Efeitos de diferentes estratégias de exercício físico sobre a aptidão física de crianças e adolescentes : uma revisão sistemática e meta-análise

Abstract

Introdução: A aptidão física tem sido considerada um importante indicador de saúde. Diversos fatores podem impactar no aumento de aptidão física, entre eles: idade cronológica, sexo e índice de massa corporal (IMC), além das variáveis de treinamento como frequência semanal, duração da sessão e da intervenção e os tipos de exercícios realizados. O objetivo foi realizar uma revisão sistemática da literatura com meta-análise e identificar a efetividade de diferentes estratégias de exercício físico sobre a aptidão física de crianças e adolescentes de ambos os sexos e com diferentes padrões de IMC. Métodos: A revisão sistemática e meta-análise foi conduzida de acordo com as recomendações Cochrane e devidamente registrada na plataforma PROSPERO. Três avaliadores revisaram sistematicamente as plataformas PubMed, Cochrane Library, Embase e Scopus. Os artigos foram selecionados de acordo com os seguintes critérios: crianças e adolescentes entre 7-17 anos que realizassem todos os tipos de exercício físico estruturado; grupo controle sem exercício como comparador; e realizar uma intervenção que avaliasse a aptidão física no âmbito da força ou potência muscular, aptidão cardiorrespiratória (APCR) ou velocidade de corrida. Três autores independentes realizaram a seleção dos estudos, a extração dos dados e a análise do risco de viés que foi classificado em baixa, média ou alta qualidade. Resultados: Foram incluídos 80 estudos que analisaram crianças e adolescentes de ambos os sexos e diferentes padrões de IMC, apresentando um total de 5769 participantes. No grupo exercício, 2894 sujeitos realizaram exercício de força, aeróbico (caminhada/corrida/ciclo ergômetro), high intensity interval training (HIIT) ou esportes e foram comparados com 2875 sujeitos do grupo controle que não praticavam exercício físico. A prática de exercício físico impacta nos ganhos de força muscular (ES: 0.967; CI: 0.635, 1.299). Sessões de longa duração (>60 minutos) parecem ser adequadas para aumentar a força muscular. Os exercícios de força (ES: 1.073; CI: 0.612, 1.533; p<0.001), combinado (ES: 1.054; CI: 0.255, 1.853; p=0.010) e esportes (ES: 0.573; CI: 0.015, 1.132; p=0.044) demonstraram ser os mais efetivos para crianças e adolescentes de ambos os sexos aumentarem a força muscular. A prática de exercício físico com atividades aeróbicas (ES: 0.514; CI: 0.220, 0.808; p<0.001), esportivas (ES: 0.271; CI: 0.146, 0.394; p<0.001) ou HIIT (ES: 0.668; CI: 0.333, 1.003; p<0.001) resultam em aumento na APCR (ES: 0.400; CI: 0.258, 0.542; p>0.001) em sujeitos de ambos os sexos (ES: 0.395; CI: 0.222, 0.567; p<0.001). Sujeitos com menor IMC (ES: 0.048; CI: 0.016, 0.081; p=0.004) apresentam maiores ganhos cardiorrespiratórios. A prática de exercício físico impacta no aumento da potência muscular (ES: 0.241; CI: 0.053, 0.429; p=0.012) em sujeitos de ambos os sexos (ES: 0.292; CI: 0.050, 0.535; p=0.018). A prática de exercício físico impacta nos ganhos de MAS (ES: 0.488; CI: 0.050, 0.926; p=0.029). O treinamento de HIIT parece influenciar nesses ganhos (ES: 0.488; CI: 0.050, 0.926; p=0.029). Quanto maior a idade (ES: 0.118; CI: 0.003, 0.232; p=0.044) e maior o IMC (ES: 0.172; CI: 0.052, 0.292; p=0.005), maior a magnitude de ganho de velocidade. Conclusão: Conclui-se que a prática de exercício físico é capaz de melhorar a aptidão física de crianças e adolescentes, devendo levar em conta no momento da prescrição do exercício, o sexo e o IMC dos sujeitos, além do tipo de exercício realizado (atividades aeróbicas, exclusivas de força, HIIT ou esportes) para melhorar componentes da aptidão física (força, APCR, potência e velocidade).

Introduction: Physical fitness has been considered an important health indicator. Several factors can impact the increase in physical fitness, including chronological age, sex and BMI, in addition to training variables such as weekly frequency, session and intervention duration, and types of exercises performed. The aim was to systematically review and meta-analyze the effectiveness of different physical exercise strategies on the physical fitness of children and adolescents of both sexes and with different BMIs. Methods: The systematic review and meta-analysis were conducted in accordance with Cochrane recommendations and duly registered on the PROSPERO platform. Three evaluators systematically reviewed the PubMed, Cochrane Library, Embase and Scopus platforms. Relevant articles were selected based on the following criteria: children and adolescents aged 7-17 years old, who performed all types of structured and supervised physical exercise, had a control group without exercise as a comparator, and should undergo an intervention evaluating physical fitness in the field of muscle strength or power, CRF or maximal aerobic speed. Three independent evaluators performed data extraction and risk of bias analysis. Results: Eighty studies were included that analyzed children and adolescents of both sexes and different BMIs, with a total of 5769 participants. 2894 subjects performed strength, aerobic exercise (walking/running/cycle ergometer), highintensity interval training (HIIT) or sports and were compared with 2875 subjects from the control group who did not perform physical exercise. The practice of physical exercise impacts in muscle strength gains (ES: 0.967; CI: 0.635, 1.299). Long duration sessions (>60 minutes) seem to be adequate to increase muscle strength. Strength exercises (ES: 1.073; CI: 0.612, 1.533; p<0.001), combined (ES: 1.054; CI: 0.255, 1.853; p=0.010) and sports (ES: 0.573; CI: 0.015, 1.132; p =0.044) seems to be the most effective for children and adolescents of both sexes to increase muscle strength. The practice of physical exercise with aerobic activities (ES: 0.514; CI: 0.220, 0.808; p<0.001), sports (ES: 0.271; CI: 0.146, 0.394; p<0.001) or HIIT (ES: 0.668; CI: 0.333 , 1.003; p<0.001) result in increased in CRF (ES: 0.400; CI: 0.258, 0.542; p>0.001) in subjects of both sexes (ES: 0.395; CI: 0.222, 0.567; p<0.001). Subjects with lower BMI (ES: 0.048; CI: 0.016, 0.081; p=0.004) present greater cardiorespiratory gains. The practice of physical exercise has an impact on increasing muscle power (ES: 0.241; CI: 0.053, 0.429; p=0.012) in subjects of both sex (ES: 0.292; CI: 0.050, 0.535; p=0.018). The practice of physical exercise impacts on MAS gains (ES: 0.488; CI: 0.050, 0.926; p=0.029). HIIT training seems to influence these gains (ES: 0.488; CI: 0.050, 0.926; p=0.029). The greater the age (ES: 0.118; CI: 0.003, 0.232; p=0.044) and the higher the BMI (ES: 0.172; CI: 0.052, 0.292; p=0.005), the greater the magnitude of speed gain. Conclusion: It is concluded that the practice of physical exercise can improve the physical fitness of children and adolescents. Sex and BMI of the subjects should be considered when prescribing the exercise, in addition to the type of exercise performed (aerobic activities, exclusive to strength, HIIT or sports) to improve each fitness component (strength, CRF, power and MAS).