Efeito do diazepam sobre a memória de ratos jovens e adultos : evidências farmacológicas de alterações nos receptores GABA-A/benzodiazepínicos durante o desenvolvimento

Abstract

Os receptores GABA-A/Benzodiazepínicos sabidamente estão envolvidos na modulação da memória. Entre outros agentes químicos, os benzodiazepínicos, que ligam-se a sítios específicos neste receptor e potenciam a sua atividade, tendem a inibir o processo de formação da memória. Vários estudos, tanto no campo da biologia molecular quanto no da bioquimica, descrevem alterações na estrutura, na densidade e na distribuição dos receptores GABA-A/Benzodiazepínicos no cérebro, ao longo do desenvolvimento. Assim, a composição e as propriedades farmacológicas destes receptores no cérebro de ratos adultos parecem diferir daquelas observadas em animais jovens. Baseados nesses dados, poderíamos supor que um mesmo tratamento com benzodiazepínicos possa determinar efeitos distintos sobre a memória, de acordo com a idade do indivíduo. Não há, no entanto, dados anteriores que tratem da ontogenia dos receptores GABA-A/Benzodiazepinicos no que se refere ao estudo da memória, o que pode ser avaliado através da manipulação farmacológica destes receptores em animais de diferentes idades. Neste trabalho, procuramos observar o efeito de um benzodiazepínico de amplo uso clínico e experimental, o diazepam, sobre a memória de ratos Wistar fêmeas, adultos (60 dias) ou jovens (30 dias), em três tarefas comportamentais: Esquiva Inibitória, Esquiva Ativa de Duas Vias e Habituação ao Campo Aberto. O diazepam (0,2, 1,0 ou 5,0 mg/kg) ou seu veículo foram administrados por via intraperitoneal (i.p.), 60 minutos antes da sessão de treino nas tarefas. O intervalo entre a sessão de treino e a sessão de teste foi de 24h. Os resultados mostraram que o diazepam prejudicou o desempenho dos animais adultos em Esquiva Inibitória e Esquiva Ativa, quando utilizadas as doses de 1,0 e 5,0 mg/kg, sugerindo déficit de memória. A dose de 0,2 mg/kg facilitou a memória em Esquiva Inibitória, e não teve efeito em Esquiva Ativa. Na tarefa de Habituação, o diazepam prejudicou o desempenho dos animais adultos em todas as doses utilizadas. Já em ratos jovens, o diazepam teve um efeito distinto do observado em ratos adultos, nas duas tarefas de esquiva. Em Esquiva Inibitória, todas as doses (inclusive a de 0,2 mg/kg) foram amnésicas, e, em Esquiva Ativa, a memória não foi afetada por nenhuma das doses utilizadas. O efeito sobre a tarefa de Habituação foi semelhante em ratos jovens e adultos. Os efeitos diferenciados do diazepam em ratos jovens e adultos, observados nas tarefas de esquiva, podem dever-se a alterações idade-dependentes no número, distribuição e estrutura dos receptores GABA-A/Benzodiazepínicos.