Práticas vivas : uma pesquisa narrativa sobre saberes manuais e o uso de objetos vividos na produção artística de mulheres

Abstract

O presente trabalho nasceu do desejo de valorizar pessoas em situações semelhantes à de minha mãe, alguém que, apesar de não ter tido acesso à educação formal, foi quem mais me incentivou a estudar. Essa contradição me mobilizou a investigar referências não acadêmicas e saberes construídos por mulheres que, mesmo em contextos adversos, mantiveram vivas práticas e saberes manuais e artísticos. Assim, a pesquisa propôs-se a investigar as diferentes forças que inspiraram meu processo de formação docente e a criação artística realizadas ao longo do curso de Licenciatura em Artes Visuais. Compreendi, ao longo do desenvolvimento da pesquisa, que garimpar sempre esteve presente no meu fazer artístico, e reconheci a importância desse gesto como parte constituinte do meu processo criativo. Dessa forma, apresento as séries de trabalhos que envolvem o uso de objetos garimpados em antiquários, feiras e brechós, denominados aqui como objetos vividos. A partir de um estudo narrativo, e tomando noções da abordagem metodológica da autobiogeografia, esta produção se fundamentou no diálogo com três mulheres artistas que, embora não inseridas no circuito institucional da arte, são reconhecidas como produtoras de saberes e práticas artísticas, constituindo referências fundamentais para a construção do meu próprio processo criativo e do meu pensar em e sobre educação. A pesquisa se nutriu das conversas e trocas com essas mulheres, buscando compreender as técnicas, habilidades e práticas artísticas que foram desenvolvidas fora dos ambientes acadêmicos. Tais saberes, transmitidos entre gerações, mantêm vivas práticas manuais e expressões artísticas. Destacam-se as contribuições teóricas de Leda Maria Martins, ao propor o conceito de oralitura para evidenciar a potência da oralidade e da performance na preservação desses conhecimentos, e de bell hooks, ao refletir sobre a legitimidade das práticas artísticas de mulheres. Assim, o trabalho reconhece e valoriza essas mulheres enquanto artistas, compreendendo a relevância de seus saberes e trajetórias para a arte, para a educação e para a sociedade.