Quando não é possível dizer tudo : reflexões sobre o trauma em Depois de tudo tem uma vírgula, de Elizabeth Cardoso

Abstract

Este trabalho tem por objetivo analisar o romance Depois de tudo tem uma vírgula (2021), de Elizabeth Cardoso, com enfoque no trauma vivenciado por Rita, a protagonista. Para realizar essa análise, estabelece-se a exploração de quatro aspectos centrais da narrativa: a constituição da experiência traumática, as marcas do trauma no presente, a impossibilidade de narrar a situação-limite e os efeitos gerados pela publicação de uma autobiografia familiar de autoria de seu irmão. Pretende-se explorar os acontecimentos constitutivos da experiência traumática da protagonista, investigando seu percurso desde a prisão até as internações decorrentes dos danos físicos e psicológicos gerados no cárcere; observar como o trauma se manifesta em sua condição atual, caracterizada por sentimentos de indefinição identitária e intensa melancolia, bem como por rememorações momentâneas do período de encarceramento; examinar a inviabilidade comunicativa que Rita enfrenta ao ser questionada sobre suas vivências traumáticas; e verificar como o lançamento do livro escrito por seu irmão impacta em sua vida, não só lhe provocando uma evocação do trauma como também promovendo uma exposição das experiências-limites que vivenciara. Como suporte teórico a esse estudo, consideram-se textos de autores como Aleida Assmann, Jaime Ginzburg, Jeanne Marie Gagnebin, Luiz Octavio de Lima, Márcio Seligmann-Silva, Maria Rita Kehl e Sigmund Freud.

Cet article vise à analyser le roman d'Elizabeth Cardoso, Depois de tudo tem uma vírgula (2021), en se concentrant sur le trauma vécu par Rita, la protagoniste. Pour étayer cette analyse, nous explorons quatre aspects centraux du récit : la constitution du vécu traumatique, les marques du traumatisme dans le présent, l'impossibilité de raconter la situation limite et les effets engendrés par la publication d'une autobiographie familiale rédigée par son frère. Nous avons l'intention d'explorer les événements constitutifs de l'expérience traumatique de la protagoniste, en analysant son parcours depuis la prison jusqu'aux hospitalisations résultant des dommages physiques et psychologiques causés par l’emprisonnement ; observer comment le trauma se manifeste dans son état actuel, caractérisé par des sentiments d'incertitude identitaire et de mélancolie intense, ainsi que par des remémorations momentanées de la période d'incarcération; examiner l'impossibilité de communication à laquelle Rita est confrontée lorsqu'elle est interrogée sur ses expériences traumatiques ; et vérifier comment la parution du livre écrit par son frère a un impact sur sa vie, non seulement en provoquant chez elle une évocation du traumatisme, mais aussi en favorisant l'exposition des expériences-limites qu'elle avait vécues. Nous nous fondons sur un cadre théorique de textes d'auteurs tels qu’Aleida Assmann, Jaime Ginzburg, Jeanne Marie Gagnebin, Luiz Octavio de Lima, Márcio Seligmann Silva, Maria Rita Kehl et Sigmund Freud.