Além da pálpebra : cinema, espectros

Abstract

Nesta dissertação de mestrado em artes visuais desenvolvo uma escrita ensaística que pretende movimentar-se à maneira de um fantasma. Primeiro porque os capítulos aqui contidos tem por objetivo investigar uma certa rede de acontecimentos engimáticos que me levaram, de algum modo, à construir o filme de curta-metragem 5.40 x 5.40 (2022). Este filme se encontra em um limiar entre documentário e ficção, podendo ser entendido como uma espécie de autobiografia com elementos ficcionalizados. No filme, recorro à uma metáfora formal entre as pirâmides do Complexo Mortuário de Gizé e o formato dos telhados de residências populares de meados dos anos 1930-1950, pre sentes no local em que vivi durante parte de minha infância e adolescência. A metáfora busca operar uma espécie de jogo por entre os efeitos espectrais dessas construções que, ao longo do tempo, estão aos poucos desaparecendo da paisagem. A questão do desmanche de minha própria casa em 2015, por uma série de questões materiais, será o eixo da narrativa. Nesse sentido, os efeitos desse sumiço material do lar, presentes na obra, me conduziram à um diálogo íntimo entre minha poética e a noção/conceito de espectro em Derrida e Mark Fisher. O efeito espectropoético em minha produção será um objeto à medida em que ele tonaliza uma certa invasão expressiva do passado sobre o presente tanto no que diz respeito às materialidades escolhidas para composição do filme, quanto à dimensão simulada de uma rede de artefatos da era da película construí dos digitalmente, conotando um estranho campo visual que procura assombrar o espec tador sob a insignia de um tempo anacrônico sem ser, por exemplo, um filme de época.

In this master’s thesis in visual arts, I develop an essay writing that intends to move like a ghost. First, because the chapters contained here aim to investigate a certain network of enigmatic events that led me, in some way, to build the short film 5.40 x 5.40 (2022). !is film is on a threshold between documentary and fiction, and can be understood as a kind of autobiography with fictionalized elements. In the film, I resort to a formal metaphor between the pyramids of the Giza Mortuary Complex and the shape of the roofs of popular residences from the mid-1930s-1950s, present in the place where I li ved during part of my childhood and adolescence. !e metaphor seeks to operate a kind of game between the spectral effects of these constructions that, over time, are gradually disappearing from the landscape. !e issue of dismantling my own house in 2015, due to a series of material issues, will be the axis of the narrative. In this sense, the effects of this material disappearance of the home, present in the work, led me to an intimate dialogue between my poetics and the notion/concept of spectrum in Derrida and Mark Fisher. !e spectropoetic effect in my production will be an object as it shades a certain expressive invasion of the past on the present both in terms of the materialities chosen for the film’s composition, as well as the simulated dimension of a network of artifacts from the film era. digitally constructed, connoting a strange visual field that seeks to haunt the viewer under the insignia of an anachronistic time without being, for exam ple, a period film.