“Feridas precisam de ar” : tempo, trauma e fantologia acerca do Massacre de Tulsa de 1921 na série de televisão Watchmen (2019)

Abstract

O presente trabalho analisa como se dão as representações de tempo, trauma e fantologia acerca do Massacre de Tulsa de 1921 na série de televisão Watchmen (2019). Em 1921, o Massacre de Tulsa destruiu completamente Greenwood, próspero bairro da comunidade negra da cidade. Esse acontecimento foi conscientemente ocultado e silenciado pelo Estado de Oklahoma até 1997. Enquanto continuação da graphic novel original de 1986, Watchmen (2019) utiliza o respectivo passado como fio-condutor na relação avô e neta, entre William Reeves (Louis Gossett Jr.) e Angela Abar (Regina King), conectando-se de modo singular através do trauma e legado de 1921. A fonte audiovisual é analisada, sobretudo, através dos conceitos de acumulação temporal, trauma e fantologia. Além disso, o método histórico-cinematográfico é utilizado como meio de decupar e investigar três sequências delimitadas da série televisiva. Os resultados da pesquisa possibilitam enxergar como a representação do passado do Massacre de Tulsa atravessa e modifica os caminhos e ações das personagens na narrativa ficcional, seja no assombro, no acúmulo ou na repetição/elaboração do trauma. Diante disso, William Reeves é o fantasma - oculto e reprimido - que assombra a história que se reafirma definitiva e resolvida no tempo presente. O ressurgimento não apenas desestabiliza a vida de Angela, mas transforma completamente a relação com o seu passado, presente e possibilidades do futuro - em que antigas feridas possam ser refletidas, trabalhadas e, talvez, curadas.

The present work analyzes the representations of time, trauma, and hauntology about the 1921 Tulsa Massacre in the television series Watchmen (2019). In 1921, the Tulsa Massacre destroyed Greenwood, a prosperous district of the city's Black community. This event was consciously hidden and silenced by the state of Oklahoma until 1997. As a continuation of the original 1986 graphic novel, Watchmen (2019) uses this past as a guiding thread in the relationship between grandfather and granddaughter, William Reeves (Louis Gossett Jr.) and Angela Abar (Regina King), connecting through the trauma and legacy of 1921. The audiovisual source is analyzed primarily with the concepts of temporal accumulations, trauma and hauntology. Furthermore, the historical-cinematic method is used as a means to investigate three delimited sequences from the television series. The research results enable an understanding of how the representation of the past of the Tulsa Massacre permeates and modifies the paths and actions of the characters in the fictional narrative, whether in haunting, accumulation or the acting-out/working-through of trauma. In this context, William Reeves is the ghost - hidden and repressed - that haunts the history that is reaffirmed definitively and resolved in the present. The resurgence not only destabilizes Angela's life but also completely transforms her relationship with her past, present and possibilities for the future - which old wounds may be reflected upon, worked-through and, perhaps, healed.