Quando começar a comer importa : associação entre o tempo de introdução da alimentação complementar e indicadores de saúde em crianças internadas

Abstract

A alimentação complementar (AC) é uma etapa essencial do desenvolvimento infantil, sendo recomendada de forma exclusiva até os seis meses e iniciada de maneira adequada a partir dessa idade. No entanto, sua introdução fora do tempo oportuno pode estar relacionada a desfechos clínicos e nutricionais adversos, especialmente em populações pediátricas hospitalizadas. O objetivo foi investigar a associação do tempo de introdução da AC com variáveis clínicas/nutricionais, bem como a presença ou risco de dificuldades alimentares pediátricas (DAPs). Trata-se de um estudo transversal, realizado com crianças internadas em um hospital público da região Sul do Brasil, com idade entre 0 a 13 anos e 11 meses, no período de março de 2023 a abril de 2025. Foram analisadas variáveis como a via de alimentação usual, uso de sonda em algum momento da vida, histórico de hospitalizações prévias e a presença de DAPs, utilizando-se instrumentos validados como a Escala Brasileira de Avaliação das Dificuldades Alimentares (EBAI). Para crianças com via oral insuficiente, foram utilizados os escores da escala funcional para avaliação da deglutição, a American Speech-Language-Hearing Association National Outcome Measurement System (ASHA NOMS). O tempo de introdução da AC foi classificado como precoce (antes dos 6 meses), oportuno (aos 6 meses) e tardio (após os 6 meses). Foram avaliadas 380 crianças, sendo 183 (48,2%) com AC em tempo oportuno, enquanto 124 (32,6%) AC tardia e 73 (19,2%) AC precoce. Observou-se maior frequência do uso de via alternativa exclusiva (15,3%) e maior número de hospitalizações prévias (35,5%) no grupo com introdução tardia. Além disso, 46,0% das crianças deste grupo apresentaram DAPs, com associação estatisticamente significativa (p<0,001). Os achados reforçam a importância da introdução da AC em tempo oportuno e evidenciam a associação da introdução tardia com desfechos clínicos e nutricionais relevantes. Tais dados destacam a necessidade de políticas públicas e ações multiprofissionais que incentivem práticas alimentares adequadas desde os primeiros anos de vida.

Complementary feeding (CF) is an essential stage in child development, recommended to begin at six months of age while exclusive breastfeeding is maintained up to this point. However, its untimely introduction may be associated with adverse clinical and nutritional outcomes, especially in hospitalized pediatric populations. This study aimed to investigate the association between the timing of complementary feeding introduction and clinical/nutritional variables, as well as the presence or risk of pediatric feeding difficulties (PFDs). This is a cross-sectional study conducted with children hospitalized in a public hospital in southern Brazil, aged from 0 to 13 years and 11 months, between March 2023 and April 2025. Variables analyzed included usual feeding route, use of feeding tubes at any point in life, history of previous hospitalizations, and the presence of PFDs, using validated instruments such as the Brazilian Pediatric Feeding Assessment Scale (EBAI). For children with insufficient oral intake, the American Speech-Language-Hearing Association National Outcome Measurement System (ASHA NOMS) was applied. The timing of complementary feeding was classified as early (before 6 months), timely (at 6 months), or late (after 6 months). A total of 380 children were evaluated, of which 183 (48.2%) had timely complementary feeding, 124 (32.6%) had late introduction, and 73 (19.2%) early introduction. A higher frequency of exclusive alternative feeding routes (15.3%) and a greater number of previous hospitalizations (35.5%) were observed in the late introduction group. Additionally, 46.0% of children in this group presented PFDs, with statistically significant association (p<0.001). These findings highlight the importance of timely complementary feeding and demonstrate the association between late introduction and relevant clinical and nutritional outcomes. The data reinforce the need for public policies and multidisciplinary actions that promote healthy eating practices from early childhood.