encontrando eco com tradição histórica e pensamento regionalista arraigado no meio local, do qual finalmente não emergiu identidade formal distinta do universal, mas justamente a ausência dela. Sem defesas xenofóbicas ou bairristas, a compreensão e mapeamento desses processos, avaliando suas ocorrências e descortinando seus meios, é um caminho de evitar simplificações interpretativas e manifestações superficiais, de universos onde a propagação de movimentos entre centro e margem oferece material de projeto cujo conhecimento evoca pertinência de valores universais, por vezes totalizadores, mas evolutivos, e igualmente identidades locais, por vezes conservadoras, mas reveladoras de realidades indispensáveis na qualidade média da arquitetura e urbanismo brasileiros. Assim, a arquitetura moderna produzida no período estudado, ainda pouco conhecida pela historiografia, pode significar uma herança útil para as gerações vindouras, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Fonte: Fotos Sergio M. Marques 2009 Fig. 8 - Parador Solana del Mar, Antoni Bonet Castellana, 1947, Portozuelo - Uruguai. muito mais pela suas qualidades formais e construtivas e pelos seus meios de concepção ainda vigentes, assim como sua aplicabilidade cultural, do que por qualquer outra relação hereditária. O Trabalho de Héros As gerações de arquitetos formadas nos anos 1940 e 1950 no Estado do Rio Grande do Sul – ou seja, a segunda e/ou terceira geração de arquitetos atuantes no Estado, sucedendo os estrangeiros que para cá convergiram desde o final do Século XIX, e os primeiros arquitetos formados no Brasil, a partir da ENBA-RJ – formaram-se pessoal e profissionalmente em contexto e época em que a demanda pelo fazer predominava. O país, em ambiente de pós-guerra, prospectava seu ingresso na industrialização e no progresso econômico, o nacionalismo dava ímpeto à sociedade no sentido da criação de nação nova e moderna. A economia oferecia condições de desenvolvimento e oportunizava, principalmente através do Estado, encargos importantes e férteis para as ideias de modernização. Igualmente, mercado e iniciativa privada propiciavam boas Sergio MMarques 499 oportunidades de trabalho para círculo ainda restrito de profissionais, ou seja, havia trabalho importante e também encargos recorrentes abundantes. Neste sentido, a formação, ambiente acadêmico e profissional estavam substancialmente focados no fazer, na preparação e condicionamento do arquiteto e urbanista em exercer sua disciplina, praticá-la em condições concretas, seja na iniciativa privada, seja no poder público, em todas as escalas, através de escritórios privados ou escritórios espalhados pelas secretarias e divisões das instituições (normalmente bem preparados, organizados, equipados e estruturados para o desempenho das ações arquitetônicas e urbanísticas). A coincidência do Movimento Moderno com este segmento histórico vai mais além da simples chegada de um movimento artístico, mas coincide, de fato, com a estruturação de contexto social fértil, cujas relações de causa e consequência ampararam o movimento cultural. Para os arquitetos desta geração, a arquitetura e urbanismo modernos eram a resposta que fazia sentido aos anseios, demandas e desejos da sociedade como um todo. Portanto, o ingresso na preparação e saber da disciplina, significativamente focado no exercício do ofício, significava aderir à maneira de pensar, sistema de projetar, parâmetros espaciais, técnicos e sentido formal da arquitetura moderna que, de alguma maneira, preenchia também o status quo desejado por políticos e empreendedores. Era, em última instância, a maneira lógica de fazer arquitetura, com maior ou menor eficiência, a qual esta geração realizou com boa qualidade. Assim, este bom desempenho coletivo refletia as condições favoráveis da época para o desenvolvimento da modernização como um todo, uma melhor condição cultural dos contratantes e poder público, sintonizados na mesma visão modernizadora. Era, portanto, um movimento cultural que, de certa forma, envolvia os setores sociais e econômicos representativos, dentro do qual a manifestação artística prosperava. O sul do Brasil e a região meridional da América Latina, pelas suas peculiaridades, acentuaram o sentido recorrente desta produção. Por razões idiossincráticas, no Rio Grande do Sul, sem a carga simbólica da representação institucional da capital federal no Rio de Janeiro e a pressurização econômica da capital industrial do país em São Paulo, as ações arquitetônicas e urbanísticas aproximaram-se mais do ordinário e do tecido. Uma das razões pela sua maior disseminação, não só entre arquitetos, mas também entre construtores e opinião pública, parte da ideia de ordem formal associada à solução dos problemas de programa e construção, dentro de certo sentido 4 comum, sem recair sobremaneira em funcionalismo . Os encargos, públicos e A dimensão formal da arquitetura moderna foi uma constante, embora em determinados momentos o sentido de ordem tenha se restringido a condicionantes funcionais e construtivas, sob o ponto de vista da racionalidade de sua organização e produção. Porém, a espiritualidade visível na 4 privados, de certa forma foram condicionados por escala mais doméstica, proporcionada a um número maior de escritórios de menor envergadura. Por outro lado, assim como no Uruguai e na Argentina, o comedimento formal decorrente tanto de condições climáticas quanto da conjuntura cultural significaram certa reserva com as inquietações de identidade formal nacional, exercidas pela arquitetura nativista da capital, dadas suas especiais condições mesológicas e institucionais. Também, no caso do Rio Grande do Sul, a limitação econômica da província significava uma restrição importante de investidores e extrato social capaz de financiar projetos de maiores pretensões formais, como no caso de São Paulo. Assim, a arquitetura moderna brasileira no sul, com mais parcimônia, se manteve contrita a certa austeridade, cuja homogeneidade, principalmente em termos de escala e constituição de tecidos urbanos, ainda que sutil, se faz notar distinta do centro do país e aparentada com os vizinhos platinos. A dialética dessas relações está no fato de que, tanto pelo olhar direto no contexto cultural europeu e norte-americano, quanto pelo descompromisso com exigências formais nativas ou monumentalidade, a arquitetura meridional brasileira se manteve mais contida nos aspectos universais da arquitetura moderna, com maior tributo à abstração conjugada à parcimônia construtiva, simultâneo à maior disseminação da arquitetura moderna na cidade, dentre segmentos sociais mais amplos e nichos de mercado diversos, além dos usuais meios de representação do poder e da economia – o que garantiu presença pela propagação e perenidade da abstenção formal, que, de certa forma, significam maior qualidade média ao largo do tempo. Igualmente, a incorporação de critérios do Movimento Moderno na prática corrente do urbanismo e sua aplicação na gestão urbana acabaram por condicionar a evolução de princípios estruturadores da cidade e constituição de tecidos urbanos, que apresentam, a um olhar atento, sentido de organicidade ao funcionamento como um todo, assim como maior homogeneidade nas partes e arranjos urbanos notáveis em comparação com outras capitais do país, o que também significa maior qualidade média. Antecedendo a arquitetura, a herança cultural urbanística no sul – iniciada sob forte influência do Positivismo no Estado, o pragmatismo e confiança na ciência, presentes no plano Moreira Maciel em 1914, posteriormente continuado por Paiva e Ubatuba, com a contribuição da formação no Uruguai, a orientação de Maurício Cravotto e a obra de Le Corbusier e o rigor formal perseguido insistentemente na obra de Mies e seus seguidores, para citar dois exemplos canônicos, comprovam a indissociável dimensão artística da arquitetura, manifesta pelas lideranças modernas, em particular a investigação de novos parâmetros formais, ligados à abstração, e novos parâmetros de controle formal, distintos da tradição acadêmica, adequados às funções e condições técnicas contemporâneas. 500 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950 a 1970 Epílogo etos. Fig. 9 - IX Congresso Brasileiro de Arquitetos. Da esquerda para direita, Luiz Paulo Conde, Carlos M. Fayet, tradutor, Ernest Neufert, Miguel Pereira, Paulo de Mello Bastos, Pedro Taddei Neto e Alfredo S. Paesani (em pé), 1976, São Paulo-SP. influência da Sociedade Francesa de Urbanismo – aproximou-se dos princípios do Movimento Moderno mais sistematizadamente que a arquitetura, a partir da segunda metade dos anos 1930, estruturando-se como prática e ação sobre a urbe no decorrer dos anos 1940 e consolidando-se como política de gestão da cidade a partir dos anos 1950. Analogamente à arquitetura, o urbanismo resistiu a formalismos exacerbados e valorizou os aspectos específicos dos problemas enfrentados, o "programa" da cidade, através da análise sistemática de seus fatores supervenientes. Da mesma maneira que nos projetos de arquitetura, e no exercício do ofício praticado pelos arquitetos desta geração, a ponderação das outras disciplinas, a contribuição de outras ciências, em um trabalho de equipe multidisciplinar, igualmente prosperou, dentro de um sentido menos autoral e personalista, mais abrangente e universal. Da mesma forma, a vocação do fazer, nesta geração, e a capacidade de colocar em marcha ações e projetos de arquitetura e urbanismo, propiciadas pelo espírito da época, favoreceram a realização e a colocação em marcha efetiva de planos e propostas urbanísticas, mesmo que com naturais limitações impostas pela conjuntura. No entanto, a ação pragmática e sistêmica não significou o abandono de critérios de forma, mas sim a adesão ao sentido moderno do espaço urbano cuja validação ainda está por se fazer. Neste sentido, de abnegação, altruísmo e dedicação às causas em que se envolveram, os arquitetos desta geração em geral e Fayet, Araújo e Moojen em particular fazem jus a muitas vezes jocosa alcunha de heróis. A carreira de Carlos Maximiliano Fayet abrangeu largo espectro de atuação abnegada ao serviço público, na Divisão de Urbanismo (PMPA, 19551963), à docência da UFRGS (FA e IBA, 1958-1970 e 1980-1991) e às entidades de classe, na presidência da ABEA (1984-1987 e 1988-1989) e na presidência do IAB (IAB-RS, 1994-1997 e IAB-DN, 1998-2000). A tenacidade pela afirmação do Movimento Moderno, disseminada no ensino do Curso de Arquitetura do IBA e nas primeiras gerações da FA/UFRGS, no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, contraditória à tendência expressionista local, conservadorismo cultural e cidade figurativa dominantes, encontrou em Fayet um notável protagonista. Esteve, desde estudante, sistematicamente no avant guard dos movimentos em ebulição. Incorporou-se à equipe coordenada por Paiva no Planejamento Urbano do Município, chefiando a Secção de Planejamento (1956-1963) e dirigindo a Divisão de Urbanismo (1958), com relevo na participação do Plano Diretor para Porto Alegre, de urbanismo estruturalmente filiado à Carta de Atenas; e na participação da equipe para os projetos de urbanização da Praia de Belas (1956) e da Avenida Primeira Perimetral (1958), projetos de desenho urbano expressivos do espaço moderno radieuse imaginado para o aterro da Praia de Belas. Se o compartilhamento com a Arquitetura Moderna Brasileira, no sul, se deu inicialmente com a criação da Faculdade de Arquitetura (IBA, 1945) e a fundação do Departamento-RS do IAB (1948), o exercício do ofício dos arquitetos de segunda geração, fundamentalmente nos anos 1950, em obras de arquitetura públicas e privadas e no planejamento urbano municipal, criou aderência à cultura local. O projeto para o Edifício IAB (1960), incorporado na gestão de Irineu Breitman, é o ponto culminante da tríade institucional (FA/UFRGS, PMPA, IAB) em que Fayet, com devotamento e magnanimidade, combateu pela arquitetura do seu tempo (Fig.9). Araújo, assim como Fayet, dedicou-se à docência na FA-UFRGS (19581968), na FAU UniRitter (1990-2010) (Fig.10) e ao IAB (presidente em 19671968), assim como acompanhou, com certa cautela, todos os movimentos estudantis e sociais em prol da afirmação da profissão e, de certa maneira, da arquitetura moderna. Diferentemente de Fayet, no entanto, foi na produção projetual e na busca sistemática pela consistência de sua arquitetura que Araújo depositou sua maior energia, dotando o projeto, mais que qualquer outra ação, como a principal ferramenta de contribuição profissional. Em um balanço geral, Araújo avalia que sua arquitetura, feita com certo rigor e atenção à tecnologia, está ligada tanto ao entendimento que o levou à Faculdade de Engenharia, em um primeiro momento, e ao Curso de Arquitetura a seguir, quanto a sua natureza pessoal que, conjuntamente com circunstâncias biográficas, de alguma maneira o conduziram a afinidades com a contenção e parcimônia Fonte: Acervo FAM Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 501 Fig. 10 - Conferência de Eládio Dieste. Da esquerda para a direita, Cairo A. da Silva, Carlos E. D. Comas, Sergio Marques, Flávio D´Almeida Reis, Eládio Dieste, Julio R. Collares e Cláudio Araújo, 1990, FAU-UniRitter, Porto Alegre-RS. formal dos uruguaios, precisão construtiva e sentido de ordem dos alemães. Expõe que, diferentemente dos da maioria de sua geração, teve uma conexão irregular com Le Corbusier e a arquitetura carioca, marcada pela resistência às curvas e ao livreformismo, exemplificada pela arquitetura de Niemeyer e Romchamp, da qual reconhece valores, mas que estão fora de suas preferências estéticas. Portanto, entende que sua afinidade formal e os materiais de projeto referenciais estavam mais focados no universo do design de Van Onk, dos designers italianos e dos arquitetos europeus de ascendência 5 abstrata, como Mies e os holandeses . Com ênfase no objeto e edificação mais que na escala urbana, Araújo apostou firmemente na autoridade e poder civilizatório da arquitetura. Moojen, da mesma maneira que Fayet e Araújo, dedicou-se à docência na FA-UFRGS (1958-1968) e à prática profissional em larga escala, com franca adesão ao projeto como instrumento privilegiado de investigação e intervenção na realidade, ainda que tenha acompanhado com interesse e assiduidade todas as causas coletivas em que esteve envolvido. A obra arquitetônica de Moojen, ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 21 jun. 2010. 5 assim como a de Araújo, tem esta densidade de experiências formais e espaciais próprias de quem pratica uma arquitetura de acordo com critérios profundamente refletidos. Em ambos os casos, mesmo que afastados precocemente do ambiente acadêmico, mantiveram-se constantemente conscientes do pensamento arquitetônico contemporâneo e transladavam suas reflexões às experiências concretas de projeto, com clara relação entre forma e conteúdo. De maneira distinta à de Araújo, no entanto, Moojen não se manteve fiel a uma certa linha formal, e sua habilidade arquitetônica foi se diversificando, ao longo do tempo, por adensamento. De certa maneira talvez mais virtuoso, dedicou seu talento a experiências formais distintas, nas quais a habilidade se desenvolveu pela experimentação. No entanto, foi no urbanismo que se descortinou sua maneira de agir e pensar com maior magnitude, e sua disciplina se revela através de ações sistêmicas e concatenadas com o sentido ordenador e prospectivo de amplo espectro (Fig.11). A participação de Moojen no planejamento urbano da capital gaúcha, iniciado conjuntamente com Fayet na segunda metade dos anos 1950 e continuado durante mais de trinta anos, perfaz a construção de um trabalho – merecedor de outro estudo equivalente – cuja profundidade e extensão perpetuam-se na estrutura de Porto Alegre. Além de episódios significativos do urbanismo moderno brasileiro e espaços representativos do collage urbano moderno sobre tecido histórico, típico de cidades latino-americanas, o sistema de planejamento que independente de filiações estilísticas referencia o urbanismo como ferramenta capital na gestão da cidade, trouxe legado que em Porto Alegre, todavia, ainda está por se valorizar. A arquitetura e urbanismo produzidos por Fayet, Araújo e Moojen são, portanto, exemplos significativos de relações estruturais e conjunturais da Arquitetura Moderna Brasileira que, sem necessariamente detratar as lideranças consagradas, mostram outros segmentos, cuja revelação preenche vazios importantes para a cultura do ofício e do fazer. Ainda que os três arquitetos, em determinados aspectos, também sejam exceções à regra, o sentido moderno de suas arquiteturas e ações, por formação e condição, apresenta a dimensão tópica da profissão, cuja referência em termos de procedimentos e pertinência em termos de arquitetura é patrimônio para as novas gerações, tanto quanto a singularidade das obras emblemáticas produzidas pelos mestres consagrados. Os projetos para a Petrobras e Edifício FAM de certa maneira ilustram este caminho do universal para o particular, do singular para o recorrente, do abstrato para o concreto. No primeiro, se descortina a estruturação de sistema espacial indissociado do construtivo, cuja formalidade, com certa monumentalidade, persegue a ideia de representatividade, comum na arquitetura brasileira canônica, percorrendo, no entanto, outros caminhos, mais Fonte: Acervo FAM 502 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950 a 1970 Epílogo Fig. 11 - Título Honorífico, Cidadão Emérito de Porto Alegre, Moacyr Moojen Marques. Da esquerda para a direita, Newton Burmeister, Maria Ivone B. Marques, Moacyr M oojen, Clóvis Ilgenfritz, Raul Pont, Wrana Panizzi, Carlos M. Fayet, Sergio Bottini, 1997, Câmara de Vereadores de Porto Alegre, sensíveis à abstração formal e à ideia de economia. O FAM igualmente segue os mesmos passos, porém se insere na condição de tecido e conjuntamente com o contexto compõe uma ideia de cidade moderna, imaginada para o bairro Praia de Belas, compartilhada pelos três, cuja liberdade individual obedece a parâmetros morfológicos coletivos. O sistema formal do Edifício FAM comprova a universalidade da arquitetura praticada na REFAP, resolvendo com eficácia programas tão distintos sem qualquer tipo de imitação. Mahfuz entende que esta arquitetura de natureza abstrata e universal, de certa forma filiada à obra de Mies, tem como um dos aspectos importantes, em termos de influência sobre os arquitetos, “[...] seu didatismo, a capacidade de atuar como modelo para os projetos menores que, respeitando-a, podem utilizá-la, adaptando-a a novas 6 circunstâncias” . Igualmente, os dois projetos são signatários da ideia da arquitetura e urbanismo a serviço de convicções pessoais e ideológicas. Nas obras realizadas pela Petrobras, na década de 1950, o movimento nacionalista “O petróleo é nosso” encontrou arquitetos simpáticos à corrente social da qual Ver: MAHFUZ, Edson. Tipo, projeto e método – construção disciplinar: quatro partidos em debate – 1960/2000. Porto Alegre: Marca Visual, 2011. p. 10. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 6 a Arquitetura Moderna Brasileira era partidária. Frente a uma demanda cuja expectativa objetivava, através das obras públicas, firmar a imagem de nação moderna e identidade própria, que se em obras canônicas lograram êxito, na REFAP os meios arquitetônicos racionalizados, a ideia de arquitetura e urbanismo modernos como ferramentas sociais renovadoras e o exercício do ofício competente encontraram uma das sedes. O entendimento da concepção espacial sob forma de ordem racionalizada e projeto como descrição da construção acompanhou o entendimento de modernização social que os três arquitetos, em suas carreiras, a partir dos anos 60, imaginavam ao alcance de suas ações. Também os projetos para a Petrobras, além de delimitar um sistema espacial e um modo de proceder o projeto arquitetônico, criaram as condições históricas para a reunião dos arquitetos que, a partir disso, juntos ou em separado, iriam produzir obras referenciais da arquitetura moderna brasileira no sul. O FAM, mais que a solução de um edifício de habitação coletiva habitual, representa um modo de morar no qual a arquitetura e o urbanismo são determinantes em aspectos que perpassam tanto a ideia de vida moderna quanto a da organização espacial da cidade, substrato que acompanha as soluções arquitetônicas desde partes do edifício até o bairro. Evidentemente, os objetivos imaginados e as teses defendidas não atingiram sua plenitude nem lograram realizar realmente as convicções perseguidas. No entanto, é nos procedimentos de projeto e no espaço arquitetônico em si que está o principal legado, a partir do qual certamente a continuidade arquitetônica poderá conquistar novos patamares dentro de um sentido evolutivo. Um legado útil e uma tarefa complicada Fonte: Acervo FAM A arquitetura evidenciada pelos projetos da REFAP, TEDUT e FAM, assim como os projetos urbanos para a Praia de Belas, possui valores arquitetônicos que transcendem a discussão ética, social e política e oferecem conteúdo disciplinar atual para o enfrentamento da relatividade contemporânea. Adotando critérios de análise desta arquitetura, igualmente focada na dimensão projetual, os quais ganham fôlego dentro do panorama atual de investigação da arquitetura moderna como patrimônio cultural coincidentes em autores como Comas, Mahfuz, Piñon, Colquhoun, Martí Arís e outros, finalmente se podem destacar atributos que remanescem como herança desta época e referencial significativo para o fazer contemporâneo. O sentido formal desta arquitetura, no que concerne às suas qualidades visuais e sofisticação espacial, ainda que intimamente associado às demandas funcionais e natureza construtiva, sobrepõe-se a qualquer teor conceitual ou ideológico. A codificação formal dos projetos descritos advém de critérios de forma intrínsecos à solução Sergio MMarques 503 arquitetônica dos problemas cuja razão é fundamentada pelos requerimentos do programa, com lógica formal fortemente dirigida a ordem e qualidade visual. Essa condição, no entanto, não significa que o saber arquitetônico inerente à intelecção visual prescinde da consistência cultural e da capacidade de reflexão teórica de seus autores, nem deve, como em outros tempos, fetichizar criatividade descompromissada de qualquer tipo. Apenas as colocam em direção do fazer equilibrado do ofício, da boa construção, na sofisticação da solução de problemas funcionais estruturais e corriqueiros com requinte formal através de um sistema de concepção arquitetônica generalizável, praticado com objetividade, a partir de saber acumulado pela experiência, observação e reflexão, usado com naturalidade e certa dose de intuição. Desta maneira, com a regularidade do exercício do ofício e dos predicados da arquitetura moderna, a solução arquitetônica, feita com esmero, atenção e rigor, porém com sensatez, dispensa arroubos e extravagâncias formais, assim como elucubrações conceituais alheias ao problema, para obtenção de objeto arquitetônico ou espaço urbano consistente e apreciável. Evidentemente, isso não significa a descartabilidade do saber acumulado e do preparo intelectual. Pelo contrário, a prática do ofício e o produto arquitetônico destes arquitetos demonstra justamente relação entre ação e reflexão, que se não apresenta o lustro acadêmico possível pelas condições atuais, evidencia a capacidade de extrair do conhecimento e de experiências passadas, tanto concretas quanto intelectuais, material de projeto para o fazer, cuja qualidade concreta ilumina o caminho necessário entre legado intelectual e prática. A legalidade e equilíbrio desta relação se impõem à condição contemporânea, na qual o prático pode ser visto como estúpido e o intelectual como inapto. É justamente neste sentido que cresce de importância o sentido formal desta arquitetura e sua qualidade visual como espaço, que de certa maneira sobrepuja qualquer outro valor oriundo da razão e da moral, ainda que esteja condicionado proporcionalmente a estes juízos. Como afirma Piñon, “economia, precisão, rigor e universalidade são atributos da arquitetura moderna que configuram uma visualidade 7 especifica” cujo domínio como prática recorrente alicerça esta arquitetura de apelo coletivo, como disseminação do moderno na produção ordinária, porém com significativa consistência formal. Por outro lado, não há como não distinguir a herança cultural brasileira, em termos de Movimento Moderno, com a importante ressalva que este consciente coletivo se revela mais além das obras representativas da arquitetura e urbanismo canônico, e sim no próprio tecido das cidades brasileiras e em experiências de toda ordem. Neste sentido ressalta-se a afirmação de Comas: 7 A figuração e o despojamento pressupõem o entendimento da arquitetura como arte pública que reitera e, às vezes, regenera o legado da disciplina e a cultura que integra, partindo da reflexão 8 sobre o programa e a situação de trabalho. Tal concepção é reveladora de condição indispensável para a regeneração da arquitetura contemporânea brasileira em termos de reconstrução de cultura coletiva cuja base para o exercício da individualidade é fundamental. No mesmo sentido, Martí Arís observa que: As grandes obras de arquitetura, antigas e modernas, não podem se entender sem a existência explícita ou implícita de um trabalho teórico, de um pensamento ativo, que põe constantemente em relação às formas arquitetônicas concretas com as ideias e conceitos de que aquelas formas se 9 alimentam. Sem este trabalho reflexivo que é próprio da teoria, não cabe falar de conhecimento. Assim, a crítica dos anos 1980 e o consequente incremento da academia como agente produtor de conhecimento, se não significarem, por um lado, terra arrasada e o eterno (e execrável) começar do zero, comum neste país, e por outro, a criação de meio intelectual inacessível ao sentido comum e à prática, constituem episódio da maior importância para a condição contemporânea e os pressupostos desta tese. Portanto, o exercício do ofício praticado sobre bases intelectuais consistentes e talento artístico, sem significar genialidade em qualquer sentido, indubitavelmente pode trazer à tona teor arquitetônico, tanto formal quanto intelectual, desejáveis para a construção da cultura comum e para a cidade como um todo. Abstração Moderada Outro aspecto significativo de observar na prática corrente dos três arquitetos é o referido nível de abstração formal dos projetos. De certa maneira, resistentes à adoção de discursos arquitetônicos regionalistas ou mesmo adesão incondicional às escolas arquitetônicas hegemônicas da arquitetura brasileira, o sentido de mimeses em relação à figuratividade das referências perde espaço para leitura específica do problema dialético da construção de soluções universais. Tanto REFAP e TEDUT quanto FAM são claramente influenciados por sistemas arquitetônicos referenciais, assim como evidenciam, nas partes, soluções usuais da arquitetura moderna. No entanto, o sentido destes critérios de projeto não tem nada a ver com filiação estilística e muito menos com 8 Ver: PIÑON, Hélio. La forma y la mirada . Buenos Aires: Nobuko, 2005, p. 33. Ver: COMAS, Carlos Eduardo Dias. Gaudí e a modernidade arquitetônica brasileira. ProjetoDesign, ProjetoDesign São Paulo, Arco Editorial, n. 268, jun. 2002, p.24-26. 9 Ver: ARÍS, Carlos Martí. La cimbra y el arco. Barcelona: Fundación Caja de Arquitectos, 2005. p. 26. 504 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950 a 1970 Epílogo figuração estética. A abstração, neste caso, vem a partir de demandas próprias do programa, do lugar e dos recursos disponíveis, prospectando sensatamente melhorar relações através da concepção desapegada de qualquer retórica estética apriorística. A construção da solução espacial se dá conjuntamente com a construção da própria concepção e não necessariamente a partir de uma obra precedente, mesmo que esse conhecimento se faça sentir, através da experimentação e do uso de soluções precedentes. A forma derivada, portanto, tende a não seguir aspectos figurados de outras referências tipológicas, e sim da relação visual com outras concepções cuja raiz seja comum. Dotando portanto as soluções de carga universal, ou seja, buscando em cada caso o atendimento intrínseco ao problema através de sua raiz genérica, sem determinantes externas, a arquitetura da REFAP, TEDUT e FAM redunda em sistema formal no qual o arranjo geral está intimamente associado à natureza de sua concepção construtiva, e as partes a sua natureza funcional, bem como ao lugar físico. Neste sentido, a abstração, focada no essencial, faz com que, ao contrário do que possa parecer, estas relações formais entre construção e uso se evidenciem com explicitude e qualidade visual, na medida em que não adotam nenhum outro recurso ornamental ou estético como simulacro, mas justamente tentam explorar formalmente sua natureza genuína. Nos projetos para a Petrobras, essa relação é evidente, na medida em que a lógica espacial do projeto cria um sistema tanto construtivo quanto formal que se adequa a diversas configurações e usos de natureza distinta, sem perder a ideia de conjunto, tanto urbano quanto arquitetônico. No Edifício FAM, o sistema segue em marcha e, pela natureza doméstica do programa, aprofunda as relações e diversidade construtiva com maior sofisticação das partes, sempre revelando com transparência e precisão suas soluções funcionais, sobre as quais as ideias tradicionais de figuratividade e hierarquia formal têm pouco a dizer. O conceito de abstração, na verdade, pode ter significados ambíguos. Segundo Carlos Martí Arís, “desde um ponto de vista mais estritamente filosófico, a abstração se concebe como um procedimento cognitivo que tende a separar os aspectos acidentais ou contingentes dos essenciais e 10 necessários” ou “tirar de algo para separá-lo da totalidade a que está 11 indissociavelmente unido” , o que, de certa maneira, está intimamente associado aos procedimentos de projeto utilizados na REFAP, TEDUT e FAM. Ao mesmo tempo, Martí Arís observa que, em arquitetura, esses conceitos 10 normalmente significam que “a obra abstrata se recorta separando-se de sua implicação com o mundo e se dota de suas próprias regras do jogo. Nela os elementos perdem importância em si mesmos, enquanto que cobram 12 protagonismo às relações” , o que no mesmo caso é verdade apenas em parte, já que os elementos têm tanto protagonismo quanto as relações entre eles, evidenciando que, também em relação à abstração, Fayet, Araújo e Moojen não tiveram nenhum tipo de ortodoxia. Da mesma forma também não a tiveram no sentido de contaminar a formalidade de suas arquiteturas com convicções ideológicas alheias aos problemas enfrentados, nem eximir o projeto como principal ferramenta de ação, o que de certa forma também significa abstrair, no sentido de abstenção do discurso em prol do fazer. Assim, comparando a obra anterior e posterior dos três arquitetos, bem como com muitos de sua geração, de certa maneira se pode dizer que a diferença de estilo entre eles, diferente da ideia tradicional da palavra, aproxima-se mais do entendimento de diferentes maneiras de aplicar o sistema moderno de relações entre partes, já que certa abstração e universalidade mantêm os princípios fundamentais comuns. Tectonicidade indissociada A abstração formal, no entanto, como prática corrente da arquitetura moderna e nos projetos dos três arquitetos, não significa desconexão com a materialidade e o domínio do construtivo – confusão comumente feita pelos estudantes de arquitetura atuais. Pelo contrário, o sentido de tectonicidade na obra de Fayet, Araújo e Moojen é uma constante, ainda que não seja uma determinante apriorística e formalista no sentido de estilo. O tectônico, neste segmento de arquitetura, tanto pode significar a adequabilidade e lógica de execução, dadas as condições intrínsecas do problema em questão, quanto profundos preceitos de economia. Porém, em qualquer caso, a coerência formal entre a solução, desenho do todo e das partes com a materialidade é condição fundamental à abstração, assim como o emprego inteligente e rigoroso da tecnologia, dos materiais e recursos oferecidos pela indústria da construção. A natureza “corpórea” de um edifício é tão inerente a sua natureza formal e funcional, que dificilmente a concepção ocorre em separado. Piñon afirma que: Não há concepção possível à margem da consciência construtiva: a técnica – como o programa – incide de modo definitivo nas condições de possibilidade da forma; a concepção espacial não Ver: ARÍS, Carlos Martí. La cimbra y el arco. Barcelona: Fundación Caja de Arquitectos, 2005. p. 32. 11 Ibidem. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 12 Ibidem. 505 Sergio MMarques superará o estado de mera ideação gráfica se não atende tanto à disciplina como aos estímulos da 13 técnica de construir. Oikos + Colere = Eco + Cul Tanto Perobras quanto FAM são exemplos evidentes disso. Tectonicidade, nestes casos, vai além da qualidade plástica dos materiais utilizados, como cor e textura, mas ordena a organização espacial dos edifícios, assim como associa a concepção formal dos mesmos com a estrutura resistente, cuja formalidade, regularidade e dimensionamento, assim como o sistema construtivo, é fator determinante. No entanto, esses elementos associados ao caráter abstrato das partes, seu rigor em extrair da natureza técnica e construtiva expressão visual não objetiva alcançar impacto formal potente ou desmesurado, pelo contrário, almeja integrar a solução estrutural e construtiva a condições adequadas de uso e praticidade, sem perda de requinte formal. Estrutura independente e à vista não são necessariamente elementos visuais por si, mas concorrem com o sentido de obter visão transparente e se associam aos diversos elementos de arquitetura, como fechamentos opacos, translúcidos ou diáfanos, balcões e coberturas, obtendo relações de funcionamento específico e autonomia formal. A técnica, nestes casos, portanto, não é um valor isolado, mas um dos ingredientes que concorre nas relações de funcionamento, economia e forma, cuja ordem final é determinada pela concepção, nem antes, nem depois. Portanto, nas obras citadas, a estrutura não só é assumida como um dos elementos organizativos do projeto, como também um de seus componentes expressivos, além de seu desempenho como estrutura resistente, cuja apropriação em termos conceptivos revela tanto o domínio tectônico quanto o artístico. Assim, evidentemente, como no caso dos três arquitetos desde o início de suas carreiras, a arquitetura esteve tanto no território da engenharia quanto no das belas artes, a conjunção da ciência com a arte foi uma constante. Mais uma vez, Martí Aris parece resumir bem a questão: Assim como um científico não renuncia a intuição, considerando-a como um ganho obtido exercitando as faculdades de concentração e observação, tampouco o artista pode prescindir da reflexão a que necessariamente lhe conduz o desejo de inteligibilidade que move a arte. [...] Portanto, o critério de demarcação entre arte e ciência não pode consistir na identificação da arte como o subjetivo e da ciência com o objetivo [...]. Nem a arte pode ser reduzida a mero empirismo 14 nem a ciência pode entender-se como estrita aplicação da racionalidade humana. O sentido da arquitetura moderna dos anos 1950 e 1960 esteve intimamente associado à ideia de construção da cidade e de um lugar espacialmente civilizado para a vida. A imagem moderna e os sistemas espaciais da modernidade se por um lado significavam, em determinados casos, a sobreposição ou extinção de tecidos históricos e intervenção na geografia, por outro coincidiam com a ideia de construção de um lugar novo, onde as funções urbanas ocorreriam de acordo com o espírito da época e a vida de acordo com a cultura. Neste campo, por um lado, o uso da palavra ecologia, do grego oikos, que significa “casa”, e logos, que significa “estudo” (portanto estudo da casa), é apropriado para descrever as relações de organização urbana e de habitação na cidade. Por outro, a palavra cultura, do latim colere, que significa “cultivar”, “cuidar de algo”, serve igualmente para tratar do meio ambiente e da relação da cidade com a natureza, igualmente presente na cidade moderna. O Bairro Praia de Belas e Edifício FAM, cuja temática finalmente trata da investigação e proposição do viver na cidade moderna, abarcam esta dialética indissociável em termos contemporâneos: ecologia e cultura. Mesmo incompleta ou ainda em construção, com a pluralidade típica das arquiteturas anônimas que finalmente vão preenchendo o 15 tecido da cidade conjuntamente com as variações urbanas consequentes das mudanças sociais, a Praia de Belas garante em seu conjunto certa ordem, decorrente do histórico urbano, cuja perenidade, assim como o edifício FAM, parece se manter. A construção da cidade como apropriação do território geográfico foi uma constante em termos historiográficos, desde a construção de castelos em posições privilegiadas de visualização do território até a ocupação de cavernas para a proteção do calor. Martí Arís lembra que: O exame da experiência histórica nos demonstra que a cidade nunca se construiu de costas para a natureza mas sim em aberto diálogo com ela. O lago, a colina, a península, o vale, o planalto, o rio e a baía são elementos arquétipos da geografia que frequentemente se convertem em ingredientes 16 primordiais da cidade. A cidade moderna, portanto, construída a partir de tecidos históricos e tradicionais, ainda que padeça do estigma da tabla rasa, seguidamente 15 13 14 Ver: PIÑON, Hélio. La forma y la mirada . Buenos Aires: Nobuko, 2005. p. 106. Ver: ARÍS, Carlos Martí. La cimbra y el arco. Barcelona: Fundación Caja de Arquitectos, 2005. p. 25. Neste sentido, segundo TSUKAMOTO, a arquitetura recorrente, realizada dentro de certos preceitos contemporâneos, pode significar um ensanche de vitalidade urbana significativa. Ver: KAJIMA, Momoyo; KURODA, Junzo; TSUKAMOTO, Yoshiharu. Made in Tokyo. Toquio: Kajima Intitute Publishing Co., 2010. 16 Ver: ARÍS, Carlos Martí. La cimbra y el arco. Barcelona: Fundación Caja de Arquitectos, 2005. p. 56. 506 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950 a 1970 Epílogo obedeceu aos mesmos critérios de adequação ao lugar físico, incorporando em seu contexto territórios de contemplação da natureza, quando não da própria em seu tecido. As ações do urbanismo moderno em Porto Alegre agiram seguidamente neste sentido, não só consolidando a estrutura de desenvolvimento histórico ocasionada desde sua ocupação pelos açorianos através do arroio e o desenvolvimento radioconcêntrico, dados os percursos sugeridos pela geografia, mas também na criação de áreas de valorização cultural da natureza. O strictu sensu da palavra ecologia e seu indissociável significado em relação à preservação do meio ambiente, por sua vez, encontrou na arquitetura moderna e na obra dos três arquitetos raízes que não só evidenciam atenção histórica neste sentido – tanto nos projetos urbanos para a Praia de Belas, quanto em projetos específicos, como o Delta do Jacuí, Parque Saint-Hilaire, Parque Estadual de Itapuã e os projetos para o Parque Marinha do Brasil – mas também sensibilidade antecipatória do sentido ecológico que estava por vir. A recuperação do traçado natural da baía da Praia de Belas, a criação dos parques lineares, análogos ao aterro do Flamengo no Rio de Janeiro, a criação do Parque Moinhos de Ventos, a preservação dos morros e encostas, assim como a distinção de área rural na região metropolitana, são ações que dão conta do sentido contemporâneo de incorporar a natureza na ecologia urbana sem maniqueísmo ou ortodoxias imobilistas, mas com discernimento da natureza e cultura humana. Cidade Inacabada Fonte: Foto Sergio Marques, 2012 Fig. 12 - Conjunto Poligono de Montbau, Guillermo Giráldez, Pedro López Iñigo, Xavier Subias, Manuel Baldrich, Antonio Bonet Castellana e Josep Soteras, 1957-1965, Barcelona-Catalunha Seguidamente é atribuída ao abandono da figuratividade e à abstração formal a perda de controle espacial do espaço urbano moderno. Martí Arís, ao lembrar que os críticos da cidade moderna usam sempre exemplos ruins para ilustrar seus argumentos, esquecendo por desconhecimento ou propositalmente a qualidade urbana de espaços públicos como do MESP, no Rio de Janeiro, ou o Federal Center, em Chicago, afirma que “o mais duvidoso é que a mudança imposta por estas duas condições de forma (edifícios como peças isoladas e espaço livre como vazio contínuo) conduza inevitavelmente a condições de deterioração e negação das qualidades e valores propriamente 17 urbanos” . A ideia de desenho nunca esteve alijada da urbanística moderna, ainda que tenha estabelecido outros princípios de estruturação do espaço que não os da tradição e tenha atuado em outras escalas cuja precedência era imberbe. A autonomia das partes e a organização formal a partir de demandas genuínas de programa e construção, dentro de preceitos de economia e 17 racionalidade, prescreveram à escala urbana, além dos fundamentos funcionais da Carta de Atenas, relações de forma entre objetos com significativo sentido de ordem e relações topológicas igualmente de teor artístico. O projeto para o bairro Praia de Belas, assim como experiências célebres do urbanismo moderno “periférico” destes tempos – para citar um, o Conjunto Poligono de Montbau, de Guillermo Giráldez, Pedro López Iñigo, Xavier Subias, Manuel Baldrich, Antonio Bonet Castellana e Josep Soteras (1957-1965), em Barcelona (Fig.12) –, mostra o princípio ordenador do espaço moderno, mais figurativo e influenciado por Le Corbusier no caso catalão, mais abstrato e influenciado por Hilberseimer no caso gaúcho. O urbanismo, como escala concreta da rua, praça e quarteirão, em paralelo aos níveis macro de planejamento metropolitano, teve no projeto da Praia de Belas uma proposta espacial com claros princípios de ordenação formal e crença no poder civilizatório da organização urbana, uma das principais ferramentas de controle do bem e espaço público. No entanto, como boa parte dos projetos urbanos modernos, a Praia de Belas não foi executada em sua plenitude, deixando menos evidente sua proposta espacial e mais indagações sobre sua pertinência. Idem, p. 74. Doutorado Sergio MMarques 507 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Por conseguinte a pergunta sobre o que resta da cidade da arquitetura moderna, caberia responder que, precisamente o que resta é seu projeto inconcluso, quer dizer uma ampla constelação de ideias, propostas e hipóteses que formam um arsenal de recursos que são ainda completamente operativos, através dos quais é possível seguir pensando na cidade moderna como uma legítima 18 aspiração da cultura contemporânea. Certamente, o caminho trilhado pelo bairro Praia de Belas não logrou atingir os princípios plenos de seu projeto original, assim como em boa parte dos projetos urbanos modernos, e sua evolução, ainda que trôpega entre interesses de toda ordem, expressa certa hibridez típica da cidade contemporânea, onde, conforme Rem Koolhaas, o acaso e o imponderável da natureza humana também interagem em prol de certos valores. As possibilidades são ainda incertas, mas contêm o começo de novas formas na arquitetura e no urbanismo, sem a nostalgia pós-moderna nem a tabula rasa moderna. A característica comum é uma ausência de teorias pré-concebidas, uma entusiasta liberação de uma série de dogmas autoimpostos e uma nova sensibilidade frente às qualidades do entorno circundante. A cidade contemporânea será o manifesto retroativo da beleza ainda por reconhecer da paisagem urbana do 19 final do século XX. O espírito de liberdade arquitetônica de Koolhaas e inclusão da produção ordinária da cidade de Tsukamoto, dentro de certas regulamentações básicas, uma tendência de certa forma já do planejamento urbano de Porto Alegre a partir de 1979, não deve em meu entender significar, como normalmente ocorre nos movimentos pendulares, uma fetichização do lixo e da porcaria, ainda que sejam também produtos da modernização não atingida. “O espaço lixo é o que resta depois da modernização ter seguido seu curso, o mais concretamente o que coagula enquanto a modernização está em marcha: 20 sua sequela” . Certamente, a cidade contemporânea deverá ser sempre o produto entre a soma de utopias não alcançadas e a subtração das limitações humanas, mas o mais próximo possível do imaginado, dentro de premissas teóricas equilibradas. Arquitetura de qualidade média não é qualquer coisa nem fruto absoluto do acaso. Hoje, no entanto, as condições para a qualificação do espaço urbano e da arquitetura recorrente pioraram, ainda que com o concurso da evolução tecnológica e social havida nas últimas décadas. O excesso de relativismo e a confusão do participativo acabaram por enfraquecer a ideia de organização comum necessária à saúde e beleza de Porto Alegre ou de qualquer cidade, 18 bem como da atribuição e competência dos agentes necessários para realizálas. A perda de unidade da arquitetura moderna brasileira não teve como principal prejuízo a desaparição gradativa de suas principais lideranças ou o enfraquecimento referencial de suas arquiteturas, mas sim a fragmentação de ideias e posturas no que concerne ao ambiente onde se constrói o tecido urbano dentre todos os segmentos concorrentes. A inexistência de um sistema arquitetônico compartilhado, cuja base comum garanta certa unidade de valores fundamentais, sobre o qual a liberdade possa ser exercida sem restrições, faz paralelo à crise comportamental sem precedentes vivida nas últimas décadas, na qual o juízo do bom e do ruim desvaneceu-se. Por outro lado, a perda de discernimento das especificidades e dos diferentes papéis que exercem os integrantes de uma sociedade afetou profundamente o aproveitamento de saberes especializados, conhecimentos e profissões. Frequentemente, agentes de todos os tipos são guindados a seu nível de incompetência, em posições de responsabilidade pela construção da cidade, deixando no lugar onde deveriam estar também um vácuo difícil de ser preenchido, dada a cegueira que domina a visão coletiva sobre competências. Neste campo, o arquiteto e urbanista tem cada vez mais se dispersado em direções diversas, abandonando o lugar central onde deveria estar. Seguidamente se encontra no território da banalidade e da superficialidade, submetido aos ditames da imagem e da moda, ou pior, da moda forjada pelo interesse comercial; no exercício da profissão como catapulta para a fama e projeção social, na qual o importante não é fazer bem para aparecer, mas aparecer para ficar bem; nas carreiras universitárias, não para produzir conhecimento e ensinar, objetivando a consolidação de cultura fundamental, mas para ocultar-se atrás de simulacros acadêmicos ou simplesmente sobreviver; ou noutra direção, daqueles que já há muito tempo encobrem sua inação com o sempre eficiente discurso populista de viés social. Assim, já há algum tempo, a profissão perde expressão e valor, além de espaços cruciais. Já não há, na mesma medida, estrutura técnica de urbanismo para o planejamento e desenho da cidade; cada vez menos professores com experiência de projeto e do fazer; rareiam escritórios de arquitetura organizados, remunerados e aptos a encargos regulares de arquitetura com certa qualidade, cuja obra encontre eco entre os seus pares, clientes e a sociedade como um todo. Coderch (1913-1984), o polêmico arquiteto da vanguarda moderna na Catalunha, em seu célebre texto sobre o exercício da profissão afirmou: Não, não creio que sejam gênios o que precisamos agora. Creio que os gênios são acontecimentos, não metas ou fins. Tampouco creio que necessitamos pontífices da arquitetura, nem grandes doutrinários, nem profetas, sempre duvidosos. Algo de tradição viva está todavia ao nosso alcance e muitas velhas doutrinas morais em relação a nós mesmos e com nosso ofício ou profissão de arquitetos [...]. Tenho o convencimento que qualquer arquiteto de nossos dias Ver: ARÍS, Carlos Martí. La cimbra y el arco. Barcelona: Fundación Caja de Arquitectos, 2005. p. 78. 19 KOOLHAAS, Rem. La Ciudad Contemporânea. In: WALKER, Enrique. Lo Ordinario. Barcelona: Gustavo Gili, 2010. p. 92. 20 Idem, p. 119. 508 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950 a 1970 Epílogo medianamente dotado, preparado ou formado, se pode entender isto, pode facilmente realizar uma obra viva. Isto para mim é o mais importante, muito mais que qualquer outra consideração ou 21 finalidade, só em aparência de ordem superior. A afirmação de Coderch sinaliza esta graduação entre o mestre e o medíocre onde deveria estar a maioria dos arquitetos. Da mesma forma e em paralelo, portanto, a afirmação de Demétrio Ribeiro ainda procede: "Esse tipo de arquiteto, eficiente sem ser genial, homem de trabalho e de saber, ainda não tem lugar garantido entre nós. Seu próprio papel no processo de planejamento e de direção é praticamente desconhecido na maior parte das obras realizadas. 22 Melhor dizer, na grande maioria das obras" . Fayet, Araújo e Moojen deixam, portanto, conjuntamente com os de sua geração, não só um legado, mas também uma árdua tarefa a ser continuada por aqueles que, como eles, acreditavam que mesmo com a imperfeição do conhecimento e da natureza humana, em qualquer caso ou circunstância, se pode sempre fazer bem ou melhor, desde que este seja o objetivo. Fonte: Foto Sergio Marques, 2012 22 CODERCH, José Antonio. No son gênios lo que necesitamos ahora. In: CODERCH, José Antonio. . Coderch 1913-1984. Barcelona: Gustavo Gili, 1989. p. 208. 1913RIBEIRO, Demétrio. A profissão do arquiteto. Espaço Arquitetura n. 2, ano 1, Porto Alegre, Arquitetura, 1959, p.37,38. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado 21 Fig. 13 - Reunião sobre o doutorado "Arquitetura Moderna Brasileira no Sul: Fayet, Araújo & Moojen - 1950/1970", Carlos M. F ayet, Cláudio Araújo, Moacyr M oojen e Sergio Marques, 1996, Porto Alegre-RS. Sergio MMarques 509 510 REFERÊNCIAS FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Referências REFERÊNCIAS A CADEIRA de urbanismo se fosse lisa em mãos incapazes. Cópia xerografada. Acervo Moojen. A CONSTRUÇÃO do edifício do Instituto de Pesquisas Biológicas. Correio do Povo, Povo Porto Alegre, 6 jul. 1950. p. 9. ABREU, Silvio. Independência ou morte. In: COMAS, Carlos Eduardo Dias; PEIXOTO, Marta; MARQUES, Sergio Moacir. O moderno já passado, o passado no moderno – reciclagem, reabilitação, rearquitetura. Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2009. p.255-265. ACERVO Cláudia Casacia – Acervo fotográfico pessoal. ACERVO Cláudio Luís Gomes Araújo – Acervo fotográfico pessoal. ACERVO FAM – Acervo Fotográfico. ACERVO Família Araújo – Acervo Fotográfico familiar. ACERVO Família Fayet – Acervo fotográfico familiar. ACERVO Família Moojen – Acervo fotográfico familiar. ACERVO Irineu Breitman – Acervo fotográfico pessoal. ACERVO João Alberto – Acervo Fotográfico FAU/UniRitter. ACERVO Sérgio Moacir Marques – Acervo fotográfico pessoal do autor. AEROPORTO Salgado Filho. Imagem. Disponível em: Acesso em 25 out. 2011, às 18h35min. AGUILAR, Nelson (Org.). Catálogo Bienal Brasil Século XX. São Paulo: XX Fundação Bienal, 1994. ALBERTO, Klaus Chaves. A pré-fabricação e outros temas projetuais para campi universitários na década de 1960: o caso da UnB. Risco São Risco, Paulo. Disponível em: . Acesso em 25 out. 2011, às 16h. ALBERTO, Klaus Chaves. O Concreto na Pré-fabricação: a construção da Universidade de Brasília. In: COMAS, Carlos Eduardo; MAHFUZ, Edson; CATTANI, Aírton. II Seminário DOCOMOMO Sul Concreto – Sul, Plasticidade e Industrialização na Arquitetura do Cone Sul Americano 1930/1970. Docomomo Núcleo RS/PROPAR, Porto Alegre, 2008. CD. ROM. ALMEIDA, Guilherme Essvein de; ALMEIDA, João Gallo de; BUENO, Marcos. Guia de arquitetura moderna em Porto Alegre. Porto Alegre: Alegre EDIPUCRS, 2010. ALMEIDA, Marcus. As casas de Oscar Niemeyer 1935-1955. [Dissertação de Niemeyer: Mestrado]. Porto Alegre: PROPAR – UFRGS, 2005. ALMEIDA, Maria Soares de. Gestores da cidade e seus regulamentos urbanísticos: Porto Alegre de 1893 a 1959. In: LEME, Maria Cristina da Silva (Coord.). Urbanismo no Brasil 1895- 1965 São Paulo: Studio 1895-1965. Nobel / FAUSP / FUPAM, 1999. p. 102-119. ALMEIDA, Maria Soares de. Transformações urbanas – atos, normas decretos, leis na administração da cidade, Porto Alegre: 1937/1961. [Tese de doutorado]. São Paulo: FAU-USP, 2004. ALVAREZ, Cícero. Palácio da Justiça de Porto Alegre. Construção e recuperação da arquitetura moderna em Porto Alegre 1952-2005. [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2008. AMORIM, Luiz; LOUREIRO, Cláudia. Por uma arquitetura social: a influência de Richard Neutra em prédios escolares no Brasil. Vitruvius São Paulo, Vitruvius, , Arquitextos, 020.03, ano 2, jan. 2002. Disponível em: . Acesso em 24 abr. 2011, às 12h 48min. ANELLI, Luiz Sobral. Redes de mobilidade e urbanismo em São Paulo: das radiais/perimetrais do Plano de Avenidas à malha direcional. Vitruvius Vitruvius, São Paulo, Arquitextos, 082.00, ano 07, mar. 2007. Disponível em: . Acesso em 13 set. 2011, às 16h 50min. ANELLI, Renato. Architettura contemporânea Brasile. Milão: Motta contemporânea porânea: Architettura, 2008. AQUINO, Flavio de. Max Bill critica nossa arquitetura moderna. Manchete n. . Manchete, 60, Rio de Janeiro, 13 jun. 1953. p. 38-39. ARANA Mariano; GARBELLI, Lourenzo. Arquitectura renovadora em Montevideo: 1915-1940. Montevidéu: Fundación de Cultura Montevideo Universitária, 1991. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Curriculum Vitae. Porto Alegre, mai. 2002. Cópia digitada. ARAÚJO, Cláudio Luis Gomes. Depoimento ao autor Gravação digital. Edifício autor. FAM, 28 jul. 2009. ARAÚJO, Cláudio Luis Gomes. Depoimento ao autor Gravação digital. Edifício autor. FAM, 28 jul. 2009. MARQUES, Moacyr Moojen. Depoimento ao autor autor. Gravação digital. Edifício FAM, 21 jan. 2009. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 27 abr. 2008. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Cópia manuscrita, Petrobras, jun. 2008. ARAÚJO, Cláudio Luis Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Uruguai, 24 mai. 2008. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 511 ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 28 jul. 2009. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 12 out. 2011. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 21 jun. 2010. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Edifício FAM, 12 set. 2011. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Uruguai, 24 mai. 2008. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Escritório CLAraújo Arquitetos Associados, 01 jul. 2009. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 27 abr. 2008. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 02 dez. 2011. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 08 jun. 2010. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Alegre, 14 jun. 2010. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, jan. 2012. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes. Relatório de viagem a São Paulo encaminhado ao diretor Werner Grundig. Cópia datilografada. Porto Alegre, 05 mar. 1967. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes; MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, 21 jan. 2009. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes; MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Porto Alegre, 25 nov. 2011. ARAÚJO, Cláudio Luís Gomes; MARQUES, Moacyr Moojen; MENTZ, Luiz Frederico. Programa de ensino. Ciclo de preparação básica – Ciclo de preparação profissional. Porto Alegre: FA-UFRGS, 1966. Cópia datilografada. ARCHITECTURAL RECORD. New Hampshire, F. W. Dodge Corporation, jul. 1969. ARCHITECTURAL REVIEW, n. 694, out 1954. p. 234-250. ARÍS, Carlos Martí. La cimbra y el arco. Barcelona: Fundación Caja de Arquitectos, 2005. ARÍS, Carlos Martí. La Ciudad de La Arquitectura Moderna. El caso de . Bogotá Bogotá. In: FONTANA, Pia Maria; MAYORGA, Miguel Y.; ARIS, Carlos Martí; PIÑON, Hélio. [Re]visión Colombia arquitectura moderna 2. moderna. ed. Barcelona: Edicións ETSAB, 2006. p. 22-27. ARQUITETURA gaúcha, um panorama e algumas reflexões. Projeto São Paulo, Projeto, n. 50, abr. 1983. p. 31-87. AS RAÍZES da arquitetura gaúcha e a posição do arquiteto na sociedade. Projeto, Projeto São Paulo, n. 50, abr., 1983. p. 36-39. AVENIDA Presidente Vargas – RJ. Disponível em: Imagem. Acesso em 20 out. 2011, às 8h45min. AZEVEDO e MOURA, Roberto. Entrevista. Depoimento ao autor, gravação digital, Porto Alegre, nov. 2010. BAIXO relevo em painéis pré-moldados em concreto, Carlos M. Fayet. Imagem Imagem. Disponível em: . Acesso em 20 mar. 2010, às 8h15min. BALESTRA, Maria Isabel Milanez (Apresent.). Edvaldo Pereira Paiva, um urbanista. urbanista Porto Alegre: UFRGS / IAB-RS, 1985. BALIERO, Horácio. La mirada desde el mar gen. Buenos Aires: FADU, 1993. margen. BANCO Boa Vista – RJ. Imagem. Disponível em: . Acesso em 03 ago. 2009, às 15h12min. BANHAM, Reyner. Teoria e projeto na p rimeira era da máquina São Paulo: primeira máquina. Perspectiva, 1979. BARBOSA, Fidélis Dalcin. Nova história de Lagoa Vermelha. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1981. BARBOSA, Marcelo. Do público ao privado: a habitação coletiva na obra de Franz Heep. Projetodesign Arco Editorial, São Paulo, n. 272, set. Projetodesign, 2002. Disponível em: < http://www.arcoweb.com.br/artigos/marcelobarbosa-do-publico-01-10-2002.html>. Acesso em 14 abr. 2010, às 11h15min. BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN. Ruth Verde. Brasil: arquiteturas após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010. BASTOS, Ronaldo Marcos. Porto Alegre – A Capital dos Bondes – Parte III – Da Entrada da Bond and Share ao fim do Transporte por bondes em Porto Alegre. Disponível em: . Acesso em 01 out. 2011, às 13h . 30min. BAYARDO, Nelson. Hacia una autodidactica dirigida – ideas sobre un modo posible de encarar la enseñanza en un taller de arquitectura. Montevidéu: FARQ/Udelar, 1990. 512 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Referências BECKER, Klaus. Razões da participação dos alemães na Revolução Farroupilha. In: III colóquio de Estudos Teuto-Brasileiros (1974). Porto TeutoAlegre: UFRGS, 1980. p. 495-501. BENÉVOLO, Leonardo. História da cidade São Paulo: Perspectiva, 1999. cidade. BERDOULAY, Vincent. Modernismo e espaço público: o plano Agache do Rio de Janeiro. Revista Território Rio de Janeiro, ano VII, n. 11, 12 e 13, Território, set./out. 2003. p. 123-132. BERNARDES, Dalton. Jaguaribe e Esplanada o edifício de apartamentos Esplanada: modernista e um novo paradigma habitacional em Porto Alegre. 2003. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, 2003. BERNARDI Cristiane Kröhling Borges. Luiz Gastão de Castro Lima trajetória e Lima: obra de um arquiteto. [Dissertação de mestrado]. ANELLI, Renato (Orient.). São Carlos: USP, 2003. BERTOLUCI, Nélide Casacia. Atlântida, 60 anos. Porto Alegre: Leonid Streliaev, 2011. BERTULUCCE, Vanessa Beatriz. A arte dos regimes totalitários do século XX: Rúsia e Alemanha. São Paulo: Annablume / FAPESP, 2008. BOHRER, Glênio Vianna. CEASA – RS espaço e lugar na arquitetura e RS: urbanismo modernos. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul] Porto Alegre: FAUFRGS, 1997. BORCHERS, Juan. Meta- arquitectura. Santiago do Chile: Mathesis Ediciones, Meta1975. BORONAT, J. Yolanda; RISSO, Marta R. Roman Fresnedo Siri: un arquitecto uruguayo. Montevidéu: Universidad de la Republica / Facultad de Arquitectura / Insituto de História de la Arquitectura. 1990. BRAGA. Marcos da Costa. ABDI: História Concisa. Agitrop Revista Brasileira Agitrop, de Design, Ensaios. Ano III, n. 26. Disponível em: . Acesso em 17 dez. 2011, às 18h 24min. BREITMAN, Irineu. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, 8 out. 2008. BRITO, Alfredo L. Aspectos do VII Congresso da União Internacional dos Arquitetos – U.I.A. Arquitetura Rio de Janeiro, n. 20, fev. 1964. p. 32. Arquitetura, BRIZOLA, Leonel de Moura (Prefácio). Delta do Jacuí – Plano Piloto – 1958. Porto Alegre: Globo, 1958. p. 8. BRIZOLETA. Imagem. Disponível em: . Acesso em 2 jan. 2010, às 14h18min. BROWNE, Enrique. Otra arquitectura em América Latina México: Gustavo Latina. Gili, 1988. BRUAND, Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1997. BRUAND, Ives. L’Architecture contemporaine au Brésil . [Tese de Doutorado]. Lille: Université Lille III, 1973. BULGARIN, N. As vitórias da URSS na marcha para o comunismo e na luta para a paz. Problemas – Revista Mensal de Cultura Política, Rio de Janeiro, n. 31, nov./dez., 1950. Disponível em: Acesso em 24 de out. 2010, às 19h 45min. BUÑUEL, Luis. La belle de jour. Paris Films – Five Films, França – Itália,1967. BYARS, Mel. 100 Diseños – 100 años. Madri: Mcgraw-Hill Interamericana, . 2001. CABRAL, Cláudia Pianta Costa. Tipologias comerciais em Porto Alegre: da rua comercial ao shopping center. