Leishmaniose visceral canina e seu impacto na saúde pública : desafios no controle e tratamento

Abstract

A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma zoonose de grande relevância em saúde pública, com impacto significativo tanto na medicina veterinária quanto na medicina humana. Causada pelo protozoário Leishmania infantum e transmitida por flebotomíneos do gênero Lutzomyia, a doença apresenta ampla distribuição geográfica e crescente urbanização, principalmente no Brasil, que concentra a maioria dos casos registrados nas Américas. O cão doméstico é considerado o principal reservatório em áreas urbanas, contribuindo para a manutenção do ciclo de transmissão. Este estudo teve como objetivo revisar os principais aspectos relacionados ao agente etiológico, vetores, hospedeiros, formas clínicas, diagnóstico, tratamento e medidas de prevenção e controle da LVC, além de discutir os desafios enfrentados pelas políticas públicas no combate à doença, com ênfase na realidade do estado do Rio Grande do Sul. A revisão de literatura aborda desde a biologia do parasita até as complexas interações entre os diferentes hospedeiros e vetores envolvidos na transmissão. São discutidos os métodos diagnósticos disponíveis, com destaque para as técnicas sorológicas e moleculares, suas limitações e reações cruzadas. O tratamento canino, ainda restrito, apresenta desafios como o custo elevado e a baixa adesão ao uso da miltefosina, único fármaco autorizado no país. Além disso, a eficácia das medidas de controle, como a eutanásia de cães soropositivos, é amplamente questionada na literatura, tanto por questões éticas quanto pela baixa efetividade na redução da transmissão. No Rio Grande do Sul, estado anteriormente considerado área indene, a doença apresenta uma tendência de expansão, com registros crescentes em diferentes municípios. A análise das estratégias de controle demonstra fragilidades nos sistemas de vigilância e na articulação entre os entes públicos, além de lacunas no manejo integrado entre as áreas de medicina veterinária e saúde pública. O trabalho destaca a importância da abordagem de Saúde Única para a compreensão e enfrentamento da LVC, defendendo a integração entre ações veterinárias e médicas no diagnóstico, tratamento e prevenção dessa zoonose.

Canine visceral leishmaniasis (CVL) is a zoonosis of great public health relevance, with significant impact on both veterinary and human medicine. Caused by the protozoan Leishmania infantum and transmitted by sandflies of the genus Lutzomyia, the disease has a wide geographical distribution and is increasingly urbanized, especially in Brazil, which accounts for the majority of reported cases in the Americas. The domestic dog is considered the main reservoir in urban areas, contributing to the maintenance of the transmission cycle. This study aims to review the main aspects related to the etiological agent, vectors, hosts, clinical forms, diagnosis, treatment, and measures for prevention and control of CVL, as well as to discuss the challenges faced by public policies in combating the disease, with an emphasis on the reality of the state of Rio Grande do Sul. The literature review covers everything from the biology of the parasite to the complex interactions among the different hosts and vectors involved in transmission. Diagnostic methods are discussed, with emphasis on serological and molecular techniques, their limitations, and cross-reactions. Canine treatment, still limited, presents challenges such as high cost and low adherence to the use of miltefosine, the only drug authorized in the country. Moreover, the effectiveness of control measures, such as the euthanasia of seropositive dogs, is widely questioned in the literature due to both ethical concerns and its low effectiveness in curbing transmission. In Rio Grande do Sul, a state previously considered a non-endemic area, the disease shows a trend of expansion, with increasing reports in different municipalities. The analysis of control strategies reveals weaknesses in surveillance systems and coordination among public entities, as well as gaps in integrated management between veterinary and public health sectors. The study highlights the importance of a One Health approach for understanding and addressing CVL, advocating for the integration of veterinary and medical actions in the diagnosis, treatment, and prevention of this zoonosis.