O papel da missão de assistência das Nações Unidas no Afeganistão durante o período de retomada da atuação de grupos insurgentes na região (2014-2021)

Abstract

O presente trabalho tem por objetivo analisar o papel da Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) no contexto de retomada do crescimento de grupos insurgentes no país, entre 2014 e 2021. Como abordagem teórico-metodológica utilizam-se as contribuições teóricas advindas da análise construtivista de organizações internacionais, desenvolvida por Michael Barnett e Martha Finnemore, que compreendem estas organizações como atores providos de interesses próprios, de capacidade de implementação de normas e de uma burocracia racional-legal. Por meio da pesquisa qualitativa, baseada na análise de documentos da UNAMA de 2002 a 2021, identificam-se os principais objetivos da organização, bem como o modo de funcionamento de sua estrutura, estabelecendo um estudo da atuação da missão em um contexto em transformação. Nesse sentido, destacam-se como pontos essenciais da agenda da UNAMA a defesa dos direitos humanos e a implementação de um processo de reconstrução política no Afeganistão. A partir da análise das renovações de mandato da missão pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), busca-se compreender de que forma a expansão no escopo da missão afetou a burocracia da UNAMA. Posteriormente, o trabalho segue para a análise do período de 2014 a 2021, marcado pela retirada das tropas da OTAN do Afeganistão e ascensão de grupos insurgentes no país, com destaque para o Talibã. Nesse contexto, defende-se que a UNAMA tomou a posição de ator internacional central no Afeganistão, sendo a principal responsável pela coordenação do processo de desenvolvimento político e pelo auxílio humanitário. Diante disso, identificam-se os principais sucessos da organização, bem como as suas principais disfunções, com o objetivo de compreender de forma complexa o funcionamento da organização e a manifestação de suas contradições no contexto em que se insere. A hipótese trabalhada é a de que a ascensão da UNAMA à centralidade no Afeganistão se deu devido à capacidade burocrática desenvolvida pela organização para além de uma circunstância eventual.

The present work aims to analyze the role of the United Nations Assistance Mission in Afghanistan (UNAMA) in the context of the growth’s resumption of insurgent groups in the country, between 2014 and 2021. It is utilized the theoretical-methodological approach from the constructivist analysis of international organizations, developed by Michael Barnett and Martha Finnemore, who understand these organizations as actors with their own interests, ability to implement norms and a rational-legal bureaucracy. Through qualitative research, based on the analysis of UNAMA documents from 2002 to 2021, the main objectives of the organization are identified, as well as the mode of operation of its structure, establishing a study of the mission's performance in a changing context. In this sense, the defense of human rights and the implementation of a process of political reconstruction in Afghanistan stand out as essential points on UNAMA's agenda. Based on the analysis of the mission's mandate renewals by the United Nations Security Council (UNSC), we seek to understand how the expansion in the scope of the mission affected UNAMA's bureaucracy. Subsequently, the work proceeds to analyze the period from 2014 to 2021, marked by the withdrawal of NATO troops from Afghanistan and the rise of insurgent groups in the country, with an emphasis on Taliban. In this context, it is argued that UNAMA took the position of a central international actor in Afghanistan, being primarily responsible for coordinating the process of political development and for humanitarian aid. In light of this, the main successes of the organization are identified, as well as its main dysfunctions, with the objective of understanding in a complex manner the operation of the organization and the manifestation of its contradictions in the context in which it operates. The hypothesis analyzed is such that UNAMA's rise to centrality in Afghanistan was due to the bureaucratic capacity developed by the organization to beyond an occasional circumstance.