Impactos da pandemia da COVID-19 : alterações no padrão do sono e fatores associados em enfermeiras e técnicas de enfermagem

Abstract

Introdução: A pandemia da Coronavirus Disease-2019 (COVID-19) provocou diversas mudanças nas vidas dos profissionais de saúde. Entre esses, mundialmente, a enfermagem consiste em uma das maiores classes em número, e é predominantemente exercida por pessoas do sexo feminino. O processo de trabalho desses profissionais foi afetado pelo aumento da demanda pela assistência à saúde, pelas condições de trabalho e estresse relacionados ao contexto da pandemia. Essa situação pode representar estresse e exaustão física e emocional para a enfermagem, acarretando agravos à saúde mental. Objetivo: Identificar fatores associados à piora do padrão do sono em enfermeiras e técnicas de enfermagem que trabalharam durante a pandemia da COVID-19. Métodos: Estudo epidemiológico observacional, de corte transversal, oriundo de um projeto de pesquisa que avaliou o estado de saúde de médicas e profissionais de enfermagem durante a pandemia da COVID-19. A coleta de dados ocorreu no período que contemplou o primeiro surto da COVID-19 no Brasil, entre julho e outubro de 2020, através de um formulário eletrônico do Google Forms®, composto por dados sociolaborais, aspectos de saúde, rastreio de sintomas depressivos e avaliação do sono. A amostra constitui-se de 282 profissionais de enfermagem (193 enfermeiras e 89 técnicas de enfermagem) atuantes durante a pandemia da COVID-19. Foram critérios de inclusão: enfermeiras e técnicas de enfermagem, maiores de 18 anos, que atuam na assistência hospitalar e/ou ambulatorial do sistema público e/ou privado de saúde. Excluíram-se: gestantes e lactantes. Estimou-se a associação dos fatores estudados com a piora de sono, utilizando-se modelos de Poisson com a variância robusta por meio do método de sandwich. Foram empregados os critérios de Informação de Akaike e Bayesiano e o teste da Razão de Verossimilhança. Para todas as análises utilizou-se o nível de significância de 5%. A pesquisa contemplou a Resolução 466/2012, recebendo Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAEE) 32907020.7.0000.5327 e 32907020.7.3001.5330. Resultados: Das 282 profissionais, 31,6% (89) eram técnicas de enfermagem e 68,4% (193), enfermeiras, com idade mediana de 37 anos e que exerciam, em sua maioria, atividades exclusivamente assistenciais (85%). Verificou-se piora do sono naquelas com sintomas depressivos (razão de prevalência (RP) 1,75; 1,33-2,29), sobrecarga de trabalho (RP 1,71; 1,15-2,55) e que utilizavam medicamentos antidepressivos (RP 2,00; 1,12-3,58). Conclusão: Aspectos relacionados à saúde mental e a sobrecarga de trabalho foram associados à piora do sono em enfermeiras e técnicas de enfermagem durante a pandemia da COVID-19, evidenciando a necessidade de preservação e manutenção da saúde mental.

Introduction: The Coronavirus Disease-2019 (COVID-19) pandemic caused several changes in the lives of health professionals. Among these, worldwide, nursing consists of one of the largest classes in number, and is predominantly exercised by females. The work process of these professionals was affected by the increased demand for health care, working conditions and stress related to the context of the pandemic. This situation can represent stress and physical and emotional exhaustion for nurses, causing harm to mental health. Objective: To identify factors associated with sleep worsening among nurses and nursing technicians who worked during the COVID-19 pandemic. Methods: Observational, cross-sectional epidemiological study, arising from a research project that evaluated the health status of female doctors and nursing professionals during the COVID-19 pandemic. Data collection took place in the period that included the first outbreak of COVID-19 in Brazil, between July and October 2020, through an electronic Google Forms® form, consisting of socio-occupational data, health aspects, screening for depressive symptoms and sleep assessment. The sample consisted of 282 nursing professionals (193 nurses and 89 nursing technicians) working during the COVID-19 pandemic. Inclusion criteria were: nurses and nursing technicians, over 18 years old, who work in hospital and/or outpatient care in the public and/or private health system. Excluded: pregnant and lactating women. The association of the factors studied with worsening sleep was estimated using Poisson models with robust variance using the sandwich method. The Akaike and Bayesian Information criteria and the Likelihood Ratio test were employed. For all analyses, a significance level of 5% was used. The research contemplated Resolution 466/2012, receiving Certificate of Presentation of Ethical Appreciation (CAEE) 32907020.7.0000.5327 and 32907020.7.3001.5330. Results: Of the 282 professionals, 31.6% (89) were nursing technicians and 68.4% (193) nurses, with a median age of 37 years and most of whom performed exclusively care activities (85%). There was a worsening of sleep in those with depressive symptoms (prevalence ratio (PR) 1.75; 1.33-2.29), work overload (PR 1.71; 1.15-2.55) and who used antidepressant medications (PR 2.00; 1.12-3.58). Conclusion: Aspects related to mental health and work overload were associated with worsening sleep in nurses and nursing technicians during the COVID-19 pandemic, highlighting the need to preserve and maintain mental health.