Um Museu inacabado : tramas e disputas em torno do Museu Municipal de Caxias do Sul, RS (1947-1990).

Abstract

Esta investigação objetiva elaborar uma narrativa histórica e museológica do Museu Municipal de Caxias de Sul/RS. Constata-se, a partir de uma perspectiva decolonial que problematiza como foi privilegiado um grupo social imigrante e seu imaginário nas narrativas expográficas, o silenciamento ante a presença de outros tantos grupos sociais existentes na cidade. O estudo ampara-se nos pressupostos teóricos e metodológicos da operação historiográfica, tal qual proposto por Michel de Certeau, e vale-se do uso de documentos diversos, com destaque para os registros administrativos, jornalísticos e para o catálogo alusivo à exposição de longa duração do Museu, composta por 12 blocos expositivos, onde são enaltecidos valores e práticas vinculadas exclusivamente ao imigrante italiano. O primeiro capítulo apresenta o processo histórico e museológico que permeou a criação do Museu Municipal de Caxias do Sul, em 1947, até a sua reconfiguração como um espaço valorativo da colonialidade imigrante, em 1975. O segundo capítulo se dedica a analisar o comprometimento dos primeiros gestores do museu com a preservação do patrimônio da cidade de Caxias do Sul que estivesse vinculado à imigração italiana. Para tal, potencializam a perspectiva colonial do Museu em diálogo com o patrimônio urbano a ser preservado ou enaltecido. O terceiro capítulo demonstra como a exposição de longa duração do Museu mostra-se fundamental para que tal representação colonial pudesse efetivamente se constituir. Estas condições fazem com que o Museu Municipal de Caxias do Sul seja um espaço tomado de desafios e possibilidades de múltiplas ordens, tanto para a sociedade local quanto para o próprio poder público do município, responsável pela sua administração.

This research aims to develop a historical and museological narrative of the Municipal Museum of Caxias de Sul/RS. From a decolonial perspective, it problematizes how an immigrant social group and its imaginary have been privileged in expographic narratives, while silencing the presence of so many other social groups in the city. The study is based on the theoretical and methodological assumptions of the historiographical operation, as proposed by Michel de Certeau, and makes use of various documents, especially administrative and journalistic records and the catalog of the Museum's long-term exhibition, made up of 12 exhibition blocks, where values and practices linked exclusively to the Italian immigrant are praised. The first chapter presents the historical and museological process that permeated the creation of the Municipal Museum of Caxias do Sul, in 1947, until its reconfiguration as a space valuing immigrant coloniality, in 1975. The second chapter is dedicated to analyzing the commitment of the museum's first managers to preserving the heritage of the city of Caxias do Sul that was linked to Italian immigration. To this end, they highlight the Museum's colonial perspective in dialogue with the urban heritage to be preserved or praised. The third chapter demonstrates how the Museum's long-term exhibition is fundamental for this colonial representation to be effectively constituted. These conditions make the Caxias do Sul Municipal Museum a space full of challenges and possibilities of multiple orders, both for local society and for the municipality's own public authorities, which are responsible for its administration.