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. Porto Alegre: UFRGS,1996. CADEIRA Sabará. Imagem. Disponível em: . Acesso em 05 set. 2008, às 22h35min. CADERNOS DE ESTUDOS. Centro dos Estudantes Universitários de Arquitetura, Porto Alegre, n. 1, 1958. CAIXETA, Eline Maria; CANEZ, Anna Paula; CARUCCIO, Margot Inês; LIMA, Raquel Rodrígues; MAGLIA, Viviane Villas Boas. Imagem e construção da modernidade em Porto Alegre. Porto Alegre: UniRitter, 2004. CALOVI PEREIRA, Cláudio. Primórdios da arquitetura moderna em Porto Alegre: a presença dos arquitetos do Rio de Janeiro. Cadernos de Arquitetura Reis, Ritter dos Reis Porto Alegre, v. 2, out. 2000. p. 47-71. CALVALCANTI, Lauro. Henrique Mindlin e a Arquitetura Moderna Brasileira. In MINDLIN, Henrique E. Arquitetura moderna no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999. p. 11-16. CAMPAGNER, Larissa Garcia. Panorama da obra do arquiteto Mguel Alves Pereira. [Dissertação de mestrado]. São Pulo: FAU-USP, 2007. CAMPOS, Augusto de; PIGNATARI Décio; CAMPOS, Haroldo de. Teoria da poesia concreta. Textos críticos e manifestos 1950-1960. São Paulo: Duas Cidades, 1975. CAMPOS, Augusto. Poesia concreta. 1960. Disponível em: Acesso em 20 mar. 2010, às 9h15min. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 513 CAMPOS, Cândido Malta. Edifício Louveira: Arquitetura Moderna e Qualidade Urbana. V Seminário DOCOMOMO-Brasil – Arquitetura e urbanismo DOCOMOMOmodernos: projeto e preservação, 2003. Disponível em: Acesso em 24 dez. 2010, às 14h 34min. CANAL, José Luiz de Mello. Origens de la arquitectura industrial moderna. [Tese de doutorado]. PIÑON, Helio (orient.). Barcelona: Universidad Politécnica de Catalunya, 1992. CANEZ Anna Paula Moura. Fernando Corona e os caminhos da arquitetura moderna em Porto Alegre: 1928-1951. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. Porto Alegre: UFRGS, 1997. CANEZ, Anna Paula. Arnaldo Gladosch, o edi fício e a metrópole. Porto edifício Alegre: UniRitter, 2008. CANEZ, Anna Paula. Fernando Corona e os caminhos da arquitetura moderna em Porto Alegre. Porto Alegre: Faculdades Integradas do Alegre Instituto Ritter dos Reis, 1998. CARLUCCI, Marcelo. As casas de Lúcio Costa. [Dissertação de mestrado]. MARTINS, Carlos Alberto Ferreira (Orient.) São Carlos: EAUSP, 2005. CARNEIRO, Luís Carlos. Porto Alegre: de aldeia a metrópole. Porto Alegre: . Marsiaj Oliveira, 1992. CARVALHAL, Tânia Franco. Os prédios históricos da UFRGS: atualidade e memória. Porto Alegre: UFRGS, 1998. . CASA de Vidro. Imagem. Disponível em: . Acesso em 18 dez. 2011, às 18h 14min. CASA Grinover. Imagem. Disponível em: . Acesso em 4 jul. 2008, às 10h 20min. CASA sede da Fazenda Capuava. Imagem. Disponível em: Acesso em 18 fev. 2012, às 15h 05min. CASA Ugalde. Imagem. Disponível em: . Acesso em 14 fev. 2011, às 9h 15min. CAVALCANTI, Lauro (Org.). Modernistas na repartição. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1993. CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era moderno: guia de arquitetura – 1928-1960. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001. CENTRO de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. A trajetória política de João Goularte: Ernesto Donelles. Disponível em: Acesso em: 18 jan. 2011, às 14h 04min. CESA FILHO, Paulo. A arquitetura da verticalidade na recém- aberta Avenida recémMedeiros. Borges de Medeiros [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, 2003. CHAUNU, Pierre. História da América Latina São Paulo/Rio de Janeiro: DIFEL, Latina. 1979. CHIURINOS, Utia. Luis Miró Quesada Garland y la modernidad en arquitectura. In: Construyendo el Perú: Aportes de ingenieros y arquitectos. Lima: Universidad nacional de Ingenieria. UNI: Proyecto Historia, 2001. p. 209-224. CIDADE Universitária na Quinta da Boa Vista. Le Corbusier. Imagem. Disponível em: . Acesso em 18 dez. 2012, às 15h 38min. CIDADE Universitária na Quinta da Boa Vista. Lúcio Costa.. Imagem. Disponível em: . Acesso em 5 jan. 2009, às 18h 44min. CIDADE Universitária. Espaço Arquitetura n. 2, ano 1, Porto Alegre, 1959. p. Arquitetura, 35-36. CINCO equipes no concurso de urbanismo do Delta do Jacuí. Diário de Notícias, Notícias 04 fev. 1958. p.10. CLAYSSENT, D.; MICHEL, P. A. Genèse d’un prototype: la boîte close. Paris: Ministère de l’Environnement et du Cadre de vie, 1979. COHEN, Jean Louis. Le Corbusier. Colônia: Taschen, 2007. COHEN, Jean-Luis. Mies Van Der Rohe Madrid: Akal, 1998. Rohe. . COHN, Gabriel. Nacionalismo e petróleo São Paulo: Difusão Europeia do petróleo. Livro, 1968. COLLARES, Júlio. Exoesqueletos primogênitos: Le Corbusier e o Palácio dos Soviets. Porto Alegre: Dominó, PROPAR, 2005. Disponível em: Acesso em 26 set. 2011, às 18h 55min. COMAS, Carlos Eduardo Dias. Arquitetura moderna e espaço doméstico – a casa manifesto latino-americana. Porto Alegre: PROPAR, UFRGS, 1989-1993. 514 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Referências COMAS, Carlos Eduardo Dias. Gaudí e a modernidade arquitetônica brasileira. ProjetoDesign São Paulo, Arco Editorial, n. ProjetoDesign, 268, jun. 2002. Disponível em: < http://www.arcoweb.com.br /artigos/carlos-eduardo-comas-gaudi-e-10-06-2002.html>. Acesso em 14 mai. 2010, às 18h 10min. COMAS, Carlos Eduardo Dias. Livre pensar é só pensar: casa, cidade e pax americana 1. Projetodesign, São Paulo, Arco Editorial, n. 281, jul. Projetodesign, 2003. p. 38. Disponível em . Acesso em 14 jul. 2009, às 14h 35min. COMAS, Carlos Eduardo Dias. Nemours-sur-Tietê, ou a modernidade de ontem. Projeto São Paulo, n. 89, jul 1986. p. 90-93. Projeto, COMAS, Carlos Eduardo Dias. Precisões Brasileiras: sobre um passado da arquitetura e urbanismos modernos a partir dos projetos e obras de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, MMM Roberto, Affonso Reidy, Jorge Moreira & Cia., 1936-1945. [Tese de doutorado]. Universidade de Paris VIII. Vincennes: Saint Denis, 2002. COMAS, Carlos Eduardo Dias. Protótipo e monumento: um ministério, o ministério. Projeto São Paulo, n. 102, ago. 1987. p. 136-149. Projeto, COMAS, Carlos Eduardo Dias; MAHFUZ, Edson; CATTANI, Aírton; MARQUES, Sérgio Moacir (Orgs.). Concreto – Plasticidade e industrialização na arquitetura do Cone Sul Americano: 1930-1970. v. 1. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2008. COMAS, Carlos Eduardo Dias; MAHFUZ, Edson; CATTANI, Aírton; MARQUES, Sergio Moacir (Orgs.). Madeira – Primitivismo e inovação na arquitetura do Cone Sul Americano – III Seminário DOCOMOMO Sul. v. 1. Porto Alegre: UFRGS, 2010. COMAS, Carlos Eduardo. Aqueles versos de um projeto. Ambiente Fundación Ambiente, CEPA, La Plata, 2001, n. 86, p. 198. COMAS, Carlos Eduardo. Brazil Builds e a bossa barroca: notas sobre a singularização da arquitetura moderna brasileira. VI Seminário Docomomo: Brasil, Moderno e Nacional, Niterói-RJ, 2005 Disponível em: . Acesso em 10 dez. 2011, às 18h 47min. COMAS, Carlos Eduardo. O Mercado central de Porto Alegre. In: PEIXOTO, Marta, LIMA, Raquel. Arquitetura, história e crítica: textos selecionados. Reis, Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis n. 2. Porto Alegre: UniRitter, 2000. p. 144-151. COMAS, Carlos Eduardo. Questões de base e situação: arquitetura moderna e edifícios de escritórios, Rio de Janeiro, 1936-45. Vitruvius São Paulo, Vitruvius, Arquitextos, 078.00, ano 07, nov. 2006. Disponível em: . Acesso em 22 out. 2011, às 19h 59min. COMAS, Carlos Eduardo; ADRIÁ, Miquel. La casa latinoamericana moderna – 20 paradigmas de mediados de siglo XX. v. 1. Barcelona: Gustavo Gili, 2003. COMAS, Carlos Eduardo; BOHRER, Glênio; CANEZ, Anna Paula. Arquiteturas cisplatinas: Roman Fresnedo Siri e Eladio Dieste em Porto Alegre. Porto Alegre: UniRitter, 2004. COMAS, Carlos Eduardo; MARQUES, Sergio Moacir. A segunda idade do vidro: vidro transparência e sombra na arquitetura moderna do Cone Sul Americano – 1930/1970. Porto Alegre: UniRitter, 2007. COMAS, Carlos Eduardo; PEIXOTO, Marta; MARQUES, Sergio Moacir. O moderno já passado / O passado no moderno – Reciclagem, requalificação, rearquitetura. Porto Alegre: UniRitter, 2009. CORONA, Fernando. Edifícios públicos. Correio do Povo Porto Alegre, 15 out. Povo, 1958. p. 10. CORONA, Fernando. Palácio da Justiça. Correio do Povo Porto Alegre, 31 Povo, mai. 1959. p. 34. COSTA, José Geraldo Vieira. Imbé, o adeus a cidade jardim? Vitruvius São Vitruvius, Paulo, Minha Cidade, n. 087.01, ano 08, out 2007. Disponível em: . Acesso em 30 set. 2011, às 10h 30min. COSTA, Lúcio. Carta-depoimento, O Jornal, Rio de Janeiro, 14 mar. 1948. In: COSTA, Lúcio. Lúcio Costa: Sobre Arquitetura Porto Alegre, CEUA, Arquitetura. 1962. p. 124-125. COSTA, Lucio. Lucio Costa sobre arquitetura. Porto Alegre: Centro dos Costa: Estudantes Universitários de Arquitetura, 1962. COSTA, Lúcio. Registro de uma vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995. COSTA, Lúcio. Universidade do Brasil. In: CENTRO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DE ARQUITETURA. Lúcio Costa sobre arquitetura. Costa: Porto Alegre: CEUA, 1962. p. 85. COUTO, Nilson Queiróz. A Experiência Cruspiana. Vídeo documentário. São Paulo, 1986. Disponível em: Acesso em 16 out. 2011, às 20h 33min. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 515 CRAVOTTO. Maurício. Monografias Elarqa n. 2. Montevidéu: Editorial dos Elarqa, Puntos, 1995. CRAVOTTO. Maurício. Un ejercicio de tecnica urbanistica. Instituto de Urbanismo, Urbanismo n. 8, Universidad de la Republica, Facultad de Arquitectura, Montevideo, 1943. p. 118-224. CRISPIANI, Alejandro. Solsona – Justo Solsona: entrevistas: apuntes para una autobiografia. Buenos Aires: Ediciones Infinito, 1997. CRUZ COVARRUBIAS, Alberto. Don arquitectura Santiago: Ediciones ARQ de arquitectura. la Facultad de Arquitectura, Diseño y Estudios Urbanos, Universidad Católica de Chile, 2002. CURSO de Cravotto no IBA. Fotografia Disponível em: . Acesso em 18 out. 2010, às 16h 10min. CURTIS, Maria do Carmo. Manlio Gobbi, um pioneiro do mobiliário no Rio Grande do Sul. Desenhando o Futuro. Anais do 1° Congresso Nacional do Design, 2011. CURTIS, Wilian J. R. La arquitectura modern a desde 1900 Nova York: moderna 1900. Phaidon, 1986. CURTIS, William J. R. Modern Architecture, since 1900-1910. Londres: Phaidon, 1996. DAITCH, Aida. Baliero Buenos Aires: FADU, [s.d.]. Baliero. DALAROSA. Janaína Carla. Restauração do complexo da reitoria da UFRGS. VII Brasil, Anais do VII Seminário DOCOMOMO Brasil O Moderno já Passado | O Passado no Moderno – reciclagem, requalificação, rearquitetura, 2007. Disponível em: Acesso em 19 ago. 2008, às 12h 43min. DARWIN, Charles. The origin of species . London: John Murray / Albermale Street, 1850. DAVIES, Norman. Europa na Guerra – 1933-1945 – Uma vitória nada simples. São Paulo: Record, 2009. DE CURTIS, Julio Nicolau Barros. A arquitetura oitocentista e seus remanescentes mais significativos. In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre Porto Alegre / São Paulo: Alegre. FAU-UFRGS / Pini, 1987. p. 16-22. DE MACEDO. Francisco Rio Pardense. Porto Alegre: origem localização e estrutura. In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna Alegre. em Porto Alegre Porto Alegre / São Paulo: FAU-UFRGS / Pini, 1987. p. 12-15. DELLA MANA Eduardo. Broadacre City: meio ambiente, desenvolvimento sustentável e ecologia social. Vitruvius, Arqtexto 095-02, ano 08, abril 2008. Disponível em: . Acesso em: 20 jun 2011, às 16h 20min. DELTA do Jacuí – Plano Piloto – 1958. Porto Alegre: Globo, 1958. DENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução à história do design, São Paulo: Edgard Blücher, 2000 DI VÉROLI, Débora; OBETKO, Daniel. Arquitecta Débora Di Véroli: vida, obra y reflexiones. Buenos Aires: B&R Ediciones, 2006. DIARTE, Julio. Reconstrucción del Proyecto Colegio Experimental ParaguayProyecto. Brasil. Affonso Eduardo Reidy. 1952-65. Asunción: Facultad de Arquitectura Diseño y Arte – UNA, 1999. DIAS, Caio Benjamim. A estrutura da Universidade de Brasília. In: Acrópole Acrópole, Edição Especial da Universidade de Brasília, ano 31, n. 369/70, São Paulo, jan./fev. 1970. p. 3-7. DÍAZ, Cristián Boza. Sergio Larrain GM la vanguardia como proposito. GM: Colombia: Escala, 1990. DIEZ, Fernando. Clorindo Testa. Buenos Aires: Donn, 1999. DOLFF-BONEKÄMPER, Gabi; SCHMIDT, Franziska. Das hansaviertel – . Internationale nachkriegsmoderne in Berlin. Berlim: Bauwesen, 1999. DOORDAN, Dennis. Building Modern Italy Italian Architecture, 1914-1936. Italy: Princeton: Architectural Press, 1988. DORFMAN, César. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital, 1º dez. 2011. DPA n.27/28, Mat-Building Departament de Projects, d' Arquitectura, UPC, Mat-Building, Barcelona, 2011. DRAGO QUAGLIA, Maria Teresa. Alberto Teruo Arai Espinoza. Su Obra y propuesta teórica. Disponível em: . Acesso em: 03 jul 2011. 14h 35min. DROSTE, Magdalena. Bauhaus 1919-1933 Berlim: Taschen, 1994. 1919-1933. . EDIFÍCIO de apartamentos com garagem em cada pavimento. Revista Acrópole, Acrópole n.232, São Paulo: 1958. p. 358-360. EDIFÍCIO Instituto de Arquitetos do Brasil – SP. Imagem. Disponível em: . Acesso em: 05 jun 2010. 19h 10min. EDIFÍCIO José Pilla. Correio do Povo. Porto Alegre, 06 dez. 1957. p. 30. 516 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Referências EDIFÍCIO Nove Cintra. Planta. Disponível em: ELLWANGER, Danielle Dickow; LIMA, Guilherme da Cunha. Resgatando uma parceria: Bornancini, Petzold e Müller. Anai s do XVIII Congresso Anais Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design , Associação de Ensino e Pesquisa de Nível Superior de Design do Brasil (AEND/Brasil), São Paulo, 2008. ENCHENTES Históricas nos últimos 180 anos – Porto Alegre. Disponível em: . Acesso em 19 set. 2011, às 12h. ENGEP MARINE. Condições gerais de serviço terminal Tedut Disponível em: Tedut. . Acesso em 26 nov. 2011, às 11h. ESCOBAR, Luiz Fernando González. Del Higienismo al Taylorismo: de los modelos a la realidad urbanística de Medellín 1970-1932. Universidad Nacional de Colombia, 2004. Disponível em: . Acesso em: 25 set, 2011, às 15h 05min. ESKINAZI, David. A arquitetura da Exposição Comemorativa do Centenário Farroupilha de 1935 e as bases do projeto moderno no Rio Grande do Sul. [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2003. ESKINAZI, Mara Oliveira. A Interbau 1957 em Berlim diferentes formas de Berlim: habitar na cidade moderna. [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: PROPAR, UFRGS, 2008. ESKINAZI, Mara Oliveira. A Interbau 1957 em Berlim: diferentes formas de habitar na cidade moderna. Vi truvius São Paulo, Arqtextos, 129.09, Vitruvius truvius, ano 11, fev. 2011. Disponível em: . Acesso em 02 mar. 2011, às 15h23min. ESPAÇO ARQUITETURA. Manifesto de Fundação, Porto Alegre, n. 1, nov.-dez., 1959. ESPAÇO. Editorial, I. B.A, Porto Alegre, n. 2, nov., 1948. ESPAÇO. Editorial, I.B.A, Porto Alegre, n. 4, dez., 1949. Disponível em: . Acesso em 17 dez. 2011, às 16h 27min. ESTATUTOS Sociais da Associação Brasileira de Desenho Industrial. In: Desenho Industrial: aspectos sociais, históricos, culturais e econômicos. São Paulo: Fórum Roberto Simonsen/FIESP/ABDI, 1964. ESTUDANTES pesquisam a arquitetura gaúcha. Projeto São Paulo, n. 46, dez. Projeto, 1982. p. 5. EXPOSIÇÃO de Urbanismo. Boletim da Sociedade de Engenharia do Rio Sul, Grande do Sul Porto Alegre, n.19-20, jan.-abr., 1937. FÁBRICA Fiat. Imagem. Disponível em: . Acesso em 10 mar. 2012, às 14h55min. FÁBRICAS da Olivetti. Imagem. Disponível em: . Acesso em 10 mar. 2012, às 15h35min. FACULTAD DE ARQUITECTURA, Universidad de la Republica Oriental del Uruguay. Resenha histórica. Disponível em: Acesso em 06 out. 2011, às 20h. FACULTAD DE ARQUITECTURA. Universidad de la Republica Oriental del Uruguay. Plan de estudios FARQ/UDELAR, Montevidéu, 1989. Cópia estudios. impressa. FAGUNDES, Luciana Pessanha. Cidades pensadas, cidades construídas: diferentes experiências nas tensões da modernidade. Revista Brasileira Sociais, de História & Ciências Sociais Volume 1, n. 2, dez. 2009, p. 4. FARIA, Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo Pereira. Contribuição ao estudo da Contribuição urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre, 1938. Cópia datilografada. FAYET ENTREVISTA_OBRA. Entrevista, DVD e Cópia Digitada, Porto Alegre, 2005. FAYET, Carlos Maximiliano. Entrevista ao autor por ocasião da V Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Gravação digital e texto digitado. Porto Alegre, 2003. FAYET, Carlos Maximiliano. Entrevista com o autor. Vídeo digital e cópia digitada. Porto Alegre, set. 2005. FAYET, Carlos Maximiliano. Porta- retratos, DOCOMOMO Brasil Disponível PortaBrasil. em: . Acesso em 10 out. 2011, às 12h 56min. FAYET, Carlos Maximiliano. Refeitório do TEDUT. Projeto n. 163, São Paulo, Projeto, 1995. p. 61-63. FAYET, Carlos Maximiliano; DEBIAGI, Jorge Decken. Projeto Praia de Belas: o nascimento de uma unidade urbanística. Porto Alegre: Maguefa Empreendimentos Imobiliários Ltda., 1975. FAYET, Carlos Maximiliano; GUERRA, Adrovaldo; CHULA, Aluísio; LOPES, Alceu. Modelagem, II ano ano. 1949. Disponível em: . Acesso em 12 mar. 2012, às 18h32min. FAYET, Myrtha Sallocker. Entrevista. Depoimento ao autor. Cópia digitada, Porto Alegre, set. 2009. FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Entrevista. Alegre, 25 abr. 2009. FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Entrevista. Alegre, 5 ago. 2009. FAYET, Suzy Brucker. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital, Porto Entrevista. Alegre, 18 ago. 2009. FEDELI, Orlando. Nos labirintos do Eco São Paulo: Veritas, 2007. Eco. FERLAUTO, Cláudo. Faculdade de Arquitetura – Anos 60. In: LICHT, Flávia Boni; CAFRUNI, Salma. Arquitetura UFRGS: 50 anos de histórias. Porto Alegre: UFRGS, 2002. p. 109-112. FERNANDES, Fernanda. Arquitetura no Brasil no segundo pós guerra – a síntese das artes. VIII Seminário DOCOMOMO-BRASIL – Síntese e DOCOMOMOparadoxo das artes. Cidades Moderna e Contemporânea, 2009. Disponível em: . Acesso em 25 ago. 2009, às 17h. FERNÁNDEZ, Roberto. El laboratorio americano. Arquitectura, geocultura y regionalismo. Madrid: Biblioteca Nueva, 1998. FERRIER, Jacques. Usines. Tome 1. Paris: Moniteur, 1989. . FERRIER, Jacques. Usines. Tome 2. Paris: Moniteur, 1991. . FIORI, Renato. Arquitetura moderna e ensino de arquitetura os cursos em arquitetura: Porto Alegre de 1945 a 1951. [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: . PUC-RS, 1992. FISAC, Miguel. Huesos vários. Madrid: Fundación COAM, 2007. FOCHS, Carles. J. A . Coderch de Sentmenat, 1913- 1984. Barcelona: 1913Gustavo Gili, 1989. FOLLE-CHAVANES, Eduardo. Mauricio Cravotto 18893-1962. Montevidéu: 18893Editorial dos Puntos, 1994. FONT, Judith Gifreu i. Problemas actuales del derecho urbanístico en Inglaterra, especial referencia al derecho a la vivienda, la cohésion social y el medio ambiente. Revista Catalana del Dret Publico Barcelona, n. 38, 2009. Publico, p. 3. FONTANA, Pia Maria; MAYORGA, Miguel Y.; ARIS, Carlos Martí; PIÑON, Hélio. moderna. [Re]visión Colombia arquitectura moderna 2.ed. Barcelona: Edicións ETSAB, 2006. FONTOURA, Ivens. Uma visão do design moveleiro latinoamericano Bento latinoamericano. Gonçalves: Salão Design Movelsul, 2006. FORM-INFORM. 1960. Disponível em: . Acesso em 31 abr. 2012, às 14h05min. FORTE, Miguel. Diário de um jovem arquiteto: minha viagem aos Estados Unidos em 1947. São Paulo: Mackenzie, 2001. FORTE, Miguel. Entrevista. ProjetoDesign São Paulo, Arco Editorial, n. 262, ProjetoDesign, dez. 2001. p. 74. FORTHMANN, Heinz; LIMA, João Filgueiras. Universidade de Brasília: primeira experiência em pré-moldado 1962-1970. Documentário, UnB, Brasília, 1970. Disponível em: . Acesso em 16 nov, 2011, às 21h 10min. FRAMPTON, Kenneth. História crítica de la arquitetctura moderna. Barcelona: Gustavo Gili, 1993. FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: UFRGS, . 1988. FROTA, José Artur D’Aló. A Permanência do Transitório. Preservação, Permanência e Transitoriedade: algumas reflexões sobre a arquitetura da Exposição Comemorativa do Centenário Farroupilha de 1935 em Porto Alegre. ARQtexto ZERO Porto Alegre, 1º semestre 2000. p. 13ZERO, 21. GAETA, Julio (Org.). Guillermo Gómez Platero – monografias elarqa 8. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 2001. GAETA, Julio (Org.). Luis Garcia Pardo – monografias elarqa 6. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 2000. GAETA, Julio (Org.). Mario Paysée Reyes – monografias elarqa 3. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 1997. GAETA, Julio (Org.). Maurício Cravotto . Montevidéu: Editorial dos Puntos, Cravotto 1995. GAETA, Julio (Org.). Walter Pintos Risso – monografias elarqa 7. Montevidéu: Editorial dos Puntos, 2001. GAETA, Julio César. Arquitetura e cidade – o caso da Rambla de Pocitos de Montevidéu. [Tese de doutorado]. MAHFUZ, Edson da Cunha (Orient.) Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2009. 518 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Referências GALESI, René; CAMPOS, Cândido Malta. Edifício Louveira: Arquitetura Moderna e qualidade urbana. 5º Seminário DOCOMOMO Brasil – Arquitetura e urbanismo modernos: projeto e preservação. Disponível em: . Acesso em 10 mar. 2012, às 16h 28min. GARCIA, José Villagran. Teoria de la Arquitectura México: UNAM, 1981. Arquitectura. GAZMURI, Alferdo Jünemann. Jorge Aguirre Silva: un arquitecto del movimiento moderno en Chile. Santiago: Ediciones ARQ, 1996. GIDION, Sigfried. O Brasil e arquitetura contemporânea. In: MINDLIN, Henrique. Brasil. Arquitetura moderna no Brasil 2. ed. Rio de Janeiro: Aeroplano / Iphan / Ministério da Cultura, de Janeiro, 2000. p. 15- 16. GIRADOUX, Jean. La Charte d´Atenhès avec un discours liminaire. Paris: Plon, 1938. GLUBER, Jacques; ABRIANI, Alberto. Alberto Sartoris. Dalla autobiografia allá critica. Mondadori: Electa, 1990. GOBBI, Manlio. Designare, um sonhar acordado. In: BOZZETTI, Norberto; BASTOS, Roberto (Orgs.) Pensando Design 2. Porto Alegre: Uniritter, 2008. p. 14-49. GOLDMAN, Carlos Henrique. A casa moderna em Porto Alegre: projetos . residenciais de Edgar Albuquerque Graeff 1949-1961. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: PROPAR:UFRGS, 2003. GONÇALVES, Magali Nochi Collares. Arquitetura bageense O delinear da bageense: modernidade – 1930-1970. [Dissertação de mestrado, PROPAR, UFRGS]. Porto Alegre: UFRGS, 2006. GOÑI, Ana Laura. El taller Torres García: Transposiciones a la enseñanza contemporanea del proyecto de arquitectura – Leccion 151. Montevidéo: Universidade de la República, Facultad de Arquitectura, 2008. GONZÁLEZ CORTAZAR, Fernando. Tres arquitectos mexicanos, en México en el arte T. 4, México: Instituto Nacional de Bellas Artes, 1984. GOODWIN, Philip L. Brazil builds architecture new and old 1652-1942. Nova builds: Iorque: MoMA, 1943. GRAEFF, Edgar Albuquerque (Org.). Arquitetura pósbrasileira pósBrasília/depoimentos. Rio de Janeiro: Instituto de Arquitetos do Brasil, 1978. GRAEFF, Edgar Albuquerque. A luta por um ensino autônomo. In: LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do "gênio artístico nacional". [Tese de doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura]. OLIVEIRA, Rogério da Castro (Orient.). Porto Alegre: FA-UFRGS, 2004. p. 33. GRAEFF, Edgar Albuquerque. Arquitetura e o homem. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1959. GRAEFF, Edgar Albuquerque. O Edifício. Cadernos Brasileiros de Arquitetura Arquitetura. . São Paulo: Projeto Editores Associados, 1986. GRAEFF, Edgar Albuquerque. Palácio Legislativo. Revista Espaço Arquitetura Arquitetura, Porto Alegre, ano 1, n. 2. p. 3. GRAEFF, Edgar. A arte e técnica na formação do arquiteto São Paulo: arquiteto. Studio Nobel / Fundação Vilanova Artigas, 1995. GRAEFF, Edgar. A luta por um ensino autônomo. In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. Porto Alegre / São Paulo: FAU-UFRGS / Pini, 1987. p. 32-33. . GRANDES Escritórios. Revista Projeto Editora Projeto, São Paulo, n. 171, Projeto, 1995. p. I.5, I.6, I.7. GRANDI, Celito de. Loureiro da Silva o charrua. Porto Alegre: Literalis, 2002. Silva: . GRINDA, Efrén G. El hormigón armado . In: TECTÔNICA – hormigon (I) “in-situ” n. 3, ATC, Madrid, 1996. p. 5. GROSSMAN, Luis J. Peralta Ramos en la arquitectura. Buenos Aires: Ediciones Infinito, 2006. GRUPO Escolar Araguaia. Imagem. Disponível em: . Acesso em 23 mai. 2012, às 14h 35min. GUERRA, Abílio (Org.). Textos fundamentais sobre história da arquitetura arquitetura moderna brasileira – parte 1. São Paulo: Romano Guerra, 2010. GUERRA, Abilio. Lucio Costa, Gregori Warchavchik e Roberto Burle Marx: síntese entre arquitetura e natureza tropical. Vitruvius Arquitextos Vitruvius, 029.05, São Paulo, ano 3, out. 2002. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2006, às 18h45min. GUEVARA, Ernesto Che. El socialismo y el hombre en Cuba. In: _____. Obra revolucionaria. 8. ed. México: Era, 1965. p. 627-639. revolucionaria GUIMARÃES, Josué. Os Tambores Silenciosos. Porto Alegre; Globo, 1977. GUTIÉRREZ, Ramon. Alberto Prebisch una vanguardia con tradición. Buenos Prebisch: Aires: Cedodal, 1999. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 519 GUTIÉRREZ, Ramon. Arquitectura y Urbanismo en Ibero América. Madrid: Catedra, 1992. GUTIERREZ, Ramón. Eduardo Larrán – Arquitectura Moderna en el Noroeste Eduardo Argentino. Buenos Aires: Cedodal, 2007. HECKMAN Marcus. Depoimento, 22 jan 2003. In: LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do "gênio artístico nacional". [Tese de doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura]. OLIVEIRA, Rogério da Castro (Orient.). Porto Alegre: FA-UFRGS, 2004. p. 206. HÉNARD, Eugéne. Etudes sur les transformations de Paris. E.U.A: Kessinger Publishing, 2009. HILBERSEIMER, Ludwig. The new regional pattern: industries and gardens, workshops and farms. Wiscosin: P. Thoebald, 1949. HOSPITAIS de Porto Alegre. Imagem. Disponível em: . Acesso em 15 jun. 2012, às 13h16min. IBA. Ante-Projeto, Arquitetura, Urbanismo, Arte – Edição dedicada ao II AnteCongresso Brasileiro de Arquitetos. Porto Alegre: IBA-RS, n. 1, ago. 1948. IRIGOYEN, Adriana. Wright e Artigas duas viagens. São Paulo: Ateliê Editorial, Artigas: 2002. IV Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul. Catálogo geral Porto Alegre: geral. IAB-RS, 1968. JORNAL DA UNIVERSIDADE. Nelson Souza, das glórias juvenis à arte da Disponível em: maturidade. . Acesso em 20 set. 2011, às 11h 30min. KAJIMA, Momoyo; KURODA, Junzo; TSUKAMOTO, Yoshiharu. Made in Tokyo. Toquio: Kajima Intitute Publishing Co., 2010. KERPEN, Karina dos Reis. A cidade e o elemento natural O Parque Marinha natural: do Brasil e as políticas públicas do verde em Porto Alegre (1960-1970). [Dissertação]. Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – PUCRS. Orientador: Ruth Maria Chittó Gauer. Porto Alegre:PUC RS, 2011. KIEFER, Flávio; LUZ, Maturino; MARQUES Sérgio (Orgs.). Brasil Meridional. Casas Internacional, n. 58, Buenos Aires: Kliczkowski Publisher, 1998. KIEFER, Flávio; MAGLIA, Viviane Vilas Boas. Refinaria Alberto Pasqualini: entrevista com os autores. In: PEIXOTO, Marta: LIMA, Raquel. Arquitetura, história e crítica: textos selecionados. Cadernos de Reis, Arquitetura Ritter dos Reis n. 2. Porto Alegre: UniRitter, 2000. p. 95141. KINOSHITA, Dina Lida. Organização comunista na América Latina no Pós II Guerra Mundial: rastros do comintern. Revista Izquierdas, U. de Chile, ano 3, n. 7, 2010. p.1-12. KLEIN, Renato. Caí. Disponível em: Histórias do Vale do Caí . Acesso em 19 out. 2011, às 16h30min. KLENNER, Alberto Montealegre. Emilio Duhart Arqui tecto. Chile: Ediciones Arquitecto. ARQ, 1994. KOOLHAAS, Rem. La Ciudad Contemporânea. In: WALKER, Enrique. Lo Ordinario. Barcelona: Gustavo Gili, 2010. p.91-92 KOPP, Anatole. Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa. São Paulo: Estúdio Nobel, 1990. KRAMPER, Martin; HÖRMANN, Günter. The Ulm school of design: beginnings of a project of unyelding modernity. Germany: Verlag Eugen G. Leuze, 2003. KREBS, Carlos Galvão. II Congresso Brasileiro de Arquitetura. Revista do Globo, Globo Porto Alegre, n. 478, 5 mar. 1949. p. 46-49. L’ARCHITECTURE D’Aujourd’hui, n. 18-19, jun. 1948. LANÇAM-se os estudantes do Instituto de Belas Artes na campanha “Por uma Faculdade de Arquitetura”. Correio do Povo Porto Alegre, Cia. Povo, Jornalística Caldas Júnior, 26 mar. 1950. p. 32. LE CORBUSIER. Carta de Atenas São Paulo: EDUSP, 1993. Atenas. LE CORBUSIER. Cuando las catedrales eran blancas Buenos Aires: blancas. Poseidon-Apostrofe, segunda parte, capítulo IV. 1948. LE CORBUSIER. Entretien avec les étudiants des écoles d´architecture. Paris: Denoél, 1943. LE CORBUSIER. Le trois établissements humains. Forces Vives: Les Editions de Minuit, 1997. LE CORBUSIER. Mensagem aos estudantes. São Paulo: Martins Fontes, 2006. LE CORBUSIER. Por uma arquitetura São Paulo: Perspectiva, 1981. arquitetura. LE CORBUSIER. Precisões. São Paulo: Cosac & Naif, 2004. LE CORBUSIER. Vers une architecture. Paris: Les Editions G. Grés et Cie, 1923. LEÃO, Silvia; FUÃO, Fernando; FROTA, José Artur (Orgs.). Arqtexto n. zero, Arqtexto, Porto Alegre, FAUFRGS, 2000. LEME, Maria Cristina da Silva (Coord.). Urbanismo 1895-1965. Urbanismo no Brasil 1895- 1965 São Paulo: Studio Nobel / FAUUSP / FUPAM, 1999. 520 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Referências LEMOS, Carlos. Arquitetura brasileira São Paulo: Melhoramentos, 1979. brasileira. LERENA ACEVEDO, Raul. Sobre arquitectura colonial. Comentarios a um artículo del arquitecto Christophersen. Revista Arquitetcura, n. 33, Montevidéu, 1921. In: ARANA Mariano; GARBELLI, Lourenzo. Montevideo: Arquitectura renovadora em Montevideo 1915 – 1940. Montevidéu: Fundación de Cultura Universitária, 1991. p. 18. LEWGOY, Bernardo. Os cafés na vida urbana de Porto Alegre (1920-1940): as transformações em um espaço de sociabilidade masculino. . [Dissertação de mestrado]. Cópia digitada. ROCHA, Ana Luiza Carvalho da (Orient.). Porto Alegre: BIC/CNPQ, UFRGS, 1988. LICH, Flávia Boni; CAFRUNI, Salma. Arquitetura UFRGS: 50 anos de histórias. . Porto Alegre: UFRGS, 2002. LICH, Flávia Boni; CAFRUNI, Salma. Demétrio Ribeiro. Livraria do Arquiteto: Porto Alegre, 2005. LIERNUR, Jorge Francisco. Trazas de futuro – episodios de la cultura arquitectónica de la modernidad en América Latina. Santa Fé: Universidad Nacional del Litoral, 2008. LIERNUR, Jorge Francisco; PSCHEPIURCA, Pablo. La Red Austral – Obras y proyectos de Le Corbusier y sus discípulos en la Argentina (1924-1965). Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 2008. LIERNUR. Jorge Francisco. Arquitectura en la Argentina del Siglo XX La XX: construcción de la Modernidad. Buenos Aires: Fundo Nacional de las Artes, 2001. LIMA, Maurício Nogueira. Imagem. 1950. Disponível em: Acesso em 19 jul. 2012, às 11h10min. LIMA, Raquel Rodrigues. Os Liceus de Artes e Ofícios do Rio Grande do Sul: 1900-1930. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura].Porto Alegre: UFRGS,1995. LIMA, Raquel. Edifícios de apartamentos: um tempo de modernidade no espaço privado – Estudo da radial Independência/24 de outubro – Porto Alegre – nos anos 50. [Tese de doutorado]. KERN, Maria Lúcia Bastos (Orient.). Porto Alegre: PUC-RS, 2005. LIMA, Raquel; MAGLIA, Viviane Villas Boas; KIEFER, Flávio. Crítica na Arquitetura. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis, n. 3, Porto . Alegre, Ritter dos Reis, 2001. LLOBERA, Teresa Rovira (org.). Documentos de Arquitectura Moderna en América Latina 1950-1965, V.IV. Barcelona: UPC, 2010, p.51. LLOBERA, Teresa Rovira (Org.). Documentos de arquitectura moderna en América Latina – 1950-1965. Tomo 1. Barcelona: Ediciones UPC, 2004. LLOBERA, Teresa Rovira (Org.). Documentos de arquitectura moderna en América Latina – 1950-1965. Tomo 2. Barcelona: Ediciones UPC, 2005. LLOBERA, Teresa Rovira (Org.). Documentos de arquitectura moderna en América Latina – 1950-1965. Tomo 3. Barcelona: Ediciones UPC, 2006. LLOBERA, Teresa Rovira (Org.). Documentos de arquitectura moderna en América Latina – 1950-1965. Tomo 4. Barcelona: Ediciones UPC, 2007. LLOBERA, Teresa Rovira (Org.). Vivienda social moderna. México 1947-1967. Barcelona: Ediciones UPC, 2009. LLOBERA, Teresa Rovira; GASTON, Cristina (Orgs.). Arquitectura moderna en America Latina – 1950-1965. Barcelona: Ediciones UPC, 2007. LOPES, Antonio Renato Guarino. A visão estrangeira sobre a arquitetura brasileira nos anos 1950: as criticas de Walter Gropius, Ernesto Rogers, Hiroshi Ohye e Peter Craymer. Disponível em: Acesso em: 20 abr. 2010. Acesso em 12 out. 2010, às 17h19min. LUCCAS, Luís Henrique Haas. Antonio Bonet e a arquitetura do Cone Sul: o exemplo de Punta Ballena. Vitruvius, São Paulo. Arqtextos, 087.04, . ano 08, ago. 2007. Disponível em: . Acesso em: 05 jul. 2011, às 13h 31min. LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do "gênio artístico nacional". [Tese de Doutorado em Arquitetura]. OLIVEIRA, Rogério da Castro (Orientador). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, 2004. LUCCAS, Luís Henrique Haas. O Sul por testemunha: declínio da hegemonia corbusiano-carioca e ascensão da dissidência paulista na arquitetura brasileira anos 50. Pós Rev Programa Pós-Graduação em Arquitetura Pós. e Urbanismo – FAUUSP. n. 27, São Paulo, jun. 2010. Disponível em: . Acesso em 18 mar. 2011. Acesso em 14 out. 2008, às 19h43min. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 521 LUCCHINI, Aurelio. Julio Vilamajó, su arquitectura. Montevidéu: UDELAR, 1970. LUZ, Maturino. De Millan ao FAM: a casa vira apartamento. Revista Arquitetura Arquitetura, São Leopoldo, UNISINOS, n. 2, 2001. p. 49-71. LUZ, Maturino. Ide todos a José A Arquitetura de Josef Franz Seraph José. Lutzenberger. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: PROPAR/UFRGS, 2003. MACEDO. Francisco Rio Pardense; XAVIER, Paulo. Antecedentes da praça do Palácio Legistlativo. In: Revista Espaço Arquitetura Porto Alegre, ano Arquitetura, 1, n. 2. p.12-19. MACHADO, Andréa Solér. Dois palácios e uma praça a inserção do Palácio praça: da Justiça e do Palácio Farroupilha na Praça da Matriz em Porto Alegre. [Dissertação de mestrado]. COMAS, Carlos Eduardo Dias (Orient.). Porto Alegre: PROPAR, UFRGS, 1997. MACHADO, Lúcio Gomes. Arquitetura do século XX no bairro Higenópolis: Higenópolis identificação, tombamento e proteção urbanística. Disponível em: Acesso em 10 mar. 2012, às 16h 36min. MAGLIA, Viviane Villas Boas. Acervo João Alberto Fonseca da Silva: Imagens da Modernidade. Disponível em: . Acesso em 14 dez. 2008. MAGLIA, Viviane Villas Boas. Refinaria Alberto Pasqualini aplicações dos Pasqualini: paradigmas modernistas à tipologia industrial no Rio Grande do Sul. [Dissertação de Mestrado – Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul]. Porto Alegre: PROPAR/UFRGS, 2003. MAGLIA, Viviane Villas Boas. Refinaria Alberto Pasqualini: aplicação dos paradigmas modernistas à tipologia industrial no Rio Grande do Sul. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2001. MAHFUZ, Andréa Soler Machado. Dois palácios e uma praça: a inserção do Palácio da Justiça e do Palácio Farroupilha na Praça da Matriz em Porto Alegre. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. Porto Alegre: UFRGS, 1996. MAHFUZ, Edson da Cunha. O Sentido da Arquitetura Moderna Brasileira. Vitruvius, Vitruvius Arquitextos, 020.01,: São Paulo, jan. 2002. Disponível em: . Acesso em: 23 jun. 2011, às 23h 42min. MAHFUZ, Edson. O clássico, o poético e o erótico e outros ensaios Porto ensaios. Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2002. MAHFUZ, Edson. Quem tem medo do Pós Modernismo? Nota sobre a base teórica da arquitetura dos anos 1980. In:________. O clássico, o clássico, ensaios. poético e o erótico e outros ensaios Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2002. p. 77-89. MAHFUZ, Edson. Tipo, projeto e método – construção disciplinar: quatro partidos em debate – 1960/2000. Porto Alegre: Marca Visual, 2011. MANCUSO, Franco. Las experiencias del zoning. Barcelona: Gustavo Gilli, 1980. MAPAS. Imagens. Google Earth. MARFAING Jean Lup. Architecture et Urbanisme – TOULOUSE 45-75, La ville mise à jour. CAUE 31. Laubatiéres: Portet-su-Garonne, 2009. MARGENAT, Juan Pedro. Tiempos modernos – arquitectura uruguaya afím a modernos las vanguardias 1925-1940. Montevidéu: Tradinco, 2009. . MARIGLIANO, Franco. El Instituto de Arquitetctura y Urbanismo de Tucúman – 1946/1950. [Tese de Doutorado]. Madri: ETSAM, 2003. MARINETTI, Tommaso Fillippo. Manifesto de fundação. Le Fígaro Paris, 20 fev. Fígaro, 1909. MARQUES, José Carlos. História de uma via: o advento da arquitetura moderna e a configuração da Av. Senador Salgado Filho, Porto Alegre 1940-1970. [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. PEREIRA, Cláudio Calovi (Orientador). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, 2003. MARQUES, Maria Ivone Bianchi. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. ago. 2008. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. MARQUES, Moacyr Moojen. Depoimento Cópia Digitada. 2009 Depoimento. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Cópia manuscrita. jun. 2008. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. Entrevista. Edifício FAM, 21 jan. 2009. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. Entrevista. Edifício FAM, 09 jan. 2011. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. Entrevista. Petrobras, jun. 2008. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. Entrevista. 25 nov. 2011. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. Entrevista. 12 out. 2011. 522 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Referências MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento ao autor. Gravação digital. Entrevista. 20 abr. 2008. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevi sta Depoimento ao autor. Gravação digital. Entrevista sta. 19 dez. 2010. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista. Depoimento ao autor. Gravação digital. Edifício FAM, jun. 2008. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento oral ao autor. Gravação Entrevista. digital. 13 set. 2011. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento oral ao autor. Gravação Entrevista. digital. Porto Alegre, fev. 2008. MARQUES, Moacyr Moojen. Entrevista Depoimento oral ao autor. Gravação Entrevista. digital. 30 set. 2011. MARQUES, Moacyr Moojen. FAM. Depoimento escrito. Cópia digitada. 20 out. 2010. MARQUES, Moacyr Moojen. I PDDU. Depoimento ao autor por escrito. Fev. PDDU 2012. MARQUES, Moacyr Moojen. Nove e meio. In: LICHT, Flávia Boni; CAFRUNI, Salma (Orgs.). Arquitetura UFRGS: 50 anos de histórias. Porto Alegre: UFRGS, 2002. p.95-102. MARQUES, Moacyr Moojen. Porto Alegre su proyecto y otras consideraciones. In: MARQUES, Sérgio Moacir (Org.). Porto Alegre. Montevidéu: Elarqa, 2000. p.18- 31. p.18MARQUES, Moacyr Moojen. Refinaria Alberto Pasqualini – entrevista com os autores. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis Porto Alegre: Arquitetura Reis, UniRitter, n. 2. p. 111. MARQUES, Sérgio Moacir (Org.). Revista Elarqa n. 33, Montevidéu, Editora Elarqa, Dos Puntos, 2000. MARQUES, Sérgio Moacir. A Cidade Moderna: O Moderno [e a Arte] na Cidade: A Praia de Belas e o Largo dos Açorianos – 1752-1973. In: Seminário Docomomo Brasil. Cidade moderna e contemporânea: síntese e paradoxo das artes. Trabalhos Completos. Rio de Janeiro: Klam, 2009. CD-ROM. MARQUES, Sérgio Moacir. A máskara. In: LEÃO, Silvia; FUÃO, Fernando; FROTA, José Artur (Orgs.). ARQTEXTO n. 3-4, Porto Alegre, ARQTEXTO, FAUFRGS, 2003. p.154-159. MARQUES, Sérgio Moacir. A revisão do movimento moderno? Arquitetura no Rio Grande do Sul dos anos 80. Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2002. MARQUES, Sérgio Moacir. Acervo d e desenhos Arquivo pessoal do autor. de desenhos. MARQUES, Sérgio Moacir. Arquitetura média na meia idade (ao redor dos 90). Revista Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, Editora Pini. n. 76, 1998. p. 76-79. MARQUES, Sérgio Moacir. Carlos Maximiliano Fayet e a arquitetura moderna brasileira no sul. Vitruvius São Paulo, arquitexto 105.03, fev 2009. Vitruvius, Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2011, às 19h. MARQUES, Sérgio Moacir. Ciudad Moderna, Ciudad Mutante Porto Alegre / Mutante: Praia de Belas / 1750-2016. In: PALIMPSESTO. Habitar la Ciudad, n. 1. Barcelona: Catedra Blanca, ESTAB/UPC, mar., 2011. p.10-11 MARQUES, Sérgio Moacir. Da refinaria à secretaria: racionalismo estrutural, socialismo nacional e modernismo regional em obras públicas de Fayet, Araújo & Moojen – 1962 a 1970. In: COMAS, Carlos Eduardo; MAHFUZ, Edson; CATTANI, Airton. Anais do III Seminário DOCOMOMO Sul, Concreto – Plasticidade e Industrialização do Cone Sul Sul-Americano, 1930-1970.v. 1. DOCOMOMO Sul/PROPAR/UFRGS, Porto Alegre, 2008. CD-ROM. MARQUES, Sérgio Moacir. Fayet Entrevista_Obra. Entrevista Gravação digital Entrevista. DVD. Cópia Digitada. Porto Alegre, 2005. MARQUES, Sérgio Moacir. Filtro Solar Fator Paralelo 30 – O FAM e a Arquitetura Moderna no Sul. In: COMAS, Carlos Eduardo; MARQUES, Sergio Moacir (Orgs.). A segunda idade do vidro – transparência e .). sombra na arquitetura moderna do Cone Sul-Americano: 1930-1970. v. 1. Porto Alegre: UniRitter, 2007. p. 153-168. MARQUES, Sérgio Moacir. Memphis. Revista Arqt exto n. zero, Editora Arqtexto exto, UFRGS, Porto Alegre, 2000. p. 104-115. MARQUES, Sérgio Moacir. O Anfiteatro, a Foice e o Martelo, o O.V.N.I. e o Guarda Chuva. Vida e sobrevida do Auditório Araújo Vianna. In: MARQUES, Sergio Moacir; COMAS, Carlos Eduardo; PEIXOTO, Marta (Orgs.). O Moderno já Passado | O Passado no Moderno – reciclagem, requalificação, rearquitetura. Porto Alegre: Ritter dos Reis, 2009. v. VI. p. 160-178. MARQUES, Sérgio Moacir. Residência Paulo Bayard Silveira 1880-1989. In: PEIXOTO, Marta; LIMA, Raquel. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis – Arquitetura História e Crítica – Textos Selecionados, n. 2, Editora Ritter dos Reis, Porto Alegre, 2000. p. 153-164. MARQUES, Sérgio Moacir. Tendências da arquitetura contemporânea do Rio Sul: Grande do Sul mudanças de paradigmas nos anos 80. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: UFRGS, 1999. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 523 MARQUES, Sérgio Moacir. The Fountainhead, El Manantial. Revista Summa +, n. 58, Buenos Aires: Editora Summa, 2003. p. 26-29. MARQUES, Sérgio Moacir. Encontros In: COMAS, Carlos Eduardo; BOHRER, Glênio; CANEZ, Anna Paula. Arquiteturas Cisplatinas Porto Alegre: Cisplatinas. UniRitter, 2004. Contracapa. MARQUES, Sérgio Moacir. Topos[logia], geos[grafia] & aqua. O projeto de Cláudio Araújo e Equipe para o concurso do Parque Marinha do Brasil. In: III SEPESQ – Colóquio de Pesquisa, UniRitter, 2007, Porto Alegre. III SEPESQ. Responsabilidades da Universidade. Porto Alegre: UniRitter, 2007. CD-ROM. MARQUES, Sérgio Moacir; ARAÚJO, Cláudio; LUZ, Maturino. Arquitetura do Sul: contemporânea no Rio Grande d o Sul monitoramento e acervo: arquitetura de concursos: 1984-2006. Porto Alegre: Editora UniRitter, 2008. CD-ROM. Disponível em: . MARQUES, Sérgio Moacir; CANEZ, Anna Paula Moura. O Mercado Público e o Auditório Araújo Vianna: o momento presente. Boletim do Instituto de RS, Arquitetos do Brasil – RS n.17, set. 1996. p. 8-9. MARQUES, Sônia; NASLAVASKY, Guilha. Estilo ou causa? Como quando e onde? Os conceitos e limites da historiografia nacional sobre o Movimento Moderno. Arquitextos, Vitruvius São Paulo, 011.06, ano 1, Vitruvius, abr. 2001. Disponível em: . Acesso em 20 set. 2010, às 22h 55min. MARTÍNEZ, Carlos; ARANGO SANÍN, Jorge. Arquitectura en Colombi a 1946Colombia 19461951. Bogotá: Ediciones PROA, 1953. MARTINEZ, Corona. Ensayo sobre el proyecto – Buenos Aires. Buenos Aires: CP67, 1991. MARTINS, Lineu. muito edifício, pouca arquitetura. Revista do Globo n. 711, Globo, 1958, p. 8-21, 46-51. MELLO, Bárbara et alli. Palácio da Justiça de Porto Alegre: a longa espera pelo fim, 1952-2006. O projeto de recuperação, restauração e readequação do ícone da arquitetura moderna de Porto Alegre. In: VII Seminário DOCOMOMO Brasil – O moderno já passado, o moderno no passado – reciclagem, requalificação, rearquitetura. Porto Alegre, 2007. Disponível em: . Acesso em 23 ago. 2009, às 16h. MERCER PRESS OFFICE. 2011 Quality of living worldwide city rankings – Mercer survey. Londres, 29 nov, 2011. Disponível em: . Acesso em 18 abr. 2011, às 15h 18min. MEYER, Hannes; DAL CO, Francesco. El Arquitecto en la lucha de clases y otros escritos. Barcelona: Gustavo Gili, 1972. MIETHICKI, Marcus. O Hospital de Clínicas de Porto Alegre. A presença de Jorge Machado Moreira na arquitetura da capital gaúcha. [Dissertação de Mestrado – PROPAR, UFRGS]. Porto Alegre: UFRGS, 2006. MIGUEL, José Marão Carnielo. Casa e lar: a essência da arquitetura. Arqtextos Vitruvius, Vitruvius São Paulo, 029.11, ano 3, out. 2002. Disponível em: . Acesso em 09 ago. 2010. 19h47min. MILANEZ, Maria Isabel Marocco. Arquitetura reativa. O Caso de Montevidéu – UY. [Dissertação de mestrado]. OLIVEIRA, Rogério de Castro (Orient.). Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2002. MINDLIN, Henrique E. Modern Architecture in Brazil . Rio de Janeiro: Collibris: 1956. MINDLIN, Henrique. Brasilian architecture. London: Royal College of Art, 1961. architecture MIZOGUCHI, Ivan; XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna em Porto Alegre Alegre. São Paulo: Pini, 1987. MÓDULO. Órgão Independente de Estudantes da Faculdade de Arquitetura do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, n. 3, abr.-mar., 1953. MÓDULO. Rio de Janeiro, Editora Módulo Ltda., ano VIII, n. 3, mar. 1963. MOHR, Udo. Demétrio Ribeiro 1916-2003. Vitruvius São Paulo, Arquitextos Vitruvius, 041.00, ano 4, out. 2003. Disponível em: . Acesso em 08 out. 2010, às 12h 15min. MONEO, Rafael. Contra la indiferencia como norma. Santiago: Ediciones ARQ, 1995. MONTANER, Josep Maria. Arquitectura y crítica em Latino-América. Buenos LatinoAires: Nobuko, 2011. MONTANER, Josep Maria. Arquitectura y critica. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2007. MONTANER, Josep Maria. Despues del movimiento moderno. Barcelona: Gustavo Gili, 1993. MONTANER, Josep Maria. Interpretação Dialética para um Continente de Arquitetura In: BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN, Ruth Verde. rasil: B rasil Arquiteturas após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010. p. 1520. MONTEZUMA, Roberto (Org.). Arquitetura Brasil 500 anos: uma invenção recíproca. Recife: UFPE, 2002. 524 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Referências MOURA, Eduardo Souto. Artífice da Pedra. Entrevista de Eduardo Souto de Moura a professores do UniRitter. Conexão UniRitter, Porto Alegre, Conexão, 2006. p. 16-17. MUITO edifício, pouca arquitetura. Revista do Globo n. 711, 1958. p.46-51. Globo, MURAL com mosaicos, Juan O´Gorman. Imagem. Disponível em: . Acesso em: 10 jun. 2012, às 19h34min. MURILHA, Douglas; SALGADO, Ivone. A arquitetura dos mercados públicos. . Vitruvius, Vitruvius São Paulo, Arqtextos, 138.02, 12, nov. 2011. Disponível em: . Acesso em: 14 mai. 2012, às 15h52min. NASLAVSKY, Guilah. Arquitetura moderna em Pernambuco, 1951- 1972 As 1951-1972. contribuições de Acácio Gil Borsoi e Delfim Fernandes Amorim. 2004. [Tese de Doutorado em Estruturas Ambientais e Urbanas]. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2004. NELSON Souza, das glórias juvenis à arte da maturidade. Disponível em: , Acesso em 18 jun. 2011, às 18h 05min. NENHUMA criança sem escola no Rio Grande do Sul. Disponível em: . . Acesso em 1º dez. 2011, às 17h 18min. NEUTRA, Richard. Arquitetura social em países de clima quente. São Paulo: Grerth Todman, 1948. NEUTRA, Richard. Realismo biológico. Un Nuevo renacimiento humanístico en arquitectura. Buenos Aires: Nueva Vision, 1958. NIEMEYER, Oscar. O povo gosta da nova arquitetura. Correio do Povo, Porto Alegre, ano 54, n. 165, 15 abr.1949. p. 16. O HOMEM por trás do monumento. História Viva, Ed. 06, Editora Duetto. São Paulo, 2004. p. 28-48. O PRINCÍPIO do urbanismo na Argentina – parte 1. Arquitextos 087.01, ano Arquitextos, 08, ago 2007. Disponível em: . Acesso em 14 abr. 2011, às 20h 05min. O’BYRNE, Maria Cecília. LC BOG. Le Corbusier em Bogotá – 1947-1951. Bogotá: Fundation Le Corbusier / Universidad de Los Andes / Universidad Javeriana, 2010. OECHSLIN, Werner. Between America and Germany: Werner-Hegemann’s approach to urban planning. In: KLEIHUES, Josef Paul; RATHGEBER, : Christina (Eds.). Berlin/New York Like and unlike: Essays on York: architecture and art from 1870 to the present. Nova York: Rizoli, 1993. p. 281-295. OLIVEIRA, Fabiano Lemes. Modelos urbanísticos modernos e parques urbanos: as relações entre urbanismo e paisagismo em São Paulo na primeira metade do século XX. [Tese de doutorado]. MONTANER, Josep Maria (Orient.). Barcelona: ETSAB/UPC, 2008. OLIVEIRA, Rogério de Castro. Jogos compositivos na cidade dos prismas. Universidade do Rio de Janeiro, 1936. Arqtexto PROPAR, UFRGS, Arqtexto, Porto Alegre, n. 9, 2006. p. 40-53. ONCK, Andries Van. Trabalho acadêmico com o Prof. Gerit Rietvield, 1954. Disponível em: . Acesso em: 13 jun. 2012, às 19h55min. OS CONCURSOS: concorrência para mil prédios escolares". Correio do Povo Povo, 20 set. 1959. p. 18. OSCAR Niemeyer em Porto Alegre. Revista do Globo, Porto Alegre, ano 20, fascículo 482, 15 mai.1949. p. 43-45 e 72. OTTA, Tatiana Macedo. Arquitetura moderna em São José dos Campos: A identidade. representação de uma identidade. Disponível em: . Acesso em: 19 jul. 2011, às 18h. OYARZUN, Rodrigo Pérez. Bresciani Valdés Castillo Huidobro. Santiago: Ediciones ARQ, 2006. PADILLA, Roberto; SOARES, Nair de Paula. Jorge Hue. Rio de Janeiro: Contracapa, 2010. PAINEL de azulejos, Cândido Portinari. Imagem Imagem. Disponível em: . Acesso em: 10 jun. 2012, às 19h34min. PAIVA, Edvaldo Pereira; UBATUBA DE FARIA, Luis Arthur. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre: Ronéo, 1938. PAIVA, Edvaldo Pereira; VERONESE, Roberto E.; HEKMAN, Marcos David. Cidade industrial de Porto Alegre – plano de urbanização. Porto Alegre: Governo do Estado do Rio Grande do Sul, 1961. PALÁCIO Legislativo. Revista Espaço Arquitetura, Porto Alegre, ano 1, n. 2. p. Arquitetura 3-5. PANIZZI, Wrana M.; ROVATTI, João F. Estudos urbanos Porto Alegre e seu urbanos: planejamento. Porto Alegre: Ed. Universidade UFRGS / Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1993. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 525 PAPADAKI, Stamo. Oscar Niemeyer: works in progress. Nova York: Reinhold Publishing Corporation, 1956. PAPADAKI, Stamo. The work of Oscar Niemeyer Nova York: Reinhold Niemeyer. Publishing Corporation, 1950. PEIXOTO, Marta. A Sala bem temperada. Interior Moderno e sensibilidade eclética. [Tese de doutorado]. COMAS, Carlos Eduardo Dias (Orient.). Porto Alegre: PROPAR UFRGS,. 2006. PEIXOTO, Marta. Os novos apartamentos velhos. In: COMAS, Carlos Eduardo Dias; PEIXOTO, Marta; MARQUES, Sergio Moacir. O Moderno já passado, o passado no moderno – reciclagem, requalificação, rearquitetura. Porto Alegre: Uniritter, 2000. p. 113-121. PEIXOTO, Marta. Sistema de proteção de fachadas da escola carioca de 1955. 1935 a 1955 [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: UFRGS, 1994. PEIXOTO, Marta; LIMA, Raquel (Orgs.). Arquitetura: história e crítica – textos selecionados. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis, n. 2, Porto Reis Alegre, Ritter dos Reis, 2000. PENTEADO, Fabio. Fábio Penteado: ensaios de arquitetura. São Paulo: Empresa das Artes, 1998. PEREIRA, Miguel Alves. Arquitetura moderna em Porto Alegre: os anos 1960. In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. Alegre Porto Alegre / São Paulo: FAU-UFRGS / Pini, 1987. p. 34-37. PEREIRA, Sabrina Souza Bom; GUERRA, Abílio. Rodolpho Ortenblad Filho – A arquitetura moderna paulista olhando para Wright e Neutra. Vitruvius Vitruvius, São Paulo, entrevista 048, ano 11, out. 2011. Disponível em: . Acesso em 30 nov. 2011, às 16h 09min. PÉRES DE ARCE, Rodrigo; OYARZUN, Fernando Péres. Escuela de Valparaíso: ciudad abierta. Chile: Editorial Contrapunto, 2003. PEREZ, Fabián Gabriel. Introducción a La Segunda Edición Revisada y Ampliada. In: FONTANA, Pia Maria; MAYORGA, Miguel Y.; ARIS, Carlos Martí; PIÑON, Hélio. [Re] visión Colombia arquitectura moderna. 2. ed. Barcelona: Edicións ETSAB, 2006. p. 8-9. PIGNATARI, Décio. Informação, linguagem e comunicação. São Paulo: Perspectiva, 1968. PIGNATARI, Décio. O organismo. 1960. Disponível em : . Acesso em 30 mar. 2012, às 11h 34min. PIÑON, Hélio. Arquitectura de la ciudad moderna. Barcelona: Ediciones UPC, 2010. PIÑON, Hélio. Eduardo Almeida. Barcelona: ETSAB/UPC, 2002. PIÑON, Hélio. La forma y la mirada. Buenos Aires: Nobuko, 2005. PIÑON, Hélio. Mario Roberto Alvarez Barcelona: ETSAB/UPC, 2002, Alvarez. PIÑON, Hélio. Paulo Mendes da Rocha. Barcelona: ETSAB/UPC, 2003. PIÑON, Hélio. Raul Sichero Barcelona: ETSAB/UPC, 2002. Sichero. PIÑON, Hélio. Sobre tipos de edifícios. Quaderns d`architectura i urbanisme urbanisme, Barcelona, n. 256, 2007. p. 138-139. PIÑON, Hèlio. Teoria do projeto. Livraria do Arquiteto: Porto Alegre, 2006. PIÑON, Hélio; CATALÀ-ROCA F. Arquitectura moderna em Barcelona (19511976). Barcelona: Ediciones UPC, 1996. PINTURAS de Aldo Locatelli e Emilio Sessa, Catedral São Francisco de Paula, Pelotas-RS. Imagem. Disponível em: . Acesso em 30 nov. 2011, às 16h 40min. PIZZA, Antonio; ROVIRA, Josep M. Coderch, 1940-1964 A la recerca de la 1940-1964. llar. Barcelona: Actar, 2000. PORTELA FILHO, Artur Alfredo e. O novo romance . Lisboa: Editorial Presença, romance. 1962. PORTO Alegre Antigo. Imagem. Disponível em: . Acesso em 18 jun. 2012, às 19h 44min. PORTO ALEGRE. Conselho Metropolitano de Municípios. Grupo Executivo da Região Metropolitana de Porto Alegre. Plano Piloto – Parque Regional de Itapuã. Porto Alegre, 1975. PORTO ALEGRE. Decreto nº 2.872/64 - Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1964 PORTO ALEGRE. Decreto nº 3.481/72 - Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1972 PORTO ALEGRE. Decreto nº 4.552/72 - Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1972 PORTO ALEGRE. Decreto nº 5.162/75 - Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1975 PORTO ALEGRE. Lei Complementar n. 43, de 21 de julho de 1979. 1° PDDU . Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Porto Alegre. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1987. PORTO ALEGRE. Lei n. 2.330 de 1961 Plano Diretor de Porto Alegre.. Porto 1961. Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1961. PORTO ALEGRE. Plano Diretor 1954- 1964 Prefeitura Municipal de Porto 1954-1964. Alegre, Porto Alegre, 1964 526 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Referências PORTO ALEGRE. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Secretaria de Obras e Viação/Divisão de Urbanismo. Região metropolitana – estudos. Porto Alegre, 1967. Pós. Rev Programa Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – FAUUSP. n. 27, São Paulo, jun. 2010. Disponível em: . Acesso em 18 mar. 2011, às 7h45min. QUADROS, Claudemir. Brizoletas: a ação do governo de Leonel Brizola na educação pública do Rio Grande do Sul (1959-1963). Teias Rio de Teias, Janeiro, ano 2, n. 3, jan./jun. 2001. p. 1-12. QUESADA, Luis Miró. Espacio en el tiempo: arquitectura como fenomeno cultural. Lima: Compañia de Impresiones y Publicidad, 1945. RAVEL, Maurice l. L'Enfant et les sortilèges Fantaisie Lyrique. Poème de sortilèges. Colette. Paris: Durand & Cie., [s. d.]. REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil São Paulo: Brasil. Perspectiva, 1983. RENZETTI, Paolo. Associação Atlética Sulpetro. T. Sport, n.10 - Sinopia Milano, 1990. REVISTA Acrópole n. 232. São Paulo: 1958. REVISTA Arquitectura, Montevidéu, n. 101, 1926. REVISTA Arquitectura, Montevidéu, n. 177, 1932. REVISTA Espaço Arquitetura, Porto Alegre, ano 1, n. 2, 1959. REVISTA Espaço, n. 2. Porto Alegre: IBA, nov. 1948. REVISTA Espaço, n. 4. Porto Alegre: IBA, dez. 1949. REVISTA Habitat, n. 5, 1953. REVISTA PROJETO. São Paulo, n. 171, abr. 1995. REYES, Maria Isabel Pavez. En la ruta de Juan Parrochia B eguin. Santiago: Beguin. Univesidad de Chile, 2003. REZENDE, Vera F. Evolução da produção urbanística na cidade do Rio de Janeiro, 1900-1950-1965. In: LEME, Maria Cristina da Silva (Coord.). 1895-1965. Urbanismo no Brasil 1895 -1965 São Paulo: Studio Nobel / FAUSP / FUPAM, 1999. p. 39-70. REZENDE, Vera F.; RIBEIRO, Fernanda de Azevedo. A arquitetura e o . urbanismo modernos no Distrito Federal, escolha ou consequência na Era Vargas? Disponível em: Acesso em 04 abr. 2010, às 14h 56min. RIBEIRO, Demétrio. A Arquitetura no período 45-60. In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre Porto Alegre. Alegre / São Paulo: FAU-UFRGS / Pini, 1987. p. 26-31. RIBEIRO, Demétrio. A profissão do arquiteto. Espaço Arquitetura n. 2, ano 1, Arquitetura quitetura, Porto Alegre, 1959. p.37-38. RIBEIRO, Demétrio. La influencia uruguaya en la formación de los arquitectos riograndenses. In: MARQUES, Sergio Moacir. Porto Alegre Elarqa n. Alegre. 33. Montevidéu: Dos Puntos, 2000. p. 6. RIBEIRO, Patrícia Pimenta Azevedo. A participação do arquiteto Richard Neutra no Congresso Internacional Extraordinário de Críticos de Arte, 1959. VIII DOCOMOMOSeminário DOCOMOMO- BRASIL – Síntese e paradoxo das artes. Cidade Moderna e Contemporânea, 2009. Disponível em: . Acesso em 4 out. 2010, às 9h 30min. RIOPARDENSE DE MACEDO, Francisco. Porto Alegre, história e vida da cidade. Porto Alegre: UFRGS, 1973. RIOPARDENSE DE MACEDO, Francisco. Porto Alegre, origem e crescimento crescimento. Porto Alegre: Sulina, 1968. RIOPARDENSE DE MACEDO, Francisco; HECKMAN, Marcos David; SILVA, Leo Ferreira da. Curso de urbanismo. Faculdade de Arquitetura UFRGS, Departamento de Urbanismo, 1961. RODRIGEZ Prampolini Ida. Juan O'Gorman, arquitecto y pintor México: pintor or. UNAM, Instituto de Investigaciones Estéticas, 1983. RODRIGUES, Edgar. Pequena história da imprensa social no Brasil. Rio de Janeiro: Comunicação Comunitária, 1996. Disponível em: Acesso em 14 mar., às 32h50min. ROMERO José Luís. Latinoamérica: Las ciudades y las ideas. Buenos Aires: Siglo XII Editores, 2001. ROSA DA SILVA, Úrsula. A fundamentação estética da crítica de arte em Ângelo Guido – a crítica de arte sob o enfoque de uma história de ideias. [Tese de doutorado]. Porto Alegre: IFCH, PUCRS, 2002. Cópia digital. ROSA, Renato; PRESSER, Décio. Dicionário de artes plásticas no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. Universidade / UFRGS, 1997. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 527 ROSSI, Itacir; ROSSI, Álvaro. Petróleo Brasileiro – Novos Caminhos. Documentário. Produção: InterFilmes – Ltda. Narração: Cid Moreira. Porto Alegre, 1969. Formato Digital. Disponível em: . Acesso em 26 nov. 2011, às 12h 24min. ROVATTI, João Farias. La modernité est ailleurs: “ordre et progrès” dans l’urbanisme d’Edvaldo Pereira Paiva (1911-1981) – Annexes. [Tese de Doutorado]. Paris: Université de Paris VIII – Vincennes-Saint-Dennis, 2001. ROWE, Collin et al. Fiv e architects. Barcelona: Gustavo Gili, 1975. Five ROWE, Collin. Después de qué arquitectura moderna? Arquitecturas Bis mar. Bis, 1987. p. 7. ROWE, Collin; KOETTER, Fred. Ciudad collage. Barcelona: Gustavo Gili, 1981. , RYKWERT, Joseph. A sedução do lugar. São Paulo: Martins Fontes, 2004. SABBAG, Haifa Yazigi. JKMF Julio Kassoy e Mario Franco. São Paulo: Cris Correa, 2007. SALENGUE, Laís G. de Pinho; MARQUES, Moacyr Moojen. Reavaliação de planos diretores: o caso de Porto Alegre. In: PANIZZI, Wrana M.; ROVATTI, João F. Estudos urbanos Porto Alegre e seu planejamento. urbanos: Porto Alegre: Ed. Universidade / UFRGS / Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1993. p. 156-158. SANTOS, Cecília Rodrigues; PEREIRA, Margareth Campos da Silva; PEREIRA, Romão Veriano da Silva; SILVA, Vasco Caldeira da. Le Corbusier e o Brasil. Brasil São Paulo: Projeto, 1987. SAVORA, Massimiliano. Félix Candela, Pier Luigi Nervi and formalism in architecture. In: CASSINELLO, P. (Ed.). Félix Candela Madrid: P. Candela. Cassinello, 2010. SCHELOTTO, Salvador. El anteproyecto de plan regulador de Montevideo. In: CRAVOTTO, Maurício. Monografias Elarqa n. 2. Montevidéu: Editorial Elarqa, dos Puntos, 1995. p. 30-37. SCHEPS, Gustavo. 17 registros. Montevidéu: UDELAR, 2009. SCHLEE, Andrey; FICHER, Sylvia. Bahia – um outro modernismo: paralelo e escamoteado. II Seminário DOCOMOMO N – NE Salvador, jun. 2008. NE, Disponível em: . Acesso em 21 ago. 2009 às 23h10min. SEGAWA, Hugo. Arquitectura latino americana contemporánea. Barcelona: Gustavo Gilli, 2005. