Continuidade do cuidado na atenção psicossocial : enfrentamento da relação de vulnerabilização das pessoas envolvidas no fenômeno da porta giratória

Abstract

Introdução: A continuidade do cuidado na atenção psicossocial é fundamental para evitar a vulnerabilização de pessoas submetidas ao fenômeno da porta giratória, caracterizado por reinternações psiquiátricas frequentes. Este estudo investiga como essa continuidade se desenvolve na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e nos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), considerando os desafios da desinstitucionalização e a sustentabilidade das políticas de saúde mental no contexto da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Objetivo: Analisar a continuidade do cuidado para pessoas com transtornos mentais envolvidos no fenômeno da porta giratória. Objetivos específicos: Identificar ações de cuidado implementadas para enfrentar o fenômeno da porta giratória; examinar o processo de vulnerabilização de usuários de saúde mental com reinternações psiquiátricas frequentes; verificar as ações intersetoriais utilizadas no enfrentamento do fenômeno da porta giratória. Método: Trata-se de um estudo qualitativo, baseado na metodologia de estudo de caso e fundamentado na epistemologia materialista histórico-dialética. A pesquisa foi realizada no distrito Glória-Cruzeiro-Cristal, em Porto Alegre-RS por meio de coleta de dados que incluiu entrevistas semiestruturadas com usuários da RAPS e do CREAS entre 08 de agosto e 28 de agosto de 2023, exploração de campo e análise de registros da Plataforma Gerint. Foram incluídos participantes maiores de 18 anos, com duas ou mais internações psiquiátricas nos últimos três anos e vínculo ativo com CAPS II, CAPSad ou CREAS. Critérios de exclusão envolveram dificuldades de comunicação decorrentes da agudização dos sintomas ou barreiras linguísticas. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (parecer 6.161.725), e os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados: Apesar dos avanços teóricos e legais da reforma psiquiátrica, os usuários da porta giratória permanecem vulneráveis, com laços frágeis com o território devido à descontinuidade do cuidado e à precarização dos serviços locais. Ações de cuidado enfrentam a porta giratória com continuidade assistencial, redução de danos e articulação entre serviços e redes. O processo de vulnerabilização decorre do uso abusivo de substâncias, violência e fragmentação do cuidado. As ações intersetoriais articulam saúde, assistência e educação, enquanto práticas psicossociais, como redução de danos, promovem inclusão, autonomia e cidadania. A construção de vínculos terapêuticos estáveis e o reconhecimento da subjetividade dos usuários são fundamentais para promover um cuidado humanizado e evitar novas internações psiquiátricas. A rotatividade das equipes de saúde dificulta a construção de um cuidado longitudinal e comprometido. As relações terapêuticas são influenciadas pelas condições de vida dos usuários, incluindo moradia precária, isolamento social e dificuldades de acesso a serviços básicos. Conclusão: A continuidade do cuidado na atenção psicossocial depende do fortalecimento da RAPS e da ampliação de estratégias intersetoriais que favoreçam o vínculo territorial dos usuários. Políticas públicas que promovam a assistência comunitária, fortaleçam equipes multiprofissionais e consolidem o cuidado em liberdade são essenciais para reduzir as reinternações psiquiátricas e enfrentar as vulnerabilizações que sustentam o fenômeno da porta giratória.

Introduction: Continuity of care in psychosocial care is essential to avoid the vulnerability of people subjected to the revolving door phenomenon, characterized by frequent psychiatric readmissions. This study investigates how this continuity develops in the Psychosocial Care Network (RAPS) and in the Specialized Reference Centers for Social Assistance (CREAS), considering the challenges of deinstitutionalization and the sustainability of mental health policies in the context of the Brazilian Psychiatric Reform. Objective: To analyze the continuity of care for people with mental disorders involved in the revolving door phenomenon. Specific objectives: To identify care actions implemented to address the revolving door phenomenon; to examine the process of vulnerability of mental health users with frequent psychiatric readmissions; to verify the intersectoral actions used to address the revolving door phenomenon. Method: This is a qualitative study, based on the case study methodology and grounded in historical-dialectical materialist epistemology. The research was carried out in the Glória-Cruzeiro-Cristal district, in Porto Alegre-RS through data collection that included semi-structured interviews with RAPS and CREAS users between August 8 and August 28, 2023, field exploration and analysis of records from the Gerint Platform. Participants over 18 years of age, with two or more psychiatric hospitalizations in the last three years, and active affiliation with RAPS services or CREAS were included. Exclusion criteria included communication difficulties resulting from symptom exacerbation or language barriers. The study was approved by the Research Ethics Committee of the Municipal Health Department of Porto Alegre (opinion 6.161.725), and participants signed the Free and Informed Consent Form. Results: Despite the theoretical and legal advances of the psychiatric reform, revolving door users remain vulnerable, with fragile ties to the territory due to the discontinuity of care and the precariousness of local services. Care actions face the revolving door with continuity of care, harm reduction and coordination between services and networks. The process of vulnerability results from substance abuse, violence and fragmentation of care. Intersectoral actions articulate health, care and education, while psychosocial practices, such as harm reduction, promote inclusion, autonomy and citizenship. Building stable therapeutic bonds and recognizing the subjectivity of users are essential to promote humanized care and avoid new psychiatric hospitalizations. The turnover of health teams makes it difficult to build longitudinal and committed care. Therapeutic relationships are influenced by the living conditions of users, including precarious housing, social isolation and difficulties in accessing basic services. Conclusion: The continuity of care in psychosocial care depends on strengthening the RAPS and expanding intersectoral strategies that favor the territorial bond of users. Public policies that promote community care, strengthen multidisciplinary teams and consolidate care in freedom are essential to reduce psychiatric readmissions and address the vulnerabilities that sustain the revolving door phenomenon.

