Entre os "últimos alemães" e os "últimos brasileiros" : obras públicas e etnohistória indígena na Serra Gaúcha (1847-1858)

Abstract

Este trabalho analisa o processo de avanço das frentes de expansão e colonização sobre territórios indígenas na região conhecida hoje como Serra Gaúcha, no período de 1847 a 1858. A principal documentação analisada são ofícios da Diretoria de Obras Públicas da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, que abordam dois contextos específicos: a Estrada do Mundo Novo, entre o rio dos Sinos e os Campos de Cima da Serra, e a Picada Feliz, ao longo da qual é constituída a colônia Nova Petrópolis. Os documentos trazem relatos das frentes pioneiras, ou seja, das equipes que avançam sobre as florestas ocupadas pelos indígenas. Ao longo do século XIX, em especial no recorte analisado, essa região é relacionada com a liderança chamada João Grande/Nivo, que já foi representado como "facínora", e na historiografia mais recente como "cacique resistente". Para as comunidades indígenas na região, essa liderança representa a ancestralidade ligada ao território, que a violência do processo de colonização não conseguiu apagar. Desse modo, este trabalho se utiliza das metodologias da etnohistória, a antropologia processualista e a micro-história para relacionar narrativas sobre o passado a partir de documentação administrativa e diferentes regimes de memória sobre o passado indígena da Serra Gaúcha. A leitura das fontes evidencia as complexas e violentas relações das frentes de expansão com os grupos indígenas, além de trazer para a luz vestígios de seus caminhos e territorialidades, que são analisados através do diálogo com grupos contemporâneos.

This paper analyzes the process of expansion and colonization over indigenous territories in the region known today as Serra Gaúcha, from 1847 to 1858. The main documents analyzed are official letters from the Directorate of Public Works of the Province of São Pedro do Rio Grande do Sul, which deal with two specific contexts: the Mundo Novo Road, between the Sinos river and the Campos de Cima da Serra, and the Picada Feliz road. along which the Nova Petropolis colony was formed. The documents contain accounts of the pioneering fronts, i.c. the teams that advanced into the forests occupied by the indigenous people. Throughout the 19th century, especially in the section analyzed, this region is related to the leader called Jodo Grande/Nivo, who in the documentation of the period was represented as a "villain", and in more recent historiography as a "resistant chief". For the indigenous communities in the region, this leader represents the ancestry connected to the territory, which the violence of the colonization process failed to erase. In this way, this work uses methodologies of ethnohistory, processualist anthropology and microhistory to relate historical narratives based on administrative documentation and different memory regimes about the indigenous past of Serra Gaticha. Reading the sources shows the complex and violent relations between the expansion fronts and the indigenous groups, as well as bringing to light traces of their paths and territorialities, which are analyzed through dialogue with contemporary groups.

Este trabajo analiza el proceso de avance del frente de expansién y colonizacién sobre territorios indigenas en la región hoy conocida como Serra Gaticha, entre 1847 y 1858. Los principales documentos analizados son cartas de la Direccién de Obras Publicas de la Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul, que tratan de dos contextos especificos: la Estrada do Mundo Novo y la Picada Feliz, a lo largo de la cual se formó la colonia Nova Petropolis. Los documentos contienen relatos de los frentes pioneros, es decir, de los equipos que avanzaron hacia los bosques ocupados por los indigenas. A lo largo del siglo XIX, especialmente en el periodo analizado, esta region se relaciona con el lider llamado Jodo Grande/Nivo, que en la documentacion de la época era representado como un " villano ", y en la historiografia más reciente como un "jefe resistente". Para las comunidades indigenas en la región, este lider representa la ancestralidad conectada al territorio, que la violencia del proceso de colonización no pudo borrar. De este modo, este trabajo utiliza metodologias de la etnohistoria, la antropologia procesualista y la microhistoria para relacionar narrativas histéricas basadas en documentacion administrativa y diferentes regimenes de memoria sobre el pasado indigena de Serra Gaucha. La lectura de las fuentes evidencia las complejas y violentas relaciones entre los frentes de expansión y los grupos indigenas, ademas de sacar a la luz las huellas de sus trayectorias y territorialidades, que se analizan a través del didlogo con los grupos contemporaneos.