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990 São Paulo: Editora da 1900-1990. Universidade de São Paulo, 1997. SEGAWA, Hugo; DOURADO, Gulherrme Mazza. Oswaldo Arthur Bratke São Bratke. Paulo: Projeto, 1997. SEGRE, Roberto. FAU 1960-1975: Los "años de fuego" de la cultura 1960arquitectônica cubana. Disponível em: . Acesso em 30 nov. 2011, às 17h 03min. SEIS arquitetos falam de sua arquitetura, das condições de trabalho... Projeto Projeto, São Paulo, n. 50, abr., 1983. p. 42-47. SHAH, Sonia. A História do Petróleo . Porto Alegre: L&PM, 2007. SHERRY, Norman. The life of Graham Greene Reino Unido: Better World Greene. Books Ltd. , 2004. SILVA, José Loureiro da; PAIVA, Edvaldo Pereira. Um plano de urbanização. Porto Alegre: Globo, 1943. SILVA, Nelson Saraiva da. IX Bienal de São Paulo – 1967. In: LICHT, Flavia Boni; CAFRUNI, Salma. Arquitetura UFRGS, 50 anos de histórias Porto histórias. Alegre: UFRGS, 2002. p. 103-108. SIMÕES JUNIOR, José Geraldo. O ideário dos engenheiros e os planos realizados para as capitais brasileiras ao longo da primeira república. Vitruvius, Vitruvius São Paulo, arqtextos, 090.03, ano 08, nov. 2007. Disponível em: . Acesso em: 12 set. 2011, às 14h 40min. SIMON, Cirio. Origem do Instituto de Artes da UFRGS. [Tese de doutorado]. Porto Alegre: PUC-RS, 2002. SIMON, Cirio. Origens do Instituto de Artes da UFRGS. Etapas entre 19081962 e contribuições na constituição de expressões de autonomia no sistema de artes visuais do Rio Grande do Sul. [Tese de doutorado].Porto Alegre: FFCH - PUCRS, 2008. Cópia digital. SINGER, Isidoro. Portfólio. Cópia Impressa. SMITH, Elisabeth A. T. Case Study Houses – The complete CSH Program 1945-1966. Taschen: CoLõnia, 2009. ArchitecturalSMITHSON, Alison. How to reconise and read mat-building. Architectural Design, Design n. 9, Londres, 1974. p.577-590. SOCIEDADE dos Amigos da Praia do Imbé. Correio do Povo Porto Alegre, 14 Povo, out. 1951. p. 7. SOLÀ-MORALES, Ignasi de. Diferencias. Topografia de la arquitectura Contemporánea. Barcelona: Gustavo Gili, 1995. SOUZA, Célia Ferraz de. Plano geral de melhoramentos de Porto Alegre: o plano que orientou a modernização da cidade. Porto Alegre: Armazém Digital, 2010. SOUZA, Célia Ferraz de. Trajetórias do urbanismo em Porto Alegre, 19001945. In: LEME, Maria Cristina da Silva (Coord.). Urbanismo no Brasil 528 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Referências 1895-1965. 1895- 1965 São Paulo: Studio Nobel: FAUUSP: FUPAM, 1999. p.83101. SOUZA, Nelson. A questão da democracia e a arquitetura moderna no Brasil. Porto Alegre: Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento RS, 1979. SOUZA, Nelson. Das glórias juvenis à arte da maturidade. Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2011, às 18h 14min. SOUZA, Pedro Luís Pereira de. ESDI – Biografia de uma ideia. Rio de Janeiro: UERJ, 1996. STEINHOF, Eugen Gustav. Arquitetura. In: VARGAS, Milton; BRITO, Eugênio; SOUZA, José Leite de; STEINHOF, Eugênio; BERNARDI, Duílio. Manual do engenheiro. Porto Alegre: Globo, 1955. v. 4. STEINHOF, Eugen Gustav. The history of art and decoration in the light of history psychology. New York: New York Regional Art Council, 1932. STEINHOF, Eugene. Entrevista. Estado de São Paulo 22 set. 1929. p. 47. Paulo, STRÖHER, Eneida Ripoll. A habitação coletiva na obra do arquiteto Emil década Alegre. Bered, na década de 50, em Porto Alegre [Dissertação de Mestrado em Arquitetura]. Porto Alegre: Faculdade de Arquitetura, PROPAR / UFRGS, 1997. STRÖHER, Eneida Ripoll. Pioneirismo modernista nos Pampas. Arquitetura e Urbanismo – AU, São Paulo. Disponível em: . Acesso em 07 jun. 2011, às 11h 45min. SYRA, Álvarez Ortega. La formación en arquitectura en el Perú, 1955. antecedentes, inicios y desarrollo hasta 1955. Lima: Universidad Nacional de Ingeniería, 2006. SZEKUT, Alessandra Rambo. Vertentes da modernidade no Rio Grande do Sul: Sul a obra do arquiteto Luís Fernando Corona. [Dissertação de Mestrado]. PEREIRA, Cláudio Calovi (Orient.). Porto Alegre: PROPAR/UFRGS, 2008. TEDESCHI, Enrico. Teoria de la arquitetctura. Buenos Aires: Nueva Visión, arquitetctura. 1962. TEDESCHI, Enrico. Uma Introdución a la história de la arquitetctura arquitetctura. Tucumán: Universidad Nacional de Tucumán, 1951. THORNBRG, Joseph Muntañola. Alvar Aalto. Barcelona: Edicions UPC, 2003. TOMASI, Elisabeth; DEROSSO, Simone Graciela. Auditório Araújo Vianna – 30 anos. Porto Alegre: Unidade Editorial, 1994. TORRECILLAS, Antonio Jimenez. Eládio Dieste 1943 – 1996. Sevilha: Dirección General de Arquitectura y Vivienda de la Consejería de Obras públicas y Transportes de la Junta de Andalucía, 1996. TORRES GARCIA, Joaquín. Historia de mi vida. Montevidéu: Arca Editorial, 2000. TURKIENICZ, Benamy. Escritório – Cláudio Araújo. AU – Arquitetura e Urbanismo. Urbanismo São Paulo, n. 60, 1995. p. 91-96. VALDÉS, León Rodríguez. Mario Pérez de Arce Lavín: la permanencia de Pérez arquitectura moderna en Chile. Santiago: Ediciones ARQ, 1996. VAN DER ROE, Mies. Carta a Le Corbusier. Berlin, 1929. In: COHEN, Jean-Luis. . Rohe. Mies Van der Rohe Madrid: Akal, 1998. p. 52. VAN ONCK, Andries. Design il senso delle forme dei prodotti Milão: Lupetti, prodotti. 1994. VARGAS, Milton; BRITO, Eugênio; SOUZA, José Leite de; STEINHOF, Eugênio; BERNARDI, Duílio. Manual do engenheiro. v. 4. Porto Alegre: Globo, engenheiro 1955. VASCONCELOS, José Adirson de. A epopeia da construção de Brasí lia Brasília lia. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1989. VEROLI, Debora Di. Vida, obra y reflexiones Buenos Aires: 2006. reflexiones. VICTOR, Mário. A batalha do petróleo brasileiro. São Paulo: Civilização Brasileira, 1991. VILLA La Saracena. Imagem. Disponível em: . Acesso em 09 jun. 2012, às 12h 47min. VILLACORTA S. Luis. Hector Velarde Bergmann (1898-1989). Disponível em: (1898. Acesso em: 02 jul. 2011, às 14h34min. VILLANUEVA, Paulina; PINTÓ, Marcia. Carlos Raúl Villanueva. Basel / Birkhäuser: Publisher for Architecture, 2000. VILLELA, Fábio Fernandes, A escola da justiça global. UNESP, São José do Rio Preto. Disponível em: . Acesso em 30 nov. 2011, às 17h 09min. VISITA de Oscar Niemeyer à casa de Fernando Corona. Imagem. Disponível em: . Acesso em 03 fev. 2012, às 9h 37min. WAGNER, César; LAUB, Débora. Fotografia do Brasil – a publication, Auckland: ScALA-Unitec, 2007. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 529 WAIHRICH, Lorena Postal; WICKERT, Ana Paula; SILVA, Nery Luiz Auler. A casa da Independência: um exemplar de Edgar Graeff. Docomomo. Disponivel em: . Acesso em 14 fev. 2011 às 14h54min. WARCHAVCHIK, Gregory in: NEUTRA, Richard. Arquitetura social em países de clima quente. São Paulo: Grerth Todman, 1948. p. 10. WEIMER Günter (Org.). A arquitetura no Rio Grande do Sul Porto Alegre: Sul. Mercado Aberto, 1983. WEIMER, Günter. A Arquitetura modernista em Porto Alegre, entre 1930 e modernista 1945. 1945 Porto Alegre: Unidade Editorial, 1998. WEIMER, Günter. Arquitetos e construtores rio- grandenses na Colônia e no rioImpério. Império Santa Maria: Editora da UFSM, 2006. WEIMER, Günter. Arquitetos estrangeiros no Rio Grande do Sul. In: XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre Alegre. Porto Alegre / São Paulo: FAU-UFRGS / Pini, 1987. p. 23-25. WEIMER, Günter. O arquiteto Theo Wiedersphan Porto Alegre: FAUFRGS Wiedersphan. [texto digitado], 1985. WEIMER, Günter. Síntese Ri o-Grandense: a arquitetura. Porto Alegre: UFRGS, Rio 1998. WEIZENMANN, Jamile Maria da Silva. A arquitetura de Román Fresnedo Siri (1938-1971). [Dissertação de mestrado]. PEREIRA. Cláudio Calovi (Orient.). Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2008. WILLIAMS, Cláudio. Amancio Willams. Buenos Aires: Donn, 2008. WOLF, José. Querência Arquitetônica. Arquitetura e Urbanismo. Disponível em: . Acesso em 11 out. 2010, às 22h 50min e 19 jul. 2011, às 11h 20min. anos. WOLLNER, Alexandre. Design visual 50 anos São Paulo: Cosac & Naify, 2003. WRIGHT, Frank Lloyd. An american architecture New York: Horizon Press, architecture. 1955. WRIGHT, Frank Lloyd. The living city. New York: Horizon Press, 1958. XAVIER, Alberto; LEMOS, Carlos; CORONA, Eduardo. Arquitetura moderna Paulistana. São Paulo: Pini, 1983. Paulistana XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987. ZAMOYSKI, Adam. História da Polônia. Lisboa: Edições 70, 2010. ZANIN, Luiz. 20 anos sem Alberto Moravia. Estadão 30 mar. 2010. Disponível Estadão, em: . Acesso em 1º dez. 2011, às 11h 56min. ZEIN, Ruth Verde. A Miragem da industrialização – abrindo a mata virgem a facão: alguns casos do brutalismo paulista. In: COMAS, Carlos Eduardo; MAHFUZ, Edson; CATTANI, Aírton. II Seminário Sul, DOCOMOMO Sul Concreto - Plasticidade e Industrialização na Arquitetura do Cone Sul Americano 1930/1970. Docomomo Núcleo RS/PROPAR, Porto Alegre, 2008.CD-ROM. ZEIN, Ruth Verde. Arquitetura da escola paulista brutalista – 1953- 1973. 1953[Tese de doutorado]. COMAS, Carlos Eduardo Dias (Orient.). Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2005. ZEIN, Ruth Verde. Arquiteturas Brasileiras e outras oposições. Projeto São Projeto, Paulo, n. 50, abr. 1983. p. 33. ZEIN, Ruth Verde. Entrevista por escrito. Porto Alegre, abr. 1998. . escrito ZEIN, Ruth Verde. Nos últimos anos, surgem os novos caminhos e tendências. Projeto, Projeto São Paulo, n. 53, jul. 1983. p. 86-126. ZEVI, Bruno. La poética de la arquitectura neoplástica. El Linguaje de la arquitectura descomposición cuatridimensional. Buenos Aires: Editorial Victor Lerú S.R.L, 1960. ZHDANOV, Andrei. O papel social da arte progressista, Princípios, n. 8, mai. 1984. In: DUARTE, Eduardo de Assis. Jorge Amado: romance em tempo de utopia. Rio de Janeiro: Editora da UFRN: 1996. p. 221. . ZIMBRES, Paulo de Melo. O planejamento físico da UnB. In: Acrópole Edição Acrópole, Especial da Universidade de Brasília. São Paulo, ano 31, n. 369/70, jan./fev. 1970. p. 8-18. 530 FAYET, A RAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Referências Fonte: Foto Sergio Marques, 2009 Fig. 14 - Da esquerda para a direita, Edson Mahfuz, Moacyr Moojen e Hélio Piñon. Visita ao FAM, 2009. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio M. Marques 531 Figura da Capa: Edificio FAM, Fayet, Araújo & Moojen, 1964-1968, Porto Alegre-RS. Fonte: Foto João Alberto da Fonseca, Acervo FAM Figuras da Contracapa: Edificio FAM, Fayet, Araújo & Moojen, 1964-1968, Porto Alegre-RS. Fonte: Desenhos Sergio M. Marques, 2010 532 Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior - PDSE - CAPES FAYET, ARAÚJO & MOOJEN: ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL - 1950/1970 Volume 8 Anexos I, II e III ANEXOS Faculdade de Arquitetura - UFRGS Rua Sarmento Leite, 320 /201 90050-170 Porto Alegre/RS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Fone/Fax: 55 51 3316-3485 FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA - PROPAR ppgarq@vortex.ufrgs.br TESE DE DOUTORADO Orient. Carlos E. D. Comas/ Co-Orient. Hélio Piñon Sergio Moacir Marques ANEXO I ANEXO I CRONOLOGIAS ILUSTRADAS: FAYET, ARAÚJO & MOOJEN LEGENDA: LEGENDA : Imagens, organizadas em ordem cronológica, com os dados fundamentais, de cada projeto: 1. F, A, M - Projetos realizados por cada um dos três arquitetos, separadamente, sozinhos ou em equipe com outros arquitetos 2. FAM - Projetos realizados por Fayet, Araújo e Moojen conjuntamente, com eventual participação de outros arquitetos 3. FM - Projetos realizados por Fayet e Moojen conjuntamente, com eventual participação de outros arquitetos 4. FA - Projetos realizados por Fayet e Araújo conjuntamente, com eventual participação de outros arquitetos 5. AM - Projetos realizados por Araújo e Moojen conjuntamente, com eventual participação de outros arquitetos 2 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I F 1950CRONOLOGIA ILUSTRADA 1950- 2006 OBSERVAÇÕES: 1. A Cronologia ilustrada de Carlos Maximiliano Fayet foi realizada com base em seu curriculum Vitae e consulta ao seu acervo particular, atualmente depositado no Edifício FAM, com auxilio de sua filha Beatriz Brücker Fayet, ex-secretária executiva da Equipe de Arquitetos Ltda., e de sua ex-mulher Arq. Suzy Brücker Fayet, colaboradora em diversos projetos; 2. A cronologia ilustrada reúne as obras/projetos principais de Fayet, ou equipe, agrupadas em sequência cronológica a partir da data de inicio do trabalho, quando identificada (em alguns casos ainda não há confirmação em relação a datas de inicio de projeto e conclusão da obra). Foram adotadas as datas mais antigas encontradas (entre currículo, plantas e documentação), para sinalizar o inicio do trabalho e as mais recentes, para a conclusão da obra ou projeto; 2. Alguns projetos foram recebendo acréscimos e extensões posteriores, realizadas por Fayet ou equipe, que não estão citados na cronologia, mas constam no curriculum vitae do arquiteto, em anexo; 3. Os dados e imagens correspondentes ainda não estão completos. O levantamento destas informações encontra-se em andamento no projeto de constituição do Acervo "Fayet, Araújo & Moojen" em andamento, que deve prosseguir até sua estruturação completa. 4. A fonte das imagens estão indicadas no corpo da tese, nos capítulos correspondentes,, quando é o caso. As não indicadas são integrantes do acervo FAM. 3 4 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I Projeto: Residência Maria Flor Vieira Contratante: Eng. Léo Lubianca Autor: Acad. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Fornecedores: Ano: 1950/1952 Área Construída: Local: Av. Montenegro, 108, Petrópolis, Porto Alegre/RS Projeto: Residência Dr. Ernesto Cros Valdez Contratante: Eng. Léo Lubianca Autor: Acad. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1951/1953 / Área Construída: Local: Av. Bastian, 40, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Residência Deputado Cândido Norberto Contratante: Deputado Cândido Norberto Autor: Arqs. Luís Fernando Corona, Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Execução Toigo & Cia Ltda - Eng. Ivo Reis Complementares: Complementares: Fornecedores: Ano: 1952/1955 Área Construída: 208, 40m² Local: Av. Praia de Belas, Esq. Av. Bastian, Porto Alegre/RS Atual: Condição Atual: Adquirida por empresa de Advocacia, desocupada. Projeto de ocupação em andamento. Projeto: Residência Samuel Madureira Coelho Contratante: Sr. Samuel Madureira Coelho Autor: Arq. Luís Fernando Corona, Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Fornecedores: Ano: 1952/1955 Área Construída: 199,00 m² Local: Av. Praia de Belas, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso 5 Projeto: Projeto Palácio da Justiça de Porto Alegre (Sede do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul) Contratante: Poder Judiciário do Rio Grande do Sul Autor: Arq. Luis Fernando Corona, Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Estrutura: Eng. Ivo Wolff, Fornecedores: Ano: 1953/1967 Área Construída: 1.500,00 m² Local: Praça Marechal Deodoro, Porto Alegre/RS Condição Atual: Restaurado em 2006. Em uso Projeto: Projeto Plano Diretor de Porto Alegre (Plano Paiva - 1959) Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Integrantes da equipe - Edvaldo P. Paiva, Demétrio Ribeiro, Roberto Félix Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr M. Marques e outros Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1955/1961 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condição Atual: Implantado parcialmente, atualizado Projeto: Santa Casa de Caridade de Bagé Contratante: Santa Casa de Caridade de Bagé Autor: Autor Arq. Luís Fernando Corona, Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1955 Área Construída: Local: Bagé/RS Projeto: Residência Sr. Manoel Quintanilha Contratante: Sr. Manoel Quintanilha Autor: Arq. Luís Fernando Corona, Arq. Carlos M. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1955 Área Construída: Local: Bagé/RS atual: Condição atual: Não construído 6 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I Projeto: Edifício Obino - Habitação Coletiva Contratante: Autor: Arq. Luís Fernando Corona, Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 195? Área Construída: Local: Rua Lima e Silva, Esquina Avaí - Porto Alegre/RS atual: Condição atual: Não construído Projeto: Projeto Anteprojeto ao concurso para o monumento a Don José Batlle y Ordoñez Contratante: Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1955 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Projeto: Residência Sr. Enildo Carvalinho Contratante: Sr. Enildo Carvalinho Autor: Arq. Carlos M. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1956 Área Construída: Local: Vitória/ES Projeto: Projeto Urbanização da Praia de Belas (Plano Paiva - 1959) Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Eng. Edvaldo Pereira Paiva, Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Equipe Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1956/1959 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Projeto: Projeto Traçado - Avenida Primeira Perimetral Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Eng. Edvaldo Pereira Paiva (Coord.), Roberto Félix Veronese, Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Moacyr Moojen Marques e Equipe Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1955 - 1959 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS 7 Projeto: Desenho Urbano - Avenida Primeira Perimetral. (Entre a Av. Borges de Medeiros e Av. João Pessoa) Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA Autor: Eng Edvaldo P. Paiva (Coord.), Demétrio Ribeiro, Roberto Félix Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr M. Marques (Coord.) e equipe Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1956 - 1959 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS atual: Condição atual Implantado/atualizado Projeto: Projeto Pré-plano para a cidade de Panambi Contratante: Autor: Arq. Demétrio Ribeiro, Arq. Carlos Maximiliano Fayet e equipe , Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1958 Área Construída: Local: Panambi/RS Projeto: Projeto Plano Diretor do Delta do Jacuí (1 ° Lugar - Concurso) Contratante: Governo do Estado do Rio Grande do Sul Autor: Eng. Edvaldo P. Paiva, Arqs. Roberto F. Veronese, Carlos Maximiliano Fayet e Moacyr M. Marques Colaboradores: Ano: 1958 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Projeto: Plano Piloto para a Cidade Universitária de Porto Alegre Contratante: Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Autor: Eng. Edvaldo P. Paiva, Arqs. Démétrio Ribeiro, Roberto F. Veronese, Carlos M. Fayet, Nelson Souza, Roberto J. Fabian Colaboradores: Estudantes Jorge A. Neves, Suzy Fayet, Udo S. Mohr, Carlos M. Maia, Maury A. Poisl, Alberto Parussini, Milton Bernardes, Fernando Salasar Ano: 1958 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condição Atual: Não Construído Projeto: Projeto Auditório Araújo Vianna - Primeiro lugar na Categoria de "Problemas Vários" (Medalha de Prata do I Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul, IAB/RS) Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1958/1962 Área Construída: 4.500 espectadores Local: Parque Farroupilha, Porto Alegre/RS 8 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I Projeto: Edifício de Apartamentos Contratante: Imobiliária Imbal Autor: Arq. Fernando Corona, Arq. Luís Fernando Corona, Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1959 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condições: Não construído Projeto: Projeto Projeto para o Viaduto da praça Conde de Porto Alegre Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Ano: 1959 Construída: Área Construída (Não construído) Loca Condição Atual: Não construído Projeto: Churrascaria Contratante: Sr. Guilherme Heller Fitchner Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Ano: 1959 Área Construída: Local: Guaíba/RS Condição Atual: Não construído Projeto: Projeto Secretaria Municipal da Produção e do Abastecimento - PMPA Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Ano: 1959/1960 Área Construída: Local: Av. Carlos Gomes, Esq. Av. Protásio Alves - Porto Alegre/RS Condição Atual: Demolido 9 Projeto: Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA (Concurso 1° Lugar) Contratante: Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Arq. Suzy Brucker Fayet Colaboradores: Arq. Armênio Wendhausen Complementares: Instalações Hidráulicas: Eng. João Carlos Rolim Morganti; Ar Condicionado: Bojunga Dias Fornecedores: Ano: 1959/1968 Área Construída: Local: Rua Senhor dos Passos, 202, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Edifício Sede do Instituto de Arquitetos do Brasil (1° Lugar Concurso) Contratante: Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento RS Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Estrutura: Eng. Dicran Gureghian, Eugênio C. Knor; Instalações Elétricas e Hidrosanitárias: Eng. Werner Laub Fornecedores: Ano: 1960/1963 Área Construída: Local: Rua Prof. Annes Dias, 166. Porto Alegre/RS Condição Atual: O IAB_RS trocou de endereço. Edifício em uso Projeto: Residência Sr. Henrique Krolikowski Contratante: Sr. Henrique Krolikowski Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Estrutura - Engs. Dicran Gureghian e Eugênio Knor Fornecedores: Ano: 1960/1961 Área Construída: Local: Travessa Porto Príncipe, Jardim Lindóia, Porto Alegre/RS , Projeto: Projeto Sede da Sociedade dos Amigos do Arroio do Sal Contratante: Sociedade dos Amigos do Arroio do Sal - SAAS Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1962 Área Construída: Local: Arroio do Sal/RS 10 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I Projeto: Residência Sr. Wilmar Ferreira Sr. Wilmar Ferreira Contratante: Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1962 Local: Rua Cel. Demétrio Ribeiro, Porto Alegre Projeto: REFAP - Conjunto das Edificações da Refinaria Alberto Pasqualini (Apresentado no 4º Salão de Arquitetura do RS – Janeiro 1968 – Medalha de Ouro Melhor Projeto Construído) (Bienal de Arquitetura – Tradição e Ruptura – 19/11/1984 a 31/05/1985) Contratante: Petrobras S.A. Autores: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos M. F. Fayet, Arq. Claudio L. G. Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques e Arq. Miguel A. Pereira Colaboração: Eng. Cloraldino Severo Complementares: Cálculo Estrutural: Eng. Dicran Gureghian (cálculo concreto), Eng. Eugênio Knoor, Eng. Fernando Campos de Souza e Eng. Raul Rego Faillace (Técnicas construtivas e especificações), Eng. Bojunga Dias e Eng. Milton Campos (Instalações elétricas, hidráulicas e ar-condicionado), Eng. Cloraldino Severo (Acesso viário BR-116) Construtoras: Melo Pedreira, Azevedo Moura Gertum, Tedesco e outras. Ano: 1962-1968 Área: 50.000m² Condição atual: Mantidas as obras projetadas Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994 nº171; Bienal Tradição e Ruptura – Arquitetura, Nov 1984 – Jan 1985, pg. 30 Local: Rodovia BR 101 Km 13, Canoas/RS Condição Atual: Em uso Fotografia: Fotografia João Alberto da Fonseca – Acervo FAM Projeto: Edifício Residencial FAM Contratante: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques Complementares: Estrutural Eng. Fernando Campos de Souza; Estaqueamento Estasul e Bojunga Dias (Elétrico e Hidráulico); Ar-Condicionado: Tecnoclima; Elevadores: SUR Execução: Obra realizada pelos autores do Projeto Ano: 1964/ 1968 Área: 832m² Local: Rua Vicente de Paula Dutra, 225 - Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso Referência: Referência: Architetture Contemporanea Brasile ,1ªEd. Outubro 2008, Editora Motta, Renato Anelli, pg.44 / Summa +, nº58, pg.26 Condição Atual: Em uso com ampliações e modificações 11 Projeto: TEDUT - Conjunto das Edificações - Urbanismo e Paisagismo para o Terminal Almirante Soares Dutra Contratante: Petrobras S.A. Autores: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques, Colaboração: Eng. Eugênio Knoor , Eng.Gureghian (estruturas), Eng. Fernando Campos de Souza e Eng. Raul Rego Faillace (Técnicas construtivas e especificações), Boyjunga Dias (Instalações elétricas, hidráulicas e ar-condicionado) Ano:1968 Ano: Local: Osório/RS Condição atual: Em uso com ampliações e modificações Projeto: Indústrias Krolikowski Contratante: Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Ar Condicionado: Otto Hofmeister & Cia. Fornecedores: Ano: 1962/1966 Área Construída: Local: Av. Guarujá esq. Couto Magalhães, Canoas/RS Projeto: Residência Sr. Petrônio Correa Contratante: Sr. Petrônio Correa Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Complementares: Estrutura: Antônio Carlos Xavier Pires; Instalações Hidrosanitárias e Elétricas: Araújo & Mainard Ltda. Fornecedores: Fornecedores: Ano: Ano 1963 Área Construída: Local: Rua André Poente, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Residência Dr. Carlos Coutinho Dr. Carlos Coutinho Contratante: Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Ar Condicionado: Otto Hofmeister & Cia. Fornecedores: Ano: 1964 Área Construída: Local: Rua João Obino, Porto Alegre/RS 12 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I S.A. Projeto: Conjunto Residencial para a Siderúrgica Aços Finos Piratini S Contratante: Autores: Autores Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araújo, Arq. Moacyr Moojen Marques Ano:1966 Ano: Local: Charqueadas/RS Condição atual: Em uso Projeto: Sitio da Barragem Contratante: Equipe: Autores: Equipe : Carlos M. Fayet, Suzy B. Fayet Ano: Década de 1960/1970 Local: São Sabastião do Caí, Capela de Santana-RS Condição atual: Em uso Projeto: Entroncamento Rodoviário BR 116-Km 13-REFAP Projeto Contratante: Autor: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Cláudio L. G. Araújo, Arq. Moacyr M. Marques, Arq. Miguel A. Pereira Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1967/1968 Área Construída: Local: BR 116-Km 13, Canoas/RS Projeto: Conjunto Residencial para a Cooperativa Habitacional dos Bancários Contratante: INOCOP Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araújo, Arq. Moacyr Moojen Marques Ano:1968 Ano: Local: Rua Silveira, Porto Alegre/RS Condição atual: Mantido Foto: Arq. Sergio Marques, 2010 Projeto: Residência Dr. Waldir Bischoff Dr. Waldir Bischoff Contratante: Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1969/70 Área Construída: Local: Rua Artur Rocha, Porto Alegre/RS 13 Projeto: Residência Sr. Renato Menzel Contratante: Sr. Renato Menzel Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1969/1970 Área Construída: 393,13m² Local: Rua Maracá, Vila Assunção, Porto Alegre/RS Projeto: Residência Sr. Marcelo Blaya Peres Sr. Marcelo Blaya Peres Contratante: Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Instalações elétricas e hidrossanitárias: Archel Engenharia; Ar Condicionado: W-Weck-Ullmann Eng. Indust. Comércio Ltda - Eng. Mec. Ruben Aloys Weck e Eng. Mec. Jorge Luiz Ullmann; Estrutura: Arq. Hugolino Prá Fornecedores: Ano: 1969/1971 Área Construída: Local: Rua Fernandes Vieira, 125, Porto Alegre/RS Foto: Arq. Sergio Marques, 2010 Projeto: Residência Sr. Martin Graudenz Contratante: Sr. Martin Graudenz Autor: Arq. Carlos M. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: Década de 1970 Área Construída: Local: Projeto: Plano Diretor Área Industrial de Caxias do Sul Contratante: Autor: Urbasul - Arqs. Demétrio Ribeiro, Roberto Félix Veronese, Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Jacob Lerner Colaboradores: Ano: 1970 Área Construída: Local: Caxias do Sul/RS Projeto: Projeto Plano Diretor de Taquara Contratante: Prefeitura Municipal de Taquara Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Urbasul Colaboradores: Ano: 1970 Área Construída: Local: Taquara/RS 14 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I Projeto: Projeto Coordenação do Projeto da 2ª Avenida Perimetral de Porto Alegre Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1970 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Projeto: Residência Dr. Marcos Nestrovsky Contratante: Dr. Marcos Nestrovsky Contratante Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1970 Área Construída: Local: Rua Languedoc, Porto Alegre/RS Projeto: Projeto CEASA - Central de Abastecimento de Porto Alegre Contratante : Município de Porto Alegre e Consórcio formado pelas empresas PLANISUL e ASPLAN Autores: Arq. Cláudio Luiz Araújo, Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Carlos Eduardo Comas, Eng. Eládio Dieste, Eng. Eugênio Montañez Colaboração: Arq. Luiz Américo Gaudenzi Fayet, Complementares: Direção: Econ. Romeu Corseni Fagundes, Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Eng. José Enoir Loss; Terraplenagem e Pavimentação: Eng. Pery César Castro; Topografia e Sistema Viário: Eng. Ênio Vinício Mascarello, Eng. Joal Olabarriga; Instalações Hidrossanitárias: Eng. Werner Félix Laub; Estrutural : Eng. Paulo Costa; Gomes de Freitas, Eng. João Alberto Farret, Eng. Michel João Dib, Eng. Eladio Dieste (Cerâmica Armada); Ar Condicionado: Eng. Ennio Cruz da Costa; Orçamento e Especificações: Arq. Alfredo Alvarez Lay, Acadêmicos de Engenharia Carlos Alberto Dias e Vladmir Ortiz da Silva; Frigorífico: Eng. Luiz Oscar de Mello Becker; Instalações Frigorífico: Elétricas: Eng. João Carlos Rolin Morganti; Drenagem: Eng. Werner Franz Schnarndorf, Paisagismo: Agr. Ronald C. Jamieson; Cozinha e Central Técnica: Eng. João Luiz Cozinha da Silveira Osório; Comunicação de Massas: Eng. Edward Kurilenko; Apresentação Gráfica: Arq. Norberto José de Bozzetti, Revisão de Português: Prof. Aníbal Barros Cassal Fornecedores: Ano:1970/1974 Ano: Área: Primeira Etapa 1980, 56.000,00m² Segunda Etapa 1995, 161.400,00m² Local: Avenida Fernando Ferrari, 1001, Porto Alegre/RS Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994 nº171 Fotografia: João Alberto da Fonseca Projeto: Projeto Projeto Geométrico da Elevada da Avenida Mauá Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Cláudio Araújo Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1970 Área Construída: Local: Mauá/RS 15 Projeto: Projeto Plano Diretor Urbano de Esteio Contratante: Prefeitura Municipal de Esteio Autor: Urbasul - Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Moacyr Moojen Marques e equipe Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1970/1971 Área Construída: Local: Esteio/RS Projeto: Residência Dr. Zeniro San Martin Contratante: Dr. Zeniro San Martin Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Desenho: José Artur D´Aló Frota Colaboradores: Complementares: Instalações Hidráulicas: Antonio Joaquim Machado instalações Ltda.; Ar Condicionado: W-Weck-Ullmann Eng. Indust. Comércio Ltda - Eng. Mec. Ruben Aloys Weck e Eng. Mec. Jorge Luiz Ullmann; Estrutura: Eng. Jayme Gaspar dos Santos; Instalações Elétricas: Arq. Suzy B. Fayet Fornecedores: Ano: 1971/1975 Área Construída: Local: Rua 14 de Julho, Porto Alegre/RS Projeto: Projeto Sede Social e Esportiva do Esporte Clube Cruzeiro Contratante: Esporte Clube Cruzeiro Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Suzy Brucker Fayet Desenho: José Artur D´aló Frota Colaboradores: Complementares: Estrutura: Eng. Volnei Pereira da Silva, Estrutural Engenharia Ltda.; Fornecedores: Ano: 1972/1973 Área Construída: Local: Av. Protásio Alves, Porto Alegre/RS Projeto: Projeto Projeto do Parque Residencial Querência. Contratante: Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1972 Área Construída: Local: São Francisco de Paula-RS Projeto: Plano Diretor de Criciúma Projeto Contratante: Prefeitura Municipal de Criciúma Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Urbasul Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1972 Área Construída: 16 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I Local: Criciúma/RS Projeto: Casa da Armação Contratante: Empreendimento próprio Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1972/2000 Área Construída: Local: Armação da Piedade, Governador Celso Ramos/SC Projeto: Restaurante Turístico do Parque da Guarita Contratante: Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Milton Mattos Colaboradores: Complementares: Instalações Elétricas: Eletrotermotécnica Ltda. Fornecedores: Ano: 1973 Área Construída: Local: Torres/RS Projeto: Residência de Praia Dr. Marcelo Blaya Dr. Marcelo Blaya Contratante: Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1973/1974 Área Construída: Local: Governador Celso Ramos /SC Projeto: Residência Sr. João Carlos Schell Contratante: Sr. João Carlos Schell Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Instalações Hidrosanitárias: Eng. Walter Salgado; Estrutura: Eng. Liane A. de Oliveira; Instalações elétricas: Eng. Adalberto C. Silveira Netto Fornecedores: Ano: 1974/1976 Área Construída: Local: Rua José Sanguinetti, Vila Isabel, Porto Alegre/RS 17 Projeto: Residência Sr. Jaime Paz da Silva Sr. Jaime Paz da Silva Contratante: Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1974 Área Construída: 407,50m² Local: Rua General Francisco de Paula Cidade, Chácara das Pedras, Porto Alegre/RS Projeto: Residência Dr. Ary Juchem Dr. Ary Juchem Contratante: Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1974 Área Construída: Local: Xangri-lá/RS Projeto: Residência Sr. Jorge Inda Sr. Jorge Inda Contratante: Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Instalações Elétricas e Hidrosanitárias: Eng. José Ricardo Hecker de Abreu Fornecedores: Ano: 1974 Área Construída: Local: Rua José Sanguinetti, 413, Jardim Isabel, Pedra Redonda, Porto Alegre/RS Projeto: Corretora Projeto Sede Campestre Antonio Delapieve S.A.-Corretora de Câmbio e Valores Mobiliários Contratante: Antonio Delapieve S.A.-Corretora de Câmbio e Valores Mobiliários Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Instalações Elétricas: Eng. João Francisco S. Lima Fornecedores: Ano: 1975 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Projeto: Projeto Projeto da Cobertura para o Auditório Araújo Vianna Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1976 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS 18 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I Projeto: Residência Sr. Marco Antônio Fonseca Sr. Marco Antônio Fonseca Contratante: Autor: Autor Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1976 Área Construída: Local: Belém Novo, Porto Alegre/RS Projeto: Edifício Sede Provisória GBOEx Contratante: Contratante : Grêmio Beneficente de Oficiais do Exercito - GBOEx Autor: Arq. Carlos M. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: Década de 1970 Área Construída: Local: Rua Sete de Setembro, Porto Alegre/RS Condição Atual: Não construído Projeto: Projeto: Edifício da Rua Vitória - Pensão Feminina Contratante: Empreendimento próprio Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1977 Área Construída: 500,00m² Local: Rua Vitória/POA Condição: Condição: Em uso 19 Projeto: Projeto Edifício de escritórios PROPART Contratante: PROPART - Sociedade de Participação e3 Comércio de Imóveis Ltda. Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Arq. Nelson Inda. Complementares: Estrutura: Eng. Geraldo Wolff; Instalações Elétricas: Eng. João Francisco S. Lima; Instalações Hidrosanitárias: Eng. Maria de Fátima de Souza Lima; Ar Condicionado: ARTEMP, Ar Condicionado Ltda., Engs Carlos Martinez Medeiros, Luís Fernando Michelena; Redes Telefônicas: Eng. João Francisco de Souza Lima. Fornecedores: Ano: 1977 Área Construída: Local: Rua Sete de Setembro,n.1094, Porto Alegre/RS Projeto: Residência Dr. David Zimmermann Contratante: Dr. David Zimmermann Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1977 Área Construída: Local: Rua Cel. Lucas de Oliveira, 1055, Bela Vista, Porto Alegre/RS Projeto: Residência Dr. Abade Pereira Bulhões Contratante: Dr. Abade Pereira Bulhões Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Estrutura: Arq. Hugolino Prá, Eng. Renato E. de Azevedo; Instalações Hidrosanitárias e Elétricas: Eng. João Francisco S. Lima Fornecedores: Ano: 1977 Área Construída: Local: Simão Bolivar, Vila Conceição, Porto Alegre/RS Projeto: Projeto Sede da firma GEOMAPA Fotogrametria S.A. Contratante: GEOMAPA Fotogrametria S.A. Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Estrutura: Engs. Walter Von Endt, Luzimar P. Coimbra; Incêndio: Quimico Cláudio Hansen; Ar Condicionado: ARTEMP- Eng. Carlos M. Medeiros, Luis Fernando Michelem Fornecedores: 20 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I Ano: 1977 Área Construída: 3.500,00m² Local: Porto Alegre/RS Projeto: Residência Dr. Víctor Stumpf Contratante: Dr. Víctor Stumpf Contratante Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Estrutura: Arq. Hugolino Prá; Instalações Elétricas: Eng. João Francisco S. Lima Fornecedores: Ano: 1977 Área Construída: Local: Rua David Canabarro, Gravataí/RS Projeto: aquaviário Vitória-ES Projeto Projeto Terminal Rodo-aquaviário de Passageiros de Vitória Contratante: Contratante Governo do Estado do Espírito Santo - Secretaria de Estado do Interior e Transportes - Companhia de Melhoramentos e Desenvolvimento Urbano S.A. Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Nelson Inda Colaboradores: Exaustão Complementares: Estrutura: Engs. Gilberto Tavares, Geraldo Wolff; Exaustão e Ar Condicionado: Centro de Projetos e Serviços de Engenharia Ltda.; Comunicação Visual: Carlos Gravina. Fornecedores: Estrutura Espacial Mero Ano: 1977/1983 Área Construída: 22000m² Local: Vitória/ES Projeto: COPESUL-Companhia Petroquímica do Sul-Central de Matérias Primas do III Pólo Petroquímico. Central Projeto Área Administrativa, Urbanização, Plano Diretor, Sistema Viário, Paisagismo, Comunicação Visual e Edificações (concurso privado - 1° lugar) Contratante: COPESUL-Companhia Petroquímica do Sul Autores: Autores Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Cláudio Luiz Araújo, Arq, Luiz Isidoro Boeira Colaboração: Complementares: Fabricação e Montagem de Pré moldados: SADE (Sul Americana de Engenharia); Instalações Elétricas e Hidráulicas: Cetenge Engenharia Ltda; Eng. Henrique Kuhl; Eng. Werner Laub; Ar Condicionado: Eng. Décio L. Motta e Eng. Julio Curtis; Estrutura: Arq. Benno Speracke, Arq. Hugolino Prá, Eng. Rony Ruschel, Eng. Norton Ruschel Eng João Baptista Rosa Fornecedores: Ano: 1977/1980 Área de Projeto e Plano Diretor: 310.000m² Área Construída: 45.000m² Local: BR 386 - Rodovia Tabaí-Canoas, Km 419 - Pólo Petroquímico /Triunfo/RS Condição atual: Em uso Publicação : Revista Projeto Agosto de 1980, nº22 21 Projeto: Projeto de urbanização e edifícios de habitação coletiva para o quarteirão Q3 da área da Praia de Belas Projeto Contratante: Maguefa-Empreendimentos Imobiliários Ltda Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Jorge Decken Debiage Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1978/1985 Área Construída: Urbanização: 9,9ha / Edifícios quarteirão Q3 - 64.00,00m² Local: Praia de Belas, Porto Alegre/RS , Centro Turístico Internacional Projeto: Contratante: Dr. Paulo Jobim de Moraes Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. José Artur D’Alo Frota Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1978/1979 Área Construída: 20.000,00m² Local: Santana do Livramento/RS Edifício Colina dos Ventos - Habitação Coletiva Projeto: Contratante: Empreendimento próprio Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Estrutura: Eng. Paulo Estevão Stumm; Instalações Hidrosanitárias, Elétricas e telefonia: Eng. Flávio Marcelo Walmarth Ávila Fornecedores: Ano: 1979/1981 Área Construída: 1.500,00m² Local: Rua Toropi, Porto Alegre/RS Condição: Condição: Em uso Edifício da Corte Real - Habitação Coletiva Projeto: Contratante: Sr. Flávio Koff Coulon Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1979 Área Construída: 1.100,00m² Local: Rua Corte Real, Petrópolis, Porto Alegre/RS Petroflex -Indústria e Comércio S.A.-Unidades de Apoio Operacional e Administrativo da Fábrica de Borracha Sintética, no III Polo Unidades Petroquímico Nacional - Estudo Preliminar Contratante: Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet com a Equipe de Arquitetos Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1979 2 Área Construída: área 15 ha, Edificações 16.000m Local: Triunfo/RS Projeto: Projeto 22 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I Projeto: Projeto RIOCELL-Rio Grande Cia. de Celulose do Sul Contratante: Autor: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Arq. Cláudio L.G.Araújo Colaboradores: Complementares: Fornecedores/Construção /Construção: Fornecedores/Construção: Construtora PREMOLD Ano: 1979 Área Construída: 7700m² Local: Guaíba/RS Projeto: Residência de Veraneio Sr. Ernesto Neuguebauer Sr. Ernesto Neuguebauer Contratante: Autor: Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1981 Área Construída: Local: Governador Celso Ramos/SC Projeto: Projeto para o Jardim da Serra, propriedade da Sociedade Serrana Projeto Contratante: Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1981 Área Construída: Local: São Francisco de Paula/RS Projeto: 116-Av. dos Estados, trecho entre a Praça do Laçador e a Projeto Elaboração de projeto paisagístico para o Acesso à Porto Alegre, através da BR 116 ponte sobre o Rio Gravataí (em equipe Equipe de Arquitetos Ltda.) Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Cláudio L. G. Araújo Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1984 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Projeto: Estudo Preliminar urbanização e edifícios de habitação coletiva para o quarteirão Q3 da área da Praia de Belas Projeto Contratante: Maguefa-Empreendimentos Imobiliários Ltda Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Cláudio Araújo Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1985 Área Área Construída: Local: Praia de Belas, Porto Alegre/RS 23 Projeto: TASA-Telecomunicações Aeronáuticas S.A . Projeto para a nova sede (Concurso - 1° Lugar) Telecomunicações Projeto Contratante: Autor: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Cláudio L. G. Araújo Colaboradores: Arq. Guillermo L. Silva Complementares: Estrutural: Eng. João Batista Rosa; Elétrico e Hidrossanitário: Werner Laub; Fornecedores: Ano: 1986/1987 Área Construída: 32800m² ² Local: Galeão/Ilha do Governador-Rio de Janeiro/RJ Condição atual: Somente Projeto Projeto: Projeto Tramontina Materiais de Pesca S.A Contratante: Autor: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Arq. Cláudio L. G. Araújo Colaboradores: Arq. Sandra M. Boeira Complementares: Fornecedores: Ano: 1986/1987 Área Construída: 16,4 ha, edificações 21.770m² Local: Gravataí/RS Condição atual: Somente projeto e terraplenagem Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994 nº171 Projeto: Associação Atlética Sulpetro, junto à área da Refinaria Alberto Pasqualini. (Concurso 1° Lugar) Projeto: Contratante: Autor: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Cláudio L. Gomes Araújo Colaboradores: Arq. Guillermo L Silva; Tec. Julio Grieco; Complementares: Complementares Estrutural: Eng. João Batista Rosa; Eng. Enio Cruz da Costa; Cozinha: Eng. Errol Delmar Reis; Elétrico e Hidrossanitário: Werner Laub; Fornecedores: Ano: 1986/1987 Área Construída: Local: Rodovia Br 116, Km 13/Canoas/RS Condição atual: Em uso Publicação: T Sport nº10 Outubro 1990 (“In Brasile um Centro Sportivo e Ricreativo Aziendale: Semplicità e Funzionalità in uma Architettura “Gaucha””) Projeto: Projeto Conjunto de Shopping Center e Hotel para o quarteirão Q1 da urbanização da Praia de Belas Contratante: La Fonte Empresa de Shopping Centers S.A. Autor: Projeto Básico - Arq. Julio Neves, Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1988 2 Área Construída: 126.000m Local: Av. Borges de Medeiros, Porto Alegre/RS 24 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I Projeto: Edifício FHE - Fundação Habitacional do Exercito - Habitação Coletiva Contratante: Fundação Habitacional do Exercito Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo e Arq. Guilherme L Silva Área: 8.092,77m² Ano: 1988 Local: Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso Projeto: Pavilhão para o Campus da CIENTEC – Fundação Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul Contratante: Fundação Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul- CIENTEC Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Arq. Fernando Bahima, Eng. Antonio Raul Romero Riveiro (Cálculo Estrutural) Complementares: Coberturas: Dieste & Montañez Ano: 1989 Local: Gravataí/RS Condição atual: Em uso Honrosa) Projeto: Concurso Público de Projetos de Habitação Popular - Brás XI (Menção Honrosa Contratante: Prefeitura de São Paulo Autores: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Guillermo Lopes da Silva Área: 11.501,40m² Ano: 1989 Local: São Paulo Projeto: EFFEM-Produtos Alimentícios Inc. e Cia. Anteprojeto Projeto Contratante: Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet com a Equipe de Arquitetos Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1989 2 Área Construída: 2.005m Local: Cachoeirinha/RS 25 Projeto: Projeto Tramontina Cutelaria S.A. Fábrica JIT Contratante: Grupo Tramontina S.A. Autor: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet Arq. Cláudio L. G. Araújo, Arq. Fernando Bahima Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1989/1990 2 Área Construída: 12.000m Local: Carlos Barbosa/RS Projeto: Projeto EFEM-Produtos Alimentícios Inc. e Cia Contratante: Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet em Equipe Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1989 2 Área Construída: 2.005m Local: Porto Alegre/RS Projeto: Projeto Petrobrás Petróleo Brasileiro S.A. Projeto de reciclagem para o prédio da Administração e projeto para edificação do novo Refeitório do Terminal Almirante Soares Dutra. Contratante: Autor: Arq. Cláudio L. G. Araújo, Moacyr Moojen Marques, Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1990 2 Área Construída: 625,43m Local: Tramandaí/RS Projeto: Projeto Tramontina Ferramentas Agrícolas e Forjasul SA Materiais Elétricos Contratante: Contratante Grupo Tramontina S/A Autores: Autores Equipe de Arquitetos - Arq. Cláudio Luiz Araújo, Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboração: Arq. Luiz Isidoro Boeira, Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira, Arq. Júlio Celso Vargas Aquiles Complementares: Conforto Ambiental : Eng. Ênnio Cruz da Costa; Estruturas de Concreto: Eng. Ervino Fritsch; Estruturas Metálicas: Eng. Aquiles Roberto Pizetti; Instalações: Eng. Álvaro Stumm e Luiz g. dos Santos; Construção: Empresa Sul Brasileira de Engenharia (ESBEL); Pré-moldados: Premold; Sondagem: Tecnosolo; Terraplenagem, Arruamento e Pavimentações: Simionaggio & Cia; Estruturas Metálicas: MP; Fornecedores: Metalúrgica Valentini (Portões Metálicos), Cerâmica Erechim (Telhas), Perkon (Telhas Metálicas), Metalúrgica Fontana e Metalúrgica São Paulo (Serralheria), Casa da Arte Móveis, Indústria de Esquadrias Moschetta, Webber & Cia (Esquadrias de Madeira), Eucatex (Divisórias) Área: 43.800m² Ano: 1990/1993 Local: Rodovia RST 470, Km 230 /Carlos Barbosa/RS Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994, nº171 26 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I Projeto: Concurso Municipal de Sinalização e Mobiliário Urbano (Concurso - 1º Lugar) Contratante: Associação Comercial e Industrial de Carlos Barbosa Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Sergio Marques, Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Colaboração: Eng. Aquiles Roberto Pizetti (calculo estrutural) Ano: 1990-1994 Local: Carlos Barbosa/MG Condição atual: Executado Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994, nº171 Projeto: Reciclagem da Área da Estação Ferroviária (Concurso, 1° Lugar) Contratante: Prefeitura de Carlos Barbosa _ RS Colaboração: Colaboração Arq. Julio Vargas Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Sergio Marques, Arq. Carlos Maximiliano Fayet Ano: 1998 Local: Carlos Barbosa/RS Condição atual: Parcialmente Executado - em uso Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994, nº171 (Participação) Projeto: Concurso Nacional para o Museu de Arte de Belo Horizonte (Participação Contratante: Prefeitura de Belo Horizonte Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo (Equipe de Arquitetos) Colaboração: Arq. Helena Maria Oestreich, Arq. Giorgio Grieco, Arq. Sandra Boeira e Júlio Grieco Ano: 1990 Local: Belo Horizonte/MG Projeto: Projeto de Urbanização e Desmembramento do solo (loteamento) para o condomínio Landell de Moura Projeto Contratante: Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1990 Área Construída: 220 ha Local: Porto Alegre/RS Projeto: Projeto paisagístico das Áreas Verdes, Q2 Praça Itália, Q4 Praça Rotary e Q5 Praça Santa Catarina, da Urbanização da Praia de Belas. Projeto Contratante: Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1990 2 Área Construída: 29.809,57m Local: Porto Alegre/RS 27 Projeto: Projeto Fábrica de Elastômeros Irmãos Geremia Ltda. Contratante: Irmãos Geremia, Ltda Autor: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Cláudio Araújo Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1991/1992 Área Construída: 57.213m² Local: Estrada do Timm, Distrito Industria, l São Leopoldo/RS Condição atual: Em uso Projeto: Prefeitura Alegre. Projeto Projeto do Loteamento Industrial da Restinga-Prefeitura Municipal de Porto Alegre Contratante: Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1992 Área Construída: Local:. Local: Porto Alegre/RS Projeto: Palco de Eventos de Carlos Barbosa Contratante: Prefeitura Municipal de Carlos Barbosa -RS Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Sergio Marques, Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboração: Arq. Julio Celso Vargas, Arq. Marcel Trescastro Ano: 1993 Local: Parque da Estação, Carlos Barbosa/RS Condição atual: Em uso, com modificações Projeto: Projeto Projeto de Detalhamento da Área Funcional de Preservação Cultural e Proteção da Paisagem Urbana para a Vila do IAPI Contratante: Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1994 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Projeto: Projeto Tramontina Cutelaria – Cabos Contratante: Contratante Grupo Tramontina S/A Autores: Autores Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Arq. Cláudio Luiz Araújo, Colaboração: Colaboração Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira, Arq. Júlio Celso Vargas Complementares: Cálculo Estrutural ( Vestiário): Eng. Aquiles Roberto Pizetti e Eng. Mauro de Freitas Fornecedores: Área: Ano:1996 Ano: 28 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I Local: Carlos Barbosa/RS Projeto: Parque Ecológico de Guarapiranga (Concurso – 1º Lugar) Contratante: Governo Estadual de São Paulo – Secretaria do Meio Ambiente – Coordenadoria de Planejamento Ambiental Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira; Arq. Daniel Pitta Fischmann Complementares: Arquitetura de Interiores e Comunicação Visual: Arq. Cláudio Luiz de Araújo e Arq. Carlos Maximiliano Fayet; Instalações Elétricas, Telefônicas, Ricardo Hidrossanitária e Proteção: Eng. Werner Heinz Feliz Laub, Estruturas de Concreto e Metálicas: Eng. João Baptista Machado Rosa e Eng. Enio Ricardo Dorvil Coelho, Eng Aquiles Roberto Pizzetti; Eng. Zaclis Falconi e Eng. Roberto Nogueira; Estruturas de Madeira: Eng. Alberto Fridman e Eng. Walter Strusman; Terraplenagem e Serviços de Topografia: Eng Jorge Luiz Bledow; Agronomia e Paisagismo: Agr.. Helena Washimann e Agr.. Elaine Soares de Lima Nunes; Ar Condicionado: Eng. Carlos Martinez Medeiros; Avaliação Econômica: Eng. Christiane Pitta Pinheiro; Serviço de Nutrição: Eng. Errol Delmar Reis; Fundações: Eng. Efraim Zaclis e Eng. Lucas Himori; Efraim Gerenciamento da Obra : Arq. Antônio César Fogaça Viggiani e Arq. Orivaldo Predolin Júnior; Maquete :Ivo Kley; Saneamento: Werner Eugenio Zulauf, Max Arthur Veit, Predolin Kurt Jurgen Stuermer, Júlia Vidgal Coriolano Nardi, Francisco José Pereira de Oliveira; Concretos Especiais Renato: Eng. José B. Garcia; Estruturas de Concreto Complementares: Eng João Baptista Machado Rosa, Eng. Larissa Y. Krentkowski; Conforto Ambiental e Acústica: Eng. Ênio Cruz da Costa; Informatização: Alexandre Carminati; Programa de Segurança, Controle e Comunicações: João José Pacheco; Estudos Sociológicos: Eugenia Sarah Paesani, Bárbara Corrales, Sarah Souza Dias, Bárbara Elder Couto e Maria Cristina Cortez Wissenbach; Cromos: Fernando e. Pasquali; Representação Gráfica: Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira, Giorgio A. Grieco Fratochi, Luiz Eduardo de Brito Oliveira, Lúcia Silveira de Araújo, João Luiz Postiga, Kofi Essel Appiah, Iara M. Cavalheiro Área: 330ha - 295ha uso restrito e 35ha estação ecológica Ano: 1997 (Concurso de 1991) Local: Estrada da Riveira/ São Paulo/SP Condição atual: Executado Projeto: Centro Comercial em Carlos Barbosa Contratante: Prefeitura Municipal de Carlos Barbosa Autores: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Sérgio Marques Colaboradores: Arq. Daniel Pitta Fischmann, Arq. Julio Celso Vargas, Marcel Trescastro Área: Ano: 1995 Local: Carlos Barbosa/RS Condição atual: Não construído Projeto: Centro Esportivo e Cultural - Espaço Múltiplo - Esportes e Espetáculos Contratante: Prefeitura Municipal de Carlos Barbosa Autores: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Sérgio Marques Colaboradores: Colaboradores Arq. Daniel Pitta Fischmann, Arq. Julio Celso Vargas Área: 9251,80m² Ano: 1997 Local: Carlos Barbosa/RS Condição atual: Modificado 29 Projeto: Tramontina TEEC S. A. Contratante: Tramontina S. A. Autor: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Arq. Claudio Luiz Araújo, Arq. Sandra Boeira, Arq. Daniel Fischmann Pitta Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1997/1998 Área Construída: Local: Carlos Barbosa/RS Projeto: Projeto Tramontina Farroupilha SA/ Nova Expedição Contratante:Tramontina S/A Contratante Autores: Autores Equipe de Arquitetos - Arq. Cláudio Luiz Araújo; Arq. Fayet, Carlos Maximiliano; Colaboradores: Colaboradores Arq. Daniel Pitta Fischmann Complementares: Complementares Fornecedores: Fornecedores Construída:10728,78m² Área Construída Ano: Ano 2000 Local: Local Rua das Indústrias/Farroupilha/RS Projeto: Restauração do Palácio da Justiça de Porto Alegre (Sede do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul) Contratante: Poder Judiciário do Rio Grande do Sul Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet - Arq. Carlos Maximiliano Fayet Arquitetos Associados Ltda. Colaboradores: Arqs. Barbara Mello, Cícero Alvarez, Clívia Espinosa, Juliana Trujillo, Lílian Krasnowski, Sandra Mara Tietböhl Boeira Complementares: Estrutura: Geraldo Wolff, Fornecedores: Ano: 2002/2006 Área Construída: 1500m² Local: Praça Marechal Deodoro, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Atual: 30 Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Anexo I 31 A CRONOLOGIA ILUSTRADA (1955-2006) OBSERVAÇÕES: 1. A Cronologia ilustrada de Cláudio Luiz Gomes Araújo foi realizada com base em seu curriculum Vitae, consulta ao seu acervo particular, atualmente depositado no Edifício FAM, contatos com antigos clientes, colaboradores e visitas as obras realizadas conjuntamente. O trabalho foi realizado com o auxilio de bolsistas de iniciação científica (BIC) da FAU-Uniritter, sob supervisão geral de Cláudio Araújo; 2. A cronologia ilustrada reúne as obras/projetos principais de Araújo ou equipe, agrupadas em sequência cronológica a partir da data de inicio do trabalho, quando identificada (em alguns casos ainda não há confirmação em relação a datas de inicio de projeto e conclusão da obra). Foram adotadas as datas mais antigas encontradas (entre currículo, plantas e documentação), para sinalizar o inicio do trabalho e as mais recentes, para a conclusão da obra ou projeto; 3. Alguns projetos foram recebendo acréscimos e extensões posteriores, realizadas por Araújo ou equipe, que não estão citados na cronologia, mas constam no curriculum vitae do arquiteto, em anexo; 4 Os dados e imagens correspondentes ainda não estão completos. O levantamento destas informações encontra-se em andamento no projeto de constituição do Acervo "Fayet, Araújo & Moojen" em andamento, que deve prosseguir até sua estruturação completa. 5. A fonte das imagens está indicada em cada obra, quando é o caso. As não indicadas são integrantes do acervo FAM. 32 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Cronologia Ilustrada - Carlos M. Fayet Projeto: Edifício Pioneiro – Apartamentos (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960) Contratante: Antonio Pegoraro Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso Fornecedores: Construtora Pegoraro Ano: 1955/1960 Local: Rua Ismael Chaves Barcelos, nº 42 e 60, Praia de Belas, , Porto Alegre/RS atual: Situação atual Em uso Projeto: Projeto: Residência Antônio Pegoraro Contratante: Antônio Pegoraro Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso Fornecedores/executante: Construtora Pegoraro Ano:1955 Ano: Local: Atlântida/RS Situação atual: Reformado Projeto: Residência Telmo Ferreira Contratante: Telmo Ferreira Autores: Arq. Carlos Antonio Mancuso , Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Eng. Nei e Eng. Nelson Fuginiti Telito Ano:1955/1960 Ano: Local: Porto Alegre/RS, Rua Dr. Lauro Oliveira (próximo ao Colégio Americano) Situação atual: Demolida Projeto: Banco Agrícola Mercantil - Arquitetura de Interiores (Parte acessada pela Rua dos Andradas) Contratante: Banco Mercantil – Dir. Pres. Egydio Michaelsen Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso, Arq. Carlos de Holanda Mendonça Complementares: Estrutura de Aço CSN Fornecedores: Ano:1955/1960 Ano: Local: Rua dos Andradas, nº1234, Edifício Santa Cruz, Porto Alegre/RS Situação atual: Projeto: Anteprojeto da Usina e Hidráulica – Pinhal Contratante: Prefeitura Pinhal Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso Ano:1957 Ano: Local: Pinhal /RS Situação atual: Não executado 33 Projeto: Residência Lauro Borges (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960) Contratante: Lauro Borges Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso Ano:1957 Ano: Local: Rua Paissandu nº669, Passo Fundo/RS Situação atual: Modificada, atualmente é um restaurante (Painel Danúbio V. Gonçalves, foi retirado). Projeto: Instituto de Resseguros do Brasil Contratante: Resseguros do Brasil Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo e Arq. Carlos Antonio Mancuso Ano:1958 Ano: Local: Rua Siqueira Campos, Porto Alegre/RS Situação atual: Sem registro Projeto: Apartamento Paulo Torelly – Arquitetura de interiores (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960) Contratante: Paulo Canteiro Torelly Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso Fornecedores/executante: Arq. Claudio Luiz Araujo Ano: 1958 Local: R. Garibaldi, esquina Av. Independência (Edifício Paglioli), Porto Alegre/RS Situação atual: Modificado Projeto: Apartamento Araújo (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960) Contratante: Arq. Claudio Luiz Araujo Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Ano: 1959 Fotos: João Alberto da Fonseca Mobiliário: Antônio Fulginiti (A Renascença, av. São Pedro 944) Local: Rua Dr. Flores 383, Edifício Ricardo Heicher Apto 834 Situação atual: Sem registro Fotografia: Fotografia João Alberto da Fonseca, Acervo UniRitter 34 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Edifício Feliciano Xavier – Supermercado e Apartamentos / Arq. Interiores do Supermercado Contratante: Xavier e Irmãos S.A. Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso e Eng. Claudio Pereira Lima Complementares: Complement ares: Cálculo estrutural - Eng. Claudio Pereira Lima. Em função do supermercado, revisão do Eng. Dicran Gureghian Fornecedores/executante: Construtora Cisa S.A. Engenharia e Comércio Ano: 1960/1965 Local: Rua Marechal Floriano Peixoto, esq. General Osório, Pelotas/RS Situação atual: Reformado no térreo, sem outros registros Fotografia: Fotografia João Alberto da Fonseca, Acervo UniRitter Projeto: Loja Senador – Arquitetura de Interiores (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960 – Medalhe de Prata - Decoração) Contratante: Artur Dallegrave Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso Colaboração: Artur Dallegrave Fornecedores: Fornecedores: Casa Genta (Vidros), João Alberto (Fotos painel interiores) Fotos: João Alberto Ano: 1960 Local: Rua dos Andradas nº 1251, Loja 1 Edifício Urubatã, Porto Alegre/RS Situação atual: Nova loja Projeto: Colônia de Férias no Mar para os funcionários do Banco Agrícola Mercantil (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960 – Menção Honrosa) Contratante: Banco Agrícola Mercantil ASS Funcionários Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso Complementares: Eng. Hermann (REFA) Fornecedores: Construtora REFA, Painéis Imaclit Ano: 1960 Local: Tramandaí /RS Situação atual: Verificar no local Projeto: Stand Metalúrgica Abramo Eberle S.A. (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960) Autores: Arq. Carlos Antonio Mancuso, Arq. Claudio Luiz Araujo Ano:1960 Ano: Local: Exposições do Menino Deus Projeto: GNU Interiores - Parte inferior do ginásio de esportes (Projeto do Arq. Ícaro de Castro Mello) (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960) Contratante: Archemino Magnus de Souza (Presidente GNU) Autores: Arq. Carlos Antonio Mancuso, Arq. Claudio Luiz Araujo Ano: 1960 Local: Rua Quintino Bocaiuva, 500, Porto Alegre/RS Situação atual: Modificado 35 Projeto: Projeto e interiores de lancha em casco metálico existente (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960) Contratante: Rubem Martins (sócio Werner - Corretores) Autores: Arq. Carlos Antonio Mancuso, Arq. Claudio Luiz Araujo Complementares: Fabricante Lancha Ano:1960 Ano: Local: Porto Alegre/RS Situação atual: Não existe Projeto: Capela do Pinhal (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960 – Menção Honrosa) Contratante: Imobiliária Pinhal Autores: Arq. Carlos Antonio Mancuso, Arq. Claudio Luiz Araujo Ano:1960 Ano: Local: Pinhal/RS Situação atual: Não construído Fotografia: Fotografia João Alberto da Fonseca, Acervo UniRitter Projeto: Edu Las Casas - Câmbio e Turismo (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960) Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso Ano: 1960 Local: Rua Gen. Câmara Situação atual: Não existe Fotografia: Fotografia João Alberto da Fonseca, Acervo UniRitter Projeto: Residência Paulo Torelly (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960) Contratante: Paulo Canteiro Torelly Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso Colaboração: Arq. Marcos Torelly (filho) Complementares: Eng. Dicran Gureghian e Eng. Eugênio Knor Ano: 1961 Local: Rua Desembargador V. Pires esq. Av. Silva Jardim - Torres/RS Situação atual: Em uso pleno pela família (filhos) Projeto: Norvic Boutique Hermínio Dallegrave (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960) Contratante: Hermínio Dallegrave Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Ano:1961 Ano: Fotos: João Alberto, Waldir Bicca de Figueiredo (Prêmio Foto 1º Salão de Arquitetura) Local: Rua dos Andradas nº 1251, Sala 1 Edifício Urubatã, Porto Alegre/RS Situação atual: Modificada (sem a loja) Fotografia: Fotografia João Alberto da Fonseca, Acervo UniRitter 36 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Lojas Ibraco - Arquitetura de Interiores (Apresentado no 1º Salão de Arquitetura do RS – Abril 1960) Contratante: Lojas Ibraco Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso Ano:1961 Ano: Local: Rua dos Andradas nº 1251, Loja 2 Edifício Urubatã, Porto Alegre/RS Situação atual: Modificada (sem a loja) Fotografia: Fotografia João Alberto da Fonseca, Acervo UniRitter Projeto: Galeria do Comércio - Arquitetura de Interiores Contratante: Proprietário Sr.Salvador Isaia Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Antonio Mancuso Complementares: Abrão Swartzman & Gherztman, Eng. Bonnes Ano:1961 Ano: Local: Santa Maria/RS Situação atual: Modificado Projeto: REFAP - Refinaria Alberto Pasqualini (Apresentado no 4º Salão de Arquitetura do RS – Janeiro 1968 – Medalha de Ouro Melhor Projeto Construído) (Bienal de Arquitetura – Tradição e Ruptura – 19/11/1984 a 31/05/1985) Contratante: Petrobras SA Autores: Arq. Carlos Fayet, Arq. Claudio Araújo, Arq. Moacyr Marques e Arq. Miguel Pereira Colaboração: Eng. Cloraldino Severo Cálculo Estrutural: Eng. Dicran Gureghiam (cálculo concreto), Eng. Eugênio Knorr, Eng. Fernando Campos de Souza e Eng. Raul Rego Faillace (Técnicas construtivas e especificações), Eng. Bojunga Dias e Eng. Milton Campos (Instalações elétricas, hidráulicas e ar-condicionado), Eng. Cloraldino Severo (Acesso viário BR-116) Construtoras: Melo Pedreira, Azevedo Moura & Gertun, Tedesco e outras. Ano: 1961-1968 Área: 50.000m² Local: Rodovia BR 101 Km 13, Canoas/RS Situação atual: Em uso Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994 nº171; Bienal Tradição e Ruptura – Arquitetura, Nov 1984 – Jan 1985, pg. 30 Fotografia: Fotografia João Alberto da Fonseca – Acervo FAM Projeto: Apartamento David Zimmermann - Arquitetura de Interiores Contratante: David Zimmermann Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Complementares: Ed. Esplanada, Projeto de Arquitetura do Arq. Fresnedo Siri Ano:1962 Ano: Local: Ed. Esplanada, Av. Independência esq. Av. Ramiro Barcelos, Porto Alegre/RS Situação atual: Sem registro Projeto: Apartamento Dicran Gureghian - Arquitetura de Interiores Contratante: Eng. Dicran Gureghiam Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Eng. Dicran Gureghian Edificação: Projeto de arquitetura Ari Mazzini Canarim Fotos: Leopoldo Plentz Ano:1962 Ano: Local: Edifício Armênia, R. Mostardeiro esq. Praça Julio de Castilho, nº12 / apto. 141, Porto Alegre/RS 37 Situação atual: Sem registro Projeto: Edifício Residencial FAM Contratante: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques Complementares: Estrutural Eng. Fernando Campos de Souza; Estaqueamento Estasul e Bojunga Dias (Elétrico e Hidráulico); Ar-Condicionado: Tecnoclima; Elevadores: SUR Fornecedores: Obra realizada pelos autores do Projeto Ano: 1964/1968 Área: 832,00 m² Local: Rua Vicente de Paula Dutra, 225 - Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Referência: Architetture Contemporanea Brasile ,1ªEd. Outubro 2008, Editora Motta, Renato Anelli, pg.44 / Summa +, nº58, pg.26 Projeto: Apartamento Rafael Estrougo – Arquitetura de Interiores (Apresentado no 4º Salão de Arquitetura do RS – Janeiro 1968) Contratante: Rafael Estrougo Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Eduardo Dias Comas: Colaboração: Rafael Estrougo, Moveis: Zauzupin Complementares: Eng. Celso Bertolucci Fornecedores: Construtora Antônio Casaccia Ano:1966 Ano: Local: Dr. Timóteo com Marquês do Herval, nº 468, Ed Umuarama, Porto Alegre/RS Fotografia: João Alberto da Fonseca, Acervo UniRitter Fotografia S.A. Projeto: Conjunto Residencial para a Siderúrgica Aços Finos Piratini S Contratante: Autores: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Arq. Claudio Luiz Araújo, Arq. Moacyr Moojen Marques Ano:1966 Ano: Local: Charqueadas/RS Situação atual: Em uso 38 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Projeto: Residência David Kopstein – Interiores e Mobiliário Contratante: Sr. David Kopstein Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo e Arq. Carlos Eduardo Comas Fornecedores: Alonso Scheid (esquadrias), Móveis Heinz Agte Contemporâneos Ano:1966 Ano: Local: Rua Tobias da Silva, nº115, Moinhos de Vento - Porto Alegre/RS Situação atual: Modificado Internamente Fotografia: Fotografia João Alberto da Fonseca, Acervo UniRitter Projeto: Cotillon Clube – Arquitetura de Interiores (cinema Cacique, entrada) Contratante: Cotilon Clube Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Ricardo Eichler (presidente na época) Fornecedores: Alonso Scheid (esquadrias) Ano:1967 Ano: Local: Rua dos Andradas, nº933 último andar do antigo Cinema Cacique, Porto Alegre/RS Situação atual: Modificado o último andar Projeto: Hotel Charrua – Arquitetura de Interiores Contratante: Móveis Agte Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Heinz Agte Fornecedores: Móveis Heinz Agte Contemporâneos Ano:1967 Ano: Local: em frente praça, Santa Cruz do Sul/RS Situação atual: Modificado Projeto: Entroncamento Rodoviário BR 116-Km 13-REFAP Projeto Contratante: Autor: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Cláudio L. G. Araújo, Arq. Moacyr M. Marques, Arq. Miguel A. Pereira Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1967/1968 Área Construída: Local: BR 116-Km 13, Canoas/RS Projeto: TEDUT - Conjunto das Edificações - Urbanismo e Paisagismo para o Terminal Almirante Soares Dutra Contratante: Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques , Arq. Miguel Pereira Colaboração: Eng. Eugênio Knor , Eng.Gureghian (estruturas), Eng. Fernando Campos de Souza e Eng. Raul Rego Faillace (Técnicas construtivas e especificações), Bojunga Dias (Instalações elétricas, hidráulicas e ar-condicionado) Ano:1968 Ano: Local: Osório/RS 39 Situação atual: Mantido / Ampliações Projeto: Paradouro Turístico Quinta Chuí Contratante: Petróleo Ipiranga SA Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Arq. Armênio Wendhausen Fornecedores: Ano:1968 Ano: Área: 384m² em uma área total de 4000m² Local: Rodovia BR-471 Km103/104 – Trecho Quinta Chui/RS Situação atual: Somente Projeto Obs: Empresas de ônibus Onda, expresso POA – Montevidéu. Restaurante, bar, parque de estacionamento, playground e posto de serviço. Projeto: Apartamento Miguel Lembert Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Eduardo Dias Comas Ano:1968 Ano: Área:m² Local: Rua Dr. Vale, Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Projeto: Conjunto Residencial para a Cooperativa Habitacional dos Bancários Contratante: INOCOP Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araújo, Arq. Moacyr Moojen Marques Ano:1968 Ano: Local: Rua Silveira, Porto Alegre/RS Situação atual: Mantido Foto: Arq.Sergio Marques, 2010 Projeto: Centro Comercial de Canoas Contratante: Prefeitura Municipal de Canoas Autores: Arq. Newton Silveira Obino, Arq. Emilio Slabitz, Arq. Claudio Luiz Araújo Ano:1969 Ano: Local: Canoas/RS Situação atual: Lojas modificadas Projeto: 2ª Avenida Perimetral – Sinalização e Paisagismo Contratante: Autores: Dir. Projeto e Coord. Tec. Eng. Pery Cesar de Castro, Coord. Tec. Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Sinalização e Paisagismo Arq. Claudio Luiz Gomes de Araujo Ano:1969 Ano: Local: Porto Alegre/RS Situação atual: Executada em parte Publicação: Projeto Avenida Perimetral 40 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Apartamento Arnaldo Gueller Contratante: Arnaldo Gueller Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Eduardo Comas Fornecedores: MAGUEFA Construções Ano:1969 Ano: Local: Porto Alegre/RS Situação atual: Modificado Projeto: Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul - Arq. Interiores. Projeto de Arq.Gregório Zolko (Concurso 1º Prêmio) Contratante: Assembléia (Diretor Geral Osvaldo Goidanich) Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Fornecedores: Heinz Agte Móveis Contemporâneos Ano: 1969 Área: Salas dos deputados, Restaurante, Poltronas do Auditório. Local: Praça da Matriz, Porto Alegre/RS atual: Situação atual: Em uso, modificado Fotografia: Fotografia João Alberto da Fonseca, Acervo UniRitter Projeto: Indústria Riograndense de Pescados Ipiranga Contratante: ISAPEIXE Autores: Arq. Claudio Luiz Araújo Colaboração: Eng. Carlos Fonseca Ano: 1969 Área: Pavilhões pertencentes à Swift Local: Local Antigo Porto de Rio Grande/RS Situação atual: Modificado Projeto: Stand ISAPEIXE Contratante: Indústria Riograndense de Pescados Ipiranga Autores: Arq. Claudio Luiz Araújo Colaboração: Ano: 1969 Local: Rio Grande/RS 41 Projeto: Residência Simão Kuperstein Contratante: Simão Kuperstein Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Ano:1969 Ano: Local: Rua Coronel Paulino Teixeira, 35, Rio Branco, Porto Alegre/RS Situação atual: Mantido (Galeria Tina Zapoli – Subsolo, 1º e 2º pavimentos: Vídeo Ware). Concreto aparente original modificado por cores na fachada. Térreo e subsolo 1º Fábrica de produtos Kresil modificado para Galeria de Arte. Projeto: Residência Eng. Fernando Campos de Souza Contratante: Eng. Fernando Campos de Souza Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques Complementares: Estrutural, especificações e obra: Eng. Fernando Campos de Souza; Ano: 1969 Área: 310,50m² Local: Rua Corrêa Lima esq. Cleveland - Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Projeto: Loja Casa das Sedas Contratante: Rafael Estrougo Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Eduardo Dias Comas Ano:1970 Ano: Local: Rua Alberto Bem, esq Rua Dr. Flores, Porto Alegre/RS , Situação atual: Modificado Projeto: Apartamento Maurício Branchtein Contratante: Eng. Maurício Branchtein Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Eduardo Dias Comas Colaboração: Eng. Maurício Branchtein Fornecedores: Golbram Engenharia e Arquitetura Limitada Ano:1970 Ano: Área:m² Local: Rua Fernandes Vieira 350 ap. 1102, Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Fotos: Leopoldo Plentz Projeto: Edifício Presidente Contratante: Autores: Arq. Newton S Obino, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Eduardo Dias Comas Ano: 1970 Área: m² Local: Av. Carlos Gomes. esq. Avenida Nilo Peçanha, Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso 42 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Residência Heinz Agte Contratante: Heinz Agte Autores: Arq. Claudio Luiz Araújo Complementares: Dicran Gureghian (Estrutural), Werner Laub (Instalações), Enio Cruz da Costa (Ar-Condicionado) Ano:1970 Ano: Área: Local: Av. Nilo Peçanha, Porto Alegre/RS Situação atual: Demolida Fotografia: Fotografia João Alberto da Fonseca, Acervo UniRitter Projeto: Lojas Belluno - Ed Villa Rica - Arq de Interiores Contratante: Artur Dallegrave Autores: Arq. Claudio Luiz Araújo Ano:1971 Ano: Local: frente Praça Julio de Castilhos, Porto Alegre/RS Situação atual: Modificada (nova loja) Projeto: Residência Abraão Loifemann – Arq. De Interiores Contratante: Abraão Loifemann Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Eduardo Dias Comas Interiores: Projeto Arquitetônico: Arq. João Carlos Paiva Ano: 1971 Local: Porto Alegre/RS Projeto: Apartamento Léo Nudelmann Contratante: Léo Nudelmann Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Eduardo Comas Ano: 1972 Local: Rua Fernandes Vieira 350, Porto Alegre/RS Situação atual: Modificado Projeto: Projeto: Armazém Frigorífico de Capuaba para Administração do Porto de Vitória-ES Contratante: Planave Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Becker e Mentz – Empresa Projetos e Refrigeração Complementares: Planave (Eng. Antonio Carvalho) Ano: 1972 Área:m² Local: Vitória/ES 43 Projeto: Passarela Andradas x Borges (Anteprojeto) Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre-RS Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Arq. Newton Silveira Obino, Arq. Carlos Eduardo Comas Arq. Complementares: Eng. Hugo Meucci Filho (Traçado); Eng. Alberto Elnecave (Estrutura); Eng. Werner Laub (Instalações); Arq. Claudia Obino Corrêa, Arq. Jose Artur D’alo Frota, Arq. Arnaldo Hansen Colchete (Desenho); Fot. João Alberto Ferreira Silva (Fotomontagem); Willy Carlos Faust , Enio Mancuso, Laerte Campos de Oliveira e Antonio Faust Inácio Schan (Topografia); Edacyele Souza, Jairo Paulo M. de Almeida, Armando Gass, João José Inácio, Claudio de Frota (Auxiliares) Ano: 1972 Área: m² Local: Porto Alegre/RS Situação atual: Somente projeto Fotografia: Fotografia João Alberto da Fonseca, Acervo UniRitter Projeto: Abrigo da Fronteira para o Ministério da Fazenda – Porto Lucena Contratante: Ministério da Fazenda Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Eng. Pedro Moura, Construtora Azevedo Moura & Gertum (Lab. História) F. Complementares: Paisagismo: Eng. Agrônomo: Ronald C. Jamisson. Telecomunicações:: Eng. Wladimir Múrias de Andrade. Elétrico: Eng. Werner H. F. Laus, Hidrossanitário: Eng. Werner H. F. Laus. Estrutural: Eng. Haroldo Fardos de Azambuja Fornecedores/executante: Azevedo Moura e Gertum e Cia Ano: 1973 Local: Porto Lucena/RS Situação atual: Em uso Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994, nº171 Projeto: Agência da Receita Federal para o Ministério da Fazenda Contratante: Ministério da Fazenda Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Newton S Obino Complementares: Calculista: Eng. João Baptista Machado Rosa; Hidrossanitário e elétrico: Eng. Werner H. F. Laub; Comunicações: Eng. Wladimir Múrias de Andrade; Fornecedores: Azevedo Moura e Gertum e Cia (Lab. UniRitter) Ano:1973 Ano: Local: Bagé/RS Situação atual: Em uso Fotografia: Arq. Claudio Luiz Araujo 44 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Residência José Hernan Flores Contratantes: José Hermann Flores Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Ano:1973 Ano: Local: Rua Eurico Lara nº388, Porto Alegre/RS Situação atual: Ocupada pelo proprietário Projeto: Distrito Industrial de Rio Grande - Administração Contratantes: CIENTEC Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Júlio Greco Complementares: Cálculo: Eng. Smith Ano:1974 Ano: Local: Local Porto Novo - Rio Grande/RS Situação atual: Somente projeto Projeto: Projeto: CEASA - Central de Abastecimento de Porto Alegre Contratante: Município de Porto Alegre e Consórcio formado pelas empresas PLANISUL e ASPLAN Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Eduardo Comas, Eng. Eladio Dieste, Eng. Eugênio Montañez Colaboração: Arq. Luiz Américo Gaudenzi (Frigorífico) Complementares: Direção: Econ. Romeu Corseni Fagundes, Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Eng. José Enoir Loss; Terraplenagem e Pavimentação: Eng. Pery César Castro; Topografia e Sistema Viário: Eng. Ênio Vinício Mascarello, Eng. Joal Olabarriga; Instalações Hidrossanitárias: Eng. Werner Félix Laub; Estrutural : Eng. Paulo Gomes de Freitas, Eng. João Alberto Farret, Eng. Michel João Dib, Eng. Eladio Dieste (Cerâmica Armada); Ar Condicionado: Eng. Ennio Cruz da Costa; Orçamento e Especificações: Arq. Alfredo Alvarez Lay, Acadêmicos de Engenharia Carlos Alberto Dias e Vladmir Ortiz da Silva; Frigorífico: Eng. Luiz Oscar de Mello Becker; Instalações Elétricas: Eng. João Carlos Rolin Morganti; Drenagem: Eng. Werner Franz Schnarndorf, Paisagismo: Agr. Ronald C. Jamieson; Cozinha e Central Técnica: Eng. João Luiz da Silveira Osório; Comunicação de Massas: Eng. Edward Kurilenko; Apresentação Gráfica: Arq. Norberto José de Bozzetti, Revisão de Português: Prof. Aníbal Barros Revisão Cassal Fornecedores: Ano:1974 Ano: Área:Primeira Etapa 1980, 56.000,00m² Área: Segunda Etapa 1995, 161.400,00m² - Previsão de Construção da Etapa Final Local: Avenida Fernando Ferrari, 1001 Porto Alegre/RS Situação atual: Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994 nº171 45 Projeto: Matadouro Frigorífico Cooperativa Rural Alegretense Contratante: Planave, Eng. Antônio Carvalho, Bernazano Consultores y Associados, Cooperativa Rural Alegretense Ltda . Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Becker, Colaboração: Planave, Escola Técnica de Planejamento AS, Becker e Mentz Engenheiros, Bernazano Consultores y Associados, Refrigeração: Becker, Atila, Henrique, Oscar Kull Complementares: Cálculo estrutural e fiscalização: Eng. Antônio Farret Coberturas: Eng. Eladio Dieste, Eng. Eugênio Montañez, Arq. Alfredo Lay (Edec) Ano:1974 Ano: Local: Alegrete/RS Situação atual: Em uso Projeto: Edifício Sede da Bernazano & Associados Contratante: Bernazano & Associados Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Ano:1974 Ano: Local: Calle Barcace, Santa Fé - Argentina Situação atual: Somente projeto Projeto: Projeto: Edifício Apartamento Eça de Queróz Contratante: Miguel Lembert Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Fornecedores: Lembert Construções Ano: 1974 Local: Eça de Queróz, Porto Alegre/RS , Situação atual: Em uso Projeto: Armazém Frigorífico do Porto de Santos Contratante: Planave Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Eng. Mec. Luiz Oscar de Melo Becker, Eng. Atila Mentz, Eng. Henrique Kull, Eng. Oscar Betegue (Desenho), Complementares: Eduardo Galvão (Desenho), Cesar D’Alessandro (Desenho), Davit Eskinazi (Desenho), Eron Tadeu Feijó (Desenho), Julio Grieco (Desenho), Henrique Peixoto (Desenho) Ano: 1975 Local: Porto de Santos/SP 46 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre Contratante: Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre Equipe: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Cláudia Obino Corrêa (74/75) Espinosa, Colaboração: Arq. Sandra Mara Tietbohl Boeira (93/94), Arq. Daniel Pitta Fishmann (97), Arq. Clívia Moura Espinosa, Técnico em Edificações: Paulo Pfutzenreuter (2009) Werner Complementares: Estrutural: Eng. Haroldo Froes de Azambuja, Eng. João Baptista Machado Rosa (2009) / Elétrico, Hidráulico, Telefônico: Eng. Werner Félix Laub / Desenho: Henrique Peixoto, Eduardo Galvão, Nanette Alvarez, Eron, M. Isabel Kaman, Julio Grieco, Paulo Pfutzenreuter Fornecedores: Construtora Scorza e outros Ano: 1975 / 201? Área: 14.185,00m² Local: Av. Loureiro da Silva, 255/Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Projeto: Parque Marinha do Brasil (Concurso) Equipe: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Arlete Schneider Sauer, Arq. Carlos Eduardo Comas, Arq. Cláudia Obino Corrêa, Arq.José Artur Daló Frota, Arq. Martin Suffert; Ronald Jamielson, Lenea Gaelzer, Eng. Werner Félix Laub, Eng. João Baptista Machado Rosa, Paulo Gomes de Freitas, Eng. Ênio Cruz da Costa, Ângela Seger, Eduardo Galvão, João Machado Ribeiro, Ricardo Richter, Rosemary Dullius. Ano: 1976 Área: m² Local: Av. Borges de Medeiros, Porto Alegre/RS Situação atual: Somente projeto, construído o vencedor (Arq. Rogério Malinsky e Arq. Ivan Mizoguchi). Projeto: Memphis S.A. Industrial Contratante: Memphis Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Colaboração: Arq. Cláudia Obino Corrêa Complementares: Elétrico e Telefônico: Bojunga Dias; Estrutural: Eng. João Baptista Machado da Rosa; Paisagismo: Agr. Ronald C Jamieson; Coberturas: Eng. Eladio Dieste Fornecedores: Melo Pedreira, Premold, Edec Ano: 1976 Área: 10.281,32 m² Local: Av. João Elustondo, 175/ Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Publicação: Revista Projeto Agosto de 1980 nº22, Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994 nº171 47 Projeto: Estaleiro Só S.A. Contratante: Estaleiro Só Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo e Arq. Carlos Eduardo Comas, . Ano: 1976 Local: Local Av. Diário de Notícias - Porto Alegre/RS Situação atual: Somente projeto Projeto: Sede SUDESUL (Concurso Interno – 1º Lugar) Contratante: Superintendência do Desenvolvimento da Região Sul Autores: Arq. Castelar B Peña, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Newton Silveira Obino . Ano: 1976 Área: 19.019.83m² Local: Av. Loureiro da Silva, terreno ao lado da Receita Federal, Porto Alegre/RS Situação atual: Somente projeto Projeto: Edifício Sede da Eletrosul (Concurso) Contratante: Eletrosul Autor: Arq. Edgar do Vale, Arq. Pedro Simch, Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Arq. Santiago Ano: 1977 Área Construída: 2.795,12m² Local: Rua projetada /Florianópolis/RS Situação atual: Somente projeto Projeto: Edifício Politécnico – Escritórios Contratante: Eng. Werner Félix Laub, Arq. Hugolino Prá Autores: Arq.Claudio Luiz Araujo e Arq. Cláudia Obino Corrêa Complementares: Instalações: Eng. Werner Félix Laub; Estrutural: Arq. Hugolino Pra; Construção: Winckelman Fornecedores: Pré-Concretos (pré-moldados), Sûr, Ájax, Sherwin Williams, Ladrilhos Iguaçu, Brasilit. Ano: 1978 Área: 1.137,96m² (térreo + 3 andares) Local: Travessa Saúde, 22, Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso 48 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Planejamento Urbano Via Expressa Sul 18Km (Concurso Interno) Contratante: Firma de planejamento Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira e Arq. Claudio Luiz Araujo Complementares: Firma de planejamento Ano:1979 Ano: Local: Florianópolis/SC Situação atual: Em uso e modificado Projeto: RIOCELL - Cia Celulose Sul - Depósito e Escritórios Contratante: RIOCELL Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo Complementares: Pré-moldados. Premold SA Ano:1979 Ano: Local: Guaíba/RS Situação atual: Em uso Projeto: Edifício de Escritórios Centaurus Center Contratante: Editora Centaurus LTDA / Mercur Publicidade LTDA Autores: Arq.Claudio Luiz Araujo , Arq. José Artur Frota Ano:1979 Ano: Área:14,485,50 m² Área: Local: Av. Praia de Belas, esq. Rua Costa, Porto Alegre/RS Situação atual: Somente projeto (aprovado) Projeto: Residência Bororó Autores: Arq.Claudio Luiz Araujo Desenho: Julio Grieco Ano: 1980 Local: Vila Assunção, Porto Alegre-RS Situação atual: Somente projeto 49 Projeto: Companhia Petroquímica do Sul – COPESUL (Concurso Privado – 1º Lugar) Contratante: Companhia Petroquímica do Sul - COPESUL Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo e Arq. Luiz Izidoro Boeira Colaboração: Complementares: Complementares Fabricação e Montagem de Pré moldados: SADE (Sul Americana de Engenharia); Instalações Elétricas e Hidráulicas: Cetenge Engenharia Ltda; Eng. Henrique Kuhl; Eng. Werner Laub; Ar Condicionado: Eng. Décio L. Motta e Eng. Julio Curts F.; Estrutura: Arq. Benno Speracke, Arq. Hugolino Prá, Eng. Rony Ruschel, Eng. Norton Ruschel, Eng. João Baptista Rosa Fornecedores: Construtora Ernesto Woebeck e Azevedo Moura & Gertum Ano:1980 Ano: Área de Projeto e Plano Diretor: 310.000m² Área Construída: 45.000m² Local: BR 386 - Rodovia Tabaí-Canoas, Km 419 - Polo Petroquímico / Triunfo-RS Situação atual: Em uso Publicação : Revista Projeto Agosto de 1980, nº22 Projeto: Residência Engenheiro Geraldo Chaves Contratante: Eng. Geraldo Chaves Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Des: Julio Grieco Ano: 1981 Área: Local: Atlântida/RS Situação atual: Somente projeto Projeto: Edifício Senador – Escritórios - Reciclagem Contratante: Memphis Com. Adm. Imov. Ltda Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. José Artur Frota Complementares: Elétrico e Hidrossanitário: Malta Engenharia; Consultoria Geotécnica (Reforço de Fundações): Eng. Jarbas Militistsky; Cálculo Estrutural: Eng. João Baptista Machado Rosa Ano: 1981 Área: 2.253,16m² Local: Av. Pernambuco, 2623/Porto Alegre-RS Situação atual: Em uso Referência: Projeto 115, outubro 1988 Projeto: Aeromóvel Coester - Estações e ponte elevada Contratante: Coester Participações Cia Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. José Arthur Daló Frota (Desenho estrutura 1ª Fase) Complementares: Ernesto Webeck Construtora (Cálculo estrutural e Execução) Ano: 1982 Local: Porto Alegre Situação atual: Existente. 1º Trecho e Estação em frente Câmera de Vereadores. 50 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Plano Regulador do Uso de Solo do Litoral do Rio Grande do Sul Contratante: Secretaria de Estado do Rio Grande do Sul Autores: Arq. Claudio Ferraro, Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. José Carlos Marques Ano: 1982 Local: Litoral Norte do Estado do Rio Grande do Sul atual: Condição atual Parcialmente implantado Projeto: Condomínio Residencial Loteamento Parque Primavera Contratante: Chalet Planejamento Incorporações e Construções Ltda Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. José Artur Frota, Arq. Guilherme L Silva Complementares: Urbanização (Sistema Viário): Eng. Hener de Souza Nunes; Execução: Chalet Eng. Geraldo Chaves Planejamento Incorporações e Construções Ltda; Estrutural: Eng. Xavier Pires Fornecedores: Chalet Engenharia Ano: 1982 Área: 23.065,62m² Local: Rua Lindolfo Collor, esq. Rua Sérgio Cardoso, Esteio-RS Situação atual: Em uso. Ver modificações no local. Projeto: Condomínio Residencial Loteamento Algarve Vila São Carlos - Quadras A1, A2, B6, B7 e B8 Contratante: Chalet Planejamento Incorporações e Construções Ltda Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. José Artur Frota, Arq. Guillermo L Silva Colaboração: Guilherme L Silva Complementares: Chalet Engenharia Ano: 1982-1983 Área: 8.026,92m² (5964m² loteamento + 2.062,92m² residências) Local: Quadra composta pelas ruas: Rua comendador Coruja, Rua São Benedito, Rua Joaquim Nabuco e Travessa Guarujá/Alvorada/RS Situação atual: Em uso. Ver modificações no local. Referência: Revista Projeto 115, outubro 1988 Projeto: Projeto: Conjunto Liberal Contratante: Urbanizadora Mentz S/A Autor: Arq. Claudio Luiz Araujo e Arq. Claudia O. C. Frota, Arq. Jose Artur Frota Colaboração: Chalet Engenharia Ano: 1982 Local: Rua Cônego Vieira da Soledade, Porto Alegre/RS Situação atual: Somente projeto Projeto: Condomínio Uruguaiana Contratante: Chalet Engenharia Autor: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Francisca (Desenho) Fornecedores: Chalet Engenharia Ano: 1982 Local: Uruguaiana/RS Situação atual: Somente projeto 51 Projeto: Jardim América Contratante: Chalet Engenharia Autor: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Jose Artur D’alo Frota Colaboradores: Eng. Hener de Souza Nunes Fornecedores: Chalet Engenharia Ano: 1982 Local: Sapucaia do Sul/RS Situação atual: Somente projeto Projeto: mados Projeto: Petrobrás - Setor de Queimados do Hospital de PRONTO SOCORRO Porto Alegre Contratante: Petrobrás Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo Ano: 1983 Local: Pronto Socorro de Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso. Projeto: Interiores em Edifício de Apartamentos Mauricio Branchtein Contratante: Eng. Mauricio Branchtein Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Ano: 1984 Local: Rua Jandaia 424, Atlântida/RS Situação atual: Em uso pelo proprietário Projeto: Projeto: Banco Sulbrasileiro AS Ampliação Contratante: Chalet Engenharia (Eng. Geraldo Chaves) Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Ano: 1985 Local: Porto Alegre/RS (atual Santander) Situação atual: Somente Projeto Projeto: Blocos de Habitação - Praia de Belas Contratante: Maguefa Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo Ano: 1985 Local: Av. Borges de Medeiros nº (ao lado FDRH), Porto Alegre/RS Situação atual: Somente Projeto (aprovado) Projeto: Tramontina Ferramentas Agrícolas e Forjasul SA Materiais Elétricos Contratante: Grupo Tramontina S/A Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Arq. Luiz Izidoro Boeira, Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira, Arq. Júlio Celso Vargas Estruturas Complementares: Conforto Ambiental: Eng. Ênnio Cruz da Costa; Estruturas de Concreto: Eng. Ervino Fritsch; Estruturas Metálicas: Eng. Aquiles Roberto Pizetti; Instalações: Eng. Álvaro Stumm e Luiz g. dos Santos; Construção: Empresa Sul Brasileira de Engenharia (ESBEL); Pré-moldados: Prémold; Sondagem: Tecnosolo; Terraplenagem, Arruamento e Pavimentações: Simionaggio & Cia; Estruturas Metálicas: MP; Metalúrgica Fornecedores: Metalúrgica Valentini (Portões Metálicos), Cerâmica Erechim (Telhas), Perkon (Telhas Metálicas), Metalúrgica Fontana e Metalúrgica São Paulo (Serralheria), Casa da Arte Móveis, Indústria de Esquadrias Moschetta, Webber & Cia (Esquadrias de Madeira), Eucatex (Divisórias) Área: 43.800m² 52 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Ano: 1986-1993 Local: Rodovia RST 470, Km 230 /Carlos Barbosa/RS Situação atual: Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994, nº171 Projeto: Indústria de Plásticos Sulplastic Contratante: Sulplastic Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Arq. Cláudia Obino Corrêa Complementares: Estrutural: Eng. João Batista Rosa; Ano: 1986 Local: Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Projeto: Horta Produtos Agrícolas - 1ª 2ª e 3ª Etapa Contratante: Horta Produtos Agrícolas Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Marcos Torelly, Arq. Sandra T. Boeira Colaboração: Arq. Cláudia Obino Corrêa Complementares: Estrutural: ESBEL (1984); Instalações Hidrossanitárias: Bojunga Dias S.A (1984) ; PPCI Eng.Claudio A Hanssen (ano:2007); Construção: Premold (Ano:2007) Fornecedores: Ano: 1986 1ª Etapa 1997 2ª Etapa 2007 2ª Etapa Área: 5.534,60m² Local: Loca l: Rua Severo Dullius, 124 - Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Projeto: Tramontina Materiais de Pesca S/A Contratante: Tramontina S/A Autor: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Colaboração: Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira Ano: 1987 Local: Gravataí/RS Situação atual: Somente projeto e terraplenagem Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994 nº171 Projeto: TASA Telecomunicações Aeronáuticas S/A (Concurso Privado – 1º Lugar) Contratante: TASA S/A Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo e Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboração: Arq. Guilherme L Silva Complementares: Estrutural: Eng. João Batista Rosa; Elétrico e Hidrossanitário: Werner Laub; Ano: 1988 Local: Ilha do Governador, Rio de Janeiro/RJ Situação atual: Somente Projeto 53 Projeto: Associação dos Funcionários da REFAP (Sulpetro) (Concurso fechado - 1° Lugar) Contratante: Associação dos Funcionários da REFAP Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Arq. Guillermo L. Silva; Tec. Julio Grieco; Complementares: Estrutural: Eng. João Batista Rosa; Eng. Enio Cruz da Costa; Cozinha: Eng. Errol Delmar Reis; Elétrico e Hidrossanitário: Werner Laub; Ano: 1985/1988 Local: Guaíba/RS Situação atual: Em uso Publicação: T Sport nº10 Outubro 1990 (“In Brasile um Centro Sportivo e Ricreativo Aziendale: Semplicità e Funzionalità in uma Architettura “Gaucha”) Projeto: Edifício FHE Fundação Habitacional do Exercito Contratante: Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo e Arq. Guilherme L Silva Área:m² Ano: 1988 Local: Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Projeto: Residência Paulo Bayard Contratante: Sr. Paulo Bayard Silveira Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Colaboração: Complementares: Projeto Elétrico e Hidrossanitário: CM Engenharia; Fornecedores: Área:m² Ano: 1988 Local: Rua João Teles/Bagé/RS Situação atual: Em uso Projeto: Apartamento Sr. Gildo Coifman Contratante: Sr. Gildo Coifman Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Área Construída: 237,75m²(Casa) Área Projetada: 350,50m² (terreno) Ano: 1989 Local: Rua Santa Teresinha, Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso 54 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Pavilhão para o Campus da CIENTEC – Fundação Ciência e Tecnologia Contratante: Fundação Ciência e Tecnologia - CIENTEC Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Arq. Fernando Bahima, Eng. Antonio Raul Romero Riveiro (Cálculo Estrutural) Complementares: Coberturas: Dieste & Montañez Ano: 1989 Local: Gravataí/RS Situação atual: Em uso Projeto: Concurso Público de Projetos de Habitação Popular - Brás XI (Menção Honrosa) Contratante: Prefeitura de São Paulo Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo e Arq. Guillermo Lopes da Silva (Equipe de Arquitetos) Área: 11.501,40m² Ano: 1989 Local: São Paulo Projeto: Tramontina Ferramentas Agrícolas e Forjasul SA Materiais Elétricos Contratante: Grupo Tramontina S/A Autores: Equipe de Arquitetos - Arq. Cláudio Luiz Araújo, Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboração: Arq. Luiz Izidoro Boeira, Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira, Arq. Júlio Celso Vargas Concreto: Complementares: Conforto Ambiental : Eng. Ênnio Cruz da Costa; Estruturas de Concreto: Eng. Ervino Fritsch; Estruturas Metálicas: Eng. Aquiles Roberto Pizetti; Instalações: Eng. Álvaro Stumm e Luiz g. dos Santos; Construção: Empresa Sul Brasileira de Engenharia (ESBEL); Pré-moldados: Prémold; Sondagem: Tecnisolo; Terraplenagem, Arruamento e Pavimentações: Simionaggio & Cia; Estruturas Metálicas: MP; Metalúrgica Fornecedores: Metalúrgica Valentini (Portões Metálicos), Cerâmica Erechim (Telhas), Perkon (Telhas Metálicas), Metalúrgica Fontana e Metalúrgica São Paulo (Serralheria), Casa da Arte Móveis, Indústria de Esquadrias Moschetta, Webber & Cia (Esquadrias de Madeira), Eucatex (Divisórias) Área: 43.800m² Ano: 1990/1993 Local: Rodovia RST 470, Km 230 /Carlos Barbosa/RS Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994, nº171 Refeitório do Projeto: Petrobrás Petróleo Brasileiro S.A. Projeto de reciclagem para o prédio da Administração e projeto para edificação do novo Ref Terminal Almirante Soares Dutra. Contratante: Autor: Arq. Cláudio L. G. Araújo, Moacyr Moojen Marques, Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1990 Área Construída: 625,43m2 Local: Tramandaí/RS Projeto: Concurso Municipal de Sinalização e Mobiliário Urbano (Concurso - 1º Lugar) Contratante: Associação Comercial e Industrial de Carlos Barbosa Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Sergio Marques, Arq. Carlos Maximiliano Fayet Colaboração: Eng. Aquiles Roberto Pizetti (calculo estrutural) Ano: 1990-1994 Local: Carlos Barbosa/MG Situação atual: Executado Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994, nº171 55 Projeto: Concurso Nacional para o Museu de Arte de Belo Horizonte (Participação) Contratante: Prefeitura de Belo Horizonte Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo (Equipe de Arquitetos) Colaboração: Arq. Helena Maria Oestreich, Arq. Giorgio Grieco, Arq. Sandra Boeira e Júlio Grieco Ano: 1990 Local: Belo Horizonte/MG Projeto: Tramontina Cutelaria AS – Fabrica JIT Contratante: Tramontina S/A Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Arq. Fernando Bahima Área: Ano: 1990 Local: Carlos Barbosa/RS Situação atual: Em uso Projeto: Projeto Fábrica de Elastômeros Irmãos Geremia Ltda. Contratante: Irmãos Geremia, Ltda Autor: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Cláudio Araújo Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1991/1992 Área Construída: 57.213m² Local: Estrada do Timm, Distrito Industria, l São Leopoldo/RS Situação atual: Em uso Projeto: Apartamento Sr.Leandro Branchtein Contratante: Sr. Leandro Branchtein Autor: Arq. Claudio Luiz Araujo Fornecedores: Ano: 1992 Local: Rua Itaboraí, 54/602, Porto Alegre/RS Situação atual: Novo morador 56 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Edifício Residencial Campeche Contratante: Algemiro A. Avila Autor: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Eduardo Brito (Desenho) Complementares: Complementares Fornecedores: Chalet Ano: 1992 Área Construída: Local: Praia do Campeche, Florianópolis/SC Situação atual: Somente projeto Projeto: Projeto: Residência Sr. Aldo S. Gama Contratante: Sr. Aldo S. Gama Autor: Arq. Claudio Luiz Araujo Ano: 1992 Local: Porto Alegre/RS Situação atual: Executado Projeto: Apartamento Renato Heller Contratante: Sr. Renato Heller Autor: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira Complementares: Luminotécnico: Arq. Claudio Luiz Araujo Fornecedores: Deca, Fischer, Portobello, Brastemp Área: 302,34m² Ano: 1992 Local: Rua Castro Alves, 257 à 283/701/Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Projeto: Palco de Eventos de Carlos Barbosa Contratante: Prefeitura Municipal de Carlos Barbosa -RS Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Sergio Marques, Carlos M. Fayet Colaboração: Arq. Julio Celso Vargas, Arq. Marcel Trescastro Ano: 1993 Local: Parque da Estação, Carlos Barbosa/RS Situação atual: Em uso , com modificações Projeto: Concurso Público Nacional Muro da Mauá (2º Lugar) Contratante: Prefeitura de Porto Alegre Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Claudio Luiz Araujo , Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio M Marques Colaboração: Arq. Julio Vargas, Acad. Lucia Silveira Araújo, Desenhista Paulo Psutzenreuter Ano: 1994 Local: Porto Alegre/RS 57 Projeto: Concurso Público de Anteprojeto do Restaurante Panorâmico da Usina do Gasômetro (3º Lugar) Contratante: Prefeitura de Porto Alegre Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Júlio Vargas, Arq. Sandra Boeira Ano: 1994 Local: Porto Alegre/RS Projeto: Tramontina Cutelaria – Cabos Contratante: Grupo Tramontina S/A Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira, Arq. Júlio Celso Vargas Complementares: Cálculo Estrutural ( Vestiário): Eng. Aquiles Roberto Pizetti e Eng. Mauro de Freitas Ano: 1996 Local: Carlos Barbosa/RS Situação atual: Em uso Projeto: Residência Gildo Irineu Coifman Contratante: Gildo Irineu Coifman Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Tec. Edificações Paulo Psutzenreuter; Mobiliário: Sandra Tietböhl Boeira Complementares: Hidrossanitário: Arq. Claudio Luiz Araujo; Estrutural: Eng. João Baptista Machado da Rosa; Fornecedores: Idalino (Construtor) Ano: 1996 Local: Av. Atlântida Lote 17 Quadra 3H/Capão da Canoa/RS Situação atual: Em uso Projeto: Premold Indústria de Pré-moldados Contratante: Contratante Construtora Premold Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Arq. Daniel Pitta Fischmann Área: 178,00m² Ano: 1997 Local: RS 118 – Km 6 – nº 6211/Sapucaia do Sul/RS Situação atual: Projeto Projeto: Centro Esportivo e Cultural Espaço Múltiplo Esportes e Espetáculos Contratante: Prefeitura municipal de Carlos Barbosa Autores: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Sérgio Marques Colaboradores:; Arq. Daniel Pitta Fischmann; Arq. Julio Celso Vargas Área: 9251,80m² Ano: 1997 Local: Carlos Barbosa/RS Situação atual: Modificado 58 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Parque Ecológico de Guarapiranga (Concurso – 1º Lugar) Contratante: Governo Estadual de São Paulo – Secretaria do Meio Ambiente – Coordenadoria de Planejamento Ambiental Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira; Arq. Daniel Pitta Fischmann Elétricas, Complementares: Complementares: Arquitetura de Interiores e Comunicação Visual: Arq. Cláudio Luiz de Araújo e Arq. Carlos Maximiliano Fayet; Instalações Elétricas, Telefônicas, João Hidrossanitária e Proteção: Eng. Werner Heinz Feliz Laub, Estruturas de Concreto e Metálicas: Eng. João Baptista Machado Rosa e Eng. Enio Ricardo Dorvil Coelho, Eng. Aquiles Roberto Pizzetti; Eng. Zaclis Falconi e Eng. Roberto Nogueira; Estruturas de Madeira: Eng. Alberto Fridman e Eng. Walter Strusman; Terraplenagem e Serviços de Walter Topografia: Eng. Jorge Luiz Bledow; Agronomia e Paisagismo: Agr.. Helena Washimann e Agr.. Elaine Soares de Lima Nunes; Ar Condicionado: Eng. Carlos Martinez Medeiros; Avaliação Econômica: Eng. Christiane Pitta Pinheiro; Serviço de Nutrição: Eng. Errol Delmar Reis; Fundações: Eng. Efraim Zaclis e Eng. Lucas Himori; Eng. Gerenciamento da Obra : Arq. Antônio César Fogaça Viggiani e Arq. Orivaldo Predolin Júnior; Maquete :Ivo Kley; Saneamento: Werner Eugenio Zulauf, Max Arthur Veit, Werner Kurt Jurgen Stuermer, Júlia Vidgal Coriolano Nardi, Francisco José Pereira de Oliveira; Concretos Especiais Renato: Eng. José B. Garcia; Estruturas de Concreto Complementares: Eng. João Baptista Machado Rosa, Eng. Larissa Y. Krentkowski; Conforto Ambiental e Acústica: Eng. Ênio Cruz da Costa; Informatização: Alexandre Carminati; Programa de Segurança, Controle e Comunicações: João José Pacheco; Estudos Sociológicos: Eugenia Sarah Paesani, Bárbara Corrales, Sarah Souza Dias, Bárbara Elder Couto e Maria Cristina Cortez Wissenbach; Cromos: Fernando e. Pasquali; Representação Gráfica: Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira, Giorgio A. Grieco Fratochi, Representação Luiz Eduardo de Brito Oliveira, Lúcia Silveira de Araújo, João Luiz Postiga, Kofi Essel Appiah, Iara M. Cavalheiro Fornecedores: Área: 330ha - 295ha uso restrito e 35ha estação ecológica Ano: 1997 (Concurso de 1991) Local: Estrada da Riveira/ São Paulo/SP Situação atual: Executado Projeto: Tramontina TEEC Contratante: Grupo Tramontina S/A Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira; Arq. Daniel Pitta Fischmann Complementares: Interiores: Arq.Márcia Scomzazzon Guzzo; Paisagismo: Arq. Kiko Simch; Estrutura: Eng. Renato Garcia (pré-moldados) e Eng. Aquiles Roberto Pizetti (metálica); Elétrica e Hidráulica: RGN; Transmissão de dados: Net Plus; Fundações e construção: Premold Hidráulica: : Fornecedores: Premold; Grandelar; Bez; Monobeton Área Construída: 10600m² 1ª Etapa Ano: 1997/1998 Local: Carlos Barbosa/RS Situação atual: Em uso Barbosa Projeto: Estudos Preliminares para Área da Estação Férrea de Carlos Barbos (Concurso - 1º Lugar) Contratante: Prefeitura de Porto Alegre Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Sergio M Marques Colaboradores: Colaboradores Arq. Julio Vargas Ano: 1998 Local: Carlos Barbosa/RS Situação atual: Executado parcialmente 59 Projeto: Sala Galeria Monza – Escritório CL Araujo Autor: Arq. Claudio Luiz Araujo Ano: 1998 Local: Porto Alegre/RS Situação atual: Desativado Projeto: Consultório Leandro Branchtein Contratante: Leandro Branchtein Autor: Arq. Claudio Luiz Araujo Ano: 1998 Local: Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Projeto: Consultório Renato Heller Contratante: Renato Heller Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Arq. Sandra Mara Tietböhl Boeira Complementares: Elétrica, Telefone, Som: Arq. Cláudio Araújo Ano: 1999 Área de Projeto: 33m² Local: Praça Dom Feliciano 78 cj. 407, Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Projeto: Urbanização Praça Cívica e Pórtico Câmara Municipal de Vereadores Contratante: Câmara Municipal de Vereadores Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1999 Local: Porto Alegre/RS 60 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Projeto: Tramontina Farroupilha SA/ Nova Expedição Contratante: Tramontina S/A Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet e Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Arq. Daniel Pitta Fischmann Complementares: Fornecedores: Área Construída: 10728,78m² Ano: 2000 Local: Rua das Indústrias/Farroupilha/RS Situação atual: Projeto: Clinica Central Médica Carlos Chagas Contratante: Gildo Irineu Coifman Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Arq. Daniel Pitta Fischmann; Arq. André Luís Pereira Nunes Complementares: Comunicação Visual Arq. Cláudio Araújo; Estrutural: JBMR Projetos Estruturais e Construções ltda.; Elétrico, Hidráulico, PPCI, Telefonia: Eng. Werner Heinz Feliz Laub; Condicionamento de Ar: Eng. Carlos Martinez Medeiros; Instalações das Centrais e Redes de Distribuição: Air Liquide; Levantamento Planialtimétrico: Cabistani Topografia Fornecedores: Companhia de Móveis 3S Área Construída: 2047,98m² Ano: 2000 Local: Av. Protásio Alves, 2289/Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Projeto: Vista Alegre (Nova Fábrica) Contratante: Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 2000 Área de Projeto: Local: Projeto: Auditório Uniritter – Centro Universitário Ritter dos Reis Contratante: Sociedade de Educação Ritter dos Reis Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Arq. Daniel Pitta Fischmann; Arq. Marcel Gregory Trescastro; Arq. André Luís Pereira Nunes; Arq. Lourenço. Carlos Henrique Neves; Arq. Rodrigo Conceição Azevedo, Complementares: Estruturas de Concreto e Pré-fabricadas: Eng. João Baptista Rosa, Eng. Renato Azevedo, Eng. Renato Garcia; Instalações elétricas e Hidrossanitárias: Eng. Werner Heinz Feliz Laub, Eng. Mauro Medeiros, Eng. Cláudio Meneghetti; Climatização: Eng. Carlos Martinez Medeiros; Acústica: Arq. Flávio Simões; Cenotécnia e Luminotécnico: CINEPLAST, Pedro Figueiredo, Osvaldo Perrenaud, Arq. Anna Maria Hennes; Pré-fabricação e Construção: Premold; PPCI: Eng. Cláudio Hanssen, Eng. Ricardo Azevedo Fornecedores: Premold Área construída: 1245,00 m² Ano: 2001 Local: Local Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Referência: Summa +, nº86, pg.12, 150-157 61 atelier. Projeto: Centro Universitário Ritter dos Reis/Bloco A – Ampliação do restaurante , centro acadêmico, lojas e atelier Contratante: Sociedade de Educação Ritter dos Reis Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo; Arq, Charles René. Hugaud Colaboradores: Arq. Daniel Pitta Fischmann; Arq. Marcel Trescastro; Arq. Luiz Izidoro Boeira Consultoria Complementares: Sanitários Especiais: Eng. Werner Heinz Feliz Laub; GRS Engenharia; Cobertura Refeitório: Geraldo Wolf Engenharia e Consultoria Ltda; Pontos Elétrica, Hidráulica, Gás: Planner Arquitetura; Fornecedores: Fornecedores: Premold Área construída: 311,00m² Ano: 2001 Local: Rua Orfanotrófio, 555/Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Projeto: Apartamento Gildo Coifman Contratante: Gildo Coifman Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 2001 Área de Projeto: Local: Projeto: Uniritter Bloco D – Salas de Aula Contratante: Sociedade de Educação Ritter dos Reis Autor: Arq.Claudio Luiz Araujo Colaboradores: Arq.Daniel Pitta Fischmann; Arq. Marcel Gregory Trescastro; Arq. André Luís Pereira Nunes; Arq. Rodrigo Conceição Complementares: Projeto Elétrico e Hidrossanitário: CM Engenharia; Luminotécnico: Arq. Anna Maria Hennes; Estrutural: Premold Fornecedores: Premold Ano: 2002 Área Construída: 5247,45m² Local: Rua Orfanotrófio, 555/Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso Projeto: Concurso Procuradoria Regional da República Guilherme Autor: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. André Luiz Nunes, Arq. Rodrigo Conceição, Arq. Marcel Trescastro, Arq.Luciane Kinsel, Arq. Guilherme Werlle, Arq. Cristiano (Maquete Ano: 2004 Local: Porto Alegre/RS Projeto: Lanceiros Negros - Concurso Público Nacional de Arquitetura - Monumento em Porto Alegre e Memorial em Porongos (2º lugar) Contratante: Ministério da Cultura, Fundação Cultural Palmares, IAB/RS, Prefeitura Municipal de Pinheiro Machado/RS, Prefeitura Municipal de Porto Alegre/RS, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Movimento de Justiça e Direitos Humanos Autor: Arq. Cláudio Luiz Araújo, Arq. Sérgio Moacir Marques Colaboradores: Arq. Ana Claudia Vettoretti - Arq. André Luis Pereira Nunes - Arq. Carlos Henrique Neves Lourenço - Arq. Mônica Luce Bohrer - Eng. Cloraldino Soares Severo (Estradas) - Geol. Everton Luiz Pimenta Meira (Geologia) - Eng. João Batista Machado Rosa (Estruturas) - Arq. Moacyr Moojen Marques (Urbanismo) - Eng. Agr. Ronald Jamieson (Paisagismo) - Nestor Monastério (Cenografia/Cenotécnia) - Caé Braga (Esculturas) 62 Cronologia Ilustrada - Cláudio L. G. Araújo Anexo I Ano: 2006 Área Construída: Local: Pinheiro Machado/RS Situação atual: Somente Projeto Projeto: Interiores Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre Contratante: Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre Equipe: Arq. Claudio Luiz Araujo Colaboração: Técnico em Edificações: Paulo Pfutzenreuter (2009-2012) Complementares: Estrutural: Eng. Haroldo Froes de Azambuja, Eng. João Baptista Machado Rosa (2009) / Elétrico, Hidráulico, Telefônico: Eng. Werner Félix Laub Desenho: Desenho Henrique Peixoto, Eduardo Galvão, Nanette Alvarez, Eron, M. Isabel Kaman, Julio Grieco, Paulo Pfutzenreuter Fornecedores: Construtora Scorza e outros Ano: 1975/201? Área: 14.185,00m² Local: Av. Loureiro da Silva, 255/Porto Alegre/RS Situação atual: Restauração e complementação. Projetos e obras em andamento 63 M 1954/20 2006 CRONOLOGIA ILUSTRADA - 1954/20 06 OBSERVAÇÕES: 1. A Cronologia ilustrada de Moacyr Moojen Marques foi realizada com base em seu Curriculum Vitae, consulta ao seu acervo particular, atualmente depositado no Escritório MooMAA - Moojen & Marques Arquitetos Associados, contatos com antigos clientes, colaboradores e visitas as obras realizadas conjuntamente. O trabalho foi realizado com o auxilio de bolsistas de iniciação científica (B.I.C.) da FAU-Uniritter, sob minha supervisão; 2. A cronologia ilustrada reúne as obras/projetos principais de Moojen, ou equipe, agrupadas em sequência cronológica a partir da data de inicio do trabalho, quando identificada (em alguns casos ainda não há confirmação em relação a datas de inicio de projeto e conclusão da obra). Foram adotadas as datas mais antigas encontradas (entre currículo, plantas e documentação), para sinalizar o inicio do trabalho e as mais recentes, para a conclusão da obra ou projeto; 2. Alguns projetos foram recebendo acréscimos e extensões posteriores, realizadas por Moojen ou equipe, que não estão citados na cronologia, mas constam no curriculum vitae do arquiteto, em anexo; 3. Os dados e imagens correspondentes ainda não estão completos. O levantamento destas informações encontra-se em andamento no projeto de constituição do Acervo "Fayet, Araújo & Moojen" em andamento, que deve prosseguir até sua estruturação completa. 4. A fonte das imagens está indicada em cada obra, quando é o caso. As não indicadas são integrantes do acervo FAM. 66 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Residência Álvaro Nunes Contratante: Sr. Álvaro Nunes Autor: Moacyr Moojen Marques Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1954 Área Construída: Local: Lagoa Vermelha/RS Condição atual: Projeto: Edifício Phenix Contratante: Construtora Mello Pedreira S.A./ Seguradora Phenix S.A Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1955 Área Construída: Local: Praça XV de Novembro, Centro, Porto Alegre/RS Condição atual: em uso/modificado Projeto: Refeitório do SESC Contratante: Construtora Mello Pedreira S.A./ Serviço Social do Comércio - RS - SESC Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1955 Área Construída: Local: Rua Vigário José Inácio, 718, Centro, Porto Alegre/RS Condição atual: Demolido 67 Projeto: Residência Álvaro Torres Contratante: Sr. Álvaro Torres Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1955/1957 Área Construída: Local: Petrópolis, Porto Alegre/RS Condição atual: Demolida Projeto: Residência Dr. Derly Monteiro Contratante: Dr. Derly Monteiro Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1955/1957 Área Construída: Local: Petrópolis, Porto Alegre/RS Condição atual: Demolida Projeto: Sede Campestre do SESC - início do Plano Diretor Contratante: Construtora Mello Pedreira S.A./ Serviço Social do Comércio - RS - SESC Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky (1° Etapa), Arq. João José Vallandro (2° Etapa), Léo Ferreira da Silva (3° Etapa) Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1956/1975 Área Construída: Local: Avenida Protásio Alves, Esq. Rua Ernesto Pellanda, Vila Jardim, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso, ampliado Projeto: Banco de Esquina Contratante: Construtora Mello Pedreira S.A./ Banco Nacional do Comércio Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1956 Área Construída: Local: Projeto Padrão Condição atual: Não foi implantado 68 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Creche Municipal Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1956 Área Construída: Local: Praça Intendente Montaury, Avenida 24 de Outubro, Moinhos de Vento, Porto Alegre/RS Condição atual: Não implantado Projeto: Plano Diretor de Porto Alegre (Plano Paiva - 1959) Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Integrantes da equipe - Edvaldo P. Paiva (Coord.), Demétrio Ribeiro, Roberto Félix Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr M. Marques e equipe Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1956/1979 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condição atual: Implantado/atualizado Projeto: Urbanização da Praia de Belas (Plano Paiva - 1959) Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Eng. Edvaldo P. Paiva (Coord.), Roberto Félix Veronese, Carlos M. Fayet (Coord.), Moacyr M. Marques e equipe Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1956/1959 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condição atual: Implantado/atualizado Projeto: Traçado - Avenida Primeira Perimetral Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Eng. Edvaldo P. Paiva (Coord.), Ubatuba de Farias, Roberto Félix Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr M. Marques e equipe Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1956 - 1959 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condição atual: Implantado/atualizado Projeto: Desenho Urbano - Avenida Primeira Perimetral. Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA Autor: Eng. Edvaldo P. Paiva (Coord.), Demétrio Ribeiro, Roberto Félix Veronese, Carlos M. Fayet, Moacyr M. Marques (Coord.) e equipe Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1956 - 1959 69 Área Construída: Local: I Perimetral, (Entre a Av. Borges de Medeiros e Av. João Pessoa), Porto Alegre/RS Condição atual: Implantado/atualizado Projeto: Reloteamento da Ilhota Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA Autor: Eng. Edvaldo P. Paiva (Coord.), Moacyr M. Marques (Coord.) e equipe Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1956 - 1959 Área Construída: Local: Ihota/Porto Alegre/RS Condição atual: Implantado/atualizado Projeto: Traçado para o Morro Santa Teresa Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA Autor: Eng. Edvaldo P. Paiva (Coord.), Moacyr M. Marques (Coord.) e equipe Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1956 - 1959 Área Construída: Local: Morro Santa Teresa/Porto Alegre/RS Condição atual: Implantado/atualizado Projeto: Edifício Sede da Carris Porto Alegrense Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Rodolfo Siegfried Matte Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1957 Área Construída: Local: Avenida Av. João Pessoa esq. Av. Loureiro da Silva, Cidade Baixa, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso, com modificações 70 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Hotel Guaibinha Contratante: Construtora Mello Pedreira S.A./ Sociedade Guaibinha Hotéis Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky Complementares: Fornecedores: Ano: 1957 Área:m² Local: Avenida Duque de Caxias próximo esq. General Auto, Porto Alegre/RS Condição atual: Parcialmente construído e modificado Projeto: Edifício José Pilla Contratante: Construtora Mello Pedreira S.A./ Sociedade Guaibinha Hotéis Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky Complementares: Fornecedores: Ano: 1957 Área:m² Local: Avenida Independência, esq. Santo Antônio, Porto Alegre Condição atual: Em uso Projeto: Projeto de Urbanização e Arquitetônico para um núcleo ferroviário para Santa Maria (CAPFESP) Contratante: Prefeitura Municipal de Santa Maria Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Rodolfo Sigfried Matte, Arq. Suely Franco Neto Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1957 Área:m² Local: Santa Maria/RS Projeto: Residência Martins Bastos Filho Contratante: Sr. Ângelo Martins Bastos Filho Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1957 Área:m² Local: Uruguaiana/RS 71 Projeto: Plano Diretor do Delta do Jacuí (1 ° Lugar - Concurso) Contratante: Governo do Estado do Rio Grande do Sul Autor: Eng. Edvaldo P. Paiva, Arqs. Roberto F. Veronese, Carlos Maximiliano Fayet, Moacyr M. Marques Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1958 Área Construída: Local: Grande Porto Alegre/RS Projeto: Residência Mello Pedreira Contratante: Engenheiro Joaquim Alfredo de Mello Pedreira Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1958 Área:m² Local: Rua Lucas de Oliveira, Porto Alegre/RS Condição Atual: Demolida Projeto: Casa de Ipanema Contratante: Empreendimento próprio Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1958 Área:130,00m² Local: Rua D. Pio Ângelo, 45, Ipanema, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso, reformada. Projeto: Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (Concurso - Menção Honrosa) Contratante: Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Marcus David Hekman, Arq. Luiz Carlos Cunha Ano: 1958 Área Construída: Local: Praça da Matriz, Centro, Porto Alegre/RS 72 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Sede Campestre - Clube Recreio da Juventude (Primeiro lugar na Categoria "Edifícios de Recreação e Esporte", e Medalha de Prata do I Salão de Arquitetura IAB/RS) Contratante: Clube Recreio da Juventude Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Roberto Félix Veronese Complementares: Fornecedores: Ano:1958 Área:m² Local: Caxias do Sul/RS Condição Atual: Não foi construído Projeto: Auditório Araújo Vianna - (Primeiro lugar na Categoria de "Problemas Vários" - Medalha de Prata do I Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul, IAB/RS) Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Moacyr Moojen Marques Complementares: Fornecedores: Ano: 1958/1962 Área Construída: 4.500 espectadores Local: Parque Farroupilha, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em revitalização Projeto: Prédio de apartamentos e instalações do Banco Nacional do Comércio Contratante: Construtora Mello Pedreira S. A./ Banco Nacional do Comércio Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1959 Área:m² Local: Rio Grande/RS Condição atual: Em uso 73 Projeto: Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA (Concurso - Menção Honrosa) Contratante: Centro Evangélico de Porto Alegre - CEPA Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Nestor Nadruz Ano: 1959 Área Construída: Local: Rua Senhor dos Passos, 202, Porto Alegre/RS Projeto: Concurso Iate Clube de Londrina (Concurso - Menção Honrosa) Contratante: Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Luiz Carlos da Cunha, Arq. Fernando Gonzales, Arq. Marcos Hekman Complementares: Fornecedores: Ano:1959 Área:m² Local: Londrina/PR Projeto: Cantegril Club - Projeto piscinas e vestiários Contratante: Construtora Mello Pedreira S.A./ Cantegril Club Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky Complementares: Fornecedores: Ano:1959 Área:m² Local: Viamão/RS Condição Atual: Não construído Projeto: Anteprojeto Sede Campestre da Associação dos Médicos do Rio Grande do Sul - AMRGS Contratante: Associação dos Médicos do Rio Grande do Sul - AMRGS Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Nestor Nadruz Complementares: Fornecedores: Ano:1959 Área:m² Local: Porto Alegre/RS Condição Atual: Não Construído 74 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Anteprojeto Sede Metropolitana da Associação dos Médicos do Rio Grande do Sul - AMRGS Contratante: Associação dos Médicos do Rio Grande do Sul - AMRGS Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Nestor Nadruz Complementares: Fornecedores: Ano:1959 Área:m² Local: Porto Alegre/RS Condição Atual: Não Construído Projeto: Churrascaria Contratante: Sr. Guilherme Heller Fitchner Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Suzy B. Fayet Ano: 1959 Área Construída: Local: Guaíba/RS Situação Atual: Não construído Projeto: Residência Sr. Rubem Vasconcellos - (Menção Honrosa na Categoria de "Habitação Individual", II Salão de Arquitetura da IAB/RS, 1962) Contratante: Sr. Rubem Vasconcellos Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1960 Área:m² Local: Área Rural, Rosário do Sul/RS Condição Atual: Não construída Projeto: Centro Comercial Otto Niemeyer Contratante: Construtora Mello Pedreira Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1960(?) Área:m² Local: Avenida Otto Niemeyer, Porto Alegre/RS Condição Atual: Não Construído 75 Projeto: Edifício Carlos Torely- Edifício de escritórios e lojas Contratante: Construtora Melo Pedreira S. A. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Joaquim Max Warchavsky Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1960 Área:m² Local: Rua dos Andradas n. 1270, Centro, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Coordenação do Planejamento das Extensões A, B, C e D do Plano Diretor de Porto Alegre - Instituído pelos Decretos nos 2.872/64 - 3.481/72 e 4.552/72 e 5.162/75. Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques e Equipe da Secretaria do Planejamento Municipal - SPM Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1961 a 1975 Local: Porto Alegre e Região Metropolitana/RS Condição Atual: Implantado, Atualizado Projeto: Residência Salomão Furer Contratante: Sr. Salomão Furer Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Marcos D. Hekman Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1962 Área:m² Local: Rua Avenida Ganzo, Menino Deus, Porto Alegre/RS 76 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Condição Atual: Demolida Projeto: REFAP - Conjunto das Edificações da Refinaria Alberto Pasqualini - ( Medalha de Ouro Melhor, Projeto Construído - 4º Salão de Arquitetura do RS, IAB-RS, 1968)(Apresentado na Bienal de Arquitetura – Tradição e Ruptura – 19/11/1984 a 31/05/1985) Contratante: Petrobras S.A. Colaboração: Eng. Cloraldino Severo Autores: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos M. F. Fayet, Arq. Claudio L. G. Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques e Arq. Miguel A. Pereira Complementares: Cálculo Estrutural: Eng. Dicran Gureghian (cálculo concreto), Eng. Eugênio Knorr, Eng. Fernando Campos de Souza e Eng. Raul Rego Faillace (Técnicas construtivas e especificações), Eng. Bojunga Dias e Eng. Milton Campos (Instalações elétricas, hidráulicas e ar-condicionado), Eng. Cloraldino Severo (Acesso viário BR-116) Construtoras: Melo Pedreira, Azevedo Moura & Gertum, Tedesco e outras. Ano: 1962-1968 Área: 50.000m² Condição atual: Mantidas as obras projetadas Publicação: Revista Projeto Janeiro/Fevereiro de 1994 nº171; Bienal Tradição e Ruptura – Arquitetura, Nov 1984 – Jan 1985, pg. 30 Local: Rodovia BR 101 Km 13, Canoas/RS Condição Atual: Em uso Fotografias: João Alberto da Fonseca – Acervo FAM Projeto: Residência Maurício Sirotsky Sobrinho Contratante: Sr. Maurício Sirotsky Sobrinho Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Marcos David Hekman Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1963 Área:m² Local: Rua Gal. Idelfonso Siomões Lopes, Três Figueiras, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso, completamente alterada 77 Projeto: Edifício Residencial FAM Contratante: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques Complementares: Estrutural Eng. Fernando Campos de Souza; Estaqueamento Estasul e Bojunga Dias (Elétrico e Hidráulico); Ar-Condicionado: Tecnoclima; Elevadores: SUR Execução: Obra realizada pelos autores do Projeto Ano: 1964/ 1968 Área: 832m² Local: Rua Vicente de Paula Dutra, 225 - Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso Referência: Architetture Contemporanea Brasile ,1ªEd. Outubro 2008, Editora Motta, Renato Anelli, pg.44 / Summa +, nº58, pg.26 Condição Atual: Em uso com ampliações e modificações Projeto: Usina Termoelétrica Candiota II- Presidente Médici - Prédios industriais e administrativos Contratante: Companhia Estadual de Energia Elétrica - CEEE Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Edson Zanckin Alice Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1965/1974 Área:m² Local: Candiota/RS Condição Atual: Em uso com ampliações e modificações Projeto: Pescal - Projeto de Reciclagem de Pavilhões Industriais e Administrativos Contratante: Pescal Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques e Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1966 Área:m² Local: Rio Grande/RS Condição atual: Em uso 78 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Conjunto Residencial para a Siderúrgica Aços Finos Piratini S.A. Contratante: Aços Finos Piratini S.A Autores: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Arq. Claudio Luiz Araújo, Arq. Moacyr Moojen Marques Ano:1966 Local: Charqueadas/RS Condição atual: Em uso Projeto: Clube do Professor Gaúcho do Rio Grande do Sul Contratante: Associação do Professor Gaucho do Rio Grande do Sul - APGRS Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1966 Área:m² Local: Avenida Guaíba, n. 12060,Ipanema,Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso com modificações Projeto: Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV) Contratante:Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Arq. Léo Ferreira Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1966 Área:m² Local: Avenida Borges de Medeiros, Praia de Belas, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso com modificações Projeto: Sede Campestre do SESC - Pórtico Contratante: Serviço Social do Comércio - RS - SESC Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Léo Ferreira da Silva Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1966 Área:m² Local: Avenida Protásio Alves, Esq. Rua Ernesto Pellanda, Vila Jardim, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso Projeto: Hospital de Cardiologia Contratante: Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1966/70 Área:m² Local: Porto Alegre/RS 79 Condição atual: Em uso, completamente alterado Projeto: Estudos para a Formação da Região Metropolitana de Porto Alegre Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autores: Secção de Planejamento - Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. Roberto Py Gomes da Silveira. Secção de Estudos Econômicos e Pesquisas _ Urb. Francisco Rio Pardense de Macedo, Arq. Robert Levy, Arq. João Paulo Umpierre Pohlmann Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1967 Área:m² Local: Porto Alegre/RS Condição atual: Implementado Projeto: Paisagismo para a Praça Primeiro de Maio Contratante: Prefeitura Municipal de Estância Velha Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Marcos David Hekman Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1967 Área:m² Local: Estância Velha/RS Condição Atual: Em uso com modificações 80 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Casa do Comandante Binz Contratante: Comandante. Binz Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Marcos David Hekman Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1967 Área:m² Local: Avenida Guaíba, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso, alugada para uma empresa de advocacia Projeto: Entroncamento Rodoviário BR 116-Km 13-REFAP Contratante: Autor: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Cláudio L. G. Araújo, Arq. Moacyr M. Marques, Arq. Miguel A. Pereira Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1967/1968 Área Construída: Local: BR 116-Km 13, Canoas/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Sede Campestre do SESC - Ginásio de Esportes Contratante: Serviço Social do Comércio - RS - SESC Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1968 Área:m² Local: Avenida Protásio Alves, Esq. Rua Ernesto Pellanda, Vila Jardim, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso Projeto: Sede Campestre do SESC - Restaurante Contratante: Serviço Social do Comércio - RS - SESC Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1968 Área:m² Local: Avenida Protásio Alves, Esq. Rua Ernesto Pellanda, Vila Jardim, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso 81 Projeto: INPS Sapiranga Contratante: Instituto Nacional de Previdência Social - INPS Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Marcos David Hekman Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1968 Área:m² Local: Sapiranga/RS Condição Atual: Projeto: TEDUT - Conjunto das Edificações - Urbanismo e Paisagismo para o Terminal Almirante Soares Dutra Contratante: Petrobras S.A. Autores: Equipe de Arquitetos - Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques, Miguel Pereira Colaboração: Eng. Eugênio Knorr , Eng.Gureghian (estruturas), Eng. Fernando Campos de Souza e Eng. Raul Rego Faillace (Técnicas construtivas e especificações), Bojunga Dias (Instalações elétricas, hidráulicas e ar-condicionado) Ano:1968 Local: Osório/RS Condição atual: Em uso com ampliações e modificações Projeto: Conjunto Residencial para a Cooperativa Habitacional dos Bancários Contratante: INOCOP Autores: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Claudio Luiz Araújo, Arq. Moacyr Moojen Marques Ano:1968 Local: Rua Silveira, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso Foto: Arq. Sergio Marques, 2010 Projeto: Residência Dr. Jaime Milnitsky Contratante: Dr. Jaime Milnitsky Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1968 Área:m² Local: Rua Dario Pederneiras, Petrópolis/RS Condição atual: Em uso Projeto: Residência Eng. Fernando Campos de Souza Contratante: Eng. Fernando Campos de Souza Autores: Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. Moacyr Moojen Marques Complementares: Estrutural, especificações e obra: Eng. Fernando Campos de Souza; Ano: 1969 Área: 310,50m² Local: Rua Cel. Corrêa Lima esq. Cleveland - Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso 82 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Residência Dr. Henrique Naschold Contratante: Dr. Henrique Naschold Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1969 Área:m² Local: Rua Alfredo Schutt, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre/RS Projeto: Edifício de apartamentos para a Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil (APLUB) Contratante: Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil - APLUB Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1969 Área:m² Local: Praça da Matriz, Centro, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Sede da Companhia Telefônica Rio-grandense (CRT) Contratante: Companhia Telefônica Rio-grandense (CRT) Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Arq. Léo Ferreira da Silva Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1970/76 Área:m² Local: Alegrete/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Edifício Habitação Coletiva - Solar da Vitória Contratante: Eimol Empreendimentos Imobiliários Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1971 Área:m² Local: Rua Ramiro Barcelos, n.1660, Bairro Independencia, Porto Alegre/RS 83 Condição Atual: Em uso Projeto: Praça Eng. Guilherme Gaudenzi Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: Década de 1970 Área: Local: Rua Dr. Vicente de Paula Dutra, Praia de Belas, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso, com modificações Projeto: Condomínio de Habitações Jardim Humaitá Contratante: Coemi Construção Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: Área:m² Local: Bairro Humaitá, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso Projeto: Loteamento Parque Dr. Ernesto Diprimio Beck Contratante: Companhia Predial e Agrícola S/A Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: Década de 1970 Área:m² Local: Guarujá, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso 84 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Aeroporto Salgado Filho - Projeto de Ampliação, recuperação e interiores Contratante: Mello Pedreira Engenharia e Construções Ltda./ D.A.C. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Léo Ferreira da Silva, João José Vallandro, Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1969/1971 Área:m² Local: Avenida dos Estados, esq. Praça Comendador Carlos Ruhl/Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso com modificações Projeto: Plano Diretor Urbano de Esteio Contratante: Prefeitura Municipal de Esteio Autor: Urbasul - Arq. Demétrio Ribeiro, Arq. Roberto Félix Veronese, Arq. Carlos Maximiliano Fayet , Moacyr Moojen Marques e equipe Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1970/1971 Área Construída: Local: Esteio/RS Condição Atual: Implantado parcialmente, atualizado Projeto: Edifício Administrativo da Hidráulica Moinhos de Vento Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. Pedro Ignácio Grings Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1971 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso, com modificações Projeto: Ed. Sede da Gus Livonius Construções Ltda. Contratante: Eng. Gus Livonius e Sá Engenharia e Construções ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. Pedro Ignácio Grings Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1972 Área:m² Local: Avenida Cristiano Fischer, Porto Alegre/RS Condição Atual: 85 Projeto: Centro Cultural e Lazer – SESC São Pedro Contratante: Serviço Social do Comércio do Rio Grande do Sul Autor: Urbasul - Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1972 Área Construída: Local: Av. Brasil Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso, modificado Projeto: Plano Piloto para o Parque Estadual de Itapuã Contratante: Grupo Executivo da Região Metropolitana-GERM Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1972/1975 Área:m² Local: Viamão/RS Condição Atual: Implantado parcialmente. Em uso Projeto: Residência Dr. Almir Nacul Moojen Contratante: Dr. Almir Moojen Nacul Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Pedro Ignácio Grings Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1973 Área:m² Local: Avenida Guaíba, Vila Assunção, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso 86 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Centro Comercial da Tristeza Contratante: Casil Empreendimentos Imobiliários Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Arq. Léo Ferreira da Silva Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1973 Área:m² Local: Avenida Wenceslau Escobar, Tristeza, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Projeto para Agência Ford da BR - 116 Contratante: Copagra S/A Autores: Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1973 Área:m² Local: Canoas/RS Condição Atual: , com modificações Projeto: Sede Náutica - Grêmio Foot- Ball Porto-Alegrense Contratante: Grêmio Foot- ball Porto-Alegrense Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1973/1976 Área:m² Local: Avenida Diário de Notícias, Cristal, Porto Alegre/RS Condição Atual: Não construído Projeto: Loteamento Parque Industrial Benópolis Contratante: Urbanizadora Mentz S. A. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1974 Área:m² Local: Bairro Humaitá, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso 87 Projeto: Residência Carlos Marques D´Almeida Contratante: Sr. Carlos Marques D´Almeida Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1974 Área:m² Local: Atlântida/RS Condição Atual: Em uso Projeto: INPS Carazinho Contratante: Instituto Nacional de Previdência Social - INPS Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Marcos David Hekman Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1974 Área:m² Local: Carazinho/RS Condição Atual: Projeto: Plano Piloto Parque Saint Hilaire Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Morbini, Arq. Ligia Botta, Arq. Edison Zanckin Alice Colaboração: Agr. Rui Krug, Ildo Rafaeli, Geol. Paulo Knijnik Complementares: Fornecedores: Ano: 1974/1975 Área:m² Local: Parque Saint Hilaire, Viamão/RS Condição Atual: Parcialmente implantado 88 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Sede Administrativa Regional SESC Contratante: Serviço Social do Comércio do Rio Grande do Sul Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Arq. Léo Ferreira da Silva Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1975 Área:m² Local: Avenida Alberto Bins, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso, modificado Projeto: Quinta Zona Aérea- Projeto de Reciclagem do refeitório, cassino dos oficiais e prédio do quartel general Contratante: Força Aérea Brasileira Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:1975 Área:m² Local: Canoas/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Gerência do PROPLAN - Programa de Reavaliação do Plano Diretor - I PDDU - I Plano de Desenvolvimento Urbano de Porto Alegre - Lei Complementar no 43/19, 1979 Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques e Equipe da Secretaria do Planejamento Municipal - SPM Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1975/1979 Local: Porto Alegre e Região Metropolitana/RS Condição Atual: Implantado, Atualizado 89 Projeto: Caixa Econômica Federal – Agência Jaguari Contratante: Caixa Econômica Federal - CEF Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. Pedro Ignácio Grings Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1976 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condição Atual: Não Construída Projeto: Caixa Econômica Federal – Agência Taquari Contratante: Caixa Econômica Federal - CEF Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. Pedro Ignácio Grings Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1976 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condição Atual: Não Construída Projeto: Caixa Econômica Federal – Agência Guaíba Contratante: Caixa Econômica Federal - CEF Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. Pedro Ignácio Grings Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1976 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condição Atual: Não Construída Projeto: Caixa Econômica Federal – Agência Garibaldi Contratante: Caixa Econômica Federal - CEF Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. Pedro Ignácio Grings Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1976 Área Construída: Local: Garibaldi/RS Condição Atual: Não Construída 90 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Sede da Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil (APLUB) Contratante: Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil - APLUB Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1976 Área:m² Local: Largo Zumbi dos Palmares, I Perimetral, Porto Alegre/RS Condição Atual: Não construído Projeto: Cobertura para o Auditório Araújo Vianna Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autor: Arq. Carlos Maximiliano Fayet, Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1976/1984 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condição Atual: Substituída Projeto: SENAI Estância Velha Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. João José Vallandro Colaboração: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI Complementares: Fornecedores: Ano: 1977 Área:m² Local: Estância Velha/RS Condição Atual: Em uso/ Modificado Projeto: Edifício Administrativo da Hidráulica do Menino Deus Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre - DMAE Autor: Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 19? Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso, com modificações 91 Projeto: Centro Social e Cultural - SESC Bagé Contratante: Serviço Social do Comércio - RS - SESC Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Arq. Léo Ferreira da Silva Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1977 Área:m² Local: Bagé/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Complexo Multi funcional - Habitação Coletiva, Centro Profissional, Galeria Comercial - Esplanada Center Contratante: Silva Chaves Projetos e Construções Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Arq. Léo Ferreira da Silva Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1977 Área:m² Local: Av. Cristóvão Colombo, 2165, esq. Rua Quintino Bocaiúva, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Edifício Comercial Contratante: Augusto Nácul Moojen Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Pedro Ignácio Grings Complementares: Ano:1978 Local: Av. Independência, 601. Porto Alegre/RS Situação atual: Em uso, modificado Projeto: Loteamento Tapete Verde I-II Contratante:, Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Pedro Ignácio Grings Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1978 Área:m² Local: Ipanema, Porto Alegre/RS Condição atual: Implantado parcialmente 92 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Planejamento Urbano Via Expressa Sul 18Km (Concurso Interno) Contratante: Firma de planejamento Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira e Arq. Claudio Luiz Araujo Complementares: Firma de planejamento Ano:1979 Local: Florianópolis/SC Situação atual: Em uso, modificado Projeto: Loteamento Ipanema Garden Contratante: Edel Engenharia Autores: Arq. João José Vallandro, Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1979 Área:m² Local: Ipanema, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso Projeto: Loteamento Jardim Verde Ipanema Contratante: Cecla Empreendimentos Imobiliários Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1979 Área:m² Local: Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Concurso Centro Comercial Rua da Praia Contratante: GBOex Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1980 Área:m² Local: Rua dos Andradas esq. Rua Caldas Junior, Porto Alegre/RS Condição Atual: Participação 93 Projeto: Loteamento Chácara da Fumaça (A,B,C,D) Contratante: Companhia Predial e Agrícola S/A Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1980 Área:m² Local: Serraria, Porto Alegre/RS Condição atual: Não construído Projeto: Condomínio de Residências Unifamiliares Encosta do Cerro Contratante: Cecla Empreendimentos Imobiliários Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. João José Vallandro Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1980 Área:m² Local: Porto Alegre/RS Projeto: Sede Social Jockey Club do Rio Grande do Sul Contratante: Jockey Club do Rio Grande do Sul Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Arq. Léo Ferreira da Silva Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1980/1983 Área:m² Local: Av. Wenceslau Escobar (na área do atual Barra Shopping), Porto Alegre/RS Condição Atual: Não construído Projeto: Residência de veraneio Augusto e Jamil Nacul Contratante: Sr. Augusto Nácul Moojen e Jamil Nácul Moojen Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1980/1987 Área:m² Local: Torres/RS Projeto: Loteamento Parque do Sabiá Contratante: Marsial de Oliveira Incorporações Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1981 Área:m² Local: Porto Alegre/RS 94 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Plano Regulador do Uso de Solo do Litoral do Rio Grande do Sul Contratante: Secretaria de Estado do Rio Grande do Sul Autores: Arq. Claudio Ferraro, Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Claudio Luiz Araujo, Arq. José Carlos Marques Ano: 1982/1984 Local: Litoral Norte do Estado do Rio Grande do Sul Condição atual: Parcialmente implantado Projeto: Edifício na Rua Dona Maria Contratante: Sr. Waldir Maggi Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Arq. José Carlos Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1983 Área:m² Local: Rua Dona Maria, Santa Teresa, Porto Alegre/RS Condição Atual: Não construído Projeto: Centro Cultural, esportivo e Lazer - SESC Caxias Contratante: Serviço Social do Comércio - RS - SESC Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. João José Vallandro, Arq. Carlos A. Hubner Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1984 Área:m² Local: Caxias do Sul/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Condomínio Jardim Country Club Contratante: Marsial de Oliveira Incorporações Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1984 Área:m² Local: Porto Alegre/RS Projeto: Condomínio Guarujá Contratante: Cia. Predial e Agrícola Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1985 Área:m² Local: Caxias do Sul/RS 95 Condição Atual: Projeto: Condomínio Conventos de Belém Contratante: Solo – Indústria e Incorporadora Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. José Carlos Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1985 Área:m² Local: Caxias do Sul/RS Condição Atual: Projeto: Loteamento Marinas Contratante: Companhia Predial e Agrícola S/A Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. José Carlos Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1986 Área:m² Local: Serraria, Porto Alegre/RS Condição atual: Não construído Projeto: Edifício Teresópolis Contratante: Companhia Predial e Agrícola S/A Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Sergio M. Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1986 Área:m² Local: Teresópolis, Porto Alegre/RS Condição atual: Não construído Projeto: Clínica de Cirurgia Plástica - Clínica Nácul - Centro Mundial de Bioplastia - Rearquitetura e Arquitetura de Interiores Contratante: Dr. Almir Moojen Nácul Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, José Carlos Marques Colaboração: Complementares: Execução: Arq. Robert Levy, Arq. José Carlos Marques Fornecedores: Ano: 1986 Área: Local: Rua Quintino Bocaiuva 1086, Moinhos de Vento, Porto Alegre/RS Condições Atuais: Em uso com modificações 96 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Edifício São Cristóvão Contratante: Eng. Getúlio José Fantinel Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques Colaboração: Arq. Sergio M. Marques Complementares: Fornecedores: Ano: 1987 Área:m² Local: Av. Cristóvão Colombo, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Loteamento Hípica Contratante: Granja Belém Novo Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio Marques, Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1987 Área:m² Local: Estrada Juca Batista Porto Alegre/RS Condição atual: Não construído Projeto: Balneário Sambaqui - Projeto Urbano e Plano Diretor Contratante: F&M Consultoria e Planejamento Ltda., Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Cláudio Ferraro, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio M. Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1987 Área:m² Local: Xangrilá/RS Condição atual: Não construído Projeto: Pactum Diagnósticos e Direito Fiscal Tributário - Revitalização de Edifício Comercial e arq. de Interiores Contratante: Pactum Diagnósticos e Direito Fiscal Tributário Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1989 Área:m² Local: Av. Independencia, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso, completamente modificado Projeto: Conjunto Multi-funcional - Habitação Coletiva, Centro Profissional e Comércio Contratante: Construtora Solo Engenharia Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio M. Marques Colaboração Complementares: Fornecedores: Ano: 1989 97 Área:m² Local: Estrada Juca Batista n. 1030, 1130, Porto Alegre/RS Condição atual: Não construído Projeto: Hotel Raad Contratante: Srs. Anwar Raad e Munir Raad Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1989 Área:m² Local: Rua Vigário José Inácio, n.95, Porto Alegre/RS Condição Atual: Não construído Projeto: Edifício na Venâncio Aires Contratante: Arq. Cláudio Ferraro Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Cláudio Ferraro Colaboração: Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio Marques Complementares: Fornecedores: Ano: 1989 Área:m² Local: Av. Venâncio Aires, Porto Alegre/RS Condição Atual: Não construído Projeto: Edifício de Escritórios na Avenida Marcante Contratante: Eng. Getúlio José Fantinel Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Sergio Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1990 Área:m² Local: Av. Mariante, Porto Alegre/RS Condição Atual: Não construído Projeto: Residência Sr. Clory Stella Contratante: Sr. Clory Stella Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques, Ara. Sergio Marques Colaboração: Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio Marques Complementares: Fornecedores: Ano: 1991 Área:m² Local: Porto Alegre/RS Condição Atual: Não construído 98 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Centro Cultural, esportivo e Lazer - SESC Ijuí - Reciclagem (Medalha de Prata, IV Bienal de Arquitetura do RS, IAB-RS 1997) Contratante: Serviço Social do Comércio - RS - SESC Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1992 Área:m² Local: Ijuí/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Residência Joel Ramos Corte Contratante: Sr. Joel Ramos Corte Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1992 Área:m² Local: Rua Encantado, n. 30, Porto Alegre/RS Condições Atuais: Em uso Projeto: Centro Comercial Nova Olaria - (Premiado Categoria Edificação de Grande Porte - III Bienal de Arquitetura do Rio Grande do Sul, IAB/RS) (Participação na Representação Brasileira da IX Bienal Panamericana de Quito, 1994) (Edifício Comercial Nota 10, Premiação " Porto Alegre é 10" , Zero Hora, 2004) Contratante: Montepio dos Funcionários do Município de Porto Alegre - MFM Autor: Moacyr M. Marques, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio M. Marques Colaboradores: Arq. Anna Paula Canez Complementares: Fornecedores: Ano: 1993 Área Construída: 3.897,00m² Local: Avenida Gal. Lima e Silva, Cidade Baixa, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso, modificado Projeto: Centro Cultural Loureiro da Silva - (Premiado Categoria Edificação de Grande Porte - III Bienal de Arquitetura do Rio Grande do Sul, IAB/RS) Contratante: Montepio dos Funcionários do Município de Porto Alegre - MFM Autor: Moacyr M. Marques, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio M. Marques Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1993 Área Construída: Local: Rua Luis Afonso, Cidade Baixa, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso, modificado 99 Projeto: Residência Anwar Raad Contratante: Sr. Anwar Raad Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1993 Área:m² Local: Avenida Beira Mar, Atlântida/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Concurso Público Nacional Muro da Mauá (2º Lugar) Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Claudio Luiz Araujo , Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio M Marques Colaboração: Arq. Julio Vargas, Acad. Lucia Silveira Araújo, Desenhista Paulo Psutzenreuter Ano: 1994 Local: Porto Alegre/RS Projeto: Residência Gilberto Peressuti Contratante: Eng. Gilberto Peressuti Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques Colaboração: Complementares: Construção Eng. Gilberto Peresuti Fornecedores: Ano: 1994 Área:m² Local: Rua Dr. Pio Ângelo, Ipanema, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Reavaliação do Plano Diretor de Canoas/RS Contratante: Prefeitura Municipal de Canoas Autor: Moacyr M. Marques, Arq. Cláudio Ferraro, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio M. Marques Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1995 Área Construída: Local: Canoas/RS Condição atual: Parcialmente implantado Projeto: Sede Administrativa MFM Contratante: Montepio dos Funcionários do Município de Porto Alegre - MFM Autor: Moacyr M. Marques, Arq. José Carlos Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1995 100 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Área Construída: Local: Avenida Julio de Castilhos, Centro, Porto Alegre/RS Condição atual: Não construído Projeto: Edifício Ivo Corseuil Contratante: Eng. Getúlio José Fantinel Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio M. Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1996 Área:m² Local: Rua Ivo Corseuil, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Residência Ricardo Cauduro Neto Contratante: Sr. Ricardo Cauduro Neto Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1996/1999 Área: 498,50 m² Local: Condomínio Jardim do Sol, Ipanema, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Estudo de Viabilidade para urbanização do Morro da Glória e Santuário Nossa Senhora Mãe de Deus Contratante: Construtora Marsiaj de Oliveira Incorporações Ltda. Autores: Arq. Claudio Ferraro, Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio Marques Ano: Local: Morro da Glória, Porto Alegre/RS Condição atual: Parcialmente implantado 101 Projeto: Plano Diretor de São Francisco de Paula (Licitação - 1° Lugar) Contratante: Prefeitura Municipal de São Francisco de Paula Autor: Moacyr M. Marques, Arq. Cláudio Ferraro, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio M. Marques Colaboradores: Complementares: Fornecedores: Ano: 1996/1997 Área Construída: Local: Canoas/RS Condição atual: Parcialmente implantado Projeto: Edifício Dona Leonor Contratante: Eng. Getúlio José Fantinel Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio Marques, Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 1997 Área: Local: Rua Dona Leonor, Porto Alegre/RS Condição Atual: Não construído Projeto: Indústria Gráfica Impressul Contratante: Indústrias Gráficas Impressul Ltda. Autor: Moacyr M. Marques, Arq. Sergio M. Marques Colaboradores: Ano: 1998 Área Construída: Local: Porto Alegre/RS Condição atual: Não construído Projeto: Parque Tecnológico CIENTEC (Concurso Nacional de Projetos - 1° Lugar) Contratante: Fundação de Ciências e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul - CIENTEC Autor: Moacyr M. Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio M. Marques Colaboradores: Arq. Valéria Odriozola Peralta, Arq.. Francine Ramil, Arq. Monica Luce Bohrer Complementares: Fornecedores: Ano: 1999 Área Construída: Local: Cachoeirinha/RS Condição atual: Não construído 102 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Projeto: Ampliação Sede Administrativa Regional SESC RS Contratante: Serviço Social do Comércio do Rio Grande do Sul Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio M. Marques, Arq. Léo Ferreira da Silva Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano:2000 Área:m² Local: Avenida Alberto Bins, Porto Alegre/RS Condição Atual: Não construído Projeto: Centro Comercial Paseo Kolman e revitalização do Hotel Kolman Contratante: Kolman Hotel Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio Marques Colaboração: Arq. Monica Luce Bohrer Complementares: Fornecedores: Ano: 2000/2004 Área: Área 4.000,00m² Local: Capão da Canoa/RS Condição atual: Em uso, Parcialmente implantado Projeto: Centro de Cultura e Arte - Grupo Corpo (Concurso Nacional - Participação) Contratante: Autores: Arq. Sergio M. Marques, Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Daniel Pitta, Arq. Ingrid Lermen, Arq. Marcel Trescastro, Arq. Maria Clara Sardi, Colaboração: Eng. Geraldo Wolff, Eng. Flávio Simões, Eng. Nelson Turik, Eng. Carlos Medeiros, Acad. Helena Bridi Complementares: Fornecedores: Ano: 2001 Área: 26.176,15m² Local: Belo Horizonte/MG Projeto: Sede da Associação dos Servidores da Secretaria de Educação e Cultura do Estado - ASSEC. Arquitetura de interiores Contratante: Associação dos Servidores da Secretaria de Educação e Cultura do Estado - ASSEC Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Sergio Marques, Arq. José Carlos Marques, Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 2001 Área: Local: Travessa Leonardo Tudra, Ed. Formac, Centro, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso, Parcialmente implantado 103 Projeto: Área de Lazer Contratante: Construtora PREMOLD Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Cláudio L. G. Araújo, Arq. Sergio Marques, Arq. José Carlos Marques, Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 2001 Área: Local: Sapucaia do Sul/RS Condição atual: Em uso Projeto: Plano Diretor de Área industrial e Pavilhão industrial - Borrachas Tipler Ltda Ltda. Contratante: Borrachas Tipler Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Sergio Marques Colaboração: Arq. José Carlos Marques, Arq. Ingrid Lermen, Arq. Francine Ramil Complementares: Renato Garcia (concreto), Medabil Varco Pruden (metálica), Estrutural. Instalações Industriais: SPM Construtora Premold Fornecedores: Ano: 2002/2004 Área: Área industrial: 10 ha - Pavilhão Industrial 23.350,00m² Local: São Leopoldo/RS Condição atual: Em uso, Parcialmente implantado Projeto: Revitalização do Edifício Instituto de Arquitetos do Brasil - fachadas, hall, áreas de uso comum, cobertura e programação visual Contratante: Condomínio do Edifício Instituto de Arquitetos do Brasil Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Sergio Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 2002/2009 Área: Local: Rua Prof. Annes Dias, 166, Centro, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso, Parcialmente implantado Projeto: Centro Comercial Jardins da Praça Contratante: Dallasanta Empreendimentos Imobiliários Ltda. Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Sergio Marques Colaboração: Arq. Monica Luce Bohrer, Arq. Luciane S. Kinsel Complementares: Fornecedores: Ano: 2003/2004 Área: Local: Avenida Wenceslau Escobar, Tristeza, Porto Alegre/RS 104 Cronologia Ilustrada - Moacyr Moojen Marques Anexo I Condição atual: Em uso, Parcialmente implantado Projeto: Centro Cultural, esportivo e Lazer - SESC Santo Ângelo (Licitação - 1° Lugar) Contratante: Serviço Social do Comércio - RS - SESC Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques Arq. José Carlos Marques, Arq. Sergio Marques Colaboração: Complementares: Fornecedores: Ano: 2004 Área:m² Local: Santo Ângelo/RS Condição Atual: Em uso Projeto: Edifício Quinta das Palmeiras Contratante: Sommer & Sommer Engenharia Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Sergio Marques, Arq. José Carlos Marques Colaboração: Arq. Monica Luce Bohrer, Acad. Clarice de Oliveira Complementares: Elétrico/Hidrossanitário: Fillipon Engenharia, Estrutura: Padoin & Sachs Engenharia de Estruturas, Construção: Sommer & Sommer Engenharia Fornecedores: Ano: 2004-2009 Área: 1.146,00m² Local: Rua Felipe de Oliveira esq. Rua Souza Doca, Petrópolis, Porto Alegre/RS Condição atual: Em uso, com modificações Projeto: Sede da Petrobrás (Concurso Nacional - Participação) Contratante: Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, José Carlos Marques, Arq. Sergio Marques, Arq. Aline Skowronski, Arq. , Arq. Luciane Stürmer Kinsel, Arq. Marilisa Castelo Branco Lykawka, Arq. Mônica Luce Bohrer Colaboração: Acad. Ana Paula Philipsen, Acad. Arq. Clarice Oliveira, Acad. Arq. Manoela Bairros Schmidt, Acad. Arq. Marcos André da Paz Carvalho, Acad. Arq. Márcio Miguel Domingues. Complementares: Fornecedores: Ano: 2006 Área: Local: Vitória/ES Projeto: Restauração e Revitalização do Auditório Araújo Vianna Contratante: Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA/ Opus Promoções Autores: Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Carlos Maximiliano Fayet ( in memorian) Colaboração: Arq. Sergio M. Marques, Arq. Bárbara Mello, Arq. Valentina M. Marques Complementares: Estrutura: Charles Simon Fornecedores: Ano: 1958/1974/2009/2012 Local: Parque Farroupilha, Porto Alegre/RS Condição Atual: Em execução 105 106 ANEXO II ANEXO II Acervo Fayet, Araújo & Moojen Por volta do ano de 1995, Fayet em uma visita a Casa de Ipanema, por ocasião do nascimento de meu filho Lucas, expôs o desejo de realizar um livro monográfico sobre sua vida e obra, que pelas relações que tínhamos, gostaria que eu organizasse. Combinamos de analisar o assunto e prospectar como colocar a ideia em marcha. Posteriormente, por volta de 1999, Araújo, em uma das vagens organizadas pelo Núcleo de Projetos da FAU UniRitter, onde trabalhávamos juntos, sem saber das tratativas com o Fayet, propôs algo semelhante. A oportunidade de organizar e investigar a produção da arquitetura moderna brasileira incidente no sul, principalmente nas décadas de 1950 e 1960, com mais profundidade e sistematicidade do que eu vinha fazendo, começava a desenhar-se, dando na verdade sequencia a uma história pessoal bem mais extensa e profunda (ver Anexo III). Esta ideia naturalmente evoluiu para a inclusão de Moojen, já que além da contemporaneidade dos três arquitetos, coincidências pessoais e profissionais, a confluência de suas arquiteturas, em especial nas três "intersecções" dos projetos para a Petrobrás, Praia de Belas e Edifício FAM (ver Prólogo) dão o contorno da relação entre estes personagens. Em 2006, com a anuência dos três autores, já com o projeto de pesquisa aprovado pelo PROPAR-UFRGS e a orientação de Carlos E. D. Comas, consubstanciou-se o plano de em paralelo promover a criação de acervo documental comum dos três arquitetos com material gráfico e iconográfico referente as obras produzidas individualmente ou equipe, formando o Acervo FAM O plano inicial era a digitalização dos projetos constantes no acervo FAM. físico dos três, principalmente desenhos, fotos e diapositivos, bem como a produção de alguns elementos gráficos ou imagens novas, face a necessidade e/ou insuficiência de material disponível, de acordo com os objetivos da investigação desenvolvida. A produção e organização do material deu e teve continuidade, portanto, à investigação desenvolvida na tese realizada no PROPAR-UFRGS e posteriormente na ETSTAB-UPC, através do PDSE-CAPES, e as pesquisas "Arquitetura Contemporânea no Rio Grande do Sul: Arquitetura de Concursos 1956/2006 - Monitoramento e Acervo", coordenada por mim, Maturino Luz e Cláudio L. G. Araújo, desde 2000 e "Arquitetura Moderna Brasileira no Sul: 19501970", coordenada por mim, desde 2009, desenvolvidas na FAU-UniRitter. Após tratativas realizadas com Araújo, Moojen e Beatriz Fayet, representando a família, o projeto de criação do Acervo FAM foi aprovado na FAU-UniRitter, em 2008, conforme documento correspondente, programando o desenvolvimento do trabalho com o Núcleo de Projetos, na oportunidade coordenado por mim e Cláudio Araújo e o Laboratório de Teoria e História da Arquitetura, na época coordenado por Maturino Luz, tendo a previsão de associação e compartilhamento do acervo com o PROPAR/ FA-UFRGS representado por Cláudio Calovi Pereira. Neste período, até o presente momento foram realizadas diversas ações direta ou indiretamente relacionadas com a tese e outras específicas à constituição do acervo onde se destacam: 1. Digitalização de originais de projetos desenvolvidos por Fayet, Araújo e Moojen, individualmente ou em equipe (ver Planilha de Controle - Digitalização de Projetos - Acervo FAM - Anexo II); 2. Obtenção junto ao Acervo da Petrobrás dos arquivos digitalizados dos projetos arquitetônicos originais completos e parte dos complementares, para a REFAP, dos seguintes edifícios (Ver Capítulo II - REFAP-EA e TEDUT): 2.1 Portaria; 2.2 Almoxarifados e Oficinas; 2.3 Refeitório; 2.4 Centro de Treinamento; 2.5 Serviços Médicos; 2.6 Superintendência; 2.7 Laboratório; 2.8 Segurança; 2.9 Vestiários; 2.10 Oficina Mecânica; 2.11 Oficina de Turma. 3. Identificação e sistematização de todo material iconográfico relacionado ao Acervo FAM no Acervo João Alberto da Fonseca na FAU-UniRitter. Algumas FAM, destas imagens foram utilizadas para ilustrar este trabalho (ver créditos das imagens em todos os capítulos); 4. Digitalização e sistematização do acervo iconográfico pertencente a Fayet, Araújo & Moojen. Algumas destas imagens foram utilizadas para ilustrar este trabalho (ver créditos das imagens em todos os capítulos); 5. Produção de novas imagens de acordo com os critérios da investigação. Algumas destas imagens foram utilizadas para ilustrar este trabalho (ver créditos das imagens em todos os capítulos); 6. Produção digital de desenhos planimétricos em Autocad, de acordo com os critérios da investigação. Alguns desenhos foram utilizadas para ilustrar este trabalho (ver créditos das imagens em todos os capítulos); 7. Produção de modelos 3D de determinados projetos em SketchUp, de acordo com os critérios da investigação. Alguns desenhos foram utilizadas para ilustrar este trabalho (ver créditos das imagens em todos os capítulos); 8. Pesquisa, organização e atualização da ficha técnica dos principais projetos realizados pelos arquitetos, das seguintes informações (ver Anexo I Cronologia Ilustradas): 8.1 Projeto; 8.2 Contratante; 8.3 Autores; 101 8.4 Colaboradores 8.5 Complementares; 8.6 Fornecedores; 8.7 Ano; 8.8 Área; 8.9 Local; 8.10 Situação atual; 8.11 Publicação (quando for o caso); 8.12 Fotografias (quando for o caso); 9. Realização de entrevistas, organização e sistematização de documentos e publicações relacionadas a formação, produção e vida profissional dos três arquitetos armazenados de forma digital e física (ver referencias). 10. Produção de pranchas síntese do material digitalizado, utilizando metodologia do “Acervo Arquitetura Contemporânea no Rio Grande do Sul: Arquitetura de Concursos”, visando favorecer a consulta (ver exemplos – Anexo II). O roteiro básico para a organização do Acervo FAM tem como ponto de partida os curriculum vitae dos arquitetos, os quais foram revisados e atualizados, dentro do possível, com o auxílio dos próprios autores em determinados casos, de colaboradores (ver Anexo II - curriculum vitae Fayet, Araújo e Moojen) e de pesquisas in-loco. Os acervos físicos no presente momentos estão armazenados da seguinte forma: 1. Acervo Fayet - Edifício FAM; 2. Acervo Araújo - Edifício FAM; 3. Acervo Moojen - MooMAA - Moojen & Marques Arquitetos Associados. O trabalho de constituição do acervo encontra-se em andamento através da digitalização do material ainda em processamento e da pesquisa docente "Arquitetura Moderna Brasileira no Sul: 1950 a 1970 - A cidade moderna e os projetos de Fayet, Araújo & Moojen" com a participação de bolsistas de Iniciação cientifica bem como dos monitores do Núcleo de Projetos e do Laboratório de História e Teoria da FAU-UniRitter. Para a realização do trabalho até o presente momento, além das ações descritas a seguir, tanto para a tese aqui apresentada, quanto para a constituição do acervo, além da contribuição indireta de muitos constantes nos agradecimentos iniciais deste trabalho, houve a participação direta dos colaboradores listados a seguir: A proposta de tese "Fayet, Araújo & Moojen, Arquitetura Moderna Brasileira no Sul: 1950/1970" foi aprovada no PROPAR-UFRGS em novembro de 2006, com orientação do Prof. Arq. Dr. Carlos E. D. Comas. De agosto a outubro de 2009, foi realizada missão de pesquisa em São Paulo, dentro do programa CAPES/PROCAD, no convênio FAU/Mackenzie-FAU/UFRGS, coordenado e orinetado por Carlos E. D. Comas (UFRGS) e pela Profa. Dra. Ruth Verde Zein (Mackenzie). O projeto de tese foi apresentado e qualificado em outubro de 2009 pela banca constituída pelos professores Arq. Phd. Edson da Cunha Mahfuz, Arq. Dr. Rogério Oliveira e Arq. Dra. Marta Peixoto. Foi realizado Estágio no Exterior, no período de dezembro de 2009 a março de 2010, dentro do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior - PDSE financiado pela CAPES, no período de dezembro de 2010 a março de 2011, julho de 2011 e fevereiro de 2012, financiados pelo doutorando, na ETSAB-UPC, Barcelona (Laboratorio de Arquitectura), orientado pelo prof. Arq. Dr. Hélio Piñon. No período de 2006 a 2012, foram realizadas viagens acompanhadas de pesquisa de campo em Buenos Aires (mai. 2012), Montevidéu e Punta del Este (abr. 2011), Girona- Espanha (fev. 2012), São Paulo e Rio de Janeiro (jul.2011), Amsterdam, Roterdam, Oterlo, Utrech, Hilversum, Den Haag – Holanda (fev.2011), Curitiba (set.2010), Córdoba - Argentina (out. 2010), Buenos Aires e Montevidéu (abr. 2009), Cordoba e Carlos Paz (set. 2009), Rio de Janeiro (nov. 2009), Montevidéu e Punta del Este (mai. 2008), Montevidéu (out. 2008), região das missões brasileiras, argentinas, paraguaias e Assunção (out. de 2007), São Paulo (Out. de 2007), Buenos Aires e La Plata (mai. 2007), Santiago do Chile, Val Paraíso, Ritoque (out. 2006). Em julho de 2011 foi solicitado ao PROPAR, Pró-reitoria da UFRGS e CAPES a prorrogação de prazo de um ano para conclusão do trabalho, terminado em julho de 2012. Durante este período colaboraram formal e sistematicamente na constituição do Acervo os seguintes participantes: Cláudio L. G. Araújo (pesquisador FAU/UniRitter, 2009-2010), Caroline Valicente (Bolsista de Iniciação Científica – B.I.C – FAU/UniRitter, 2012), Carolina Bonfada (Bolsista de Iniciação Científica – B.I.C – FAU/UniRitter, 2011), Rafael Dametto (Bolsista de Iniciação Científica – B.I.C. 2011), Valentina Marques Martins (Bolsista de Iniciação Científica – B.I.C – FAU/UniRitter, 2010), Felipe Dutra (Monitor Núcleo de Projetos – FAU UniRitter, 2009-2010), Caroline Pilatti (Monitor Núcleo de Projetos – FAU UniRitter, 2010), Taís Schein (Monitor Núcleo de Projetos – FAU UniRitter, 2006-2007), Luciane Kinsel (estagiária CLAraújo Arquitetos, 2008), Valentina Marques Martins (estagiária MooMAA 20062009), Caroline Valicente (estagiária MooMAA 2011-2012), Beatriz B. Fayet (exsecretária executiva da Equipe de Arquitetos Ltda.). 108 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Fayet CURRICULUM VITAE CARLOS MAXIMILIANO FAYET B.1.a. GRADUAÇÃO B.1.a.1. Curso de Artes Plásticas do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul (04 anos).Porto Alegre-RS.-1948. B.1.a.2. Curso de Arquitetura da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre-RS - 1953. B.1.b. APERFEIÇOAMENTO / ESPECIALIZAÇÃO A.DADOS PESSOAIS 1. IDENTIFICAÇÃO: NOME: CARLOS MAXIMILIANO FAYET NATURALIDADE: DOMINGOS MARTINS - ES - BRASIL DATA DE NASCIMENTO: 06-06-1930 FILIAÇÃO: NAMBYCAHY CARAJATEÊ FAYET E GISELA SALLOKER FAYET ESTADO CIVIL: CASADO PROFISSÃO: ARQUITETO E URBANISTA 2.ENDEREÇOS: B.1.b.1. Curso de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da UFRGS (02 anos).Porto Alegre-RS 1955. B.1.b.2. Curso de Acústica Aplicada à Arquitetura - Prof. Garcia Pardo (Montevidéu) - Faculdade de Arquitetura da UFRGS - Porto Alegre-RS - 1961. B.1.b.3. curso de Extensão Universitária sobre Problemas Urbanos ministrado pelo Arq. Jaime Lerner e promovido pela Faculdade de Arquitetura e Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento do Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS - 1976. B.2. DE ENTIDADES / INSTITUIÇÕES B.2.a. DE 12 HORAS OU MAIS RESIDÊNCIA:Av. Toropi, 139 Ap. 401, Petrópolis CEP 90.470-480 Porto Alegre RS BRASIL, Fone: (051) 330-7087 ESCRITÓRIO:Av. Toropi, 139 Ap. 401,Petrópolis CEP 90.470-480 Porto Alegre RS BRASIL , Fone/Fax: (051) 333-3500, (051) 333-2955 3.REGISTROS E MATRÍCULAS: Cart. Identidade: 7007486801 CPF:000.825.460-53 Titulo Eleitoral: 385414304/26 Doc. Serviço Militar: Cert. Isenção nº 707168 8ª Região III RM INPS: 19-150-04-048/57 Cart. Profissional: CREA-RS nº 1742-D Inst. Arquitetos do Brasil:IAB-RS nº 053 Sindicato Arquitetos: SAERGS nº 036 Inst. Bras. Planejamento: IBP nº 12/9 Soc. Inter. Planejamento: SIAP nº 12/9 Soc. Engenharia RGS: SERGS nº 1710 4. IDIOMAS: PORTUGUÊS Fala, lê e escreve corretamente ESPANHOL Fala, lê e escreve fluentemente FRANCÊS Fala, lê e escreve sofrivelmente INGLÊS Fala e lê sofrivelmente B. CURSOS B.1. UNIVERSITÁRIOS B.2.a.1. curso sobre “Teoria da Informação e Comunicação de Massa” , promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil-Departamento do Rio Grande do Sul e ministrado pelo Prof. Décio Pignatari da Escola Superior de Desenho Industrial da Guanabara. Porto Alegre-RS - 1967. B.2.a.2. curso sobre Métodos e Modelos da Pesquisa Operacional, promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil -Departamento do Rio Grande do Sul e ministrado pelo Prof. Teodoro Oniga, do Centro de Processamento de Dados da PUCRJ - Rio de Janeiro-RJ. Porto Alegre-RS. - 1967. B.2.a.3. Curso Estruturas de Cerâmica Armada” promovido pelo IAB-RS. Porto Alegre-RS. - 1984. C. TÍTULOS HONORÍFICOS C.1. OFICIAIS C.1.1 Certificado de serviços relevantes prestados à Nação como Conselheiro do CREA - 8ª Região, no período de 01-11-1974 à 31-10-1977. Porto Alegre-RS. - 1974/1977. C.1.2. Certificado de serviços relevantes prestados à Nação como Conselheiro do CREA - 8ª Região, no período de 01-11-1977 à 31-10-1980. Porto Alegre-RS. - 1977/1980. C.1.3. certificado de serviços relevantes prestados à Nação como Conselheiro do CONFEA Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, no período de 01-11-1980 à 31-101983. Brasília-DF.-1980/1983. C.1.4. Certificado de serviços relevantes prestados à Nação como Conselheiro do CONFEA Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, no período de 01-11-1983 `31-10-1986. Brasília-DF.- 1983/1986. D. ATIVIDADES DIDÁTICAS Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 109 D.1. UNIVERSITÁRIAS D.1.a. DOCÊNCIAS D.1.b.8. Presidente da Comissão Examinadora do Concurso para provimento do cargo de Professor Titular de História da Arte do Departamento de Artes Visuais. Porto Alegre-RS, julho 1993. D.1.c. CHEFIAS / CONSELHOS / COMISSÕES D.1.a.1. professor Assistente da cadeira de Urbanismo Arquitetura Paisagística do Curso de Arquitetura da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre-RS. - 1958/1964. D.1.a.2. professor Responsável; pela cadeira de Grandes Composições de Arquitetura do Curso de Arquitetura da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre-RS. - 1961/1962. D.1.a.3 . Professor Responsável pela cadeira de Arquitetura Analítica da Escola de Artes da UFRGS. Porto Alegre-RS. 1962/1969. D.1.a.4. Professor Responsável pela cadeira de Teoria e Prática dos Planos de Cidade do Curso de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre-RS - 1964/1969. D.1.a.5. Professor Designado para reger o ensino da cadeira de Perspectiva e Sombras da Escola de Artes da UFRGS. Porto Alegre-RS. - 1965/1968 D.1.a.6. Professor Superintendente da cadeira de Geometria Descritiva da Escola de Artes da UFRGS. Porto Alegre-RS. - 1966/1969. D.1.a.7. Professor Coordenador de Bolsa de Estudos junto ao Gabinete de Planejamento Regional da Faculdade de Arquitetura. 1966/1967. D.1.a.8.Professor Consultor do Projeto de Estudantes, vencedor do Concurso Nacional de Escolas de Arquitetura, promovido pelo Banco Nacional de Habitação. IXª Bienal de São Paulo. Porto Alegre-RS. - 1967. D.1.a.9. Professor Titular da cadeira de Teoria e Prática de Planos de Cidades na UFRGS. Porto Alegre-RS. - 1970. D.1.a.10.Professor Titular do Departamento de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do R.G.S., na disciplina de Prática de Projeto de Urbanismo II .UFRGS. 1980/1991. D.1.b. COMISSÕES DE CONCURSOS D.1.c.1. Membro da Comissão de Projetos da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto AlegreRS. - 1954. D.1.c.2. Membro da Comissão encarregada de organizar o Museu de Materiais e Métodos de Construção da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre-RS. - 1960. D.1.c.3. Membro do Conselho Departamental da Escola de Artes da UFRGS. Porto Alegre-RS. 1964/1969. D.1.c.4. Membro da Comissão de Administração dos Serviços Gráficos da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre-RS. 1965. D.1.c.5. Presidente do Departamento de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre-RS.-1965/ 1966. D.1.c.6. Membro do Grupo de Trabalho para implantação do Concurso de Habilitação Unificado. 1967. D.1.c.8. Membro da Comissão Especialista em Arquitetura e Urbanismo CEAU-Designada pelo Ministro da Educação para assegurar o aperfeiçoamento do ensino de Arquitetura. Brasília-DF. - 1986/1987. D.1.c.9.Chefe do Departamento de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre-RS. - 1989/1991. D.1.c.10. Membro da Comissão de Avaliação do Departamento de Projetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, designado pela Reitoria da Universidade de São Paulo. São Paulo-SP. - 1992. D.1.d. OUTRAS ATIVIDADES ACADÊMICAS D.1.d.1. Membro da Equipe de Planejamento da Cidade Universitária da UFRGS. Porto Alegre-RS. E. PUBLICAÇÕES D.1.b.1. Membro da Comissão Examinadora do Concurso de Provas e Títulos para a área de Planejamento Urbano e Regional, para provimento do cargo de Professor Auxiliar do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória-ES - 1982. D.1.b.2.Presidente da Comissão Examinadora do Concurso de Títulos e Provas para provimento do cargo de Professor Auxiliar do Departamento de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre-RS.1986. D.1.b.3. Presidente da Comissão Examinadora do Concurso de Títulos e Provas para provimento do cargo de Professor Titular do Departamento de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre-RS.-1988. D.1.b.4. Membro da Comissão Examinadora do Concurso para provimento do cargo de Professor Titular do Departamento de Arquitetura da UFRJ, de 13 ã 15 de março. Rio de Janeiro-RJ. - 1991. D.1.b.5. Membro da Comissão Examinadora de exame de mestrado FAUSP da Profª. Glória Bayeux. São Paulo-SP. 1991. D.1.b.6. Presidente da Comissão Examinadora do Concurso para provimento do cargo de Professor Titular de Desenho do Departamento de Artes Visuais da Escola de Artes da UFRGS. Porto Alegre-RS. - 1992. D.1.b.7. Presidente da Comissão Examinadora do Concurso para provimento do cargo de Professor Titular de Gravura do Departamento de Artes Visuais da Escola de Artes da UFRGS. Porto Alegre-RS. - 1993. E.1. LIVROS E.1.a. LIVROS E.1.a.1. “Delta do Jacuí” - Plano Piloto (em equipe). 1958. E.1.a.2. Central de Abastecimento de Porto Alegre-Estudo de viabilidade-3 Volumes (em equipe). Porto Alegre-RS.1970. E.1.a.3. IIª Avenida Perimetral de Porto Alegre-6 Volumes. (em equipe). Porto Alegre-RS. - 1970. E.1.a.4. Relatório Preliminar para o Planejamento Integrado de Caxias do Sul (em equipe). - 1970. E.1.a.5. Plano de Ação Imediata de Caxias do Sul-I Volume. - 1973. E.1.a.6. Programa ATME-Assistência Técnica à Moradia Econômica (em equipe). Edição SAERGS. Porto Alegre-RS. 1978. E.1.b. CAPÍTULOS E.1.b.1. Arquitetura Brasileira após Brasília-Depoimentos. edição do IAB-RJ. Rio de Janeiro-RJ. 1978. 110 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Fayet E.2. REVISTAS / JORNAIS / CATÁLOGOS E.2.1. “Espaço” revista de Arquitetura, Urbanismo e Arte. (Membro da Direção). Porto AlegreRS. - 1948/1949. E.2.2. “Ar, Som, Luz”- secção semanal de Arquitetura, mantida no Jornal “O Estado do Rio Grande”. Porto Alegre-RS. 1959/1951. E.2.3. Catálogo - Exposição Arquitetos Brasileiros. Editora PINI. São Paulo-SP - 1962. E.3. ARTIGOS PUBLICADOS “A Casa Panke”, ensaio sobre a evolução da casa do colono alemão no Rio Grande do E.3.1. Sul, em “Cadernos” da Faculdade de Arquitetura Nº 15. - 1961, E.3.2. “Urbanização da Praia de Belas” (em equipe). Revista Habitat Nº 32. - 1961. E.3.3. “Porto Alegre Constrói um Perímetro de Irradiação”(em equipe). Revista Habitat Nº 38. 1962. E.3.4. “Sobre Urbanismo”- Palestra publicada nos cadernos de Estudantes da Faculdade de Arquitetura Nº 19. - 1963. E.4. PROJETOS / OBRAS PUBLICADAS E.4.1. Residência Suburbana - Revista Espaço Nº 03. Porto Alegre-RS. - 1949. E.4.2. Auditório Araújo Vianna-IBA-Boletim do Instituto Brasileiro de Acústica. Vol.III Nº 08. São Paulo-SP - 1964. E.4.3. Central de Abastecimento S.A.-CEASA Porto Alegre - Revista Construção, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - Ano IV, Nº 44. E.4.4. Auditório Araújo Vianna - Correio do Povo 03 de setembro. Porto Alegre-RS. - 1978. E.4.5. Auditório Araújo Vianna - Jornal do Comércio. Porto Alegre-RS. - 1978. E.4.6. O Sistema Construtivo da Rodoviária de Vitória-ES, Revista Construção, julho Nº 1640. São Paulo-SP. 1979. E.4.7. Arquitetura Brasileira Atual / Os anos 70 / Tendências CEASA-RS, Auditório Araújo Vianna-Porto Alegre-RS. Revista Projeto Nº 42 Edição Especial 10 anos. São Paulo-SP. - 1982. E.4.8. Arquitetura Brasileira Atual-CEASA S.A., COPESUL-Porto Alegre-RS. Revista Projeto Nº 53 - Edição Especial Comemorativa da Semana de Arquitetura Brasileira, em Buenos Aires. São Paulo-SP - 1983. E.4.9. Arquitetura Gaúcha - Debate/Petrobrás-Canoas/CEASA-RS em Porto Alegre e Terminal Rodoviário em Vitória-ES. Revista Projeto Nº 50. São Paulo-SP. - 1983. E.4.10.Arquitetura Moderna em Porto Alegre - 1ª Edição Alberto Xavier/Ivan Mizoguchi. Coedição FAU, UFRGS e PINI. Obras Publicadas: Residência Maria Flor Vieira-1950; Residência Ernesto Cros Valdez-1951; Residência Cândido Norberto-1952; Residência Samuel M. Coelho-1952; Palácio da Justiça-1953; Ed. Sede da Secretaria Municipal da Produção e Abastecimento-1959; Centro Evangélico de Porto Alegre-1959; Ed. Sede do Iab-1960; Auditório Araújo Vianna-1969; Refinaria Alberto Pasqualini-1962;Residência Petrônio Corrêa-1963; Ed. FAM- 1967; Residência Marcelo Blaya-1970; CEASA RS-1970. São Paulo - 1987. E.4.11.Arquitetura no Brasil / Anos 80 / Região Sul. Projeto apresentado Associação Atlética SULPETRO, Canoas-RS. Revista Projeto Nº 115. São Paulo-SP. - 1988. E.4.12.Centro de Vivência em Canoas-RS, SULPETRO-Prêmio Telhados Paiva. Revista Projeto Nº 120. São Paulo-SP. - 1989. E.4.13. Associação Atlética SULPETRO - T.Sport, Sinopia Milano Nº 10. Apresentação Arq. Paolo Renzetti. Milano-Itália. - 1990. E.4.14.Indústrias Tramontina-Forjasul, em Carlos Barbosa-RS. Revista Projeto Nº 142. São PauloSP. - 1991. E.4.15. Arquitetura/Escritórios Nº 02, Publicação da FADEMAC-Grupo Eternit Belga. São Paulo-SP. - 1991. E.4.16.Parque Ecológico do Guarapiranga, em São Paulo-SP. Revista Projeto Nº 153. São PauloSP. - 1992. E.4.17.Refeitório do Terminal Almirante Soares Dutra-TEDUT, em Osório-RS. Revista Projeto Nº 163. São Paulo-SP. - 1993. E.5. ENTREVISTAS E.5.1.“Muito Edifício Pouca Arquitetura”- Entrevista à Revista Globo Nº 711. Página 47. Porto Alegre-RS. - 1958. E.5.2.“Em Busca de Uma Definição Legal”. Entrevista na Revista Arquitetura e Urbanismo (Editora PINI) Nº 04, fevereiro, em busca de uma definição legal. São Paulo-SP. - 1986. E.6. REFERÊNCIAS / INSERÇÕES Eládio Dieste - La Estrutura Cerâmica-Coleccion SOMO SUR -Mercado de Porto Alegre E.6.1. CEASA RS. Bogotá-Colômbia. - 1987. E.6.2. Arquitetura -Síntese Rio Grandense - Arq. Günter Weimer. Editora da UniversidadeUFRGS. Porto Alegre-RS. 1992. F.CONFERÊNCIAS / PALESTRAS / MESAS REDONDAS F.1.CONFERÊNCIAS F.1.1.Conferências Vocacionais em estabelecimentos de Ensino Secundário promovido pelo Centro de Estudantes Universitários de Arquitetura. Porto Alegre-RS. - 1955. F.1.2.Conferência sobre “Problemas Urbanos de Porto Alegre”, proferida por ocasião da passagem do Dia Mundial do Urbanismo no Plenário da Câmara Municipal de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. 