Fatores associados à prevalência de infecções sexualmente transmissíveis entre usuários de profilaxia pré-exposição ao HIV

Abstract

A profilaxia pré-exposição (PrEP) consiste no uso diário ou sob demanda de antirretrovirais combinados em um comprimido para prevenir a infecção por HIV em populações-chave e/ou prioritárias no contexto da Prevenção Combinada, associada a outras estratégias de prevenção. A relação entre a PrEP e o desenvolvimento de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) tem suscitado questionamentos sobre sua compensação de risco em relação ao uso do preservativo. Este estudo tem como objetivo analisar os fatores associados à prevalência de ISTs entre usuários de PrEP ao HIV. Trata-se de um estudo descritivo, transversal e quantitativo, recorte de um projeto guarda-chuva. Os dados foram coletados entre julho e dezembro de 2021 a partir de prontuários eletrônicos de usuários de PrEP acompanhados nos serviços de assistência especializada em HIV/aids de Porto Alegre, com uso de um questionário enquanto instrumento de coleta. A análise foi realizada por meio do SPSS 18.0, com técnicas de estatística descritiva e inferencial a partir do teste Qui-quadrado de Pearson com nível de significância de p < 0,05, sendo calculado o odds ratio (OR) nas variáveis com associação significativa, com intervalo de confiança (IC) de 95%. Dos 894 usuários incluídos na amostra, 19,8% apresentaram sintomas de ISTs nos últimos seis meses. Identificou-se um perfil sociodemográfico com prevalência de homens cisgênero (85,7%), homossexuais (74,0%), na faixa etária de 30 a 39 anos (43,2%), com 12 anos ou mais de estudo (76,6%) e autodeclarados brancos (74,8%). Foram encontradas associações estatisticamente significativas entre sintomas de ISTs e as variáveis raça/cor autodeclarada preta ou parda (p=0,023; OR=1,533; IC 95%=1,060-2,218), troca de sexo por dinheiro (p=0,016; OR=2,038; IC 95%=1,132-3,669) e até dez relações sexuais com homens cisgênero nos últimos três meses (p=0,000; OR=0,449; IC 95%=0,295-0,682). As variáveis prática de sexo anal insertivo (79,1%) e receptivo (69,9%) sem uso de preservativo, consumo de bebida alcoólica em grande quantidade (39,7%) e uso de substâncias psicoativas nos últimos três meses (78,8%) foram notavelmente prevalentes. As verrugas penianas foram o sintoma de maior prevalência (28,2%), enquanto a sífilis ativa foi a IST mais diagnosticada (8,0%). Este estudo reforça a existência de iniquidades no acesso à PrEP, refletidas nos usuários que são mais acometidos por ISTs e na ausência de segmentos das populações-chave e prioritárias na amostra. Ao evidenciar fatores de risco para ISTs entre os usuários, o presente estudo mostra-se relevante e pode auxiliar na elaboração de estratégias de cuidado mais específicas.

Pre-exposure prophylaxis (PrEP) consists of the daily or on-demand use of antiretrovirals combined in a pill to prevent HIV infection in key and/or priority populations in the context of Combined Prevention, associated with other prevention strategies. The relationship between PrEP and the development of sexually transmitted infections (STIs) has raised questions. This study aims to characterize the prevalence of STIs among PrEP users. This is a descriptive, cross-sectional and quantitative study, part of an umbrella project. Data were collected between July and December 2021 from electronic medical records of PrEP users monitored in specialized HIV/aids care services in Porto Alegre, using a questionnaire as a collection instrument. The analysis was carried out using SPSS 18.0, with descriptive and inferential statistical techniques based on Pearson's Chi-square test with a significance level of p < 0.05, calculating the odds ratio (OR) in variables with significant association , with a 95% confidence interval (CI). Of the 894 users included in the sample, 19.8% had symptoms of STIs in the last six months. A sociodemographic profile was identified with a prevalence of cisgender men (85.7%), homosexuals (74.0%), aged between 30 and 39 years (43.2%), with 12 years or more of education (76 .6%) and self-declared white (74.8%). Statistically significant associations were found between STI symptoms and the variables self-declared black or brown race/color (p=0.023; OR=1.533; 95% CI=1.060-2.218), exchanging sex for money (p=0.016; OR=2.038 ; CI 95%=1.132-3.669) and up to ten sexual relations with cisgender men in the last three months (p=0.000; OR=0.449; CI 95%=0.295-0.682). The variables practice of insertive (79.1%) and receptive anal sex (69.9%) without the use of a condom, consumption of large amounts of alcoholic beverages (39.7%) and use of psychoactive substances in the last three months (78 .8%) were remarkably prevalent. Penile warts were the most prevalent symptom (28.2%), while active syphilis was the most diagnosed STI (8.0%). This study reinforces the existence of inequities in access to PrEP, reflected in users who are most affected by STIs and in the absence of segments of key and priority populations in the sample. By highlighting risk factors for STIs among users, the present study is relevant and can help in the development of more specific care strategies.