Avaliação morfológica e funcional das alterações neuro vasculares retinianas em pacientes com diabetes mellitus pós-transplante

Abstract

Introdução: A Diabetes Mellitus Pós-Transplante (DMPT) surge após transplante de órgão sólido em pacientes sem histórico de diabetes, sendo uma complicação metabólica grave e multifatorial, relacionada ao aumento do risco de infecções, doenças cardiovasculares, mortalidade e falência do enxerto. Estudo prévio encontrou que as complicações microvasculares tardias no DMPT apresentam curso clínico mais brando, com ausência de sinais clínicos de retinopatia diabética (RD). Objetivos: Avaliar as características anatômicas e funcionais das alterações neurovasculares de pacientes com diagnóstico de DMPT após transplante renal comparado a grupo controle de pacientes pós transplante sem diagnóstico de DMPT. Metodologia: Foi conduzido no Hospital de clínicas de Porto Alegre (HCPA) estudo longitudinal prospectivo e retrospectivo envolvendo coorte de pacientes que realizaram transplante renal entre 2000 e 2011. Para recrutamento de participantes foi utilizado banco de dados de estudo prévio envolvendo pacientes transplantados renais há mais de 5 anos e com desenvolvimento de DMPT e grupo controle de transplantados sem DMPT. Na etapa retrospectiva foram analisados dados de SSOCT (Swept-source Optical Coherence Tomography) e OCT-A (OCT Angiography) coletados em 2016 e 2017. Na fase prospectiva foram realizadas duas novas visitas clínicas com realização acuidade visual ETDRS, perimetria fundoscopica automatizada (PFA), além de novos exames de SS-OCT e OCT-A. Resultados: Em análise transversal foi encontrada diferença nos níveis de sensibilidade foveal no grupo DMPT (p=0.041) e média/alta correlação entre a redução de espessura retiniana ao OCT e de camada de células ganglionares e a sensibilidade à PFA. Na avaliação longitudinal, em amostra com média de tempo pós transplante de 14 anos foi observada mortalidade de 33% no grupo DMPT e presença de edema macular cistoide em 16%. Indivíduos com DMPT apresentaram redução significativa de espessura retiniana em camadas GLC+ e GLC++ além de apresentarem aumento de Zona Foveal avascular superficial (FAZ-S). Na análise retrospectiva foi observado que os pacientes com DMPT que faleceram ao longo do estudo apresentavam aumento de de FAZ-S e Zona Avascular Foveal Pronfunda (FAZ-P) nos exames iniciais quando comparados aos com DMPT que seguiram vivos. Conclusão: Apesar da retinopatia diabética em DMPT apresentar um curso mais indolente, identificamos a presença de edema macular cistoide e dano neural precoce, com redução na espessura retiniana de camada de células ganglionares. Foi identificado aumento da FAZ e associação deste achado com piores desfechos de sobrevida. A relevância longitudinal dos resultados foi limitada pela perda de amostra durante a pandemia de COVID-19, destacando a necessidade de mais estudos para compreender plenamente a progressão da doença e validar biomarcadores possivelmente úteis para prognóstico clínico.

Introduction: Post-Transplant Diabetes Mellitus (PTDM) occurs in patients without a prior history of diabetes after solid organ transplantation, being a severe and multifactorial metabolic complication, associated with an increased risk of infections, cardiovascular diseases, mortality, and graft failure. A previous study found that late microvascular complications in PTDM have a milder clinical course, with no clinical signs of diabetic retinopathy (DR). Objectives: To evaluate the anatomical and functional characteristics of neurovascular changes in patients diagnosed with PTDM compared to a post-transplant control group without a PTDM diagnosis. Methodology: A longitudinal prospective and retrospective study was conducted at the Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) involving a cohort of patients who underwent kidney transplantation between 2000 and 2011. Participants were recruited using a database from a previous study involving kidney transplant patients for more than 5 years and the development of PTDM and a control group of transplant recipients without PTDM. In the retrospective phase, data from SS-OCT (Swept-source Optical Coherence Tomography) and OCT-A (OCT Angiography) collected in 2016 and 2017 were analyzed. In the prospective phase, two new clinical visits were performed with ETDRS visual acuity assessment, automated fundoscopic perimetry (PFA), in addition to new SS-OCT and OCT-A exams. Results: In a cross-sectional analysis, a difference was found in foveal sensitivity levels in the PTDM group (p=0.041) and moderate/high correlation between reduced retinal thickness on OCT and ganglion cell layer and sensitivity to PFA. In the longitudinal evaluation, in a sample with an average posttransplant time of 14 years, a mortality of 33% was observed in the PTDM group and the presence of cystoid macular edema in 16%. Individuals with PTDM showed a significant reduction in retinal thickness and in GCL+ and GCL++ layers at the initial visits, with a reduction in significance over the follow-up. An increase in the superficial foveal avascular zone (FAZ-S) was identified among PTDM patients, and retrospective analysis showed that PTDM patients who died during the study had an increase in FAZ-S and Deep Foveal Avascular Zone (FAZ-P) when compared to those with PTDM who survived.Conclusion: In conclusion, although diabetic retinopathy in PTDM presents a more indolent course, we identified the presence of cystoid macular edema and early neural damage, with a reduction in retinal ganglion cell layer thickness. An increase in FAZ and an association with poorer survival outcomes were also identified. The longitudinal relevance of the results was limited by sample loss during the COVID- 19 pandemic, highlighting the need for further studies to fully understand disease progression and validate potentially useful biomarkers for clinical prognosis.