1961. F.1.3.Conferência de Orientação Vocacional realizada no Colégio Anchieta. Porto Alegre-RS. - 1962. F.1.4.Conferência sobre “Experiências Brasileiras”no Curso de Planejamento Físico, promovido pelo Serviço Federal de Habitação e Urbanismo e o Instituto de Arquitetos do Brasil. Rio de Janeiro-RJ. 1967. F.1.5.Conferência “O Urbanismo de Corbusier”, sob o patrocínio do Consulado Geral da França em Porto Alegre, Faculdade de Arquitetura, Instituto de Arquitetos e o Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre-RS. - 1967 F.1.6. Participação na IIIª Conferência sobre “La Enseñanza de la Ingenieria y la ArquiteturaENIAR 86”, organiza- do pelo Instituto Politécnico “José Antonio Echeverria”, ISPJAE, dado no Palácio de las Convenciones de la Ciudad de la Habana-Cuba. - 1986. F.1.7. Conferência “A Criatividade na Arquitetura”por ocasião do XIIº Congresso Brasileiro de Arquitetos.São Paulo- SP. - 1991. F.2.PALESTRAS F.2.1. Palestra sobre o Plano Diretor da Cidade de Porto Alegre, proferida a convite, no Plenário da Câmara Municipal de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1959. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 111 F.2.2. “Sobre Urbanismo”, palestra proferida no Curso de Alta Cultura para Jornalistas, organizado pela UFRGS. Porto Alegre-RS. - 1961. F.2.3.Palestra “Profissão Arquiteto”, proferida no Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento do Distrito Federal. Brasília-DF. - 1981. F.2. 4 Palestra no painel de Técnicos do Iº Seminário de Desenvolvimento e Organização de Comunidade, promovido pelo Serviço Social da Indústria-SESI. Manaus. - 1981. F.2.5.Palestras “Legislação e Exercício Profissional” proferida na sede do CREA do Estado do Amazonas e Território Federal de Roraima. F.2.6.Palestra “Alternativa de Emprego para o Arquiteto”- proferida na Universidade de Brasília. Brasília-DF. 1982. F.2.7. Palestra sobre “Legislação Profissional e a Reforma da Lei Nº 5.194/66” como conselheiro do CONFEA e Presidente da Comissão de Estudos da Legislação Profissional CELP, proferida no auditório da Fundação José Augusto, durante a III Semana de Engenharia, em dezembro. Natal-RN. - 1984. F.2.8. Palestrante no Seminário sobre “Legislação Profissional”- CONFEA e Legislação Profissional - realizado no CREA do Estado do Acre, de 30 de julho a 03 de agosto. Rio Branco-AC. - 1985. F.2.9. Palestra no Painel “Formação Profissional-Mudanças e Tendências do 3º Mundo”. Sobre as relações do trabalho na produção de Arquitetos/Minascentro por ocasião do X Congresso Brasileiro de Arquitetura, outubro. Belo Horizonte-MG. - 1985. F.2.10.Palestra na Faculdade de Arquitetura da UFRGS sobre o Ensino da Arquitetura e Informática e impressões da 3ª Conferência de Ensino de Havana-Cuba. Porto Alegre-RS.1986. F.2.11.Palestra proferida junto à Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Pelotas, no Encontro EREA SUL, sobre o Ensino do Projeto. Pelotas-RS. - 1986. F.2.12.Palestra sobre o Ensino da Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos. Santos-SP. 1986. F.2.13. Palestra sobre “Tendências da Arquitetura Moderna” a convite do PHD Hunter Douglas. São Paulo-SP. 1986. F.2.14.Palestrante convidado do II SEDUR-Seminário sobre Desenho Urbano no Brasil, integrando o painel “Ensino e Prática do Desenho Urbano”, de 11 a 13 de setembro. Brasília-DF. 1986. F.2.15.Palestra proferida por ocasião do evento “Debate 87-Novas Tendências na Arquitetura Brasileira Contemporânea” promovido pelo IAB-SP. São Paulo-SP. - 1987. F.2.16.Palesta proferida junto à Faculdade de Arquitetura de São Carlos-SP, por ocasião do Encontro EREA. São Paulo-SP. - 1987. F.2.17.Palestrante convidado no 2º Encontro de Arquitetos do Paraná, realizado nos dias 04, 05 e 06 de junho, em Curitiba-PR. - 1987. F.2.18.Palestrante convidado no I Seminário de Ensino de Engenharia e Arquitetura-Centro de Tecnologia da UFRGS. Natal-RN. - 1987. F.2.19. Palestra “O Trabalho do Arquiteto”-em outubro, Escola de Arquitetura Dortmund. Rep. Federal da Alemanha. - 1988. F.2.20.Palestra CREA-RS, sobre a Reformulação da Lei Nº 5194/64 em setembro. Porto Alegre-RS. - 1989. F.2.21.Palestra “A Educação Profissional” no I Congresso Estadual de Arquitetos, promovido pelo IAB-SP-Memorial da América Latina, em outubro. São Paulo-SP. - 1989. F.2.22.Palestra “A Faculdade de Arquitetura e o Exercício Profissional” na I Semana de Arquitetura da Região da Campanha-Universidade da Região da Campanha-URCAMP. Bagé’-RS. - 1989. F.2.23.Palestra “A Criatividade na Arquitetura” no CESUP. Campo Grande-MS. - 1992. F.2.24.Palestra “A Criatividade na Arquitetura” na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Ritter dos Reis. Porto Alegre-RS. - 1992. F.2.25.Palestra “Implantação de parque e áreas verdes em áreas urbanas”, no Auditório da Universidade Católica do Dom Bosco UCDB, em função das Diretrizes para a elaboração do projeto de criação do Parque do Prosa Planurb, em 21 de maio. Campo Grande-MS. - 1993. F.3. PARTICIPAÇÃO EM MESAS REDONDAS / GRUPOS DE TRABALHO F.3.1. Mesa Redonda sobre Política Habitacional. Rio de Janeiro-RJ. - 1966. F.3.2. Membro debatedor do Seminário sobre Habitação, promovido pelo IAB-RS e BNH. Porto Alegre-RS. - 1973. F.3.3. Participação como debatedor convidado no Seminário sobre o I Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1978. F.3.4. Participação em “La Semana de la Arquitetura Brasilena”, com visitas a obras e escritórios de arquitetura, agosto. Buenos Aires-Argentina. - 1983. F.3.5. Participação no Encontro Estadual/Regional sobre Legislação Profissional, promovido pelo IAB/RS. Porto Alegre-RS. - 1984. F.3.6. Participante do Painel - Concurso Público de Arquitetura - “As Relações do Trabalho na Produção de Arquitetos”. Auditório da Faculdade de Direito/UFMA XII Congresso Brasileiro de Arquitetos, novembro. Belo Horizonte-MG. - 1985. G.PARTICIPAÇÃO EM CONGRESSOS / SEMINÁRIOS E OUTROS EVENTOS G.1.COM APRESENTAÇÃO DE TESE / TRABALHO G.1.1. I Reunião Interamericana de Recursos Humanos para o Planejamento Local e Integrado Palestrante convidado pelo SERFHAU. Rio de Janeiro-RJ. - 1967. G.1.2. I Encontro Nacional de Ensino de Arquitetura - Relator Geral. São Paulo. - 1967. G.1.3. I Reunião Nacional de Recursos Humanos para o Planejamento Local e Integrado - Relator. Rio de Janeiro-RJ. - 1967. G.1.4. I Simpósio de Jornalismo promovido pela Associação Riograndense de Imprensa Palestrante. Porto Alegre-RS. - 1975. G.2. CONVIDADO / REPRESENTANTE / DELEGADO I Encontro Internacional de Estudantes de Arquitetura - Professor Convidado Especial. G.2.1. Havana-Cuba.- 1963. G.2.2. VII Encontro Internacional de Arquitetos, para estudos sobre Programas Habitacionais. Havana-Cuba.-1963. G.2.3. VI Congresso Brasileiro de Arquitetos - Coordenador das Reuniões Plenárias. SalvadorBA. - 1966. G.2.4. X Congresso Internacional de Arquitetos. Buenos Aires-Argentina. - 1969. G.2.5. Seminário de Planejamento Municipal, promovido pela UFRGS-Membro ConvidadoSERFHAU-SUDESUL.Porto Alegre-RS. - 1970. G.2.6. XI Congresso Internacional de Arquitetos. Bulgária. - 1972. G.2.7. I Simpósio Nacional de Urbanismo, promovido pela Prefeitura Municipal de Caxias do Sul,. com a colaboração da Secretaria de Turismo do Rio Grande do Sul, da Sociedade de Engenharia, Arquitetura, Agronomia, Química e da Universidade de Caxias do Sul. Caxias do SulRS. - 1974. G.2.8. XII Congresso Internacional de Arquitetos. Madrid-Espanha. - 1975. G.2.9. I Congresso Brasileiro de Planejamento. Porto Alegre-RS. - 1975. 112 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Fayet G.2.10.IX Congresso Brasileiro de Arquitetos - I Vice-Presidente. São Paulo-SP. - 1976. G.2.11.IX Encontro de Representantes de CREAs e CONFEA. Brasília-DF. - 1976. G.2.12.XXVI Semana do Engenheiro. Fortaleza-CE. - 1977. G.2.13.X Congresso de Representantes de CREAs e CONFEA. Belo Horizonte-MG. - 1978. G.2.14.II Encontro de Coordenadores de Câmaras de CREAs. Rio de Janeiro-RJ. - 1979. G.2.15.III Encontro de Coordenadores de Câmaras de Arquitetos de CREAs. Brasília-DF. - 1979. G.2.16.XII Congresso de Representantes de CREAs e CONFEA. Brasília-DF. - 1980. G.2.17.XIII Congresso de Representantes de CREAs e CONFEA. Brasília-DF. - 1980. G.2.18.IV Encontro de Coordenadores de Câmaras de Arquitetura de CREAs. Brasília-DF. - 1980. G.2.19.Seminário sobre Parcelamento do Solo Urbano, convidado pela Secretaria do Interior, Desenvolvimento Regional e Obras Públicas. Porto Alegre-RS. - 1980. G.2.20.Seminário sobre Qualificação Profissional e Mercado de Trabalho, promovido pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo. Brasília-DF. - 1981. G.2.21.Mesa-Redonda organizada pelo Núcleo Arquitetura com o tema “A Cidade como Expressão Cultural”, realizada no Auditório da Assembleia Legislativa do Estado. Porto Alegre-RS. - 1981. G.2.22.XIV Congresso de Representantes de CREAs e CONFEA, como Secretário-Geral. BrasíliaDF. - 1981. G.2.23.VI Encontro de Coordenadores de Câmaras de Arquitetura de CREAs. Brasília-DF. - 1981. G.2.24.VII Encontro Nacional sobre Formação do Arquiteto. Goiânia-GO. - 1981. G.2.25.Secretário-Geral da XIV Reunião de Representantes dos Conselhos Federal e Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Brasília-DF. - 1981. G.2.26.Expositor, no tema “Aspectos Formais da Legislação Profissional”- Centro de Tecnologia da UFPB – Campus Universitário de João Pessoa, promovido pelo CREA-PB, I Seminário sobre Legislação Profissional na Paraíba. João Pessoa-PB. - 1983. G.2.27. XVII Reunião de Representantes dos Conselhos Federal e Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, promovido pelo CONFEA. Brasília-DF. - 1984. G.2.28.Seminário sobre Imagem Ambiental Urbana, promovido pela Prefeitura de Salvador, na qualidade de expositor e debatedor. Temática: “Como Preservar a Paisagem Natural Frente ao Desenvolvimento Urbano na Metrópole Hoje”. Salvador-BA. - 1984. G.2.29.I Encontro das Escolas da Região Sul e III Seminário das Escolas de Arquitetura Gaúchas. Porto Alegre-RS. - 1984. G.2.30.II Congresso da ABEA-Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura, dias 28 e 29 de outubro. Belo Horizonte-MG. - 1985. G.2.31.XVIII Reunião de Conselheiros Federais e Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, dias 22 e 23 de julho. Brasília-DF. - 1985. G.2.32.Encontro Regional de Estudantes de Arquitetura-EREA-SUL 85, UFSC, maio. FlorianópolisSC. - 1985. G.2.33.II Encontro do Conselho da ABEA Sul, realizado na UFSC, na qualidade de Sócio individualPresidente da ABEA-DN. Florianópolis-SC. - 1985. G.2.34.XII Congresso Brasileiro de Arquitetos Vilanova Artigas, realizado de 30 de outubro a 03 de novembro. Belo Horizonte-MG. - 1985. G.2.35.Seminário de Currículo Mínimo-UnB Universidade de Brasília. Brasília-DF. - 1986. G.2.36.XIX Reunião de Conselheiros Federais e Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, realizado em julho. Brasília-DF. - 1986. G.2.37.Semanas de Engenharia realizadas nas cidades de Foz do Iguaçu-PR, Belém-PA, Rio de Janeiro-RJ e Curitba-PR. - 1986. G.2.38.II SEDUR 86 - Seminário Sobre Desenho Urbano no Brasil, 11 a 13 de setembro. BrasíliaDF. - 1986. G.2.39.I Congresso Nacional de Informática Aplicada, realizado de 26 a 28 de agosto, no Palácio das Convenções do Anhembi. São Paulo-SP. - 1987. G.2.40.XI Encontro Nacional dos Estudantes de Arquitetura. Campinas. Arquitetura Universidade Sociedade, de 30 de agosto a 05 de setembro. Campinas-SP. - 1987. G.2.41.VIII Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura, de 09 a 15 de outubro. Recife-PE. 1987. G.2.42.I Seminário de Ensino de Engenharia e Arquitetura, realizado de 03 a 07 de outubro, promovido pelo Centro de Tecnologia da UFRN. Natal-RN. - 1988. G.2.43.Encontro de Informática e de Reflexão sobre a Pedagogia e a Pesquisa em Informática, realizado na Faculdade de Arquitetura da UFRGS, 21 a 23 de novembro. Porto Alegre-RS. - 1988. G.2.44.Participação do IX Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e IV Congresso Nacional da ABEA, 08 a 13 de outubro. Porto Alegre-RS. - 1989. G.2.45.I Congresso Estadual de Arquitetos, realizado em São Paulo, de 24 a 26 de outubro. São Paulo-SP. - 1989. G.2.46.“Seminário de Avaliação do Ensino, da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, de 16 a 19 e 24 de outubro. Porto Alegre-RS. - 1990. G.2.47.Debatedor do tema “A Experiência Participativa de Grândola-Portugal”, no Seminário Municipal e Plano Diretor de Campo Grande, 15 e 16 de dezembro. Campo Grande-MS. - 1990. G.2.48.I Semana de Arquitetura de Bagé”, realizado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Região da Campanha -URCAMP, 13 a 17 de maio. Bagé-RS. - 1991. G.2.49.XII Congresso Brasileiro de Arquitetos. São Paulo-SP. - 1991. G.2.50.II Encontro de Arquitetos do Rio Grande do Sul (mês de julho). Porto Alegre-RS. - 1993. G.3. INSCRITO G.3.1. Seminário sobre Legislação Urbanística, dirigido pelo Prof. Helly Lopes Meirelles. Porto Alegre-RS. - 1961. G.3.2. I Seminário de Desenvolvimento e Organização de Comunidades, promovido pelo SESI. Porto Alegre-RS. 1961. G.3.3. I Encontro Nacional de Arquitetos Planejadores. Curitiba-PR. - 1966. G.3.4. Simpósio de Planejamento do Cone Sul. Porto Alegre-RS. - 1975. G.3.5. Seminário Brasileiro de Planejamento. Porto Alegre-RS. - 1975. G.3.6. XXXI Semana do Engenheiro. Vitória-ES. - 1975. G.3.7. I Seminário de Planificação de Los Países Del Cono Sur, realizado no Brasil. Porto AlegreRS. - 1975. G.3.8. IV Simpósio Estadual de Engenheiros e Arquitetos, promovido pela SEAAQ. Porto AlegreRS. - 1977. G.3.9. I Encontro de Arquitetos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS. - 1980. G.3.10.I Ciclo de Debates sobre o Plano Diretor de Abastecimento de Água e Esgoto Sanitário para a Região Metropolitana de Porto Alegre-PMPA-PLADE-Metroplan. Porto Alegre-RS. - 1981. G.3.11. Participação no debate sobre o Aeromóvel, na Comissão de Assuntos Municipais da Assembleia Legislativa do Estado. Porto Alegre-RS. - 1984. H. VIAGENS DE ESTUDO H.1.PROGRAMADAS H.1.1. Viagem à Bahia e Minas Gerais para estudo da Arte e Arquitetura Colonial Brasileira e Contemporânea. Organizadas pela Associação Araújo Porto Alegre. - 1948. H.1.2. Viagem à Rio Pardo, Santa Cruz e Missões para estudo da Arquitetura e Folclore Gaúcho. Organizadas pela Associação Araújo Porto Alegre. - 1949. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 113 H.1.3. Viagem à França, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Áustria, Bulgária, Turquia, Itália, para estudos e observações sobre Arquitetura. - 1972. H.1.4. Viagem à Espanha, Alemanha, França, Inglaterra, Estados Unidos e Venezuela, para observações e estudos sobre Conjuntos Residenciais e Centros Comerciais H.2. H.2.1. H.2.2. VOLUNTÁRIAS Viagem à Portugal e Espanha para estudos de observação sobre Arquitetura. - 1975. Viagem à Salvador-Visita de estudos ao II Polo Petroquímico. - 1978. I. ATIVIDADES EXERCIDAS I.1.CARGOS I.1.a. PÚBLICOS I.1.b.15.Primeiro Vice-Presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Brasília-DF. - 1984 /1985. I.1.b.16.Presidente do CONFEA-Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, dias 8 e 9 de julho, conforme portaria Ad. Nº 112/85. Brasília-DF. - 1985. I.1.b.17.Segundo Vice-Presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e AgronomiaCONFEA. Brasília-DF. - 1985/1986. I.1.b.18.Presidente da ABEA-Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura. Biênio 86/87. Porto Alegre-RS. - 1986 /1987. I.1.b.19.Presidente da ABEA-DN-Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura. Biênio 88/89. Porto Alegre-RS. 1988/1989. I.1.b.20.Subsecretário da ABEA-DN-Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura. Biênio 90/91. Porto Alegre-RS. 1990/1991. I.1.b.21.Membro do Conselho Consultivo do Museu de Arte do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS.-1990. I.1.c. PRIVADOS I.1.a.1.Arquiteto e Urbanista da Divisão de Urbanismo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. 1955/1963. I.1.a.2. Chefia da Secção de Planejamento da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1956/1963. I.1.a.3. Direção da Divisão de Urbanismo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. 1958. I.1.a.4.Coordenador da Supervisão da Obra da Central de Abastecimento de Porto alegre. 1971/1973. I.1.b. INSTITUIÇÕES / ENTIDADES I.1.c.1.Titular de Escritório de arquitetura. Porto Alegre-RS. - 1953/... I.1.c.2.Diretor da Empresa URBASUL-Equipe de Urbanismo Ltda. Porto Alegre-RS. - 1969/1975. I.1.c.3.Diretor da firma Arquitetos Associados-Arquitetura, Urbanismo e Planejamento. Porto AlegreRS. - 1972. I.1.c.4.Sócio e Gerente Técnico da firma Equipe de Arquitetos Ltda. Porto Alegre-RS. - 1977/... I.1.c.5.Sócio-Diretor da firma Carlos Maximiliano Fayet Arquitetos Associados Ltda. Porto AlegreRS. - 1978/... I.1.d. JÚRIS I.1.b.1.Presidente da Associação Araújo Porto Alegre (Entidade Artística). Porto Alegre-RS. 1951/1953. I.1.b.2.I Secretário do Instituto de Arquitetos do Brasil-Departamento do Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS. 1957/1958. I.1.b.3.Delegado no Rio Grande do Sul do Instituto Brasileiro de Acústica. Porto Alegre-RS. 1958/1962. I.1.b.4.Vice-Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil-Direção Nacional-IAB/DN. - 1966/1967. I.1.b.5.Vice-Presidente do Conselho Regional de Arquitetura e Agronomia da 8ª Região. - 1976. I.1.b.6.Conselheiro do CREA 8ª Região. Porto Alegre-RS. - 1974/1977. I.1.b.7.Membro do Conselho Fiscal do Sindicato dos Arquitetos do Rio Grande do Sul. - 1980. I.1.b.8.Presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento do Estado do Rio Grande do Sul. 1980/1982. I.1.b.9.Conselheiro Federal do CONFEA, eleito representante das Escolas de Arquitetura. - 1980. I.1.b.10.Primeiro Vice-Presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Brasília-DF. 1981/1982. I.1.b.11.Coordenador da Comissão de Estudos da Legislação Profissional do CONFEA. Brasília-DF. - 1982/1983. I.1.b.12.Coordenador da Comissão de Estudos da Legislação Profissional do CONFEA. Brasília-DF. - 1983/1984. I.1.b.13.Coordenador da Comissão de Estudos da Legislação Profissional do CONFEA. Brasília-DF. - 1984/1985. I.1.b.14.Presidente da ABEA-Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura. Brasília-DF. 1984/1985. I.1.d.1.Membro do Júri de Premiação do VI Salão Oficial de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS. 1955. I.1.d.2.Membro do Júri de Premiação e Seleção do VII Salão de Artes Plásticas Francisco Lisboa. Porto Alegre-RS. 1955. I.1.d.3.Membro do Júri de Premiação e Seleção do VIII Salão de Artes Plásticas Francisco Lisboa. Porto Alegre-R.1956. I.1.d.4.Indicado para representante do Instituto de Arquitetos do Brasil no Júri do Concurso de Anteprojeto do Palácio Legislativo do Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS. - 1958. I.1.d.5.Membro do Júri do Concurso de Paisagismo para escolha do Projeto de Remodelação da Praça José Bonifacio, de Cachoeira do Sul. Porto Alegre-RS. 1958. I.1.d.6.Membro representante da Faculdade de Arquitetura na Comissão Julgadora do Concurso Público para elaboração do prédio da Prefeitura da cidade de Marau. Porto Alegre-RS. - 1958. I.1.d.7.Membro do Júri do Concurso de Arte Sacra para escolha do Projeto do Santuário do Patrocínio de São José, em Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1961. I.1.d.8.Membro da Comissão de Julgamento dos trabalhos apresentados na Faculdade de Arquitetura da UFRGS, para participar da VI Bienal. Porto Alegre-RS. - 1961. I.1.d.9.Membro da Comissão de Seleção das Bolsas de Estudo do “Prêmio Brasília”. Porto AlegreRS. - 1962. I.1.d.10.Membro da Comissão Julgadora do II Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS. - 1962. I.1.d.11.Membro da Comissão de Seleção dos Trabalhos enviados ao I Encontro de Professores e Estudantes de Arquitetura, em Havana-CUBA. Porto Alegre-RS. - 1963. 114 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Fayet I.1.d.12.Membro da Comissão de Seleção dos projetos para o Palácio Municipal de Caxias do Sul. Porto Alegre-RS. - 1964. I.1.d.13.Membro e Relator do Júri de Confronto Internacional de Estudantes de Escolas de Arquitetura junto ao X Congresso Mundial da U.I.A. Buenos Aires-ARGENTINA. - 1969. I.1.d.14.Representante do Instituto de Arquitetos do Brasil no Júri do Concurso Nacional de Anteprojetos para a Agência do Banco do Brasil de Caxias do Sul. Porto Alegre-RS. - 1970. I.1.d.15.Membro do Júri de Confronto Internacional de projetos de Escolas de Arquitetura para atribuição do Prêmio instituído pela UNESCO, junto ao XI Congresso Internacional de arquitetos. Varna-BULGARIA. - 1972. I.1.d.16.Membro do Júri para atribuição do Prêmio “Presse Architecturale”. Varna-BULGÁRIA. 1972. I.1.d.17.Membro do Júri para escolha do Monumento ao Sesquicentenário da Imigração Alemã. Novo Hamburgo-RS. - 1974. I.1.d.18. Membro do Júri de Confronto Internacional entre estudantes de Escolas de Arquitetura junto ao XII Congresso Mundial U.I.A. Madrid-ESPANHA. - 1975. I.1.d.19.Membro representante da Prefeitura Municipal de Florianópolis no júri para escolha do projeto para o Terminal Rodoviário de Passageiros de Florianópolis. Concurso Nacional. Florianópolis-SC. - 1977. I.1.d.20.Membro do Júri do Concurso Nacional de Projetos para reurbanização do Vale do Anhangabaú. São Paulo-SP. - 1981. I.1.d.21.Membro do Júri para escolha do projeto para a sede do CREA-SP. São Paulo-SP. - 1978. I.1.d.22.Membro do Júri do Concurso Público para a escolha do projeto para a Sede do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul-CREMERS. Porto Alegre-RS. - 1982. I.1.d.23.Presidente do Júri do Concurso para projeto do Marco Comemorativo ao Cinquentenário do Município de Canoas-RS. I.1.d.24.Membro da Comissão de Julgamento do Concurso Brasilit-Edição 1990, de 17 a 19 de julho. São Paulo-SP. - 1990. I.1.d.25.Membro da Comissão Julgadora do Concurso “50 Anos do Cimento Amianto no Brasil”, promovido pela Eternit S.A ., de 03 a 05 de agosto. São Paulo-SP. - 1990. I.1.d.26.Presidente do Júri da II Bienal de Arquitetura do Rio Grande do Sul, promovida pelo IAB/RS (no mês de julho). Porto Alegre-RS. - 1993. I.2.COMISSÕES / GRUPOS DE TRABALHO / ETC. I.2.a. SERVIÇO PÚBLICO / OFICIAIS I.2.a.1.Membro da Comissão designada pelo Prefeito de Porto Alegre encarregada de planejar a execução das obras da Avenida Beira Rio. Porto Alegre-RS. - 1957. I.2.a.2.Membro da Comissão designada pelo Prefeito Municipal de Porto Alegre para elaborar os anteprojetos de lei relativos à área da Avenida Beira Rio. Porto Alegre-RS. - 1959. I.2.a.3.Membro da Comissão designada pelo Secretário Municipal de Obras e Viação de Porto Alegre, para planejar o aproveitamento do Parque Saint’Hilaire. Porto Alegre-RS. - 1959. I.2.a.4.Membro da Comissão designada pelo Secretário Municipal de Obras e Viação para estudas a criação do fundo do Plano Diretor de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1959. I.2.a.5.Membro da Comissão designada pelo Secretário Municipal de Obras e Viação para elaborar o Anteprojeto de criação do “Expediente Urbano de Porto Alegre”. Porto Alegre-RS. - 1959. I.2.a.6.Membro da Comissão designada pelo Secretário Municipal de Obras e Viação para elaborar estudo sobre “Äreas verdes nos loteamentos de Porto Alegre”. Porto Alegre-RS. - 1959. I.2.a.7.Membro da Comissão designada pelo Secretário de Obras e Viação para projetar a implantação do Sistema Viário de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1959. I.2.a.8. Membro da Comissão designada pelo Secretário Municipal de Obras e Viação para apresentar projeto de regulamentação das escrituras de transferências de imóveis em Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1959. I.2.a.9.Membro do Conselho do Plano Diretor de Porto Alegre, representante do Prefeito Municipal. Porto Alegre-RS. - 1959/1962. I.2.a.10.Membro da Comissão designada pelo Prefeito Municipal para julgar proposta para execução do Entreposto de Frutas e Verduras de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1960. I.2.a.11.Membro designado pelo Prefeito Municipal de Porto Alegre para representar o Município na Comissão de estudos relativos ao Hipódromo do Moinhos de Vento. Porto Alegre-RS. - 1960. I.2.a.12.Membro da Comissão do Conselho do Plano Diretor de Porto Alegre, encarregada de apresentar relatório sobre “As perspectivas financeiras de aplicação prática do Plano Diretor”. Porto Alegre-RS. - 1960. I.2.a.13.Membro designado pelo Prefeito Municipal para integrar a Comissão encarregada de estudar a passagem para a esfera estadual das obras da Avenida Beira Rio e da implantação do Sistema de Trolley-bus em Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1960. I.2.a.14.Membro representante da Prefeitura Municipal de Porto Alegre na Comissão de execução do convênio relativo à construção do novo Auditório da Cidade. Porto Alegre-RS. - 1960. I.2.a.15.Participação na Comissão de Estudos da Legislação Profissional-Comissão de Relações Públicas, instituído pelo CONFEA. Brasília-DF. - 1980/1982. I.2.a.16.Coordenador Portaria AD. Nº 191/82-Relativa “A Formação Profissional de Nível Superior na Área das Ciências Agrárias”. Brasília-DF. - 1982. I.2.a.17.Participação no Grupo de Trabalho instituído pelo Plenário do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, para estudo da viabilidade de transformar o Conselho em Ordem. Brasília-DF. - 1982. I.2.a.18.Participação no Grupo de Trabalho instituído pelo Plenário do CONFEA, para propor medidas e soluções sobre o patrimônio do CONFEA. Brasília-DF. - 1982. I.2.a.19.Participante do Grupo de Trabalho, instituído pela Portaria Nº 257, de 23-9-81, do MEC, cujo relatório encaminhado a todos os CREAs e Entidades de Classe, originou-se o Protocolo Nº 01/82-CONFEA-SESU-SEPS-MEC, publicado no Diário Oficial da União, mês de maio. Brasília-DF. 1982. I.2.a.20.Participação no Grupo de Trabalho instituído pelo Plenário do CONFEA, para efetiva caracterização da mão-de-obra especializada nas áreas de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Brasília-DF. - 1982. I.2.a.21.Participação no Grupo de Trabalho instituído pelo Plenário do CONFEA, para aperfeiçoar a sistemática de cobrança e padronização das ARTs. Brasília-DF. - 1982. I.2.a.22.Participação no Grupo de Trabalho instituído pelo CONFEA, para estudar a Regulamentação da Lei Nº 994 /82. Brasília-DF. - 1982. I.2.a.23.Participação no Grupo de Trabalho, instituído por Portaria do Presidente do CONFEA, Portaria Nº 118/82 Atribuições dos Técnicos em Mineração. Brasília-DF. - 1982. I.2.a.24.Participação no Grupo de Trabalho, instituído por Portaria do Presidente do CONFEA, Portaria Nº 174/82-Abrangência dos Cursos de Técnicos de 2º Grau. Brasília-DF.- 1982. I.2.a.25.Participação no Grupo de Trabalho, Portaria AD. Nº 184/82, referente à Formação Profissional de maneira geral a serem desenvolvidas pela Secretaria da Mão de obra do MTb. Brasília-DF. - 1982. I.2.b. ENTIDADES / INSTITUIÇÕES I.2.b.1.Membro Suplente do Comitê de Urbanismo da União Internacional de Arquitetos (Órgão Assessor da UNESCO) - 1962. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 115 I.2.b.2.Convite para integrar a Comissão de Seleção dos Anteprojetos da Sede da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS. - 1964. J.PROJETOS DE ARQUITETURA J.1.a. RESIDENCIAIS J.1.a.1.Residência Maria Flor, Rua Montenegro. Porto Alegre-RS. - 1952. J.1.a.2.Residência Dr. Ernesto Cros Valdez, Av. Bastian. Porto Alegre-RS. - 1953. J.1.a.3.Residência Dep.Cândido Norberto, Av.Praia de Belas(em equipe arq.Luiz Fernando Corona).Porto Alegre-RS. 1955. J.1.a.4.Residência do Sr. Enildo Carvalinho. Vitória-ES. - 1956. J.1.a.5.Residência Dr. Romeu Juchem (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Caxias do Sul-RS. - 1961. Caixa 1/1 J.1.a.6.Residência Sr. Henrique Krolikowski, Jardim Lindóia (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Porto Alegre-RS. - Material representativo digitalizado. Caixa 1 – Krolikowisky Neuguebauer, Canudo 01 + Originais projeto estrutural. 1961. J.1.a.7.Residência do Sr. Wilmar Ferreira, Cel. Demétrio Ribeiro (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Porto Alegre-RS. - 1962. Caixa Diversos U8 J.1.a.8.Residência do Sr. Petrônio Corrêa, Rua André Puente (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Porto Alegre-RS. 1963. J.1.a.9.Residência do Dr. Carlos Coutinho, Rua João Obino 9em equipe arq. Suzy T.B.Fayet). Porto Alegre-RS.1964. J.1.a.10.Residência do Sr. Waldir Bischoff, Rua Artur Rocha (em equipe arq. Suzy T. B. Fayet). Porto Alegre-RS 1969/1970. J.1.a.11.Residência do Sr. Renato Menzel, Rua Maracá (em equipe arq. Suzy T. B. Fayet). Porto Alegre-RS. - 1969 /1970. Material representativo digitalizado. Caixa 1 – Residência 1969 J.1.a.12.Residência do Dr. Marcelo Blaya, Rua Fernandes Vieira (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet. Porto Alegre-RS. - 1970. Material representativo digitalizado. Canudo 01 – Completo (Arquitetônico, Elétrico, Hidráulico) J.1.a.13.Residência do Dr. Marcos Nestrovsky, Rua Langendonck (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Porto Alegre-RS. 1970. J.1.a.14.Residência do Dr. Zeniro Sanmartin, Rua 14 de julho (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Porto Alegre-RS. 1971. J.1.a.15.Residência de praia do Dr. Marcelo Blaya (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Gov. Celso Ramos-SC. - 1973/1974. J.1.a.16.Residência do Sr. João Carlos Schell, Rua José Sanguinetti (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Porto Alegre-RS. - 1974 Material Representativo digitalizado, Canudo 01 junto com Jaime paz. Caixa 1 – Arquitetônico 1974 .J.1.a.17.Residência do Dr. Jaime Paz da Silva (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Porto Alegre-RS. 1974. Caixa 01 – Canudo 01 junto com residência Schell) J.1.a.18.Residência de praia do Dr. Ary Juchem (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Xangrilá-RS. 1974. J.1.a.19.Residência do Dr. João Antonio Martinez (reforma e aumento), Rua Prof. Emílio Mayer (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Porto Alegre-RS. - 1974. Caixa Diversos J.1.a.20.Residência do Sr. Jorge Inda, Jardim Isabel-Pedra Redonda (em equipe arq. Nelson Inda). Porto Alegre-RS. 1974. J.1.a.21.Projeto da residência do Sr. Marco Antonio Fonseca, Belém Novo (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Porto Alegre-RS. - 1976. J.1.a.22.Projeto da residência do Dr. David Zimmermann (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Porto Alegre-RS. - 1977. J.1.a.23.Projeto da residência do Dr. Abade Pereira Bulhões (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Porto Alegre-RS. 1977. J.1.a.24.Projeto da residência do Dr. Vitor Stumpf (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Gravataí-RS. 1977. J.1.a.25.Residência de veraneio do Sr. Ernesto Neuguebauer (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Gov. Celso Ramos- SC - 1981. Caixa 1 – Krolicovisky Neuguebauer J.1.a.26 – Residência Alexandre Machado, Caixa Diversos U8 J.1.a.27 – Residência Kurt Buttler, Caixa Diversos U7 J.1.b. EDIFÍCIOS / APARTAMENTOS J.1.b.1.Edifício de apartamentos (residência própria)(800m2), Rua Vicente de Paula Dutra, 225 (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo e arq. Moacyr Moojen Marques). Porto Alegre-RS. - 1965/1969. J.1.b.2.Edifício de apartamentos à Rua Vitória (500m2) (em equipe arq. Suzy T.B. Fayet). Porto Alegre-RS. - 1977. J.1.b.3.Edifício de apartamentos à Rua Toropi para o Sr. Carlos Maximiliano Fayet (1.500m2)(em equipe arq. Suzy T.B. Fayet. Porto Alegre-RS. - 1979. J.1.b.4.Edifício de apartamentos à Rua Corte Real para o Dr. Flávio Koff Coulon (1.100m2). Porto Alegre-RS. 1979. J.1.b.5.Edifício de apartamentos para o Lote 31 da Quadra 4 do loteamento da Praia de Belas para a Maguefa-Empreendimentos Imobiliários Ltda. Porto Alegre-RS. - 1981. J.1.b.6.Edifício de apartamentos para o Lote 28 da Quadra 4 do loteamento da Praia de Belas para a Maguefa-Empreendimentos Imobiliários Ltda. (12.000m2). Porto Alegre-RS. - 1984. J.1.b.7.Edifício de apartamentos para o Lote 29 da Quadra 4 do loteamento da Praia de Belas para a Maguefa-Empreendimentos Imobiliários Ltda. (12.000m2) (em equipe). Porto Alegre-RS. - 1984. J.1.b.8.Edifício de apartamentos para o Lote 30 da Quadra 4 do loteamento da Praia de Belas para a Maguefa-Empreendimentos Imobiliários Ltda. (12.000m2). Porto Alegre-RS. - 1984. J.1.b.9.Edifício de apartamentos para a Fundação Habitacional do Exército-09 pavimentos (8.092.77m2)(em equipe arq. Claudio Luiz Araújo). Porto Alegre-RS. - 1988. J.1.c. CONJUNTOS RESIDENCIAIS J.1.c.1.Conjunto de residências para a Siderurgia Aços Finos Piratini (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). São Jerônimo-RS. - 1966. J.1.c.2.Conjunto residencial para a Cooperativa Habitacional dos Bancários de Porto Alegre, Rua Silveira (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo e arq. Moacyr Moojen Marques). Porto Alegre-RS. 1968. J.1.c.3.Unidade Urbanística da Praia de Belas (500.000m2) (em equipe arq. Jorge Decken Debiagi). Porto Alegre-RS. - 1977. J.1.c.4.Conjunto de edifício de apartamentos para o Quarteirão Q3 da Urbanização da Praia de Belas para a empresa Maguefa-Empreendimentos Imobiliários Ltda. (64.000m2) (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo). Porto Alegre-RS. - 1985. J.2. J.2.a. ESCRITÓRIOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS 116 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Fayet J.5. EDIFÍCIOS PÚBLICOS OU INSTITUCIONAIS J.2.a.1.Edifício de escritórios para a empresa PROPART, Rua Sete de Setembro. Porto Alegre-RS. 1977. J.2.a.2.Sede da firma GEOMAPA) Fotogrametria S.A. (3.500m2). Porto Alegre-RS. - 1977. J.2.a.3.Inspeção de equipamentos da Refinaria Alberto Pasqualini-REFAP, com área de 450m2 (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Canoas-RS. - 1985. J.2.a.4.Petrobrás-Petróleo Brasileiro S.A . Projeto de reciclagem para o prédio da Administração (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda. e arq. Moacyr Moojen Marques. Osório-RS. - 1990/1991. J.2.b. EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM COMPLEXOS J.5.1. Palácio da Justiça de Porto Alegre (Sede do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul) (1.500m2). Praça Marechal Deodoro (em equipe arq. Luis Fernando Corona). Porto Alegre-RS. 1954/1967. J.5.2. Secretaria Municipal da Produção e do Abastecimento - Av. Carlos Gomes esquina Av. Protásio Alves. Porto Alegre-RS. - 1960. J.5.3.Edifício Sede do Instituto de Arquitetos do Brasil - Rua Prof. Annes Dias. Porto Alegre-RS. 1960/1963. J.5.4. Projeto Terminal Rodo-aquaviário de Passageiros de Vitória-ES. (22.000m2) (em equipe arq. Nelson Inda. Vitória-ES. - 1977. Material representativo digitalizado. Caixa 1 – Rascunhos. Caixa 2 – Diversos/Documentos, Caixa 3 – Estudo Preliminar, Caixa 4 – Anteprojeto, Caixa 5 – Arquitetura 01/20 , Caixa 6 – Arquitetura 21/40, Caixa 7 - Arquitetura 41/59, Caixa 8 – Hidrossanitário e Estrutura, Caixa 9 – Instalações Elétricas, Comunicação Visual e Ar Acondicionado . Canudo 1 e 2 – Originais Diversos. Canudo 3 – Programação Visual e Sinalização (Carlos Gravina); J.6. RECREATIVOS E ESPORTIVOS J.2.b.1.Escritórios da Refinaria Alberto Pasqualini-REFAP/SUPRO (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Canoas-RS. - 1962/1968. J.2.b.2.Escritórios do Terminal Almirante Soares Dutra-TEDUT (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Osório-RS. 1962/1968. J.2.b.3.Escritórios Centrais de Abastecimento S.A . CEASA RS (em equipe - arq. Carlos Eduardo Comas). Porto Alegre RS. - 1970. J.2.b.4.Escritórios da CIA Petroquímica do Sul-COPESUL (em equipe arq. Luiz I. Boeira). TriunfoRS. - 1978/1981. J.2.b.5.Projetos de reciclagem e reformulação parcial dos prédios da Portaria (SEGIN), Segurança Industrial (SESIN) e Superintendência Executiva da produção (SUPRO) para a Refinaria Alberto Pasqualini-REFAP, (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Canoas-RS. - 1984. J.2.b.6.TASA-Telecomunicações Aeronáuticas S.A . Projeto para a nova sede: Oficinas e anexos (9.000m2), Escritórios (22.500m2), Associação dos Funcionários (1.300m2) (em equipe - Equipe de arquitetos Ltda., arq. Guillermo L. Silva). Galeão/Ilha do Governador-Rio de Janeiro-RJ. 1986/1987. J.2.b.7.Escritórios da Tramontina Materiais de Pesca S.A . (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo e arq. Sandra M. Boeira). Gravataí-RS. - 1986/1987. J.2.b.8.Escritórios da Tramontina Ferramentas Agrícolas S.A . (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo e arq. Luiz I. Boeira). Carlos Barbosa-RS. - 1987. J.2.b.9.EFFEM-Produtos Alimentícios Inc. e Cia. Anteprojeto do prédio Administrativo, Refeitório, Vestiários e Serviços. (área total 2.005m2)(em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). CachoeirinhaRS. - 1989. J.2.b.10.CIENTEC-Fundação de Ciência e Tecnologia/Campus. Projeto para edificações dos prédios: Técnico, Administração, Refeitórios, Vestiários. (área total de 2.475m2)(em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda., arq. Fernando Bahima). Cachoeirinha-RS. - 1989. J.2.b.11.Petrobrás-Petróleo Brasileiro S.A . Projeto de reciclagem para o prédio da Administração. Terminal Almirante Soares Dutra-TEDUT. Osório-RS. - 1990/1991. J.3. J.4. USO MISTO COMERCIAIS E SERVIÇOS Sede da Sociedade dos Amigos do Arroio do Sal. Arroio do Sal-RS. - 1962. J.6.1. J.6.2. Sede Social e Esportiva do Sport Club Cruzeiro - Av. Protásio Alves. Porto Alegre-RS. 1972. J.6.3. Sede Campestre Antônio Delapieve S.A.-Corretora de Câmbio e Valores Mobiliários. Porto Alegre-RS. - 1975. J.6.4. Sede da Associação Atlética SULPETRO, dos funcionários da Petrobrás (3.715m2)) (em equipe - Equipe Arquitetos Ltda.. Canoas-RS. - 1988. J.7. EDUCAÇÃO E CULTURA J.7.1. Anteprojeto ao concurso para o monumento a Don José Batlle y Ordoñez. Porto AlegreRS. - 1955. J.7.2. Casa do Artista Riograndense.- 1958 J.7.3. Auditório Araújo Vianna (4.500 espectadores) Parque Farroupilha (em equipe arq. Moacyr Moojen Marques.). Porto Alegre-RS. - 1961. J.7.4. Projeto da Cobertura para o Auditório Araújo Vianna. Porto Alegre-RS. - 1976. J.8. SOCIAL E RELIGIOSO J.8.1. Sociedade dos Surdos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS. - 1974. J.8.2. Centro Turístico Internacional, de propriedade do Dr. Paulo Jobim de Moraes (20.000m2) (em equipe arq. José Artur D’Alo Frota. Santana do Livramento-RS. - 1978/1979. Caixa 1 e 2. Tubo 01 e 02 J.8.3. Centro Evangélico Material representativo digitalizado Caixa 1 - Arquitetura 68/69; Caixa 2 - Projeto Detalhes; Caixa 3 – Instalações; Caixa 4 – Instalações; Caixa – 5 : Ar Condicionado 1961; Caixa 6 – Estudos e Correspondências, Caixa 7 – Arquitetônico 1960/68 – Levantamento e sobreposição 2001/2001 – Planilhas e PDDUA Canudo 01 – Detalhamento Armênio Wendaausen. J.8.4 – Igreja de Ita – relocação Sede Municipal de Ita – Usina Hidrelétrica – 1986 – Participação Dieste & Montañez – Caixa 1 J.4.1.Conjunto integrado de Shopping Center, apart-hotel, escritórios e garagens para o quarteirão Q1 da urbanização do Praia de Belas para firma Maguefa Empreendimentos Imobiliários Ltda., com uma área total de145.000m2. Porto Alegre-RS. - 1985. J.4.2. Conjunto de Shopping Center e Hotel para o quarteirão Q1 da urbanização da Praia de Belas para a firma La Fonte Empresa de Shopping Centers S.A. 126.000m2 (em equipe arq. Julio Neves). Porto Alegre-RS. 1988. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 117 J.9. SAÚDE J.9.1. Santa Casa de Caridade de Bagé (em equipe arq. Luis Fernando Corona). Porto AlegreRS. - 1955. J.9.2. Serviços Médicos da refinaria Alberto Pasqualini REFAP (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Canoas-RS.1962/1968. J.9.3. Remanejamento e conclusão da Clínica Pinel. Rua Santana. Porto Alegre-RS. 1973/1974. J.9.4. Posto Médico da Central de Matérias Primas do III Polo Petroquímico-Companhia Petroquímica do Sul-COPESUL (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Triunfo-RS. - 1978/1981. J.9.5. Projeto de reciclagem para prédio dos Serviços Médicos da Refinaria Alberto PasqualiniSEMED-REFAP (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Canoas-RS. - 1986. J.10. ALIMENTAÇÃO J.10.1.Refeitório da Refinaria Alberto Pasqualini-REFAP (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Canoas-RS.-1962 /1968. J.10.2.Refeitório do Terminal Almirante Soares Dutra-TEDUT (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Osório-RS. - 1962/1968. J.10.3.Restaurante da Central de Abastecimento S.A .-CEASA RS (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo e arq. Carlos Eduardo Comas). Porto Alegre-RS. - 1970. J.10.4.Projeto do Restaurante Turístico do Parque da Guarita (em equipe arq. Milton Mattos). Porto Alegre-RS. - 1973. J.10.5.Refeitório da Tramontina Materiais de Pesca S.A. (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda./arq. Sandra M. Boeira). Gravataí-RS. - 1986.1987. J.10.6.Refeitório da Tramontina Materiais de Pesca S.A. (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda./arq. Sandra M. Boeira). Gravataí-RS. - 1986/1987. J.10.7.Restaurante da Associação Atlética SULPETRO (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Canoas-RS. - 1988. J.10.8.Refeitório da Fundação de Ciência e Tecnologia-Campus-CIENTEC (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda./ arq. Fernando Bahima). Cachoeirinha-RS. - 1989. J.10.9.Novo Refeitório do Terminal Almirante Soares Dutra-TEDUT (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda./ arq. Moacyr Moojen Marques). Área total 712m2. Osório-RS. - 1990/1991. J.10.10.Refeitório da TASA-Telecomunicações Aeronáuticas S.A.-Galeão. Ilha do Governador (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda./arq. Guillermo L. Silva). Rio de Janeiro-RJ. - 1990/1991. J.10.11.Refeitório da Tramontina Ferramentas Agrícolas S.A. (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda./arq. Luiz I. Boeira/arq. Sandra M. Boeira). Carlos Barbosa-RS. - 1992. J.10.12.Refeitório da Petroflex-Indústria e Comércio S.A. (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Triunfo-RS.-1993. J.11. INDUSTRIAIS J.11.a.4.RIOCELL-Rio Grande Cia.de Celulose do Sul. Depósito de celulose (5.000m2), almoxarifado/escritórios(2.700m2) (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Guaíba-RS. - 1979. J.11.a.5. Casa de Controle da ampliação da Refinaria Alberto Pasqualini (em equipe). Canoas-RS. 1981. J.11.a.6.Petrobrás-Casa de Controle da ampliação da Refinaria Alberto Pasqualini (em equipe Equipe de Arquitetos Ltda.). Canoas-RS. - 1981. J.11.a.7.Projetos de reciclagem e reformulação parcial nos prédios da Portaria (SEGIN). Segurança Industrial (SESIN) e Superintendência Executiva da Produção (SUPRO) para a Refinaria Alberto Pasqualini-REFAP (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Canoas-RS. - 1984. J.11.a.8.Petrobrás Petróleo Brasileiro S.A. Projeto do prédio de Inspeção de Equipamentos da REFAP, com área de 450m2 (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.) Canoas-RS. - 1985. J.11.a.9.Petrobrás-Petróleo Brasileiro S.A. Projeto para a Casa de Transferência-SETRAE-REFAP (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.) Canoas-RS. - 1986. J.11.a.10.Petrobrás-Petróleo Brasileiro S.A. Projeto para o prédio de Oficinas ComplementaresREFAP (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.) Canoas-RS. - 1986. J.11.a.11.Tramontina Cutelaria S.A. Projeto de uma fábrica para produção de facas para exportação. Lay-out no sistema “JIT” área 12.000m2 (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda./ arq. Fernando Bahima. Cachoeirinha-RS.1989/1990. J.11.a.12.CIENTEC-Fundação de Ciência e Tecnologia. Projeto para edificações de prédios: Técnico, Administração, Refeitório, Vestiário (área total 2.475m2) (em equipe). Cachoeirinha-RS. 1989. J.11.a.13.EFEM-Produtos Alimentícios Inc. e Cia. Concurso para projeto do prédio Administrativo, Refeitório, Vestiários e Serviços (área total 2.005m2) (em equipe). Porto Alegre-RS. - 1989. J.11.a.14.Forjasul S.A. Materiais Elétricos. Pavilhão Industrial para galvanização (área total 800m2)(em equipe).Carlos Barbosa. - 1990. J.11.a.15. Tramontina Forjasul S.A. Portaria Geral. Projeto para edificações da Sala Portaria, Subestação, Sanitário e Depósito (área total 400m2) (em equipe). Carlos Barbosa-RS. - 1990. J.11.a.16.Petrobrás Petróleo Brasileiro S.A. Projeto de reciclagem para o prédio da Administração e projeto para edificação do novo Refeitório do Terminal Almirante Soares Dutra (área total 625,43m2) (em equipe)Tramandaí- RS. - 1990. J.11.a.17.Irmãos Geremia Ltda.-Estudos preliminares, anteprojeto e projeto de Portaria, Laboratório e Pavilhão Industrial para a indústria de bombas Irmãos Geremia (área total 2.809,39m2) (em equipe - Equipe de Arquiteto Ltda.). São Leopoldo-RS. - Data? J.11.b.COMPLEXOS INDUSTRIAIS J.11.b.1.Refinaria Alberto Pasqualini REFAP (Conjunto de edificações da Petrobrás). Rodovia BR 101 Km 13 (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Canoas-RS. - 1962/1968. J.11.b.2.Terminal Almirante Soares Dutra-TEDUT (conjunto de edificações da Petrobrás) (em equipe). Tramandaí-RS. - 1962/1968. J.11.b.3.Terminal Almirante Soares Dutra-TEDUT (conjunto de edificações da Petrobrás) (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Osório-RS. - 1962/1968. J.11.b.4.COPESUL-Companhia Petroquímica do Sul-Central de Matérias Primas do III Polo Petroquímico. Área Administrativa: a) Urbanização/área de 34,27há, 1)Plano Diretor, 2)Sistema Viário, 3)Paisagismo, 4)Comunicação Visual. b) Edificações, 1)Almoxarifados(10.070m2), 2)Oficinas (13.050m2), 3)Centro de Treinamento (670m2), 4)Centrais Térmicas/Subestação (700m2), 5)Portaria/Balança (100m2), 6)Sanitários e Vestiários (2.750m2), 7)Relações 2 Públicas/Auditório/Agência bancária (1.080m ), 8)Portaria Principal/Posto Centralizado/Vigilância (2.410m2), 9)Segurança Industrial (1.910m2), 10)Posto Médico (1.060m2), 11)Central Telefônica-CRT J.11.a.EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS J.11.a.1.Indústrias Krolikowski. Canoas-RS. - 1966. J.11.a.2.Coordenação do Projeto Definitivo para a construção da CEASA-Central de Abastecimento de Porto Alegre 1ª etapa (36 há e 60.000m2 de área construída). - 1970/1971. J.11.a.3.Petroflex-Indústria e Comércio S.A.-Unidades de Apoio Operacional e Administrativo da Fábrica de Borracha Sintética, no III Polo Petroquímico Nacional (área 15 ha). Edificações 16.000m2, estudo preliminar (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Triunfo-RS. - 1979. 118 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Fayet (540m2), 12)Administração (4.710m2) (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Triunfo-RS. 1977/1983. J.11.b.5.Petroflex Ind. E Com. S.A. Unidades de Apoio Operacional e Administrativo da Fábrica de Borracha Sintética, no III Polo Petroquímico (área: 15ha; edificações: 16.000m2).Estudo preliminar para concurso (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.) Triunfo-RS. - 1979. J.11.b.6.Petrobrás Petróleo Brasileiro S.A. Projeto para a Casa de Tansferência-SETRAE-REFAP (em equipe).Canoas-RS. - 1986. J.11.b.7.TASA Telecomunicações Aeronáuticas S.A. Projeto para a nova sede: Oficinas e Anexos (9.000m2), Escritórios (22.500m2), Associação dos Funcionários (1.300m2) (em equipe). Galeão-Ilha do Governador-Rio de Janeiro-RJ. - 1986/1987. J.11.b.8.Tramontina Ferramentas Agrícolas S.A. e Forjasul S.A. Materiais Elétricos. Plano Diretor para as novas instalações industriais da fábrica de ferramentas agrícolas e materiais elétricos (em equipe). Carlos Barbosa-RS. 1986. J.11.b.9.Tramontina Materiais de Pesca S.A. Plano Diretor e projeto das edificações industriais e da área administrativa, incluindo Escritórios, Vestiários, Refeitório, Agência bancária e Portarias (área total 21.770m2) (em equipe). Distrito Industrial de Gravataí. Gravataí-RS. - 1986/1987. J.11.b.10.Tramontina S.A. e Forjasul S.A. Projeto das edificações industriais. Projeto das edificações das área Administrativa, incluindo Escritórios, Vestiários, Refeitório, Agência bancária e Portarias (área total 37.000m2) (em equipe). Carlos Barbosa-RS. - 1986/1987. J.11.b.11.Tramontina Ferramentas Agrícolas S.A. e Forjasul Materiais Elétricos S.A. Projeto das edificações industriais.Projeto das edificações da área Administrativa, incluindo Escritórios, Vestiários, Refeitório, Agência bancária e Portarias (área total 37.000m2) (em equipe - Equipe de Arquitetos). Carlos Barbosa-RS. - 1986/1987. J.11.b.12.Fábrica de Elastômeros Irmãos Geremia Ltda. Estrada do Timm-Distrito Industrial (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Urbanização/Paisagismo (54.264m2), Edificações/Pavilhões Industriais (2.261m2), Portaria/Vestiários (376m2), Laboratório (180m2), Subestação/Medidores (132m2). São Leopoldo-RS.- 1991/1992. J.12. MERCADOS M1. RESIDENCIAS M1.1 José Enoir Loss, reforma, 1979. Caixa Diversos M1.2 Fernando Bier da Silva, reforma, André Poente Caixa Diversos M.2. ESCRITÓRIOS M.2.1. Escritórios das Diretorias de Produção de Distribuição da Companhia Estadual de Energia Elétrica-CEEE-Ed.Formac (em equipe arq. Suzy T. B. Fayet). Porto Alegre-RS. - 1976. M2.2. Calçados Renner, Arquitetura, Ar Condicionado, 1977- 1978, Reforma. Caixa 1/1 M.5. M.5.1. Sede RECREATIVOS E ESPORTIVOS Associação Atlética SULPETRO-Associação dos Empregados da Petrobrás. Interiores da (em equipe Equipe de Arquitetos Ltda.) Canoas-RS. - 1987. N.PROJETOS DE URBANISMO N.1. PLANOS DIRETORES / URBANIZAÇÃO E PLANOS REGIONAIS J.12.1.Estudo de viabilidade para a Central de Abastecimento de Porto Alegre-anteprojeto de arquitetura (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo). Responsável pelo setor de arquitetura para a PLANISUL S.A.). Porto Alegre-RS. - 1969. J.12.2.Centrais de Abastecimento S.A.Projetos de arquitetura e plano geral de implantação da 1ª Etapa: 36 há.Área edificada: 60.000m2 (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo e arq. Carlos Eduardo Comas). Responsável pelo setor de arquitetura para a PLANISUL S.A. Porto Alegre-RS. - 1970. L. PROJETOS ESPECIAIS L.1.Projeto para o Viaduto da praça Conde de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1959. L.2. Entroncamento Rodoviário BR 116-Km 13-REFAP (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.) Canoas-RS. -1967/1968. L.3. Acesso Rodoviário ao Terminal Almirante Soares Dutra-TEDUT (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Osório-RS. - 1967/1968. L.4. Projeto Geométrico da Elevada da Avenida Mauá. Porto Alegre-RS. - 1971. L.5. III Perimetral – Ponte Rua Múcio Teixeira sobre Arroio Dilúvio – 1998. Caixa 1/1 M.PROJETOS ARQUITETURA DE INTERIORES/REFORMAS N.1.1. Urbanização da Praia de Belas (em equipe). Porto Alegre-RS. - 1956. N.1.2. Projeto para a primeira Avenida Perimetral (em equipe)., Porto Alegre-RS. - 1958. N.1.3. Plano Piloto para a Cidade Universitária de Porto Alegre (em equipe). Porto Alegre-RS. 1968. N.1.4. Refinaria Alberto Pasqualini-REFAP. Área Administrativa da REFAP (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.) Canoas-RS. - 1968. N.1.5. Terminal Almirante Soares Dutra-TEDUT. Área Administrativa (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.) Osório-RS. - 1968. N.1.6. Relatório preliminar para o Plano de Desenvolvimento de Caxias do Sul (em equipe Urbasul). Caxias do Sul-RS. - 1970. Caixa 1/1 Diversos U4 N.1.8. Projeto Urbanístico e Viário para a Área Administrativa da Central de Matérias Primas da Copesul, 29 ha(em equipe). Triunfo-RS. - 1978. N.1.9. Coordenação do Setor de Arquitetura e Urbanismo do estudo de viabilidade e projeto final da Central de Abastecimento de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1970. N.1.10.Projeto de urbanização da área da Praia de Belas para Maguefa-Empreendimentos Imobiliários Ltda. Área total 9,9 ha. Porto Alegre-RS. - 1978. N.1.11.Projeto para o Jardim da Serra, propriedade da Sociedade Serrana. São Francisco de PaulaRS. - 1981. N.1.12.Projeto de urbanização da Praia de Belas nova versão transformada em Lei Complementar PMPA Nº 86/83. Porto Alegre-RS. - 1983. N.1.13.Tramontina Ferramentas Agrícolas S.A. e Forjasul S.A. Materiais Elétricos (em equipe Equipe de Arquitetos Ltda.) Carlos Barbosa-RS. - 1986. N.1.14.Tramontina Materiais de Pesca S.A. área de 16,4 ha (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Distrito Industrial. Gravataí-RS. - 1986. N.1.15.Tramontina Farroupilha S.A. Projeto do Plano Diretor, Terraplenagem e Urbanização das áreas destinadas a implantação de duas Fábricas e um Depósito e Expedição. Área total 6.675m2. (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda./arq. Sandra M. Boeira). Farroupilha-RS. - 1989. N.1.16.Irmãos Geremia Ltda.-Fábrica de Elastômeros. Estrada do Timm-Distrito Industrial. Área 5,4 ha (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.) São Leopoldo-RS. - 1991/1992. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 119 N.1.17.Projeto do Plano Diretor, Terraplenagem e Urbanização das áreas destinadas a implantação de duas Fábricas e um Depósito e Expedição, para a Indústria Tramontina Farroupilha S.A. Área total 66.675m2 (em equipe). Farroupilha-RS. - 1989. N.1.18.Área da Estação Ferroviária-Prefeitura Municipal. Anteprojeto (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo e arq. Sérgio Moacir Marques). Carlos Barbosa-RS. - 1991. N.1.19.Projeto de Urbanização e Desmembramento do solo (loteamento) para o condomínio Landell de Moura, área total 220 ha. Porto Alegre-RS. - 1990. N.2. LOTEAMENTOS P.PROJETOS DE PAISAGISMO / ARQUITETURA PAISAGISTA P.1.VINCULADO À ARQUITETURA P.1.1. Área Administrativa do Terminal Almirante Soares Dutra-TEDUT/PETROBRÁS (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda. e arq. Claudio Ferraro). Osório-RS. - 1968. P.1.2. Área Administrativa da Refinaria Alberto Pasqualini-REFAP/PETROBRÁS (em equipe Equipe de Arquitetos Ltda. e arq. Claudio Ferraro). Canoas-RS. - 1968. P.1.3. Central de Abastecimento de Porto Alegre-CEASA/RS (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo e eng.agr. Ronald Jamieson. Porto Alegre-RS. - 1970/1974. P.1.4. Área Administrativa da Central de Matérias Primas do III Polo Petroquímico COPESUL. Área total 27 ha (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Triunfo-RS. - 1978. P.1.5. Áreas Externas do Terminal Rodo-aquaviário de Vitória. Vitória-ES. - 1978. P.1.6. Estudo preliminar para Área de lazer da RIOCELL-Rio Grande Cia. de Celulose do Sul. Área total 1,7 ha (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Guaíba-RS. - 1979. P.1.7. Projeto Paisagístico para o Acesso à Associação Atlética Sulpetro, junto à área da Refinaria Alberto Pasqualini (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.) Porto Alegre-RS. - 1986/1987. P.1.8. Projeto Paisagístico para o Acesso às novas instalações da Tramontina Ferramentas Agrícolas S.A. e Forjasul S.A. Materiais Elétricos (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Carlos Barbosa-RS. - 1986/1987. P.1.9. Acesso à associação Atlética Sulpetro, junto à área da Refinaria Alberto Pasqualini-REFAP (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Porto Alegre-RS. - 1986/1987. P.1.10.Projeto Paisagístico para o Acesso às novas instalações da Tramontina Materiais de Pesca S.A., no Distrito Industrial (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Gravataí-RS. - 1987. P.2. URBANO N.2.1. Projeto do Parque Residencial Querência. São Francisco de Paula-RS. - 1972. N.2.2. Projeto do Loteamento Industrial da Restinga-Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. 1992. O.PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL O.1.PLANOS URBANOS Plano Diretor de Porto Alegre (em equipe). Porto Alegre-RS. - 1954/1961. O.1.1. O.1.2. Pré-plano para a cidade de Panambi. Panambi-RS. - 1958. O.1.3. Plano Diretor do Delta do Jacuí (em equipe). Porto Alegre-RS. - 1958. O.1.4. Atualização Cadastral da cidade de Esteio (em equipe Urbasul). Esteio-RS. - 1970. Caixa 1 – Levantamento Aerofotogramétrico, 1969. Plano Diretor Urbano de Esteio (em equipe Urbasul). - 1971. Caixa 2 – Urbasul 1969 O.1.5. Plano Diretor de Taquara (em equipe Urbasul). Taquara-RS. - 1970. O.1.7. Plano Diretor de Criciúma (em equipe Urbasul). Criciúma-SC. - 1972. Caixa 2/2 O.2. PLANOS REGIONAIS O.2.1. Estudo de Estrutura Urbana da Bacia Taquari-Antas (em equipe). Taquari-RS. 1968/1969. O.2.2. Consultoria à Comissão de Planejamento Integrado da Grande Vitória. Vitória-ES. - 1969. Caixa 2/2 O.2.3. Coordenação do Projeto da 2ª Avenida Perimetral de Porto Alegre. Porto Alegre-RS. 1970. O.2.4. Diretrizes para o uso do Solo Urbano do Aglomerado Urbano de Florianópolis. Consultor da Equipe Técnica. Florianópolis-SC. - 1976/1977. O.2.5. Grande Vitória-Uma Proposta de Ordenação da Aglomeração Urbana. Consultor Técnico. Vitória-ES. - 1976/ - Caixa 1 e 2 - Fundação Jones do Santos Neves, Governo do Estado do Espírito Santo.1977. O.2.6. Consultoria à Secretaria do Planejamento do Estado do Maranhão para a Planificação da Área Metropolitana . Caixa 1/ Diversos U7de São Luiz. São Luiz-MA. - 1976. O.2.7. Consultoria à Prefeitura Municipal de Florianópolis, para o Planejamento da Área Metropolitana de Florianópolis. Florianópolis-SC. - 1976. Caixa 1/1 O.2.8. Grande Vitória-Uma Proposta de Ordenação da Aglomeração Urbana. Consultor Técnico. Vitória-ES. – 1976/1977. O.2.9. Consultoria à Prefeitura Municipal de Vitória, para o Planejamento da Área Metropolitana de Vitória. Virória-ES. - 1977. O.2.10.Projeto de Reurbanização da Praia do Sol. Guarapari-ES. - 1977. P.2.1. Estudo Preliminar para o Parque Marinha do Brasil, convidado pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre.Porto Alegre-RS. - 1976. P.2.2. Elaboração de estudos, anteprojetos arquitetônicos, com vistas ao tratamento paisagístico dos acessos à Porto Alegre, de interesse do Ministério dos Transportes-GEIPOT. a) Belvedere do Saco da Alemôa-Encontro E1 e Encontro E2 da ponte sobre o Saco da Alemôa; b) Trevo da Av. Sertório. Porto Alegre-RS.-1983/1984. P.2.3. Assessoramento na elaboração de estudos, anteprojetos e projetos, com vistas ao tratamento paisagístico dos acessos à Porto Alegre, de interesse do Ministério dos Transportes e sob a coordenação da Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes-GEIPOT. a) Av. Castelo Branco/Faixa Portuária; b) Av. Castelo Branco/Faixa de Domínio; c) Travessia Régis Bittencourt/Faixa de Domínio (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.) Porto Alegre-RS. 1983/1984. P.2.4. Projeto paisagístico das Áreas Verdes, Q2 11.000m2 Praça Itália, Q4 Praça Rotary e Q5 Praça Santa Catarina, da Urbanização da Praia de Belas. Área total 29.809,57m2. Porto Alegre-RS. 1990. P.2.5. Elaboração de projeto paisagístico para o Acesso à Porto Alegre, através da BR 116-Av. dos Estados, trecho entre a Praça do Laçador e a ponte sobre o Rio Gravataí (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Porto Alegre-RS. - 1984. P.2.6. Parque Ecológico do Guarapiranga-Recuperação da Bacia do Guarapiranga. Área 330 ha. Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo-Anteprojeto (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo/arq. Sandra M. Boeira/eng.agr. Elaine L. Nunes e eng.agr. Helena W. Schanzer. São PauloSP. - 1991. 120 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Fayet P.2.7. Projeto de arquitetura paisagística do “Loteamento Industrial da Vila Restinga”. Porto Alegre-RS. - 1992. Caixa 1 Canudo 01 P.2.8 Projeto do Detalhamento da Área Funcional de Preservação Cultural e Proteção da Paisagem Urbana para a Vila do IAPI, Porto Alegre/RS, 1994. Caixa, 1, 2, 3 – IAPI, recuperação Projeto Urbanístico, 1991, 1994 P.3. REGIONAL Estudo preliminar do projeto paisagístico do Parque Ecológico do Guarapiranga. Área 330 P.3.1. ha. São Paulo-SP. - 1991. Q.PROGRAMAÇÃO VISUAL Q.1.VINCULADO À ARQUITETURA Sinalização do Sistema Viário da Central de Abastecimento CEASA/RS (Planisul-Asplan) Q.1.1. (em equipe arq.Claudio Luiz Araújo). Porto Alegre-RS. - 1970. Q.1.2. Sinalização do Sistema Viário e de Comunicação Visual para o Terminal Rodo-aquaviário de Vitória (em equipe Gravina). Vitória-ES. - 1982. Q.1.3. Sinalização Viária da Área Administrativa da Central de Matérias Primas do III Polo Petroquímico-COPESUL. (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Triunfo-RS. - 1982. Q.2.URBANA E REGIONAL Q.2.1. Sinalização da 2ª Perimetral de Porto Alegre (Planisul-Asplan) (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo). Porto Alegre-RS. - 1970. Q.2.2. Sinalização da 2ª Perimetral de Porto Alegre (Planisul-Asplan) (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo). Porto Alegre-RS. - 1970. Q.2.3. Sinalização e Mobiliário Urbano para a Prefeitura Municipal de Carlos Barbosa (em equipe arq. Claudio Luís Araújo e arq. Sérgio Moacir Marques). Carlos Barbosa-RS. - 1990. Q.2.4. Sinalização e Mobiliário Urbano para a Prefeitura Municipal de Carlos Barbosa (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo e arq. Sérgio Moacir Marques). Carlos Barbosa-RS. - 1990. Q.2.5. Sinalização de Sistema Viário e de Comunicação Visual do Loteamento da Restinga. Porto Alegre-RS.