Sobre a mediação docente nos primeiros anos do ensino fundamental: um estudo sobre a formação de conceitos em Vygotsky

Abstract

Este trabalho trata da mediação simbólica empreendida por professoras, com crianças do segundo ano1 e da quarta série2 de uma escola do Ensino Fundamental. A reflexão dessas práticas é feita à luz de pressupostos teóricos interacionistas. Foram investigadas, nas duas turmas, as formas de apresentação dos conteúdos, as tarefas cooperativas, as representações do objeto de estudo, os conhecimentos trazidos pelos alunos e a socialização do conhecimento. A pesquisa exploratória foi do tipo etnográfico com observação, entrevistas, diário de campo e o registro, num quadro de referências, de indicadores de formação de conceitos científicos, elaborados a partir dos referenciais teóricos de Vygotsky. Dos resultados obtidos, em muitas situações, as aulas observadas obedeceram a uma dinâmica de exposição oral e os conteúdos surgiram de seleção feita pelas professoras a partir de listagem combinada por classes paralelas e livros didáticos. Em outros momentos, foram desenvolvidos projetos que surgiram dos interesses demonstrados pelos alunos e trabalhados em moldes cooperativos, nos quais fizeram explorações concretas dos temas de estudo. Os resultados indicam que quando o grupo trabalhou com os projetos, os resultados foram melhor formalizados em função do tipo de envolvimento dos alunos com o objeto do conhecimento na possibilidade de relações e associações cooperativas. Quando as crianças trabalharam com princípios teóricos formais propostos pelas professoras o caminho para a formação de conceitos e generalizações se expressaram de modo mais restrito. As atividades do grupo que eram originadas em projetos da escola, com temas do cotidiano, e propostas a partir das necessidades e interesses dos alunos, revelaram maior interação e apropriação do conhecimento por parte deles. Os resultados das observações e entrevistas estão analisados principalmente a partir da mediação simbólica de Vygotsky, na qual a linguagem, os signos e símbolos verbais e não verbais compartilhados nas relações sociais medeiam o processo de aquisição de conhecimento. Em Piaget, o enfoque da epistemologia genética, enquanto operacionalidade construtivista, possibilitou a reflexão sobre a interação do sujeito com o grupo e também com o objeto do conhecimento. A presença de Bakhtin, neste trabalho, mostrou uma visão da linguagem, que ultrapassa os códigos linguísticos, pela ideologia presente nos enunciados. Esses autores e suas ideias sobre o aprendizado e o desenvolvimento complementam esse momento de pensar o fazer pedagógico no cotidiano da sala de aula.

This study is focused on the symbolic mediation undertaken by teachers in an Elementary School with children aged 7 to 8 and 10 to 16. The reflection of such practices was made in the light of interactionist theoretical assumptions. The content presentation, the cooperative tasks, the representations of the object of study, the knowledge brought by the students and the socialization of knowledge were analyzed in the two classroom groups. It was an ethnographic exploratory research with observations, interviews, field journal, and reports, within a framework of references, on indicators of scientific concept formation based on Vygotsky´s theoretical referential. From the results obtained, in many situations, the lessons observed had an oral presentation dynamics and the teacher’s content selection derived from a list that comprised parallel classes and textbooks. In other occasions, some projects were developed due to the interest demonstrated by the students and worked collectively, with a concrete exploration of the study themes. The results showed that when the group worked with projects, the results were better formalized according to the way the students were involved with the object of knowledge as to the possibility of cooperative associations and relationships. When the children worked with formal theoretical principles proposed by teachers, the way for the formation of concepts and generalizations, they were more intimidated. The group activities developed in school projects, with daily life issues, and proposals from the needs and interests of students, showed that the students had greater interaction and knowledge construction. The results of the observations and interviews were analyzed by considering Vygotsky's symbolic mediation, in which language, verbal and nonverbal signs and symbols shared in social relationships mediate the knowledge construction process. In Piaget, the focus of the genetic epistemology, as a constructivist operation, enabled the reflection on the subject's interaction with the group and also with the object of knowledge. In this study, Bakhtin´s presence provided a vision of language that goes beyond the linguistic codes due to the ideology present in statements. These authors and their ideas on learning and development complement this time of reflecting upon the teaching practice in the everyday classroom.