Prevalência de distúrbios psiquiátricos menores em residentes de comunidades quilombolas do Rio Grande do Sul: um estudo de base populacional
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2021Author
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Master
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Abstract in Portuguese (Brasil)
Introdução: Os distúrbios psiquiátricos menores possuem significativa prevalência nas sociedades modernas, afetando pessoas de diversas faixas etárias, com destaque para os adultos, acarretando sofrimento tanto para o indivíduo, quanto para a família e comunidade. Dentre esses transtornos estão incluídos os quadros de estresse, ansiedade e depressão. Sabe-se que o racismo afeta diretamente a saúde mental da população negra, quem sofre diretamente com o racismo tem de lidar com ameaças à autoest ...
Introdução: Os distúrbios psiquiátricos menores possuem significativa prevalência nas sociedades modernas, afetando pessoas de diversas faixas etárias, com destaque para os adultos, acarretando sofrimento tanto para o indivíduo, quanto para a família e comunidade. Dentre esses transtornos estão incluídos os quadros de estresse, ansiedade e depressão. Sabe-se que o racismo afeta diretamente a saúde mental da população negra, quem sofre diretamente com o racismo tem de lidar com ameaças à autoestima, desigualdades de oportunidades e com as mais diversas violências que atingem em maior magnitude esta população. O efeito cumulativo de desvantagens individuais, sociais e políticas podem levar a população negra ao sofrimento psíquico, em formas e intensidades diversas. As populações quilombolas, historicamente negligenciadas nas políticas públicas no Brasil, estão entre as populações vulneráveis. Até o momento, são poucos os estudos sobre saúde mental e os fatores associados nas populações residentes em comunidades quilombolas. Objetivo: Avaliar a prevalência de distúrbios psiquiátricos menores em residente em comunidades quilombolas no estado do Rio Grande do Sul. Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico analítico transversal de base populacional, incluindo uma amostra representativa de famílias quilombolas do estado do Rio Grande do Sul. O estudo foi realizado em vinte e duas comunidades quilombolas rurais e urbanas do estado do Rio Grande do Sul, certificadas pela Fundação Palmares, Ministério da Cultura. O cálculo do número de famílias entrevistadas em cada comunidade quilombola se deu através da amostragem com probabilidade proporcional ao tamanho. A coleta de dados domiciliar foi por meio de entrevistas com questionário fechado e estruturados com o responsável pela família. A variável desfecho foi os Distúrbios Psiquiátricos Menores, medidos através do questionário Self Report Questionnarie – SRQ 20 traduzido e validado no Brasil. As variáveis independentes do estudo foram as características demográficas e socioeconômicas (idade, sexo, renda, classe econômica e trabalho), doenças crônicas (hipertensão arterial, diabetes, excesso de peso e doenças cardiovasculares) e hábito de vida (tabagismo e consumo de álcool) Os dados foram analisados através do o programa Statistical Package for the Social Sciences – SPSS, versão 21.0. Resultados e discussão: Entre as 598 entrevistadas a maioria das pessoas tinha idade entre 18-39 anos, do sexo feminino, pertenciam à classe C e tinham renda familiar menor do que três salários mínimos. A prevalência de distúrbios psiquiátricos menores (DPM) na população quilombola foi de 33%. No modelo multivariado final observa-se que idosos possuem 63% mais chances de DPM comparando-se com adultos entre 18 e 39 anos. As mulheres apresentaram 57% maior de chances de DPM, assim como as pessoas com renda menor o igual a R$140,00, que tiveram duas vezes maior prevalência que aqueles que recebiam renda familiar per capita igual ou maior que R$ 300,00. Os DPM foram 63% maior nas pessoas que referiram ter diagnóstico de doenças cardiovasculares. Aplicabilidade no campo da Saúde Coletiva: Entende-se que as políticas públicas e intervenções em saúde mental devem considerar as condições de vida da população e que estas precisam ser melhoradas, para que as intervenções sejam efetivas quando implementadas em um contexto real. Espera-se que os achados da presente investigação possam contribuir para a formação dos profissionais de saúde e para um atendimento qualificado e efetivo do problema. Considerações finais: As comunidades quilombolas são populações que por muito tempo foram invisíveis para a sociedade e estado brasileiros e os danos da ausência do poder público são visualizados até hoje na vulnerabilidade social em que elas se encontram. Explorar a questão do sofrimento psíquico em comunidades quilombolas mostra-se extremamente complexo e necessário uma vez que o racismo institucional se revela na associação intrínseca com a condição de pobreza, interfere no tipo de atendimento e no modo como os serviços de saúde são ofertados a esta população, desconsiderando, por exemplo, as singularidades do território tanto do ponto de vista de organização do espaço, quanto em relação aos modos de vida produzidos no cotidiano dessas comunidades. ...
