Professores de ciências biológicas e a mediação de conflitos na escola : disposições para uma educação antirracista

Abstract

Os conflitos raciais entre alunos, na sala de aula, são corriqueiros no dia a dia da escola, muitos deles sendo de cunho racial, e o professor não media como deveria, pois ele não recebeu uma formação adequada para perceber esse tipo de conflito e para trabalhar a Educação das Relações Étnico-Raciais (ERER). Há cursos de graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que implementaram a ERER nos seus currículos, um desses é o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas que, em 2017, implementou a ERER em uma disciplina obrigatória. O problema de pesquisa deste projeto é delineado a partir da seguinte pergunta: O egresso do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFRGS, que participou da disciplina de Estágio de Docência em Biologia a partir do ano de 2017, que esteja diplomado e atuando na Educação Básica, desenvolveu disposições (LAHIRE, 2004) que possibilitem promover uma educação antirracista? O objetivo geral foi realizar um estudo com uma amostra intencional de egressos do curso, sendo mobilizados os conceitos de disposição (Bourdieu e Lahire), de racismo, branquitude (BENTO, 2022) e conflito (CHRISPINO, 2007), bem como dos princípios da Educação para as Relações Étnico-Raciais (SILVA, 2018). A metodologia para a produção de dados foi inspirada em Bernard Lahire (2004), mas com adaptações a fim de caracterizar disposições para uma educação antirracista e para ERER e analisar como são ativadas na atuação de professores licenciados em Ciências Biológicas. A pesquisa mostra que as professoras e professores entrevistados possuem uma trajetória acadêmica marcada pela pressa em se formar e obter o diploma para poder ingressar no mercado de trabalho. É possível perceber nas trajetórias desses professores e professoras, inclinações que indicam disposições antirracistas e para ERER, sendo que essas são ativadas ou reativadas, na convivência com seus colegas negros, na participação pontual de coletivos políticos dentro da universidade, nas disucussões e elaboração de trabalhos propostos por disciplinas da educação. Já na escola, ambiente de trabalho dos egressos, foi possível identificar um local institucional racista e com pouca ou nenhuma medida para mediar conflitos raciais e promover a ERER, tornando o trabalho desses profissionais solitário.

The racial conflicts among students in the classroom are common in everyday school life, many of them are of a racial nature, and the teacher does not mediate as he should, as he has not received adequate training to perceive this type of conflict and to work on Ethnic-Racial Relations Education (ERER). Some courses at the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS) have implemented ERER in their curricula, such as the Biological Sciences Teaching degree, which implemented ERER in a mandatory discipline in 2017. The research problem of this project is outlined from the following question: Did the graduate of the Biological Sciences Teaching degree at UFRGS, who participated in the Biology Teaching Internship discipline from 2017, that graduated and is working in Basic Education, developed dispositions (LAHIRE, 2004) that enable promoting antiracist education? The general objective was to conduct a study with an intentional sample of graduates from the course, mobilizing the concepts of disposition (Bourdieu and Lahire), racism, whiteness (BENTO, 2022), and conflict (CHRISPINO, 2007), as well as the principles of Education for Ethnic-Racial Relations (SILVA, 2018). The methodology for data production was inspired by Bernard Lahire (2004), but with adaptations to characterize dispositions for antiracist education and ERER and to analyze how they are activated in the performance of licensed Biology teachers. The research shows that the interviewed teachers have an academic trajectory marked by haste to graduate and obtain their diploma in order to enter the job market. It is possible to perceive in the trajectories of these teachers inclinations that indicate antiracist dispositions and for ERER, being activated or reactivated in interaction with their Black colleagues, in occasional participation in political collectives within the university, in discussions and elaboration of work proposed by education disciplines. In the school environment, the workplace of the graduates, it was possible to identify an institutional racist environment with little or no measures to mediate racial conflicts and promote ERER, making these professionals' work solitary.