"Eu fui parando de ir" : temporalidades, (des)interesses e evasão escolar juvenil

Abstract

Apesar dos importantes avanços na expansão da escolarização brasileira, a evasão escolar ainda é uma realidade vivenciada por uma parcela significativa dos jovens brasileiros. De acordo com dados da PNADc (IBGE, 2024), cerca de 9 milhões de jovens não estavam estudando e não haviam concluído a educação básica no país em 2023. Os principais apontados para a ruptura das trajetórias escolares foram a necessidade de trabalhar e o desinteresse, além da gravidez no caso das jovens do sexo feminino. Contudo, poucas pesquisas qualitativas foram realizadas com jovens que vivenciaram o fenômeno da evasão escolar no sentido de compreender como a evasão e o abandono se apresentaram ao longo de sua trajetória. Sendo assim, o objetivo central desta pesquisa é compreender como os jovens de origem popular vivenciaram o processo de afastamento da escola ao longo do tempo, identificando aspectos de quadros de vida (Pais,2000) que podem ter contribuído para a contínua desancorarem da instituição escolar (Peregrino; Prata; Souza, 2024). Para tanto, foram realizadas entrevistas narrativas com seis jovens que estavam ou estiveram em situação de evasão escolar. Adicionalmente, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com quatro profissionais de políticas públicas para as juventudes que atuam cotidianamente no atendimento de jovens com trajetórias escolares não-lineares. A realização da pesquisa evidenciou múltiplos elementos que contribuíram, em maior ou menor medida, para uma desvinculação gradual com a escola. Esses elementos podem ser agrupados em três grandes grupos: a) os desafios para a conciliação de tempo para o estudo com outros tempos nas vivências cotidianas; b) o processo de produção do desinteresse em estudar a partir da exposição a situações de vulnerabilidade e de movimentos de exclusão por parte da escola; e c) as mudanças nas temporalidades contemporâneas e seus impactos para a construção de projetos de futuro.

Despite significant advances in expanding school enrollment in Brazil, school dropout is still a reality experienced by a significant portion of young Brazilians. According to data from PNADc (IBGE, 2024), approximately 9 million young people were not studying and had not completed basic education in the country in 2023. The main factors that led to the disruption of school trajectories were the need to work and lack of interest, in addition to pregnancy in the case of young women. However, few qualitative studies have been conducted with young people who experienced the phenomenon of school dropout in order to understand how dropout and abandonment occurred throughout their trajectory. Therefore, the main objective of this research is to understand how young people from working-class backgrounds experienced the process of leaving school over time, identifying aspects of life situations (Pais, 2000) that may have contributed to their continued disengagement from the school institution (Peregrino; Prata; Souza, 2024). To this end, narrative interviews were conducted with six young people who were or had been in a situation of school dropout. Additionally, semi-structured interviews were conducted with four public policy professionals for youth who work daily with young people with non-linear school trajectories. The research revealed multiple elements that contributed, to a greater or lesser extent, to a gradual disengagement from school. These elements can be grouped into three large groups: a) the challenges of reconciling time for study with other times in daily experiences; b) the process of producing disinterest in studying based on exposure to situations of vulnerability and exclusionary movements by the school; and c) changes in contemporary temporalities and their impacts on the construction of future projects.