Caracterização da microbiota intestinal, sua relação com os níveis séricos de catelicidina e vitamina D e avaliação da resposta terapêutica e da qualidade de vida ao uso do ácido tranexâmico tópico em uma amostra de pacientes com rosácea

Abstract

BASE TEÓRICA A rosácea é uma doença inflamatória crônica da pele que causa grande morbidade aos pacientes que a possuem. De etiologia multifatorial e ainda não completamente compreendida, sua patogênese envolve microrganismos, desregulação neurovascular, fatores genéticos, imunológicos e ambientais. Alterações na composição do microbioma cutâneo e também intestinal nesses pacientes foram evidenciadas. Este último, podendo causar alterações cutâneas através do eixo intestino-pele. Além disso, peptídeos antimicrobianos, como a catelicidina, cuja produção está relacionada ao antígeno de determinadas bactérias e à vitamina D, estão associados à patogênese da rosácea. Além disso, alterações vasculares são frequentes na rosácea e o ácido tranexâmico, medicamento inibidor da angiogênese e da neovascularização, atua diminuindo a expressão de LL-37 (metabólito ativo da catelicidina) e tem sido estudado como alternativa terapêutica na rosácea. OBJETIVOS Caracterizar a microbiota intestinal e verificar as taxas de catelicidina e vitamina D séricas dos pacientes com rosácea e compará-la aos pacientes sem, além de avaliar uma possível associação entre as taxas e a microbiota. Além disso, outro objetivo é avaliar a resposta clínica e o impacto na qualidade de vida apresentada dos pacientes que fizeram uso do ácido tranexâmico para a rosácea. MÉTODOS Trata-se de estudo transversal com ensaio clínico aberto não controlado aninhado. Os pacientes são portadores de rosácea com mais de 18 anos e os controles são pareados por idade e gênero. Os pacientes não podem estar usando nenhum tipo de tratamento tópico 2 semanas antes da inclusão ou sistêmico 4 semanas antes. Além disso, foram excluídos pacientes que fizessem uso de medicação que pudessem interferir nos níveis de vitamina D, as gestantes e lactantes e os pacientes com condições cutâneas que interferissem na análise da pele. RESULTADOS Foram incluídos 22 casos e 22 controles para avaliação da microbiota intestinal e dos níveis de catelicidina e vitamina D séricos. Foram perdidos dois pacientes para a avaliação da microbiota intestinal no momento do processamento das amostras. Não houve diferença entre os níveis de catelicidina sérica entre os grupos - média grupo rosácea 100,3ng/mL, média grupo controle 117,4ng/mL (p=0,096); diferença -17.1 (IC 95% -37.5 to 3.3). O mesmo foi observado em relação aos níveis de vitamina D - média grupo rosácea 25,6ng/mL, média grupo controle 29,9ng/mL (p=0,263); diferença -4,28 (IC 95% 12,0 a 2,5). Em relação à microbiota intestinal, 21 amostras do grupo da rosácea e 17 amostras dos controles foram análisadas. Houve predomínio dos filos Bacillota e Actinomycetota, das famílias Lachnospiraceae e Ruminococcaceae e dos gêneros Blautia, Dorea, Bifidobacterium e Streptococcus. No estudo aninhado com o ácido tranexâmico tópico, foram avaliados 28 pacientes. As avaliações foram feitas antes de iniciar o tratamento e 60 dias após o seu uso. Os pacientes apresentaram uma redução significativa no IGA ao término do tratamento (p 0,001), bem como na gravidade das pápulas e pústulas (p 0,018) e do flushing (p 0,001). Apesar disso, não houve melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes medidas pelo DLQI e pelo RosaQoL. CONCLUSÃO Não houve diferença entre os níveis de catelicidina séricos e vitamina D entre os grupos, assim como na composição da microbiota intestinal entre os grupos. O ácido tranexâmico parece ser uma alternativa promissora de tratamento para a rosácea, especialmente nos subtipos papulopustuloso e eritematotelangiectásico. Estudos com maior número de pacientes e com grupo controle podem corroborar nossos achados.

BACKGROUND Rosacea is a chronic inflammatory skin condition that significantly impacts patients' quality of life. It has a multifactorial and not fully understood etiology, which involves microorganisms, neurovascular dysregulation, genetic, immunological, and environmental factors. Changes in both skin and intestinal microbiome composition have been observed in these patients. The latter can influence skin alterations through the gut-skin axis. Additionally, antimicrobial peptides, such as cathelicidin, whose production is related to specific bacterial antigens and vitamin D, are associated with rosacea pathogenesis. Vascular alterations are also common in rosacea, and tranexamic acid, an angiogenesis and neovascularization inhibitor, decreases LL-37 expression (active cathelicidin metabolite) and has been studied as a therapeutic alternative in rosacea. OBJECTIVES To characterize the gut microbiota and evaluate serum cathelicidin and vitamin D levels in rosacea patients compared to controls, as well as to evaluate a possible association between these levels and the gut microbiota. Additionally, another objective is to assess clinical response and impact on quality of life in rosacea patients treated with tranexamic acid. METHODS This is a cross-sectional study with a nested case series. Patients must have a rosacea diagnostic and be over 18 years old, and controls are age and gender-matched. Patients cannot be using any topical treatment 2 weeks prior to inclusion or systemic treatment 4 weeks prior. Patients using medication that could interfere with vitamin D levels, pregnant or lactating women, and patients with skin conditions interfering with skin analysis were excluded. RESULTS Twenty-two cases and twenty-two age and gender-matched controls were included for gut microbiota evaluation and serum cathelicidin and vitamin D levels assessment. Two patients were lost in the evaluation of gut microbiota during the samples processing. There was no difference between the cathelicidin levels - mean rosacea group 100.3ng/mL, mean control group 117.4ng/mL (p=0.096); difference -17.1 (CI 95% -37.5 to 3.3). The same was observed with vitamin D levels - mean rosacea group 25.6ng/mL, mean control group 29.9ng/mL (p=0.263); difference -4,28 (CI 95% 12.0 to 2.5). Regarding the gut microbiota, 21 rosacea samples and 17 controls were analysed. There were predominance of phylum Bacillota e Actinomycetota, family Lachnospiraceae and Ruminococcaceae and genus Blautia, Dorea, Bifidobacterium and Streptococcus. Moreover, 28 patients completed treatment with topical tranexamic acid. Evaluations were conducted before treatment initiation and 60 days after its use. Patients showed a significant reduction in IGA at the end of treatment (p 0.001), as well as in papules and pustules severity (p 0.018) and flushing (p 0.001). However, there was no significant improvement in patients' quality of life measured by DLQI and RosaQoL. CONCLUSION There was no difference in serum cathelicidin and vitamin D levels between the rosacea and control groups, as well as in the gut microbiota composition. Tranexamic acid appears to be a promising treatment alternative for rosacea, especially in papulopustular and erythematotelangiectatic subtypes. Studies with larger patient numbers and control groups could corroborate our findings. The assessment of gut microbiota and its relationship with serum cathelicidin and vitamin D levels are yet to be analyzed.