Recomendações nutricionais para fisiculturistas baseadas em evidências : uma revisão narrativa

Abstract

Introdução: O fisiculturismo é um esporte em que os principais parâmetros avaliados são o volume muscular, condicionamento, proporção e simetria. Para tanto, os atletas adotam inúmeras estratégias que envolvem o treinamento de força, exercício cardiovascular e manipulações dietéticas, incluindo suplementação. Por outro lado, a literatura científica atual é limitada em estudos com recomendações específicas e que fundamentem uma ingestão alimentar segura para fisiculturistas. Objetivo: Este trabalho buscou revisar as recomendações nutricionais para fisiculturistas disponíveis na literatura científica, e descrever as características e consumo habitual desses atletas nas diferentes fases de preparação para a competição. Métodos: A busca foi realizada na base de dados Pubmed, englobando termos relacionados ao fisiculturismo, levantamento de peso, treinamento atlético, dieta e nutrição. Foram selecionados artigos publicados em inglês e português, entre 1999 e os dias atuais, com foco em fisiculturistas e outros atletas. Resultados: Os estudos revisados indicam que a ingestão ideal de proteína para atletas varia de 1,2 a 2,0 g/kg/dia, contudo alguns pesquisadores propuseram uma faixa ainda maior para indivíduos submetidos a treinamento intenso e de grande volume, especialmente no caso de dieta hipocalórica. Nesse caso, a faixa de 2,3-3,1 g/kg/dia de massa magra pode ser mais apropriada para os fisiculturistas. Quanto aos carboidratos, quantidades moderadas como ~ 3-7 g/kg/dia podem ser suficientes para proporcionar benefícios. Já a recomendação para ingestão de gorduras para atletas é a mesma que as diretrizes para a população em geral. No entanto, a recomendação de ingestão de 10 a 25% do valor energético total (VET) aparenta ser mais factível para fisiculturistas, tendo em vista a fase de preparação para a competição, em que se almejam reduções mais expressivas no percentual de gordura. Além disso, na etapa que antecede a competição é comum que os atletas modifiquem agudamente a ingestão de carboidratos, água e sódio, embora haja um risco potencial em reduzir demasiadamente a ingestão desses nutrientes. Após a competição, deve-se gerenciar a realimentação de forma controlada e atenuar a probabilidade de ganho demasiado de peso. Conclusão: De acordo com os trabalhos analisados, o corpo de evidências da literatura atual permite que sejam feitas algumas cautelosas recomendações específicas para as diferentes etapas da preparação de um fisiculturista. No entanto, é importante ressaltar que ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas, e mais estudos são necessários para que se possa ter um entendimento completo sobre as melhores ou mais adequadas abordagens nutricionais para cada fase da preparação.

Introduction: Bodybuilding is a sport in which the main evaluated parameters are muscle size, conditioning, proportion, and symmetry. To achieve these goals, athletes follow numerous and distinct strategies involving strength training, cardiovascular exercise, and dietary manipulations, including supplementation. Nevertheless, the current scientific literature is limited in studies with specific recommendations that support safe dietary intake for bodybuilders. Aims: This work aimed to review the nutritional recommendations for bodybuilders available in scientific literature, and describe the characteristics and habitual intake of these athletes in different seasons of preparation. Methods: The search was carried out in the Pubmed database, including terms related to bodybuilding, weightlifting, athletic training, diet, and nutrition. Articles published in English and Portuguese, between 1999 and current days, focusing on bodybuilders and also on other athletes were selected. Results: The analised studies indicate that the ideal protein intake for athletes ranges from 1.2 to 2.0 g/kg/day. However, some researchers have proposed an even higher range for individuals undergoing intense and high-volume training, especially in the case of a caloric deficit diet. In this case, the range of 2.3-3.1 g/kg/day of lean body mass may be more appropriate for bodybuilders. Regarding carbohydrates, moderate amounts of ~3-7 g/kg/day may be sufficient to generate benefits. The recommendation for fat intake for athletes is the same as the guidelines for the general population. However, the recommendation for intake of 10 to 25% of total energy expenditure (TEE) seems more doable for bodybuilders, especially considering the pre-contest season, where more significant reductions in body fat are required. In addition, it is common for athletes to acutely modify their intake of carbohydrates, water, and sodium in the peak week, although there is a potential risk in excessively reducing the intake of these nutrients. After the competition, controlled refeeding should be managed to mitigate the likelihood of excessive weight gain. Conclusion: According to the analyzed studies, the current body of evidence allows for some specific recommendations to be made, with some caution, for the different seasons of a bodybuilder's preparation. However, it is essential to emphasize that there are still many gaps to be filled, and additional research is necessary in order to have a complete understanding of the best or most appropriate nutritional approaches for each season of the bodybuilding preparation.