"E pai pra quê?" : quando as crianças abrem o verbo acerca das paternidades

Abstract

A presente tese trabalha com os conceitos de dispositivo da paternidade, a partir dos scripts de gênero e infâncias, tendo como principal questão de pesquisa a seguinte pergunta: Como as crianças percebem as paternidades? De que maneira os scripts de gênero atravessam e dimensionam essa(s) percepção(ões)? O objetivo geral desta investigação é perceber, sob o olhar das crianças, como os scripts de gênero são acionados e contribuem na produção de masculinidades, especialmente aquelas que paternam. No que diz respeito aos objetivos específicos, este trabalho busca: a) compreender acerca dos scripts de gênero e as relações de poder que estão em jogo na produção de subjetividades masculinas; b) analisar a situação das paternidades no contexto investigado; c) identificar as normas que circunscrevem os scripts de paternidade. Para fundamentar teoricamente esta pesquisa, operei com os conceitos oriundos dos Estudos de Gênero, bem como dos Estudos Culturais e da Sociologia da Infância, sob a perspectiva pós-estruturalista de análise. Para a produção de dados, recorri à pesquisa com crianças entre 4 e 5 anos de idade, em uma escola de educação infantil da região metropolitana de Porto Alegre/RS, empregando ferramentas metodológicas como: observação participante, contação de histórias, leitura literária, rodas de conversa, desenhos e brincadeiras. Os resultados apontam para a importância de discutirmos e aprofundarmos os conceitos de dispositivos da paternidade, de que forma são constituídos e seus impactos na vida das crianças, em especial no que se refere à presença-ausente dos pais, conceito desenvolvido nesta pesquisa para discutir outros modos de abandono em relação à prole. As análises mostraram que as crianças participantes da pesquisa incorporaram em suas falas a ideia de naturalização do abandono, a partir de determinados scripts de gênero, atribuindo aos homens uma incapacidade para o cuidado. Além disso, algumas delas, não raras vezes, expressaram sentimentos de culpa diante do abandono paterno. Também é importante referir que as escolas, por vezes, executam estratégias que naturalizam a ausência dos pais diante das demandas escolares, o que mostra a necessidade de desenvolvermos um trabalho de aprofundamento teórico nas formações iniciais e continuadas do corpo docente que atua na Educação Infantil.

This thesis explores the concepts of fatherhood dispositif (device), based on gender scripts and childhood, with the main research question being: How do children perceive fatherhood? In what ways do gender scripts influence and shape this perception? The general objective of this investigation is to understand, from the perspective of children, how gender scripts are activated and contribute to the production of masculinities, especially those related to fatherhood. Regarding the specific objectives, this work aims to: a) understand gender scripts and the power relations involved in the production of masculine subjectivities; b) analyze the situation of fatherhood within the investigated context; c) identify the norms that circumscribe fatherhood scripts. The theoretical foundation of this research draws on concepts from Gender Studies, Cultural Studies, and Sociology of Childhood, under a post-structuralist analytical perspective. To collect data, I conducted research with children aged 4 to 5 years old in a preschool in the metropolitan region of Porto Alegre/RS, employing methodological tools such as participant observation, storytelling, literary reading, group discussions, drawings, and games. The results highlight the importance of discussing and deepening the concepts of fatherhood dispositif, how they are constructed, and their impacts on children's lives, particularly regarding the presence-absence of fathers, a concept developed in this research to discuss other forms of parental abandonment. The analysis revealed that the participating children incorporated into their discourse the idea of naturalizing abandonment based on certain gender scripts, attributing to men an incapacity for caregiving. Additionally, some children often expressed feelings of guilt in response to paternal abandonment. The analysis revealed that the participating children incorporated into their discourse the idea of naturalizing abandonment based on certain gender scripts, attributing to men an incapacity for caregiving. Additionally, some children often expressed feelings of guilt in response to paternal abandonment. It is also important to note that schools sometimes employ strategies that normalize fathers' absence in the face of school demands, underscoring the need for theoretical development in the initial and ongoing training of teaching staff in Early Childhood Education.