Efeito da combinação de cinesioterapia e N-acetilcisteína no manejo de dor e inabilidades funcionais relacionadas à dor e variáveis hematológicas em pacientes com dor lombar

Abstract

A dor lombar (DL) é um dos principais contribuintes para inabilidades funcionais em todo o mundo. A cinesioterapia, uma ferramenta da fisioterapia têm se mostrado promissora na redução da DL. A N-acetilcisteína (NAC), uma molécula com ações complexas, dentre elas ação analgésica, também parece reduzir DL, embora esse efeito esteja em discussão. Nosso estudo teve como objetivo mostrar o estado da arte sobre a analgesia induzida pela NAC em humanos com dor lombar e em modelos experimentais de dor lombar, assim como avaliar os efeitos da combinação de cinesioterapia e NAC sobre dor e inabilidades funcionais em pacientes com dor lombar, avaliando paralelamente variáveis hematológicas do hemograma. Como controle do tratamento se determinou a atividade de biomarcadores de estresse oxidativo (valores de hidroperóxidos lipídicos, capacidade antioxidante total e teor de tióis totais) e indicadores de função hepática (alanina aminotransferase e aspartato aminotransferase) e renal (creatinina). Para isso, inicialmente se revisou a literatura para mostrar o estado da arte sobre os efeitos da NAC sobre DL, considerando estudos clínicos e pré-clínicos, mediante pesquisa nas bases de dados Pubmed/MEDLINE, Embase, Scopus, Science Direct, Web of Science, Cinahl e Lilacs. A lista de verificação PRISMA-ScR foi utilizada para garantir a integridade da revisão, cujo protocolo de revisão de escopo foi registrado no Open Science Framework. Não se estabeleceu limite para data de publicação e idioma. Paralelamente foram selecionados 18 pacientes adultos com DL, alocados nos grupos experimentais cinesioterapia mais placebo (n= 9) e cinesioterapia mais NAC (n= 9), na dose de 200 mg (1 cápsula/dia durante 8 semanas). A dor foi avaliada semanalmente pela Escala Visual Analógica (EVA). O Questionário de Incapacidade de Roland-Morris (RMDQ), o Índice de Incapacidade de Oswestry (ODI) e o Teste Timed Up and Go (TUGT) foram aplicados antes do início dos tratamentos e na 8ª semana, períodos em que também foram colhidas amostras de sangue para a realização do hemograma completo e coleta do plasma a ser usado nas avaliações bioquímicas. A pesquisa na base de dados resultou em 2057 artigos, sendo 16 incluídos na revisão de escopo. Embora esse número tenha sido pequeno, todos os estudos relataram potencial da NAC para manejo de DL. Assim, necessita-se realizar mais estudos clínicos e pré-clínicos antes que a NAC possa ser recomendada clinicamente para tratamento de DL. O estudo experimental mostrou que cinesioterapia e a combinação cinesioterapia mais NAC reduziu significativamente os escores da EVA na semana 8, mas apenas a combinação mostrou esse efeito a partir da semana 6. A queda nos escores do RMDQ e ODI foi similar entre os dois grupos experimentais. O TUGT e as variáveis medidas no sangue não exibiram mudanças significativas nesses grupos. Apesar do tamanho amostral pequeno, que elevou o risco de erro do tipo II (falso negativo), nossos dados apontam para maior efeito temporal benéfico da combinação cinesioterapia mais NAC no manejo de DL. Porém, pesquisas futuras devem validar e reforçar nossos dados para esclarecer se a NAC poderá ser uma opção de adjunto à cinesioterapia no manejo de DL.

Low back pain (LBP) is a leading contributor to functional disabilities worldwide. Kinesiotherapy, a physiotherapy tool, has shown promise in reducing LBP. N-acetylcysteine (NAC), a molecule with complex actions, including an analgesic effect, also appears to reduce LBP, but this effect remains under discussion. Our study aimed to present the state of the art regarding NAC-induced analgesia in humans with low back pain and in experimental models of low back pain, as well as to evaluate the effects of the combination of kinesiotherapy and NAC on pain and functional disabilities in patients with low back pain, while also assessing hematological variables from the complete blood count. As a control for the treatment, the activity of oxidative stress biomarkers (levels of lipid hydroperoxides, total antioxidant capacity, and total thiol content) and indicators of liver function (alanine aminotransferase and aspartate aminotransferase) and renal function (creatinine) were determined. To this end, we initially reviewed the literature to show the state of the art regarding the effects of NAC on LBP, considering clinical and pre-clinical studies, through research in the Pubmed/MEDLINE, Embase, Scopus, Science Direct, Web of Science, Cinahl, and Lilacs databases. The PRISMA-ScR checklist was used to ensure the integrity of the review, whose scoping review protocol was registered in the Open Science Framework. No limits were set for publication date or language. Concurrently, 18 adult patients with LBP were selected and allocated into the experimental groups: kinesiotherapy plus placebo (n=9) and kinesiotherapy plus NAC (n=9), at a dose of 200 mg (1 capsule/day) for 8 weeks. Pain was assessed weekly using the Visual Analog Scale (VAS). The Roland-Morris Disability Questionnaire (RMDQ), the Oswestry Disability Index (ODI), and the Timed Up and Go Test (TUGT) were applied before the start of treatments and at the 8th week, periods in which blood samples were also collected for a complete blood count and plasma collection to be used in biochemical assessments. The database search resulted in 2057 articles, of which only 16 were included in the scoping review. All studies reported the potential of NAC for managing LBP, but the number of studies was small. Therefore, the conclusion of the scoping review was that there is still much to learn, and more clinical and pre-clinical studies should be conducted before NAC can be clinically recommended for LBP treatment. The experimental study, in turn, showed that the kinesiotherapy plus NAC combination led to a greater temporal reduction in VAS scores, but the decrease in RMDQ and ODI scores was similar to that in the kinesiotherapy plus placebo group. No significant changes occurred in the TUGT and the blood variables measured in the two experimental groups. Despite the small sample size, which increased the risk of type II error (false negative), our data point to a beneficial temporal effect of the kinesiotherapy plus NAC combination in managing LBP. However, future research must validate and reinforce our data to clarify whether NAC can be an adjunct option to kinesiotherapy in the management of LBP.