“A palo seco” ou autonomia docente na sociedade neoliberal : o caso da rede municipal de ensino de Porto Alegre (2017-2020)

Abstract

A presente tese se insere na linha de pesquisa do grupo Formação de Professores e Prática Pedagógica (F3P-EFICE) da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da Universidade Federal do rio Grande do Sul (ESEFid/UFRGS) e tem por objetivo compreender, no contexto atual da sociedade capitalista neoliberal, a configuração da autonomia docente na escola. Neoliberalismo é entendido como uma resposta liberal às cíclicas crises do capitalismo, inserida no contexto da reestruturação produtiva do tipo toyotista, mais fortemente a partir da segunda metade do século XX, na qual o Estado é compreendido como um entrave para a livre concorrência do mercado. O neoliberalismo também se transforma numa racionalidade, na qual todas as relações sociais e humanas são balizas pela lógica mercantil, exercendo um papel de hegemonia, tendo impacto direto na educação, a partir da transposição da lógica gerencialista e empresarial para as instituições de ensino. Sob o prisma do materialismo dialético, realizei um estudo de caso etnográfico em duas escolas da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre, em que os sujeitos colaboradores do estudo foram 3 professores de Educação Física e 3 professores em cargos de gestão. Como instrumentos de coleta de informações, foi realizado um questionário com 125 docentes da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre (RMEPOA), além de observação participante nas duas escolas, entrevistas semi-estruturadas com os colaboradores e análise de documentos. A partir do trabalho de campo, identifiquei três momentos principais no caráter político-pedagógico da RMEPOA. Entre 1989 e 2004, há o movimento iniciado com a ascensão de partidos de esquerda ao comando de Porto Alegre, que apresentou um caráter de contra-hegemonia no projeto educacional neoliberal que vigorava no país à época, ampliando o número de escolas, investindo na valorização do funcionalismo público e implementando uma proposta pedagógica progressista, que valorizava o trabalho interdisciplinar, através dos ciclos de formação. Entre 2005 e 2016, com a troca de governo, identifico uma “caminhada à direita”, a partir da desconstrução do projeto dos ciclos de formação, inicialmente com uma abordagem pósmoderna e um afrouxamento teórico, e posteriormente com o princípio da abordagem gerencialista de educação. A partir de 2017, identifico um processo de institucionalização da lógica neoliberal na RMEPOA, por meio de políticas de privatização e terceirização de serviços educacionais, aprofundamento da lógica gerencial e retirada de direitos do funcionalismo público. O impacto dessas políticas tem efeito direto na autonomia docente, gerando o que denomino de “automação do trabalho pedagógico”, que surge quando a autonomia, além de ser regulada pelos aspectos legais, imputa no professorado uma racionalidade extremamente individualista, segundo a qual ele deve conseguir solucionar os seus próprios problemas sem a interferência externa, quando na verdade ele apenas consegue lidar com os elementos aos quais já tem acesso. No caso da RMEPOA, a automação do trabalho pedagógico ocorre a partir de ações da Secretaria Municipal de Educação, como a mudança na rotina escolar; o fim da reunião pedagógica e o fim da Hora-Atividade para planejamento; a mudança na eleição para direções de escolas; as mudanças no plano de carreira. Por fim, relato experiências pedagógicas dos docentes de Educação Física e das escolas observadas, que buscam superar a automação do trabalho pedagógico, surgindo como “utopia” e “esperança”, apostando, principalmente, no trabalho coletivo como forma de resistência perante a lógica que o neoliberalismo vem impondo à educação e à Educação Física.

