Escola Cívico-Militar : uma análise materialista do discurso sobre as investidas da Nova Direita brasileira (2018-2021)

Abstract

Tendo em vista o avanço do conservadorismo nos cenários político e educacional brasileiros nos últimos anos, o presente trabalho analisa enunciados, que defendem a implementação de Escolas Cívico-Militares (Ecim) proferidos por sujeitos vinculados à Nova Direita brasileira. Entende-se que o projeto de militarização das escolas tomou impulso por carregar princípios centrais ao conservadorismo do Sul Global, como o enaltecimento do caráter autoritário das forças armadas, a retomada de um passado idealizado e a precarização da escola pública. Dada a expansão das Ecim e a aceitação por parte da população, é fundamental identificar o que o discurso em prol do modelo cívico-militar defende. Para isso, foi montado um arquivo com enunciados provenientes de um estudo prévio com base na análise temática (Braun; Clarke, 2006) de uma série de pronunciamentos a favor do projeto (discursos, entrevistas, etc.), no período de 1 de janeiro de 2018 a 31 de maio de 2021. Com base na Análise do Discurso Materialista (Pêcheux, 1997), trabalhando com as estratégias discursivas de excesso e estranhamento (Ernst-Pereira, 2009), os enunciados foram examinados no intuito de investigar os sentidos que são atríbuidos à escola cívico-militar presentes na defesa dessa agenda. A análise realizada permitiu identificar ao menos três grandes eixos que estruturam a proposta e os discursos em prol da militarização: a inculcação de valores militares caracterizados pelo princípio repressivo; a nostalgia dos tempos do regime militar; e uma relação inegociavelmente antagônica entre a Ecim e a escola pública. Observamos, assim, que o discurso conservador tensiona a proposta de gestão democrática das escolas, exaltando o autoritarismo das forças armadas e recuperando a memória do regime militar num suposto cenário de falência da educação pública. Tais elementos estão intimamente ligados, compondo uma fotografia que idealiza a substituição do ambiente escolar democrático para o contexto militar. Essas formulações materializam sentidos referentes ao processo de desmantelamento da rede pública de ensino, demonstrando aspectos antidemocráticos que reproduzem discriminações de classe, raça, gênero e sexualidade.

Given the rise of conservatism in the political and educational scenarios in Brazil in recent years, this study analyzes statements advocating for the implementation of Civic-Military Schools (CMS) expressed by individuals associated with the Brazilian New Right. It is understood that the project of militarization of schools was boosted because it involves central principles of Global South conservatism, such as the glorification of the authoritarian character of the armed forces, the revival of an idealized past, and the deterioration of public education. Given the expansion of CMS and public acceptance, it is crucial to identify what the discourse in favor of the civic-military model defends. In order to do this, a file was compiled with statements from a previous study based on thematic analysis (Braun; Clarke, 2006) of a series of pronouncements in favor of the project (speeches, interviews, etc.) from January 1, 2018, to May 31, 2021. Through the lenses of the Materialist Discourse Analysis (Pêcheux, 1997) and employing discursive strategies of excess and estrangement (Ernst-Pereira, 2009), the statements were examined to investigate the meanings attributed to the civic-military school present in the defense of this agenda. The analysis allowed identifying at least three major axes that structure the proposal and the speeches in favor of militarization: the inculcation of military values characterized by repressive principles, nostalgia for the times of the military regime, and an irreversibly antagonistic relationship between CMS and public schools. Thus, it is observed that the conservative discourse challenges the proposal for the democratic management of schools, exalting the authoritarianism of the armed forces and recovering the memory of the military regime in a supposed scenario of the failure of public education. These elements are closely linked, framing a picture that idealizes the replacement of the democratic school environment with a military context. These formulations materialize meanings related to the dismantling of the public education system, demonstrating antidemocratic aspects that reproduce discriminations of class, race, gender, and sexuality.