O Complexo Piratini em Camaquã e Porto Alegre, Cinturão Dom Feliciano : aspectos de campo, petrografia e química mineral

Abstract

O Escudo Sul-rio-grandense se localiza na parte sul da Plataforma Sul-Americana e abrange uma área de aproximadamente 65.000 km2. O Terreno Pelotas encontra-se na porção leste do escudo, onde predominam rochas plutônicas neoproterozoicas e mais restritamente rochas metamórficas e sedimentares. O embasamento do Terreno Pelotas é constituído por xenólitos de metagabros paleoproterozoicos (2.1 Ga), e ortognaisses tonianos (780 Ma), denominado de Complexo Piratini. Desse complexo, diversas ocorrências como corpos menores, xenólitos métricos e centímetros em geral, são descritos na literatura na região de Pelotas, Piratini, Camaquã e Porto Alegre, RS. O presente estudo tem como objetivo estudar as ocorrências dessas rochas em seus aspectos de campo, petrográficos e de química mineral, que são importantes para entendimento da evolução crustal do Terreno Pelotas. Em trabalho de campo verificou-se que a ocorrência de xenólitos na região de Camaquã é muito escassa, mas uma nova ocorrência foi identificada. Em todos os casos os xenólitos são pequenos (centimétricos a decimétricos), arredondados e esparsos, com composição diorítica a tonalítica e bandamento marcado por alternância de níveis máficos e félsicos. O Complexo Piratini tem como hospedeiros os granitos da Suíte Cerro Grande e Suíte Viamão, respectivamente em Camaquã e Porto Alegre. Ainda, nessas suítes ocorrem enclaves máficos microgranulares de composição tonalítico e diorítica. As rochas do Complexo Piratini são classificadas como gnaisses tonalíticos e metagranitos com composições variando de tonalito a diorito. Os plagioclásios apresentam texturas ígneas reliquiares (porfiroclastos), sugerindo a natureza plutônica do protólito, e cristais na matriz, esses com teor de An30-47, subordinadamente albita nas bordas. No presente estudo, as ocorrências dos gnaisses e metagranitos do Complexo Piratini, com dominância de termos granodioríticos e tonalíticos, sugerem uma origem ortoderivada, com similaridade composicional, textural e de grau metamórfico, entre as ocorrências da região de Camaquã e de Porto Alegre. Porém, o padrão de ocorrência nas duas regiões é distinto, com xenólitos centimétricos em Camaquã, e corpos métricos a km na região de Porto Alegre, sugerindo níveis crustais distintos de exposição nas duas regiões, mais profunda em Camaquã, e porções de roof pendant na região de Porto Alegre. Assim, as rochas do Complexo Piratini registram o magmatismo toniano associado à Orogenia Piratini no Cinturão Dom Feliciano.

The Southern Rio Grande Shield is located in the southern part of the South American Platform and covers an area of approximately 65,000 km². The Pelotas Terrain lies in the eastern portion of the shield, where Neoproterozoic plutonic rocks predominate, along with more restricted occurrences of metamorphic and sedimentary rocks. The basement of the Pelotas Terrain consists of xenoliths of Paleoproterozoic metagabbros (2.1 Ga) and Tonian orthogneisses (780 Ma), referred to as the Piratini Complex. Several occurrences of this complex, such as smaller bodies, metric and centimeter scale xenoliths, are described in the literature in the regions of Pelotas, Piratini, Camaquã, and Porto Alegre, RS. The present study aims to examine the occurrences of these rocks in terms of field characteristics, petrography, and mineral chemistry, which are important for understanding the crustal evolution of the Pelotas Terrain. Fieldwork revealed that xenolith occurrences in the Camaquã region are very scarce, but a new occurrence was identified. n all cases, the xenoliths are small (centimeter to decimeter scale), rounded, and sparse, with dioritic to tonalitic composition and banding marked by the alternation of mafic and felsic layers. The Piratini Complex is hosted by the granites of the Cerro Grande Suite and the Viamão Suite, in Camaquã and Porto Alegre, respectively. Mafic microgranular enclaves with tonalitic and dioritic composition also occur in these suites. The rocks of the Piratini Complex are classified as tonalitic gneisses and metagranites, with compositions ranging from tonalite to diorite. The plagioclases exhibit relict igneous textures (porphyroclasts), suggesting the plutonic nature of the protolith, and crystals in the matrix, with An30–47 content, and subordinate albite at the rims. In this study, the occurrences of gneisses and metagranites from the Piratini Complex, with dominant granodioritic and tonalitic terms, suggest an orthoderived origin, with compositional, textural, and metamorphic grade similarities between the occurrences in the Camaquã and Porto Alegre regions. However, the occurrence patterns in the two regions are distinct: centimeter-scale xenoliths in Camaquã, and metric to kilometer-scale bodies in the Porto Alegre region, suggesting different crustal exposure levels deeper in Camaquã, and roof pendant portions in the Porto Alegre region. Thus, the rocks of the Piratini Complex record Tonian magmatism associated with the Piratini Orogeny in the Dom Feliciano Belt.