Esta tesis forma parte de la línea de investigación del grupo de Formación Docente y Práctica Pedagógica (F3P-EFICE) de la Escuela de Educación Física, Fisioterapia y Danza de la Universidad Federal de Rio Grande do Sul (ESEFid / UFRGS) y tiene como objetivo comprender, en el contexto actual de la sociedad capitalista neoliberal, la configuración de la autonomía docente en la escuela pública. El neoliberalismo se entiende como una respuesta liberal a las crisis cíclicas del capitalismo, inserto en el contexto de reestructuración productiva de tipo toyotista, con más fuerza a partir de la segunda mitad del siglo XX, en el que se entiende al Estado como un obstáculo a la libre competencia del mercado. El neoliberalismo se transforma también en una racionalidad, en la que todas las relaciones sociales y humanas se rigen por la lógica mercantil, desempeñando un papel de hegemonía, incidiendo directamente en la educación, desde la transposición de la lógica empresarial y empresarial a las instituciones educativas. Bajo el prisma del materialismo dialéctico, realicé un estudio de caso etnográfico en dos escuelas de la Red Municipal de Educación de Porto Alegre, en el que los sujetos que colaboraron en el estudio fueron 3 profesores de Educación Física y 3 profesores en puestos directivos. Como instrumentos de recolección de información, se realizó un cuestionario a 125 docentes de la Red Educativa Municipal de Porto Alegre (RMEPOA), además de observación participante en ambas escuelas, entrevistas semiestructuradas con empleados y análisis de documentos. A partir del trabajo de campo, identifiqué tres momentos principales en el carácter político y pedagógico de RMEPOA. Entre 1989 y 2004, se produjo el movimiento iniciado con el surgimiento de partidos de izquierda al mando de Porto Alegre, que tuvo un carácter contrahegemónico en el proyecto educativo neoliberal que se encontraba vigente en el país en ese momento, ampliando el número de escuelas, invirtiendo en la valorización. servicio civil y la implementación de una propuesta pedagógica progresiva, que valoró el trabajo interdisciplinario, a través de ciclos formativos. Entre 2005 y 2016, con el cambio de gobierno, identifiqué un “camino a la derecha”, a partir de la deconstrucción del proyecto de ciclos formativos, inicialmente con un enfoque posmoderno y un relajamiento teórico, y luego con el principio del enfoque gerencialista. de Educación. A partir de 2017, identifico un proceso de institucionalización de la lógica neoliberal en RMEPOA, a través de políticas de privatización y tercerización de servicios educativos, profundizando la lógica gerencial y retirando los derechos de los servidores públicos. El impacto de estas políticas tiene un efecto directo sobre la autonomía docente, generando lo que yo llamo “automación del trabajo pedagógico”, que surge cuando la autonomía, además de estar regulada por aspectos legales, imputa una racionalidad sumamente individualista en el docente, a partir de la cual debe lograr resolver sus propios problemas sin interferencias externas, cuando en realidad solo puede ocuparse de los elementos a los que ya tiene acceso. En el caso de RMEPOA, la automación del trabajo pedagógico se da a través de acciones del Departamento Municipal de Educación, como cambiar la rutina escolar; el final del encuentro pedagógico y el final de la Hora de Actividad para la planificación; cambio en la elección de las juntas escolares; cambios en el plan de carrera. Finalmente, relato las experiencias pedagógicas de los profesores de Educación Física y las escuelas observadas, que buscan superar la automación del trabajo pedagógico, emergiendo como 'utopía' y 'esperanza', apostando principalmente por el trabajo colectivo como forma de resistencia ante la lógica que El neoliberalismo se ha ido imponiendo a la educación y la educación física.

This thesis is part of the research line of the group of research F3P-EFICE, of the School of Physical Education, Physiotherapy and Dance at the Federal University of Rio Grande do Sul (ESEFid / UFRGS) and aims to understand, in the current context of neoliberal capitalist society, the configuration of teaching autonomy in the public school. Neoliberalism is understood as a liberal response to the cyclical crises of capitalism, inserted in the context of productive restructuring of the Toyotist type, more strongly from the second half of the twentieth century, in which the State is understood as an obstacle to free market competition. Neoliberalism is also transformed into a rationality, in which all social and human relations are guided by mercantile logic, playing a role of hegemony, having a direct impact on education, from the transposition of managerial and business logic to educational institutions. Under the prism of dialectical materialism, I carried out an ethnographic case study in two schools in the Municipal Education Network of Porto Alegre, in which the subjects collaborating in the study were 3 Physical Education teachers, and 3 teachers in management positions. As instruments for collecting information, a questionnaire was conducted with 125 teachers from the Porto Alegre Municipal Education Network (RMEPOA), in addition to participant observation in both schools, semi-structured interviews with employees and document analysis. From the fieldwork, I identified three main moments in the political and pedagogical character of RMEPOA. Between 1989 and 2004, there was the movement started with the rise of leftist parties under the command of Porto Alegre, which had a counter-hegemonic character in the neoliberal educational project that was in force in the country at the time, expanding the number of schools, investing in the valorization of public service and implementing a progressive pedagogical proposal, which valued interdisciplinary work, through “cycles of formation”. Between 2005 and 2016, with the change of government, I identified a “walk to the right”, from the deconstruction of the training cycles cycles of formation with the principle of the managerialist approach of Education. As of 2017, I identify a process of institutionalization of the neoliberal logic in RMEPOA, through policies of privatization and outsourcing of educational services, deepening the managerial logic and withdrawing the rights of civil servants. The impact of these policies has a direct effect on teaching autonomy, generating what I call “automation of pedagogical work”, which arises when autonomy, in addition to being regulated by legal aspects, imputes an extremely individualistic rationality in the teacher, from which he/she must achieve solve his own problems without external interference, when in fact, he can only deal with the elements to which he already has access. In the case of RMEPOA, the automation of pedagogical work occurs through actions by the Municipal Education Department, such as changing the school routine; the end of the pedagogical meeting and end of the Activity Hour for planning; change the election for school principal; career plan changes. Finally, I report the pedagogical experiences of Physical Education teachers and the schools observed, which seek to overcome the automation of pedagogical work, emerging as 'utopia' and 'hope', betting mainly on collective work as a form of resistance before the logic that neoliberalism has been imposing on education and physical education.