Introducción: La continuidad de la atención al paciente en la atención psicosocial es esencial para evitar la vulnerabilidad de las personas sometidas al fenómeno de las puertas giratorias, caracterizado por frecuentes reingresos psiquiátricos. Este estudio investiga cómo se desarrolla esta continuidad en la Red de Atención Psicosocial (RAPS) y en los Centros Especializados de Referencia para la Asistencia Social (CREAS), considerando los desafíos de la desinstitucionalización y la sostenibilidad de las políticas de salud mental en el contexto de la Reforma Psiquiátrica Brasileña. Objetivo: Analizar la continuidad de la atención a las personas con trastornos mentales involucradas en el fenómeno de las puertas giratorias. Objetivos específicos: Identificar las acciones de atención implementadas para enfrentar el fenómeno de las puertas giratorias; examinar el proceso de vulnerabilidad de los usuarios de salud mental con frecuentes reingresos psiquiátricos; verificar las acciones intersectoriales utilizadas para enfrentar el fenómeno de las puertas giratorias. Método: Se trata de un estudio cualitativo, basado en la metodología del estudio de caso y fundamentado en la epistemología materialista histórico-dialéctica. La investigación se realizó en el distrito Glória-Cruzeiro-Cristal, en Porto Alegre-RS, a través de la recolección de datos que incluyó entrevistas semiestructuradas con usuarios de RAPS y CREAS entre el 8 y el 28 de agosto de 2023, exploración de campo y análisis de registros de la Plataforma Gerint. Se incluyeron participantes mayores de 18 años, con dos o más internaciones psiquiátricas en los últimos tres años y afiliación activa a servicios de RAPS o CREAS. Los criterios de exclusión incluyeron dificultades de comunicación resultantes de la exacerbación de síntomas o barreras lingüísticas. El estudio fue aprobado por el Comité de Ética en Investigación de la Secretaría Municipal de Salud de Porto Alegre (opinión 6.161.725), y los participantes firmaron el Término de Consentimiento Libre e Informado. Resultados: A pesar de los avances teóricos y legales de la reforma psiquiátrica, los usuarios de puertas giratorias siguen siendo vulnerables, con vínculos frágiles con el territorio debido a la discontinuidad de la atención y la precariedad de los servicios locales. Las acciones de cuidado enfrentan la puerta giratoria con continuidad de la atención, reducción de daños y coordinación entre servicios y redes. El proceso de vulnerabilidad resulta del abuso de sustancias, la violencia y la fragmentación de la atención. Las acciones intersectoriales articulan salud, cuidado y educación, mientras que las prácticas psicosociales, como la reducción de daños, promueven la inclusión, la autonomía y la ciudadanía. Construir vínculos terapéuticos estables y reconocer la subjetividad de los usuarios son esenciales para promover un cuidado humanizado y evitar nuevas internaciones psiquiátricas. La rotación de los equipos de salud dificulta la construcción de cuidados longitudinales y comprometidos. Las relaciones terapéuticas están influenciadas por las condiciones de vida de los usuarios, incluyendo vivienda precaria, aislamiento social y dificultades de acceso a servicios básicos. Conclusión: La continuidad de la atención en la atención psicosocial depende del fortalecimiento de la RAPS y de la ampliación de estrategias intersectoriales que favorezcan el vínculo territorial de los usuarios. Las políticas públicas que promuevan la atención comunitaria, fortalezcan los equipos multidisciplinarios y consoliden la atención en libertad son esenciales para reducir las readmisiones psiquiátricas y abordar las vulnerabilidades que sustentan el fenómeno de las puertas giratorias.