Prescrição de profilaxia antibiótica para pacientes de risco por cirurgiões-dentistas Brasileiros

Abstract

Os procedimentos odontológicos de rotina ocasionam uma bacteremia transitória a qual é a porta de entrada dos microrganismos e seus produtos na corrente sanguínea. De maneira geral, os procedimentos que ocasionam maior sangramento estão relacionados a um risco maior de bacteremia, o que pode ser potencialmente perigoso para pacientes com comorbidades específicas. Para esses pacientes, então, é recomendada a profilaxia antibiótica como medida preventiva à disseminação da bacteremia. Como os cirurgiões-dentistas têm respaldo legal de prescrever antibióticos é importante que estes profissionais tenham conhecimento sobre para quem e quando a profilaxia antibiótica deve ser prescrita. Dessa forma, o presente estudo buscou avaliar a prescrição de antibióticos para pacientes de risco pelos cirurgiões-dentistas brasileiros. Para tanto foram utilizados dados de um estudo observacional transversal, por meio de um questionário online (plataforma Google Formulários), conduzido entre 2021 e 2022. Brevemente, foram elegíveis a participar da pesquisa todos os cirurgiões-dentistas atuantes no Brasil em 2021 e 2022, independentemente da idade, sexo, tempo de formação, local de trabalho, nível de formação em odontologia, e/ou tipo de especialidade. A estratégia de recrutamento foi por “bola de neve”, onde o convite ao estudo foi divulgado a partir das redes sociais (p. ex.: Facebook e Instagram) e da rede de contatos dos pesquisadores. Aqueles dentistas que receberam o convite da pesquisa foram também convidados a repassar o mesmo para sua rede de contatos. O questionário era composto por 32 questões, sendo 31 perguntas fechadas e uma aberta, e foi respondido por 1.317 dentistas. Para fins deste trabalho, foram analisadas as respostas quanto às questões relativas à caracterização sociodemográfica dos participantes e quanto à definição de pacientes de risco e às situações clínicas com indicação de profilaxia antibiótica a estes indivíduos. A análise foi de forma agrupada e descritiva, por meio de médias e/ou frequência das respostas, considerando a amostra total. Como resultados, encontrou-se que a idade média dos dentistas respondentes foi de 42,75±12,2 (22 – 85) anos, sendo 61,9% mulheres e 47,7% residentes no Sudeste do país. Os profissionais reportaram tempo médio de formação de 18,62±12,5 (0 – 60) anos, sendo 50,4% profissionais com título de especialista. Dentre os respondentes, 95,4% (n=1.257) informaram prescrever antibióticos em sua prática. Pacientes considerados de risco foram apontados, principalmente, como aqueles com história de endocardite infecciosa (88,9%, n=1.118), presença de prótese ou válvula cardíaca (83,3%, n=1.047) e transplantados nos últimos 6 meses (58,2%, n=731). Apenas 7,6% (n=95) dos dentistas indicaram todas as condições de risco indicadas pela literatura e listadas no questionário. As principais situações clínicas consideradas com indicação de profilaxia antibiótica para pacientes de risco foram extração de 3os. molares com pericoronarite com disseminação sistêmica (80,2%, n=1.007), abscesso periapical com disseminação sistêmica (76,7%, n=962) e exodontia de terceiro molar com pericoronarite (74,8%, n=939). Apenas 36,2% (n=454) dos dentistas indicaram todas as situações com indicação de profilaxia antibiótica conforme orientação da Associação Americana do Coração, para a prevenção da endocardite infecciosa. Pode-se concluir que os dentistas têm limitado conhecimento quanto a pacientes de risco, e em quais procedimentos odontológicos o uso de profilaxia antibiótica é recomendado. Juntos, tais achados podem refletir grande desconhecimento no manejo desses pacientes pelos dentistas brasileiros.

Routine dental procedures cause a transitory bacteremia which is an entryway of microorganisms and their products in the bloodstream. In general, procedures that cause greater bleeding are related to higher bacteremia, which may pose a risk for patients with specific comorbidities. For these patients, antibiotic prophylaxis is therefore recommended in the face of such invasive dental procedures, as a preventive measure against the spread of bacteremia. Dentists have legal support to prescribe antibiotics, so it is key for these professionals to be aware of who and when antibiotic prophylaxis should be prescribed. Therefore, the present study aimed to evaluate the prescription of antibiotics prophylaxis for patients at risk by Brazilian dentists. For this purpose data from a cross-sectional observational study were used, through an online questionnaire (Google Forms platform), conducted between 2021 and 2022. Briefly, all dentists working in Brazil in 2021 and 2022 were eligible to participate in the survey, regardless of age, sex, time since graduation, place of work, level of education in dentistry, and/or type of specialty. The recruitment strategy was “snowball”, where the invitation to the study was publicized through social networks (eg Facebook and Instagram) and the researchers' contact network. Those dentists who received the survey invitation were also invited to forward it to their network of contacts. The questionnaire consisted of 32 questions, 31 of which were closed and one open, and was answered by 1,317 dentists. For the purposes of this work, the answers were analyzed corresponding to the questions related to the sociodemographic characterization of the participants and regarding the definition of patients at risk and the prophylactic prescription of antibiotics for these individuals. The analysis was descriptive, using rates and/or frequency of responses, considering the total sample. As a result, it was found that the mean age of the responding dentists was 42.75±12.2 (22 – 85) years, 61.9% of whom were women and 47.7% lived in the Southeast. The professionals reported an average time since graduation of 18.62±12.5 (0 – 60) years, with 50.4% being professionals with a specialist title. Among respondents, 95.4% (n=1,257) of dentists reported prescribing antibiotics in their practice. Patients considered at risk have the indication, mainly, as those with a history of endocarditis (88.9%, n=1,118), presence of prosthesis or heart valve (83.3%, n=1,047) and transplanted in the last 6 months (58 .2%, n=731). Only 7.6% (n=95) of dentists indicated all the risk conditions indicated in the literature and listed in the questionnaire. The main clinical situations considered with indication of antibiotic prophylaxis for patients at risk were extraction of 3rd. molars with pericoronitis with systemic dissemination (80.2%, n=1,007), periapical abscess with systemic dissemination (76.7%, n=962) and third molar extraction with pericoronitis (74.8%, n=939). Only 36.2% (n=454) of dentists indicated in all situations the need of antibiotic prophylaxis, as recommended by the American Heart Association, for the prevention of infective endocarditis. It can be concluded that dentists have limited knowledge regarding patients at risk and in which dental procedures the use of antibiotic prophylaxis is recommended. Combined, these findings may reflect great uncertainty in the management of these patients by Brazilian dentists.