(Des)caminhos (im)possíveis entre paradoxo e cinismo : a discursivização sobre a terra e seus efeitos de sentido nas campanhas do agro

Abstract

Esta escrita tem como objetivo investigar, a partir dos pressupostos da Análise do Discurso Pecheutiana, o funcionamento do discurso do agro, enunciado pela Rede Globo desde meados de 2016, por meio de campanhas de publicidade institucional. O corpus foi construído a partir de recortes efetuados em diversos vídeos que compõem as duas campanhas televisivas, a saber: Agro: Indústria-Riqueza do Brasil e Agro: De gente pra gente. A pesquisa trabalha a contradição enquanto conceito que inaugura a AD e, partindo dela, traz o paradoxo como reflexo da atuação de duas formações discursivas opostas - relacionando-se, de um lado, com as práticas da agroecologia e, de outro, com as práticas do agronegócio - mas que insistem em coabitar o/no mesmo ambiente discursivo de maneira aparentemente harmônica. O trabalho apresenta tramas de sentido antagônicas que se mostram pretensamente estabilizadas e que, justamente por conta deste funcionamento naturalizado, convocam manifestações que excedem os limites do contraditório, alcançando a esfera paradoxal e, com isso, estabelecendo o que denominamos de incongruência discursiva. Memória, discurso-fundador, ideologia, inconsciente, silêncio, excesso, falta, estranhamento são algumas das noções que auxiliam na compreensão de como o significante terra pode ser (re)significado para e pelo agro, por intermédio dos recursos persuasivos da propaganda. A regularidade que as inserções televisivas buscam empreender, ultrapassando a contradição constitutiva e inaugurando o movimento paradoxal, torna-se (im)possível, (im)praticável a partir da instauração de um funcionamento inconsciente e cínico da ideologia, sendo este igualmente compreendido como um sintoma diretamente atrelado à maneira como se organizam as relações dos sujeitos na formação social capitalista neoliberal brasileira contemporânea.

Il presente scritto si propone di indagare, a partire dai presupposti dell’Analisi del Discorso di matrice pecheutiana, il funzionamento del discorso sull’agro pronunciato dalla Rede Globo a partire dalla metà del 2016, attraverso campagne di pubblicità istituzionale. Il corpus è stato costruito a partire da estratti di vari video che compongono due campagne televisive, ovvero: Agro: Indústria-Riqueza do Brasil e Agro: De gente pra gente. La ricerca lavora sulla contraddizione come concetto fondante dell’AD e, a partire da essa, ripropone il paradosso come riflesso dell’azione di due formazioni discorsive contrastanti – da un lato, connesse alle pratiche dell’agroecologia e, dall’altro, alle pratiche dell’agrobusiness – che tuttavia insistono nel coabitare apparentemente in modo armonico lo stesso ambiente discorsivo. Il lavoro mette in luce trame di senso antitetiche che si presentano come stabilizzate, le quali, proprio in virtù di tale funzionamento naturalizzato, convocano manifestazioni che oltrepassano i limiti del contraddittorio, raggiungendo la sfera del paradossale e configurando così ciò che denominiamo incongruenza discorsiva. Memoria, discorso fondante, ideologia, inconscio, silenzio, eccesso, mancanza, straniamento sono alcune delle nozioni che aiutano a comprendere come il significante terra possa essere (ri)significato per e attraverso l’agro, mediante le risorse persuasive della propaganda. La regolarità che le inserzioni televisive cercano di instaurare, oltrepassando la contraddizione costitutiva e inaugurando il movimento paradossale, si rivela (im)possibile, (im)praticabile a partire dall’instaurarsi di un funzionamento ideologico inconscio e cinico, inteso anch’esso come sintomo direttamente legato alla maniera in cui si organizzano le relazioni tra i soggetti nella formazione sociale capitalista neoliberale brasiliana contemporanea.

Cet écrit vise à enquêter, à partir des principes de l'analyse du discours de Pêcheux, le fonctionnement du discours agricole diffusé par Rede Globo depuis mi-2016 à travers des campagnes publicitaires institutionnelles. Le corpus a été constitué à partir d'extraits de plusieurs vidéos composant les deux campagnes télévisées, à savoir : Agro : Indústria-Riqueza do Brasil (Agro : l'industrie, richesse du Brésil) et Agro : De gente pra gente (Agro : de personne à personne). La recherche travaille sur la contradiction en tant que concept qui inaugure l'AD et, à partir de là, présente le paradoxe comme le reflet de l'action de deux formations discursives opposées - liées, d'une part, aux pratiques de l'agroécologie et, d'autre part, aux pratiques de l'agro-industrie - mais qui insistent pour cohabiter dans/le même environnement discursif de manière apparemment harmonieuse. Le travail présente des trames de sens antagonistes qui semblent stabilisées et qui, précisément en raison de ce fonctionnement naturalisé, suscitent des manifestations qui dépassent les limites du contradictoire, atteignant la sphère paradoxale et établissant ainsi ce que nous appelons l'incongruité discursive. Mémoire, discours fondateur, idéologie, inconscient, silence, excès, manque, étrangeté sont quelques-unes des notions qui aident à comprendre comment le signifiant terre peut être (re)signifié pour et par l'agro, à travers les ressources persuasives de la publicité. La régularité que les insertions télévisées cherchent à entreprendre, dépassant la contradiction constitutive et inaugurant le mouvement paradoxal, devient (im)possible, (im)praticable à partir de la mise en place d'un fonctionnement inconscient et cynique de l'idéologie, celui-ci étant également compris comme un symptôme directement lié à la manière dont s'organisent les relations des sujets dans la formation sociale capitaliste néolibérale brésilienne contemporaine.