Tecnologia travesti : modificação corporal e gênero na pesquisa artística de Nídia Aranha

Abstract

Esta dissertação analisa a produção artística de Nídia Aranha e sua proposta conceitual de “tecnologia travesti”, investigando as interseções entre arte, antropologia e transfeminismo. A pesquisa articula reflexões sobre modificação corporal, normatividade de gênero e resistência, mobilizando perspectivas de autores de diferentes campos disciplinares. A metodologia emprega análise de obras, interlocuções com falas da artista e revisão de literatura, explorando como práticas de modificação corporal trans podem ser interpretadas enquanto experimentações coletivas estéticas e políticas. Os resultados indicam que o conjunto de obras de Aranha questiona as fronteiras entre ciência, arte e tecnologia, ao documentar e reconfigurar práticas travestis de modificação corporal como atos de resistência e criação coletiva. As séries “Corpo_Soma” e “Ordenha” emergem como paradigmas dessa abordagem, utilizando dispositivos biomédicos e processos de experimentação corporal para desestabilizar cisnormatividades. A modificação corporal aparece não como estratégia terapêutica no enquadre patologizante, mas como uma experimentação somato-política ativa. Conclui-se que a noção de "tecnologia travesti" contribui para a ampliação dos debates acerca das experiências trans e travestis, evidenciando as fissuras entre os discursos científicos e as experiências coletivas. A pesquisa enfatiza, propondo a leitura da prática e pesquisa de Aranha como ficção científica, a importância da fabulação, especulativa (Haraway, 2023) e crítica (Hartman, 2022), como estratégia para imaginar futuros alternativos, reconhecendo novas formas de subjetividade e corporeidade.

This dissertation analyses the artistic production of Nídia Aranha and her conceptual proposal of “travesti technology”, investigating the intersections between art, anthropology and transfeminism. The research articulates reflections on body modification, gender normativity and resistance, mobilizing the perspectives of authors from different disciplinary fields. The methodology employs an analysis of the works, interlocutions with statements made by the artist and a literature review, exploring how practices of trans body modification can be interpreted as collective aesthetic and political experimentations. The results indicate that Aranha's work questions the boundaries between science, art and technology, by documenting and reconfiguring travesti body modification practices as acts of resistance and collective creation. The “Corpo_Soma” and “Ordenha” series emerge as paradigms of this approach, using biomedical devices and processes of bodily experimentation to destabilize cisnormative gender norms. Body modification appears not as a therapeutic strategy in the pathologizing framework, but as an active somato-political experiment. It concludes that the notion of “travesti technology” contributes to broadening debates about trans and travesti experiences, highlighting the gaps between scientific discourses and collective experiences. By proposing to read Aranha's practice and research as science fiction, the research emphasizes the importance of speculative (Haraway, 2023) and critical (Hartman, 2022) fabulation as a strategy for imagining alternative futures, recognizing new forms of subjectivity and corporeality.