Contribuições para as dissonâncias do mundo : um ensaio sobre trapaças

Abstract

Esta tese toma a noção de trapaça enquanto campo de disputas discursivas, problematizando gestos que burlam leis, regras e normas sociais, e ações que contornam estruturas violentas como o racismo, o machismo, o classismo e a intolerância religiosa. Tratada enquanto invenção de possíveis, a trapaça deste ensaio é o avesso do que está no dicionário. Tem como intenção investigar esse gesto que emerge na relação do sujeito com o mundo. Para tanto, a escrita assume uma forma caleidoscópica, fazendo com que seu objeto – a trapaça – sofra variações na medida em que se repete no encontro com teorias pós-estruturalistas, contratualistas e decoloniais. Utiliza a metodologia nãometódica do ensaio, apostando na visibilização dos caminhos do pensamento. Assim, considera a trapaça como objeto e a experimentação do pensamento enquanto campo. Não há intenção de chegar a uma verdade ou a resultados totalizantes, pois acredita-se que a “terra firme” é uma miragem colonial. Desse modo, conceitos como desobediência civil, contrato social, simulacro e poética da relação, e figuras como o malandro, o perverso e o Curupira, são colocados em relação com a trapaça. Diante dessas redes, percebe-se como a trapaça possui tonalidades específicas no Brasil, participando dos emaranhados que sustentam esse país. Assim, a trapaça é destacada como um dos modos de se jogar com o poder, fazendo das brechas e incoerências do sistema espaço de criação inventiva.

This thesis takes the notion of trapaça as a field of discursive disputes, problematizing gestures that circumvent laws, rules and social norms, and also actions that circumvent violent structures such as racism, machismo, classism and religious intolerance. Treated as an invention of possibilities, the trapaça in this essay is the opposite of what is in the dictionary. The intention here is to investigate this gesture that emerges in the subject's relationship with/to the world. To this end, the writing takes on a kaleidoscopic form, making its object – trapaça – to undergo variations as it is repeated in the encounter with post-structuralist, contractualist and decolonial theories. It uses the non-methodical methodology of essay, focusing on visualizing the paths of thinking. Thus, it considers trapaça as an object, and thought experimentation as a field. There is no intention of reaching a truth or totalizing results, as it is believed that the “terra firme - continent” is a colonial mirage. In this way, concepts such as civil and non-civil disobedience, social contract, simulacrum and poetics of relationship, and figures such as the trickster, the perverse and Curupira, are invited to relate to the trapaça. Given these networks, it becomes clear how trapaça carries specific nuances in Brazil, entangling itself with the threads that sustain this country. Thus, trapaça is highlighted as one of the ways to engage with power, turning the system's loopholes and inconsistencies into spaces for inventive creation.