Do sentimento ao conhecimento de si : o desafio do sujeito na Ética de Espinosa

Abstract

Este estudo examina a Ética de Espinosa com o objetivo de delimitar uma concepção propriamente espinosista de subjetividade. Como resultado, é obtida uma noção polissêmica de sujeito, estruturada em três dimensões fundamentais: epistêmica, antropológica e ética. Na dimensão (1) epistêmica, argumenta-se que a perspectiva em primeira pessoa desempenha um papel para a constituição do conhecimento objetivo, em contraposição a interpretações que negam a relevância da consciência em Espinosa. Na dimensão (2) antropológica, a pesquisa explora a unidade corpo-alma enquanto sujeito de variações afetivas, apontando como suas leis e propriedades permitem identificar e superar preconceitos que condicionam a existência humana. Já na dimensão (3) ética, a tese mostra como o conhecimento de si se traduz em uma experiência de liberdade, associando o progresso moral ao reconhecimento das condições que definem a existência humana. Por meio dessa análise, defende-se que a Ética, ao supor uma participação ativa do leitor na realização das teses defendidas, não se restringe a descrições formais e impessoais em terceira pessoa, mas engaja o leitor em uma experiência transformadora, o que permite uma reformulação de sua perspectiva enquanto sujeito. Nesse sentido, o projeto ético espinosista é apresentado como um exercício prático – um processo de formação do leitor – que envolve tanto o autoconhecimento quanto a vivência da liberdade.

Cette étude examine l'Éthique de Spinoza dans le but d’élucider une conception proprement spinoziste de la subjectivité. Il en ressort une notion polysémique du sujet, structurée autour de trois dimensions fondamentales : épistémique, anthropologique et éthique. Dans la dimension (1) épistémique, il est soutenu que la perspective à la première personne joue un rôle central dans la constitution de la connaissance objective, en opposition aux interprétations qui minimisent ou nient la pertinence de la conscience chez Spinoza. Dans la dimension (2) anthropologique, la recherche explore l’unité du corps et de l’esprit en tant que sujet des variations affectives, en mettant en lumière comment les lois et propriétés qui régissent cette unité permettent d’identifier et de surmonter les préjugés conditionnant l’existence humaine. Enfin, dans la dimension (3) éthique, la thèse démontre que la connaissance de soi se manifeste comme une expérience de liberté, où le progrès moral repose sur la reconnaissance des conditions affectives et rationnelles qui façonnent l’existence humaine. À travers cette analyse, il est affirmé que l’Ethique, loin de se réduire à des descriptions formelles et impersonnelles à la troisième personne, exige une participation active du lecteur à la réalisation des thèses qu’elle défend. Cette participation engage le lecteur dans une expérience transformatrice, réorientant sa perspective en tant que sujet. En ce sens, le projet éthique spinoziste est présenté comme un exercice pratique – un processus formatif pour le lecteur – combinant la connaissance de soi et l’expérience vécue de la liberté.

This study examines Spinoza’s Ethics to identify a distinctively spinozist conception of subjectivity. The analysis reveals a polysemic notion of the subject, structured along three key dimensions: epistemic, anthropological, and ethical. In the (1) epistemic dimension, it is argued that the first-person perspective plays a pivotal role in the constitution of objective knowledge, challenging interpretations that dismiss the relevance of consciousness in Spinoza’s thought. In the (2) anthropological dimension, the research investigates the mind-body unity as the locus of affective variations, demonstrating how its intrinsic laws and properties enable the identification and overcoming of prejudices that shape human existence. Finally, in the (3) ethical dimension, the thesis elucidates how self-knowledge culminates in an experience of freedom, linking moral progress to the recognition of the conditions that determine human existence. This analysis contends that Spinoza’s Ethics, by requiring the reader’s active engagement in the realization of its theses, transcends mere formal and impersonal third-person descriptions. Instead, it invites the reader into a transformative process, fostering a reformulation of their perspective as a subject. In this light, the Spinozist ethical project is portrayed as a practical endeavor – a formative process for the reader –, integrating both self-knowledge and the lived experience of freedom.