Abstract
Introduction: Minor psychiatric disorders have a significant prevalence in modern societies, affecting people of different age groups, especially adults, and causing suffering to the individual, the family, and the community. Among these disorders are included stress, anxiety, and depression. It is known that racism directly affects the mental health of the black population; those who suffer directly from racism have to deal with threats to self-esteem, inequalities in opportunities, and the va ...
Introduction: Minor psychiatric disorders have a significant prevalence in modern societies, affecting people of different age groups, especially adults, and causing suffering to the individual, the family, and the community. Among these disorders are included stress, anxiety, and depression. It is known that racism directly affects the mental health of the black population; those who suffer directly from racism have to deal with threats to self-esteem, inequalities in opportunities, and the various forms of violence that affect this population in greater magnitude. The cumulative effect of individual, social, and political disadvantages can lead the black population to mental suffering, in various forms and intensities. The quilombola populations, historically neglected in public policies in Brazil, are among the vulnerable populations. To date, there are few studies on mental health and associated factors in populations living in quilombola communities. Objective: To evaluate the prevalence of minor psychiatric disorders in a population residing in a quilombola community in the state of Rio Grande do Sul. Methodology: This is a population-based cross-sectional analytical epidemiological study, including a representative sample of quilombola families in the state of Rio Grande do Sul. The study was carried out in twenty-two rural and urban quilombola communities in the state of Rio Grande do Sul, certified by Fundação Palmares, Ministry of Culture. The number of families interviewed in each quilombola community was calculated through probability sampling proportional to size. The household data collection was by means of interviews with a closed and structured questionnaire with the person responsible for the family. The outcome variable was Minor Psychiatric Disorders, measured by the Self Report Questionnaire - SRQ 20, translated and validated in Brazil. The independent variables of the study were demographic and socioeconomic characteristics (age, sex, income, economic class and work), chronic diseases (hypertension, diabetes, overweight and cardiovascular diseases) and lifestyle habits (smoking and alcohol consumption). Results and discussion: Among the 598 interviewees most people were between 18-39 years old, female, belonged to ABIPEME class C and had family income less than three minimum wages. The prevalence of minor psychiatric disorders (MPD) in the quilombola population was 33%. In the final multivariate model, we observed that the elderly had a 63% greater chance of MPD compared to adults between 18 and 39 years old. Women presented 57% higher odds of PMD, as well as people with income less than or equal to R$140.00, which had twice the prevalence of those who received per capita family income equal to orgreater than R$300.00. The MPD was 63% higher in people who reported having been diagnosed with cardiovascular diseases. Applicability in Public Health: The living conditions of the population and the racism that is reproduced in different dimensions and levels equally impact the living and health conditions of non-white populations. Public policies in mental and collective health must consider that these need to be addressed, so that interventions are effective when implemented in a real context. Conclusion: Quilombola communities are populations that for a long time were invisible to the Brazilian society and state, and the damages of the absence of public power are visualized until today in the social vulnerability in which they find themselves. Exploring the issue of psychological suffering in quilombola communities is extremely complex and necessary, since institutional racism is revealed in the intrinsic association with the condition of poverty, interferes in the type of care and in the way health services are offered to this population, disregarding, for example, the singularities of the territory, both from the point of view of the organization of space, and in relation to the ways of life produced in the daily life of these communities. ...
Institution
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Enfermagem. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.
Collections
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Health Sciences (9291)Collective Health (213)
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