-1992. R.DESENHO INDUSTRIAL R.2.MOBILIÁRIO URBANO R.2.1. Projeto de Sinalização e Mobiliário Urbano para a cidade de Carlos Barbosa (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo e arq. Sérgio Moacir Marques). Carlos Barbosa-RS. - 1990. R.2.2. Projeto de Sinalização e Mobiliário Urbano das Áreas Verdes, Q2 11.000m2 Praça Itália, Q4 Praça Rotary e Q5 Praça Santa Catarina, da urbanização da Praia de Belas. Área total 29.809,57m2. Porto Alegre-RS. 1990. S.PARTICIPAÇÕES EM EXPOSIÇÕES E SALÕES S.1.Participação na Exposição de Artes realizada pela Associação Araújo Porto Alegre. SalvadorBA. - 1948. S.2.Participação na Exposição de Artes realizada pela Associação Araújo Porto Alegre. Belo Horizonte-MG. - 1948. S.3. Participação na Exposição Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1948. S.4.Exposição Coletiva-Pintura, Escultura, Arquitetura e Cerâmica, promovida pela Associação Araújo Porto Alegre. Porto Alegre-RS. - 1949. S.5. Participação na Exposição Arte e Folclore, promovida pela Associação Araújo Porto Alegre. Santa Cruz do Sul-RS. - 1951. S.6. Participação na Exposição Arte e Folclore, promovida pela Associação Araújo Porto Alegre. Porto Alegre-RS.1951. S.7.Participação na I Exposição Universitária Nacional de Arquitetura. Salvador-BA. - 1951. S.8.Participação na Exposição Arte e Folclore, promovida pela Associação Araújo Porto AlegreMinistério da Educação. Rio de Janeiro-RJ. - 1952. S.9.Participação na Exposição Arte e Folclore, promovida pela Associação Araújo Porto Alegre. Salvador-BA. 1952. S.10.Participação no I Salão Pan-Americano de Arte (Secção de Arquitetura). Porto Alegre-RS. 1958. S.11.Participação no V Salão de Belas Artes do Rio Grande do Sul (Secção de Arquitetura). Porto Alegre-RS. 1954. S.12.Participação no I Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul Secção de Arquitetura). Porto Alegre-RS. 1961. S.13.Participação no IV Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul como coautor do projeto do Conjunto dos Complexos Industriais da PETROBRÁS. Canoas-RS. - 1967 S.14.IV Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul. Projetos do Conjunto dos Complexos Industriais da Refinaria Alberto Pasqualini-REFAP e Terminal Almirante Soares Dutra-TEDUT. Porto Alegre-RS. - 1967. S.15.IV Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul. Projetos do Conjunto dos Complexos Industriais da Refinaria Alberto Pasqualini-REFAP e Terminal Almirante Soares Dutra-TEDUT. Porto Alegre-RS. - 1967. S.16.Participação na Exposição de Arquitectura Actual Brasileña, durante La Semana de La Arquitectura Brasileña, organizada pela Revista Projeto, na Escola de Altos Estudios del Centro de Artes y Comunicación em CAYC, em agosto-83. Buenos Aires-Argentina. - 1983. S.17. Participação na Primeira Bienal de São Paulo, exposição retrospectiva da Arte Brasileira sob o tema: “Tradição e Ruptura na Área de Arquitetura”, com a apresentação da obra da refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas-RS, de novembro/84 à janeiro/85. São Paulo-SP. - 1985. S.18.Participação na exposição “Arquitetos Brasileiros”, promovido pelo Institut Français d’Architecture - Galeried’Actualité, com curadoria de Brasil Agency for International Relations, apoio cultural do Club Mediterranée do Brasil e patrocínio do PHD-Projeto Hunter Douglas. Obra exposta: CEASA-RS. Esta exposição foi aberta dia 21 de outubro de 1987, em Paris, tornando-se itinerante a partir de 10 de novembro de 1987.-1987. S.19. Participação na exposição itinerante “Arquitetos Brasileiros, em Dortmund-República Federal da Alemanha, em outubro 1988. - 1988 S.20. Participação na exposição itinerante “Arquitetos Brasileiros”, em Frankfurt-República Federal da Alemanha,1988. - 1988. S.21. Participação na exposição “Arquitetura de Concursos 89”, promovida pelo IABDepartamento do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS. - 1990. S.22. “Arquitetura de Concursos 89”, promovida pelo IAB-RS. Habitação Popular-Brás XISEHAB/PMDSP/ COHAB-SP. Porto Alegre-RS. - 1990. S.23. I Bienal de Arquitetura, promovida pelo Instituto de Arquitetos do Brasil-Departamento do Rio Grande do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 121 Sul. Jardim Porto Alegre/TASA/Sinalização e Mobiliário Urbano-Carlos Barbosa. Porto Alegre-RS. 1991. S.24. Projetos de Concursos/Professores da Ritter, promovida pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Ritter dos Reis, em julho/92. Projetos apresentados: “Parque Ecológico do Guarapiranga” e “Parque Urbano da Área da Estação de Carlos Barbosa”. Porto Alegre-RS. - 1992. S.25. Projetos de Concursos/Professores da Ritter, promovida pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Ritter dos Reis, em Julho/92. Projetos apresentados: “Parque Ecológico do Guarapiranga”e “Parque Urbano da Área da Estação Ferroviária de Carlos Barbosa”. Porto AlegreRS. - 1992. S.26. Bienal Internacional de Arquitetura-Parque Ecológico do Guarapiranga. São Paulo-SP. 1993. S.27. Participação na Exposição Coletiva de Caricaturas, organizada pela Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa. - 1993. T. CONCURSOS T.1 PRÊMIOS E CLASSIFICAÇÕES EM CONCURSOS 3º Lugar no Concurso de Anteprojeto para um hotel no Balneário de Atlântida (em equipe T.1.1 arq. Luiz Fernando Corona). - 1951. T.1.2. 1º Lugar no Concurso Nacional para escolha do projeto para o Palácio da Justiça de Porto Alegre (em equipe arq. Luiz Fernando Corona). - 1952. T.1.3. Medalha de prata na Secção de Arquitetura do 5º Salão de Belas Artes do Rio Grande do Sul, com o trabalho “Santa Casa de Caridade”(em equipe arq. Luiz Fernando Corona). - 1954. T.1.4. 2º Lugar no Concurso Público Urbano para escolha do pré-plano da cidade de Panambi (em equipe arq. Luiz Fernando Corona). - 1957. T.1.5. 1º Lugar no Concurso Nacional de Urbanismo para escolha do Plano Piloto do Delta do Jacuí (em equipe). - 1957. T.1.6. 2º Lugar no concurso de Anteprojetos para a Sede da Sociedade dos Amigos da Praia do Imbé. - 1958. T.1.7. 4º Lugar no Concurso Público de Anteprojetos para o conjunto de Residências da Prefeitura Municipal de Porto Alegre-IPASE. - 1958. T.1.8. 1º Lugar no Concurso Nacional de Arquitetura para escolha do projeto para o Centro Evangélico de Porto Alegre (em equipe arq. Suzy T. B. Fayet). - 1959. T.1.9. 1º Lugar na seleção de projetos para o Edifício Sede do Instituto de Arquitetos do BrasilDepartamento do Rio Grande do Sul. - 1960. T.1.10. Medalha de ouro (prêmio máximo), em equipe, no 1º Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul, com o trabalho “Cidade Universitária”(em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). - 1960. T.1.11.Medalha de prata (1º Lugar) na categoria Urbanismo Correção Urbana, no I Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul,com o trabalho “Plano Diretor de Porto Alegre”(em equipe Equipe de Arquitetos Ltda.)-1960. T.1.12.Medalha de ouro-Prêmio melhor projeto construído no IV Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul, com o trabalho: Conjunto dos Complexos Industriais da Petróleo Brasileiro S.A.-Petrobrás (Refinaria Alberto Pasqualini e Terminal Almirante Soares Dutra)(em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.) Canoas/Tramandaí-RS. 1967. T.1.13.Medalha de bronze-Prêmio da Categoria Edifícios para Fins Industriais no IV Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul, como o melhor projeto construído “Conjunto dos Complexos Industriais da Petróleo Brasileiro S.A. (Refinaria Alberto Pasqualini e Terminal Almirante Soares Dutra)(em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Canoas/Tramandaí-RS. - 1967. T.1.14.Primeira premiação do Instituto de Arquitetos do Brasil-Departamento do Rio Grande do Sul. Trabalho selecionado: Edifício de Apartamentos dos Arquitetos (em equipe arq. Claudio Luiz Araújo e arq. Moacyr Moojen Marques). Porto Alegre-RS. - 1971. T.1.15.1º Lugar no Concurso Privado de projetos para a Urbanização e Paisagismo da Área Administrativa, Almoxarifados, Oficinas de Manutenção e demais edificações da Central de Matérias Primas do III Polo Petroquímico (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Porto Alegre-RS. - 1977. T.1.16.1º Lugar no Concurso Privado de projetos para a Sede Social Esportiva da Associação Atlética SULPETRO, entidade dos empregados da PETROBRÁS no Rio Grande do Sul (em equipe Equipe de Arquitetos Ltda.). Canoas-RS. - 1985. T.1.17.1º Lugar no Concurso Privado de projetos para a Nova Sede da TASA-Telecomunicações Aeronáuticas S.A. (em equipe - Equipe de Arquitetos Ltda.). Ilha do Governador-Galeão. Rio de Janeiro-RJ. - 1985. T.1.18.1º Lugar no Concurso Telhados Paiva “Comece sua casa pelo telhado”. Projeto apresentado: Cobertura da Associação dos Empregados da Petrobrás-SULPETRO, Canoas-RS (em equipe Equipe de Arquitetos Ltda.). São Paulo-SP. - 1988. T.1.19.1º Lugar no Concurso Público promovido pela Prefeitura Municipal de Carlos Barbosa para escolha de projeto para a Sinalização e Mobiliário Urbano(em equipe arq.Claudio Luiz Araújo e arq.Sérgio Moacir Marques Carlos Barbosa-RS. - 1990. T2. PARTICIPAÇÃO EM CONCURSOS T2.1 Concurso CEITEC Caixa 1/1 T2.2 Concurso Itaipaiva Rio de Janeiro - Caixa Diversos U9 T2.3 Prof. Titular UFRGS – Banca Examinadora - Caixa Diversos U9 T2.4 Logo 50 Anos CNPq - - Caixa Diversos U9 T2.5 Logo metro DF - Caixa Diversos U9 T2.6 Magna Engenharia - Caixa Diversos U9 T2.7 Josapar/Jaíba – MG - Caixa Diversos U9 T2.8 W3 – DF - Caixa Diversos U9 T2.9 Infraero - Caixa Diversos U9 T2.10 Porto Digital, Bases do Concurso, Caixa 1/1 U. Diversos U.1 Caixa 1 – Trabalhos e Documentos diversos 1973/75 U.2 Caixa 1 – Terminal rodoviário Campo Grande – MGS – Secretaria do Estado 1993 U.3 – Caixa 1 – Cohab – RS- Material licitação 1989 – Caixa 1 U4 – Caixa 1/1- Suprarroz; Ribeiro Jung; Revitalização Br-116; IRGA; CONDUSA – PM-Vitória-ES; Gerencia Regional Caxias do Sul-RS U5 – Caixa 1/1 – Moog – Parque Querência, 1981 – São Francisco de Paula-RS; Marco Antonio Fonseca, residência, 1977 U6 – Caixa 1/1 – Fenac; zona Carbonífera, SC; Ilhas SC U7 – caixa 1/1 – Renato Ávila; Milton Mandela; Aarão Jurgel; Paulo Korffi, Kurt Buttler; Uruguaiana Concurso, Pinel Cachoeirinha, Urussanga, Maranhão Pl. Urbano, Sulfix U8 – Caixa 1/1 – Residência Vilmar Ferreira, 1961; Ilha Grande Marinheiro, 1975; Residência Alexandre Machado U9 – Caixa 1/1 T2.2 Concurso Itaipaiva Rio de Janeiro , T2.3 Prof. Titular UFRGS – Banca Examinadora , T2.4 Logo 50 Anos CNPq , T2.5 Logo metro DF , T2.6 Magna Engenharia , T2.7 Josapar/Jaíba – MG, T2.8 W3 – DF, T2.9 Infraero 122 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Fayet U 10 – Caixa 1/1 Fundação Jones, X7; Marco Antonio Fonseca, J.1.a.21; DJ Becker, Glasurit, Coulon, Urussanga, SC; Paulo Jobim Moraes U11 – revitalização Centro Histórico Uruguaiana, Estudos e Seminários. Caixa 1/1 V. Projetos não Executado / Fora do Currículo V.1 - Canoas Auto- Shopping – Roberto Flack – Out. 2001 – Caixa 1/1 V.2 - EDU – Secretaria de Estado de Educação – ES 1980 – Caixa 1/1 V.3 – EVU - Edifício Comercial Francisco Reis, Gal Camara, esq. Siqueira Campos, 1982. Caixa – 1 V4 – Cine Teatro Corbacho – Uruguaiana, 1951. Caixa 1. X. CONSULTORIAS X.1. À Prefeitura Municipal de Guaíba sob a Legislação do Plano Diretor e de Loteamentos. Guaíba-RS. - 1959. X.2. Consultoria à comissão de Planejamento Integrado da Grande Vitória. Vitória-ES. - 1969. X.3. Contratado pelo Serviço Federal de Habitação e Urbanismo para elaborar a versão preliminar das diretrizes para o Planejamento Integrado Intermunicipal. - 1970. X.4.Consultoria ao Grupo de Planejamento da Área Metropolitana de Vitória. Vitória-ES. - 1975. X.5. Consultoria à Secretaria do Planejamento do Estado do Maranhão para a planificação da Área Metropolitana de São Luiz. - 1976. X.6.Consultoria à Prefeitura Municipal de Florianópolis, para o planejamento da Área Metropolitana de Florianópolis. - 1976. X.7.Consultoria à Fundação Jones dos Santos Neves, para o planejamento urbano da Área Metropolitana de Vitória. Vitória-ES. - 1977. Caixa 1/1 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 123 124 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Araújo CURRICULUM VITAE CLÁUDIO L. G. ARAÚJO TÍTULOS HONORÍFICOS Medalha de Distinção de IIª Classe de que se trata o artigo 2º Parágrafo 2º do Decreto de 14/dezembro/1959, como recompensa por serviços humanitários prestados. Conferido pelo Presidente do Conselho de Ministros dos Estados Unidos do Brasil, em 20 de novembro de 1962. Certificado de serviços relevantes prestados à Nação como Conselheiro do CREA – 8ª Região. Porto Alegre,1960/62 Sócio Benemérito conferido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento do Rio grande do Sul, como reconhecimento dos arquitetos gaúchos pelos serviços prestados quando na presidência (1966-1967) da entidade. Porto Alegre, 1998. COMISSÕES E GRUPOS DE TRABALHO Membro do Júri IAB/RS no Concurso Público de Arquitetura para escolha do projeto do Instituto Concórdia de São Leopoldo/RS pertencente à Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Porto Alegre/RS 1960 Membro do Júri da Exposição de Arquitetura IX Congresso Brasileiro de Arquitetos. São Paulo/SP 1976 Membro do Corpo de Jurados do IAB/RS. Porto Alegre/RS 1966/93 Membro do Corpo Nacional de Jurados do Instituto de Arquitetos do Brasil. 1971/2001 Membro do Júri Salão de Arquitetura promovido pelo IAB/RS. Porto Alegre/RS 1987 Membro do Júri do Concurso Ópera Prima. Trabalho das Escolas de Arquitetura – Júri de Seleção região Sul e Premiação Nacional. São Paulo/SP 1989 Membro do Júri do Concurso Público de Arquitetura para escolha do projeto do Teatro da Ospa, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura. Porto Alegre/RS 1996 Membro do Júri da Banca de Avaliação ao Trabalho Final de Graduação, disciplina ARQ 1021, semestre 97/01, Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre/RS 1997 Membro do Júri do Concurso Público de Arquitetura para escolha do projeto para a FIC – Fundação Integrada de Cultura de Caxias do Sul/RS. Caxias do Sul/RS 1997 Membro do Concurso Interno de Anteprojeto para o prédio Novo do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Florianópolis/SC 1998 Membro da Comissão para escolha do projeto representante da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, no Concurso Internacional de Escolas de Arquitetura – promovido pela Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Porto Alegre/RS 1999 Membro da Comissão Julgadora por indicação do Instituto de Arquitetos do Brasil, para a 2ª Premiação CSN na Construção Civil, São Paulo/SP, 2001. Membro do Corpo de Jurados para avaliação dos trabalhos finais de graduação – Edição 2001/1, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUCRS, Porto Alegre/RS, 2001. PALESTRAS DADOS PESSOAIS IDENTIFICAÇÃO: Nome completo: Claudio Luiz Gomes de Araujo Nacionalidade: Brasileira Local de Nascimento: Pelotas, Rio Grande do Sul em 02 de junho de 1931 Escolaridade: Colégio Gonzaga, Pelotas/RS – Ginasial e Científico Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1951/1955 – Arquiteto. Serviço Militar: CPOR Porto Alegre Estado Civil: Casado com Mary Suzana Silveira de Araujo, 1959 Nome dos filhos: Fernando Silveira de Araujo e Lúcia Silveira de Araujo Endereço para correspondência: Av. Independência, 172 sala 901, Bairro Independência, CEP 90035-070 Porto Alegre/RS. Telefones: (51) 3224 5803, 3286 1302, 32861303. DOCÊNCIAS Professor universitário – Instrutor de Ensino Superior da Cadeira de Composição Decorativa da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre/RS 1959/66 Professor responsável pela cátedra de Composição Decorativa da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre/RS 1965/68 Assistente de Ensino Superior da UFRGS. Porto Alegre/RS 1966/68 Professor Titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Faculdades Integradas do Instituto Ritter dos Reis, na disciplina Projeto para Diplomação. Porto Alegre/RS 1990/2001 ATIVIDADES EXERCIDAS INSTITUIÇÕES/ENTIDADES Representante do Instituto de Arquitetos do Brasil como suplente no Conselho de Plano Diretor da Cidade. Porto Alegre/RS 1957/58 Tesoureiro do Instituto de Arquitetos do Brasil/RS. Porto Alegre 1957/58 Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil/RS. Porto Alegre 1966/67 PRIVADOS Titular de escritório de arquitetura a partir de 1955. Responsável pelo setor de Edificações da Supervisão de Obras das Centrais de Abastecimento CEASA. Porto Alegre/RS 1971/73 Responsável pela Supervisão de Obras de Implantação das centrais de Abastecimento – CEASA. Porto Alegre 1973/74 Sócio Gerente e Responsável Técnico da firma C.L.Araújo Arquitetos SC Ltda. Porto Alegre 1975/2001 Sócio Gerente e Responsável Técnico da firma Equipe de Arquitetos Ltda. Porto Alegre 1977/2001 Centrais de Abastecimento – CEASA/RS – a convite dos alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Faculdades Integradas Ritter dos Reis. Porto Alegre, 1985 Ciclo “O Arquiteto e a Produção Arquitetônica: praxis versus prática” programa “Quarta Cultura” promovido pela Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Porto Alegre, 1985 “Arquiteto – Universidade e Profissão” por ocasião da abertura da VI Semana de Arquitetura e Urbanismo promovida pela Faculdade Canoense de Arquitetura e Urbanismo. Canoas, 1985 Ciclo de Debates e Exposições Ideias de Arquitetura – Projeto Hunter Douglas, juntamente com os arquitetos Edson Mahfuz e Julio Collares. Porto Alegre, junho de 1989 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 125 “Pré-moldados”, integrada no II Ciclo de Palestras Técnicas, realizado na Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, outubro de 1989 “Projetos”, integrada a Iª Semana de Arquitetura em Bagé, realizada de 13 a 17 de maio, promovida pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade da Região da Campanha. Bagé, maio de 1991 “Projeto” no curso “Bases do Exercício Profissional do Arquiteto”, realizado de 21 a 30 de novembro e promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do RS. Porto Alegre, 1991 “A Trajetória da Arquitetura de Interiores no Rio Grande do Sul”, na Associação de Arquitetos de Interiores do RGS. Porto Alegre, junho de 1997 VIII Arquiencontro – o Arquiteto e sua obra – Auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, maio de 2001 “Evolução-Concepção Assistida por Computador” palestra ministrada pelo Arquiteto Guillaume Labelle de Montreal-Canadá, promovida pelo Núcleo de Projetos e Sequência de Informática Aplicada do Curso de Arquitetura e Urbanismo Ritter dos Reis, abril de 2002. PARTICIPAÇÕES EM EXPOSIÇÕES Ano Título 1953 1954 1961 1967 1983 1985 Local Promotor 1989 1990 1991 1992 FAU Ritter dos Reis 1993 Bienal Internacional de Arquitetura, São Paulo, Fund. Bienal/IAB-DN 1996/97 Dieste – Exposição itinerante apresentada, Montevidéu Nov/96, Junta de Andalucía, Sevilha, fev/97, Junta de Andalucía 4ª Bienal/RS set/97, IAB-RS Bienal S.Paulo Nov/97, Fundação Bienal DISTINÇÕES/MENÇÕES/PRÊMIOS/CLASSIFICAÇÕES EM CONCURSOS: I Festival de Bento Gonçalves Salão de Artes Plásticas, Bento Gonçalves/RS, IAB/RS 1º Salão de Arquitetura, Porto Alegre/RS, IAB/RS 4º Salão de Arquitetura, Porto Alegre/RS, IAB/RS Exposição Arquitetos Brasileiros, Buenos Aires/Argentina, CAYC/Argentina Bienal de São Paulo, São Paulo, Fundação Bienal, 1987 Arquitetos Brasileiros, Paris/Dortmund/Frankfurt, I.F.A./PHD RS Ideias de Arquitetura, Porto Alegre/São Paulo, Projeto H. Douglas Competições de Arquitetura, Porto Alegre/RS, IAB/RS 1º Bienal de Arquitetura, Porto Alegre/RS, Fund. Bienal/IAB-RS Projetos de Concursos, Professores da FAU Ritter dos Reis Porto Alegre/RS, Concurso Público de projetos para o prédio da Agência da Receita Federal, Ministério da Fazenda (em equipe) 1º lugar. Bagé, 1975 Concurso organizado pela Companhia Estadual de Desenvolvimento Regional de Obras para o projeto Edifício Sede da Sudesul (em equipe) 1º lugar. Porto Alegre, 1975 Concurso privado para projetos de Urbanização e Paisagismo da Área Administrativa, Almoxarifados, Oficinas de manutenção e demais edificações da central de Matérias Primas do IIIº Polo Petroquímico (em equipe). Porto Alegre, 1977 Concurso de projetos para a Sede Social Esportiva da Associação Atlética Sulpetro, entidade dos empregados da Petrobrás no RS (em equipe) 1º lugar. Canoas, 1985 Concurso de Projetos para a Nova Sede da Tasa – Telecomunicações Aeronáuticas (em equipe) – Ilha do Governador/Galeão. Rio de Janeiro, 1985 1º Concurso Telhados Paiva – Comece sua Casa pelo Telhado – (em equipe) Trabalhos apresentados: Petrobrás e Sulpetro - 1º colocado – São Paulo, 1988 Menção Honrosa no Concurso Público de Projetos para Habitação Popular – Brás XI – SEHAB/PMSP/COHAB/São Paulo, 1989 Concurso Público da Prefeitura Municipal de Carlos Barbosa/RS, Projeto de Sinalização e Mobiliário urbano (em equipe) 1º lugar. Carlos Barbosa, 1990 Concurso Público Nacional promovido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo para a Recuperação de 330há, Parque Ecológico de Guarapiranga, (em equipe) 1º lugar. São Paulo, 1991 Concurso Público promovido para Prefeitura Municipal de Carlos Barbosa, Área da Estação Férrea (em equipe) 1º lugar. Carlos Barbosa, 1991 Concurso Público Nacional de Ideias Muro da Mauá – Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Departamento de Esgotos Pluviais, organizado pelo IAB/RS – 2º lugar. Porto Alegre, 1994 Concurso Público de Anteprojeto do restaurante Panorâmico Usina do Gasômetro – Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Secretaria Municipal de Cultura e Secretaria Municipal de Obras e Viação, organizado pelo IAB/RS – 3º lugar. Porto Alegre, 1994 TRABALHOS Data Tipo de edifício Cidade Co-autores RESIDÊNCIAS UNIFAMILIARES 1955/60 1955 1955 1955 1966 1969 1970 1970 1973 1982 1988/91 1988/92 1996 1966 1985 Telmo Ferreira, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos Mancuso Lauro Borges, Passo Fundo/RS , Arq. Carlos Mancuso Paulo Torelly, Torres/RS, Arq. Carlos Mancuso Antonio Pegoraro, Atlântida/RS, Arq. Carlos Mancuso David Kopstein/Rua Tobias Silva,115, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos E. Comas Simão Kuperstein/Rua Paulino Teixeira, 35, Porto Alegre/RS Heinz Agte/Av. Nilo Peçanha, Porto Alegre/RS Joaquim Barboza, Torres/RS, Arq. Newton S. Obino, Arq. Carlos E. Comas José Hermann Flores/Rua Eurico Lara, PortoAlegre/RS Humberto C. Lima/Rua Cel. R. Pacheco, Osório/RS Paulo B. Silveira/Rua Gal. João Telles, Bagé/RS Aldo S. Gama/Rua Bororó, Porto Alegre/RS Gildo Irineu Coifmann, Capão da Canoa/RS, Condomínios Residenciais Siderúrgica Aços Finos Piratini, São Jerônimo/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq.Moacyr M. marques Quarteirão Q3/Praia de Belas, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos M. Fayet 1º Salão de Arquitetura do RS, 1961 - 1º prêmio - Interiores 4º Salão de Arquitetura RS, 1967 – Medalha de Bronze - Habitação Unifamiliar 4º Salão de Arquitetura RS, 1967 - Medalha de Ouro – Melhor Edificação 4º Salão de Arquitetura RS, 1967 – Prêmio Medalha de Ouro - Melhor Projeto Construído – Conjunto dos Complexos Industriais da Petrobrás 4º Salão de Arquitetura RS, 1967 – Prêmio Medalha de Bronze – Categoria Edificações Industriais – Conjunto dos Complexos Industriais da Petrobrás 1ª premiação IABRS – Residência Heinz Agte e Edifício de Apartamentos dos Arquitetos. Porto Alegre, 1971 Concurso Público para elaboração dos projetos de arquitetura para abrigos de Fiscalização do Ministério da Fazenda em localidades da Fronteira do RS – 1º lugar. (em equipe) Porto Lucena, 1973 126 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Araújo 1982/83 1982 1982 1982 acima 1983 Vila São Carlos/111 unidades/2.066m², Alvorada/RS, Arq. José Artur Frota, Arq. Guillermo L. Silva Lot. Algarve/274 unidades/15.050m², Alvorada/RS, Idem acima Cond. Algarve/36 unidades/2.300m², Alvorada/RS, Idem acima Cond. Parque Primavera/176 unid./10.404m², Esteio/RS Idem 1969 Centro Comercial de Canoas, Canoas/RS, Arq. Newton S. Obino, Arq. Emilio Schilabitz EDIFÍCIOS PÚBLICOS 1975/00 Câmara Municipal/Av. Loureiro da Silva, Porto Alegre/RS, Área: 14.200m², Arq. Claudia O. Correa, Arq. Sandra M. Boeira, Arq. Daniel Fischmann, Agr. Elaine L. Nunes Edifícios de Apartamentos, 1955/60, Ed. Pioneiro, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos Mancuso 1955 Ed. Sofia Maria, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos Mancuso, 1955 , Ed. Feliciano Xavier, Pelotas/RS, Arq. Carlos Mancuso 1965/69 Ed. FAM/Rua Dr. Vicente P.Dutra, 225, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq.Moacyr M. Marques 1968 Edifício COHAB/Rua Rivieira, Porto Alegre/RS, Idem acima, 1970, Ed. Nilo Peçanha/Av. Carlos Gomes, Porto Alegre/RS, Arq. Newton S. Obino, Arq. Carlos E. Comas 1974 Ed. Rua Eça de Queiroz, 466, Porto Alegre/RS 1988 Edifício FHE/Fundação Habitacional Exército,Porto Alegre/RS , Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Guillermo L. Silva EDIFÍCIOS PARA RECREAÇÃO 1988 1997 SULPETRO/ REFAP, Canoas/RS, Arq. Carlos M. Fayet Centro Esportivo e Cultural, Carlos Barbosa/RS, Espaço múltiplo/esportes e espetáculos, Prefeitura Municipal Carlos Barbosa, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Sérgio M. Marques, Arq. Julio C. Vargas HOTÉIS 1960 Colônia de Férias do Mar B.A.M.S.A., Tramandaí/RS EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS 1962/68 1962/68 1968/69 1972 1974 1975 1976 1976/86 1977/83 1979 1985/00 1986/87 1986/93 REFAP – Refinaria Alberto Pasqualini, Canoas/RS, , Rodovia BR 101 Km 13, Arq. Carlos M. Fayet, Arq.Moacyr M. Marques, Arq. Miguel A. Pereira TEDUT - Terminal Alm.Soares Dutra, Osório/RS, Idem acima Indústria Riograndense de Pescado AS, Rio Grande/RS Armazém Frigorífico de Capuaba, Vitória/ES Matadouro Frigorífico / CRA, Alegrete/RS Armazém Frigorífico Porto de Santos, Santos/SP Memphis SA Industrial, Porto Alegre/RS, Arq. Claudia O. Correa Indústria de Plásticos Sulplastic , Porto Alegre/RS, Arq. Claudia O. Correa COPESUL – Central Matérias Primas, Triunfo/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Luiz Boeira RIOCELL RS – Cia Celulose Sul, Guaíba/RS, Arq. Carlos M. Fayet Horta Produtos Agrícolas – 1ª, 2ª e 3ª etapas, Porto Alegre/RS TRAMONTINA Materiais de Pesca AS, Gravataí/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Sandra M. Boeira TRAMONTINA Ferramentas Agrícolas AS, Carlos Barbosa/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Luiz Boeira FORJASUL SA Materiais Elétricos, Carlos Barbosa/RS Idem acima PREMOLD Indústria de Pré-moldados, Sapucaia do Sul/RS , Arq. Sandra M. EDIFÍCIOS DE USO MISTO 1982/83 Ed. Algarve/Quadra A1 e A2, Alvorada/RS, Arq. José Artur Frota, Arq. Guillermo L. Silva EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS 1973 Receita Federal/ministério da Fazenda, Bagé/RS, Arq. Newton S. Obino 1973 Abrigo da Fronteira/Ministério da Fazenda, Porto Lucena/RS 1974 Bernazano & Associados/Calle Barcace , Santa Fé/Argentina 1975 Ed. Sede do DMAE, Porto Alegre/RS, Arq. Newton S. Obino, Arq. Carlos E. Comas 1976 Ed. Sede Sudesul/Av. Loureiro da Silva , Porto Alegre/RS, Arq. Castelar B. Peña, Arq. Newton S. Obino 1978 Ed. Politécnico/Travessa da Saúde, 22, Porto Alegre/RS, Arq. Claudia O. Correa 1979 Centaurus Center/ Av. Praia de Belas, Porto Alegre/RS, Arq. José Artur Frota 1981 Ed. Senador/Av. Pernambuco, 2623, Porto Alegre/RS, Arq. José Artur Frota 1986/87 TASA Telecomunicações Aeronáuticas AS, Rio de Janeiro/RJ , Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Guillermo L. Silva 1989 CIENTEC – Fund. Ciência e Tecnologia ,Cachoeirinha/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Fernando Bahima EDIFÍCIOS COMÉRCIO E SERVIÇOS 1986/93 1986/97 Boeira 1989/90 TRAMONTINA Cutelaria SA Fabrica JIT, Carlos Barbosa/RS , Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Fernando Bahima 1991/92 Irmãos Geremia Ltda, São Leopoldo/RS, Arq. Carlos M. Fayet 1996 TRAMONTINA Cutelaria – Cabos, Carlos Barbosa/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Sandra M. Boeira, Arq. Julio C. Vargas 1997/98 TRAMONTINA TEEC AS, Carlos Barbosa/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Sandra M. Boeira, Arq. Daniel Fischmann 1998/00 TRAMONTINA Farroupilha SA/Nova Expedição, Farroupilha/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Daniel Fischmann ARQUITETURA DE INTERIORES 1960 1960 Lojas Senador /Rua dos Andradas, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos Mancuso Banco Agrícola Mercantil, Santa Maria/RS, Arq. Carlos Mancuso Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 127 1961 1961 1962 1962 1962 1966 1967/68 1967 1967 1968/69 1969 1970 1970 1970 1971 1971 1989 1992 1992/93 1997 1997 Fischmann 1998 1999 Galeria do Comércio, Santa Maria/RS, Arq. Carlos Mancuso Lojas IBRACO /Rua dos Andradas, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos Mancuso Xavier Market, Pelotas/RS, Arq. Carlos Mancuso Apartamento Dicran Gurechian, Porto Alegre/RS Apartamento David Zimmermann, Porto Alegre/RS Apartamento Rafael Estrougo, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos E. Comas Apartamento Miguel Lembert, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos E. Comas Hotel Charrua, Santa Cruz do Sul/RS Cotillon Clube, Porto Alegre/RS Assembleia Legislativa, Porto Alegre/RS Apartamento Arnaldo Gueller, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos E. Comas Apartamento Leo Nudelmann, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos E. Comas Apartamento Maurício Branchtein, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos E. Comas Loja Casa das Sedas, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos E. Comas Residência Abrão Loifermann, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos E. Comas Lojas Belluno/Av. Independência, Porto Alegre/RS Apartamento Gildo Coifmann, Porto Alegre/RS Apartamento Leandro Branchtein, Porto Alegre/RS Apartamento Renato Heller, Porto Alegre/RS, Arq. Sandra M. Boeira Auditório REFAP, Canoas/RS, Arq. Sandra M. Boeira, Arq. Carlos M. Fayet Auditório Câmara Municipal de Porto Alegre, Porto Alegre/RS, Arq. Daniel Consultório Leandro Branchtein, Porto Alegre/RS Consultório Renato Heller, Porto Alegre/RS, Arq. Sandra M. Boeira 1970 1970 1976 1978 Fayet 1982 1982 1986 Boeira 1986 1986 1986 1989 1991/93 CEASA -Central de Abastecimento, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos M. Fayet Sinalização 2ª Av. Perimetral, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos M. Fayet Memphis SA Industrial, Porto Alegre/RS, Arq. Claudia O. Correa COPESUL-Área Administrativa III Polo Petroq., Triunfo/RS, Arq. Carlos M. Loteamento Parque Primavera, Esteio/RS, Arq. José Artur Frota, Arq. Guillermo L. Silva Loteamento Jardim América, Sapucaia do Sul/RS Idem acima PREMOLD Indústria de Pré-moldados, Sapucaia do Sul/RS , Arq. Sandra M. TRAMONTINA Ferramentas Agrícolas AS, Carlos Barbosa/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Luiz Boeira FORJASUL SA Materiais Elétricos, Carlos Barbosa/RS Idem acima TRAMONTINA Materiais de Pesca AS, Gravataí/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Sandra M. Boeira TRAMONTINA Farroupilha AS, Farroupilha/RS Idem acima, 1990, Sinalização e Mobiliário Urbano Pref.Municipal, Carlos Barbosa/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Sérgio M. Marques Área da Estação Férrea, Carlos Barbosa/RS, Idem acima VIABILIDADE URBANÍSTICA/PLANO DIRETOR 2001/02 Faculdades Integradas Ritter dos Reis. Área 2,8ha, Porto Alegre/RS, Arq. Daniel Fischmann, Arq. Marcel Trescastro PROJETOS ESPECIAIS 1967/68 Rodovia Acesso REFAP, Canoas/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq.Moacyr M. Marques, Arq. Miguel A. Pereira 1967/68 Rodovia Acesso TEDUT, Osório/RS, Idem acima 1978/79 Via expressa Sul (Rodovia 18km), Florianópolis/SC, Arq. Claudio Ferraro, Arq.Moacyr M. Marques 1997 Auditório REFAP, Canoas/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Sandra M. Boeira 1997 Auditório Câmara Municipal, Porto Alegre/RS, Arq. Daniel Fischmann 1999/01 Auditório Faculdades Integradas Ritter dos Reis , Faculdade Ritter dos Reis, Porto Alegre/RS, Arq. Daniel Fischmann, Arq. Marcel Trescastro 2000/01 Clínica Carlos Chagas (nova sede), Porto Alegre/RS, Arq. Daniel Fischmann, Centrais de Abastecimento 1970/74 CEASA – Central de Abastecimento, Porto Alegre/RS, 36ha - 60.000m² Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Carlos E. Comas, Eng. Eládio Dieste, Eng. Eugenio Montañez PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL 1982 PAISAGISMO 1968 1968 1970 1970 1978 1983/84 1991/97 Área Administrativa REFAP/PETROBRÁS, Canoas/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq.Moacyr M. Marques, Arq. Miguel A. Pereira Área Administrativa TEDUT/PETROBRÁS, Osório/RS, Idem acima CEASA - Central de Abastecimento, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Agr. Ronald Jamieson 2ª Perimetral, Porto Alegre/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Mirna Grohs COPESUL – III Polo Petroquímico, Triunfo/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Agr. Ronald Jamieson Acessos a Porto Alegre/Min. Transportes, Porto Alegre/RS Arq. Carlos M. Fayet, Arquitetos GEIPOT, Sec. Mun.Planejamento Parque Ecológico Guarapiranga, São Paulo, Recuperação da Bacia do Guarapiranga, Área 330 ha – Secretaria do Estado do Meio Ambiente de São Paulo, Conjunto de edificações incluindo Palco e Anfiteatro. Arq. Carlos M. Fayet, Arq. Sandra M. Boeira, Arq. Daniel Fischmann, Agr. Elaine L. Nunes, Agr. Helena Schanzer Acesso Câmara Municipal/Av. Loureiro da Silva Porto Alegre/RS, Arq. Sandra M. Boeira, Agr. Elaine L. Nunes Plano Regulador do Uso do Solo Região Litorânea, do RS, Secretaria do Interior do Estado, Estado do RS, Arq. Claudio Ferraro, Arq.Moacyr M. Marques DESENHO URBANO 1968 Área Administrativa REFAP/PETROBRÁS, Canoas/RS, Arq. Carlos M. Fayet, Arq.Moacyr M. Marques, Arq. Miguel A. 1968 Área Administrativa TEDUT/PETROBRÁS, Osório/RS, Idem acima 1992 128 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Araújo 1997 Plano de urbanização das áreas do entorno da Câmara Municipal, Porto Alegre/RS, Arq. Daniel Fischmann TRABALHOS PUBLICADOS Titulo Publicação e data Muito Edifício Pouca Arquitetura, Revista do Globo nº 711 - 1958 Desenho Industrial: Um Comentário/Dois Exemplos, Correio do Povo 06/5/ P.Alegre 1962 IIª Avenida Perimetral/Paisagismo e Sinalização, PMP & Planisul, P.Alegre 1970 Arquitetura Gaúcha/Debate, Revista Projeto nº 50 S.Paulo 1983 Plano regulador de Uso do Solo para a Região litorânea do RGS, Conselho p/Desenvolvimento do Litoral, 1984 Exposição Arquitetos Brasileiros, Catálogo Editora PINI S.Paulo, 1987 LIVROS CONTENDO PUBLICAÇÕES DOS TRABALHOS Titulo (do livro e artigo) Autores Publicação e data Grandes Escritórios, Revista Projeto, 171 São Paulo, 1995 Edifício Mont’ Serrat – Fayet/Araujo, Revista Projeto, 183, São Paulo 1995 Muro da Mauá/Projetos Vencedores (segundo lugar), Revista Projeto, 184 São Paulo, 1995 Restaurante da Usina do Gasômetro (terceiro lugar), Revista Projeto, 184 São Paulo, 1995 Escritório Claudio Araujo, Revista AU – nº 60 São Paulo, 1995, Tramontina TEEC – Carlos Barbosa/RS, Revista projeto, 246 São Paulo, 2000 Um depoimento – Claudio Araujo, Revista Arqtexto1ºsem. P.Alegre, 2000 Parque Marinha/Porto Alegre RS, Aqueles versos de um projeto, Arq. Carlos E. Comas, Revista Ambiente,86, La Plata, AR, 2001 Reprodução do depoimento para o catálogo Arquitetos Brasileiros, Exposição Institut Français d’Architecture, Paris, 1987 DEPOIMENTO Aprendi um pouco de construção antes de estudar arquitetura. Entre 12 a 14 anos, ajudava pedreiros, carpinteiros e pintores, em obras que meu pai executava como empreiteiro. Minha Formação, entre 1950 e 1955, sofreu a influência dos arquitetos: Gropius, Le Corbusier (do qual visitei obras em 1954, na França), Mies van der Rohe, Neutra e outros. O ensino da época tinha como padrão a Bauhaus. Recém formado, junto com um colega, montei meu escritório de projetos. No começo predominavam os projetos de mobiliários e de arquitetura de interiores. Exerci a docência até 1968, quando resolvi dedicar-me somente ao trabalho em meu escritório e nas obras. Como linha de conduta, poderia dizer da preocupação de perseguir as soluções simples, claras e honestas, sem cair em tentações. Respeitar o vizinho, o entorno, a cidade, a memória e a honestidade dos jovens que já foram Modernos, hoje são PÓS e amanhã, por certo, continuarão fazendo muitas coisas boas. Recomendo sempre o convívio com a obra e aqueles que diretamente a executam, pois isto sempre me foi estimulante e gratificante. Porto Alegre, maio de 2002. Arquitetura moderna em Porto Alegre, Alberto Xavier, Ivan Mizoguchi, FAU-UFRGS-PINI São Paulo 1987 Eladio Dieste - La Estrutura Cerâmica, Galaor Garbonell (ED), Coleção SOMO SUR, Bogotá/Colombia 1987 Arquiteturas no Brasil Anos 80, Ed. Projeto/Brasilit, São Paulo 1989 Arquitetura Síntese Rio Grandense, Günter Weimer, Ed. Da Universidade/UFRGS, 1992 Eladio Dieste Exposição e publicação relativo Obras realizadas entre 1943 a 1996, (livro páginas 58 a 63), Consejería de Obras, Publicas y Transportes de La Junta de Andalucía Tendências da Arquitetura Contemporânea no RS, – Mudanças de Paradigmas nos Anos 80, Sergio Moacir Marques Editora UniRitter, P. Alegre 1999 Arquitetura - História e Crítica, Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis – vol.2, FAU Ritter dos Reis, P. Alegre 2000 REVISTAS DE ARQUITETURA Residência David Kopstein, Revista Acrópole, 351 São Paulo, 1968 Câmara Municipal de Porto Alegre, Revista Espaço, 002 P .Alegre, 1977 Copesul & Memphis AS, Revista Projeto, 22 São Paulo, 1980 Arquitetura brasileira Atual/Anos 70, Revista Projeto, 42, São Paulo, 1982 Arquitetura Gaúcha/Debate, Revista Projeto, 50, São Paulo, 1983 Arquitetura Brasileira Atual, Revista Projeto, 53, São Paulo, 1983 Arquitetura Brasileira/Anos 80, Revista projeto, 115 São Paulo, 1989, Sulpetro/Prêmio Telhados Paiva, Revista Projeto, 120 São Paulo, 1989, Verticalização Controlado/Edifício Politécnico, Revista projeto, 122 São Paulo, 1989, Indústrias Tramontina/Forjasul, Revista Projeto, 142, São Paulo, 1991 Parque Ecológico de Guarapiranga, Revista Projeto, 153, São Paulo, 1992 Refeitório TEDUT / Osório/RS, Revista Projeto, 163 São Paulo, 1993 Condomínio Residencial Parque Primavera, Revista Fibrocimento en America Latina, F.W.Bosshardt,CH-8872Weesen, 1987 Associação Atlética Sulpetro, Arq. Paolo Renzetti, T.Sport, 10 - Sinopia Milano, 1990, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 129 130 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Moojen CURRICULUM VITAE MOACYR MOOJEN MARQUES ÍNDICE 1. Dados Pessoais 2. Formação Acadêmica 3. Atividade Didática 4. Atividades Ligadas à Prefeitura Municipal de Porto Alegre 5. Publicações e Palestras 6. Júri de Concursos 7. Congressos e Seminários 8. Entidade Profissional 9. Premiações 10. Escritório Profissional 1. DADOS PESSOAIS NOME: Moacyr Moojen Marques FILIAÇÃO: José Souza Marques e Inocência Moojen Marques DATA DE NASCIMENTO: 01 de Fevereiro de 1930 ESTADO CIVIL: Casado NATURALIDADE: Lagoa Vermelha - RS NACIONALIDADE: Brasileiro IDENTIDADE: 192.143; órgão expedidor: SSP - RS CIC: 001179190-4 CTPS: 192.143 CREA: 9383 ENDEREÇO RESIDENCIAL: Rua Dr. Vicente de Paula Dutra, 225 apto. 201 - Porto Alegre - Rio Grande do Sul - CEP 90020-050 Fone/: (51) 3225 5961 ENDEREÇO PROFISSIONAL: MooMAA - Moojen & Marques Arquitetos Associados Ltda. Rua Prof. Annes Dias Nº 166, conj. 402/ 404, Ed. IAB, Centro - Porto Alegre - Rio Grande do Sul – Brasil - CEP: 90020 - 300. Fone: (55)(0xx)(51) 212 4298 - Fone/ Fax: (55)(0xx)(51) 225.8938 E-mail: moomaa@terra.com.br www.moomaa.arq.br 2. F O R M A Ç Ã O 2.1 2.2 1960. 2.3 2.4 A C A D Ê M I C A 3. ATIVIDADE DIDÁTICA 3.1 Assistente do ensino Superior do Quadro permanente da Faculdade de Arquitetura da U.F.R.G.S. da Cadeira de Urbanismo e Arquitetura paisagista. 1968 a 1978. 3.2 - Professor coordenador dos alunos que obtiveram o 1o Prêmio da 9o Bienal de São Paulo, com Plano de Habitação Popular. 4. ATIVIDADES LIGADAS A PREFEITURA MUNICIPAL de POA 4.1 - Funcionário Municipal, exercendo os seguintes cargos: 1956 à 1987 - Chefe do Setor de Planejamento Urbano - SMOV. - Chefe da Secção de Planejamento Urbano - SMOV. - Gerente de Projetos Urbanos - SPM. - Supervisor de Planejamento Urbano – SPM. ( Secretaria Municipal do Planejamento) - Secretário Substituto - SPM. 4.2 - Participação da equipe que elaborou o plano diretor da cidade instituído pelas leis complementares no 2046/59 e 2330/61. 1959 à 1961 4.3 - Coordenação dos trabalhos em equipe das extensões A, B, C e D do plano diretor, instituído pelos Decretos nos 2.872/64 - 3.481/72 e 4.552/72 e 5.162/75. 1964 - 1967 - 1972 - 1975 4.4 - Gerência do "PROPLAN", programa de reavaliação do plano diretor do qual resultou, o 1o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (1o PDDU) - Lei Complementar no 43/19. 1979 4.6 - Participação entre outros, dos seguintes planos e projetos. * Plano de volumes traçados da 1a Avenida Perimetral. * Plano para área central de Porto Alegre. * Plano piloto para Parque Saint'Hilaire. * Plano de Reurbanização da Ilhota. * Plano de urbanização de parte do Aterro da Praia de Belas. * Projetos do Auditório Araújo Viana (Parque Farroupilha). * Projeto do Prédio Sede da SMOV, (Secretaria Municipal de Obras e Viação). 1956 à 1987. 5. PUBLICAÇÕES E PALESTRAS Graduação em Arquitetura: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1954. Pós Graduação em Urbanismo: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Curso de Legislação Urbana: Prof. Ely Lopes Meireles,1961. Curso de Pert. Cm: Prefeitura Municipal de Porto Alegre. 5.1 - Plano Diretor do Delta do Jacuí. (Public. Pref.). 1958 5.2 - Plano Piloto do Parque Saint'Hilarie (Public. Pref.). 1978 5.3 - Revista do Curso de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, análise crítica do projeto da Praia de Belas e estudo paisagístico para o largo do cemitério. 5.4 - Revista de arquitetura "O ESPAÇO", projetos do concurso para o Palácio Legislativo do RS e do Refeitório do SESC. 5.5 - Boletim do Instituto Brasileiro de Acústica Auditório Araújo Vianna. 5.6 Estudos sobre a região metropolitana de Porto Alegre publicação da Prefeitura em 1967. 5.7 - Proposições para a área central de Porto Alegre publicações da Prefeitura. 5.8 - Plano Piloto para o Parque de Itapoã, Publicação da Metroplan. ( Fundação Metropolitana de Planejamento) 1975. 5.9 - Arquitetura Moderna em Porto Alegre Editora Pini, primeira edição - Seis Trabalhos publicados. 1987. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 131 5.10 - Palestra sobre o Plano Diretor da cidade proferidas, ao longo do período, às seguintes entidades: técnicos científicos da Secretaria de Obras do estado e aos alunos da faculdade de arquitetura e do programa de pós graduação e urbanismo da UFRGS, Sindicato da Construção Civil do RGS., Sindicato dos Corretores de Imóveis, à diversas associações de Bairros, ao Conselho do Plano Diretor, ao Curso de Geografia da UFRGS, aos técnicos e Conselho do Plano Diretor de Caxias do Sul. 5.11 - Palestra da Sessão Inaugural do Seminário do Plano Diretor da Vitória e Espírito Santo. 5.12 - Palestra sobre problemas metropolitanos: * Planejamento para Sociedade de Engenharia. * Circulação Metropolitana, para a Faculdade de Engenharia (curso viabilidade Técnico-Economico de vias). 5.13 - Palestra ao instituto dos Arquitetos sobre o planejamento físico da região metropolitana. 5.14 - Palestra e tese sobre experiências de planejamento urbano para o seminário de planejamento da SUDESUL em Porto Alegre, ano de 1979. 5.15 - Palestra inaugural do Seminário Nacional, o primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Porto Alegre. (1o PDDU). 5.16 - Aulas inaugurais para cursos de arquitetura Unisinos (1980) e Ritter dos Reis. 5.17 - Publicações do conselho para o desenvolvimento do litoral Norte do R. G. Sul, de trabalho de planejamento. 5.18 - Artigo sobre o 1o PDDU publicado pela revista da sociedade de engenharia. 5.19 - Artigo em Estudos Urbanos - Porto Alegre e seu planejamento - Editora da Universidade Federal do R.G.S. 1994. 5.20 - Revista Projeto nos 144 e 145: Obra do SESC Caxias do Sul. 5.21 - Revista Projeto no 184: Projeto do Concurso de ideia sobre o Muro da Mauá. 1991. 5.22 - Revista Projeto no 180: Residência em Atlântida. 1995. 5.23 - Revista Projeto no 183: Edifício São Cristóvão. 1994. 5.24 - Revista Projeto no 163: Refeitório Tedut (Petrobrás). 1995. 5.25 - Revista Projeto no 195: Centro Comercial Nova Olaria. 1995. 5.26 - Boletim do IAB - RS n° 17 : Centro Comercial Nova Olaria. 1996 5.27 – Boletim do IAB – RS : Centro Cultural SESC Ijuí. 1997 5.28 “Reciclagem de antigos galpões em bairro tradicional propicia funções diversificadas no miolo da quadra”. Revista Projeto - Design N° 201, p. 64,65,66,67,68 e 69. Editora Arco Editorial. São Paulo. 1997. 5.29 Centro Comercial Nova Olaria. International Yearbook - AWA 1997. Editora Prestel – Nova York. p.181, 1997. 5.30 - Edifício dá continuidade a modelo típico estabelecido em Porto Alegre nos anos 80”.) Revista Projeto - Design N° 226, p. 6. Arco Editorial, São Paulo. 1998. 5.31 - “Moojen & Marques vence concurso de Parque Tecnológico”. Revista Projeto - Design N° 237, p. 90. Arco Editorial, São Paulo. Novembro1999. 5.32 - Artigo “O Projeto da Cidade de Porto Alegre” no número 33 da Revista Elarqa, especial sobre Porto Alegre. Editora dos Puntos, Montevidéu. Fevereiro de 2000. 5.33 – Publicação do projeto “Nova Olaria – Pragmatismo nada Superficial” no N° 33 da Revista Elarqa, especial sobre Porto Alegre. Texto de Ruth verde Zein. Editora dos Puntos, Montevidéu. Fevereiro de 2000, p.84,85,86 e 87). 5.34 - Centro Comercial Nova Olaria. Revista Projeto - Design Nº 251, pág. 62. Editora Arco Editorial. São Paulo. 2001. 5.35 – Intencionalmente Discreto, edifício inspira-se na arquitetura modernista. Revista Projeto Design Nº 260, pág. 42, 43, 44. Editora Arco Editorial. São Paulo. Outubro 2001. 5.36 - “Minimalismo de Grande Caixa Metálica é rompido por volume alto e aberturas” – Borrachas Tipler, São Leopoldo – RS - Revista Projeto - Design N° 273, p. 48, 49, 50, 51. Arco Editorial, São Paulo. 2002 6. J Ú R I D E C O N C U R S O S 6.1 - Representante do IAB no concurso público promovido pelo estado do R.G.S. para o Plano Diretor de Marau, 1965. 6.2 - Representante da Prefeitura Municipal no concurso, Monumento aos Açorianos. 6.3 - Membro convidado pela União Metropolitana dos Estudantes secundários no concurso para o monumento ao Professor, 1959. 6.4 - Membro do Júri de premiação do III Salão de Arquitetura do Instituto dos Arquitetos do Brasil Dep. do R.G.S. 6.5 - Membro do Júri do concurso Nacional para o Centro Esportivo da Praia de Belas patrocínio do Estado do R.G.S. 6.6 - Consultor e organizador do IAB do concurso Público Unidade Centro - de Porto Alegre. 6.7 - Membro convidado pela Prefeitura de Caxias do Sul para o julgamento de títulos para a escolha do profissional contratado para os projetos do novo "Paço Municipal". 6.8 - Representante do IAB no concurso de projetos para o "Porto Seco" de Uruguaiana, 1971. 6.9 - Representante do IAB Nacional para assuntos referentes ao planejamento urbano na Constituição Federal, Lei Figueiredo Ferraz. Idem em relação ao IAB do RS na Comissão de Urbanização, em Relação a constituição estadual. 1987. 6.10 - Palestra na Câmara de Vereadores no Seminário sobre Planejamento Urbano e Representante dos Urbanistas na data comemorativa do dia mundial de urbanismo. 6.11 - Concurso para reciclagem do Porto de Porto Alegre . 1996. “ Porto dos Casais” 6.12 – Concurso Nacional de Anteprojetos para o “Shopping Center da UNISINOS”. São Leopoldo, 2004. 7. CONGRESSOS E S E M I N Á R I O S 7.1 - Seminário sobre política de desenvolvimento urbano para o Estado do Rio Grande do Sul. S.D.O. - SUDESUL - SERPHAN - UFRGS, 1972. 7.2 - Representante da Prefeitura no Congresso Nacional do Instituto dos Arquitetos do Brasil em Salvador, Bahia nos assuntos referentes ao planejamento urbano, 1968 e 1984. 7.3 - Seminário de Apresentação do Trabalho do Grupo Executivo da Região Metropolitana de Porto Alegre. 7.4 - Seminário Nacional de Arquitetura ou de apresentação e discussão do 1o Plano de desenvolvimento Urbano de Porto Alegre. 1979. 7.5 - Congresso Internacional de arquitetos realizado na cidade do México,1978. 8. ENTIDADE PROFISSIONAL 8.1 - Secretário do Instituto dos Arquitetos do Brasil RS, 1967. 8.2 - Representante do IAB./RS. na Assembleia Nacional em 1965,1967. 8.3 - Conselheiro da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul ( cargo atual) 8.4 – Representante da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul no Programa Cidade Constituinte 8.5 – Membro do Conselho Federal do IAB 1998 8.6 – Membro do Conselho deliberativo da sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (cargo atual desde 1996). 132 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Moojen 8.7 – Representante da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul no Conselho Municipal de Patrimônio Histórico - COMPAHC 9. P R E M I A Ç Õ E S 9.1 - Primeiro lugar na Categoria de "Problemas Vários" com o projeto do Auditório Araujo Vianna (Medalha de Prata do I Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul, promovido pelo IAB/RS.). 9.2 - Primeiro lugar na Categoria de "Edifícios de Recreação e Esporte", com o Projeto da Sede Campestre do Clube Recreio da Juventude de Caxias do Sul". (Medalha de Prata do I Salão de Arquitetura IAB/RS).9.3 Menção Honrosa na Categoria de "Habitação Individual" com o Projeto de Residência para o Sr. Rubem Vasconcellos (Diplomado II Salão de Arquitetura da IAB/RS). 9.4 - Primeiro Prêmio pelo Trabalho "Complexo Industrial da Petrobrás", Projetos da refinaria Alberto Pasqualini e Terminal Soares Dutra. (Medalha de Ouro do III Salão de Arquitetura do IAB/RS). 9.5 - Primeiro lugar do Concurso Público da Secretária de Obras Públicas do Rio Grande do Sul, para a elaboração do "Plano Piloto para o Delta do Jacuí", 1958. 9.6 - Projetos selecionados pelo IAB/RS para participação da Premiação do IAB, Edifício Sede da Secretaria Municipal de Obras e Viação da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, área central de Porto Alegre (Remanejamento) e Clube do Professor Gaúcho. 9.8 - Medalha Cidade de Porto Alegre, Conferido pela Prefeitura Municipal na Semana de Porto Alegre, 1987. 9.9 - Premiação da III Bienal de Arquitetura para Projeto Centro Comercial Nova Olaria. 9.10 - Segundo lugar do Concurso Nacional de Ideias sobre a Muro do Mauá. 1995. 9.11 - Centro Cultural SESC Ijuí – Medalha de Prata IV Bienal de Arquitetura do RS. 1997. 9.12 – Cidadão Emérito de Porto Alegre – Câmara Municipal de Porto Alegre 1998. 9.13 – Arquiteto do Ano 2000– Sindicato dos Arquitetos do Rio Grande do Sul 9.14 - 1° Lugar no Concurso Nacional de projeto para “Parque Tecnológico da CIENTEC – Cachoeirinha - RS” Equipe: Moojen & Marques Arquitetos Associados, Arq. Léo Ferreira da Silva, Col. Arq. Francine Ramil, Arq. Valéria Odriozola Peralta. Porto Alegre – RS. Junho de 1999. 11.4.6 - 1° lugar na licitação para elaboração do Projeto Sesc – Santo Ângelo. Projeto para Centro Cultural, e de Lazer. A = 1.500, 00 m² . Equipe: Moojen & Marques Arquitetos Associados. Santo Ângelo - RS. 2004. 9.15 – Medalha do Mérito Urbanístico, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Dezembro de 2005 10. ESCRITÓRIO PROFISSIONAL 10.1.8 - Projeto de viabilidade urbanista para urbanização de área no Morro da Glória para Marsiaj de Oliveira Incorporações Imobiliárias Ltda., com estudo para implantação do Santuário Nossa Senhora Mãe de Deus. 10.1.9 - Estudo Metodológico para a reavaliação do Plano Diretor de Canoas, RS – 1995 10.1.10 – Plano Diretor para o Município de São Francisco de Paula, 1996/1997. 8.3.10 – Para Borrachas Tipler Ltda: Plano Diretor para área industrial. A= 30 ha Equipe: Moojen & Marques Arquitetos Associados. São Leopoldo - RS. 2004. 10.2 - PARCELAMENTO DO SOLO 10.2.1 - Para a Companhia Predial e Agrícola S/A. Loteamento Parque Dr. Ernesto Diprimio Beck no Bairro Guarujá, Porto Alegre. Estudo Urbanístico para enquadramento legal de Glebas situadas no Bairro da Glória. (Chácara Chiott), Porto Alegre. Projeto de Seis Condomínios para habitação coletiva no loteamento "Chácara da Fumaça". Porto Alegre. Estudo para loteamento de Marinas junto ao Rio Guariba no Bairro da Serraria Porto Alegre. 10.2.2 - Para Edel Engenharia Ltda. - Loteamento "Ipanema Gardem". Bairro Ipanema - Porto Alegre. 10.2.3 - Para Solo Empreendimentos Imobiliários Ltda. - Loteamento Tapete Verde I e Tapete Verde II (Ambos no Bairro de Ipanema POA). 1979. Condomínio convento a Belém conjunto 40 residências unifamiliares no Bairro de Belém Novo POA. 1986. 10.2.4 - Para Marsiaj de Oliveira Incorporações Ltda. - Loteamento "Parque do Sabiá", na Avenida Protásio Alves, POA. - Condomínio Jardim Country Club, de habitação unifamiliar na Rua Des. Bernardo de Medeiros JNR, POA. - Loteamento "Chácara Servita", no Bairro da Glória, POA. 10.2.5 - Para Coemi Construção empreendimentos Imobiliários. Condomínio de habitações coletivas, "Jardim Humaitá" Bairro Humaitá, POA. 10.2.6 - Para Urbanizadora Mentz S/A. - Loteamento "Parque Industrial Benópolos - Bairro Humaitá, POA/RS. 10.2.7 - Para Cecla Empreendimentos Imobiliários Ltda. - Loteamento "Jardim Verde Ipanema "Bairro de Ipanema POA. - Condomínio de residências unifamiliares encosta do cerro, estrada Edgar Pires de Castro POA. 10.2.8 - Para a "Granja Belém Novo Ltda. - Projeto de Loteamento, Av. Juca Batista junto à Sociedade Hípica, Porto Alegre. 1987. 10.2.9 - Para LM. Consultora e Planejamento Ltda. Santa Maria. (CAPFESP) - 1957. - Projeto para "Praia Sambaqui", situada entre Xangri-lá e Remanso RS. 10.3 - HABITAÇÃO E COMÉRCIO: 10.3.1 - RESIDÊNCIAS UNIFAMILIARES: a Para o Dr. Engenheiro Joaquim Alfredo de Mello Pedreira, residência de veraneio na praia de Torres e permanente na Rua Lucas de Oliveira em Porto Alegre. 1958 à 1963. b Para o Sr. Maurício Sirotsky Sobrinho na Rua Gal Ildefonso Simões Lopes, três Figueiras POA. (Prédio Posteriormente reformado). 1963. 10.1 - URBANISMO E PAISAGISMO: 10.1.1 - Projeto de Urbanização e arquitetônico para um núcleo Ferroviário para 10.1.2 - Projeto de um conjunto residencial para aços finos Piratini - 1963 10.1.3 - Plano Diretor para a cidade de Esteio. (Participação de Equipe Urbasul). 10.1.4 - Projeto de Paisagismo para a praça Primeiro de maio, para o Município de Estância Velha, RS - 1966 10.1.5 - Projeto de Paisagismo para a sede campestre do Serviço Social do comércio na Vila Jardim em Porto Alegre. 10.1.6 - Plano de desenvolvimento Integrado para o litoral norte, relatório com proposições elaborado para o Conselho de Desenvolvimento do Litoral do Rio Grande do Sul - 1984 10.1.7 - Plano Piloto para o Parque Estadual de Itapuã, para a fundação Metropolitana de planejamento - 1966 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 133 c Para o Dr. Jaime MILNITSKY, na Rua Dario Pederneiras, Bairro Petrópolis, Porto Alegre. d Para o Dr. Henrique Naschold, Rua Alfredo Schutt, Três Figueiras, POA.1966. e Para o Dr. Almir Moojen Nácul Residência na Avenida Guaíba, Vila Assunção POA. 1973. f Para o Sr. Carlos Marques D'Almeida Residência de Veraneio na Praia de Atlântida, RS. g Para os Drs. Augusto e Jamil Nácul Residências de Veraneio na Praia de Torres. 1980 à 1987. h Sr. Angelo Martins Bastos Filho, Uruguaiana. 1957. i Sr. Prof. Fernando Campos Rua Ten. Cel. Correa, Lima POA. 1963. j - Dr. Almir Moojen Marques – Reforma, aumento e reciclagem de residência e clínica – Rua Quintino Bocaiúva - Porto Alegre 1995/96 k - Dr. Ricardo Cauduro Neto - Condomínio Jardim do Sol – Porto Alegre 1996 l -Sr. Joel Ramos Corte – Rua Encantado n° 30 – 1992 m - Anwar Raad – Atlântida RS. 1993. n - Eng. Gilberto Peressuti - Rua Dr. Pio Ângelo 234 - Ipanema - POA.1994. o – Residência Ricardo Cauduro, Condomínio Jardim do Sol, Ipanema, Porto Alegre, A = 498,50m², 1999. 10.3.2. - EDIFÍCIOS E APARTAMENTOS, COMERCIAIS E MISTOS. - n o Própria. 1970. p - Para Eng. Getúlio J. Fantinel e outros, Projeto Arquitetônico e fiscalização da obra de edifício residencial . Av. Ivo Corseuil, POA - RS. 1996. q - Para Kolman Hotel, Estudo Preliminar de Centro Comercial e ampliação de Hotel, 2001. r - Para Eng. Getúlio J. Fantinel, Projeto Arquitetônico de ed. residencial , Av. Mariante, Porto Alegre, 2002. s - Para Kolman Hotel: Projeto Arquitetônico de Centro Comercial – Paseo Kolman e ampliação de Hotel. A = 4.000,00m². Equipe: Moojen & Marques Arquitetos Associados. Capão da Canoa - RS. 2004. t - Para DALLASANTA Empreendimentos e Incorporações: Projeto Arquitetônico de Centro Comercial, A = 5 500, 00 m² , Av. Wenceslau Escobar, Porto Alegre, 2004. Equipe: Moojen & Marques Arquitetos Associados u - Para Sommer & Sommer Engenharia: Projeto Arquitetônico de Edifício de habitação coletiva A = 1.000,00m², Rua Felipe de Oliveira esq. Gal. Souza Doca, Porto Alegre, 2004. Equipe: Moojen & Marques Arquitetos Associados 10.4 INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS: Edifício Torely Edifício de Escritórios e Lojas, Rua dos Andradas. 1960. Edifício São Cristóvão: Cristóvão Colombo no 879. 1987. Edifício de Apartamentos – FAM - Rua Dr. Vicente de Paula Dutra no 225, Residência a Edifício Phoenix, escritórios, laboratórios análises clínicas, laboratório Geyer e instituição bancária. Praça XV de Novembro Porto Alegre. 1960. b Para o Banco Nacional do Comércio, Prédio de apartamentos e instalações do Banco, Edificação na cidade de Rio Grande. c Para a Associação dos Profissionais Liberais; Universitários do Brasil (APLUB). Edifício de apartamentos, Rua Riachuelo Esq. Largo Amorim de Albuquerque - POA. 1967. Estudo de Viabilidade Urbanístico Arquitetônico, para a instalação da Sede da Associação, Avenida primeira Perimetral POA. no 1576. 1976. d Para a Caixa Econômica Federal RS. Apartamentos e Agências município de Guaíba, RS. e Edifício José Pilla, Apartamentos e Lojas Avenida Independência esquina Sto Antonio POA. f Dr. Augusto M. Nácul, Prédio para Lojas e Escritórios. Av. Independência no 579. g Para Casil Empreendimentos Imobiliários Ltda. Centro Comercial de Tristeza, Av. Wenceslau Escobar Bairro da Tristeza POA. h Para Gus Livonius Maciel e Sá Engenharia e Construções: Edifício para a instalação da sede da empresa Av. Cristiano Fischer POA. i Para Silva Chaves, Projeto e Construções Ltda. Edifício de Apartamentos, salas e Galeria comercial, Esplanada Center, Av. Cristovão Colombo Esquina com Rua, Quintino Bocaiuva POA. j Para Eimol Empreendimentos Imobiliários: Prédio de Apartamentos Solar da Vitória na Rua Ramiro Barcelos, k Para Dr. Waldyr José Maggi, prédio de Apartamentos na Rua Dona Maria, Morro Santa Tereza, POA. 1985. l Para Eng. Lucindo Marcon: Prédio de Apartamentos na Rua São Matheus, Petrópolis POA. 1986. m Para Eng. Getulio José Fantinel: 10.4.1 - Para a Petrobrás a Complexo industrial da Refinaria Alberto Pasqualini - Canoas - RS. - Plano diretor Plano de Paisagismo, projeto, das edificações e mobiliário, 1967 à 1965. b Terminal almirante Soares Dutra, Tramandaí RS. Plano Diretor, Plano de Paisagismo e Projeto das Edificações. 1961 à 1965. 10.4.2 Usina Termoelétrica de Candiota II. - Prédios Industriais e Administrativos. 1965 10.4.3 Pescal - Município de Rio Grande. - Projeto de Reciclagem de Pavilhão Industriais e Administrativos. 1966. 10.4.4 – Novo restaurante para o Terminal Almirante Soares Dutra – Tramandaí – RS. 1995. 10.4.5 - Para Impressul - Indústria Gráfica Ltda, Projeto Arquitetônico obra de indústria gráfica, POA - RS. 1998. 10.4.6 Para Construtora PREMOLD Ltda a – Fábrica de Calçados Paquetá, Estudo Preliminar para Pavilhão Industrial com elementos préfabricados, POA - RS. 1999. b – Indústrias Oetiker do Brasil, Estudo Preliminar para Pavilhão Industrial com elementos préfabricados. POA - RS. 2000. c- Delara Centro de Distribuição e Logística, Estudo Preliminar para Pavilhão Industrial com elementos pré-fabricados. Sapucaia do Sul - RS. 2000. d – Zaraplast – Plásticos, Estudo Preliminar para Pavilhão Industrial com elementos pré-fabricados. Pólo Petroquímico - Triunfo - RS. 2000. d – Transportadora Mercúrio, Estudo Preliminar para Pavilhão com elementos pré-fabricados. Cachoeirinha - RS - RS. 2000. e – Para Construtora PREMOLD Ltda – Universidade de Caxias do Sul, Estudo Preliminar para Centro Esportivo com elementos pré-fabricados. Caxias do Sul - RS. 2000. f – Walter Sheid, Estudo Preliminar para Pavilhão Industrial com elementos pré-fabricados. Santa Cruz do Sul - RS. 2000. 134 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Curriculum Vitae_Moojen g – Jakko Poyry, Projeto e detalhamento para execução de placas de concreto pré-fabricado para fachada de pavilhâo industrial, Gravataí-RS. 2001. h – Grupo IOB. Estudo Preliminar para Ed. Profissional e Ed. Garagem. POA-RS 2001. 10.4.7 – Para Borrachas Tipler Ltda: i - Para Borrachas Tipler Ltda: Projeto Arquitetônico para Pavilhão Industrial com elementos préfabricados. 10.000,00m² São Leopoldo - RS. 2000. j- Para Borrachas Tipler Ltda: Anteprojeto de Central de Utilidades de complexo industrial. São Leopoldo-RS. 2001. K – Para Borrachas Tipler Ltda: Projeto Arquitetônico para ampliação de Pavilhão Industrial com elementos pré-fabricados. A= 13.500,00m² Equipe: Moojen & Marques Arquitetos Associados. São Leopoldo - RS. 2004. L - Para Borrachas Tipler Ltda: Projeto Arquitetônico para refeitório e vestiários. A= 1.800,00m². Equipe: Moojen & Marques Arquitetos Associados. São Leopoldo - RS. 2004. 10.5 TEMAS VARIADOS: 10.5.1 Cantegril Club: Projeto Piscinas e Vestiários, Município de Viamão RS. 1959. l10.5.2 Auditório Araújo Vianna: Posteriormente projeto de cobertura, Parque da Redenção POA. 1977. 10.5.3 - Hospital de Cardiologia: Projeto de reciclagem e sucessivos aumentos, Av. Princesa Isabel POA. 1966. 10.5.4 Aeroporto Salgado Filho, Projeto de Aumento e Arquitetura de Interiores. 