Padrões de interesse alimentar em crianças com falência intestinal em uso de nutrição parenteral prolongada e reabilitadas

Abstract

Introdução: Às crianças com falência intestinal (FI) necessitam que sua nutrição ocorra por via parenteral nos primeiros meses de vida, podendo manter seu uso ao longo dos primeiros anos de vida. Devido ao uso prolongado de nutrição parenteral (NP), a introdução tardia de alimentação por via oral e a sobrecarga de estímulos orais negativos nos primeiros meses de vida, as crianças com FI estão expostas a fatores de risco que propiciam o desenvolvimento de distúrbios alimentares pediátricos (DAP). Apesar de amplamente conhecido que essa população apresenta DAP, ainda são necessários mais estudos clínicos que identifiquem quais fatores têm maior influência no agravamento dos comportamentos alimentares dessa população. Objetivo: Comparar os padrões de interesse alimentar das crianças com FI em uso de NP prolongada e reabilitados do Programa de Reabilitação Intestinal em Crianças e Adolescentes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (PRICA-HCPA). Metodologia: Estudo transversal com 61 crianças acompanhadas pelo PRICA-HCPA. Os critérios de inclusão foram: crianças com diagnóstico de FI com idade entre 6 meses e 15 anos, em uso atual de NP (por período superior a dois meses) e que atingiram o desmame completo de NP (por período superior a 3 meses) em condições clínicas estáveis. Foram excluídas as crianças com doença neurológica grave, malformações congênitas graves ou transtorno do espectro autista confirmado. Foi realizada entrevista única com os pais ou responsáveis legais das crianças e utilizado o questionário autoaplicável Children’s Eating Behavior Questionnaire (CEBQ) sobre os comportamentos alimentares da criança. Para análise dos resultados, as crianças foram divididas em dois grupos: G1 (em uso atual de NP) e G2 (que já suspenderam a NP). A pontuação obtida em cada subescala do questionário foi comparada entre os grupos. Resultados: As crianças do G2 apresentaram médias significativamente melhores que as do G1 nas subescalas “resposta à saciedade” “resposta à comida” e “prazer em comer”, p<0,05. Foi realizada também a comparação entre as respostas das subescalas e o índice de dependência de NP, e houve diferença significativa (p=0,001) nas mesmas subescalas entre as crianças com alta/moderada dependência e com leve ou sem dependência. De maneira geral, as crianças do G2 apresentaram comportamentos de interesse pela comida melhores do que as do G1. Conclusão: As crianças que alcançaram a reabilitação intestinal com a suspensão do uso de NP apresentaram comportamentos indicativos de maior interesse pela comida em relação às que permaneceram usando a NP.

Introduction: Children with intestinal failure (IF) require their nutrition to be provided parenterally in the first months of life, which may continue for the first few years. Due to the prolonged use of parenteral nutrition (PN), delayed introduction of oral feeding, and negative oral stimuli overload in the early months of life, children with IF are exposed to risk factors that predispose them to developing pediatric eating disorders (EDs). Although it is widely known that this population presents with EDs, further clinical studies are needed to identify which factors have the greatest influence on exacerbating the eating behaviors of this population. Purpose: To compare the food interest patterns of children with IF using prolonged PN and rehabilitated children from the Intestinal Rehabilitation Program in Children and Adolescents at Hospital de Clínicas de Porto Alegre (PRICA-HCPA). Methods: Cross-sectional study with 61 children followed by PRICA-HCPA. Inclusion criteria were: children diagnosed with IF aged between 6 months and 15 years, currently using PN (for more than two months), and who achieved complete weaning from PN (for more than 3 months) in stable clinical conditions. Children with severe neurological disease, severe congenital malformations, or confirmed autism spectrum disorder were excluded. A single interview was conducted with the parents or legal guardians of the children, and the self-administered Children's Eating Behavior Questionnaire (CEBQ) was used to assess the child's eating behaviors. For analysis of the results, children were divided into two groups: G1 (currently using PN) and G2 (who have suspended PN). The scores obtained in each subscale of the questionnaire were compared between the groups. Results: Children in G2 had significantly better mean scores than those in G1 on the "satiety response", "food responsiveness", and "enjoyment of food" subscales, p<0.05. A comparison was also made between the subscale responses and the PN dependency index, and there was a significant difference (p=0.001) in the same subscales between children with high/moderate dependency and those with mild or no dependency. Overall, children in G2 showed better food interest behaviors than those in G1. Conclusion: Children who achieved intestinal rehabilitation with PN cessation showed behaviors indicative of greater interest in food compared to those who remained on PN.