1970. 10.5.5 Quinta Zona Aérea, Projeto de Reciclagem do refeitório, cassino dos oficiais e prédio do quartel general, Canoas - POA. 1975. 10.5.6 Companhia Telefônica Riograndense: Central do Município de Alegrete. 1976. 10.5.7 Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense: Projeto para Sede Naútica do Cristal POA. 1976. 10.5.8 Copagra S/A. Companhia Portoalegrense de Automóveis: Projeto para Agência Ford. BR. 116. Canoas-RS. 10.5.9 - Jockey Clube do Rio Grande do Sul: Projeto para sede Social no Bairro do Cristal- POA. 1980. 10.5.10-Clínica Nácul de Cirurgia Plástica, Projeto de Reciclagem do Prédio. 1986. 10.5.11-Creche Rua Pedro Pieretti Bairro Partenon, POA. 1987 10.5.12-Para o Serviço Social do Comércio (SESC). Os seguintes Projetos: - Refeitório na Rua Mal Floriano POA: - Sede Campestre e Centro Esportivo da Vila Jardim POA. - Centro de Atividades de Pelotas. - Centro de Atividades de Bagé. - Centro de Atividades do 4o Distrito Av. São Paulo POA. - Centro Administrativo Regional. Av. Alberto Bins. POA. - Centro de Atividades de Caxias do Sul. 1957 à 1986. Centro Cultural Esportivo para Ijui - RS. 1993. Ampliação da Sede Administrativa Regional, POA. 2000. 10.5.13 – Para Munir e Anwar – Hotel – Rua Vigário José Inácio 795 e Jerônimo Coelho 315 e 321 – Porto Alegre – RS 10.5.4 – Para o Montepio dos Funcionários do Município de Porto Alegre Centro Comercial “ Nova Olaria” e Sede Social – Rua Gal. Lima e Silva n° 776 Centro Profissional e Reciclagem de Prédio Histórico – Av. Júlio de Castilhos n°307. 1995/96. 10.5.14 Para ASSEC – Associação dos Servidores da Secretaria de Educação e Cultura: Projeto arquitetônico e fiscalização da obra para Sede. A = 500, 00 m². Equipe: Moojen & Marques Arquitetos Associados. POA - RS. Ed. Formac. 2001. 10.5.15 - Para Sesc – Santo Ângelo: Projeto para Centro Cultural, e de Lazer. A = 1.500, 00 m². Equipe: Moojen & Marques Arquitetos Associados. Santo Ângelo - RS. 2004. 10.5.16 – Para Fundação de Ciências e Tecnologia do Estado - CIENTEC Plano Diretor, Projeto das edificações, sinalização, paisagismo, mobiliário urbano e coordenação dos projetos complementares. “Parque Tecnológico da CIENTEC e Incubadora Tecnológica– Cachoeirinha - RS” Área de 25 ha e Edificação de 10.000,00m² Equipe: Moojen & Marques Arquitetos Associados. Col. Arq. Mônica Bohrer. Porto Alegre – RS. 2004. 10.5.16 Nota: Alguns trabalhos constantes desse currículo, foram elaborados em equipe (ver Anexo - I Cronologia Ilustrada). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 135 136 CENTRO EVANGÉLICO DE PORTO ALEGRE Rua Senhor dos Passos 202,Centro Porto Alegre, 1959 Carlos Maximiliano Fayet,Suzy Therezinha B. Fayet 139 CENTRO EVANGÉLICO DE PORTO ALEGRE Rua Senhor dos Passos 202, Centro Porto Alegre, 1959 Carlos Maximiliano Fayet, Suzy Therezinha B. Fayet CONCURSO PARQUE MARINHA DO BRASIL Av. Borges de Medeiros, Praia de Belas Guaíba Porto Alegre, RS -- 1977 Alegre, RS Cláudio L. G. RS - Cláudia Obino Correa, Martin Suffert, Porto Alegre, Araújo, Claudia Obino Frota, Martin Suffert Cláudio L. G. Araújo, Carlos E. D. Comas, Arlete Sauer, José Artur Daló Frota 137 CONCURSO PARQUE MARINHA DO BRASIL Av. Guaíba de Medeiros, Praia de Belas Borges Porto Alegre, RS - 1977 Cláudio L. G. Araújo, Claudia Porto Alegre, RS - Cláudia Obino Correa, Martin Suffert, Frota, Martin Suffert Carlos E. D. Comas, Arlete Sauer, José Artur Daló Frota CONCURSO PARQUE MARINHA DO BRASIL Av. Guaíba de Medeiros, Praia de Belas Borges Porto Alegre, RS - 1977 Cláudio L. G. Araújo, Claudia Porto Alegre, RS - Cláudia Obino Correa, Martin Suffert, Frota, Martin Suffert Carlos E. D. Comas, Arlete Sauer, José Artur Daló Frota CLUBE DO PROFESSOR GAÚCHO - CPG-RS Av. Guaíba,12060,Ipanema Porto Alegre,1966 Moacyr Moojen Marques, João José Vallandro 141 CLUBE DO PROFESSOR GAÚCHO Porto Alegre, 1966 Av. Guaíba, 12060, Ipanema Porto Alegre, 1966 Moacyr Moojen Marques e João José Vallandro FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Anexo II N° ACERVO PROJETO ANO AUTOR PLANILHA DE CONTROLE - ACERVO FAM DIGITALIZAÇÃO DATA SAÍDA RESP. CÓD. ENTRADA ACER. ORIGINAIS 9 Plantas, 5 originais, 14 cópias heliográficas, 8 manteigas ARQUIVOS 1 e 2 pav 1 pav 1 pav_2 2 pav 2 pav_2 3 pav 3 pav_2 3,4, e5 pav 4 e 5 pav 4,5 e 5 pav 4,5 e 5 pav_2 armario corte bb corte cc. corte cc_2 cortes cc e bb cortes croquis2 croquis d12, d20 d29 D17, D18 D28 fachada inst hidr_1 pav_2 inst hidr_2 pav inst hidr_3 pav inst hidr_4 pav.jpg inst hidr_5 e 6 pav Inst Hidr_Térreo pb 1 sub solo pb 1 sub solo situ e locli situ e locli_2 1 Centro Evangélico de Porto Alegre F 11/03/08 06/02/09 S 2 3 4 Auditório Araújo Viana Praia de Belas Casa Henrique Krolikowski 1961 FM FM F 04/03/08 11/03/08 11/01/09 15/01/09 05/03/09 S S S Planta Baixa, planta de implantação 5 cópias - Heliograficas 9 Pranchas 5 Casa Menzel F 11/03/08 05/03/09 S 4 Pranchas 6 Residência do Dr. Marcelo Blaya Perez F 17/03/09 S 4 cópias - heliograficas, 3 originais e 8 vegetal 7 Casa Schelll F 11/03/08 05/03/09 S 2 Pranchas implantação1 planta baixa1 implantação planta baixa2 implantação_a planta baixa Lei 3441 prancha 1 Prancha 2 prancha3 Prancha 4 detalhe e croqui diversos fachadas e cortes pb e sub fachada e det poste luz PB pd obra 01 cortes 02 plantas baixas 03 S-1 cortes fachada situ e locli cortes e fachadas plantas Estaleiro só Jogo 5 151 8 Estaleiro Só 31 pranchas (incluindo capa e Acervo Fayet Araújo & Moojen - Núcleo de Projetos / Laboratório de História e Teoria da Arquitetura / FAU UniRitter Legenda: F - Fayet A - Araújo M - Moojen T - Taís V - Valentina S - Sérgio R - Rafael C - Cristina N° ACERVO PROJETO ANO AUTOR PLANILHA DE CONTROLE - ACERVO FAM DIGITALIZAÇÃO DATA SAÍDA RESP. CÓD. ENTRADA ACER. ORIGINAIS contracapa) ARQUIVOS Jogo 1 Jogo 2 Jogo 3 Jogo 4 Jogo 1 Jogo2 Jogo3 corte e fachadas corte long descrição 01 01_a corte e detalhes detalhes vigas aço detalhes vigas aço_a fachadas fachadas_a memorial persp pb 1 pb 2 pb 3 pb 3_a pb geral e detalhes pb trecho e pb trecho e_a Cortes cortes_a estudos Cobertura cobertura_2 corte cc dd cortes cc dd cortes Jogo 6 Jogo 7 Jogo 8 Jogo 9 Jogo10 Jogo 4 Jogo 5 Jogo 6 pavimentos perspectiva sub-solo, térreo,2pav símbolos sinais trecho c trecho c_a trechoD trechod_a cobertura_todas elevação corte aa_todas estrutura cobertura_todas estudos1 estudos2 pb_rvap002a_todas planta baixa1_todas planta geral_todas plantas biaxas plantas biaxas_a fachadas sul e leste_2 fachadas fachadas_2 localiz A 17/03/09 S 9 Passagem de pedestres – Rua dos Andradas A 20/03/09 S 22 cópias Xerox 10 GBOEX F 30/06/09 S 9 cópias heliográficos. 6 pranchas 11 Rodoviária – Vitória – RS F 30/04/09 S 29 cópias – heliográficas, 11 originais, 9 manteigas e 1 foto 12 IAB – RS F 03/06/09 S 3 plantas 13 Geomapa F 03/06/09 S 9 pranchas 152 Acervo Fayet Araújo & Moojen - Núcleo de Projetos / Laboratório de História e Teoria da Arquitetura / FAU UniRitter Legenda: F - Fayet A - Araújo M - Moojen T - Taís V - Valentina S - Sérgio R - Rafael C - Cristina FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Anexo II N° ACERVO PROJETO ANO AUTOR PLANILHA DE CONTROLE - ACERVO FAM DIGITALIZAÇÃO DATA SAÍDA RESP. CÓD. ENTRADA ACER. ORIGINAIS ARQUIVOS cortes_2 fachadas sul e leste terreo mloc e situ_2 pav sup pav sup_2 pav térreo pav terreo_2 terreo mloc e situ 14 15 Churrascaria Sr. Guilherme H. Fitchner Residência Dr. Martin Graudenz FM F 25/06/09 25/06/09 S S 2 cópias- heliográficos 1 cópia – heliográfica, 1 original manteiga 2 cópias – heliográficos 6 cópias – heliográficos 2 cópias heliográficas 3 cópias heliográficas pb e cortes estudos e ante projeto 16 17 18 19 Residência Dep. Candido Norberto dos Santos Edifício Obino Residência Dr. Samuel Madureira Coelho Residência Petrônio Correa F F F F 25/06/09 25/06/09 25/06/09 29/08/09 S S S S fachada persp situ fachadas situ cobert todas fachadas e loc plantas e cortes corte faschada corte faschada_2 detalhe2 pb fachadas e loc plantas e cortes 1 2 plantas detalhes Corte Fachada Pav.Tipo 10 e situação 20 planta 10 situação copia p b fachadas paisagismo zona 1 pl baix e cortes planat e cortes detalhe PB pb 20 21 22 23 Residência Samuel Madureira Residência Dr. Jayme Paz da Silva Residência Dr. Zeniro Sanmartin SMOV 1956 F F F M 23/04/09 25/06/09 25/06/09 18/06/08 S S S S 3 cópias heliográficas, 1 original 5 cópias heliográficas Planta baixa 3 4 24 Parque Náutico - Grêmio Foot-Ball Portoalegrense M 11/08/08 T Plantas- implantação, localização, aero fotométrico e perspectiva 25 Clube Professor Gaúcho M 03/09/08 V Planta baixa, cortes e fachada paisagismo zona 3 situação trecho 1.2 trecho 2.3 153 Acervo Fayet Araújo & Moojen - Núcleo de Projetos / Laboratório de História e Teoria da Arquitetura / FAU UniRitter Legenda: F - Fayet A - Araújo M - Moojen T - Taís V - Valentina S - Sérgio R - Rafael C - Cristina N° ACERVO PROJETO ANO AUTOR PLANILHA DE CONTROLE - ACERVO FAM DIGITALIZAÇÃO DATA SAÍDA RESP. CÓD. ENTRADA ACER. 03/09/08 03/09 V ORIGINAIS ARQUIVOS paisagismo zona 2 01 26 Sede Social do Jockey Club M Planta baixa, cortes, fachada e implantação 9 plantas 27 28 Residência Jean Milnitsky Residência em Gramado – Juan Sonderman M M 19/09/08 19/09/08 17/10/08 17/10/18 V V 29 Aeroporto Salgado Filho – Terminal de Passageiros M 21/10/08 21/10/08 S 30 INSS - Sapiranga M 21/11/08 V 31 Correio (AP) GARAGEM M 21/11/08 V 32 Parque Marinha do Brasil - Concurso A 22/03/07 11/04/07 S Cortes Fachadas pb 6 plantas 1 pav e térreo estação de passag 2 pav estação de passag_A fachada norte sul 2 pav_acrecimo 3 pav fachadas 4 pav pb 2 pav conjunto1 pb 2 pav_2 pb 2 pav_3 corte AA situação corte aa_2 fachada leste corte e 1 pacv fachada oeste corte longitud pb 2pav corte transv terreo 1_200 corte, persp, terreo e 1 pav fachadas vista geral cortes trans e long 1 envelope Adequação perspect fachadas e cortes plantas baixas fachadas e pl situação 1 envelope fach corte situação planta baixa e corte AA planta baixa e desenhos Pranchas de 1-13 na integral e 01ok 09ok imagens das pranchas 12 e 13 em 02ok 10ok separado 03ok 11ok 04ok 12ok 05ok 13ok 06ok Foto1 3 plantas 154 Acervo Fayet Araújo & Moojen - Núcleo de Projetos / Laboratório de História e Teoria da Arquitetura / FAU UniRitter Legenda: F - Fayet A - Araújo M - Moojen T - Taís V - Valentina S - Sérgio R - Rafael C - Cristina FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Anexo II N° ACERVO PROJETO ANO AUTOR PLANILHA DE CONTROLE - ACERVO FAM DIGITALIZAÇÃO DATA SAÍDA RESP. CÓD. ENTRADA ACER. ORIGINAIS ARQUIVOS 07ok 08ok Cortes Fachadas pl baixas e corte todas Foto2 33 Residência Sr. Jorge Inda F 24/08/09 S 4 cópias heliográficas 34 35 Residência Rua Uruguay Residência David Zimmermann 1978 F F 24/08/09 24/08/09 13/08/09 S S 4 cópias heliográficas 7 cópias heliográficas e 1 papel manteiga 4 cópias heliográficas 36 Residência Abade Pereira Bulhôes F 24/08/09 01/09/09 S 37 38 39 Residência Vitor Alfredo Stumpf S,A,A,S Ed. De Escritórios – Rua Sete de Setembro F F F 24/08/09 24/08/09 24/08/09 01/09/09 31/08/09 S S S 2 cópias heliográficas 2 cópias heliográficas 8 cópias heliográficas cortes e fachadas sit e loca estudos estudos e corte situ local pl baixas situação localização cortes e fachadas cortes pl baixas situação pl baixa cortes e fachada cortes fachadas fachadas Corte pl baix cortes e fach Fachadas pl baixas pav 11, tipo, 2 situ,loca,planilha 4pb cobetura jas-03078 jas-03083 jas-03079 jas-03084 jas-03080 jas-03085 jas-03081 jas-03086 jas-03082 jas-02500 - jas-02531 jas-01430 - jas-01457 jas-00076 - jas-02431 40 Tramontina FA Fotos maquete 41 42 43 44 Copesul Conjunto residencial Praia de Belas CEASA - Central de Abastecimento de POA Edifício FAM 1970 FA FA FA FAM Fotos e fotos maquete Fotos maquetes Fotos jas-00918 jas-01070 - jas-01080 155 Acervo Fayet Araújo & Moojen - Núcleo de Projetos / Laboratório de História e Teoria da Arquitetura / FAU UniRitter Legenda: F - Fayet A - Araújo M - Moojen T - Taís V - Valentina S - Sérgio R - Rafael C - Cristina N° ACERVO PROJETO ANO AUTOR PLANILHA DE CONTROLE - ACERVO FAM DIGITALIZAÇÃO DATA SAÍDA RESP. CÓD. ENTRADA ACER. ORIGINAIS ARQUIVOS jas-01085 45 Boutique Ermínio Dallegrave A Fotos interiores 46 47 48 49 Capela do Pinhal Edifício Feliciano Xavier Edifício Guaspary Hotel Rolante A A A A Pb e Desenhos Desenhos Plantas e Fachadas Pb, perspectivas e desenhos jas-00228 jas-01108 jas-01100 jas-01109 jas-01101 jas-01117 jas-01102 jas-01118 jas-01103 jas-01119 jas-01104 jas-01121 jas-01105 jas-01106 jas-01107 jas-01545 jas-01552 jas-01551 jas-01310 jas-01312 jas-01311 jas-01527 - jas-01533 jas-01536 jas-01541 jas-01537 jas-01543 jas-01538 jas-01132 - jas-01142 jas-01127 jas-01129 jas-01128 jas-01131 jas-01124 - jas-01126 jas-01101 - jas-01116 jas-01122 - jas-01123 jas-01336 - jas-01352 jas-01354 jas-01360 - jas-01361 jas-02064 - jas-02071 jas-01167 jas-01169 - jas-01171 jas-01173 - jas-01174 50 51 52 53 54 Instituto de Reseguros do Brasil Loja Edu Las Casas Loja Ibraco Lojas Senador Residência Rafael Strougo 1982 A A A A A Fotos interiores Fotos interiores Fotos interiores Fotos interiores Fotos interiores 55 56 Mercur Eletrosul A A Fotos maquete Fotos maquete 156 Acervo Fayet Araújo & Moojen - Núcleo de Projetos / Laboratório de História e Teoria da Arquitetura / FAU UniRitter Legenda: F - Fayet A - Araújo M - Moojen T - Taís V - Valentina S - Sérgio R - Rafael C - Cristina FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Anexo II N° 57 ACERVO PROJETO Distrito Industrial CIENTEC ANO AUTOR A PLANILHA DE CONTROLE - ACERVO FAM DIGITALIZAÇÃO DATA SAÍDA RESP. CÓD. ENTRADA ACER. ORIGINAIS Plantas ARQUIVOS jas-01313 jas-02166 jas-02163 jas-02167 jas-02165 jas-01144 - jas-01166 jas-01174 jas-02203 - jas-02209 58 Edifício Politécnico 1978 A Fotos e maquetes 59 60 Fábrica Memphis Edifício FAM 1976 A FAM 15/06/10 24/06/10 R Fotos 3 Pranchas heliográficas Fachadas pav.tipo móbil plantas cortes loc situ cosinhA det mov fachadas det esq garage1 inst hidro det jan dormi1 jan dormit1 det mov dormit pav.tipo mobil dey diversos1 planta cobertura dey diversos2 planta terreo tipo etc facahda e hidro plantas cortes loc situ 1 pav c.maq. churrasq corte fachadas pl.bx situaçao p1 p5 p2 p6 p3 p7 p4 p8 perspectiva 2 perspectiva 61 Edifício FAM 1976 FAM 29/06/10 06/07/10 R 4 Pranchas ( cópias heliográficas) em vegetal, 10 pranchas em manteiga. 62 Residência Dr. José Hermann Flores 1973 A 06/07/10 20/07/10 R 7 Pranchas originais em vegetal 63 Porto Xavier – Porto Lucena 1973 A 20/07/10 03/09/10 R 10 pranchas vegetal, 64 65 Loteamento Residencial Centro Evangélico Cidade Porto Alegre, Centro 19XX 1959 A F 01/10/10 CB 8 pranchas copias 1-Térreo 2-Planta Baixa 3-Planta dos apartamentos 4-Cortes 5-Fachada principal 6-Perspectiva geral 7157 Acervo Fayet Araújo & Moojen - Núcleo de Projetos / Laboratório de História e Teoria da Arquitetura / FAU UniRitter Legenda: F - Fayet A - Araújo M - Moojen T - Taís V - Valentina S - Sérgio R - Rafael C - Cristina N° ACERVO PROJETO ANO AUTOR PLANILHA DE CONTROLE - ACERVO FAM DIGITALIZAÇÃO DATA SAÍDA RESP. CÓD. ENTRADA ACER. ORIGINAIS ARQUIVOS Perspectiva 8- Memória descritiva 66 Condomínio de Habitação Jardim Humaitá, Porto Alegre Déc. 1970 M CB 12 pranchas originais 1-Planta Baixa casa de Máquina 2-Planta baixa 3-Planta baixa 4-Planta baixa 5Planta baixa 6-Corte 7-Corte 8-Corte 9Fachada 10-Fachada 11-Fachada 1-Situação 2-Planta baixa 2ºpavimento 3Planta baixa 3ºpavimento 4-Planta baixa 4ºpavimento 5-Corte Transversal 6-Corte A-A 7-Corte B-B F-F 8-Corte D-D G-G 9Anteprojeto (Original)Cortes 10Perspectiva(Original) 11-Fachada 12Fachadas 13-Detalhe escada 14-Corte HH 15-Placa 16-Sist. Nfor 16-Térreo 17QG(Original) 18-QG 6 zona 19-Plantas Conjuntas 19-Planta Baixa Setor D. 67 Aeroporto Salgado Filho 19691971 M CB 68 Residência Dr. Jaime Midlisnsky 1968 M CB 13 pranchas originais 1-Fachada Principal e fundos 2-Cozinha 3Corte A-A B-B 4-Pisos e revestimentos 5Pisos e revestimentos, indicie 6-Fachada norte e sul 7-Planta baixa, subsolo 8Planta baixa, térreo. 1-Planta Baixa 2-Terreno 3-Cortes e fachadas 4-Cortes 5-Plantas 6-Plantas baixas 7-Plantas baixas 8-Plantas Baixas, cortes, fachadas 9-Planta de locacao 10Zona do palco, planta baixa, vistas, cortes 11-Fachadas 12-Planta baixa cortes 13Planta baixa cortes 14-Paisagismo zona 2 15-Casa zelador, planta baixa corte, fachadas 16-Creche Planta baix, cortes,fachadas 17-Galpao tipico, Planta baixa, Cortes, Fachadas 18-Cortes e 69 Clube do Professor Gaúcho 1966 M CB 158 Acervo Fayet Araújo & Moojen - Núcleo de Projetos / Laboratório de História e Teoria da Arquitetura / FAU UniRitter Legenda: F - Fayet A - Araújo M - Moojen T - Taís V - Valentina S - Sérgio R - Rafael C - Cristina FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Anexo II N° ACERVO PROJETO ANO AUTOR PLANILHA DE CONTROLE - ACERVO FAM DIGITALIZAÇÃO DATA SAÍDA RESP. CÓD. ENTRADA ACER. ORIGINAIS ARQUIVOS fachadas. 70 Central Termelétrica Candiota II 1975 1974 M CB 1-Casa de máquinas, Planta baixa 2-Corte A-A B-B 3-Corte C-C E-E F-F 4-Corte D-D 5- Fachada SE-NE 6-Fachada NW-SW 7Locacao de prédios 8-Planta de situação 9-Cortes A-A B-B C-C 10-Fachada 111pav. Planta baixa 12-Oficina Planta baixa 13-Cortes C-C D-D 14-Fachadas 1- Localização 2-Corte A-A e B-B 3-Corte C-C, D-D e E-E 4-Fachadas 5-Galeria 6Pavimento Térreo 7-Pavimento Tipo(mobiliado) 8-Pavimento Tipo 9-1º e 2º Subsolo 10-2º Pavimento 11-Casa de Máquinas,Reservatório Superior, Telhado. 16 pranchas originais vegetal, faltando as pranchas 1, 6 e 7 2, 3, 4, 5 – perspectivas 8 – planta de situação 9 – sub-solos 10 - 1 pvto 11- 2 pvto 12- 3 pvto 13- 5, 6, 7 e 8 pvtos 149, 10, 11, 12 e casa de maquinas 15detalhe e fachada principal 16- fachada oeste e detalhe 17- fachadas sul, norte e corte transversal 18- cortes A-A e C-C 19esquema da estrutura Pórtico de entrada – ginásio – restaurante e lancheria – casa dos escoteiros – pórtico 02 – restaurante e lancheria + ginásio – churrascaria – instalações hidro sanitárias – casa de bandeirantes 72 Edifício APLUB 1976 M CB 73 Concurso Assembléia Legislativa 1958 M CV 74 SESC - Campestre 1956 1975 M CV 36 pranchas algumas cópias e outras originais, mais o plano piloto Acervo Fayet Araújo & Moojen - Núcleo de Projetos / Laboratório de História e Teoria da Arquitetura / FAU UniRitter Legenda: F - Fayet A - Araújo M - Moojen T - Taís V - Valentina S - Sérgio R - Rafael C - Cristina 159 160 Acervo Fayet Araújo & Moojen - Núcleo de Projetos / Laboratório de História e Teoria da Arquitetura / FAU UniRitter Legenda: F - Fayet A - Araújo M - Moojen T - Taís V - Valentina S - Sérgio R - Rafael C - Cristina ANEXO III FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Anexo III III ANEXO II I MEMÓRIAS, LEMBRANÇAS, DE JA VU E MAIS EXPLICAÇÕES Algumas lembranças e breves flashes de memória explicam muito. Nasci às 8h do dia 10 de dezembro de 1962, no hospital Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre, um dia antes do dia internacional do arquiteto e do aniversário de Oscar Niemeyer. No mesmo dia em que, quatro anos mais tarde, nasceria Ângela, filha mais nova de Fayet. Minha família – meus irmãos mais velhos, Nadia Maria (1954) e José Carlos (1956), minha mãe Maria Ivone Bianchi Marques (1934), meu pai Moacyr Moojen Marques (1930) e minha avó Vanda Paes Bianchi – morava em um apartamento alugado no Edifício Nice, um art-decó cinzento da década de 1940, na Avenida Senador Salgado Filho, no Centro da Capital. Já tínhamos a Casa de Ipanema, projetada por meu pai em 1958 e finalizada em 1960, utilizada nos finais de semana e férias de verão. Fui batizado Sergio Moacir, nome composto, como de hábito na época. Moacir igual a meu pai, porém sem o “y”, e Sergio, fui saber anos mais tarde, alusão a nomes de origem russa, como Serguei, assim como Nadia (Nadieska) e José Carlos (Joseph Stalin e Carl Marx), dada a fase juvenil de meu pai, filiado a ideias progressistas e políticas do leste europeu, temas cuja reflexão o acompanhou toda a vida. A primeira lembrança que tenho das ligações de meu pai com ideologias de esquerda é de minha mãe – junto com minhas tias avós, no período da revolução (meados de 1966) – queimando livros, no quintal da casa, que no entender dela podiam comprometer o marido em dois inquéritos 1 militares a que foi submetido . Anos mais tarde, soube pormenores do episódio e entendi com profundidade a natureza política de meu pai, assim como conheci muitas histórias dessa ordem envolvendo outras famílias de arquitetos, como do amigo Julio Artigas em fuga com o pai, Vilanova Artigas, em um Wolksvagen branco pelas estradas gaúchas em direção ao Uruguai. Naqueles anos, no entanto, sem entender com clareza o que se passava, a lembrança é de medo de algo que nos ameaçava, como minha mãe, que ao queimar material “subversivo” incinerou exemplares raros da biblioteca de arquitetura dele, como o Plano Diretor de Moscou. O apartamento em que vivíamos na Avenida Salgado Filho era espaçoso mas um tanto lúgubre, como a maioria das construções art decó cinza da área central, com muitas aberturas dando para poços de luz. Ali, antes e durante os episódios militares, entendíamos que meu pai fazia coisas importantes para a cidade. Lembro-me de, com aproximadamente quatro anos 1 O primeiro na Prefeitura Municipal de Porto Alegre (196_), da qual era funcionário, o segundo na Universidade Federal (196_), na qual era professor. Doutorado de idade, sentado embaixo da mesa da sala de jantar, assistir-lhe em uma televisão em preto-e-branco que tínhamos, com os costados pied-de-poule, falando provavelmente sobre os planos urbanísticos de modernização de Porto Alegre. Moacyr, tanto em sua ideologia política quanto em sua visão urbanística e arquitetônica, indissociáveis neste caso, sempre teve um profundo sentido humanista, impregnado de justiça social e atenção às necessidades públicas, o que oferece um paralelo ao pensamento emblematizado pelo realismo biológico de Richard Neutra e os pensadores de esquerda clássicos, como Carl Marx. Na arquitetura, sempre foi mais sensível ao organicismo, de contaminação vernacular e/ou acadêmica, como em Frank Lloyd Wright. Ao mesmo tempo, sua – e de muitos da sua geração – forte crença na técnica e na ciência como instrumentos poderosos de intervenção na realidade o levou a concentrar esforços na arquitetura e urbanismo, dando ao ofício o papel revolucionário pretendido pelas vanguardas. Essa condição conduziu-o à carreira de urbanista no funcionalismo público e, portanto, a uma vida relativamente regrada e frugal em termos econômicos e familiares. No que compete à minha memória, as lembranças das ligações de meu pai com a esquerda são, além dos inquéritos, dos episódios vinculados ao trabalho de arquitetura e dos receios coletivos com o governo militar, longas e frequentes conversas em que paciente e generosamente compartilhava suas visões e experiências, conversas que estão nas minhas mais longínquas reminiscências e que ainda hoje oportunizam valiosos e por vezes acalorados debates. As melhores lembranças de infância, no entanto, são as da Casa de Ipanema, de onde imagens luminosas povoam a memória de dias ensolarados, cheiro de vegetação e terra úmida, a água do rio, ruídos da algariação de pardais e cigarras. Para Ipanema íamos aos finais de semana e nas temporadas de verão, e moramos por lá, de 1966 a 1968, durante a construção do FAM. Quando nasci, meu pai, com trinta e dois anos de idade, junto com Fayet, Araújo e Miguel Pereira, fazia o projeto da Refinaria Alberto Pasqualini – REFAP para a Petrobras. Dessa sociedade e amizade, cultivada desde os tempos da faculdade, resultaram encontros regulares, nos finais de semana em Ipanema, quando sistematicamente apareciam, nos domingos, a família de Fayet (Fayet, Suzy, Beatriz e mais tarde Ângela) em uma Vemaguete cinza, regularmente também a família Araújo (Cláudio, Mary e mais tarde Fernando e Lúcia) em um Gordini Branco, e esporadicamente a família Pereira (Miguel, Beatriz e Tagore). A Casa de Ipanema tinha para todos aquele clima atraente de casa moderna com certo despojamento, ao mesmo tempo inclinada a trejeitos familiares da domesticidade tradicional. A arquitetura, feita à semelhança das casas construídas na Costa Oeste norte-americana no pós–guerra, encontrava- Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Sergio MMarques 161 se com elementos vernaculares do bairro suburbano de vocação balneária. Essa atmosfera, misto de vanguarda moderna com refúgio primitivo, que cativava a todos, deixou em mim um sabor difícil de descrever, mas que reencontrei em obras que conheci, já adulto, como o Parador La Solana Del Mar, de Antonio Bonet Castellano, em Portozuelo. Muitas das discussões de arquitetura entre meu pai e os amigos, misturadas com outros assuntos, em jornadas que iniciavam pela manhã e se estendiam à noite, não eram totalmente compreensíveis para nós crianças, que na verdade nos fixávamos mais na sonoridade das palavras e em uma ou outra frase inteligível. Tenho na memória mais o som e menos o significado das falas dos adultos e o quanto me fascinavam as longas conversas entremeadas por assados de carne. Também é presente a lembrança da movimentação que nós crianças provocávamos. Meu pai construiu um tanque no pátio dos fundos, de alvenaria de tijolos, revestido com reboco áspero, de aproximadamente 60 cm de profundidade, com dois metros e meio de largura, três de comprimento, e um buraco no fundo, em uma das extremidades, tampado por uma rolha de espumante. Cheio com água de mangueira, o tanque, para nós, parecia uma piscina olímpica, apesar de ralar os joelhos no fundo. Quando a água começava a esverdear, tirava-se a rolha, para substituí-la. Em um fim de semana, Ângela, a filha mais nova do Fayet, pequenina, caiu sentada no fundo e ninguém viu. Só alguns instantes mais tarde percebi e dei o alarme, quando ela já começava a azular. Foi um grande susto, mas não teve consequências. Nesse tanque circulavam também as alunas de balé da minha mãe, que dava aulas particulares em casa, em especial uma chamada Bárbara, por quem me apaixonei, junto com toda a garotada da vizinhança. Então era uma farra. Mas aprontávamos as nossas. Em uma oportunidade, eu e meu irmão, hoje também arquiteto, tiramos as hastes de madeira de fixação das lonas de assento das cadeiras espreguiçadeiras que tínhamos. Posicionamos-nos estrategicamente para ver minha mãe oferecer a cadeira para o Fayet, que foi ao solo e perdeu o fôlego. Tratamos de nos esconder, antevendo represálias, mas cruzamos com minha mãe e Mary fugindo, já que não podiam ver ninguém caindo que choravam de tanto rir. Lembro-me também de acompanhá-los nas visitas às obras da Petrobras, e tenho na memória achar bonito o azul escolhido para a pintura de algumas peças de concreto pré-moldado, que hoje sei ter sido uma cor especialmente criada, que acabou sendo denominada pelo fabricante Azul Petrobras. Depois reconheci a mesma cor em detalhes estruturais do Clube do Professor Gaúcho, cuja obra também visitava, saindo a pé da Casa de Ipanema. O Clube era fascinante de visitar, tinha uma área ajardinada enorme, na frente, com volumes de concreto, posteriormente demolidos, que articulavam a entrada, no alinhamento, com o passeio. Esses volumes, na forma de rampas, eram objetos de composição da paisagem e serviam de base para esculturas e plantas ornamentais, eram atraentes para escalar. O trabalho em equipe da Petrobras oportunizou financeira e pessoalmente a ideia das três famílias, Fayet, Araújo e Moojen, já que Miguel iria para São Paulo, morarem juntas em uma única unidade de habitação coletiva, certamente imbuídos pela amizade, mas também pelas afinidades arquitetônicas e ideológicas que tinham na arquitetura moderna um ponto de convergência. Depois de algumas cogitações, a decisão ficou entre um terreno no Bairro Moinhos de Vento e outro que Fayet já havia adquirido na Praia de Belas. Hoje entendo que a visão de cidade moderna idealizada para o aterro, nos planos de 1954 e 1979, especialmente no projeto para um bairro de duzentos mil habitantes, dos quais participaram Fayet e Moojen, com Edvaldo Paiva, e a convicção de todos pela ideologia urbanística do Movimento Moderno pesaram na decisão. Acertado o endereço, na cidade nova do aterro, o projeto de arquitetura transcorreu com absoluta tranquilidade, sendo uma oportunidade de trocas na qual o conceito de flexibilidade inicial, para que cada apartamento tivesse suas particularidades, evoluiu para esquemas gerais muito semelhantes, já que ideias individuais se transformaram em consenso. Quando morávamos permanentemente na Casa de Ipanema, durante os dois anos de construção do FAM, muitas vezes íamos, toda a família, ver as obras do edifício, quando Moacyr nos explicava detalhes do que teríamos no novo apartamento, na cozinha moderna, nos quartos, etc. Ainda assim, para mim, já com grande expectativa em relação à nova moradia de apelo moderno, a Casa de Ipanema, como casa permanente, tinha muitos atrativos: a lareira ativa no inverno, as árvores do quintal, os passeios familiares de bicicleta pelo bairro, o banho no rio ainda balneável. Quando finalmente nos mudamos, uma nostalgia daqueles bons anos de Ipanema permaneceu. Ainda retornávamos lá seguidamente, voltei para comemorar meu aniversário de seis anos. Depois, com o tempo, a casa foi ficando para trás. Os primeiros tempos no FAM foram empolgantes. O apartamento 2 reluzia. Tenho lembrança do cheiro de pintura, como de carro novo . Com o passar do tempo, no entanto, como normalmente ocorre com coisas sonhadas, 2 Logo que mudamos, tínhamos uma DKW caminhonete, azul com o teto branco e os bancos de couro vermelhos, somente mais tarde, dada a economia para a obra, trocada por um Corcel cor de mel, que não deu certo e, logo a seguir, por um Opala branco. Os Fayet também mantinham a Vemaguete cinza, depois trocada por um Ford Regente branco. O Gordini branco do Cláudio foi trocado por um Corcel I vermelho. O contraste desses automóveis com a arquitetura do edifício visto em imagens de época faz paralelo com as fotos do MES, no Rio de Janeiro, na década de 1930, com os automóveis daquele momento. 162 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Anexo III a realidade do cotidiano foi se apresentando de maneira distinta da imaginada. A vida em coletividade idealizada pelas três famílias rapidamente deu sinais de conflito, entre hábitos e modos de viver e ao longo dos anos; como era previsível, houve diversas oportunidades de aspereza e tensão. O bairro também não logrou a modernidade imaginada e sucumbiu a uma especulação imobiliária desqualificada, que dentro da morfologia urbanística planejada, idêntica ao FAM, edificou construções vizinhas com apartamentos sofríveis, de baixa qualidade construtiva e estética. Agravou ainda o fato da infraestrutura da zona, por ser aterro recente, apresentar condições precárias, com rede pluvial insuficiente que ocasionava frequentes alagamentos. A proximidade com o arroio, não canalizado na época, junto com a feira livre realizada onde hoje está construído o Tribunal de Alçada, na Av. Borges de Medeiros, gerava mau cheiro e mosquitos. A compensação estava principalmente no conforto dos novos apartamentos e a real qualidade de vida oferecida pela arquitetura moderna feita com preciosismo pelos arquitetos. A qualidade da arquitetura contrabalançou a natureza humana e a degradação do urbanismo. A vida no FAM sempre foi bem sucedida no que concerne às características espaciais e construtivas do prédio. A sala ampla e bem proporcionada para três ambientes funcionava perfeitamente para reuniões familiares, sociais, jantares e recepções, bem como para o uso diário de estar e televisão. No verão, a ventilação natural dos apartamentos, os elementos de proteção solar e a criteriosa fenestração eram extremamente eficientes para deixar o ambiente fresco e agradável. No inverno, a baixa inércia térmica das superfícies de vidro deixava a temperatura ambiente um pouco sofrível, principalmente no apartamento do Fayet e no nosso, onde nunca foram instalados os sistemas de condicionamento artificial central previstos no projeto. As modernidades da cozinha equipada com utensílios domésticos embutidos, máquinas de lavar roupas e louças, inexistentes na Casa de Ipanema, a organização linear integrada com a copa e a área dos quartos conectada com a ala social e de serviços simultaneamente, através da circulação anelar, eram confortos apreciáveis e sensíveis como uma melhora nas condições de vida familiar. Rapidamente, ainda criança percebi, entre os colegas do colégio e os vizinhos do bairro, que as características vanguardistas do edifício causavam um forte impacto entre todos. O fato de morar ali, em um primeiro momento, provocava nas pessoas reações de curiosidade pelo espaço. Em relação aos amigos do colégio Rosário, onde estudava na época, essa forte imagem de arquitetura moderna, não tão recorrente, pela quantidade de detalhes e particularidades, mas principalmente pelo salão de festas equipado com luz negra e infraestrutura para “reuniões dançantes”, era um valor apreciado. Conheci algumas namoradas, por ali, nos anos 1970. O edifício cativava colegas, vizinhos e amigos que gostavam do ambiente, e ao longo dos anos, principalmente na adolescência, as festas no salão tiveram o seu sucesso. No bairro, no entanto, o edifício criava certo estigma de diferença social e com frequência difíceis momentos de segregação e preconceito mas entre todos, o FAM aguçava a curiosidade sobre a atividade dos proprietários, e meus amigos me perguntavam do que se tratava. Como a denominação “arquiteto” ou “arquitetura” era praticamente desconhecida, eu ainda criança dizia que eles eram "desenhistas", sendo essa uma expressão que encontrava eco. Alguns, de plano, perguntavam se os moradores eram engenheiros, com o que inicialmente eu também concordava. Mais tarde entendi a diferença e corrigia, aceitando apenas a versão de "desenhista". Nesta fase em que as crianças exibiam os atributos e as vicissitudes dos pais, lembro-me de ter adquirido orgulho por ser filho de arquiteto, já que isso despertava o interesse das pessoas. Naquela época, as obras, principalmente as públicas realizadas por eles, em particular o Palácio da Justiça, o Auditório Araújo Vianna, a SMOV, os Planos Diretores e mais tarde a Câmara Municipal, geravam seguidamente notícias nos jornais. Meu pai e principalmente Fayet eram personagens de certa visibilidade pública, e Araújo gozava de grande prestígio entre a classe como ótimo arquiteto. Assim, desde cedo, enxergava com admiração a profissão, enaltecia para meus amigos as suas obras, muitas vezes exagerando e incluindo projetos que imaginava bons – como o Centro Administrativo do Estado – que não eram deles. Candidatavame a seguir a mesma carreira. Em 1968, quando mudamos para o FAM, eu tinha em torno de cinco anos de idade e, até meados de 1975, quando a adolescência bateu forte, minha vida de criança era de grande envolvimento familiar, em especial com meu pai, já que gostava de acompanhá-lo em obras ou sentar ao seu lado no escritório para desenhar, além das longas conversas. As relações sociais familiares se davam, como é tendência, predominantemente entre famílias de arquitetos. Assim, as lembranças de infância deste período, além do FAM, são recheadas de personagens e experiências ligadas à arquitetura. Beatriz, a filha mais velha de Fayet, nasceu poucos meses antes de mim. Pela proximidade de idade, fomentamos uma forte amizade de convivência frequente até meu ingresso na faculdade, assim como, mais tarde, com os demais filhos dos Fayet, Araújo e Pereira, Fernando e principalmente Tagore, Lúcia e Ângela, que também cursaram arquitetura. Mas com Beatriz dividi muitas das experiências de infância e adolescência que cruzaram com o ambiente arquitetônico em que vivíamos, e mesmo os conflitos de gerações, que estavam por vir, não aconteceram sem estarem associados à arquitetura. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 163 Com os Fayet e a amizade com Beatriz, acompanhei, além da relação diária de vizinhança no FAM, a realização das benfeitorias na pequena propriedade da família, herdada pela Suzy, na localidade da Barragem Barão do Rio Branco, no Município de São Sebastião do Caí, que com o passar dos anos foi sendo ampliada em terras e infraestrutura até transformar-se em um sítio de qualidade e dimensões expressivas. Para lá íamos seguidamente em finais de semana e férias. Fayet e Suzy sempre foram extremamente afeiçoados ao ambiente do campo, à produção de produtos para o próprio consumo, criação de animais, etc. Fayet demonstrou, em sua vida privada, uma natureza que teve amplo protagonismo em sua vida profissional, de submeter-se a desafios progressivos, superar dificuldades autoimpostas e perseguir objetivos e ideais de forma perseverante, destemida e incansável. Assim, em relação a essa propriedade, rapidamente o provimento de eletricidade, aquecimento, infraestrutura, melhoramento nos acessos, construções para trato dos animais e plantações ganharam qualidade. Chamava-me a atenção na época a convivência de objetos antigos e rústicos com artefatos modernos dos Fayet, mesmo em roupas, objetos pessoais e principalmente mobiliário. Mais tarde, compreendi melhor o traço cultural, em parte de herança germânica, de aproveitar todos os elementos sem nenhum desperdício, reciclando, reaproveitando objetos antigos e existentes, agregando melhorias. A economicidade e racionalidade acompanhadas de um empreendedorismo corajoso eram uma característica que da mesma forma levou-os a adquirir, a partir dos anos 1970, e gradativamente transformar em uma propriedade extraordinária, terras na localidade de Armação da Piedade, no Município de Governador Celso Ramos, em Santa Catarina. Na Armação, um lugar primitivo mesmo nos dias de hoje, onde tudo estava por se fazer, Fayet formou uma propriedade de aproximadamente 120 ha, com ampla frente à beira mar, em uma geografia em forma de baía que configura uma praia particular e uma ampla reserva de mata atlântica. Como na Barragem, Fayet viabilizou melhorias no acesso à área, obteve posteamento, levou eletricidade, canalizou água do morro, tratou do paisagismo na área fronteiriça ao mar, cercou a propriedade, sempre com envolvimento pessoal inabalável. Hoje a região encontra-se em franca expansão turística, com muitas propriedades providas de residências de luxo e complexos turísticos de elite. A casa dos Fayet, ampla e confortável, ainda é o resultado de diversas ampliações e reformas, feitas ao longo dos anos, na casa de madeira de pescadores, existente originalmente no terreno da primeira aquisição. A última reforma foi a ampliação de mais um quarto para o seu neto Theo, filho da Ângela com o Ney, que Fayet ajudou a construir com as mãos, um pouco antes de falecer, em 2007, no dia do aniversário do IAB. Para as casas dos Fayet fui muitas e muitas vezes acompanhando a família nas peregrinações de férias e várias aventuras fizemos nesses locais de predominante e paradisíaca natureza, principalmente na praia da Armação. Não sem ocasionalmente ressentir-me de certos hábitos e disciplina familiar, que eu por ser criança e depois adolescente, talvez sem condições de compreensão, julgava excessivamente rígidos. Fayet, como meu pai, filiado às ideias progressistas, teve diferentemente uma personalidade mais impositiva e doutrinária. Fomentava e centralizava grandes ações e candidatava-se à liderança em questões ligadas à arquitetura, ao ensino e à profissão, formulando seguidamente opiniões determinantes. Acreditava na dimensão revolucionária da arquitetura e urbanismo, preconizada por Le Corbusier, e se voluntariava, obtendo sucesso muitas vezes, com autoridade nesta causa. Com os Araújo, não tive esse tipo de experiência, já que os filhos eram bem mais novos. O convívio, no entanto, era frequente, considerando que, a partir da mudança para o FAM, meus pais se aproximaram mais dos Araújo e passaram a se frequentar com proximidade, em amizade que dura há mais de 50 anos. Assim, seguidamente fazíamos passeios familiares em finais de semana, programas de viagem, férias compartilhadas. Tenho na memória a lembrança de uma profunda curiosidade e constante interesse nas coisas dos Araújo. Desde cedo, instigava-me o que hoje reconheço como o gosto refinado, o cuidado e o zelo quase ritualístico pela qualidade em qualquer ação do Cláudio Araújo, que muito influenciou e condicionou sua arquitetura. Naqueles tempos, isso se refletia em automóveis, mobiliário e objetos pessoais, normalmente escolhidos de acordo com um senso extremamente criterioso e profundamente seletivo. Essa característica, aliada a certo despojamento em experimentar, em incursionar no novo em busca de qualidade, porém sempre com discrição e sobriedade, o faziam seguidamente proprietário de novidades e produtos de vanguarda que atiçavam o interesse de todos, inclusive das crianças. O apartamento dos Araújo no FAM é o que melhor se equipou sob o ponto de vista técnico e estético, em sintonia com a arquitetura do próprio edifício. Na época, mesmo a sensibilidade infantil já distinguia essa diferença e dotava meu gosto de ir lá por curiosidade e deslumbramento. O apartamento em que vivíamos tinha soluções de interiores extremamente criativas e bem desenhadas, sempre acompanhadas de um espírito prático e pragmático, dominante nos projetos do Moacyr, sem perder o gosto pelo refinamento do design. No entanto, sem o rigor quase obsessivo com os detalhes, como Cláudio Araújo, e mais propenso ao bricolage, do Fayet, a arquitetura de interiores de nossa casa era eclética, marcada ainda pelo espírito “democrata”, no qual todos, mas principalmente minha mãe, participavam da decoração, 164 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Anexo III tornando a coisa meio ad-hoc. O apartamento dos Araújo, ao contrário, sempre manteve íntegro o espírito moderno do edifício, com obras de arte, mobiliário e detalhes observados com rigor que, com o passar dos anos, não cederam. Araújo, dos três, foi o que mais se concentrou nas particularidades do desenho, no rigor do ofício com menos engajamento ideológico, apesar de sua simpatia pelo grupo de esquerda, desde os tempos de faculdade, quando veio do Curso de Arquitetura da Escola de Engenharia, ambiente menos politizado. Mas essencialmente, por seu temperamento, sua arquitetura depurava soluções simples, em busca de refinamento e limpeza, avesso a excessos de qualquer gênero, com exceção do rigor. Com nítida filiação miesiana e franca admiração por avanços tecnológicos e inovações de qualidade, que o tornaram sensível aos produtos alemães, Araújo distribuía sua atenção entre comunicação visual, design, arquitetura de interiores, edificações de pequena e grande envergadura e todas as escalas de trabalho onde o desenho adquirisse expressão e sofisticação, transpirando sempre visível e contagiante prazer na produção arquitetônica. Visitávamos com frequência também a casa de Luís Fernando Corona, que de todas era a de que mais gostava. Luís Fernando, o Coroninha como eles o chamavam, se casou com a Magali, a melhor amiga de adolescência de minha mãe, com quem troca longas confabulações por telefone até hoje. Os Corona tiveram dois filhos. Fernando, mais velho, mais próximo em idade de meu irmão, mais tarde cursou parte do curso de arquitetura comigo, mas o abandonou para ser músico, e Marilice que tornou-se uma artista de pintura moderna de mão cheia, ambos dando continuidade à vocação artística da família. Marilice, um pouco mais nova, era companheira de brincadeiras. A casa dos Corona, um dos belos exemplares de arquitetura moderna brasileira no sul, onde ainda vive a família, tenho na memória como um espaço amplo e luminoso, ao mesmo tempo protegido e introspectivo. Desde o ingresso, um pátio frontal, outro no corpo da casa e mais um nos fundos, todos murados, com grades superiores, davam ao espaço fluido da sala, dividida em vários ambientes desnivelados até o ateliê integrado, aquela ambiência de transparência e continuidade espacial típica das casas modernas, como as casas pátio de Mies. Por este espaço, coloquei em marcha memoráveis correrias de criança, mas tenho a vívida lembrança de, em um dos quartos, em determinado momento em que fiquei sozinho, ter a impressão de ter visto algo que durante muitos anos, julguei tratar-se de um fantasma... Com frequência, também íamos à casa do Arquiteto Leo Ferreira, colega de Moacyr na Prefeitura, que morava em um apartamento sem grandes atrativos, com exceção do macaco de estimação, criado pela filha do casal, Patrícia. Com a família Ferreira fomos algumas vezes a Atlântida, no litoral norte, em uma interessante casa moderna, projetada por Leo para parentes, com fisionomia característica das primeiras casas modernas construídas junto ao centro da praia, onde conheci o mar e cultivei uma gamação pelos olhos azuis da Patrícia até o final da minha infância, premiada por um inesquecível beijo na bochecha em um dos meus aniversários, lá pelos dez ou onze anos de idade. Com meus pais, portanto, tenho a melhor das lembranças de uma infância de convivência feliz, especialmente com meu pai com quem, como disse, tive sempre muita proximidade e conversas frequentes, muitas em resposta às minhas perguntas, que se adensavam com explicações didáticas da história, da política e da vida contemporânea, e que seguidamente entravam em questões de arquitetura e urbanismo. Tenho claro que essa interação foi uma das experiências fundamentais para minha formação. Na segunda metade dos anos 1970, no entanto, com o espírito da época e a ordem natural do crescimento, sem grandes rupturas ou conflitos irreversíveis, afastei-me desse meio familiar para outros interesses. Nesta época e até a faculdade, a música despertou e ocupou o papel central de minha atenção. Aprendi a tocar guitarra e, junto com a Beatriz Fayet, entrei de cabeça no circuito boêmio – cult do Bom Fim. No Colégio Rosário, aproximei-me dos interessados em música e nesse meio cultivei as principais amizades, que passaram por diversas formações de bandas de Rock-and-roll, Blues e mais tarde MPB. Apesar de nunca ter decolado como músico e ter demorado a perceber minha falta de talento, foram anos de dedicação. Esse foi um período de afastamento e tensionamentos, principalmente com Fayet, já que colecionávamos episódios que o desagradavam e havia atritos, principalmente quando resolvíamos tocar no FAM. Aí nem os meus pais nem os vizinhos aguentavam. Dessa fase conservo ainda amigos que foram muito próximos, como o Ralfe Peruffo, excelente guitarrista – dividimos a banda PUERA –, que hoje é músico profissional no Sargent Peppers, e o Caé Braga, baterista do PUERA que seguiu a carreira artística com esculturas bastante reconhecidas na arte gaúcha. Mas a conexão com a arquitetura não desapareceu, já que a “Meca" dessa “tribo” era o Auditório Araújo Vianna, projeto de meu pai e Fayet, onde estávamos nos shows dia sim e no outro também. O Auditório, nos anos 1970, era o principal lugar de shows musicais em Porto Alegre, junto com o Teatro Leopoldina e o Gigantinho. Mas a conexão direta com o promenade do Bom Fim, que iniciava no Bar Alaska em frente à Faculdade de Arquitetura e ia até o Clube de Cultura na Ramiro Barcelos, passando pelos Beira Mar, Lola e João, fazia do Araújo a antena de sintonia com a música jovem. Mais uma vez, entre os que tinham conhecimento de minha filiação com os autores do projeto, trazia certo status, o qual eu apreciava e valorizava. O auditório, portanto, foi uma referência em minha adolescência, ocupando o lugar central, dos espaços Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 165 urbanos de maior significado para o nosso círculo, em que pese o fato de nós do Rock-and-roll não estarmos entre os usuários preferidos dos autores. Tenho frescos na memória os shows de bandas locais no Araújo a que assistíamos no intervalo entre a peregrinação dos bares da Osvaldo Aranha. Mas mais que a música e a movimentação boêmia toda, o frescor da lembrança está na imagem da plateia, em curva até a boca de cena, com o céu estrelado das noites de verão por cima. Essa imagem me manteve árduo defensor do conceito de anfiteatro a céu aberto, mesmo depois, quando já havia compreendido o quanto era irreversível e necessária a decisão de cobri-lo, e na última etapa, quando integrei a equipe para o projeto da cobertura definitiva. Em 1979, depois de um bom tempo ligado ao mundo da música e desligado do resto, ingressei no vestibular da Ritter dos Reis, seguindo meu irmão que havia iniciado o curso na Unisinos e transferiu-se para lá. A Ritter, naquela época, era uma pequena instituição funcionando no bairro Dona Teodora, em edifícios da Universidade do Trabalho. O corpo de professores era fundamentalmente constituído por arquitetos atuantes e ligados ao IAB, como Ari Mazini Canarim, Benardo Tailtelbaum, Newton Burmeister, Antonio Mascarello e outros, da geração de meu pai ou mais jovens, bem como Charles Renné Hugaud, veterano, que com Cairo A. da Silva montou o Curso de Arquitetura. Apesar do universo relativamente provinciano da Ritter nestes tempos, as movimentações acadêmicas, os debates normalmente de alto engajamento social e o início do aprendizado de arquitetura me atingiram como um raio. Foi como se estivesse hibernando e sonhando com outros mundos, de repente acordei e estavam ali meus objetivos. Afastei-me da música e do contexto em que convivia tão rápido quanto mergulhei nas coisas da arquitetura. Com 17 anos, mais ou menos simultaneamente ao ingresso na faculdade, deixei de ir ao escritório do meu pai para pegar carona ou descolar algum subsídio, e comecei a estagiar como desenhista. Na época, a sociedade do escritório era constituída por João José Vallandro, Leo Ferreira da Silva e Marcus Heckman. Meu irmão já estava por lá, e ocupávamos três salas do quarto andar do edifício do IAB, sendo que os arquitetos ocupavam a sala maior, onde está a sala de reuniões; no meio estava a sala menor, onde ficavam normalmente o desenhista chefe e os estagiários, e estudantes na terceira sala. Todas eram amplamente interligadas entre si, por causa de uma reforma que criou um hall de entrada, espera e lavabo, que comunicava diretamente para a sala dos arquitetos, por um lado, ou para a dos desenhistas, por outro, formando uma circulação anelar no conjunto. Entrei em uma época que havia bastante trabalho, então éramos nós, Pedruka, um excelente desenhista profissional que chefiava a equipe, Carlos Hubner técnico em desenho do Parobé, uma secretária que cheirava à desodorante em bastão e mais um bando de estudantes. Aprendi a desenhar com nanquim em canetas rapidograph da Staedler e tira-linhas da Rotring; normógrafos, estordógrafos, esquadro ajustável, tecnígrafo, curva francesa, régua paralela, Gilette, benzina, graxa de sapato e borracha elétrica eram instrumentos com os quais adquiri familiaridade e destreza, não sem antes, muitos desarranjos. Meu irmão e meu pai me ensinavam, nem sempre pacientemente, e meu cabelo, ainda rebelde, seguidamente passava por cima do nanquim fresco, borrando tudo. De início, durante bom tempo (e mesmo hoje), tocavam para mim as tarefas mais aborrecidas. Normografei plantas de loteamentos insanas e fazia correções com Gilette em pranchas de papel vegetal ou osalite até a loucura. Mas com a faculdade andando rápido, desenvolvi o gosto que já tinha desde pequeno pelo desenho e, com a ajuda de meu pai, em seguida era bom em perspectivas a bico de pena ou mesmo aquarelas, que aprendi a fazer na Ritter e aperfeiçoei no escritório. Então fazia desenhos de apresentação para o escritório e depois para outros arquitetos. A fase da faculdade foi uma reviravolta para mim, com muitas mudanças, algumas delas decisivas para meu rumo profissional e pessoal. Durante a graduação, as longas conversas com meu pai retornaram, agora cada vez mais relacionadas à arquitetura e com cada vez maior reciprocidade de minha parte em compreender, refletir e debater o que era dito. Meu prestígio entre colegas e professores, pela filiação, voltou a fazer presença e, durante os primeiros anos de faculdade, creio que o aprendizado da minha geração era uma evolução natural do ensino de arquitetura moderna, praticado desde a década de 1950. A convivência com meu pai e as longas conversas, no entanto, eram um significativo diferencial. Desde cedo aprendi com ele que era importante manter hábil a capacidade de fazer projetos e não se deixar envolver por discursos que seguidamente se esgotavam em si. Na política universitária, no período final da ditadura militar, no movimento Diretas Já, na formação do Partido dos Trabalhadores no meio acadêmico, percebi os mecanismos de sobreposição de discursos políticos e teses arquitetônicas, normalmente os primeiros ocupando todo o espaço em detrimento da arquitetura, entre estudantes e professores. Este foi um aprendizado essencial: seja qual for o debate que acompanhei, durante minha formação e início de vida profissional, nunca perdi de vista a lição 166 FAYET, ARAÚJO & MOOJEN_ ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NO SUL: 1950/1970 Anexo III de que a principal ferramenta da arquitetura é o projeto, o que não exclui 3 outras . A escola, neste período, teve uma intensa e turbulenta história. Coexistia o declínio da ditadura militar, o início da democracia, com movimentos de massa como o Diretas Já. Essa efervescência adentrava a escola, misturando-se com a política acadêmica e estudantil. Houve muitos conflitos e enfrentamentos de professores entre si e com a direção, pelos quais os estudantes do meu período foram atingidos em cheio e que, de certa maneira, conduziram-me à docência na própria instituição seis meses depois de formado. Mas o mais importante foi o debate advindo do pós-modernismo e todo o movimento cultural dos anos 1980. Neste ambiente deflagrado, de muitas disputas acadêmicas, críticas recíprocas e cisões importantes no meio acadêmico, a compreensão do fenômeno era complexa, com implicações pessoais e arquitetônicas. Foi um período de grande intensidade, questionamento e depuração para a arquitetura brasileira, as gerações veteranas e o Movimento Moderno, o qual vivenciei e experimentei de muitas formas, culminando com a decisão de estudar com mais profundidade o fenômeno que me atingia, na realização de um mestrado, dez anos depois de minha graduação em arquitetura, com a carreira docente em marcha, já docente da UFRGS, sob o título “Tendências da Arquitetura Contemporânea no Rio Grande do Sul: Mudanças de Paradigmas nos anos 4 1980 ”. Deste período repleto de episódios, textos, discussões, publicações e arquiteturas, não acrescento nenhuma narrativa além das que já publiquei em meu trabalho anterior, com exceção de duas reflexões que trago hoje. Primeiramente, o entendimento de que a reação simplificada de uma tendência arquitetônica à outra, comum e talvez necessária nos processos históricos, não reflete a magnitude e a diversidade normalmente consubstanciadas em um movimento cultural. Nem eram verdade as atrocidades atribuídas ao Movimento Moderno, que estava longe de ser um movimento homogêneo, pelo pós-modernismo, nem procede a atual desqualificação do pós-modernismo como movimento fútil e descartável. Essas reduções tendem à superficialidade de análise estigmatizada que leva à reprodução de formas e não de conteúdos. Em segundo lugar, creio que foi o debate dos 1980 entre nós o principal responsável pela retomada da Arquitetura Moderna Brasileira como paradigma dominante, porém amadurecido com novos aportes forjados no período. As condições para que essa retomada se desse nasceu conjuntamente com a própria crítica ao Movimento Moderno, resistindo, como em todos os movimentos, os valores que tinham profundidade. Para mim, isso significou não uma terceira aproximação com meu pai e com os de sua geração, já que durante os 1980 não nos afastamos, ao contrário, percorremos juntos, debatendo, projetando e experimentando os ingredientes em análise, mas um reencontro de ambos com valores pessoais e arquitetônicos com os quais convivi desde a minha infância. Quando já maduro, tendo vivido na Casa de Ipanema, por 15 anos restaurada e reciclada por mim, e carreira no exercício do ofício realizada – fora alguns anos de sociedade com o Nico Rocha, no Bom Fim – em boa parte conjuntamente com meu pai, no Edifício do IAB, mais alguns projetos com Fayet e principalmente Araújo, com o qual ainda compartilhei a criação e convívio do Núcleo de Projetos na FAU UniRitter, por mais de dez anos, a ideia de estudar Arquitetura Moderna Brasileira a partir da obra de Fayet, Araújo & Moojen e o contexto sul-brasileiro, orientado por Comas, ex-colaborador e amigo de Araújo, pareceu ser um desafio promissor. Apesar das dificuldades de obter e manter o devido distanciamento acadêmico, as condições de acesso às informações, as experiências vividas, a intimidade com os personagens e principalmente com as obras, e o reencontro com a arquitetura moderna tornaram essa decisão natural. Duas experiências do período acadêmico foram ainda importantes: o estágio realizado junto à construtora Esbel na ampliação da fábrica Memphis, de Cláudio Araújo e Claúdia Frota, que oportunizaram uma vivência em obra com uso de tecnologia não usual e os sistemas construtivos de Eládio Dieste e Eugenio Montañez, e outro estágio, na Fundação Pró-Memória, que se prolongou um ano após a colação de grau, com o levantamento do Museu das Missões de Lúcio Costa, supervisionado por Luiz Bolcato Custódio, que por detalhes não desencadearam uma carreira na área do patrimônio. 4 Ver: MARQUES, Sergio Moacir. A Re visão do m ovimento moderno? Arquitetura no Rio Grande Revisão movimento do Sul dos anos 1980. Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 1999. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROPAR – FARQ / UFRGS Doutorado Sergio MMarques 167 3 Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior - PDSE - CAPES A investigação aborda a manifestação da Arquitetura Moderna Brasileira no sul do país, através do exame aprofundado de projetos, obras exemplares e pensamento representativos de Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. Araújo e Moacyr Moojen Marques, três arquitetos expressivos da geração descendente da vanguarda moderna na região. Do final dos anos 1940 até o final da década de 1960, período que abrange a estruturação da profissão, surgimento do ensino, formação da Faculdade de Arquitetura, criação do Instituto de Arquitetos do Brasil- Departamento do Rio Grande do Sul - episódios dos quais os três arquitetos tiveram certo protagonismo - introdução, disseminação e expansão da arquitetura moderna no Estado, a trajetória e principalmente a produção arquitetônica correspondente, desnuda o panorama da arquitetura moderna no sul e sua inserção no cenário amplo do Movimento Moderno. Desde visão focada na análise penetrante do projeto, objeto arquitetônico e exercício do ofício, aspectos como relações de continuidade e descontinuidade da Arquitetura Moderna Brasileira, sua particular apropriação do Movimento Moderno, propagação regional, paralelismos e contribuições nativas se confrontam com agentes próprios do fazer matizados pela conjuntura internacional, nacional e local. A investigação de manifestações de distintas colorações e circunstancias, busca de certa forma incrementar o conhecimento disciplinar disseminado, fundamentando com mais consistência a produção recorrente da arquitetura brasileira, além da referencial produzida nos tradicionais centros de irradiação, pelas lideranças ancestrais. The investigation deals with the manifestation of Brazilian Modern Architecture in the South, through the scrutiny of projects, works and throught representative examples of Carlos M. Fayet, Claudio L. G. Araujo and Moacyr Moojen Marques, three significant architects of the modern generation, descendants of the vanguard in the region. From late 1940 until the end of the 1960s, a period that covers the structuring of the profession, the emergence of education, the formation of the School of Architecture, the creation of the Institute of Architects of Brazil, Department of Rio Grande do Sul - episodes of which the three architects have had some role - the introduction, spread and expansion of modern architecture in the state, the trajectory and especially the correspondant architectural production denuded the landscape of modern architecture in the south and the integration into the broader landscape of the Modern Movement. Since a vision focused on a penetrating analysis of the project, the architectural object and trade, aspects such as relations of continuity and discontinuity of Brazilian Modern Architecture, its unique apropriation of the Modern Movement, regional spread, parallels and native contributions are faced with the agents themselves, blended by the international, national and local levels. The investigation of events and circumstances of different natures searches for a way to increase the disseminated disciplinary knowledge, more consistently fundamenting the recurring production of Brazilian architecture, in addition to the references made in the traditional centers of irradiation by the acestral leadership. Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior - PDSE - CAPES